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AULA 1 CASOS CLÍNICOS Breve histórico sobre Histeria

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Breve histórico sobre Histeria e sua sintomatologia
Aula 1 – Casos clínicos
Profa.: Eliane de Augustinis
augustinispsi@hotmail.com
EMENTA
Leitura e discussão dos casos Dora e Homem dos Ratos, da obra de Freud. Estudos sobre a histeria: o recalcado e o sintoma. A livre associação. A resistência. A relação transferencial. Lucros primário e secundário do sintoma. A formação e o sentido dos sintomas. Histeria e sexualidade. O pensamento obsessivo. A compulsão a repetição.
 
OBJETIVOS
Identificar as principais características entre os dois tipos clínicos da neurose: histeria e neurose obsessiva. 
Capacitar o aluno para reconhecer as bases do tratamento psicanalítico das neuroses.
Unidade I-Breve Histórico sobre histeria
Objetivos
Evidenciar os impasses e importância da histeria na história da psicanálise.
Conteúdo
1.1- a histeria através dos tempos
1.2- a importância da histeria para psicanálise
Unidade II Histeria e sexualidade
Objetivos
Evidenciar a importância da passagem da teoria do trauma para a teoria da fantasia.
Conteúdo:
2.1 a teoria da sedução.
2.2 a teoria da fantasia.
2.3 a formação e sentido dos sintomas.
Unidade III - Um caso de histeria: o caso Dora
Objetivos
Ilustrar a clinica da histeria a partir de um caso clássico da psicanálise freudiana.
Considerações teóricas sobre o caso.
3.1 A associação livre
3.2 A relação transferencial
33 Lucros primário e secundário do sintoma
3.4 A formação e o sentido dos sintomas
3.5 Histeria e sexualidade
 
Unidade IV - Um caso de neurose obsessiva: “ O Homem dos Ratos”
Objetivos
Ilustrar a neurose obsessiva através de um caso paradigmático de Freud.
Considerações teóricas sobre o caso
2.1 A sexualidade infantil
2.2 O recalque
2.3 O pensamento obsessivo
2.4 A resistência
2.5 Obsessividade e compulsão a repetição.
FEVEREIRO
Dia
Conteúdo
 
16/02
Apresentação do plano de ensino do semestre. Introdução conteúdo da disciplina.
 
23/02
Unidade I Breve histórico sobre Histeria
A Histeria através dos tempos
A importância da histeria para a psicanálise
 
MARÇO
 
DIA
 
Conteúdo
 
1/03
Primeirosestudos psicanalíticos sobre a histeria.
Freud, S. “Estudos sobre a histeria” (1896)
Maurano, D. Ahisteria;ontem, hoje e sempre p.50-69
8/03
Unidade II Histeria e sexualidade: da teoria do trauma à teoria dafantasia
Ahisteria interroga o que é sermulher
POLLO, V. Mulheres histéricas – p.98-104.
 FREUD, S. “As fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade” (1908)
 14/03
SemanaSócio e Clínico Institucional
22/-3
Unidade II A Formação e o sentido dos sintomas
Lucrosprimário e secundário dosintoma: o caso Dora
FREUD, S. “A etiologia da histeria “(1896).
 
29/03
FilmeAugustineDireção AliceWinocour(França. 2012)
 
ABRIL
Dia
Conteúdo
 
5/04
UnidadeIII Um caso de Histeria: o caso Dora
FREUD, S. “Fragmentos de uma análise de um caso de histeria” (1905)
Considerações teóricas sobre o caso.
12/04
A1
19/04
Unidade IVNeurose Obsessiva
CARNEIRO RIBEIRO, Maria Anita. A Neurose Obsessiva. P.14-29.
FREUD, S. “Obsessões e fobias: seu mecanismo psíquico e sua etiologia” (1895).
26/04
Unidade IVNeurose obsessiva
CARNEIRO RIBEIRO, Maria Anita. A Neurose Obsessiva. P. 29-42.
FREUD, S. “A sexualidade na etiologia das neuroses” (1898).
 
MAIO
Dia
Conteúdo
3/05
FREUD, S. “Observações sobre um caso de neuroseobsessiva[“OHomem dos Ratos”] (1909)
10/05
Considerações Teóricas sobre o caso “O Homem dos Ratos”
17/05
O pensamento obsessivo e a compulsão à repetição
RÊGO BARROS, Romildo. Compulsões e Obsessões – p.25-56;68-78.
24/05
 
SEMINÁRIO
31/-5
Caso clínico:“ Uma obsessiva lacaniana”Em: Carneiro Ribeiro. M.A Um certo Tipo de Mulher p.89-94
JUNHO
Dia
Conteúdo
07/06
Estudo do diagnóstico diferencial com base em casos clínicos CarneiroRibeiro,M.AMarraioRevista de Psicanálise com crianças número?
 
Casoclínico: “Caso Maria” em:Pollo, V. O medo que temos do corpo p.84-91
14/06
A2
21/06
Revisão da matéria
28/06
A3
 Condições históricas para o surgimento da psicanálise 
Podemos considerar o pensamento moderno (séc. XVII / XVIII Iluminismo) como sendo caracterizado por sua ruptura com o pensamento medieval (séc.V até séc. XV). Valoriza o indivíduo, a consciência, a subjetividade, a experiência e a atividade crítica, em oposição às instituições, à hierarquia, ao sistema e à aceitação dos dogmas e verdades estabelecidas, que caracterizam a ordem social medieval.
Material retirado do artigo: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&rlz=1C1NDCM_pt-BRBR720BR721&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Contextualiza%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rico-social+da+psican%C3%A1lise.
13
Situando historicamente: Desenvolvimento da economia mercantilista, o descobrimento do Novo Mundo, as grandes navegações, a Reforma protestante, as novas teorias científicas no campo da física e da astronomia (Galileu e Copérnico), são fatos que ocorrem em torno dos sécs XV a XVII e marcam uma visão de mundo que se contrapõe à visão medieval, caracterizando, assim, o surgimento do mundo moderno
-Modernidade: Nova forma de pensamento e de visão de mundo inaugurada pelo Renascimento e que se contrapõe ao espírito medieval, desenvolvendo-se nos sécs. XVI e XVII com Francis Bacon, Galileu e Descartes, dentre outros, até o Iluminismo do séc.XVII, do qual é a principal expressão
Material retirado do artigo: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&rlz=1C1NDCM_pt-BRBR720BR721&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Contextualiza%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rico-social+da+psican%C3%A1lise.
René Descartes (1596-1650) XVI e XVII França A dúvida metódica: Se eu duvido de tudo o que me vem pelos sentidos, e se duvido até mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho consciência de duvidar, portanto de que existo enquanto tenho essa consciência. Sua filosofia parte da presença do pensamento e não da presença do mundo. Descartes afirma a universalidade da consciência.
	 O pensamento de René Descartes (1ª metade do séc. XVII 1596-1650) simbolizou a transição da época Renascentista para a Moderna. Desde a época de Platão a maioria dos pensadores sustentava que mente (ou alma, ou espírito) e corpo tinham naturezas diferentes. 
	Antes de Descartes se aceitava a idéia de que a mente estava para o corpo assim como um manipulador para sua marionete. Na Idade Média (séc.X, por exemplo, se acreditava que a mente não só era responsável pelo pensamento e pela razão, mas também pela reprodução, percepção e locomoção. O que Descartes mudou nesta idéia foi propor 1-que mente e corpo se influenciam mutuamente e 2-que a função da mente era a de pensar. 
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A doença mental no séc. XIX
Foi a visão cartesiana (séc XVII) de mundo que impôs a oposição entre razão e desrazão. Para Descartes não havia um pensamento louco, mas sim um homem louco. Portanto, o que distingue o homem do animal é a racionalidade. Loucos eram vistos como animais a serem domados.Foucault nos diz que a loucura é uma produção do séc. XVIII (Inglaterra-1798), através dos seus saberes, suas práticas e suas instituições.
Séc. XIX: psiquiatria visualizadora, morfológica, atomizadora e baseada no naturalismo positivista. A loucura era identificada com a desrazão.
Os neurologistas estavam agrupando os distúrbios neurológicos em síndromes e doenças. Os neuropatologistas estavam localizando lesões para explicar fenômenos clínicos e começavam a aplicar princípios semelhantes aos do comportamento
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Loucura ou simulação?
No séc.XIX a medicina tenta diferenciar a loucura da simulação. A principal busca dos médicos era por uma lesão anatômica que explicasse a doença.
Psicanálise: metapsicologia
A psicanálise se instituiu como saber fazendo crítica ao discurso médico, que desde o início do séc. XIX procurava ligar os sintomas das doenças às possíveis lesões existentes na estrutura anatômica do corpo. A medicina clínica se fundava no discurso da anatomia patológica. 
Foi escutando as histéricas e positivando seu discurso, que Freud situou os impasses produzidos pelo discurso anátomo-clínico. Nas histéricas a manifestação sintomática não se reduzia a materialidade de uma lesão anatômica. As histéricas eram vistas como mentirosas que inventavam doenças inexistentes. 
Razão e desrazão/ saber e verdade
Freud destacou a dimensão de verdade inserida nas estruturas psicopatológicas e rompeu, definitivamente, com a tradição psiquiátrica baseada no cartesianismo, na qual a loucura era identificada com a desrazão. A cena histérica trazia os fantasmas sexuais inconscientes. A categoria de inconsciente seria justamente a materialização do descentramento do sujeito moderno. 
Material retirado do artigo: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&rlz=1C1NDCM_pt-BRBR720BR721&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Contextualiza%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rico-social+da+psican%C3%A1lise.
Verdades do inconsciente
Na modernidade se instaura uma nova forma de pensamento inaugurada por René Descartes (1596-1650), que postulava o homem com sendo o centro detentor do saber, partindo do princípio de que para que o conhecimento fosse verdadeiro, esse deveria possuir uma fundamentação metafísica. Como se sabe, o cogito é a fundação da idéia moderna de uma autoconsciência do sujeito. A tradição que daí decorre terá homem como medida do conhecimento. O antropocentrismo será, portanto a marca do pensamento moderno.
As histéricas revelam o saber inconsciente
A problemática histérica com sua multiplicidade expressiva - crises de angústia, dores, vertigens, desmaios - que emerge no corpo deixa, ainda hoje, atônitos alguns médicos que buscam em vão uma explicação de cunho orgânico. Essa multiplicidade sintomática conduziu a Associação Americana de Psiquiatria a excluir a palavra histeria de sua nomenclatura. Em seu lugar, em 1980, o DSM-III incluiu a expressão desordem de personalidade múltipla que, em 1994, no DSM-IV, foi substituída por distúrbios dissociativos da identidade.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100006
Concepções da histeria
A psicanálise começa com os estudos sobre a histeria. 60 a.C Hipócrates descreve a natureza da mulher como manifestação da mobilidade do útero (hystera).
- Hystera – útero em grego. Nas palavras do filósofo grego Platão, o útero era um órgão oco e migratório no corpo feminino que busca um conteúdo capaz de preenchê-lo e apaziguá-lo.
-Hysterkos – condição exclusiva das mulheres por tratar-se do mau funcionamento do útero.
Para Hipócrates esta afecção sobrevém sobre as mulheres que não tem relações sexuais o que deixaria o útero leve. Platão dirá que o útero é como um ser vivo que possui o desejo de fazer crianças. 
Galeno no século II anatomista e médico dos imperadores romanos inova a teoria sobre a histeria. Abandona a ideia de deslocamento do útero e propõe a retenção da semente feminina. O estado histérico seria provocado pela ausência do escoamento da semente que ocorre durante o coito. 
Para a fogueira!
A partir do século III as manifestações do útero passam a ser atribuídas a intervenção divida ou possessão demoníaca. 
No Renascimento as bruxas fazem um pacto com o diabo e a inquisição terá no “malleus maleficarum” (“Martelo das feiticeiras”, de 1487) seu manual oficial das possessões demoníacas. 
- As histéricas eram julgadas e condenadas como feiticeiras ou possuídas por demônios, pois a inquisição via os ataques histéricos como um sinal da presença do diabo no útero das mulheres.
A grande simuladora
Thomas Sydenham (1624-1689), situava a teoria uterina no cérebro que possuía sintomas em número muito grandes, confusos e irregulares. Traria de uma doença enganadora pois a histeria imitaria quase todas as doenças que ocorrem no gênero humano.
Pinel, no século XVIII, alienista pioneiro, médico da Salpêtrière e que foi o primeiro a libertar os loucos das correntes para tratá-lo pela medicina, não levou em consideração a teoria da sede cerebral para a histeria e recomendava o casamento como tratamento. Distingue a histeria da ninfomania ou “furor uterino” mas classifica a histeria como neurose. 
Dr. Charcot
Charcot rompe com a tradição da visita médica ao leito dos doentes fazendo-os vir até seu gabinete para examiná-los ou os apresentava a uma audiência mais ampla nas terças-feiras no Hospício da Salpêtrière. Dessa forma constrói um novo sentido para a idéia de clínica, que etimologicamente significa consulta ao leito do paciente. As suas pesquisas com a hipnose desencadearam o interesse científico por essa prática, que durante muito tempo foi relegada ao limbo das apresentações circenses.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100006
 
 A influência de Charcot : Viva a histeria! 
Todos esses fenômenos tidos por demoníacos serão no final do século XIX interpretados (principalmente) por Charcot e a Escola de Salpêtrière como histéricos. 
Jean Martin Charcot– médico e neurologias francês teve seu nome atrelado a história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise. É o primeiro a fazer da histeria uma verdadeira entidade clínica respeitável. Interessado mais na descrição no que nas causas da histeria, charcot a divide em quatro fases do ataque de Grande Histeria. 
A grande histeria
Ao descrever a chamada Grande histeria, composta de quatro etapas completas, viabiliza que a histeria ocupe um lugar de interesse médico e científico, retirando-lhe a conotação preconceituosa que o rótulo de "doentes detestáveis" bem expressava. Denunciou, por outro lado, as práticas intervencionistas cirúrgicas, muito comuns nessa época, que extirpavam o órgão - útero e ovários - com a justificativa de cura da doença histérica. Quanto à acusação de que seria de algum modo responsável por essas práticas afirma:
Jamais aconselhei que os ovários fossem extirpados. Não sou tão simplista assim, e penso que se trata de algo muito mais complexo [...]. Essa posição não tem pé nem cabeça. Se fosse assim, seria preciso retirar um pedaço da pele das costas para suprimir as placas histerógenas (Charcot, 1887-1889/2003: 21).
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100006
Hipnose
Utilizando, para escândalo de seus colegas, o hipnotismo como diagnóstico diferencial da histeria explicava que era possível despertar nos órgãos psíquicos uma ideia ou um grupo de ideias associadas que, na ausência de qualquer controle e de qualquer crítica, deverão estabelecer um estado autônomo e adquirir uma enorme força e um poder de realização sem limites. A histeria é assim, vinculada à noção de ideias que podem ser despertadas. Charcot descreve e nomeia a histeria traumática, provocada a partir da auto-sugestão derivada e um evento traumático, como os acidentes de trem. 
Preconceitos
- Os preconceitos difundidos no meio científico da época apresentam-se através da suposição de que:
1- A doença histérica depende da irritação do útero;
2- nenhuma sintomatologia defendida poderia ser atribuída a histeria, já que nela pode ocorrer qualquer combinação de sintomas;
3-A mulher histérica era tratada como simuladora.
4-Estudando o hipnotismo, Charcot pôde descontruir o diagnóstico de simulação tanto nos casos de histeria feminino quanto na masculina.
O tratamento hipnótico não chegava às causas do sintoma
O método hipnótico de Charcot para eliminar os sintomas consistia em dar ao paciente, sob hipnose, uma sugestão que remova o distúrbio.
Esse
procedimento, porém, apenas elimina 
	o sintoma, mas não chegava a causa do 
	adoecimento. 
REPRESENTAÇÕES PSÍQUICAS
	Para Charcot a histeria era uma doença produzida pela ação de uma ideia ou uma representação psíquica intensamente carregada de afeto. Quando a ideia é forte, intensa e excessiva, ela tem o poder de se transpor para a realidade do corpo e aparecer como um sintoma somático. Por isso se uma ideia entra no psiquismo por hipnose ou auto-sugestão, pode assumir um alto valor afetivo e o corpo executa imediatamente o conteúdo da ideia.
A LINGUAGEM DO CORPO
Ex.: A ideia é “estou andando” esse movimento intensamente sentido passa para o corpo e a pessoa anda. O contrário também ocorre. Se a ideia (representação psíquica) for “não consigo andar” efetivamente ocorria um paralisia motora. 
- Para Charcot o sofrimento corporal histérico era a tradução na linguagem do corpo de uma ideia (uma representação psíquica), mas uma doença que escapa às mais penetrantes investigações anatômicas.
A HISTERIA COMO ENIGMA
Essa crença na eficácia da anatomia patológica foi compartilhada por Charcot abordagem inicial de Charcot ao problema da histeria foi feita de acordo com esse ponto de vista, isto é, de que há um correlato orgânico das manifestações histéricas. Posteriormente, ele modifica seu ponto de vista ao afirmar que a histeria é, “ como tantas outras esfinges” , uma doença que escapa às mais penetrantes investigações anatômicas (citado por Levin, 1980, p. 48 in Garcia-Rosa, Freud e o Inconsciente, p. 32).
se transpunha para a realidade do corpo 
doença produzida pela ação de uma ideia ou uma representação psíquica intensamente carregada de afeto. 
HISTERIA PARA CHARCOT
tinham suas próprias Leis 
ensinou como reconhecer os sintomas
A histeria não era uma simulação
Quando a ideia se torna muito excessiva
SINTOMA SOMÁTICO
Auto-sugestão hipnótica
Importância das pesquinas nosográficas de Charcot
1- a definição de zona histerógena: áreas supersensíveis do corpo nas quais um estímulo desencadeia um ataque, desmaios, paralisias, etc.
2- a classificação cuidadosa dos fenômenos histéricos, permitindo a identificação de uma lei subjacente a sua ocorrência, 
3- a dissolução do preconceito que ligava a histeria à feminilidade, 
4- a denúncia das práticas violentas como forma de tratamento,
5- o rompimento com a tradição da visita médica ao leito dos doentes fazendo-os vir até seu gabinete para examiná-los e o estabelecimento do uso do hipnotismo como instrumento de pesquisa, que são fatores indiscutíveis que influenciaram Freud a prosseguir em sua própria pesquisa.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100006
Freud e a causalidade psíquica na histeria
O interesse de Charcot não ser etiológico ou mesmo terapêutico, mas descritivo e nosológico, seu vasto trabalho de pesquisa viabilizou encontrar analogias surpreendentes entre os dois tipos de anestesia ou paralisia - histérico e neurológico -, introduzindo uma diferenciação entre a chamada "lesão anatômica" e a "lesão dinâmica“.
Não lhe interessa aprofundar o estudo psicológico das neuroses. Deseja transformar o enfoque clínico dos médicos, mas o que lhes entrega é um instantâneo fotográfico.
A “Outra cena do inconsciente”- O teatro da histeria
Assim se monta uma cena do teatro da histeria, na qual o paciente é chamado a repetir as crises num contexto preciso, para fins didáticos. A dramatização histérica se vê reduzida ao sintoma corporal, e a fala que ela produz não é levada em conta. O que se pede à paciente é que encarne um "conjunto" de sintomas que possam ser classificados e distinguidos de doenças aparentemente similares (mas, de fato, diferentes).
A histeria desafia as leis da anatomia
Assim, a pesquisa de Charcot concerne as alterações da fisiologia nervosa, as lesões da anatomia dos nervos, lesões sem inflamação nem febre. Ora, o histérico escapa a todas estas codificações, na medida em que as paralisias e anestesias histéricas desafiam as leis da anatomia. Questão que será muito mais de Freud que de Charcot. 
A ruptura de Freud com Charcot
Apesar de dedicar-se apenas a nosografia da histeria, Charcot, abriu o caminho para a elaboração freudiana da causalidade psíquica na histeria. Em 1893, Freud publica um estudo comparativo das paralisias orgânicas e histéricas em discordância as idéias defendida por Charcot, "Estudos sobre a histeria“. Este artigo constituiu num verdadeiro divisor de águas entre os escritos neurológicos e psicológicos de Freud. 
Estudos sobre a histeria
Os "Estudos sobre a histeria", que foram escritos e publicados no período entre 1893-1895 (2007), compõem-se de cinco casos clínicos, quatro escritos por Freud e um por Breuer. O último e mais longo de todos - o caso Elisabeth - é dividido por Freud em três etapas e concluído através de uma discussão sobre o mecanismo da conversão.
O SINTOMA HISTÉRICO
Freud ao iniciar seus estudos sobre a histeria encontra na fala de suas paciente questões relativas aos seus desejos inconscientes. O corpo para a histeria torna-se uma linguagem através da qual revela as verdades de seu inconsciente. 
A histeria e a anatomia do corpo
[...] a lesão nas paralisias histéricas deve ser completamente independente da anatomia do sistema nervoso, pois nas suas paralisias e em outras manifestações a histeria se comporta como se a anatomia não existisse [...]. A histeria ignora a distribuição dos nervos [...] toma os órgãos pelo sentido comum, popular, dos nomes que eles têm: a perna é a perna até sua inserção no quadril, o braço é o membro superior tal como aparece visível sob a roupa (Freud, 1893-1895/2007: 206).
A histeria de conversão
Freud colocou em destaque que o processo de recalque na histeria de conversão se conclui na formação do sintoma. Freud em “Estudos sobre a histeria” delimita o fator quantitativo presente no quadro conversivo. Para ele, há um grau máximo de tensão emotiva tolerado no organismo, quando esse limite é ultrapassado, ou “quando essa quantidade é aumentada pela somação, até um ponto além da tolerância do indivíduo, dar-se-ia o ímpeto da conversão” (Freud, 1893, p. 187).
Relação simbólica dos sintomas
Freud ressalta a relação simbólica entre os sintomas somáticos e as ideias ou representações que sofrem o recalque como, por exemplo, as terríveis dores de cabeça de Fräu Cäcilie associadas ao olhar penetrante da avó que, no dizer da paciente, iam direto para o seu cérebro. A palavra não dita, ou mal-dita, se fixa se inscrevendo no corpo como símbolo mnêmico. Como indica Freud, há "uma reanimação das sensações a que a expressão linguística deve sua justificação" e "a histeria restabeleceria para suas inervações mais intensas o sentido originário das palavras" (Freud, 1893-1895/2007: 193).
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100006
O que caracteriza um sintoma de conversão histérica?
A presença de uma ligação simbólica entre a representação recalcada e a parte do corpo adoecida. Nesses casos há, de fato, um significado psíquico inconsciente, sexual e originário.
Histeria de conversão
Freud passa a denominá-la de “histeria de conversão”: na histeria, a representação inconciliável torna-se inofensiva pelo fato de sua soma de excitações ser transposta para o corporal, processo para o qual Freud propõe o nome de conversão.
Os sintomas têm uma significação que é sexual, apresentam um valor simbólico, expressam a realização de um desejo.
Empuxo ao orgânico: solicitação somática
Freud denomina de solicitação somática a propensão de algumas pessoas a transformar a dor psíquica em dor física, indicando, ainda, que a presença de doenças físicas anteriores à conversão histérica favoreceria a localização do sintoma em uma determinada área do corpo (Freud, 1893). A doença física ajuda a escoar a excitação psíquica. Há uma influência mútua entre o somático e o psíquico.
“A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica
da visão” (Freud, 1910)
Freud enfatiza que sempre que um órgão do corpo serve a uma pulsão, ou seja, uma zona erógena toma relevância, há uma disposição para se adoecer dessa área corporal. A quantidade de excitação psíquica é selecionada e representada no corpo constituindo o núcleo do sintoma histérico. A neurose de angústia é o equivalente somático da histeria. 
As neuroses de angústia
Se apresentam em duas formas:
1- Ataques de angústia
2- Estado crônico
A descrição freudiana dessa modalidade neurótica é muito semelhante ao que a psiquiatria chama de transtorno de ansiedade e ansiedade generalizada.
O que causava a neurose de angústia?
Freud supunha que a neurose de angústia seria causada por técnicas de contracepção como o coitus interruptus. O medo de engravidar fria com que a libido sexual diminuísse e aumentasse a excitação sexual no psiquismo causando os sintomas de angústia. A excitação libidinal teria sido provocada, mas não satisfeita, o efeito é a angústia. 
Histeria de conversão
Na histeria de conversão, há uma eficácia em evitar a angústia exatamente pela conversão da libido numa parte do corpo simbolicamente delimitada. 
O narcisimo e a solicitação somática
Em 1914, em seu texto sobre o narcisismo, Freud dirá que a solicitação somática, ou seja, a pessoa afligida por uma dor orgânica e por sensações penosas suspende seu interesse pelas coisas do mundo, deixa de amar retirando seu interesse libidinal pelos objetos. 
Isso ocorreu com a paciente Fraulin Elisabeth que ao ter uma decepção amorosa passou a sofrer intensamente de dores nas pernas.
“Fenômenos de materialização histérica”(Ferenczi, 1919).
Ferenczi escreve que a conversão histérica no corpo consiste em realização de um desejo. Denomina de regressão tópica o fato de que diante de uma impossibilidade de representação psíquica a excitação excessiva precisa ser liberada pela descarga motora. O desejo se satisfaz pela via reflexa onde os mecanismos fisiológicos ficam à disposição do desejo inconsciente. Os sintomas histéricos se submetem inteiramente ao princípio do prazer onde o importante torna-se o prazer do órgão sem nenhuma importância e consideração pelas funções vitais desse órgão. 
Freud em Uma introdução ao narcisismo (1914)
Descreve o corpo como erógeno, todos os órgãos do corpo participam do campo das pulsões sexuais.
Tal afirmativa contribui para o que já havia dito nos Três ensaios da sexualidade (1905): “uma boa parte da sintomatologia das neuroses que deriva de perturbações dos processos sexuais se exterioriza em perturbações de outras funções não sexuais, do corpo”. 
A etiologia da neurose torna-se necessária para que o analista possa definir o tratamento em bases sólidas. 
A etiologia das neuroses é sempre sexual.
Mas porque a etiologia da neurose é sexual? 
A descoberta do inconsciente freudiano foi sua origem sexual. Ao analisar as histéricas, Freud entendeu que os sintomas neuróticos são atividades sexuais e infantis que substituem os desejos recalcados. 
A sexualidade das histéricas
Quando as histéricas relatavam suas fantasias em análise, indicavam que havia algo do infantil que ligava o paciente aos laços sexuais com seus pais, seus primeiros objetos de amor e modelo para amores futuros (Rudge, 2009). 
A sexualidade infantil
Em 1905 Freud ao escrever o caso Dora, define a sintomatologia dessa moça relativa à sua sexualidade infantil, como descreveu no seu texto Três ensaios da sexualidade no qual diz que o sintoma é algo que se repete como protótipos infantis, porque é na infância que se define a sexualidade. O sintoma tem sempre um sentido inconsciente e está sustentado por uma fantasia infantil. Dessa forma, a etiologia sexual da neurose remonta à lembrança de uma cena sexual vivenciada na infância. 
Qual a relação entre a etiologia da neurose e o diagnóstico diferencial?
Numa abordagem estrutural o que principalmente consideramos na estrutura clínica da neurose é a organização da fantasia em torno desse complexo familiar, o Complexo de Édipo na qual o desamparo perfila o modelo da sexualidade infantil (FREUD, 1916-1917, Conferências introdutórias sobre psicanálise: p. 338).
A definição da estrutura clínica é necessária para o início do tratamento analítico?
Sim. Para dar início ao tratamento, o analista precisa formular uma hipótese diagnóstica que serve de orientação para a condução da análise, a respeito daquele paciente específico com a finalidade de encontrar a direção do tratamento e não ficar a deriva. 
O que é importante na definição da estrutura neurótica?
É a partir da fantasia que o sujeito se liga às figuras parentais ao complexo de Édipo, complexo nuclear da neurose na medida em que permite a organização narrativa da história do sujeito em análise sob a qual se depositam complexos simbólicos e uma nova relação de desejo com seus sintomas (Lacan, Complexos familiares, 1953). 
Lacan em Função e campo da fala e da linguagem
A fala da histeria possui uma ambigüidade na revelação do passado. Não é mentirosa, mas rememoração de uma história sobre o desejo inconsciente. O inconsciente pulsa entre as palavras, o inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. Mas a verdade pode ser resgatada:
Nos monumentos, e esse é meu corpo, núcleo histérico da neurose em que o sintoma histérico mostra a estrutura de uma linguagem e se decifra como uma inscrição.
Nas lembranças da infância.
Nas lendas, nas tradições que o sujeito conta sobre sua história.
Nos vestígios do inconsciente que a recapitulação da história permite restabelecer
O que são os sintomas para a psicanálise?
Freud em “A Interpretação dos sonhos” (1900-1901), será categórico em afirmar que o sintoma no sentido analítico é algo que pode ser analisável. Pois os sintoma possuem um valor simbólico. A possibilidade de interpretação advém do sintoma como portador de uma mensagem velada que podem ser decifrados, na medida em que possuem um sentido, da mesma forma que os atos falhos e os sonhos. O sintoma revela não a verdade da doença, mas a verdade do sujeito do inconsciente, pois busca apreender no sintoma o desejo inconsciente indestrutível.
O neurótico possui um prazer no desprazer do sintoma
Os sintomas são, portanto, derivados do conteúdo recalcado, manifestações do inconsciente que revelam a verdade encoberta pelo recalque. O recalque é uma repressão tão forte da sexualidade que cria obstáculos para que o sujeito a exerça livremente. Sendo assim, os neuróticos, histéricos ou neuróticos obsessivos, os dois tipos clínicos da estrutura da neurose, sofrem de sintomas que são substitutos da fonte original do prazer. O prazer passa a ser vivido pelo neurótico como um desprazer do qual resiste em se livrar, onde o trauma está na base real do sintoma.
Trauma = castração
Há condições estruturais que proporcionam o trauma, e castração é o nome que o trauma toma na obra freudiana. A sexualidade é sempre traumática, pois a percepção da diferença sexual é traumática. O encontro do sujeito com o sexo é sempre traumático, e na neurose obsessiva é acompanhado por um excesso de gozo que acarreta culpa e auto-recriminações. Na histeria é acompanhado por um “gozo a menos” que mantém seu desejo na insatisfação. 
Porque a sexualidade é sempre traumática para a psicanálise?
Por que criança nasce sem recursos para sobreviver, dependente do adulto que cuida dela. A importância assumida pelo adulto, por serem seus cuidados indispensáveis para que a criança não morra, é o solo sobre o qual se instaura a vivência do desamparo e da angústia a cada vez que a mãe se afasta. Tudo o que desagrada à mãe e poderia constituir uma ameaça de perda de seu amor também passa a ser motivo de angústia.
A constituição do sujeito na relação do desejo e da falta
 O sujeito é constituído pelo desejo do Outro, desejo este desconhecido, e que marca a falta de um significante que possa definir o sujeito para ele mesmo pela
linguagem. Alienando-se ao desejo do Outro passa a desejar o desejo do Outro (ALBERTI, 1999: p. 54).
A criança procura então, satisfazer o Outro, suprir a falta oferecendo-se como objeto de completude imaginária (LACAN, 1962, Seminário 10: p.32-33). 
O que deixa o sujeito preso ao adoecimento neurótico?
Cada sujeito tem uma forma de negar a falta. Essa negação é uma representação intolerável da castração materna. Como na neurose a negação surge como recalque, que é o mecanismo básico para lidar com a castração, é necessário que haja uma perda, uma separação desse excesso de gozo pulsional do Outro materno para que o sujeito possa desejar. Na neurose é necessário que ocorra a operação da separação da relação dual com a mãe e ocorra o reconhecimento da castração materna, pois só se deseja aquilo que falta. 
A estrutura da neurose se caracteriza pela necessidade de que o Desejo da Mãe seja barrado pelo Nome-do-Pai. A criança precisará se confrontar, com o pai como pivô do drama edipiano ao ser o elemento separador da relação dual de gozo entre a criança e mãe.
A mãe crocodilo
No seminário 17 Lacan apresenta a dimensão de gozo na qual a metáfora paterna deve atuar. O Real e a o gozo são revistos através do mito do pai da horda primitiva e a apresentação da metáfora da “Mãe-crocodilo” sempre preste a fechar a boca sobre o filho. É o pai que une o desejo e a Lei, que permite ao sujeito escapar dos caprichos maternos (QUINET, 2015: p. 35)
Ao trabalhar a rememoração das histéricas, Freud evidenciou que o desejo das histéricas era o de substituir o desejo do pai pela demanda de amor, que recobre a relação com o Outro, traumática e infantil, evidenciada pela angústia de separação. Isto porque o neurótico não quer saber de seus crimes, de sua sexualidade ou de seus excessos para deles não se responsabilizar (QUINET, 2015: p.49).
Porque o neurótico sempre demanda amor?
É por isso que o neurótico almeja “poder contar com o Outro”, e quando o Outro falha o neurótico reivindica, exige que a esse Outro nada falte. Então, há um saber não sabido no inconsciente e do qual o neurótico nada quer saber. Esse saber é relativo à castração do Outro e o neurótico falha em sua separação do Outro e permanece no gozo infantil. Portanto, o neurótico coloca sua demanda de amor em primeiro lugar na relação com o Outro e transforma esse Outro num solar de amor desejando ser amado exatamente para que o desejo do Outro não surja. 
O neurótico demanda amor pedindo satisfação do seu desejo. Ou seja, lá onde poderia surgir o desejo do Outro, o neurótico coloca sua demanda de amor, desejando a demanda do Outro. O que o neurótico desconhece é que sem o desejo, o amor não vale nada porque é narcísico simplesmente. 
Qual a estratégia da histeria para negar a falta?
É a de denunciar a falta como se só ele soubesse da falta, estratégia feminina porque ela está mais próxima da falta. Ela demanda ao Outro para manter-se insatisfeita. 
O Outro da histeria é a Outra mulher fascinante que é sempre uma interrogação na pesquisa dos histéricos. Na Outra a histérica investiga o enigma da sua própria sexualidade. A histérica cria o mestre, agrada, para depois destituí-lo e mostrar que ela reina sobre o mestre.
Qual a estratégia da neurose obsessiva para negar a falta?
A estratégia da Neurose Obsessiva é masculina, ao negar a falta. O neurótico obsessivo é o mais leal e o mais traidor, o mais gentil e o mais grosso, se sente culpado de todas as maneiras. Aí está o conceito de ambivalência em Freud. Outro elemento estrutural da Neurose Obsessiva é que sempre há o “capitão cruel”, um Outro imperioso que o domina e do qual torna-se escravo. É generoso, atende as demandas do Outro, pois para não se ver às voltas com o seu desejo prefere dar de modo a tamponar sua relação com o desejo. 
A denegação do neurótico obsessivo
O obsessivo ao quer anular o desejo do Outro, tenta tamponar o seu próprio desejo mantendo-o na impossibilidade como na fórmula de denegação. 
Freud dá um exemplo de denegação em um homem que após narrar um sonho erótico acrescenta sobre a mulher do sonho “Não era minha mãe”. Freud explica que o uso da negação permite que o sujeito diga a frase proibida: “Era minha mãe”. 
O que permite o neurótico de avançar para o seu desejo?
Lacan além de nos explicar sobre a expressão ‘estrutura clínica’, avança no estudo da fantasia como resposta ao desejo do Outro com o ‘Che vuoi?’, Que queres? O sujeito interroga-se sobre o que o Outro deseja e constrói uma resposta à pergunta “o que o Outro quer de mim?”. 
As diferentes modulações da pergunta feita na histeria e na neurose obsessiva.
Na histeria essa pergunta é sobre o sexo “sou homem ou uma mulher no desejo do Outro?” Já na Neurose Obsessiva a pergunta sobre o sexo é camuflada. É escondida por uma pergunta mais radical “Estou vivo ou estou morto?” Isso é para não perguntar sobre o sexo e manter o desejo impossível.
Só assim, é possível se separar dos significantes do Outro para constituir o próprio desejo. É a construção de uma resposta a essa questão que a fantasia proporciona em suas tramas de linguagem que visa responder ao desejo do Outro. 
Qual é a função da direção do tratamento? 
Conduzir o sujeito para o desejo. O neurótico deverá perder sua ilusão de completude o que consistirá no trabalho de separação do gozo do Outro e na conquista e sua relação com o seu desejo.
Pensa-se na singularidade do sujeito, pois há a história do sujeito e o diagnóstico deve trabalhar para responsabilizá-lo por aquilo que é dele, ou seja por suas escolhas pautadas no desejo. 
Porque é tão difícil para o neurótico abanonar seu sintoma?
Mas o que Freud nos diz é que separar-se do lugar de objeto do desejo do Outro é a tarefa mais difícil, o processo mais doloroso encontrado por Freud no curso do desenvolvimento (LACAN, Seminário 7, p. 342, citado por Maurano, 2001, p. 50). 
Isto porque o desamparo que ligou o sujeito ao Outro desde o nascimento leva à necessária alienação ao Outro, mas traz como exigência de ter que lidar com a dimensão mortífera da vida. Portanto, é preciso que ocorra uma segunda operação, a de separação dos significantes do Outro que envolve a queda do sujeito do lugar que ocupou como objeto de gozo materno. O gozo materno é excessivo, pois apresenta um Outro sem faltas (SIRELLI, 2010: p. 10). 
A aposta da psicanálise
A psicanálise, portanto, aposta no sujeito do desejo e na possibilidade de mudar seu destino. É através do desejo de saber que a análise deve ser conduzida e atravessada pelo sujeito neurótico ao poder responsabilizar-se por suas escolhas.
 
O sintoma histérico e o masoquismo
A solicitação somática relacionada a fonte das pulsões sexuais introduz o conceito de pulsão de morte em dois textos importantes “Mais além do princípio do prazer” (1920) e “O problema econômico do masoquismo” (1924). Após estabelecer a diferença entre o Princípio do Nirvana articulado à pulsão de morte e ao princípio do prazer. 
Freud distingue três tipos de masoquismo
Masoquismo erógeno;
Masoquismo feminino;
Masoquismo moral.
	
O masoquismo erógeno está no fundamento dos outros dois.
A pulsão de morte e o sintoma conversivo
Com o conceito de pulsão de morte Freud considera que o sintoma conversivo da histeria possui a presença de um prazer no sofrimento. Um prazer no desprazer devido à existência de uma fonte erógena primária da sexualidade infantil, base do masoquismo. Lacan chamará esse prazer no desprazer de gozo.
A libido sexual tem uma função: uma parte da pulsão de morte torna-se inócua uma sendo desviada para o mundo externo, através do aparelho muscular, e colocando-a diretamente a serviço da função sexual. Esse é o sadismo propriamente dito. 
A pulsão de morte
A outra parte fica dentro do organismo contribuindo para o narcisismo originário. Depois que uma parte da pulsão de morte foi projetada para fora do organismo, sobre os objetos, permanece um resíduo do masoquismo erógeno, que tem um aspecto ser
direcionado para o corpo do sujeito.
A pulsão de morte e a pulsão de vida
A pulsão de morte deve estar em fusão com a pulsão de vida em proporções variáveis em cada caso. Mas em função de uma série de fatores, as duas pulsões podem produzir uma desfusão de modo a expressar diversas formas de sintomas. 
 
Uma cena traumatizante e o caso de Charcot: Augustine
O que o histérico diz torna-se objeto de verificação. O discurso é equiparado à confissão e assim se perde a dimensão metafórica de uma verdade que se confessa através da mentira. O mesmo acontece cada vez que a atitude de desafio do médico (à procura de uma verdade objetiva) torna impossível a escuta e a leitura instauradas mais tarde por Freud, demonstrando que o sintoma reenvia a uma dimensão fantasmática na qual tomam lugar lembrança encobridora, deslocamento, condensação sobredeterminação, símbolo , representação de desejo, fantasia.
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
S. Freud, "Os fantasmas histéricos e sua relação com a bissexualidade" (1908). Os sintomas histéricos não são nada mais do que os fantasmas inconscientes que, por "conversão", encontraram uma forma figurada e, na medida que são sintomas somáticos, muito freqüentemente são emprestados do domínio das mesmas sensações sexuais e das mesmas inervações motoras que, na origem, acompanharam o fantasma quando este ainda era consciente.
Hipótese freudiana sobre a cena traumatizante.
Freud desenvolverá duas hipóteses que podem ser ilustradas pela história de Augustine.
1- De uma parte, a hipótese da existência de traços ligados à cena traumatizante. De onde parte sua interrogação sobre o destino do recalque e conduz, seja aos mecanismos de conversão, seja a um deslocamento das representações. 
2- De outra parte, a hipótese segundo a qual é apenas a posteriori que uma lembrança recalcada se transforma em traumatismo (processo que ele chamará de retorno do recalcado).
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
AUGUSTINE 
Trata-se de uma jovem que se pode ver fotografada, com os cuidados de Charcot, tanto em camisola de internada como em uniforme de auxiliar de enfermagem. 
é certo que lhe pedem a horas fixas, que se contorça e que alucine durante as sessões de hipnose e as aulas no anfiteatro. Pedem-lhe que encene "sua cena" de violação. Com treze anos e meio, Augustine foi violentada por seu patrão, amante de sua mãe. Os primeiros "ataques" irromperam alguns dias após o incidente, quando, deitada em seu quarto, ela viu com terror os olhos verdes de um gato que a olhava. As contorções de Augustine, ao sabor dessas recordações, são pontuadas: "porco! porco!. .. contarei a papai... porco! como é pesado ... você me machuca ... C. me disse que me mataria ... O que ele me mostrava, eu não sabia o que significava ... Abriu-me as pernas ... Não sabia que era um animal que me morderia ". 
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
A sexualidade na histeria
Na sua repetição do estupro Augustine representa portanto o duplo papel de vítima e de agressor, dirigindo-se por momentos a um dos assistentes: "beije-me ... Me dá ... Toma, olha meu ... ". 
O ataque histérico convulsivo se revela, como dirá Freud posteriormente, como um equivalente a relação sexual.
O estado de Augustine acaba por se agravar. Ela se torna prisioneira de seu cenário e se esgota na violência a que se submete. Em seu corpo, ela oferece ao médico o que deseja saber.
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
Um dia, com o consentimento de Augustine e para fins de Público Charcot produz "dores pela imaginação" sugeridas por hipnose. Ele provoca uma contratura da língua e laringe. Cessa a contratura da língua, mas não a da laringe, de forma que Augustine, afônica, se queixa de câimbras no pescoço. Nos dias seguintes utiliza-se eletricidade, hipnose, éter, nada resolve. O jogo teatral se interioriza e as crises se fazem mais freqüentes, até o dia em que Augustine reconhece seu violador na assistência. Resultado: cento e cinqüenta e quatro ataques em um único dia. Esgotada, Augustine recupera a fala e lança estas palavras ao médico: "Você me disse que me curaria, me disse que faria de mim outra pessoa. Você queria que eu fracassasse." Dirá ainda, mais tarde: "Você faz de mim o que bem entende ... Não adianta dizer sim, eu digo não." 
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
Quando, em dado momento, Augustine não consegue continuar alternando sua "função" de interna e de auxiliar de enfermagem, ela "se abandona" e ocorre a recaída, junto com a violência. Presa na cela, ninguém espera mais nada dela. Desaparece bruscamente o interesse dos médicos por ela. É então que, num último sobressalto, ela consegue escapar à morte (simbólica) que a espera. Rasgando sua camisa de força, foge da Salpêtriere sob o disfarce de homem. Seguramente haviam exigido demais dela e, durante todos aqueles anos, Augustine não encontrou nada além do desejo médico de saber sempre maizs. Parece na que as "curas" de uma série de histéricos, na época de Charcot, se devem a um excesso da demanda do médico, que acaba por levar a uma recusa do paciente em encarnar por mais tempo o papel de ator e mártir de seus sintomas. 
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
Amor de transferência
Em suas Observações sobre o amor de transferência, Freud dá a entender que um amor não confessado pelo médico, não somente é desfavorável à cura, mas também compromete a continuação do tratamento.
Nessas condições a situação analítica só muito dificilmente será mantida. Nos tempos de Charcot não se fala de transferência, mas a sedução médico-paciente, longe de estar ausente do teatro da histeria, situa-se nos seus próprios alicerces.
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
Com certeza, Charcot não está longe de captar a relação entre o sintoma histérico e os eventos passados. Mas, absorvido pela observação científica, não se interessa em nada pela vida infantil do sujeito, assim como oculta a parte desempenhada pelo médico no espetáculo encenado (a intimação dos fenômenos suscitados, e até a encenação de histerias coletivas). A seus olhos, a observação anatômica prevalece sobre qualquer consideração pela sexualidade do sujeito
Referência: Mannoni, Maud, 1923.Um saber que não se sabe : a experiência analítica Maud Mannoni - Campinas, SP : Papirus, 1989
FREUD E BERNHEIM
Quando, na Páscoa de 1886, Freud se instala como médico em Viena, seu arsenal terapêutico se reduz à eletroterapia e à hipnose. Logo deixa de lado o aparelho elétrico, percebendo que o sucesso do tratamento elétrico se deve apenas à sugestão. Na procura de um tratamento neurológico, ainda não pensa contudo em privilegiar o aspecto psicológico dos casos que trata. Quanto à hipnose, ela lhe parece eficaz, mesmo que Charcot não se tenha interessado pela terapêutica. É então que Freud tem notícias de uma escola em Nancy que usa a sugestão, hipnótica ou não, com fins terapêuticos. Durante o verão de 1889, ele decide aperfeiçoar sua formação na técnica hipnótica e vai para Nancy onde observa o trabalho junto a mulheres e crianças do povo, e segue as experiências de Bernheim com histéricos de seu hospital. Junto a este último, ele descobre a importância de se levar em conta a relação médico-paciente nas manifestações histéricas.
Freud e Breuer
Mas a virada decisiva para Freud vai se produzir com Breuer, na medida em que este último o interessa principalmente porque utiliza a hipnose a
serviço dos efeitos catárticos num tratamento. 
Em junho de 1882, três anos antes do encontro de Freud com Charcot, Breuer consultou Freud a respeito de uma paciente: Bertha Pappenheim (a Anna O. dos Estudos sobre a Histeria). A descrição do caso o impressiona. Anna 0., jovem lúcida e inteligente, cuida com devoção de um pai muito doente (abcesso pulmonar). Um dia ela pára de se alimentar, a tal ponto que lhe proíbem de continuar cuidando de seu pai. Aparecem acessos de tosse (tosse que lembra a doença do pai). Em seguida, surgem outros sintomas de conversão: estrabismo, paralisia do pescoço, cefaléias, mutismo histérico e esquecimento da língua materna. Surgem, enfim, alucinações com visões de serpentes. A jovem se torna violenta, rasga suas vestes etc.
O pai morre a 5 de abril de 1881. Aparecem sintomas visuais, tais como uma recrudescência de sintomas anoréxicos. Breuer vê a paciente várias horas por dia, e ele próprio a alimenta, ao ponto de Anna O. não querer comer senão com ele. Breuer utiliza hipnose com a intenção de fazer a paciente falar. Ela descreve seus fantasmas e, em seguida, o início de seus sintomas, dos quais fica imediatamente livre. A mulher de Breuer passa a sentir ciúmes desta paciente que, devido a seus sintomas, ocupa um lugar privilegiado junto a seu marido. Este elemento transferencial (percebido pela Sra. Breuer, mas oculto por seu marido) apavora Breuer a ponto de fazê-lo decidir-se a partir imediatamente em viagem com sua esposa. Anna volta a chamá-lo em plena noite: ela tem cólicas abdominais e o faz assistir a uma espécie de parto histérico, enquanto deixa escapar as palavras: "Está chegando o filho que tenho com o Dr. Breuer" 21 • Breuer, transtornado, foge para Veneza onde uma pequena Breuer será concebida.
Após a interrupção do tratamento, Breuer declara a Anna O. que está curada. A continuação da história nos informa que, embora Anna O. não esteja verdadeiramente "curada" (será ainda hospitalizada em 1883), ela transformará uma neurose paralizante em uma energia utilizável, fundando na Alemanha os primeiros movimentos de assistência social. 
Freud logo se interessa por esta fuga de Breuer que, ainda mal recuperado de suas emoções por ocasião do projeto de publicação dos Estudos sobre a Histeria, deseja que a questão do "amor de transferência" seja revelada ao mundo! É evidente que Breuer apavorou-se ao descobrir o desejo sexual de Anna O. por ele, porque através deste desejo chegou-lhe a revelação (rejeitada) de seu próprio desejo por ela. Só bem mais tarde22 (em 1932) Freud compreenderá a que ponto a transferência e a resistência (no caso a de Breuer) foram os propulsores do tratamento de Anna O. Trinta anos depois escreve: Breuer teve nas mãos a chave que nos abriria 'a porta das mães', mas ele a deixou cair.

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