Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Influência da Geologia na Escolha de Sítios de Barragem Marcio Fernandes Leão UFRJ e UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, marciotriton@hotmail.com RESUMO: Em busca de um sítio para a locação da Barragem Arroyo Grande, uma captação do tipo “fio d`água”, localizada na Península de Samaná - RD, com o objetivo de complementar o abastecimento de água na respectiva Península, foram pesquisados ao longo do leito deste rio vários locais que pudessem atender as condições de projeto. Assim, foi determinada uma área, onde o vale é mais estreito, com taludes mais íngremes e localmente rochosos, depósitos aluvionares restritos e sem planície de inundação, o que facilitaria a construção do barramento. A geologia do local é basicamente constituída por xistos e mármores de forma intercalada. Através do mapeamento geológico-geotécnico, somado a investigações realizadas (sondagens e poços de inspeção), foi constatado que esta localidade seria de alto risco para a construção do barramento, devido a grande existência de matacões e blocos de rocha, que associados aos períodos de chuva na região, caracterizam o rio como de alta energia, o que comprometeria o projeto. Diante dos fatos, foi tomada a decisão de redimensionar os demais barramentos existentes na Península de forma a compensar a supressão do mesmo. PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Investigações Geotécnicas, Mapeamento Geológico-Geotécnico. 1 INTRODUÇÃO A barragem Arroyo Grande, localizada na República Dominica, foi uma das soluções visando contribuir para o aumento do fornecimento de água na Península de Samaná, oriundo do projeto Acueducto de Samaná. Esta contribuição seria através de uma captação a fio d’água, onde por gravidade a água seria transportada por uma adutora até a Estação de Bombeamento do projeto mencionado. A barragem, com aproximadamente 6 m de altura, foi projetada para ser construída tanto em concreto simples como em concreto armado. A adutora teve inicialmente seu projeto repensado, já que a topografia indicou grandes aclives e declives na região. Foi adotada uma rota alternativa, porém que consumiria 2300 m de tubos além do planejado, após a busca por outros locais de distribuição. Com base nos mapeamentos de campo realizados foram identificados fatores geológico-geotécnicos que limitaram demasiadamento sua construção. Devido a grande dificuldade na busca por sítios para a instalação do barramento, principalmente pela limitação imposta pela geologia, o projeto da barragem Arroyo Grande foi abandonado. 2 GEOLOGIA A Geologia Regional da Península de Samaná é predominantemente representada por rochas metamórficas, no caso, xistos, mármores e a intercalação dessas duas rochas, cujas idades são desconhecidas (Mollat, et al., 2004). Através de características estruturais e tectônicas é possível afirmar que a Península de Samaná, inserida na Placa do Caribe juntamente com o Haiti, tem sido submetida a grandes temperaturas e pressões, resultando no metamorfismo que originou suas litologias. O sítio onde foi escolhido para a construção do barramento é caracterizado à jusante por um canyon íngreme de direção NW, com a margem esquerda mais pronunciada que a direita. Geologicamente o local é marcado por xistos micáceos de diferentes graus de alteração, desde xistos cisalhados a alterados, com uma laminação fina, até xistos com blocos de mármores, ambos sãos, sendo possível observar, por vezes, estruturas “bodinage” dentro do xisto cisalhado. A xistosidade juntamente com as estruturas planares são subparalelas a direção principal do canyon, mergulhando abruptamente para ambos os lados, dependendo das dobras existentes. A margem esquerda tende a ser muito mais íngreme em relação a direita (figura 1), ambos cobertos por solos residuais de xisto (areno siltosos), onde a 10 m do local escolhido para o eixo do barramento os xistos tendem a ser mais sãos. Figura 1. Detalhe do talude da margem esquerda, mostrando o alto declive em relação ao rio Arroyo Grande. Na margem direita ocorrem blocos irregulares sobre xistos alterados com estruturas “bodinage” (figura 2) e dobramentos bem evidenciados (figura 3). Figura 2. Estrutura “bodinage” que ocorrem em blocos na margem direita (Verdeja, 2006). Figura 3. Detalhe de xisto alterado e dobrado tipicamente encontrado na margem direita (Verdeja 2006). No leito do rio Arroyo Grande (figura 4) são observados blocos irregulares e maciços de mármore cinza, bem como aglomerações de fragmentos menores, por vezes unidos em matriz secundária, carbonática, fruto de precipitação. Figura 4. Leito do rio Arroyo Grande com afloramentos e blocos rolados de mármore maciço. A jusante do eixo planejado foram evidenciados grandes blocos de rocha (até 3 m de diâmetro) com bordas angulosas, além de troncos de árvores arrastados, evidenciando grande potencial de fluxo de energia do rio (figura 5). Mármore Maciço Xisto Cisalhado Cizallado Figura 5. Evidência de alto poder de enrgia do rio Arroyo Grande. 3 MEDOLOGIA Baseado nas condições geológicas supracitadas, foi realizado um trabalho prévio, baseado em cartas topográficas, afim de verificar os pontos de maior interesse e que atendessem ao projeto. Visitas de campo com o objetivo da caracterização geológico-geotécnica dos locais foram realizadas, sendo conjuntamente programadas, quando necessário, investigações geológico-geotécnicas, como sondagens mistas ou a percussão e poços de inspeção. Com base nos resultados foi possível definir sítios a serem estudados para a implantação do barramento Arroyo Grande. 4 CONDICIONANTES GEOLÓGICO- GEOTÉCNICOS PARA A ESCOLHA DO SÍTIO DO BARRAMENTO É sabido que em uma implantação de qualquer obra de engenharia civil é necessário que se tenha um conhecimento dos recursos e processos naturais da área em questão, objetivando a divisão da mesma em zonas e a qualificação de seus riscos segundo a freqüência, intensidade e probabilidade de ocorrência. Desta forma, foi possível analisar os recursos, estimar eventos extremos e conceber medidas preventivas ou mesmo mitigadoras, objetivando a nulidade de acidentes e a minimização de possíveis prejuízos. Podemos citar como fatores condicionantes da concepção de um arranjo geral de um aproveitamento, aqueles conhecidos como (i) funcionais, ligados à função das estruturas hidráulicas componentes do aproveitamento; (ii) os fatores físicos, ligados às condições topográficas e geológico-geotécnicas locais e a disponibilidade de materiais; (iii) os fatores hidrometereológicos, relacionados às condições climáticas no local e aos parâmetros hidrológicos do curso d’água; e por fim os (iv) fatores construtivos ou estratégicos, que traduzem as condições encontradas em cada sítio (Matos et al., 1989). O primeiro local escolhido, estava situado abaixo da confluência do Rio San Juan com o Arroyo Majagual sendo descartado por duas razões. A primeira devido à grande quantidade de estratos de rocha mármore, muito alterada, com a ocorrência de cavidades e falhas, próximas ao Norte do vale do Rio San Juan, que fazem totalmente permeáveis estas rochas e por conseqüência, não garantiriam a estanqueidade, nem das fundações, nem do reservatório (figura 6) Figura 6. Detalhe de rocha mármore que ocorre no primeiro sítio escolhido. . A segunda estaria ligada a razões morfológicas, já que o vale eleito era amplo, o que promoveria a construção de um barramento longilíneo (figura 7). Cavidades Cársticas Figura 7. Aspecto do leito do rio Arroyo Grande para o primeiro sítio escolhido. O segundo sítio eleito para a localizaçãodo barramento, foi decidido à jusante da confluência com o rio San Juan, aproximadamente a 2,5 km a montante do sítio anterior. Neste sítio foram realizadas sete sondagens mistas e vários poços de inspeção a pá-picareta. Os resultados obtidos nos estudos geotécnicos desse novo sítio indicaram grandes espessuras de materiais granulares no leito, que ocorrem sobre estratos de rochas também muito permeáveis. O sítio foi descartado por razões geotécnicas e por motivos de viabilidade econômica. O leito do Arroyo Grande permanece seco até aproximadamente 1 km a montante da sua confluência com o Rio San Juan, indicando possíveis sumidouros (figura 8). Figura 8. Aspecto de sumidouro que ocorre em trechos do rio Arroyo Grande. Nesse trecho somente existem vazões quando o Arroyo Grande faz grandes trechos retilíneos (figura 9), já que a água se infiltra no subsolo aproximadamente à distância antes dita. Outro problema que apresentava este sítio era a possibilidade da perda de volumes de águas do reservatório ao longo dos trechos com o curso seco do rio Arroyo Grande. Figura 9. Exemplo citado de trecho de até 1 km onde o rio Arroyo Grande torna-se seco voltando a conter água posteriormente. Esta segunda opção também foi descartada e tratou-se de buscar outros lugares situados mais ao sul, ou seja, a montante, pois de acordo com a litologia regional, à medida que se penetra a montante de seu curso, o material que está sob os seus taludes é mais impermeável por estar constituído de xistos micáceos alterados e meteorizados, similares a argilas arenosas. A busca pela nova localidade tinha como prerrogativas principais, conseguir a abertura do vale mais estreita possível e ao mesmo tempo tratar com que as vazões do rio não diminuíssem. Finalmente o local para a localização do barramento foi escolhido (descrito no item 2), porém os condicionantes geológicos ainda preocupavam quanto a sua construção, já que não minimizaram-se as características de trechos de alta energia do rio (figura 10), além de blocos métricos encontrados nas encostas e ao longo do leito do rio (figura 11). Sumidouro Figura 10. Blocos de mármore, métricos em meio a afloramentos de rocha xisto intercalado ao mármore. Figura 11. Evidência de grandes blocos de mármore soltos ao longo do leito do rio Arroyo Grande, onde na margem esquerda ocorre afloramento de mármore maciço. Sob este afloramento existem blocos soltos desta mesma litologia. De posse de sondagens mistas e poços de inspeção realizados, foi possível concluir que a espessura de solo residual é da ordem de 20 m, nas ombreiras, e que após esta camada, ou mesmo intercalada com a mesma, existem passagens com fragmentos de blocos de rocha, de mesmas condições dos encontrados no leito, com maior espessura deste horizonte junto ao rio, todavia em taludes próximos, a sua ocorrência resulta em passagens menos espessas (figura 12); essas intercalações podem variar entre 4,5 a 9 m de profundidade. O topo rochoso, predominantemente em xisto micáceo pode apresentar xisto intercalado com mármore e ocorre irregularmente pela localidade. Figura 12. Caixa de sondagem mista realizada em talude, onde s é possível observar as características descritas anteriormente. Profundidades registradas em pés. 4 CONCLUSÕES Conforme apresentado nos itens acima a escolha de um barramento deve considerar inúmeros fatores que devem estar consonantes para o sucesso do empreendimento. Como exemplo para tais considerações foi Passagem de blocos de mármore e xisto (tálus) Solo residual de xisto Passagem de blocos de mármore e xisto (tálus) Afloramento rochoso Blocos métricos soltos escolhido o projeto de implantação da barragem Arroyo Grande, cujos condicionantes principais foram ligados a aspectos geológicos- geotécnicos. Tais condições desfavoráveis exigiram a busca por novos sítios de interesse. O local escolhido definitivo para a sua implantação acabou sendo descartado e no caso, o barramento deixou de ser construído. Os motivos estavam ligados a distância que este local ficou do primeiro ponto planejado, causando um aumento na extensão de tubos que seguiriam até a barragem principal San Juan, onerando o empreendimento. Secundariamente os grandes blocos de rocha e troncos de árvores observados em superfície, juntamente com os horizontes perfurados nas sondagens, revelaram o grande fluxo de energia presente no rio em épocas diferentes. Esta condição ficou demonstrada pela intercalação de camadas formadas essencialmente por blocos de rochas, intercaladas com camadas de solo residual, típico de locais onde existem depósitos de tálus. AGRADECIMENTOS A CNO – República Dominicana, em especial ao amigo Eng. Lucio Dib pela autorização no uso das informações. REFERÊNCIAS Matos, A.C.B.F.; Moreira ,M.O.; SILVA, W.G. (1989). Análise de eixo e arranjos alternativos em estudos de viabilidade de barragens – considerações metodológicas e aplicação prática. In: XVIII SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS. IV. Foz do Iguaçu. p. 1165-1185. Mollat, H., Wagner, B. M., Cepek P. & Weiss W. (2004). Mapa Geológico de la República Dominicana 1:250.000, Texto Explicativo. Verdeja, E., H. (2006). Reconocimiento Geológico de Campo – Sitios de cerrada de Río San Juan y Arroyo Grande - Relatório Técnico. República Dominicana. Santo Domingo. 18p.
Compartilhar