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FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA Atualizado (2)

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SUMÁRIO
FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA
Introdução 	 02
Capítulo I — A Origem da Filosofia 	 02
Capítulo II — O Surgimento da Filosofia 	 03
Capítulo III — Campos de Investigação da Filosofia 	 04
Capítulo IV — Principais Períodos da História da Filosofia 	 07
Capítulo V — Aspectos da Filosofia Contemporânea 	 08
Capítulo VI — A Razão 	 10
Capítulo VII — A Atividade Racional 	 12
Capítulo VIII — A Origem da Razão 	 13
Capítulo IX — Soluções Filosóficas Para os Problemas 	 14
Capítulo X — A Razão na Filosofia Contemporânea 	 15
Capítulo XI — Ontologia 	 16
Capítulo XII — Lógica 	 17
Capítulo XIII — Epistemologia 	 20
Capítulo XIV — Ética 	 21
Capítulo XV — Estética 	 22 
Conclusão 	 24
INTRODUÇÃO
Chamamos Filosofia o “estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora 'realidade suprema', ora 'causa primeira', ora 'fim último', ora 'absoluto', 'espírito', 'matéria', etc.), quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento (as respostas às perguntas: que é a razão? o conhecimento? a consciência? a reflexão? que é explicar? provar? que é uma causa? um fundamento? uma lei? um princípio? etc.), tornando-se o homem tema inevitável de consideração” (Dicionário Aurélio, verb. “Filosofia”)
Filosofia Geral é o assunto de nosso módulo 24-B. Ela estuda as generalidades da disciplina, dando um embasamento acadêmico para os iniciantes. Bom estudo!
Capítulo I
A ORIGEM DA FILOSOFIA
A Palavra Filosofia
Definição Etimológica. A palavra filosofia vem do grego Philosophía. É formada pela junção de dois vocábulos: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que quer dizer amizade, amor fraternal, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria. Dele procede sophos, “sábio”. Portanto numa definição etimológica, filosofia significa amor à sabedoria; devoção ao conhecimento; respeito pelo saber. Indica o estado de espírito da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento.
Definição Conceitual. Embora existam outras acepções para a palavra filosofia (com inicial minúscula), como “sabedoria”, “modo de pensar” “teoria subjacente”, “sistema doutrinário”, usaremos neste curso Filosofia (com inicial maiúscula) no sentido filosófico do termo, isto é, como “ciência dos princípios e causas”. Definindo conceitualmente, teremos que Filosofia é a ciência geral que estuda os princípios, valores e sentido da existência, da conduta e do destino do homem.
Gênese da Palavra
Diógenes Laércio, primeiro historiador da filosofia, atribui a Pitágoras de Samos, matemático e filósofo da Grécia antiga (séc. V a.C), a invenção da palavra filosofia. Perguntado por Leonte, tirano dos Ilíacos, qual era sua profissão, Pitágoras respondeu humildemente, que era filósofo e não sábio, como era costume de seus predecessores. Para ele, a sabedoria plena pertence somente a Deus. Aos homens cabe somente amar a sabedoria. Daí a denominação filósofo.
3. A Filosofia Vem da Grécia
A filosofia, compreendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causa das ações humanas e do próprio pensamento, é fato tipicamente grego. Isso não quer dizer que outros povos antigos como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos e os índios americanos não possuíssem sabedoria nem tivessem desenvolvido pensamento e formas de saber com respeito à natureza e aos seres humanas. Isso de fato fizeram. Mas a filosofia como ciência é conquista grega.
O Legado da Filosofia Grega Para o Ocidente
O modo de pensar e exprimir pensamentos sob o molde grego veio a tornar-se depois, por razões históricas e políticas, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental. O Brasil também foi influenciado por essa cultura. Em virtude da colonização européia das Américas (portuguesa e espanhola), os brasileiros também fazemos parte — ainda que de modo inferiorizado e colonizado — do Ocidente europeu, sendo, por conseguinte, também herdeiros do legado deixado pela filosofia grega para o pensamento europeu ocidental.
Contribuições. As principais contribuições desse legado são:
A idéia de que a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais.
A idéia de que as leis necessárias e universais da natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento sem necessidade de revelação divina.
A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas necessárias e universais. Nosso pensamento é lógico ou segue leis lógicas de funcionamento.
A idéia de que as práticas humanas (ação moral, política, técnicas e artes) dependem da vontade livre racional ou emocional, segundo certos valores e padrões convencionados pelos próprios seres humanos, e não por imposições misteriosas e incompreensíveis.
A idéia de que os acontecimentos naturais e humanos são tanto necessários como acidentais. Uma pedra, por exemplo, cai porque seu peso, por uma lei natural, exige que ela caia 
A idéia de que os seres humanos, por natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, à felicidade, à justiça. Ou seja, os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores pelos quais dão sentido às suas vidas e ações.
A filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações fornecidas pela tradição, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas naturais, os acontecimentos e ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana e a que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma. No momento em que se descobriu que a verdade do mundo e dos homens não é algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas algo que pode ser conhecido por todos, através da razão; no momento em que se percebeu que tal conhecimento dependia do uso correto da razão, uso este que podia ser ensinado e transmitido a todos, foi aí que surgiu a Filosofia.
Capítulo II
O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
Os Poetas/ Filósofos
Os poetas costumam exprimir o que chamamos de “sentimento do mundo”. Eles tentam dizer em belas palavras aquilo que todos nós sentimos diante das variadas situações da vida e não temos a capacidade de representar por meio de arte. Eles foram os primeiros a refletir sobre o mundo. Depois vieram os filósofos. Há uma diferença fundamental entre os poetas e os filósofos. Enquanto os poetas procuram exprimir o sentimento do mundo, os filósofos procuram exprimir o pensamento do mundo. 
2. A Inquietação dos Primeiros Filósofos
Os primeiros filósofos procuravam entender o porquê das coisas: interrogavam as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento dos seres. Faziam perguntas e procuravam achar respostas para elas. É bem verdade que a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam. Haviam perdido a força explicativa, não convenciam mais quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.
O Surgimento da Filosofia
Local e Data. Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. 
Primeiro Filósofo. O primeiro filósofo foi Tales de Mileto. 
Primeiro Conteúdo. O primeiro assunto foi a estrutura do universo ou a cosmologia (cosmos, “mundo ordenado e organizado” + logia, “estudo”), estudo da origem, da natureza e dos princípios
que ordenam o mundo ou o universo, em todos os seus aspectos.
Origem Autóctone ou Oriental. Existia até bem pouco tempo atrás uma controvérsia a respeito da origem da Filosofia: se ela era um fenômeno oriundo da própria Grécia, ou se era resultado da contribuição da sabedoria oriental ou de uma sabedoria pré-grega. Durante muito tempo, pensou-se que a Filosofia nascera de modificações feitas pelos gregos na sabedoria oriental. Essa tese, chamada “orientalista”, foi muito defendida durante os séculos II e III depois de Cristo, no período do Império Romano pelos pensadores judaicos (Filo de Alexandria) e os Pais da Igreja (Eusébio de Cesaréia e Clemente de Alexandria). 
Os judeus achavam que assim fazendo valorizariam o pensamento judaico, pois se a sabedoria de Platão viera do Egito, daquele país oriental também se originara o pensamento de Moisés, de modo que havia uma ligação entre a Filosofia grega e a Bíblia. Os cristãos, por sua vez, querendo mostrar que os ensinamentos de Jesus não eram doutrina supersticiosa, primitiva ou inculta, filiavam os filósofos gregos a correntes de pensamento místico e oriental, aproximando-os desse modo do cristianismo, que é uma religião oriental.
No entanto nem todos concordavam com essa conveniente tese “orientalista”; e muitos, sobretudo, no século XIX da nossa era, começaram a falar na Filosofia como um “milagre” grego: ela teria surgido inesperada, espontânea e espantosamente entre os gregos, povo excepcional e sem paralelo na história.
No século XX, porém, estudos históricos, arqueológicos, lingüísticos, literários e artísticos mais acurados vieram corrigir os exageros de ambos os pontos de vista. Demonstrou-se então que a verdade se encontra no meio termo. A Filosofia é, sem dúvida, um fato especificamente grego, mas com enormes dívidas para com a sabedoria dos orientais e com a herança deixada pelas culturas precedentes. O que os gregos fizeram foi alterar de maneira tão original, criativa e substancial a matéria-prima colhida em outros povos, que davam a impressão de ter uma cultura autóctone. 
Entre as reformulações gregas sobre a matéria importada, podemos citar:
Com relação aos mitos, os poetas gregos retiraram os aspectos apavorantes e monstruosos das divindades e das cosmogonias; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; racionalizaram as narrativas míticas.
Com relação aos conhecimentos, os gregos transformaram saber empírico e pragmático em saber científico: das medições, cálculos e contagem fizeram surgir a matemática; das curas misteriosas criaram a medicina e assim por diante.
Com relação à organização social e política, os gregos aperfeiçoaram o sistema de governo e autoridade praticada por outros povos, dando origem à política.
Com relação ao pensamento, os gregos inventaram o conceito ocidental da razão, como pensamento sistemático e regulamentado por normas universais.
Mito Versus Filosofia
Antropologicamente falando, mito é uma narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração e considerada verdadeira ou autêntica dentro de um grupo, tendo geralmente a forma de um relato sobre a origem de determinado fenômeno, instituição, etc., e pelo qual se formula uma explicação da ordem natural e social e de aspectos da condição humana. Em outras palavras, o mito é uma tentativa de explicar a origem de alguma coisa (cosmogonia ou teogonia) de maneira fabulosa.
A pergunta dos estudiosos é a seguinte: a Filosofia nasceu de uma transformação gradual dos mitos gregos ou de uma ruptura radical com os mitos?
Duas respostas foram dadas. A primeira dela em fins do século XIX e início do século XX, época de grande otimismo com relação à ciência e à tecnologia, dizia que a Filosofia nasceu de uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida no Ocidente.
A segunda resposta foi dada em meados do século XX, quando estudos de antropólogos e historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural da sociedade. Começou-se a achar que a Filosofia nascera, vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Hoje as duas respostas são consideradas exageradas, e afirma-se que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as noutra coisa completamente diferente.
As diferenças entre Filosofia e mito. As principais diferenças entre a Filosofia e o mito são:
Enquanto o mito focaliza como as coisas foram num passado imemorial e fabuloso, a Filosofia se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro, as coisas são como são.
Enquanto o mito narra a origem mediante genealogias, rivalidades e alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, a Filosofia explica a produção natural das coisas mediante fatores e causas naturais e impessoais.
Enquanto o mito não se importa com contradições, fabulações e incompreensões, a Filosofia não admite tais coisas, mas exige que a explicação seja lógica, coerente e racional.
Enquanto no mito a autoridade da explicação vem do poeta-rapsodo, na Filosofia a autoridade não vem da pessoa do filósofo, mas da razão.
Condições Para o Surgimento da Filosofia
 Seis foram as condições materiais (econômicas, sociais, políticas e históricas) que possibilitaram o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e início do século VI:
As viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titã e heróis eram na verdade habitados por outros seres humanos comuns; e que as regiões marítimas que os mitos afirmavam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam tais coisas. O desencantamento e a desmitificação produzida por essas viagens exigiu uma explicação do mundo que o mito já não podia oferecer.
A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo em dias, semanas, meses, anos, além das fases da Lua, das festas religiosas e dos feriados nacionais. Isto revelou uma capacidade nova de abstração e uma percepção do tempo como uma dimensão natural e não como um poder divino incompreensível. 
A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca não realizada mediante coisas concretas ou de objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes. Isto revelou uma nova capacidade de abstração e generalização.
O surgimento da vida urbana, que favoreceu
A invenção da escrita alfabética, que também revelou o desenvolvimento da capacidade abstrativa e generalizadora, visto que o alfabeto 
A invenção da política, que introduz três novos aspectos decisivos para o surgimento da Filosofia
O conceito de lei como expressão da vontade humana coletiva que decide por si mesma o que é melhor para si e como definirá suas relações internas. O aspecto legislado e regulado da cidade (polis) servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional
O surgimento de um espaço público torna direito de cada cidadão e não apenas do poeta-vidente a emissão em público de sua opinião. Ao valorizar o ser humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão racional, a política valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso filosófico.
O estímulo ao pensamento ou discurso público, em vez de restrito a seitas secretas de iniciados contribuiu muito para a clareza mental, que é fundamental para a Filosofia.
Principais Características da Filosofia Nascente
Ao surgir o pensamento filosófico tinha os seguintes traços principais:
Tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, como critério da explicação da realidade.
Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas.
Exigência de que o pensamento apresente regras de funcionamento.
Recusa
de explicações preestabelecidas.
Tendência à generalização
Capítulo III
CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO DA FILOSOFIA
Períodos da Filosofia Grega
A filosofia terá no decurso dos séculos um conjunto de preocupações, indagações e interesses advindos de sua origem grega. Antes, porém, de examinarmos esses campos, devemos analisar os conteúdos filosóficos da Grécia antiga. Para isso, devemos primeiro, conhecer os períodos principais da Filosofia grega, visto que tais períodos definem os campos da investigação filosófica da antiguidade.
Períodos Históricos Gregos. A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes fases:
Grécia homérica, que corresponde ao 400 anos narrados pelo poeta Homero, em seus dois grandes poemas: Ilíada e Odisséia.
Grécia arcaica, ou dos sete sábios, que vai do século VII ao século V antes de Cristo.
Grécia clássica, nos séculos V e VI antes de Cristo, apogeu da democracia, do intelecto e das artes; Atenas domina a Grécia.
Grécia helenística, a partir do final do século IV antes de Cristo, quando o Império Macedônico assume o controle da Grécia, até o surgimento do Império Romano, época em que termina sua existência independente.
Períodos da Filosofia Grega. Os períodos históricos não correspondem aos filosóficos, pois na Grécia homérica não existe filosofia, que só aparece nos meados da Grécia arcaica. O apogeu da Filosofia ocorre durante o apogeu da cultura e sociedade grega, ou seja, durante a Grécia Clássica.
Os quatro grandes períodos da Filosofia grega são:
Período pré-socrático ou cosmológico, do fim do século VII ao fim do século V a.C. A filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da Natureza.
Período socrático ou antropológico, do fim do século V e todo o século IV a.C. A Filosofia investiga as questões humanas (ética, política, técnicas). Em grego ântrophos quer dizer homem.
Período sistemático, do fim do século IV ao fim do século III a.C. A Filosofia procura reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia.
Período helenístico ou greco-romano, do fim do século III a.C. até o século VI. A Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza, e de ambos com Deus.
Filosofia Grega
Os dois primeiros períodos da Filosofia grega têm como referência o filósofo Sócrates de Atenas, daí a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática.
Período pré-socrático ou cosmológico. Os principais filósofos pré-socráticos foram:
da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.
da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento.
da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia.
da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
As principais características da cosmologia são:
Procura explicar racional e sistematicamente a origem, ordem e transformação da Natureza e, por conseguinte, dos seres humanos.
Afirma que o mundo não foi criado, pois nada vem do nada; mas é eterno e está em constante transformação.
O fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo volta é invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, isto é, para o pensamento.
O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna é o elemento primordial da Natureza e se chama physis.
Embora a physis seja imperecível, dá origem a todos os seres, que são, diferente do princípio gerador, perecíveis ou mortais. A physis é imortal, e as coisa físicas mortais.
Os seres, além de serem gerados e serem mortais, são seres em constante mutação. O mundo, apesar de estar em contínua mudança, não perde sua forma, ordem ou estabilidade. Esse movimento do mundo, essa transformação incessante e permanente pela qual as coisas se constroem e se dissolvem noutras coisas chama-se devenir ou devir. Os diferentes filósofos escolheram diferentes physis ou princípio eterno e imutável que explicasse a origem da Natureza e de suas transformações. Tales dizia que o princípio de tudo era a água ou o elemento úmido; para Anaxímenes, era o ar ou o frio; para Heráclito, era o fogo; para Pitágoras, o número; Leucipo e Demócrito disseram que eram os átomos; Empédocles, os quatro elementos: terra, ar, água e fogo.
Período socrático ou antropológico. Numa época de desenvolvimento da democracia como foi o Século de Péricles, em que todos eram iguais perante a lei e que o cidadão participava ativamente da vida pública, houve a necessidade de uma nova educação. Enquanto não havia democracia, mas dominava a aristocracia, o padrão educacional (fundamentado nos dois grandes poetas gregos: Homero e Hesíodo) afirmava que o homem ideal era o guerreiro belo e bom.
Ao instalar-se, porém, a democracia e o poder ser retirado dos aristocratas, esse ideal pedagógico também é substituído. O ideal educativo passa a ser a formação do cidadão. Qual é o momento em que o cidadão grego mais realça sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a oratória, a arte de falar em público e persuadir os outros na política.
Para dar aos jovens essa educação, substituindo a educação antiga dos poetas, surgem na Grécia os sofistas, os primeiros filósofos do período socrático. Os sofistas eram os contemporâneos de Sócrates que chamavam a si a profissão de ensinar a sabedoria e a habilidade, e entre os quais se destacam Protágoras de Abdera (480-410 a.C.), que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas; Górgias de Leontini (485-380 a.C.), que atribuía grande importância à linguagem; e Isócrates de Atenas. Os sofistas argumentavam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam cheios de erros e contradições e que não serviam para a vida na poli. Apresentavam-se como mestres de retórica e eloqüência. Sua retórica, porém, consistia na maior parte das vezes em sofismas e demagogias.
Sócrates rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade; mas mercenários oportunistas. Corrompiam o espírito dos jovens fazendo o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade.
Somente em dois pontos Sócrates concordava com os sofistas: o paradigma de educação antiga já não atendia às exigências da sociedade grega e os filósofos cosmologistas tinham idéias tão contraditórias que não eram fonte segura para o conhecimento verdadeiro.
Discordando dos antigo poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, qual era a proposta de Sócrates? Propunha que, antes de querer conhecer a Natureza ou de persuadir a outros, o primeiro dever do filósofo é conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo”, que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria tornou-se a divisa de Sócrates.
Por fazer do autoconhecimento a condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período socrático foi antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem.
Sócrates empregava um método chamado de maiêutica ou a arte de partejar idéias. A maiêutica consistia num processo dialético e pedagógico socrático, em que se multiplicam as perguntas a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito geral do objeto em questão. T
Ao encontrar alguém se arrogando sábio, Sócrates levava o interlocutor ao reconhecimento da sua própria ignorância através de perguntas. É o que se chama de ironia socrática. Para Sócrates, a consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. Donde a famosa expressão atribuída a ele: “Sei que nada sei”.
Ao fazer perguntas, procurava o conceito e não a mera opinião. A opinião é variável e depende dos gostos e preferências de cada pessoa. O conceito é uma verdade
intemporal, universal e necessária. Sócrates não perguntava se alguma coisa era bela, mas sim O que é a beleza?
As perguntas de Sócrates questionavam coisas que os atenienses julgas certas e verdadeiras. Esse suscitar dúvidas incomodou os poderosos. Estes sempre temem o pensamento, pois é mais difícil manipular alguém que pensa. Para os poderosos de Atenas, Sócrates começou a representar um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, sob a acusação de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis, foi condenado à morte por envenenamento. Sentença: beber um veneno chamado cicuta. 
Sócrates nada escreveu. Conhecemos suas idéias por meio de um dos seus discípulos mais brilhantes e principal divulgador de suas idéias: Platão.
Características gerais do período socrático:
A Filosofia se volta para as questões humanas.
O ponto de partida da Filosofia é o autoconhecimento.
Busca de procedimentos que garantam a descoberta da verdade.
Definição das virtudes morais e políticas.
Separação entre opinião e conceito. 
Opiniões e percepções sensoriais como fonte de erro (Mito da Caverna).
Pensar é tomado como purificação intelectual
Período aristotélico ou sistemático. Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de Estagira, discípulo de Platão. Após quase 400 anos de Filosofia, Aristóteles reúne uma verdadeira enciclopédia de todo o saber produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos do pensamento e da prática. A Filosofia é vista como a totalidade do saber humano. Esse saber é classificado e distribuído em campos próprios com seus respectivos objetos, procedimentos e formas próprias. Cada campo do conhecimento é uma ciência (gr. episteme). A lógica não aparece na classificação das ciências feita pelo estagirita, pois para ele a lógica não era uma ciência, mas um instrumento para determinar a validade das ciências. Mais tarde, porém, torna-se a lógica um ramo específico da Filosofia.
Campos do conhecimento filosófico. Aristóteles classificara o conhecimento filosófico nos seguintes campos:
Ciências produtivas, que estudavam as atividades humanas cuja finalidade era a produção de um objeto: arquitetura, economia, medicina, pintura, escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação etc.
Ciências práticas, que estudavam as atividades humanas cuja finalidade se realiza nelas mesmas: ética e política.
Ciências da realidade pura, que estudam a substância de tudo quanto existe: metafísica.
Ciências teóricas, que estudavam as coisas que existem independentes dos homens e de suas ações. Theoria em grego significa contemplação da verdade. As ciências teóricas se subdividem, num grau de superioridade crescente, em (a) ciências das coisas naturais mutáveis: física, biologia, meteorologia e psicologia; (b) ciências das coisas imutáveis: matemática e astronomia; (c) ciências da realidade pura: metafísica; (d) ciências das coisas divinas: teologia (theion, “coisas divinas”).
Para Aristóteles, a Filosofia encontra seu ponto alto na metafísica e na teologia, de onde derivam todos os outros conhecimentos.
A partir da classificação aristotélica, definiu-se no correr dos séculos o grande campo da investigação filosófica, campo que só seria desfeito no século XIX de nossa era, quando as ciências particulares foram-se separando do tronco geral da Filosofia. Assim, podemos afirmar que os campos da investigação filosófica são três:
O do conhecimento da realidade última de todos os seres ou da essência de toda a realidade. Como em grego “os seres” se diz ta onta, este campo é chamado de ontologia.
O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação humana: ética, política e técnicas.
O do conhecimento da capacidade humana de conhecer. Distinguem-se aqui a lógica, que apresenta as leis gerais do pensamento; a teoria do conhecimento, que apresenta os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências propriamente ditas e a epistemologia, que nos permite conhecer o conhecimento científico .
Período helenístico ou cosmopolita. Neste último período da Filosofia antiga, a polis grega desapareceu como centro político, pois a Grécia se acha sob o domínio romano. Deixando a polis de ser referência principal dos filósofos, a perspectiva deles agora é mundial. Agora o mundo é sua cidade, e eles são cidadãos do mundo. Em grego, mundo se diz cosmos, por isso esse período é conhecido como o da Filosofia cosmopolita.
Essa época filosófica é constituída por grandes sistemas ou doutrinas. Predominam preocupações com a ética, a física, a teologia e a religião. Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influência será sentida no pensamento cristão, que começa a formar-se neste período: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.
A grande extensão do Império Romano, a presença crescente de religiões orientais no império, os contatos comerciais e culturais entre ocidente e oriente contribuíram de certa forma para uma orientalização da Filosofia, sobretudo nos aspectos místicos e religiosos.
Capítulo IV
PRINCIPAIS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
A Filosofia na Historia
Como todas as criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história. Está na História porque manifesta e exprime os problemas e questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos. Tem uma história porque as respostas, as soluções e as novas perguntas oferecidos pelos filósofos de uma época tornam-se saberes que filósofos de outra época aceita, critica ou refuta.
Pelo fato de estar na História e ter uma história, a filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos mais ou menos similares aos da classificação da história universal.
Os Principais Períodos da Filosofia
Filosofia antiga (do séc. VI a.C. ao séc. VI d.C.). Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, mencionados no capítulo anterior.
Filosofia patrística (do séc. I ao séc. VIII). Inicia-se com as epístolas de Paulo e o Evangelho de João e termina com o início da Filosofia medieval. A patrística é resultado do esforço dos dois apóstolos e dos primeiros pais da igreja para conciliar a nova religião — cristianismo — com o pensamento filosófico dos gregos e romanos. A Filosofia patrística liga-se, portanto, a um aspecto evangelístico e apologético. 
 Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma). Os nomes mais importantes foram Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Gregório Nazianzo, João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio.
A patrística introduziu na Filosofia idéias judaico-cristãs bem conhecidas hoje no Ocidente, mas que eram totalmente desconhecidas aos filósofos greco-romanos: a criação do mundo, pecado original, Deus triúno, encarnação e morte divina, juízo final, ressurreição dos mortos etc. Como essas idéias eram verdades divinamente reveladas, surgiu desde então uma distinção, desconhecida entre os antigos, entre verdades da razão e da fé, isto é, entre verdades naturais e sobrenaturais. Assim, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão é fé. A esse respeito havia três pontos de vista principais:
Os que julgam fé e razão inconciliáveis, e a fé superior à razão (Dizem eles: “Creio porque é absurdo”).
Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (Dizem eles: “Creio para compreender”).
Os que julgavam fé e razão inconciliáveis, mas afirmavam que cada uma tem seu campo próprio e independente de conhecimento (Dizem eles: “A razão concerne à vida temporal; a fé, à vida espiritual”).
c) Filosofia Medieval (do séc. VIII ao séc. XIV). A Idade Média foi o período em que a Igreja Romana dominou a Europa, coroava e destronava reis, organizou Cruzadas à Terra Santa e criou, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas superiores.
Por ter sido ensinada, a partir do século XII, nas escolas, a Filosofia medieval também é conhecida como Escolástica. Abrange pensadores europeus, árabes e judeus.
O escolaticismo teve como influências principais Platão e Aristóteles, embora o Platão que os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da Filosofia de Plotino, séc. VI d.C.) e o Aristóteles fosse o conservado e traduzido pelos árabes, principalmente Avicena e Averróis. Sofreu grande influência também das idéias de Santo Agostinho.
Além de conservar e discutir os mesmos problemas da patrística, a Filosofia medieval acrescentou outros, sobretudo um, conhecido como Problema dos Universais. Durante esse período é que surge a Filosofia Cristã, outro nome para teologia. Um dos seus temas recorrentes são as provas da existência de Deus e da alma.
Outra característica assinalada da Escolástica foi o método por ela inventado para expor idéias filosóficas, conhecido como disputa: apresentava-se uma tese, que devia ser refutada ou defendida por argumentos extraídos da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Pais da Igreja. Esses eram os critérios da verdade. É por isso que se diz que na Idade Média o pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade.
Os teólogos medievais mais importantes foram Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah ben Levi.
d) Filosofia da Renascença (do séc. XIV ao séc. XVI). Marcada pela descoberta de obras platônicas desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles bem como pela recuperação dos grandes autores e artistas greco-romanos.
São três as grandes linhas de pensamento predominante na Renascença:
Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e dos livros herméticos, onde se destacava a idéia da Natureza como um grande ser vivo.
Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizavam a vida ativa
Aquela que propunha o ideal do homem como arquiteto de seu próprio destino
Os nomes mais importantes desse período foram Dante Alighiere, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campanella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa.
e) Filosofia Moderna (do séc. XVII a meados do séc. XVIII). Esse período, conhecido como Grande Racionalismo Clássico, é distinguido por três grandes mudanças intelectuais:
Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”. A Filosofia em vez de começar pela natureza de Deus para depois referir-se ao homem, começa pela reflexão, indagando qual a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos.
Aquela que diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que consideradas representações formuladas pelo sujeito do conhecimento.
Aquela que concebe, a partir de Galileu�, a realidade como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática.
Predomina assim nesse período a idéia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas. Existe também a convicção de que, sendo capaz de conhecer e dominar as emoções, a vida ética pode ser plenamente racional. A confiança na capacidade e poder da razão humana é extrema. Os principais pensadores desse período foram Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibnitz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi.
f) Filosofia das Luzes ou Iluminismo (meados do séc. XVIII ao início do século XIX). Esse período crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (daí o nome Iluminismo). Caracterizava-se pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. Também se usa o termo ilustração. O Iluminismo afirma:
Pela razão o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (o movimento filosófico da ilustração foi decisivo para as idéias da Revolução Francesa de 1789).
A razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectibilidade consiste em libertar-se através do conhecimento dos preconceitos religiosos, sociais e morais bem como da superstição, da ignorância e do medo.
O aperfeiçoamento da razão ocorre pelo progresso das civilizações.
Existe diferença entre natureza e civilização.
Há nesse período grande interesse pelas ciências relacionadas com a idéia de evolução. Daí a biologia ocupar lugar central no pensamento iluminista. Há também grande interesse nas artes e nas ciências econômicas
Os principais pensadores do período foram Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling.
g) Filosofia contemporânea. Abrange o pensamento filosófico que vai desde meados do século XIX até nossos dias. Por ser o período mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e difícil de definir. Para facilitar uma visão mais geral do período, traçaremos no próximo capítulo um paralelo entre as principais idéias do século XIX e as principais correntes de pensamento do século XX.
Capítulo V
ASPECTOS DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
1. As Questões Discutidas Pela Filosofia Contemporânea
Conforme dissemos no capítulo anterior, não temos distância suficiente para perceber os traços mais gerais e marcantes do período da Filosofia contemporânea. Não obstante, é possível especificar quais têm sido as principais questões e os temas principais que interessaram à Filosofia neste período. Ei-los:
História e progresso. O séc. XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. É, sobretudo, com o filósofo alemão Hegel que se consolida a idéia de que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos.
Essa concepção levou à idéia de progresso: que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram com o passar do tempo, acumulando conhecimento e práticas e aperfeiçoando-se cada vez mais. A Histórica é contínua, acumulativa e progressiva. Neste sentido, o presente é melhor que o passado e pior que o futuro. 
Essa visão otimista também foi desenvolvida na França pelo filósofo Auguste Comte, fundador do positivismo, que atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas. É de Comte o lema “Ordem e Progresso” da bandeira do Brasil republicano.
A Filosofia d século XX, contudo, afirma que a História é descontínua e não progressiva, e que cada sociedade apresenta uma História própria em vez de ser apenas uma etapa na História universal das civilizações. A idéia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar colonialismos e imperialismos (os mais “adiantados” teriam o direito de dominar os mais “atrasados”). Critica-se também a idéia de progresso das ciências e das técnicas, mostrando que em cada época histórica e para cada sociedade os conhecimentos e as práticas possuem sentido e valor próprios. O passado foi passado, o presente é presente e o futuro será futuro.
As ciências e as técnicas. No século XIX, entusiasmada com as ciências e a técnicas bem como com a Segunda Revolução Industrial, a Filosofia afirmava a confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para controlar a Natureza, a sociedade e as pessoas.
A Filosofia do século XX, no entanto, passa a desconfiar do otimismo científico-tecnológico do século anterior por vários fatores: as duas guerras mundiais, o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagazaki, os campos de concentração nazista, as guerras da Coréia, do Vietnã, do Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria, da Tchecoslováquia, as ditaduras sangrentas
da América Latina, a depredação ecológica etc.
Uma escola alemã de Filosofia, a Escola de Frankfurt, elaborou uma concepção conhecida como Teoria Crítica, na qual distingue duas formas de razão: (a) razão instrumental, que faz das ciências e das técnicas não um meio de libertação humana, mas de intimidação, terror e desespero; e (b) razão crítica, que analisa e interpreta os perigos do conhecimento científico-tecnológico e afirma que as transformações dele decorrente só serão realizadas se visarem à emancipação do gênero humano.
Utopias revolucionárias. Em virtude do otimismo gerado pelas idéias de progresso, desenvolvimento científico-tecnológico e poderio humano, a Filosofia do século XIX apostou nas utopias revolucionárias — anarquismo, socialismo e comunismo — que criariam, graças à ação política consciente dos explorados e oprimidos, uma sociedade nova, justa e feliz.
No entanto, no século XX, com o surgimento das chamadas sociedades totalitárias — fascismo, nazismo e stalinismo — e com o aumento das sociedades autoritárias ou ditatoriais, a Filosofia passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e começou a questionar se os seres humanos são capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz.
Com o crescimento da burocracia, a Filosofia começou a indagar como os seres humanos poderiam derrubar esse imenso poderio que os governa secretamente.
A Cultura. No século XIX, a Filosofia vê a cultura como o modo próprio e específico da existência dos seres humanos. Os animais são seres naturais; os humanos, seres culturais. A Natureza é governada por leis necessárias de causa e efeito; a Cultura é o exercício da liberdade.
Cultura é o conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade. 
Para a Filosofia do séc. XIX, em consonância com a idéia de uma História universal das civilizações, haveria também uma grande Cultura em desenvolvimento, da qual as diferentes culturas seriam fases ou etapas. Para os filósofos românticos as culturas não formavam seqüência progressiva, mas eram culturas nacionais.
A Filosofia do século XX, que afirmara ser a História descontínua, afirma também que não há a Cultura, mas culturas diferentes. A pluralidade de culturas não se deve às nacionalidades, pois a idéia de nação já é efeito cultural, e de natureza temporária. Deve-se, antes, às condições históricas, geográficas e políticas próprias.
O fim da Filosofia. O otimismo positivista do século XIX levou a Filosofia a supor que, no futuro, só haveria ciências e que a Filosofia desaparecia por não ter motivo para existir, pois todas as explicações seriam dadas pelas ciências.
O século XX, no entanto, mostrou que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários e que, freqüentemente, uma ciência desconhece seus limites e pode entrar no campo de investigação de outra ciência. Além disso, os princípios, métodos, conceitos e resultados de uma ciência podem estar inteiramente equivocados. Essa falta de rigor fez com que a Filosofia voltasse a afirmar seu papel na compreensão e interpretação crítica das ciências.
A maioridade da razão. O otimismo reinante no século XIX levou a Filosofia a afirmar que havia alcançado a maioridade racional. A razão estava plenamente desenvolvida.
No entanto, Karl Marx, no final do século XIX, e Sigmund Freud, no início do século XX, cada qual em seu campo de investigação, questionaram esse otimismo racionalista. Marx, voltado para a economia e política, mostrou que podemos ter a ilusão de estarmos pensando e agindo livremente por vontade própria quando podemos estar sendo manipulados por uma força social invisível que determina a maneira como pensamos e agimos — a ideologia.
Freud, voltado para a psicologia e a psiquiatria, mostrou que podemos ter a ilusão de que nossa consciência controla tudo quanto pensamos, falamos, calamos, fazemos, sentimos e desejamos, quando podemos estar sendo impulsionados por uma força psíquica invisível que atua sobre nossa consciência — o inconsciente.
Diante dessas duas descobertas, a Filosofia se viu forçada a reabrir a discussão sobre a natureza e a capacidade da razão e da consciência bem como reiniciar discussões éticas e morais relativas à liberdade versus condicionamento.
Infinito e finito. O século XIX deu prosseguimento à antiga tradição filosófica alimentada pelo pensamento cristão de que o mais importante é a idéia de infinito e ilimitado, representado pela Natureza para os gregos ou pelo Deus Eterno para os cristãos.
No entanto, a Filosofia do século XX tendeu a dar mais importância ao finito e ao limitado. Esse interesse pelo finito aparece, por exemplo, numa corrente filosófica surgida entre 1930 e 1950 chamada existencialismo, que define o homem como “um ser para a morte”, isto é, um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência.
Temas, disciplinas e campos filosóficos
A Filosofia existe há 2.500 anos. Durante história tão longa e de tantos períodos diferentes, surgiram temas, disciplinas e campos de investigação filosóficos diversos enquanto outros desapareceram. 
Limitação da Filosofia. A primeira coisa a desaparecer foi idéia aristotélica de que a Filosofia era a totalidade dos conhecimentos humanos. Desapareceu depois o simbolismo de que a Filosofia era uma árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia, cujo tronco era a lógica, cujos galhos eram a filosofia da Natureza (ética e política) e cujos ramos terminais eram as técnicas, as artes e as invenções. A Filosofia, vista como uma totalidade orgânica, era chamada de “rainha das ciências”. Isso desapareceu
Pouco a pouco, as várias ciências particulares foram definindo seus objetivos, métodos e resultados próprios, e se desligaram da grande árvore, tornando-se disciplinas independentes. As últimas ciências adquirir autonomia foram as da área de humanas: psicologia, sociologia, antropologia, história, lingüística, geografia etc. Outros campos de conhecimento e ação se abriram para a Filosofia.
Motivos da Limitação. No século XX, a Filosofia teve sua esfera de saber limitada. Isso aconteceu por dois motivos principais:
1. O filósofo alemão Immanuel Kant, no final do século XVIII, negou que a razão tivesse a onisciência que a Filosofia pretendia lhe atribuir desde o seu surgimento. Afirmou que só conhecemos as coisas tais como são organizadas pela estrutura interna e universal de nossa razão, mas nunca saberemos se tal organização corresponde ou não à organização da própria realidade. A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento e uma ética, deixando de ser conhecimento do mundo e tornando-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.
2. O filósofo Auguste Comte, em meados do século XIX, com seu positivismo, separou a Filosofia das ciências positivas (matemática, física, química, biologia, astronomia, sociologia). Enquanto as ciências, segundo Comte, são propriamente conhecimento, pois estudam a realidade natural, social, psicológica e moral; a Filosofia é a apenas uma análise e interpretação dos procedimentos e metodologias usadas pelas ciências e uma avaliação dos resultados científicos. A Filosofia tornou-se, assim, uma teoria das ciências ou epistemologia.
A esfera do saber filosófico, portanto, ficou reduzida a três disciplinas: teoria do conhecimento, ética e epistemologia. Adicionou-se no início do século XX a História da Filosofia e em meados do mesmo século a filosofia política e a filosofia da História e outros, devido a fatores históricos, políticos e acadêmicos.
Campos Atuais da Filosofia. Podemos dizer que os campos próprios da Filosofia atualmente são:
Ontologia ou metafísica. Conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres. Estuda a essência das coisas.
Lógica.
Conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro. Estuda as leis do raciocínio.
Epistemologia. Análise crítica das ciências bem como a avaliação dos seus métodos e resultados.
Teoria do Conhecimento. Estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano.
Ética. Estudo dos valores morais. Estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade.
Filosofia Política. Estudo sobre a natureza do poder e da autoridade.
Filosofia da História. Estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como existência sócio-política e cultural.
Filosofia da Arte ou Estética. Estudo que determina o caráter do belo bem como as condições e efeitos da produção artística.
Filosofia da Linguagem. Estudo da linguagem como manifestação da humanidade do homem.
10. História da Filosofia. Estudo dos diferentes períodos da Filosofia.
Capítulo VI
A RAZÃO
1. Os Vários Sentidos da Palavra Razão
Já dissemos nos capítulos precedentes que a Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade. Às vezes confia na razão e outras vezes desconfia dela. Precisamos agora definir razão.
Em nosso dia-a-dia usamos a palavra razão em muitos sentidos. Pode significar (1) causa justificativa de algo: “Despediram-me sem razão”; (2) sanidade mental: “Ele perdeu a razão depois que a mulher foi embora”; (3) causa ou motivo: “qual a razão da desconfiança?”; (4) direito: “a razão impõe severa pena”.
Definição. No sentido filosófico, porém, razão pode ser definida como a faculdade intelectual e cognoscitiva que permite ao homem formular conceitos ou princípios universais, por meio de idéias, reflexão e juízo.
Razão versus Emoção. É bastante conhecida a frase de Pascal, filósofo francês do séc. XVII: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Nesta frase, os termos razões e razão não apresentam o mesmo sentido. Razões são os motivos do coração: os sentimentos e as paixões são causas de muito do que pensamos, queremos, falamos e fazemos. Razão é a consciência intelectual. É como se o pensador francês dissesse: “Nossa vida emocional possui motivos (paixões ou sentimentos) bastante diferentes de nossa atividade consciente intelectual e moral”. A razão é a consciência moral que observa as paixões, orienta a vontade e oferece finalidade ética para a ação.
Tipos de Razão. Para muitos filósofos, razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade das próprias coisas. Só conseguimos conhecer a realidade por que ela é racional. Conforme esta postura, fala-se em razão objetiva (a realidade é racional em si mesmo) e em razão subjetiva (a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional.
2. Origem da Palavra Razão
Na cultura ocidental, a palavra razão origina-se de duas fontes: da palavra latina ratio e da palavra grega logos. Ratio vem do verbo reor, que significa “contar, reunir, medir, juntar, calcular”. Logos vem do verbo legein, que quer dizer: “contar, reunir, juntar, calcular”. Apresentam, portanto, sentidos similares.
Que fazemos quando contamos, reunimos, medimos, calculamos? Pensamos de modo ordenado. E que meios usamos para essas ações? Usamos palavras. Daí se depreende que raciocinar significa pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, clareza e nitidez. Desse modo, etimologicamente falando, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se com correção e clareza.
A razão se opõe a quatro outras atitudes mentais:
Ilusão. Engano dos sentidos ou da mente, que faz que se tome uma coisa por outra, que se interprete erroneamente um fato ou uma sensação. Falsa aparência, percepção, concepção ou interpretação.
Emoção. Reações complexas advindas de situações diversas e que se manifestam física e mentalmente sob a forma de alegria, tristeza, medo, raiva etc.; abalo moral; comoção.
Fé. Adesão perfeita do espírito àquilo que considera verdadeiro sem necessidade de prova ou evidência; crença religiosa. Na fé a verdade nos é dada pela revelação divina sem o concurso do intelecto. Distingue-se, portanto, luz natural (razão) e luz sobrenatural (revelação). 
Êxtase. Arrebatamento íntimo no qual o espírito, tomado de pasmo, maravilha e esquecido de si mesmo, mergulha nas profundezas do divino e participa dele, sem qualquer intervenção do intelecto; transe.
3. Os Princípios da Racionalidade
A razão opera seguindo certos princípios ou regras estabelecidas por ela própria e que se acham em harmonia com a própria realidade. Quatro são estes princípios ou leis fundamentais:
Princípio da Identidade. Princípio que afirma: "O que é, é; o que não é, não é". Em termos lógicos, trata da relação entre a qualidade (afirmação ou negação) e o valor de verdade (verdadeira ou falsa) que define uma proposição como tal. A é A, e toda vez que A for mencionado só pode estar-se referindo a A. Uma coisa não pode ser definida como triângulo e eu entender que seja quadrado. O princípio da identidade é a condição para que definamos as coisas e possamos conhece-las a partir de suas definições. 
Princípio da Não-contradição. Também conhecido como princípio da contradição, afirma: "O que é não é o que não é". Em termos lógicos, a negação de uma proposição afirmativa verdadeira será falsa e vice-versa, pois o contrário do falso é o verdadeiro. A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo, não-A. Uma coisa não pode ser redonda e não redonda ao mesmo tempo. A contradição a anularia e destruiria.
Princípio do terceiro excluído. Princípio segundo o qual uma proposição ou é afirmativa ou é negativa, não havendo meio-termo. Ou A é x ou é y, não havendo uma terceira possibilidade. Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates. Este princípio define a decisão de um dilema.
Princípio da razão suficiente. Princípio que afirma que nada acontece sem que haja uma causa ou razão determinante. Também chamado princípio de causalidade. Dado A, necessariamente se dará B. Dado B, necessariamente houve A.
4. Ampliando Nossa Idéia de Razão
A idéia de razão apresentada até aqui e que constitui o ideal de racionalidade criado pela sociedade européia ocidental sofreu profundos abalos desde o início do século XX.
Indeterminação da Natureza. O primeiro abalo veio da Física e atingiu o princípio do terceiro excluído. A óptica descobriu que a luz pode ser explicada tanto por ondas luminosas como por partículas descontínuas. Isso significa que já não era regra racional dizer: “Ou a luz se propaga por ondas contínuas ou se propaga por partículas descontínuas”, como exigiria o princípio do terceiro excluído, mas sim que a luz pode propagar-se tanto de uma maneira como de outra.
A física atômica ou quântica abalou o princípio da razão suficiente, ao descobrir que não podemos saber as razões pelas quais os átomos se movimentam, nem sua velocidade e direção, nem os efeitos que produzirão.
Esses dois problemas levaram à introdução de um novo princípio racional: o princípio da indeterminação. Enquanto o princípio da razão suficiente é válido para os fenômenos macroscópicos, o princípio da indeterminação é válido para os fenômenos em escala hipermicroscópica.
Leis Dependentes da Razão Subjetiva. Outra descoberta científica, que veio abalar o princípio da identidade e da não-contradição, foi a teoria da relatividade. Segundo ela, as leis da natureza não seguem leis universais da razão objetiva, mas dependem da razão subjetiva, já que dependem da posição ocupada pelo observador.
Pluralidade de Enunciados. Um outro problema, que também atingiu os princípios da razão, foi gerado pela lógica. O lógico alemão Frege apresentou o seguinte problema: quando digo “a estrela da manhã é a estrela da tarde” estou caindo em contradição e violando o princípio da identidade. No entanto, a estrela da manhã é Vênus e a estrela
da tarde também é Vênus. Logo, não há contradição. Portanto, para manter a racionalidade, é preciso distinguir em nosso pensamento e linguagem três níveis: (a) o objeto a que nos referimos; (b) os enunciados que empregamos; e (c) o sentido desses enunciados e sua relação com o objeto referido.
Pluralidade e Diferenciação de Culturas. Um último problema foi ocasionado pelo desenvolvimento da antropologia. Percebeu-se que outras culturas possuem concepções bastante diferentes daqueles a que estamos acostumados em questões de pensamento e realidade. Eles não são irracionais ou pré-racionais, mas possuem uma outra razão.
Ideologia e Inconsciente. Aos problemas acima mencionados, devemos acrescentar dois outros. O primeiro deles foi por um não filósofo, Karl Marx, ao introduzir a noção de ideologia; e o segundo, também por um não filósofo, Sigmund Freud, ao introduzir o conceito de inconsciente.
A noção de ideologia veio mostrar que a razão pode ser um instrumento de falsificação da realidade e de produção de ilusões pelas quais uma parte do gênero humano se deixa oprimir pela outra. 
A noção de inconsciente, por sua vez, revelou que a razão não é tão racional como a Filosofia imaginava. Pode ser dirigida e controlada por forças profundas e desconhecidas. O fenômeno do nazismo é um exemplo clássico de razão louca e destrutiva.
Razão Alargada. Fatos como esses — descobertas na física, na lógica, na antropologia, na história e na psicanálise — levaram o filósofo francês Merleau-Ponty a afirmar que uma das tarefas mais importantes da Filosofia contemporânea deveria ser encontrar um novo conceito de razão — a razão alargada — na qual pudessem entrar os princípios da racionalidade definidos por outras culturas e encontrados nas descobertas científicas.
Esse alargamento de conceito é duplamente necessário: (a) previne contra o colonialismo e o etnocentrismo, isto é, contra a visão de que a “nossa” razão e a “nossa” cultura são superiores ou melhores do que as dos outros povos. (b) evita que a razão fracasse por não ser capaz de oferecer para si mesma novos princípios exigidos pelo seu próprio trabalho racional.
Capítulo VII
A ATIVIDADE RACIONAL
1. Atividade Racional e Suas Modalidades
A Filosofia distingue duas grandes modalidades de atividade racional: a intuição (ou razão intuitiva) e o raciocínio (ou razão discursiva).
Definições. A intuição ou razão intuitiva consiste no conhecimento direto, imediato e atual de um objeto na sua realidade individual. Em latim intuitus significa “ver” e no latim tardio intuitione, quer dizer “imagem refletida por um espelho”. A intuição é uma visão clara e imediata do objeto do conhecimento, sem necessidade de provas ou demonstrações para saber que o conhece.
O raciocínio ou razão discursiva consiste no percurso da realidade ou objeto para chegar a conhecê-lo. Ela realiza vários atos de conhecimento, passa por várias etapas sucessivas de aproximação para conseguir apreendê-lo, chegando ao conceito ou definição do objeto.
A Intuição
A intuição é a compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto ou de um fato. Os psicólogos a chamam de insight, “visão interior”. A intuição racional pode ser de três tipos: intuição sensível, intuição racional e intuição emotiva.
Intuição Sensível. A intuição sensível ou empírica (gr. empeiria, “experiência sensorial”) é o conhecimento que temos a todo o momento da vida. Assim, com um só olhar ou ato de visão, captamos a realidade do objeto cromática, táctil, gustativa, olfativa, auditiva de um objeto. A intuição sensível é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensórias do objeto externo: cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimensões e distâncias. É também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais: lembranças, desejos, sentimentos, imagens. A intuição sensível é psicológica. Não capta o objeto em sua universalidade nem a experiência intuitiva é transferível para um outro objeto.
Intuição Racional. A intuição racional, diferentemente da sensível, é universal e necessária. Na intuição sensível vejo a cor amarela e a cor azul; na intuição racional vejo a diferença entre as cores. A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da racionalidade, das relações necessárias entre os seres e entre as idéias, da verdade de uma idéia ou de um ser. Na história da Filosofia, o exemplo mais célebre de intuição intelectual é a conhecida afirmação de Descartes: Cogito ergo sum , isto é, “Penso, logo existo.”
Intuição Emotiva. Também chamada valorativa, é a intuição que, juntamente com o sentido ou significado, capta também seu valor, isto é, seu caráter verdadeiro ou falso, belo ou feio, justo ou injusto etc.
O Raciocínio
Raciocínio é o processo discursivo pelo qual se passa de proposições conhecidas ou assumidas (as premissas) a outra proposição (a conclusão) à qual são atribuídos graus diversos de assentimento. O raciocínio é o conhecimento que exige provas e demonstrações. Não é um ato intelectual, mas vários atos intelectuais encadeados formando um processo de conhecimento. No raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internas e necessárias entre as idéias ou entre os fatos.
Três são as modalidades de raciocínio: dedução, indução e abdução.
Dedução. Raciocínio pelo qual o intelecto, partindo de uma conclusão já estabelecida e caminhando através de proposições dependentes umas das outras, vai da causa para ao efeito, do geral ao particular, do universal ao individual, do princípio às conseqüências. Na dedução, parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais. O fato ou objeto particular é conhecido por inclusão numa teoria geral. Fórmula representativa da dedução:
Indução. Raciocínio pelo qual o intelecto tira de fatos particulares uma conclusão de caráter geral. A indução percorre um caminho exatamente contrário ao da dedução. Fórmula representativa da indução
Abdução. Segundo o filósofo inglês Peirce, além da dedução e da indução, o raciocínio também se realiza numa terceira modalidade de inferência: a abdução. Raciocínio pelo qual o intelecto chega a uma conclusão a partir de uma série de pistas, vestígios, sinais, indícios coletados e sistematizados numa teoria.
De modo geral, afirma-se que a indução e a abdução são procedimentos racionais empregados para a aquisição de conhecimentos, enquanto que a dedução é o procedimento racional empregado para verificação ou comprovação da verdade de um conhecimento já adquirido.
2. Realismo e Idealismo
Vimos anteriormente que muitos filósofos distinguem razão objetiva e razão subjetiva, considerando a Filosofia o encontro e o acordo entre ambas. Os que, evitando conciliação dos dois pontos de vista, buscaram os extremos, geram dois tipos de atitudes filosóficas: realismo e idealismo.
Realismo. Tendência, atitude ou doutrina caracterizada por uma abordagem racional e objetiva da realidade e pelo interesse por temas sociais. Neste sistema, supõe-se conhecer o mundo como realidade objetiva, admitindo o primado do ser, da matéria sobre a consciência.
Idealismo. Tendência, atitude ou doutrina que consiste na interpretação da realidade exterior, objetiva e material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Isso implica na redução do objeto do conhecimento ao sujeito conhecedor. Ou seja, o que se conhece sobre o homem e o mundo é produto de idéias, representações e conceitos elaborados pela consciência humana.
Capítulo VIII
A ORIGEM DA RAZÃO
1. Atividade Racional e Suas Modalidades
De onde vieram os princípios da racionalidade? De onde surgiu a capacidade para intuir e raciocinar? Nascemos com eles? Ou nos foram dados pela educação e pelo costume? Seria uma capacidade inerente ou adquirida?
Durante séculos, a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A primeira ficou
conhecida como inatismo e a segunda, como empirismo. 
2. O Inatismo
O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência idéias inatas, um conhecimento a priori. O inatismo é uma doutrina que se baseia nos ensinos de dois grandes filósofos: Platão na Grécia antiga e Descartes na França moderna.
Inatismo Platônico. Para Platão, já nascemos com a razão, e a Filosofia nada mais faz senão relembrar-nos. Conhecer é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão adormecia.
Inatismo Cartesiano. Para Descartes, três são os tipos de idéia em nosso intelecto quanto à origem: 
(a) Idéias adventícias (vindas de fora), originam-se de nossas sensações, percepções e lembranças: cavalo, pássaro, árvore.
(b) Idéias fictícias: criamos em nossa fantasia e imaginação: cavalo alado, fadas, elfos, duendes.
(c) Idéias inatas: já nascem conosco: a idéia de infinito, as idéias matemáticas etc. Essas idéias são, para Descartes, “a assinatura do Criador” no espírito das criaturas racionais.
Problemas do Inatismo. Os dois grandes problemas do inatismo são: (a) a própria razão pode mudar o conteúdo de idéias que eram consideradas universais e verdadeiras; (b) a própria razão pode provar que idéias racionais também podem ser falsas.
3. O Empirismo
Empirismo é o nome genérico das doutrinas filosóficas em que o conhecimento é visto principalmente como resultado da experiência sensível. Nega a possibilidade de idéias espontâneas ou pensamentos a priori e limita o conhecimento à vivência, só aceitando verdades que possam ser comprovadas pelos sentidos. Fundamenta-se nos ensinos dos empiristas ingleses. 
Empiristas Ingleses. Embora na história da Filosofia muitos tenham sido os filósofos que defenderam a tese empirista, os mais famosos e conhecidos são os pensadores ingleses dos séculos XVI a XVIII, chamados, por isso, de empiristas ingleses: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume. Na verdade, o empirismo é característica marcante da filosofia inglesa. Já na Idade Média, filósofos importantes como Roger Bacon e Guilherme de Ockham eram empiristas; em nossos dias, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein também o foram.
Que ensinam os empiristas? Que, antes de ter qualquer experiência, nossa mente é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”, onde nada foi gravado. Nossos conhecimentos começam a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. As sensações se reúnem para formar a percepção. As percepções, por sua vez, se combinam ou se associam por semelhança, proximidade ou contigüidade espacial. Essas idéias, formadas pela experiência (sensação, percepção e associação) são estocadas na memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos.
Problemas do Empirismo. Há no empirismo um grande e insolúvel problema: Se as ciências são apenas hábitos psicológicos de associar percepções e idéias, então as ciências não possuem verdade alguma, não explicam a realidade nem possuem objetividade.
Capítulo IX
SOLUÇÕES FILOSÓFICAS PARA OS PROBLEMAS DO INATISMO E DO EMPIRISMO
1. Inatismo e Empirismo: Questões e Respostas
Em resultado do impasse entre o inatismo e o empirismo, surgiu na Filosofia a tendência ao ceticismo quanto ao conhecimento racional. Veremos neste capítulo algumas soluções propostas pela Filosofia para resolver essa questão. 
Os problemas criados pela divergência entre inatistas e empiristas foram resolvidos em dois momentos: na filosofia de Leibniz e na filosofia de Kant.
2. A Solução de Leibniz no Séc. XVII
Leibniz (1646-1716) estabeleceu uma distinção entre verdades de razão e verdades de fato. As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo algum ser diferente do que é e de como é. Exemplo: Idéias matemáticas. É impossível que um triângulo não tenha três lados ou que 2 + 2 não seja igual a 4. As verdades de razão são inatas. Nascemos com a capacidade racional para elas.
A verdade de fato, ao contrário, são as que dependem da experiência, pois enunciam idéias que são obtidas através da sensação, da percepção e da memória.
3. A Solução de Kant no Séc. XVIII
Immanuel Kant (1724-1804) apresenta uma solução revolucionária aos problemas do inatismo e do empirismo: coloca no centro da discussão não a realidade exterior ou os objetos do conhecimento, mas a própria razão. Sua argumentação é a seguinte: Nascemos com a razão, mas esta, diferentemente do que pensam os inatistas, é uma estrutura vazia, sem conteúdos. A experiência também não é a causa das idéias, mas é a ocasião para que a estrutura da razão seja preenchida com a matéria-prima (sensação, percepção e memória) com qual a razão formulará as idéias.
A estrutura da razão é inata, mas o conteúdo é empírico. Qual a estrutura da razão? (a) estrutura sensorial; (b) estrutura intelectual; e (c) estrutura racional.
4. A Resposta de Hegel
O filósofo alemão Hegel (1770-1831) ofereceu uma solução para o dilema inatismo/empirismo posterior à de Kant. Criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo. A todos endereçou a mesma crítica, qual seja, a de não haverem compreendido o que há de mais fundamental e de mais essencial à razão: a razão é histórica. Não quis dizer com isso que a razão é algo relativo, que muda com o tempo. Também não concordava que não fosse algo intemporal. Para ele, a razão não estava na História; era a História; não estava no tempo; ela era o tempo.
Para Hegel, a razão não era algo vindo de fora: de Deus, no caso dos inatistas; da experiência, no caso dos empiristas. Tanto os inatistas como os empiristas pecavam pelo objetivismo extremo. Também não era algo vindo de dentro, dependente exclusivamente do sujeito do conhecimento, das estruturas da sensibilidade e do entendimento, como o afirmava Kant, que pecou pelo extremo oposto: subjetivismo. 
A razão, dizia Hegel, não é nem exclusivamente razão objetiva (a verdade está nos objetos) nem exclusivamente subjetiva (a razão está no sujeito), é ambas as coisas, e também a harmonia entre o mundo exterior e a consciência, entre o objeto e o sujeito, entre a verdade subjetiva e a verdade objetiva.
Razão Histórica. A razão é dita histórica porque essa harmonia entre o mundo exterior e o interior é uma conquista da razão, conquista que se realiza no tempo. Em cada momento de sua história, a razão produziu uma tese a respeito de si mesma e, logo a seguir, uma tese contrária à primeira. Cada tese e antítese foram momentos necessários para a razão ter maior autoconhecimento. Sem elas, a razão nunca teria chegado a conhecer-se a si mesma. Mas a razão não pode ficar estacionada nessas contradições; precisa ultrapassá-las numa síntese que una as teses contrárias, mostrando onde está a verdade de cada uma delas e conservando essa verdade. Essa é a razão histórica.
Dizer que a razão é histórica pode significar que a razão evolui, progride continuamente no tempo, avança e se torna cada vez melhor; mas também pode significar que muda radicalmente em cada época, sua história é feita de rupturas e descontinuidades. Não há como nem por que comparar as diferentes formas de racionalidade.
5. Empiristas, Kantianos e Hegelianos
Embora Hegel tenha proposto a solução histórica para o problema da origem da razão, nem todos os filósofos aceitaram a solução hegeliana para as dificuldades criadas para a razão com o conflito inatismo/empirismo.
Empiristas, kantianos e hegelianos reformularam muitas de suas teses, revisaram posições, acrescentaram novas idéias, mas não mudaram de postura. Em outras palavras, persistem na Filosofia várias correntes e escolas filosóficas.
Capítulo X
A RAZÃO NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
1. Escola Fenomenológica
Um dos filósofos que não aceitou a solução hegeliana foi Husserl, criador da fenomenologia�, que manteve o inatismo, mas com as contribuições trazidas pelo kantismo. Ou seja, a fenomenologia considera a razão uma estrutura da consciência (como Kant), mas cujos conteúdos
são produzidos por ela mesma, independentemente da experiência (como afirmara Kant). A fenomenologia é uma tentativa de superar a cisão entre racionalismo e empirismo. Consiste no estudo descritivo dos fenômenos, ou seja, das coisas como são percebidas pela consciência. Os fenômenos não podem ser confundidos com as coisas em si mesmas, porque a consciência não percebe os objetos sem projetar sobre eles uma sombra (significado).
 O que chamamos “mundo” ou “realidade”, diz Husserl, não é um conjunto ou sistema de pessoas, animais, vegetais e coisas. O mundo é um conjunto de significações ou de sentidos produzido pela consciência ou razão. Essas significações são pessoais, psicológicas e sociais, mas universais e necessárias. A fenomenologia afasta-se da solução hegeliana por não admitir que as formas e os conteúdos da razão mudem no tempo e com o tempo. Para Husserl, elas se enriquecem e se ampliam no tempo, mas não se transformam por causa do tempo.
2. Escola de Frankfurt
Chama-se Escola de Frankfurt o movimento filosófico e sociológico fundado em 1923 e associado ao Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Frankfurt.
 Afastando-se da fenomenologia, os filósofos que criaram a chamada Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica adotam a solução hegeliana, mas com uma modificação fundamental. Os representantes dessa escola, como Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Max Horkheimer, por serem de inspiração marxista, recusam a idéia hegeliana de que a História é obra da própria razão. Para eles, pensamento teórico não é completamente independente das forças sociais e econômicas. Ao contrário, as transformações históricas da razão são condicionadas ou determinadas pelas condições sociais, econômicas e políticas. Não é a razão que determina a sociedade (como julgara Hegel), mas a sociedade e suas mudanças quem determina a razão.
Os pensadores da Teoria Crítica consideram existir duas modalidades de razão: (a) a razão instrumental ou técnico-científica, que está a serviço da exploração e da dominação, da opressão e da violência; e (b) a razão crítica ou filosófica, que reflete sobre as contradições e os conflitos sociais e políticos e se apresenta como uma força libertadora.
3. Escola Estruturalista
Nos anos 1960 desenvolveu-se, sobretudo na França, uma corrente científica (iniciada na lingüística e na antropologia social), oposta ao historicismo, chamada estruturalismo. Os estruturalistas partem do princípio de que há estruturas profundas comuns a várias culturas, que precisam ser investigadas, independentemente dos fatores históricos. Para eles, o que importa realmente não é a mudança ou a transformação de uma realidade, mas a estrutura ou a forma que ela tem no presente.
A principal característica do estruturalismo filosófico é a descontinuidade temporal da razão. Os estruturalistas concordam que a razão é histórica (como o afirmara Hegel), mas essa história não é cumulativa, evolutiva, progressiva e contínua. Pelo contrário, é descontínua, se realiza por saltos e cada estrutura nova da razão possui um sentido próprio, válido apenas para ela. Uma teoria ou prática é nova justamente quando rompe as concepções anteriores. Em cada fase da história, a razão cria modelos ou paradigmas explicativos para os fenômenos. A razão não é um processo linear.
4. A Permanência da Razão
Diante das concepções descontinuístas da razão, surgem duas indagações:
(a) Se, em cada época, por motivos históricos e teóricos determinados, a razão muda inteiramente, o que queremos dizer quando continuamos a empregar a palavra razão? 
(b) Se, em cada ciência, cada filosofia, cada teoria, cada expressão do pensamento, nada há em comum com as anteriores e posteriores, por que dizemos que algumas são racionais e outras não? A razão não seria, afinal, um mito que nossa cultura inventou para si mesma? 
Noutras palavras, as concepções contemporâneas da razão são tão radicais que chegamos a questionar o sentido de continuar falando em razão. Apesar de tudo, existem respostas que fortalecem a permanência da razão.
Respondendo à primeira pergunta, diremos que, apesar de haver muitas e diferentes razões, conservamos uma idéia essencial à noção ocidental de razão. Que idéia é essa? A idéia de que a realidade (natural, social, cultural, histórica) tem sentido e esse sentido pode ser conhecido, mesmo que isso implique modificar a noção de razão e alargá-la.
Quanto à segunda pergunta, podemos dizer que a razão permanece porque a própria razão exige que seu trabalho de conhecimento seja julgado por ela mesma, e que, para esse julgamento da racionalidade dos conhecimentos e das ações, a razão oferece dois critérios principais:
o critério lógico da coerência interna de um pensamento ou teoria, isto é, a avaliação da compatibilidade e da incompatibilidade entre os princípios, conceitos, definições e procedimentos empregados e as conclusões ou resultados obtidos;
o critério ético-político do papel da razão e do conhecimento para a compreensão das condições em que vivem os seres humanos e para sua manutenção, melhoria ou transformação.
5. Razão e Realidade
Os dois critérios acima mencionados — a coerência interna de um pensamento ou teoria e o potencial crítico-transformador dos conhecimentos — também nos ajudam a perceber quando a razão vira mito e deixa de ser razão.
Analisemos como exemplo as teorias defensoras do racismo, aparentemente científicas ou racionais. Valendo-se de princípios, conceitos e procedimentos racionais, pretendem provar que:
existem raças;
as raças são biológica e geneticamente diferentes;
existem raças atrasadas e adiantadas, inferiores e superiores;
as raças atrasadas e inferiores não são capazes de desenvolvimento intelectual e estão naturalmente destinadas ao trabalho manual;
as raças adiantadas e superiores são capazes de progresso intelectual e estão naturalmente destinadas a dominar o planeta;
para cumprir seu destino, as raças adiantadas e superiores têm o direito de exterminar as raças atrasadas e inferiores;
para o bem das raças inferiores e superiores, deve haver segregação racial, pois a não-segregação faria as inferiores arrastarem as superiores para seu baixo nível ou as superiores tentarem inutilmente melhorar o nível das inferiores.
Esse, no entanto, é um raciocínio sofistíco. A palavra raça está sendo manipulada aqui para legitimar a exploração e a dominação de um grupo social sobre outro e para transformar as diferenças biológicas e culturais em justificativas para discriminações e exclusões. Também são falsos os conceitos de atraso e adiantamento, superioridade e inferioridade dos grupos humanos. A psicologia tem provado que as capacidades mentais são iguais a todos, ainda que se manifestem de modo diferenciado por fatores diversos.
Extremos Perigosos. Teremos sempre que enfrentar dois perigos ante a razão, e que na verdade representam dois extremos: tomar a razão apenas do prisma de suas dificuldades e cair no ceticismo, isto é, a atitude de quem nega à razão qualquer possibilidade de conhecimento verdadeiro; ou tomar a razão apenas da perspectiva de suas facilidades e cair no dogmatismo, isto é, a posição dos que afirma a capacidade humana de atingir a verdade absoluta e indiscutível. O caminho da sabedoria é sempre o equilíbrio, sempre o meio-termo.�
Capítulo XI
ONTOLOGIA
Ao afirmar a necessidade de uma ciência que estudasse o ser enquanto ser, voltada para os primeiros princípios e as causas mais elevadas, Aristóteles distinguiu-a como filosofia primeira e deu, assim, o primeiro passo para o advento da reflexão ontológica, dois mil anos antes da entrada do termo "ontologia" no vocabulário filosófico.
Definição. Ontologia (do grego ontos, "ser", "ente"; e logos, "saber", "doutrina") é, em sentido estrito, o "estudo do ser" e, desse modo, pode equivaler à metafísica. Uma vez que esta, com o tempo, passou a incluir outros tipos de pesquisa e reflexão (cosmológicos e psicológicos por exemplo), desde o

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