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68 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 Unidade IV 7 A CATEQUESE E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO: OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO DA ELITE E A REFORMA POMBALINA Segundo vários estudiosos, a História da Educação no Brasil pode ser dividida em duas fases: antes e depois da expulsão dos jesuítas. Portanto examinaremos primeiramente a Educação brasileira a partir da ação dos jesuítas. 7.1 Os jesuítas no Brasil Os jesuítas faziam parte da Companhia de Jesus, ordem criada por Inácio de Loyola em 1534 no contexto da Contrarreforma católica. Essa foi uma das medidas tomada pela Igreja católica para conter a Reforma Protestante, como já explicado na unidade anterior. Os jesuítas chegaram ao Brasil com o governador geral Tomé de Souza, em 1549. Entre eles estava o padre Manuel da Nóbrega, jesuíta que teve importante papel na educação e catequese dos índios. Como “soldados da fé católica”, os jesuítas tinham o objetivo de disseminar o catolicismo e a educação se revelava como a principal via de acesso para alcançarem esta meta. Apenas quinze dias depois de sua chegada à recém-fundada cidade de Salvador, os jesuítas já conseguiram fazer funcionar uma escola elementar de “ler e escrever”. Ao padre Manuel da Nóbrega juntaram-se outros dois expoentes: Aspilcueta Navarro (o primeiro jesuíta a falar a língua dos índios) e José de Anchieta (o patrono do Brasil). Segundo o historiador Fernando de Azevedo, este trio representou a melhor, mais bela e heroica fase da história dos jesuítas no Brasil, fase esta que foi de 1549 até 1570, data da morte de padre Nóbrega. Neste período, os jesuítas aprenderam a língua tupi-guarani, elaboraram material didático para a catequese e Anchieta organizou uma gramática do tupi. Num primeiro momento, eles ensinavam os filhos dos índios chamados curumins junto com os filhos dos colonos. Neste processo, Anchieta usava vários recursos, como a música, a poesia e o teatro. Substituiu as cantigas sensuais cantadas pelos índios pelos hinos de louvor à Virgem. Não demorou que houvesse um choque cultural entre os valores dos indígenas e os do colonizador. Os jesuítas permaneciam um determinado período nas tribos, realizando a pregação e os batismos e, para dar continuidade ao trabalho, logo seguiam para outra tribo. Mas acabaram percebendo que esta maneira não estava surtindo os efeitos necessários de conversão que eles esperavam. Para que as conversões fossem realmente consolidadas, foram criadas as missões ou reduções. Do século XVI ao XVII, os jesuítas desenvolveram a catequese por meio do confinamento indígena nas missões ou reduções. 69 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 O que eram as missões ou reduções? Eram povoamentos ou aldeias criadas pelos jesuítas. Possuíam uma organização bem definida que podia reunir várias etnias. Foram construídas casas para cada família, pois os jesuítas se surpreenderam com o fato de duzentas famílias morarem numa mesma oca. A catequese nas missões, reduções, povoamentos ou aldeias era mais eficiente. Os jesuítas ensinavam regras de higiene e saúde, técnicas e práticas agrícolas. Algumas missões foram muito prósperas. Nelas, se praticava agricultura, criação de gado e artesanato e os jesuítas tinham uma ação ampla de conversão religiosa, educação e trabalho. A ação dos jesuítas, por meio da catequese e da conversão, procurava anular as tradições indígenas, pois elas eram reconhecidas como atrasadas, selvagens e indignas. O saber, a religião, a música dos indígenas e dos negros eram desprezadas e consideradas inferiores. A catequese e a conversão procuravam homogeneizar estas culturas a partir do padrão cultural europeu. A sociedade colonial e o ensino jesuítico Num primeiro momento, temos os filhos de colonos e curumins aprendendo juntos, mas a tendência que se confirmou não foi esta, ou seja, a educação jesuítica separou os catequizados dos instruídos. Assim, a educação para os curumins tinha o objetivo de cristianizar, pacificar e torná-los dóceis para o trabalho, enquanto que, para os filhos dos colonos, a educação poderia ir além de ler, escrever e contar. O tipo de colonização estabelecido no Brasil foi centrado numa ocupação do território, de modo a viabilizar a produção agrícola de interesse para o mercado europeu, ou seja, nossa economia era baseada num modelo agrário-exportador dependente. A viabilização deste modelo teve como apoio a larga e farta distribuição de terras pelo sistema de sesmarias. Mas as terras eram distribuídas para quem? Para ter o “direito” de receber estas terras, era preciso ter condições de aproveitá-las e isso significava possuir recursos suficientes para produzir cana-de-açúcar e comprar escravos suficientes para tal trabalho. Em suma, para receber as sesmarias, era preciso ser rico o bastante. Desta forma, a distribuição de terras no Brasil, desde o início da colonização, foi marcada por um caráter de privilégio, elitista e discriminatório, que marcará profundamente a estrutura social brasileira. Além disto, a economia se expandiu em torno do engenho de açúcar por meio do trabalho dos índios inicialmente e dos escravos depois. Uma economia que se desenvolveu centrada no latifúndio, na escravidão e na monocultura. Com esta realidade social, podemos perceber que a educação não era algo primordial, uma vez que as atividades agrícolas não exigiam formação especial. Numa sociedade agrária e escravista, o interesse pela educação era quase nulo e, portanto, a quantidade de analfabetos era muito grande. As mulheres e negros eram excluídos do ensino e pouco despertavam o interesse dos padres, que se concentravam na catequese dos curumins. Ao enviar os jesuítas para o Brasil com a finalidade de converter os índios pela educação, regulando a consciência pela uniformidade da fé, Portugal tinha como prioridade manter a unidade política e a dominação da metrópole sobre a colônia. O ensino que se estabelecia carregava estas marcas. Em relação à educação para os filhos dos senhores de engenho (senhores das casas-grandes), as coisas se passavam mais ou menos da seguinte maneira: seguindo a tradição portuguesa, o primeiro 70 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 filho do sexo masculino herdava o patrimônio do pai e deveria dar continuidade ao trabalho nas terras, no engenho. O segundo filho poderia se dedicar às letras e normalmente frequentava o colégio para posteriormente concluir os estudos na Europa. O terceiro estudava para se tornar um religioso. A ação dos jesuítas em relação às necessidades educacionais das famílias das casas-grandes se fazia presente por meio da educação que alguns filhos obtinham ao serem enviados aos colégios, ou ainda quando recebiam os ensinamentos em suas próprias residências. Outra forma de educação praticada pelos jesuítas acontecia nos confessionários, pois ao ouvir os pecados os padres iam modelando o pensamento dos colonos. A estrutura da Educação montada pelos jesuítas Os colégios dos jesuítas possuíam a seguinte estrutura: inicialmente a criança aprendia a ler, escrever e contar. Após este ensino elementar, os colégios forneciam formação em Humanidades, Filosofia, Ciência e Teologia. O curso de Humanidades era de grau médio e se ensinavalatim e gramática, especialmente para meninos brancos e mamelucos (mestiços de branco e índio). Os outros dois cursos eram de grau superior e alguns colégios ofereciam até as três possibilidades. Após o curso de Artes e Filosofia, o jovem podia escolher entre duas opções: ou estudar teologia, tornado-se padre, ou preparar-se para as carreiras liberais como Direito e Medicina. Para tal, deveria estudar em uma das diversas universidades europeias. Os brasileiros optavam, em grande parte, pela universidade de Coimbra em Portugal. Por três séculos (XVI, XVII e XVIII), a educação dos jesuítas no Brasil praticamente não se alterou. Foi uma educação com prioridades no nível secundário visando a formação humanista, com privilégio dos estudos de latim, dos clássicos e da religião. Não faziam parte do currículo dos colégios as ciências físicas ou naturais. Na verdade a educação não era de interesse geral. Ela, durante muito tempo, destinava- se apenas a poucos elementos da sociedade (àqueles que pertenciam à classe dirigente) e, mesmo assim, possuía um caráter muito mais de erudição e ornamento, por ser literária, abstrata e alheia aos interesses materiais e utilitários. Não havia interesse na educação para o trabalho. Esta era realizada de maneira informal no próprio ambiente de trabalho, sem nenhuma regulamentação nem organização. Os jesuítas tinham escolas- oficinas nas missões guaranis para ensinar os índios, mas não as difundiram para o restante da sociedade, fazendo-o apenas em raras oportunidades. Assim, nos duzentos anos de existência no Brasil (de 1549 até 1759, quando os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal), a educação jesuítica foi uma educação conservadora, mas que, no entanto, estava de acordo com o tipo de sociedade que aqui se desenvolvia: aristocrática, agrária e escravista, que depreciava o trabalho manual, entendido como desclassificado, com uma economia agroexportadora dependente e submetida à opressão política da metrópole. Assim, este “quadro social” tem funestas consequências para a educação: analfabetismo; ensino restrito a poucos, elitista, destinado à erudição das classes dirigentes, sem compromisso com o mundo do 71 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 trabalho. Com isto, havia um ensino clássico no sentido de valorizar a literatura e a retórica e desprezar as ciências e as atividades manuais. Mas, aos poucos, as coisas foram mudando. A estrutura social começou a se transformar, por exemplo, quando um novo segmento social se formou no Brasil: a pequena burguesia urbana, que tinha pretensões de ascender socialmente, sendo a Educação a melhor forma de alcançar este objetivo. A expulsão dos jesuítas do Brasil e as reformas pombalinas na Educação Não é possível entender a expulsão dos jesuítas nem tampouco as reformas pombalinas na educação brasileira, se não compreendermos o contexto histórico no qual elas aconteceram. Para isto, é preciso entender um pouco sobre a história de Portugal, mesmo que de uma maneira bem simplista. Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, foi primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777, com a missão de reerguer o país da decadência na qual se encontrava diante de outras potências europeias na época. Como um país católico, Portugal condenava o juro. Enquanto outras nações como Inglaterra e França promoviam as manufaturas, Portugal permaneceu atrelado a uma mentalidade medieval, o que contribuiu para retardar a implantação do capitalismo e colaborar com a decadência. Segundo, Aranha (2006): Além disto, enquanto a Europa renascentista se preparava para o livre pensar que se consolidaria no Iluminismo do século XVIII, Portugal permanecia cioso da herança cultural clássico-medieval, preservando o latim, a filosofia e a literatura cristã. Mas, a partir do século XVIII, a vida intelectual portuguesa começou a mudar e se abrir para as ideias iluministas por meio de vários debates acerca da educação, que aconteceram principalmente com o lançamento da obra Apontamentos para a educação de um menino nobre (1734), de Martinho de Pina e Proença, em cujas páginas o autor recomendava aos professores que se preocupassem também com Geografia, História, Matemática e Direto, revelando uma nítida inspiração de autores iluministas como Locke e Fénelon. Além disto, Marquês de Pombal tinha grande apreço para com os ideais iluministas e com sua chegada ao poder e preocupação de modernizar a administração pública e maximizar os lucros com a exploração colonial, a própria coroa portuguesa sofreu influência dos princípios iluministas. Os debates travados sobre educação repercutiram imediatamente sobre as atividades educacionais dos jesuítas, pois eles detinham o monopólio da educação superior em Portugal e da educação nas colônias portuguesas espalhadas pelo mundo. Eram considerados defensores de uma educação tradicional, abstrata, sem fundamento utilitário, portanto inadequada para a realidade do momento. Assim, por meio do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, como primeiro-ministro de Portugal (1750 a 1777) expulsou, ao mesmo tempo, os jesuítas de Portugal e de suas colônias, suprimindo as escolas e colégios jesuíticos. Pombal empreendeu um extenso programa de transformações administrativas tanto em Portugal como no Brasil. As reformas educacionais pombalinas tiveram que acontecer, pois, com a extinção dos colégios, tal responsabilidade deveria ser assumida pelo governo. 72 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 As principais modificações feitas por Pombal foram: • Criação das aulas régias ou avulsas, autônomas e isoladas, com professor único de latim, grego, Filosofia e Retórica. • Criação da figura do diretor geral dos estudos, para nomear e fiscalizar a ação dos professores. • Implantação do subsídio literário, imposto colonial para custear o ensino. Há certo consenso entre os estudiosos da História da Educação no Brasil em afirmar que a reforma pombalina foi algo desastroso, fazendo com que adentrássemos o século XIX com uma educação caótica. Segundo Fernando de Azevedo, as ações de Pombal significaram a destruição do único sistema de ensino existente no país e foi a primeira grande e desastrosa reforma de ensino no Brasil, atingindo muito superficialmente a vida escolar, imprimindo na educação meio século de decadência e transição. Em concordância com Fernando de Azevedo, Arnaldo Niskier (2001) afirma: A organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando Pombal os expulsou, levando o ensino brasileiro ao caos, através de suas famosas “aulas régias”, a despeito da existência de escolas fundadas por outras ordens religiosas, como os beneditinos, os franciscanos e os carmelitas. Esta situação de caos e precariedade no ensino brasileiro só começa a sofrer alguma mudança com a chegada da família real ao Brasil em 1808. 8 A MODERNIDADE NO BRASIL E O PENSAMENTO EDUCACIONAL: O LIBERALISMO E A PROPOSTA DA ESCOLA NOVA; O MANIFESTO DOS PIONEIROS Transformações na sociedade brasileira entre os séculos XVIII e XX Como vimos no item anterior, nos dois primeiros séculos de Educação no Brasil, a mesma ficou sob a responsabilidade dos jesuítas, que ministravam ensinamentos cristãos e tinham o controle do ensino. Vimos ainda que, embora os jesuítas tivessem uma forte preocupação com a conversão dos índios, a obra de catequese acabou cedendo lugarà educação de elite, impregnada de uma cultura intelectual transplantada da Europa, sobrevivendo com estas características (até mesmo acentuadas) à própria expulsão dos jesuítas e às reformas pombalinas. Tais reformas, que levaram à expulsão dos jesuítas, impuseram ao Brasil a realidade educacional da metrópole e sua educação europeizada tornou-se o centro e o modelo da educação brasileira, mergulhando nosso ensino numa profunda aristocratização. Tínhamos uma sociedade dividida em duas classes sociais: uma pequena camada de dirigentes que tinha acesso a um ensino refinado e o restante da nação, aqueles dirigidos e que não desfrutavam de nenhuma educação. 73 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 Este cenário começou a mudar pouco antes da Independência do Brasil, mais precisamente com a chegada da Família Real, em 1808. A persistência dos velhos padrões coloniais viu-se, pela primeira vez, seriamente ameaçada, abrindo novos horizontes e perspectivas para a sociedade e para a educação. Com as ideias democratizantes de Rousseau e da Revolução Francesa, uma nova preocupação parece contaminar o ambiente político brasileiro, iniciando-se um discurso em favor da educação popular. Mas, isso só vai ser bem delineado a partir da Independência do Brasil, mesmo assim, de forma bastante tímida. Em 1822, a monarquia que aqui se estabelece acaba se ajustando à dominação oligárquica e, apesar dos discursos em favor da educação popular, apenas os filhos da aristocracia conseguiam ser “doutores”. O único acontecimento concreto e eficiente para a educação neste momento foi inserir na Constituição de 1823 um artigo que garantia a gratuidade do ensino primário a todos os cidadãos. Na verdade, são os próprios filhos da aristocracia que foram estudar na Europa que trouxeram para o Brasil os ventos profícuos das mudanças. O contato com o ambiente iluminista da Europa os fez voltarem com ideias liberalizantes e democratas. Preferindo a vida nas cidades, os filhos da aristocracia brasileira acabavam por deslocar o eixo político e social do campo para a cidade. Desta forma, o país começou a experimentar uma crescente efervescência intelectual e ideológica, marca distintiva do período de transição do Império para a República. Nossa jovem elite intelectual passava a acreditar na possibilidade de construção de um país livre do trabalho escravo e da arcaica monarquia. Segundo Sergio Buarque de Holanda (1999), a abolição da escravidão foi um acontecimento decisivo para a mudança de rumos da sociedade brasileira, um marco divisório entre duas épocas, assinalando o declínio do predomínio agrário, fator decisivo para provocar a hipertrofia urbana. A agitação das cidades e o clima social, político e intelectual que embalavam a elite após a abolição colaboraram para a proclamação da República. Mas, ainda assim, no país persistia um estilo de vida rural e oligárquico, com a política sendo padronizada pelo voto de cabresto e pelas fraudes eleitorais, deixando para segundo plano grandes temas nacionais, como o problema da educação. Porém, na década de 1920 iniciou-se a crise da dominação oligárquica. A partir de 1929, grupos ligados ao complexo cafeeiro se desentenderam com o Estado causando a quebra da hegemonia desses grupos e a formação de novas alianças de classes. A Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas pôs fim à política de alianças café com leite. Chamou-se “política café com leite” o acordo existente entre as oligarquias estaduais de São Paulo (maior produtor de café), Minas Gerais (maior produtor de leite) e o governo federal para que os presidentes da República fossem escolhidos alternadamente entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais. Portanto, o presidente da República ora seria paulista, ora mineiro. 74 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 Getúlio Vargas foi nomeado chefe do Governo Revolucionário Provisório em 03 de novembro de 1930, iniciando no Brasil um novo regime, uma nova era, e fortalecendo a ideia de um país no qual tudo estava por ser feito, e a educação era considerada o pináculo desta revolução. Enfim a modernidade no Brasil Podemos afirmar que a modernidade no Brasil, emblematicamente, iniciou-se em 1922. Este foi um ano de acontecimentos que coroaram o pensamento de novidade. Entre eles, podemos citar: Semana de Arte Moderna, Revolta dos 18 do Forte de Copacabana (Revolução Tenentista), fundação do PCB (Partido Comunista Brasileiro, primeiro partido operário duradouro), primeira eleição moderna com dois candidatos mobilizando militantes e realizando comícios, primeiros indícios da crise das oligarquias. Os anos 20 assistiram ao apogeu e declínio da cafeicultura. Paralelamente a isto, ocorreu no parque industrial brasileiro uma concentração de capital e um período de progresso, com experiências de implantação do processo taylorista de trabalho para aumentar a produtividade. Devemos nos atentar para o fato de que o processo produtivo industrial potencializou a acumulação de capital e a fábrica foi, por excelência, o local onde isto aconteceu. Portanto, ela precisou de trabalhadores disciplinados não só para a execução das tarefas, mas que tivessem, em sua vida cotidiana, valores morais e éticos que os fizessem “vestir a camisa” do patrão e da fábrica. Assim, a modernidade no Brasil estava intimamente ligada à urbanização, à industrialização e à formação e expansão da classe operária brasileira, que por sua vez estava sendo preenchida por uma parcela de imigrantes que não foram para as lavouras, por brancos e mestiços pobres, além de ex- escravos. Como podemos perceber, a década de 1920 assistiu à consolidação da modernidade no Brasil. Mas, o que toda esta conjuntura histórica, econômica, política e social representou no plano das ideias? A crise das oligarquias, o crescimento do parque industrial, da classe operária, o pipocar das revoltas, bem como a Semana de Arte Moderna, como todos estes acontecimentos se manifestavam no ideário intelectual brasileiro? Na Semana de Arte Moderna, por exemplo, nossos poetas e artistas deixaram claro que aspiravam por um Brasil novo, de novas rimas e novos sons. Pareciam querer acordar os burgueses adormecidos sobre sacos de café e dinheiro. No primeiro dia do evento, Mário de Andrade vocifera para uma plateia atônita: “Eu insulto o burguês! O burguês níquel! O burguês burguês! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!” – dizendo uma série de apontamentos contra os burgueses e, logicamente, contra a ordem estabelecida. Menotti Del Picchia afirmou: “Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminés de fábrica, sangue, velocidade, sonho, na nossa arte”. No Manifesto Antropofágico, Oswald de Andrade se coloca: “contra as elites vegetais... contra a peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra eles que estamos agindo”. Durante a década de 1920, o Brasil assistiu a inúmeras revoltas. Além da Revolta Tenentista de 1922, já citada, podemos destacar as revoltas de 1923 no Rio Grande do Sul, as Insurreições Militares de 1924 em São Paulo, Sergipe e Amazonas e a Coluna Prestes em 1925. 75 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 10/ 03 /2 01 1 Com estas afirmações, podemos perceber que os intelectuais modernistas queriam um país industrializado e urbanizado, queriam redescobrir Pindorama nas selvas das cidades, queriam ser índio e negro, ou seja, queriam que um novo e moderno Brasil fosse admirável e industrial, mas acima de tudo, queriam que fosse um Brasil brasileiro. Veremos a seguir a maneira pela qual estas ideias se incorporaram no universo da educação. A Educação na modernidade Como e por quem os rumos da Educação no Brasil eram pensados neste momento? Entre 1894 e 1917, as elites intelectuais (que se consideravam modernas e liberais e acreditavam na Educação como fator decisivo para resolução de problemas sociais) pretendiam implantar novas ideias educacionais no sentido de construir uma nação moderna. Embora tenha havido certo arrefecimento deste entusiasmo durante o coronelismo, uma classe operária se formava no seio de nossa sociedade, que clamava por educação. Houve um acelerado crescimento dos setores médios da população, composto pela pequena burguesia das cidades; por uma grande massa de funcionários públicos; por empregados do comércio; pelas chamadas classes liberais e intelectuais e por militares, cuja origem social era agora, a própria classe média. Grande parcela dessa classe operária já estava sindicalizada e acabava desenvolvendo, independentemente do Estado, algumas experiências educacionais inovadoras. Assim, os anarquistas e anarcossindicalistas fundaram escolas agregadas aos seus sindicatos, inspiradas na pedagogia libertária de Francisco Ferrer. Porém, com a repressão aos movimentos operários, estas experiências não duraram muito. Assim sendo, a elite intelectual irrompeu a década de 1920 imbuída de fervoroso espírito nacionalista, mas tomando consciência de que nossa população era quase toda analfabeta. Portanto, iniciou-se um ciclo de reformas educacionais com o objetivo de popularizar e democratizar o ensino, de forma a estendê-lo às camadas médias e pobres de nossa sociedade. O liberalismo e a proposta da Escola Nova no Brasil Na emergência do mundo urbano-industrial, intensificam-se as discussões em torno das questões educacionais e estes debates começam a ser o centro de interesse de muitos dos intelectuais ligados a esta área do conhecimento humano. As correntes de pensamento inovador sobre os rumos, objetivos e sentidos da Educação iniciam-se no chamado mundo culto, ou seja, Europa e Estados Unidos. Elas foram agudamente aprofundados sob o impacto e inquietação causados pela Primeira Guerra e pela Revolução Russa, que pelo grau de violência, aventaram a possibilidade de a humanidade voltar ao estado de barbárie. Assim, a Educação passou a ser o centro das preocupações dos intelectuais que pretendiam contribuir para o processo de estabilização social, levando-os a refletirem sobre os resultados da pedagogia tradicional e não demorarem a declarar a insuficiência desta pedagogia perante as exigências do mundo 76 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 moderno, capitalista, concluindo que as instituições escolares deveriam ser atualizadas de acordo com a nova realidade social. O movimento de renovação educacional que surge neste momento, especialmente nos Estados Unidos, como oposição à educação tradicional, denominou-se “Escola Nova”. As ideias de dois educadores norte-americanos, John Dewey e Willian Kilpatrick, marcaram a fisionomia do pensamento educacional brasileiro a partir da primeira década do século XX, acentuando-se nas décadas de 1920 e 1930, pois com a vitória dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, o imperialismo inglês perdeu espaço para o imperialismo americano que não se contentava em apenas explorar economicamente os países do terceiro mundo, mas também pretendia penetrar no campo cultural e educacional destas nações. Nesse momento, o Brasil começa a experimentar uma razoável influência das universidades americanas que então produziam e disseminavam os ideais da Escola Nova. Saiba mais Segundo Aranha (2006), as principais características da Escola Nova são: • Educação integral (intelectual, moral, física). • Prioridade outorgada ao Estado para a manutenção do ensino. • Ensino leigo. • Educação ativa; educação prática com obrigatoriedade de trabalhos manuais. • Exercícios de autonomia. • Vida no campo. • Internato. • Coeducação dos sexos. • Ensino individualizado. Os métodos para que se atinjam estas propostas de educação são: • Ênfase nos processos de conhecimento. • Atividades centradas no aluno. • Criação de laboratórios, oficinas, hortas e até imprensa. Para superar a escola tradicional com sua tendência intelectualista, a Escola Nova valoriza jogos e exercícios físicos em geral, desde que sirvam para o desenvolvimento da motricidade e da percepção. Além disto, também leva em conta os estudos da psicologia da criança, a fim de encontrar métodos adequados que possam estimular o interesse sem privá-la da espontaneidade. 77 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 No Brasil, a ânsia de transformação que agitava o país não poderia deixar de repercutir intensamente nos setores de educação e ensino, aqueles que transmitem cultura. Os educadores brasileiros, por seus elementos mais progressistas, em breve também estavam engajados na crítica a nossa precária organização escolar e aos nossos atrasados métodos e processos de ensino. Como resposta a estas preocupações, abriu-se o ciclo de reformas da educação e do ensino. O escolanovismo que se formou no Brasil produziu uma geração de educadores como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, entre outros, que, durante as décadas de 1920 e 1930, tiveram papel bastante significativo na luta para que o poder público conferisse maior prioridade aos assuntos da educação. Estes educadores colaboraram para a mudança de pensamento em relação aos significados e objetivos da escola ao elaborarem o Manifesto dos Pioneiros. Alastrou-se o movimento de renovação pedagógica. Fernando de Azevedo (1976) nos informa que: O primeiro sinal de alarme que nos colocou no caminho da renovação escolar foi a reforma empreendida em 1920 por Antonio Sampaio Dória, que chamado a dirigir a instituição pública em São Paulo, conduziu uma campanha contra velhos métodos de ensino, vibrando golpes tão vigorosamente aplicados à frente constituída pelos tradicionalistas, que panos inteiros do muro da antiga escola deveriam desmoronar. Em 1924, Lourenço Filho foi chamado a reestruturar o ensino primário no Ceará. Anísio Teixeira deveria empreender a reforma na Bahia e no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, Francisco Campos e Mário Casassanta. Assim, em todos os estados, educadores foram convocados para reformarem o ensino, sendo que todas estas mudanças estavam alicerçadas em uma mesma linha de pensamento educacional, conhecida como Escola Nova. No Brasil, o discurso em favor da educação popular precedeu a proclamação da República. Já em 1822, Rui Barbosa, baseado em exaustiva pesquisa da realidade brasileira da época, tornava conhecida a vergonhosa precariedade do ensino para o povo no Brasil e apresentava propostas de multiplicação de escolas e de melhoria qualitativa do ensino. Desde então, diagnósticos, denúncias e propostas de educação popular têm estado sempre presentes nos discursos políticos sobre educação no Brasil. Estes discursos vêm sempre inspiradosnos ideais democráticos liberais, cujo objetivo é a igualdade social, sendo a democratização do ensino vista como instrumento essencial para a conquista deste objetivo. Os ideais de uma escola pública, universal, laica e gratuita não são novos, mas, ainda hoje, são perseguidos por muitos países do terceiro mundo, incluindo os da América Latina. Estes ideais são inspirados por um sistema conhecido como liberalismo, que teve sua origem na Inglaterra e na França, no contexto histórico das lutas de classe da burguesia contra a aristocracia, no decorrer do século XVIII, em que postulavam princípios como a igualdade de direitos e de oportunidades, 78 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 a destruição de privilégios hereditários, o respeito às capacidades e às iniciativas individuais e a educação universal para todos. Saiba mais Princípios do liberalismo • Individualismo – o indivíduo deve ser reconhecido como sujeito que possui talentos e aptidões próprias. • Liberdade – está associada ao individualismo e prega a liberdade individual, dela derivando todas as outras, tais como: religiosa, econômica, política. • Propriedade privada – é um direito natural do indivíduo, que deve e pode adquiri-las por meio do trabalho e do talento. • Igualdade – não significa igualdade de condições sociais e materiais, pois, os homens são diferentes em talentos e capacidades. A igualdade no liberalismo refere-se à igualdade perante as leis, igualdade de direitos e igualdade civil. • Democracia – direito de todos participarem do governo por meio de representantes de sua própria escolha. Se anteriormente o pensamento educacional clássico sempre esteve impregnado das ideias de reconstrução individual para o aperfeiçoamento moral, a partir da ascensão da burguesia como classe na Europa ocidental e o desenvolvimento do liberalismo, o pensamento educacional passou a orientar-se para a reconstrução social. Portanto, quando o pensamento pedagógico começou a incorporar os argumentos liberalistas, a educação passou a ser percebida como a solução mais viável, se não a única, para promover o progresso das nações e o bem estar geral das sociedades. Como já afirmamos acima, no decorrer da década de 1920, os Estados Unidos passaram a influenciar o ambiente cultural brasileiro em quase todas as áreas. A produção intelectual relacionada à educação não ficou imune a isso e o ideário pedagógico da Escola Nova (que tinha como referencial as ideias de John Dewey e Willian Kilpatrick) logo ganharam adeptos como Anísio Teixeira, (que foi aluno de Dewey), Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, entre outros. Porém, esta inspiração não era unânime e provocou reações contrárias dos chamados pensadores católicos, também muito cultos e eruditos, como Alceu Amoroso Lima. O movimento de renovação escolar que estava chegando ao Brasil e pregava novos métodos e processos de ensino - que ainda se viam dominados pelo regime de coerção da velha pedagogia jesuítica - baseava-se nos progressos mais recentes da psicologia infantil e propunham democracia, autonomia e consciência crítica. 79 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 Lourenço Filho, em Introdução ao estudo da Escola Nova preocupou-se em mostrar que esta nova vertente pedagógica apresentava diversificada origem e manifestações diferentes em vários países. Porém, ele nos mostra claramente que, no Brasil, a opção foi pelo pensamento renovador norte-americano, originário de Dewey e Kilpatrick. A Escola Nova, antes de ser uma proposta metodológica, consistia em uma nova atitude filosófica perante os problemas nada simples da educação daquele tempo. Neste sentido, percebemos claramente a influência das ideias de Kilpatrick, que em Educação para uma civilização em mudança deixa claro que a pedagogia, para ser coerente com a sociedade de determinado período, tem que ter o pensamento baseado na experiência para poder considerar de maneira científica a realidade de um mundo em constante mudança. Segundo ele, esta é uma postura que certamente provocará uma alteração de mentalidade, necessidade de absorver o movimento de industrialização com suas consequências, declínio do autoritarismo e exigência de democracia, sendo ainda o Estado o responsável pela educação. Todas estas ideias vinham de encontro ao clima intelectual brasileiro e aos anseios de mudanças aqui pretendidas, portanto, amplamente acolhidas e entendidas como o melhor caminho para resolver os graves problemas que o Brasil enfrentava na área da educação. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Lançado em março de 1932 e redigido por Fernando de Azevedo, o Manifesto foi assinado por 26 intelectuais brasileiros dedicados à Educação, entre eles: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Sampaio Dória, Paschoal Leme, Mário Casassanta, Cecília Meireles (poeta e educadora). O Manifesto representava muito do pensamento educacional brasileiro daquele momento, bem como refletia os desejos de mudança. O Manifesto dos Pioneiros era bastante coerente com as ideias traçadas acima, incluindo seu título A reconstrução educacional do Brasil, bem sugestivo e indicativo desta coerência. Em suas linhas iniciais, já fica absolutamente claro que seus organizadores consideravam a educação como o maior e mais grave problema nacional, sendo que sua inadequação era responsável por todos os outros problemas brasileiros: Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. (...) É impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento às aptidões, à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade. (...) Depois de 43 anos de regime republicano, não lograram ainda criar um sistema de educação escolar à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. O período histórico e social imediatamente anterior ao lançamento do Manifesto possui características que merecem ser examinadas mais de perto para podermos entender com mais clareza a natureza do espírito intelectual que emana de suas páginas. 80 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 A revolução de 1930 foi um marco decisivo. Vitorioso, Getúlio Vargas tomou posse em 03 de novembro de 1930, intitulando-se chefe do Governo Revolucionário Provisório, iniciando a Segunda República ou República Nova. Inicialmente, este governo pareceu mostrar-se extremamente sensível aos problemas educacionais do país, tomando decisões que agradavam aos educadores preocupados com as transformações e modernizações do ensino brasileiro. Em 14 de novembro de 1930, Getúlio criou o Ministério da Educação e Saúde e, para geri-lo, nomeia Francisco Campos, um homem ligado às ideias e realizações do movimento de modernização do ensino. Em 11 de abril de 1931, sanciona três importantes decretos elaborados por este ministro: • Criação do Conselho Nacional de Educação. • Instituição do Estatuto das Universidades Brasileiras. • Normas que dispunham sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro. As decisões de Vargas não pararam por aí. Em 18 de abril do mesmo ano, sancionou mais um decretopelo qual era possível a total reorganização do ensino secundário em moldes modernos. Em junho de 1931, outro decreto alterou o plano de ensino comercial, criando o Curso Superior de Administração e Finanças. Estas medidas eram reivindicações antigas dos educadores atuantes que, percebendo a disposição de Vargas em reformular o ensino, pretendiam pressioná-lo para que as reformas não ficassem fragmentadas e alheias ao ensino popular. Assim convocaram, por meio da Associação Brasileira de Educação, uma conferência nacional, para que, mostrando força, o presidente pudesse adotar posição mais afirmativa e abrangente, definindo uma verdadeira política nacional para o setor. Nesta conferência, o presidente Getúlio Vargas mostrou-se perfeitamente receptivo e, inclusive convocou os educadores presentes a encontrarem a “fórmula feliz” que definisse o sentido pedagógico da Revolução de 1930, comprometendo-se a adotar esta fórmula na obra de reconstrução do Brasil, na qual estava empenhado. (Leme, 1993) Estes educadores tomaram, então, a iniciativa de elaborar um documento traçando as diretrizes de uma verdadeira política nacional de educação e ensino, abrangendo todos os seus aspectos, modalidades e níveis. Surgia, assim, o Manifesto dos Pioneiros dirigido ao povo e ao governo e que propunha a reconstrução educacional do Brasil. A redação do Manifesto não ocorreu de forma pacífica. Houve uma série de desentendimentos com o grupo dos educadores católicos que eram frontalmente contra alguns aspectos fundamentais do documento, tais como: prioridade outorgada ao Estado para a manutenção do ensino, ensino leigo, coeducação dos sexos, entre outros. Em linhas gerais e bem simplificadamente, as principais ideias que permeavam o conteúdo do Manifesto eram: 81 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 • A escola deveria ser única, ou seja, a mesma para todos e não uma educação de classes. • Ensino leigo e obrigatório. • Educação como direito de todos e, por isto mesmo o Estado deveria garantir que escola fosse pública e gratuita. Além disto, o manifesto também expôs os métodos e processos que deveriam nortear o ensino e os critérios adotados para a avaliação da aprendizagem. Indicava os padrões com os quais os educadores deveriam realizar sua formação, devendo estar conscientes de suas responsabilidades perante a nação, os educandos e o povo em geral, terminando com as seguintes palavras: Mas, de todos os deveres que incumbem ao Estado, o que exige maior capacidade de dedicação e justifica maior soma de sacrifícios; aquele com que não é possível transigir sem a perda irreparável de algumas gerações; aquele em cujo comprimento os erros praticados se projetam mais longe nas suas consequências, agravando-se à medida que recuam no tempo; o dever mais alto, mais penoso e mais grave é, de certo, o da educação que, dando ao povo a consciência de si mesmo e de seus destinos e a força para afirmar-se e realizá-los, entretém, cultiva e perpetua a identidade da consciência nacional, na sua comunhão íntima com a consciência humana. Apesar do potencial de renovação contido no Manifesto, a literatura nos mostra que o mesmo não gerou as mudanças que seus idealizadores tanto almejaram, mas, por outro lado, alguns de seus princípios organizadores foram absorvidos na organização das escolas. Resumindo A história da educação no Brasil não pode ser adequadamente compreendida sem levarmos em conta a contribuição dos jesuítas. Inicialmente o objetivo dos jesuítas era cristianizar, pacificar e tornar os índios dóceis para o trabalho, pois eles perceberam que e a educação era a principal via de acesso para tal. Assim, em pouco tempo, o Brasil possuía vários colégios jesuítas, cujo ensino era destinado a poucos, e que tinham um caráter de erudição e ornamento, pois apresentavam ensino literário, abstrato e alheio aos interesses materiais e utilitários. A colonização brasileira realizou-se de forma a viabilizar a produção agrícola de interesse para o mercado europeu, sendo que nossa economia se expandiu em torno do engenho de açúcar, utilizando o trabalho dos índios e dos escravos. Portanto foi uma economia que se desenvolveu centrada no latifúndio, na escravatura e na monocultura. Em uma sociedade agrária e escravista o interesse pela educação foi quase nulo, portanto a quantidade de analfabetos era muito grande. Com as reformas pombalinas, a educação brasileira passou por momentos tumultuados e medíocres, e só começou a tomar outros rumos com a modernidade. 82 Unidade IV Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 2/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 A partir de 1920 o processo produtivo industrial foi alavancado no Brasil e as fábricas necessitaram de trabalhadores disciplinados e educados para o trabalho, e que tivessem valores morais e éticos condizentes com os ideais do capitalismo. No entanto, nossa população era quase toda analfabeta. Iniciou-se, portanto, na década de 1920, um ciclo de reformas educacionais com o objetivo de popularizar e democratizar o ensino de forma a estendê-lo às camadas médias e pobres de nossa sociedade. O Manifesto dos Pioneiros, elaborado em março de 1932, exprimia os ideais de mudanças na área educacional dos principais educadores e intelectuais do país. As principais ideias contidas no Manifesto eram: a educação deveria ser a mesma para todos e não mais uma educação de classes; deveria ser leiga e obrigatória, pública e gratuita. EXERCÍCIOS 1) Elabore uma reflexão acerca da estrutura educacional montada pelos Jesuítas no Brasil. 2) Relacione a sociedade colonial com o tipo de educação existente. 3) Elabore uma reflexão acerca das reformas pombalinas no Brasil. 4) Explique o sentido do princípio da Igualdade contido no Liberalismo. Resolução dos exercícios 1) Os colégios dos jesuítas possuíam a seguinte estrutura: inicialmente a criança aprendia a ler, escrever e contar. Forneciam formação em Humanidades, Filosofia, Ciência e Teologia. O curso de Humanidades era de grau médio e se ensinava latim e gramática. O jovem podia escolher entre estudar Teologia tornado-se padre ou preparar-se para as carreiras liberais (Direito e Medicina), em uma das universidades europeias. A educação destinava-se àqueles que pertenciam à classe dirigente e possuía um caráter de erudição Não havia interesse na educação para o trabalho. Os jesuítas estabeleceram escolas-oficinas nas missões guaranis, que ensinavam apenas aos índios, não as difundindo para o restante da sociedade. 2) O tipo de colonização estabelecido no Brasil foi centrado numa ocupação do território que viabilizasse a produção agrícola para o mercado europeu, ou seja, nossa economia era baseada num modelo agrário-exportador dependente. A economia que se expandiu em torno do engenho de açúcar se desenvolveu centrada no latifúndio, na escravidão e na monocultura. Com esta realidade social e econômica, a Educação não era algo primordial. As atividades agrícolas não exigiam formação específica. Numa sociedade agrária e escravista, o interesse pela Educação era quase nulo, portanto, a quantidade de analfabetos era muito grande. As mulheres e negros eram excluídos do ensino e pouco despertavam o interesse dos padres, que se concentravam na catequese dos curumins. O ensino que se estabelecia carregava estas marcas. 83 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : F ab io - 22/ 02 /1 1 -| |- 2 ª R ev is ão : A m an da - C or re çã o: F ab io - 1 0/ 03 /2 01 1 3) As reformas educacionais pombalinas no Brasil iniciaram-se com a expulsão dos jesuítas e a extinção dos seus colégios. As principais modificações feitas por Pombal foram: a criação das aulas régias ou avulsas, autônomas e isoladas, com professor único de latim, grego, Filosofia e Retórica; criação da figura do diretor geral dos estudos, para nomear e fiscalizar a ação dos professores; implantação do subsídio literário (imposto colonial para custear o ensino). Houve certo consenso entre os estudiosos da História da Educação no Brasil em afirmar que a reforma pombalina na educação brasileira foi algo desastroso, fazendo com que adentrássemos o século XIX com uma educação caótica. 4) O princípio da igualdade contido no liberalismo não se refere à igualdade de condições sociais e materiais, pois, o liberalismo entende que os homens são diferentes em talentos e capacidades. A igualdade no liberalismo refere-se principalmente à igualdade perante as leis, como, por exemplo, igualdade de direitos e igualdade civil. Referências bibliográficas ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2006. AZEVEDO, Fernando. A transmissão da cultura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1976. BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2008. BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 2003. BRESCIANI, M. Stella M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 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