Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Toxoplasmose: O Toxoplasma gondii é o agente etiológico da toxoplasmose. Só tem uma espécie que causa essa doença, mas existem variações de cepas. As cepas são isoladas geograficamente, de modo que o toxoplasma do Rio Grande do Sul tem certos genes mais ativos, tropismo por tecidos diferenciados, certos mecanismos de virulência, diferente do toxoplasma de Minas Gerais. O genoma é praticamente igual, por isso eles são da mesma espécie espécie, mas apresentam variação da expressão dos genes que codificam os mecanismos de virulência, tornando a relação com o hospedeiro também diferente. A toxoplasmose é classificada como uma doença oportunista, uma vez que a maioria das pessoas que entra em contato com o parasita, não apresenta tantos sintomas, podendo ter somente uma indisposição, febre, linfadenopatia, que geralmente não são percebidos. Assim, para ter essa doença, depende se o infectado está/é imunossuprimido (lembrando que depressão também pode causar imunossupressão!). O filo Apicomplexa envolve várias famílias, algumas causam doenças em animais. O Toxoplasma e o Plasmodium estão dentro da classe Sporozoa, porque fazem esporulação. Além disso, eles são “total flex”, fazendo reprodução assexuada (não é divisão binária) e reprodução sexuada, dependendo do hospedeiro e repertório molecular. Assim, eles se adaptaram de maneira a trocar gametas ou fazer resistência assexuada de resistência. ★ Por que o Plasmodium e o Toxoplasma estão englobados na mesma classe e no mesmo filo? → Alternam ciclo sexuado e assexuado, essas duas espécies em hospedeiros diferentes, mas outras fazem em um mesmo hospedeiro. → São intracelulares obrigatórios. → Gliding: consiste no movimento potente de actina e miosina do complexo intermembranar, que utiliza o ATP como fonte de energia (como se fosse um “motor” entre as membranas”. Muitos não têm flagelo, se movendo feito uma escada rolante em torno da membrana. → Maioria são oportunistas, exceto alguns Plasmodium. → Apresentam célula polarizada, com complexo apical. O toxoplasma tem um anel de citoesqueleto formando um conóide (estrutura de parafuso) sustentado por 3 anéis polares, que extrude a partir de um sinal de cálcio no parasito, sendo capaz de furar a membrana da célula hospedeira sem que essa célula estoure. O Plasmodium, por sua vez, somente tem as organelas secretórias específicas do complexo apical (roptrias, micronemas e grânulos densos), as quais também estão presentes no Toxoplasma. Resumindo, os dois têm o complexo apical, mas só o Toxoplasma tem conóide. O mais importante é decorar que para ser do filo Apicomplexa tem que ter esse complexo apical com organelas para secreção e invasão. Ciclo geral de um apicomplexo: Na reprodução sexuada, ocorre geração de gametas (masculino e feminino) para depois ocorrer a fecundação e gerar zigotos. Nos apicomplexos, esses zigotos esporulam. A esporogonia é como se fosse uma meiose, gerando zigotos com a haploidia correta, que conseguem reiniciar o ciclo. Esse é um momento chave porque é quando se formam os esporozoítos, de maneira geral são 2n. Isso é importante porque eles vão ter o complexo apical que permite a invasão (sem complexo apical maduro, não há invasão). É na esporogonia, portanto, que se garante a formação do esporozoíta com o genoma correto, o qual tem o complexo apical, sendo infectante. Toxoplasmose: Toxoplasma gondii é o agente etiológico dessa doença, que recebe esse nome por ser um parasita em forma de arco. Na micrografia eletrônica de varredura, vemos um “buraco com gomos de tangerina no centro”, onde cada gominho é um parasita na fase aguda e esse buraco é o chamado de vacúolo parasitóforo, um ambiente dentro da célula hospedeira no qual o protozoário consegue se reproduzir. Existem redes de proteínas fibrosas emaranhadas, formando redes de comunicação para troca de nutrientes e estruturação física dos vacúolos. Essas proteínas são provenientes das organelas secretórias do complexo apical. Eles secretam complexos de proteínas na ordem do que eles precisam quando vão invadir, é um mecanismo muito sofisticado. É vantajoso para um parasito conviver com o hospedeiro por anos e não mata-lo rapidamente. O toxoplasma é bem adaptado nesse sentido dos mecanismos de invasão e sobrevivência, podendo viver mais de 40 anos num hospedeiro. Ser um parasita bem sucedido significa conseguir metabólito de uma espécie que não é igual a sua para aporte de replicação a vida inteira, manter a espécie hospedeira e, ao mesmo tempo, evadir da resposta imune. O toxoplasma é, portanto, “the perfect parasite”. Foi a primeira doença a ser estudada post-mortem, quando se pega um pedaço do tecido para investigação, porque tinham muitas crianças morrendo com encefalite e foi observado presença do parasita no cérebro. Foi descrito em 1908 e em 1923, teve um caso de corioretinite (infecção na retina), que demonstrou que o parasita atravessa a barreira hematoencefálica. Em 1929, foi descrita a forma congênita (conseguiu ver o parasita no feto), demonstrando a capacidade de atravessar a barreira placentária. Como o parasita consegue atravessar essas barreiras? Através do complexo apical. Em 1960, através da distribuição de testes sorológicos, começaram a observar que esse parasita é eurixeno (ampla distribuição geográfica e ampla distribuição em diversos hospedeiros), sendo que os felinos são os hospedeiros definitivos (onde faz reprodução sexuada). Na verdade, os filhotes de gatos são importantes para disseminação da doença, porque o oocisto (zigoto) produzido pela reprodução sexuada e que vai esporular, sai nas fezes desses gatos e gera aerossol. Quando os gatos brincam com a terra eles levantam esses aerossóis, que podem ser engolidos. Além disso, eles também circulam com suas patas dentro de casa, espalhando os oocistos pelos móveis e objetos. Os filhotes têm maior potencial de produzir oocistos. Precisam ser vacinados, tratados e a areia dos gatos tem que ser limpa. Há várias maneiras de adquirir toxoplasmose, não só pelo cocô do gato, mas também por carnivorismo (proteínas animais mal cozidas, como churrasco, patê de fígado,comida japonesa), e também pelo consumo de vegetais, legumes contaminados com fezes de gatos. Tem cepas que o oocisto resiste à lavagem com hipoclorito. O que impede que a gente adquira é a nossa imunidade, que pode também cair a qualquer momento. Provavelmente, todos aqui já entraram em contato com o Toxoplasma, então tem uma sorologia positiva IgG, que representa anticorpos de memória. Às vezes esses anticorpos podem não ser suficientes, depende da cepa. A toxoplasmose, na maioria dos humanos, é assintomática, o que é mais vantajoso para o parasita. Em muitos casos, é uma doença autolimitada, a maioria das pessoas nem tem a formação de cistos, conseguem curar a doença e, assim, ganham imunidade natural. A infecção é cosmopolita, não é só de país pobre. Segundo o CDC, é a segunda causa de morte por ingestão alimentar nos EUA. Atinge fetos e crianças, provocando aborto, cegueira e retardo mental. É uma infecção oportunista, tem que se tomar mais cuidado com paciente imunocomprometidos. Além de humanos, também atinge gado, caprinos e ovinos. Assim, é uma zoonose, passando pelo homem através de carnivorismo ou pelo produto da esporulação dos oocistos do hospedeiro definitivo (gato). Formas Infectantes: As formas infectantes possuem o complexo apical. São elas: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos, as quais são capazes de infectar qualquer célula nucleada de animal de sangue quente. → Taquizoítos: é a forma aguda, pois replica rápido. → Bradizoítos: replicação lenta. → Esporozoítas: são o produto da esporulação. Ele se transforma em todas essas fases, de acordo com a resposta do hospedeiro e a condição do ambiente. O toxoplasma adaptou-se a duas formas de resistência, talvez por isso ele seja tão amplamente distribuído: → Oocisto: fica no ambiente, é o produto da reprodução sexuada. Ele apresenta parede, então consegue ficar bastante tempo no ambiente (pode ficar nas verduras, frutas). → Cistos teciduais: é uma forma de resistência dentro do hospedeiro, ficam no músculo e no SNC. Esses cistos contêm bradizoítos. Quando ingerimos carne mal cozida, estamos ingerindo cistos com bradizoítos. Acima, há dois oocistos. A seta vermelha indica um oocisto com dois pacotinhos. Dentro dele, há um kit de 4 esporozoítos em cada pacotinho, os quais possuem complexo apical, logo, é um oocisto maduro (já esporulou). Apresenta parede mais espessa também. Quando for ingerido, essa casca vai ser sensibilizada e os esporozoítas, que já possuem o movimento de gliding, vão entrar nos enterócitos e começar a biogênese do vacúolo, se diferenciando em taquizoítas. A seta azul indica um oocisto imaturo (não esporulou), logo, ele não causa toxoplasmose, pois não possui complexo apical (não é infectante). É somente uma massa germinativa. Como o oocisto se torna maduro? Depende da tensão de oxigênio, temperatura e disposição de umidade. Por isso, se não limpar as fezes do gato, isso promove a maturação dos oocistos. Qual a reprodução mais vantajosa? Depende. Para variabilidade genética, é a sexuada, por conta da troca de gametas. Os roedores (rato) quando estão infectados há muito tempo com toxoplasma eles perdem o medo do gato, porque o parasita vai para o SNC, reduzindo hormônios de fuga. Além disso, ele fica mais lerdo, tem a movimentação dificultada, ficando muito mais suscetível. Isso provavelmente foi selecionada porque o parasito se reproduz assexuadamente no roedor, mas só vai ter a chance de fazer reprodução sexuada no epitélio intestinal felino, por isso, é preciso favorecer que o felino consiga ingerir o roedor. Também já tem trabalhos relacionando infecção de toxoplasma e Alzheimer. Ciclo de Vida: Vamos começar o ciclo pelo gato: nele, teve produto de fecundação dos gametas feminino e masculino, gerando um oocisto (esporocisto). No ambiente, esse oocisto maturou, gerando dois esporocistos contendo 4 esporozoítas cada. Só matura no AMBIENTE, não no gato. O roedor e o passarinho podem ingerir água ou verduras contendo esporozoítos, os quais têm complexo apical. Então esse animais vão ser infectados, e os esporozoítas vão fazer toda a transformação dentro das células do epitélio intestinal desses hospedeiros, virando taquizoítos (replicação rápida), lisando as células. Quando ele vira taquizoíto, ele começa a ganhar o sistema retículo endotelial, então o sistema imune reconhece um repertório molecular que não é nosso e combate. Moléculas do sistema imune alteram a transcrição gênica desses parasitas, de modo a induzir a transformação em bradizoítos (replicação mais lenta, além de secretarem uma parede para resistir ainda dentro das células hospedeiras, que é o cisto). Ainda não está descrito se o vacúolo vira um cisto, ou cada taquizoíto vira um bradizoíto e começa a formar um cisto. Os bradizoítos, então, encistam e migram para o músculo e SNC (locais mais difíceis de ter a estimulação do sistema imune em comparação ao sangue). O gato vai comer esses animais e se infectar novamente, fechando o ciclo. Ele vai ingerir o cisto com bradizoítos, que podem continuar reprodução assexuada ou reconhecer o repertório molecular do epitélio intestinal do gato e começar a formar gametas (Metogonia que depois vai se diferenciar em gametogonia). Os gametas se formam e fecundam gerando um oocisto dentro da célula intestinal. Pode haver replicação até dentro de células do sistema imune. Num macrófago tecidual que fagocite o parasita, quando o meio fica ácido demais e o parasita “sente” que vai ser degradado no fagolisossoma, ele emite um peptídeo de fusão e consegue sair desse fagolisossoma e forma vacúolo parasitóforo dentro do macrófago. Para ele é mais vantajoso, porque cai direto no sistema retículo endotelial e começa a fazer fase aguda em todo o sistema linfático. Resumindo: As três formas que possuem o complexo apical são taquizoíto, bradizoíto e oocisto. Da ingestão do cisto com bradizoítos, eles vão para o epitélio intestinal. Se for um felino infectado, eles penetram no epitélio intestinal, formam o vacúolo parasitóforo, multiplicam e invademnovas células epiteliais. Como é felino, há a formação dos gametócitos. Os gametas masculinos são menores e móveis e os femininos maiores e imóveis (como os nossos). Eles formam um zigoto (oocisto imaturo) dentro do enterócito, que começa a crescer e estoura a célula, sendo liberado nas fezes, iniciando o processo de maturação dos oocistos no ambiente. Se for um hospedeiro intermediário, após a ingestão do cisto com bradizoítos ou oocisto, já ocorre penetração em diversos tipos de célula: já começa na bochecha, forma os vacúolos citoplasmáticos, ocorre multiplicação sucessiva e posteriormente rompimento e liberação dos taquizoítos. Com o rompimento do epitélio, acessa o tecido conjuntivo, entra em contato com células do sangue e com o sistema retículo endotelial pelos linfonodos. Não vai infectar a hemácia dos mamíferos porque são anucleadas. Se o indivíduo não for imunocompetente ou não receber tratamento, ele pode morrer em até 2 dias, porque tem uma máquina replicativa que pode invadir qualquer célula nucleada. Quando é imunocompetente, vai combater e soroconverter de IgM para IgG, ficando protegido contra aquela cepa. Se a mulher estiver no 1º trimestre da gravidez e se infectar sem nunca ter tido contato com o Toxoplasma, “lascou” porque ele atravessa a barreira placentária e esse período é o da formação de tecidos nobres do feto. O IgG protege, mas se ela fizer sorologia e der IgM positivo, ela tem que tratar rápido, pois está em fase aguda, teve contato com parasita no máximo há 15 dias. Na fase aguda, estão circulando muitos taquizoítos, isso pode ser testado por um anticorpo que detecta proteína de superfície (Sag). Vai ter uma queda de IgM, que é um pentâmero não específico, e um aumento do IgG. Os autores acreditam que os anticorpos da mãe são capazes de proteger o feto, de uma forma geral, então não trata. No entanto, formam-se cistos no miométrio, que vão estourando com a compressão pelo feto, então nem sempre o IgG protege. Na fase crônica, vai ter IgG elevado, podendo ter eliminado totalmente (a maioria dos casos) ou ter formas de resistência teciduais com bradizoítos. Nessa fase, ainda pode estourar os cistos e infectar o feto, fármacos para outras condições podem causar stress e causar essa liberação de parasitas. A sorologia é feita apenas para a forma de taquizoítos, para bradizoítos não é feito e isso pode ser grave nesses casos em que há liberação durante a fase crônica. Se a paciente estiver no momento de janela imunológica, quando já tem pouco de IgG e ainda tem IgM remanescente, num valor que ainda não é considerado soroconversão é complicado, porque você não sabe se ainda tem taquizoítos vivos circulantes ou no miométrio. O melhor seria esperar mais 30 dias e repetir a sorologia, para ver se o IgG está subindo. O protocolo é fazer sorologia a cada mês. Portanto, na fase aguda (quando só tem IgM ou pouco IgG- ainda não houve soroconversão), você trata. Na fase crônica, o IgG da mãe reduz o número de taquizoítas e neutraliza porque o anticorpo se liga ao Sag, que é importante para o reconhecimento de entrada, dificultando a infecção congênita. Assim, não precisa de tratamento. A cegueira, mácula na retina, abscesso cerebral são característicos da fase crônica (IgG +). As drogas para Toxoplasma são alucinógenas e hepatotóxicos. Por isso, o tratamento deve ser cuidadoso. Isso que tratar grávidas já é complicado, porque a maioria dos remédios não são indicados para gestantes. Existem cepas mais agudas: replicam muito rápido, algumas não formam muitos cistos -cepa Rh- e cepas que fazem mais cistos- Me49. Os fatores de susceptibilidade são: idade (muito mais comum em crianças), imunidade e idade gestacional. O taquizoíto pode virar bradizoíto e vice-versa. O taquizoíto forma vacúolo e o bradizoíto forma cisto. Tem fármacos que matam taquizoítos, mas que não matam bradizoítos. Quando se trata de um cisto no SNC, teria que achar um fármaco que atravesse a Barreira Hematoencefálica, a parede do cisto, 3 membranas e aí sim agir no alvo. A resposta Th1 de Il-12, interferon-gama é capaz de liderar a interconversão, fazendo com que haja encistamento. Quando essa resposta cessa, volta para a forma de taquizoíto. Então uma estratégia para tratar é imunossuprimir o paciente, para favorecer a forma de taquizoíto e então o fármaco funcionar. Isso é feito, por exemplo, num paciente imunocompetente que esteja ficando cego. Só que tudo precisa ser calculado e bem avaliado de acordo com a localização e quantidade dos cistos, senão o tratamento pode ser pior. Algumas pessoas descobrem que tem toxoplasmose crônica com o uso de corticoides por motivos diversos que leva a interconversão para forma de taquizoíto, já que não é feita sorologia para bradizoítos Patogenia: ★ Toxoplasmose Congênita: É necessário primo-infecção, ou seja, infecção durante a gravidez, é mais perigoso. Geralmente, a mãe é assintomática. Acomete menos no 1º trimestre do que no 2º trimestre, mas quando acomete é mais grave porque está havendo a formação de tecidos nobres. No primeiro trimestre pode ocorrer a Tétrade de Sabin, que inclui hidrocefalia, coriorretinite, calcificações cerebrais e retardo. Diferente das malformações associadas a infecções virais, pois não há integração do DNA. Já no 2º e 3º trimestres costumam aparecer manifestações tardias. Não causa alterações no DNA (não causa mutações), mas pode estimular replicação. ★ Toxoplasmose adquirida: → Aguda: Mais comum em jovens e crianças. É auto-limitada. Causa uveíte, que é infecção da retina e encefalite, mais comum na reativação da fase crônica e gera hidrocefalia. É importante saber que é uma doença muito assintomática, que a maioria das pessoas não sabe que já entrou em contato com o parasita. Se essas estiverem dentro dos 11% que não conseguem debelar a infecção, elas podem ter a fase crônica. Os neurônios podem conter cistos provenientes de cistos do músculo ou da disseminação hematogênica durante a fase aguda pela coróide, que é a região de vascularização. Então, vamossupor que houve a infecção do SNC, onde os taquizoítas fazem a biogênese do vacúolo, viram bradizoítos, que fazem a secreção da parede do cisto, em um processo que demora anos. Com o tempo, pode ter vários cistos dentro de um neurônio ou um cisto grande dentro de vários neurônios. Esses cistos, por serem tão grande, rompem os neurônios e, quando um neurônio morre, é preenchido por uma célula da glia (cicatriz glial), fazendo quadro de gliose. Vai havendo uma progressão neurodegenerativa, porque as células que dependem de sinapse, morrem por falta de estímulo. No caso da cegueira, isso ocorre na retina. Ocorre necrose com resposta inflamatória e dor. O indício desse processo são regiões de calcificação no tecido neural. Isso é diferente do que ocorre, por exemplo, no fígado, no qual os hepatócitos têm certa capacidade de regeneração e as células ao redor conseguem compensar a perda funcional, na maioria dos casos. Quando não conseguem, ainda é possível realizar um transplante. Diagnóstico: Sorologia, principalmente baseada no antígeno Sag. Tratamento: → Gravidez: espiramicina e clindamicina. → Demais casos: sulfadiazina e pirimetamina por 2 a 4 meses. Essas drogas inibem a síntese de material genético do parasito. Não adianta tratar os pacientes com terapia de células tronco, pois o Toxoplasma gondii é intracelular, logo, ele infecta as células-tronco também. Obs! Apicoplasto na produção de medicamentos com toxicidade seletiva: O Toxoplasma tem uma organela de 4 membranas chamada apicoplasto, que possui genoma circular. Quando sequenciaram essa organela, descobriram que é de uma Rodofícea, uma alga vermelha. Como tem 4 membranas, foi descoberto que é uma endossimbiose secundária, ou seja, alguém englobou alguém que depois foi englobado também. Assim formou-se essa organela que sintetiza isoprenois, os quais são fundamentais para a vida do parasita. Se você nocautear os genes do apicoplasto, o parasita não sobrevive. Isso empolgou os farmacêuticos, pois se trata de uma organela que não tem no hospedeiro, com uma vida de biossíntese que também não tem no hospedeiro, favorecendo a toxicidade seletiva de possíveis fármacos. Mas até hoje não saiu esse fármaco, está em pesquisa. Profilaxia: ● Esquema rigoroso para lavagem de frutas e folhas com hipoclorito (não mata todas as cepas). ● Não comer carne mal passada (fazer cortes finos, acima de 56 graus). ● Cuidado com transfusão de sangue (parasita não vem nas hemácias, mas nos leucócitos) e transplante de órgãos. ● Tratamento de gestantes que apresentarem conversão sorológica. Diferença estrutural TaquiXBradi: O taquizoíto é menor, não tem reserva energética de carboidratos, as róptrias são menos eletrondensas e o núcleo é na parte posterior do parasito. O taqui entra sozinho, vai formar um vacúolo e faz reprodução assexuada por endodiogenia (dentro de um parasita-mãe, formam-se duas células-filhas que degeneram a célula mãe) ou por endopoligenia (vários parasitas dentro de uma célula-mãe que degeneram essa célula-mãe que se individualizam, formando aquele corpo residual em forma de “gomos de tangerina”). Como o Toxoplasma infecta qualquer célula nucleada de animal de sangue quente? Ele “metralha” a estrutura que ele vai reconhecer. O complexo apical é uma “metralhadora de secreção”, o parasita secreta Mics (proteínas do micronema), que se ligam na superfície das células e aí o antígeno de superfície do parasita liga nessas Mics. Assim ele vai reorientar a formação do complexo apical e secretar proteínas do pescoço das róptrias (Region of Neck-RON), que formam junções tipo “tight” entre a membrana da célula e a parte apical do parasita. Aí, ele extrude o conóide, por isso ele fura a célula sem deixar passar líquido, se ele furasse a célula sem fazer essa junção a célula iria estourar. Aí ele vai fazendo gliding, formando essa junção móvel e quando ele faz isso ele secreta proteínas solúveis que agem na expressão gênica do hospedeiro para diminuir a imunidade e, ao mesmo tempo, ele cliva proteínas transmembranares da célula, aproveita os lipídeos e vai entrando como se fosse uma capa. Ele tira as proteínas do hospedeiro e insere suas próprias proteínas, formando todo um ambiente com poros para passar substâncias que ele precisa e assim começa a replicar. Ele também cliva suas próprias estruturas, transforma Sag que é membranar em solúvel e aí o macrófago vai encontrar esse antígeno disperso e, portanto, não vai atacar a célula que foi invadida. É um mecanismo sofisticado de invasão e resistência. Ele necessita do núcleo, atua alterando a expressão gênica, por isso só infecta células nucleadas. Malária: É a parasitose por protozoário que mais mata no mundo. Uma criança morre na África, por conta da doença, a cada 30 segundos. São mais de 100 espécies de Plasmodium, sendo que somente 20 causam doenças em mamíferos, e somente 4 espécies são importantes para a medicina. No Brasil, podem ser encontrados P. falciparum (recebe esse nome, pois deixa a hemácia em formato de foice), P. vivax e o P. malariae (é o mais difícil de ser achado). Entre eles, o P. vivax é o mais comumente relacionado no país aos casos de malária, entretanto o P. falciparum é o que causa mais risco a saúde, principalmente em grávidas e casos de malária cerebral e óbito. A região norte do país (principalmente AM e PA) é o local onde há a maior incidência de casos de malária no país. Isso ocorre, porque essa região agrupa diversos fatores essenciais, como períodos de chuvas constantes para a proliferação do vetor, calor. Essa doença está mais presente em países subdesenvolvidos e no hemisfério sul, por conta de serem regiões tropicais, quentes, favorecendo a vida do vetor. Além disso, são países que têm programas de profilaxia para o combate do vetor/doenças pouco eficazes. Hospedeiro invertebrado é o hospedeiro definitivo, logo, a reproduçãosexuada ocorre no Anopheles. As fêmeas, principalmente, são hematófagos, as quais são atraídas pelo Zinco presente no sangue. Ciclo de Vida: Os esporozoítas estão na glândula salivar do gênero Anopheles. Assim, quando esses mosquitos picam, eles liberam substâncias anticoagulantes e inoculam esses esporozoítas na pessoa. Os esporozoítas são móveis e possuem complexo apical, isto é, uma superfície adaptada com um tipo de proteína de membrana chamada proteína citoesporozoítica. Essa proteína tem alta afinidade por Heparan-sulfato e, por isso também, tem alta afinidade ao hepatócitos, os quais possuem essa substância em abundância. Achou o hepatócito, ele começa a montar o vacúolo parasitóforo. Uma vez no fígado, os parasitas dentro do vacúolo começam um ciclo esquizogônico pré-eritrocítico, que consiste em uma reprodução assexuada, na qual ocorrem divisões sucessivas do material genético sem ter separação citoplasmática inicialmente (só há segregação nuclear). Aí vão se formar criptozoítas, outra forma evolutiva, a fim de adquirir nutrientes e metabólitos, para poder depois fazer outro ciclo esquizogônico e formar merozoítos, os quais possuem seus núcleos separados. Esses merozoítos, assim, irão invadir as hemácias dando início ao ciclo assexuado esquizogônico eritrocítico. Após sair do hepatócitos, esses merozoítas possuem proteínas de superfície que reconhecem as hemácias e os permitem invadi-las. Ao entrar na hemática, contudo ele não é mais merozoíta, mas sim um trofozoíta jovem. Portanto, na hemácia, os trofozoítas vão achar muita hemoglobina, molécula que os trofozoítas conseguem degradar (eles se adaptaram para conseguir degradar esse composto), de modo a obter sua nutrição (trofo vem de nutrição). O parasita se torna uma massa cada vez mais amorfa cheia de vacúolos do conteúdo proteico degradado. Começa a virar uma massa amorfa, cheia de vacúolos digestivos, degradando muito a hemoglobina. O que há de tão importante dentro da composiçåo da hemoglobina? Ferro (dentro do grupamento heme), o qual é tóxico, por conta do alto potencial oxidativo. Então o trofozoíta, sabiamente, guarda essa hemoglobina degradada junto com seu grupamento em forma de cristais, que dão o pigmento clássico da malária, chamado de pigmento malárico ou hemozoínico. O trofozoíta jovem, então, cresce e fica forte, se transformando em um trofozoíta adulto. Esse trofozoíta adulto se reproduz, fazendo outro ciclo esquizogônico, formando novos merozoítas dentro da hemácia. Esses merozoítas, então, provocam o rompimento da hemácia, liberando vários merozoítas (imóveis) e trofozoítas jovens no ambiente, os quais são capazes de infectar outras hemácias e começa tudo de novo. Ao provocar a hemácia, esses parasitas causam no hospedeiro anemia, por falta de componentes para transportar o oxigênio e também o gás carbônico. Ademais, são liberadas também a enzima anidrase carbônica, que pode gerar acidose metabólica; Os pigmentos e as hemácias lisadas vão ser degradadas no baço, podendo causar esplenomegalia, com falência múltipla de órgãos, por acúmulo de metabólitos e produtos mortos no baço. Por fim, o grupo heme livre ativa receptores tipo TOLL (PRRs- imunidade inata), de modo a aumentar toda a resposta de ativação para IL-1, via hipotálamo, receptores para ácido hialurônico e leucotrienos, aumentando a inflamação e causando muita febre, sintoma característico de malária. Cada espécie faz seu ciclo, com lise eritrocitária e reprodução assexuada, em um determinado tempo. Uma parte dos trofozoítas jovens irão gerar gametócitos. Existem genes ativados por modificações epigenéticas (acetilação e metilação de genes no DNA), que fazem uma porcentagem desses trofozoítas originarem gametócitos, mesmo sendo hospedeiro intermediário. Portanto, a diferença entre o hospedeiro intermediário e o mosquito é que somente no mosquito, há fecundação. Isso é determinado pela temperatura e repertório molecular. Uma vez que o mosquito suga os gametas, ele vai ter no seu intestino gameta masculino e feminino. Os microgametócitos são os masculinos, já os macrogametócitos sao os femininos. O masculino forma projeções/flagelos para captar o feminino e que, após fecundá-lo, gera um zigoto chamado de oocineto. Esse zigoto já é móvel e possui um complexo apical rudimentar, mas suficiente para se aderir ao epitélio da parede intestinal do mosquito. Quando ele atravessa, ocorre esporulação dentro do epitélio intestinal no mosquito. Quando faz esporulação completa, estoura e eles vão para a hemolinfa, até chegarem nas glândulas salivares, dando início ao ciclo novamente. Manifestações clínicas: Muita febre, tremor, sudorese e pode levar a anemia. O P. falciparum faz o ciclo mais rápido, de modo a causar malária severa. O P. falciparum consegue fazer tubulações na membrana, colocando proteínas de citoaderência na superfície da hemácias, como a PfEMP1 (Plasmodium falciparum erythrocyte surface). Essa proteína é multimérica com vários domínios, os quais promovem alterações na superfície das hemácias chamadas de KNOBs, que favorecem a citoaderência (se ligam a uma variedade de receptores de adesão, como Heparan-Sulfato, CD36, ICAM e etc, o que favorece cada vez mais uma adesão mais estável da hemácia ao endotélio e de hemácia com hemácias). Esses KNOBs se ligam ao CD31 (marcador de endotélio), de modo a conseguir prender mais o epitélio, o que é bom para o parasita, pois aumenta as chances dos gametócitos se encontrarem. No baço, onde ocorre hemocaterese, uma maior citoaderência provoca maior resistência a degradação no fluxo. Portanto, alta carga parasitária pode ter isquemia, provocando lesão no baço. Se isso for nos capilares do cérebro, vão ter micro-isquemias no cérebro. O P falciparum tem maissucesso de infecção nas hemácias do tipo A, por conta do domínio DBL1, que consegue se ligar no açúcar do sorotipo A. Por exemplo, se houver a presença de um receptor CR1, principalmente em sorotipos A, pode-se formar rosetamento (roseta) de hemácias. Já se tivermos uma expressão para receptores do tipo CD36, há chance de formar-se trombos e ligação a células dendríticas do sistema imune, o que dificulta a apresentação de antígenos. Assim, o parasita aumenta a chance dessas células se aderirem ao endotélio, o que aumenta a chance de um gametófito ser pego pelo mosquito na vaso sanguíneo. Esse aumento da adesão pode gerar obstrução da microcirculação também, o que gera infartos e anóxia em órgãos importantes. Isso também acontecer no espaço interviloso do placenta, mas ele não consegue atravessar a barreira placentária. O que acontece é obstrução dos vasos, gerando diminuição do fluxo de nutrientes e O2, o que é agravado pela anemia da gestante. Além disso, pode gerar também uma resposta inflamatória, corroborando para sofrimento e morte fetal. De forma geral, há o aumento de citocinas pró inflamatórias como TNF-alfa, NO, Interferon-gama, o que pode causar nascimento prematuro (pirógenos altos). Além de alta taxa de metabolismo anaeróbico, causando uma acidose metabólica e danos físicos gerados pela obstrução da microcirculação. Obs! A PfEMP1 é um dos variantes antigênicos do parasita (consegue mudar os antígenos, a fim de evadir o sistema imune). O P. vivax tem uma fase dormente: Quando chega no fígado, no ciclo pré-eritrocítico, ele pode entrar em um estado de hipnozoíta. Isso é um problema grande, afinal no tratamento achamos que combatemos todas as formas do parasita e a pessoa está livre dele, mas aos poucos o vivax começa a desenvolver novamente o ciclo eritrocitário ao sair do estado de latência. A gravidade da malária, de forma geral, depende de diversos fatores para o hospedeiro. Por exemplo, pessoas com anemia falciforme (hemácias em formato de foice) não conseguem ser parasitadas pelo Plasmodium sp. O que demonstra uma certa seletividade e resistência exercida pela parasitose sobre as populações. Há um fator imunológico também associado, de tal forma que populações selecionam resistência a infecção por exposições contínuas (e aumento da idade consequentemente), fazendo com que sejam formados anticorpos específicos e formas de resistência a parasitose. Sistema Imunológico: se desenvolve quando tem infecções contínuas, principalmente, formando anticorpos específicos, e células citotóxicas contra os parasitos no estágio hepático. Medidas de Controle e Profilaxia: ● Tratar os doentes e ter um diagnóstico precoce, o que evita a propagação por novos mosquitos dos gametófitos; ● Quimioprofilaxia (mefloquina) para viajantes principalmente (evitando que selecionamos populações parasitárias resistentes); ● Uso de medidas seletivas contra o vetor, como repelente, tela de mosquito…; ● Monitoramento de fatores de risco; ● Detecção oportuna de epidemias; ● Vacinação; Diagnóstico: Clínico: Alerta dos sintomas, sobretudo as febres em ciclos. Diagnóstico laboratorial: → Técnica da gota espessa: distensão sanguínea em uma lâmina de uma gota de espessa de sangue do paciente. Essa técnica é bastante eficaz e relativamente barata, tendo como única desvantagem a necessidade de um técnico que domine a técnica de microscopia. → Teste QBC: concentração de parasitas por centrifugação do hematócrito com respectiva coragem de DNA e RNA específico do parasita, sendo um exame altamente sensível, rápido e específico. Contudo, ainda é muito caro perante ao exame da gota. Ainda há técnicas de PCR, imunofluorescência, sorotipagem e ParaSight-F(rastreio de antígeno de P. falciparum, muito bom para parasitemias altas e bom para realizar triagem da doença). O problema em geral é que esses testes sao caros e de difícil acesso, principalmente em regiões pobres onde há a maioria dos casos. Tratamento: Drogas esquizonticidas sanguíneas (água tônica) e teciduais ou hipnozoíticidas, ou seja, drogas que atuam nos parasitas em fase eritrocitária e pré-eritrocitária, respectivamente. Também matam gametas. Parasitos resistentes a cloroquina. Doença de Chagas: A Doença de Chagas ou Tripanossomíase Americana é uma doença que afeta grande quantidade de pessoas, de modo que todos os estados do Brasil apresentam o barbeiro e o parasito. Hoje, já é possível encontrar casos dessa doença no Arizona (EUA). Antigamente, o que facilitava as infecções eram as moradias paupérrimas, as casas de pau a pique. De modo que o barro, quando cai, forma frestas, onde os barbeiros fica, se alimentando à noite das pessoas e dos animais domésticos. É um medo essas construções voltarem, já que estamos em um período de crise. O que levou ao alerta que a infecção pode ser transmitida pela via oral foi a ingestão de caldo de cana. Provavelmente, a cana veio de uma área endêmica, estava com inseto, que morreu, e seu intestino ficou grudado ali. A cana, mal lavada, foi colocada na máquina para fazer o caldo que, na verdade, é uma sopa de parasitos. Foi a primeira vez que perceberam que as enzimas digestivas do nosso organismo não digerem os parasitos. Na verdade, elas aumentam a infecção, de modo que as pessoas que se infectam pela via oral morreram na fase aguda, o que é raro. Estudos recentes descobriram que as enzimas digestivas conseguemclivar algumas moléculas da superfície do parasito, fazendo com que a invasão nas células do hospedeiro seja mais rápida. Só depois teve toda a história do açaí. Ciclo da Doença: De maneira natural, a infecção se dá pelo vetor. A forma infectiva que vai estar presente no material fecal da infecção é o tripomastigota metacíclico. O barbeiro está infectado, faz o repasto sanguíneo (ato de se alimentar de sangue), defeca (fezes com tripomastigota). A pessoa, então, se coça, permitindo que o parasita consiga alcançar a corrente sanguínea. O Trypanossoma cruzi não tem uma célula-alvo, podendo infectar qualquer célula. No meio intracelular, o Trypanossoma vai deixar de apresentar o flagelo, se transformando numa forma aflagelada chamada de amastigota. Essa forma é a única dentro do hospedeiro vertebrado que tem a capacidade de proliferar, sendo necessário somente uma amastigota. A proliferação ocorre de tal maneira que a célula pode arrebentar. Esse processo de proliferação exacerbada faz com que os nutrientes dentro da célula diminuam, e, por conta do metabolismo aumentado, o PH acaba diminuindo, criando um ambiente hostil, um estresse. Isso, então, desencadeia uma cascata de sinalização, de modo a fazer a amastigota parar de se proliferar e se diferenciar em tripomastigota sanguíneo. Esses tripomastigotas rompem a célula e caem na corrente sanguínea. Na corrente sanguínea, eles podem ser capturados pelos hematófagos. Uma vez ingeridos, no aparelho digestório dos insetos, eles viram epimastigostas (equivale aos amastigotas no mamífero), fazendo proliferação. Quando chegam no intestino posterior, ocorre muita proliferação, fazendo com que o PH caia, e assim, com que os epimastigotas se diferenciem em tripomastigotas metacíclicos. Todas as reproduções são assexuadas. Obs! Geralmente, o amastigota prolifera tanto que forma um aglomerado, que é chamado de ninho de amastigota. Há outros meios de se infectar com Trypanosoma cruzi, sendo que o importante é saber a forma evolutiva em cada caso: 1. Transplante de órgãos: amastigota. Você pode se infectar pelo amastigota, quando come um órgão de algum animal também. 2. Vetorial: tripomastigota cíclico. 3. Transfusional: tripomastigota sanguíneo. 4. Congênita: tripomastigotas (atravessam a barreira placentária) diferenciados a partir de ninhos de amastigotas na placenta. 5. Ingestão: Pode ocorrer através do inseto triturado (tripomastigota metacíclico), ou da ingestão de leite materno infectado com tripomastigota sanguíneo. 6. Ato sexual: principalmente sexo anal e sexo oral, já que vários microvasos são quebrados (isso ocorre até no ato de escovar os dentes). Sexo oral é ainda pior, pois na boca tem as enzimas que aumentam a infecção. Vetores que participam da transmissão: ★ Barbeiro: é um bicho grande, que anda no rosto durante a noite. Seu ferrão chama a atenção, pois ele é enfiado na cara e não provoca dor. Por que o sangue não coagula na tromba do inseto? Quando o inseto enfia a tromba, ele começa a salivar e, nessa saliva, há anestésicos, anti-inflamatórios e fatores anticoagulantes. À medida em que ele começa a sugar o sangue, o abdome aumenta muito, até chegar uma hora em que ele não consegue mais nem se apoiar nas patas. Aí, ele solta a tromba, rola e cai debaixo do colchão e fica ali digerindo o sangue. Nem todo barbeiro está infectado. Obs! Antes Mas de fazer isso, o barbeiro já defecou. Sempre perto da bolsa flagelar, é encontrado uma estrutura chamada de cinetoplasto, que consiste em uma mitocôndria diferenciada, com função de produzir energia para o flagelo ter movimento. Outra particularidade da morfologia é o fato de o flagelo ser a “cabeça” e não o “rabo”, de modo que o flagelo é a parte anterior e se movimento levando o parasita para frente. No caso do tripomastigota sanguíneo ou metacíclico, o flagelo começa depois do núcleo, circunda todo o corpo do parasita, recebendo o nome de membrana ondulante ou flagelo recorrente. A Doença: A doença de chagas é caracterizada pela presença de 3 fases: 1. Inicial/Aguda: Pode durar 1 mês, 4 meses ou 6 meses. É caracterizada por parasitismo, que pode estar no sangue (parasitemia) ou dentro das células (tissular). A resposta imunológica mais marcante de Trypanosoma cruzi é a CD8+, porque são apresentados antígenos citoplasmáticos, através do MHC-1- presente em todas as células nucleadas. Por exemplo, você tem uma fibra muscular com MHC-1, que apresenta um um antígeno do Trypanosoma cruzi, sendo reconhecido como corpo estranho pelo CD8+, que acaba destruindo a célula infectada, de modo a destruir a fibra muscular. Alguns pontos até hoje não estão esclarecidos na doença de Chagas. Para ter problemas cardíacos, a pessoa tem que ir para fase crônica, sendo que somente 30% dos infectados vão para essa fase crônica. A maioria das pessoas saem da aguda e vão para a fase indeterminada (70%). O porquê disso acontecer ninguém sabe, o que determina que uma pessoa vá para uma fase ou outra. 2. Indeterminada: Pode durar meses, até décadas (geralmente, é um período longo) É caracterizada por sinais clínicos ausentes, sem parasitemia. 3. Fase crônica: Além da complicação cardíaca, há também complicação do aparelho digestivo, causando megacólon e o megaesôfago. Na fase aguda, você tem o parasita e, por conta disso, vai ter um infiltrado inflamatório nessa região. Na fase crônica, por sua vez, há um infiltrado monstruoso no coração, destruindo as fibras cardíacas, mas não há o parasita. Por que isso ocorre? Uma das teorias para explicar isso é que durante o processo da infecção, há uma quebra da seleção intratímica, de modo que clones de linfócitos com perfil alto reativos conseguem escapar. Outra teoria é que o parasita possa expressar moléculas ou proteínas muito semelhantes a proteínas cardíacas, como miosinas e tubulinas, de modo que as células do sistema imune aprendem a reconhecer esses corpos estranhos e acabam fazendo reação cruzada com as células do coração também. O que leva a isso, ninguém sabe porque. A destruição dasfibras musculares no aparelho digestivo provoca alterações na peristalse, estase do conteúdo do tubo digestivo, levando a pessoa a apresentar problemas para evacuar, podendo morrer de prisão de ventre. Resumindo: ★ Fase aguda: pequena quantidade de miocardite, infiltrado inflamatório, febre. → Sinal de Romanã: a entrada do parasita coça e, por ter material fecal, gera uma resposta inflamatória, que é chamada de chagoma de inflamação. Se você coça e leva isso ao olho, leva a um processo inflamatório chamado de Sinal de Romanã. Isso ocorre no início da infecção. ★ Fase indeterminada: latente, ausência de sinais e sintomas. Ao fazer exames sorológicos, como ELISA e Western Blotting, vai dar positivo, pois há anticorpos contra parasitas. No entanto, se você tira uma gota de sangue, não há parasita. ★ Fase crônica: praticamente, não tem parasitemia e também parasitismo tissular. A resposta inflamatório contra o antígeno é muito intensa e geralmente é direcionada para as fibras musculares, principalmente no coração e aparelho digestorio. O tecido destruído vai ser preenchido com fibrose, causando a perda de elasticidade e perda da condução de impulsos. Em casos avançados, o tratamento é transplante, no entanto, há um problema: o parasita está lá, de modo latente, não sendo encontrado (único método para saber se há parasito é pelo PCR). Assim, como no transplante de coração é necessário tomar imunossupressor, isso pode agudizar a infecção, de modo a fazer o infectado apresentar parasitos novamente. A resposta inflamatória no coração é mais intensa em algumas áreas, de modo a se acumular no aneurisma apical. Além dessas complicações, pode ter a formação de trombos, comprometimento do SNC. Caso a pessoa não tenha acompanhamento, ela pode evoluir para uma morte súbita. O Trypanosoma cruzi podem infectar os macrófagos de maneira passiva (é fagocitado) e ativa. Na ativa, o trypanosoma adere na membrana da célula, e fica batendo o flagelo dentro da célula, estimulando a ida dos lisossomos para essa região. Quando o lisossomo se funde com essa membrana, ele libera as enzimas, degradando essas membrana e, assim, o trypanosoma consegue invadir. Ele invade e fica envolvido por um vacúolo parasitóforo. A partir disso, o parasita começa a secreta muito TTOX, proteína muito parecida ao C9 do sistema complemente, a qual polimeriza e forma pólipos, permitindo que o parasito vá para o citoplasma. Lá, se diferencia em amastigota, fazendo muita proliferação. . A infecção pelo trypanosoma cruzi também apresenta mecanismos de evasão do sistema imune. Numa visão dos sonhos, um macrófago infectado vai sofrer ação dos linfócitos T, melhorando a resposta do TH1 e produzindo interferon gama, a qual ativa macrófagos, que produzem fatores microbicidas. No entanto, o que ocorre é: quando a célula rompe, ela libera uma quantidade muito grande de parasita e também de antígenos parasitários, o que leva a uma ativação (da população de linfócito T tão grande, que ele acaba morrendo, em um processo chamado de morte celular induzida por ativação (AICD). Como isso ocorre? O linfócito T, quando está muito ativado, passa a expressar FAS-L, que se ligam a moléculas de FAS, ativando uma cascata intracelular de caspase, provocando a apoptose do linfócito. Toda vez que um macrofago reconhece uma célula apoptótica, através da fosfatidilserina exposta na MP externa, ele produz fatores anti-inflamatórios. Se esse macrófago estiver infectado, esses fatores anti-inflamatórios vão produzir uma desativação dos macrófagos, o que é o sonho de consumo do trypanosoma. A consequência disso, então, é a inibição da produção de NO e a estimulação da produção de alginases, culminando no acúmulo de poliaminas. Essas poliaminas são importantes para a proliferação do trypanosoma cruzi, que não possui essas moléculas. Assim, o parasita captura essa poliamina e usa para sua própria proliferação. É importante produzir fatores anti-inflamatórios, já que a resposta inflamatória crônica e em excesso é prejudicial para o nosso organismo, causando dano tecidual. Algumas regiões do nosso corpo não podem ter inflamação, as quais são conhecidas como sítios imunologicamente privilegiados. Neles, há muita molécula FAS, de modo que se chega um linfócito com FAS-L, seria O sonho do parasita, pois ele cresceria sem parar. Diagnóstico: 99% é feito através do teste de ELISA, o qual caracteriza a presença de anticorpos. Esse teste consiste em uma placa revestida por antígenos, que vai receber antisoro. Se houver aglutinação, é positivo. Xenodiagnóstico: pega um barbeiro, faz com que ele coma o sangue da criança. Depois, esse barbeiro é aberto para verificar se há trypanosoma cruzi dentro dele. Obs! Para saber a diferença do tripomastigota metacíclico e o sanguíneo, somente através de testes bioquímicos. Tratamento: Rochagan, apesar de ser muito tóxica. Controle da Transmissão da doença: Leishmaniose A leishmania causa a leishmaniose, que consiste em um espectro de doenças, cuja manifestação clínica varia de infecção assintomática à morte. É uma doença intimamente relacionada à pobreza, que cresce com o aumento da desigualdade social, assim como qualquer doença transmitida por insetos. Ela é considerada uma doença negligenciada (são doenças que a indústria farmacêutica não tem interesse em produzir medicamentos; estão localizadas principalmente em países extremamente pobres). Características do gênero: Assim como o trypanosoma, ele também possui uma mitocôndria diferenciada, chamada de cinetoplasto, que geralmente fica perto da bolsa flagelar, com função de fornecer energia ao flagelo. A leishmania possui apenas duas formas evolutivas: ● Amastigota: hospedeiro vertebrado. ● Promastigota: hospedeiro invertebrado. Não são vistos parasitas circulando, já que a infecção é intracelular. Ao contrário do T. cruzi que é “promíscuo”, a Leishmania só infecta células do sistema fagocítico (macrófagos em geral). O vetor da leishmania é o flebótomo, que parece um mosquito, mas não é. Ciclo de vida: O insetofaz o repasto sanguíneo. Com isso, injeta no homem a forma infectiva (promastigota), que é eliminada pelas glândulas salivares. A promastigota vai ser rapidamente reconhecida e fagocitada pelos macrófagos, onde vai permanecer dentro do vacúolo parasitóforo do macrófago. Lá, eles se diferenciam em amastigotas, que é a forma proliferativa. Através da proliferação exacerbada, a célula pode romper e as amastigotas são liberadas na corrente sanguínea, podendo infectar outro macrófago ou ser ingerida pelo inseto hematófago. No intestino do inseto, as formas amastigotas se transformam em promastigotas e migram para as glândulas salivares, sendo liberadas na hora que os alimentos e assim continua o ciclo. Obs! Semelhanças e diferenças com T cruzi: → Diferenças: O T. cruzi penetra na célula envolvido por um vacúolo parasitóforo, escapando desse e caindo no citoplasma. Assim, a infecção vai ser sempre mergulhada no citoplasma. A Leishmania não foge do vacúolo, se mantém dentro dele. A Leishmania não tem uma entrada ativa, sendo reconhecida e fagocitada pelo macrófago. → Semelhanças: Ambos apresentam amastigota como forma proliferativa. Qualquer animal pode se infectar por esse parasita. Um cão pode ser reservatório de leishmania e, inclusive, as indústrias farmacêuticas já desenvolveram dois tipos de vacina para leishmaniose canina (é única com vacina). Relação Parasita X Hospedeiro: Uma particularidade da leishmania é que ela está no vacúolo parasitóforo, onde normalmente, tudo que permanece nesse vacúolo sofre ação das enzimas lisossomais (digerem os parasitas). As leishmanias, por sua vez, conseguem jogar todas essas enzimas para fora e se proliferar ali mesmo. Como isso acontece? A leishmania tem na sua superfície um conjunto de moléculas que conseguem neutralizar as enzimas ou os fatores microbicidas presentes nos lisossomos. Então, depois da fusão, ocorre a neutralização das enzimas. Essas moléculas podem ser fibronectina, fosfoglicanos, GP63, LPG, as quais funcionam como ligantes a outras moléculas de superfície do macrófago. Esses ligantes (LPG e Gp63) podem, inclusive, se ligar com moléculas do sistema complemento, que também irão interagir com células, de modo a fazer uma ponte entre as moléculas da superfície da leishmania e os macrófagos, acelerando a fagocitose. . O macrógafo é uma célula fagocítica, apresentadora de antígenos. Os macrófagos podem sofrer uma explosão respiratória, produzindo muito óxido nítrico, peróxido de oxigênio. Por isso, é mais importante a resposta TH1, que leva à formação de vários fatores, citocinas e também interferon gama, que ativa os macrófagos. Há casos que a pessoa toma interon gama para promover a ativação do macrófago. Manifestações Clínicas: 1. Leishmaniose Cutânea: é a forma mais comum. Causa de uma a 200 lesões na pele, que podem curar espontaneamente, através da resposta TH1, que causa lesão tecidual, deixando uma ferida como cicatriz. Formam lesões indolores e limpas, as quais possuem as bordas bem duras. O indivíduo entra em contato com um inseto e pode ter o caso clínico em até 3 semanas. Se tiver resposta TH2, a doença pode progredir, podendo causar leishmaniose difusa. Esse é o grande problema para pessoas que abandonam o tratamento quando os sintomas diminuem. Isso geralmente ocorre em áreas endêmicas. 2. Leishmaniose Mucocutânea: é causada pela L. braziliensis, inicia com ulcerações na pele, se disseminam causando destruição dos tecidos especialmente do nariz e boca (mucosa oronasal). Essa destruição é de resposta imunitária, de modo a destruir os próprios componentes do organismo. Não mata, mas pode deixar sequelas que afetam a vida produtiva do indivíduo, como esse homem que teve a obstrução de toda a fossa nasal, não conseguindo mais respirar. É muito comum ocorrer metástase da mucosa nasal, uma vez que as lesões não provocam dor, sendo difíceis de perceber. Se você for procurar leishmania na região da mucosa oronasal, raramente, ela é encontrada. Acredita-se que seja uma resposta do hospedeiro contra moléculas próprias presentes nessa mucosa, não se sabe porque isso acontece. 3. Leishmaniose Cutânea Difusa: é raríssima no Brasil (único estado que tem essa infecção é o Sergipe), sendo causada pela L. amazonensis. Cada pápula, se fizer uma punção, está cheia de macrófagos com muitas leishmanias. O tratamento não deixa cicatrizes, diferentes da leishmaniose cutânea, uma vez que a população de linfócito T de um indivíduo com leishmaniose difusa é a TH2. Assim, favorece uma resposta humoral, que desativa macrófagos, através de IL-4. 4. Leishmaniose Visceral ou Calazar: acomete os órgãos internos, como baço, fígado e medula óssea. Por ela infectar a medula óssea, isso leva ao comprometimento da hematopoiese (pode causar anemia severa) e também da linfopoiese (pode causar imunossupressão, sendo alvo de doenças oportunistas). Causa febre, hepatoesplenomegalia, linfoadenopatia, mas o grande problema é a medula. É praticamente 100% fatal se não tratada. A pessoa fica muito debilitada. (L. chagasi). Ocorre invasão de células do sistema fagocítico (como células de Kupffer no fígado, células da medula, etc) causando anemia, imunossupressão, hipertrofia e hiperplasia do sistema macrofágico (espleno e hepatomegalia). Não há uma lesão típica, o L. Donovani ou L. chagasi tem tropismo por macrófagos, que têm muito no fígado e baço. Como toda a hematopoiese é comprometida, temos hemorragia, trombopenia, leucopenia. Para fazer diagnóstico, é necessário saber se o paciente veio de área endêmica, se houve emagrecimento, e se ela está anêmico, além de exames laboratoriais complementares. Tratamento: ● Antimonial pentavalente: primeira escolha, mas é extremamente doloroso, também fazendo com que os pacientes desistam. ● Anfotericina B. ● Miltefosina – primeira droga eficaz de administração oral. Está aprovada para uso no Calazar indiano resistente ao Glucantime Diagnóstico: ● Em geral, 99% das vezes é feito por ELISA (existem kits muito baratos hoje em dia). ● História do paciente: história de picadas, lesões de pele, etc. Se tiver lesão, podefazer um raspado com um bisturi, passar na lâmina e olhar pelo microscópio (veremos macrófagos infectados com amastigotas). ou cultivar em meio de cultura. ● Em locais mais sensíveis, como perto do olho, pode injetar água salina e depois aspirar novamente com seringa (pra soltar e aspirar células). ● Reação de Montenegro: é uma “sopa de leishmania morta” que é injetada na pele. Se a pessoa já tiver tido contato, veremos uma reação nessa região. Para leishmaniose visceral, o mais comum é a reação de Montenegro. ● PCR: pode ser utilizado, mas é muito caro. Em geral, faz sorologia. Profilaxia: ● Utilizar repelente. ● Tratar pessoas doentes. É muito comum, no interior, a pessoa dedetizar muito a parede, o que é ruim, pois o inseto fica muito na parede durante sua digestão, respirando, através das fossas nasais. Se essa parede tem muito dedetizante, o mosquito começa a respirar pela boca, disseminando a leishmaniose (fica na glândula salivar).
Compartilhar