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RESENHA DO ARTIGO AFETAR E SENSIBILIZAR NA EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA TRANSDISCIPLINAR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÂNIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
PROFª DRª SOLANGE M. DE OLIVEIRA MAGALHÃES
ALUNO: EUVANE GUARNIERE E SILVA
2017 - 02
RESENHA DO ARTIGO AFETAR E SENSIBILIZAR NA EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA TRANSDISCIPLINAR
	“ Podemos olhar as coisas de forma diferente no contexto educativo?” (...) “ É possível percorrer novos caminhos que nos revelam o que há de bom nas (inter)relações entre o conhecer a vida? ” (Magalhães, 2011). Com estas duas questões Solange M. O. Magalhães inicia seu artigo - Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta transdisciplinar. 
	A autora utiliza a metáfora do voo da borboleta ao processo de ensino-aprendizagem, interrogando e discutindo a possibilidade de um processo formativo diferente do atual. Que fosse mais livre, leve, despretensioso, delicado, sensível, em oposição ao paradigma linear, hierarquizado, onde as disciplinas são fragmentadas e isoladas, não se pensando a afetividade e a sensibilidade. Citando Freire (1996) um “educar fascinante, comovente” (...) que possibilite “admirarmos e celebrarmos a vida; notar sua beleza, sua complexidade e, através da valorização da afetividade e da sensibilidade humana, mas não exclusivamente por meio delas, perceber que vivemos numa realidade totalmente interconectada, sinergética, sincrônica, portanto viva e ativa.” Para ele (Freire, 1996)” ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria” (...) “a educação deve ser ética e estética.” Ela reflete que a realidade social que vivemos e o modo como a transformaram – ou não, ligam-se invariavelmente a educação e sabendo desta realidade os professores(as) querem transformá-la. Eles podem afetar e influenciar a forma com que vivemos. Porém, mesmo reconhecendo isto, as professoras (os) trabalham com uma formação disciplinar, que dociliza e conforma o corpo, dificultando possibilidades para o trabalho afetivo e sensível. Citando Araújo (2009), desqualificar e patologizar a afetividade e sensibilidade, (faz com que) a educação deixa de auxiliar o sujeito, como mediadora. Proclamando uma razão isolada e desvinculada do afetivo, sensível, incidindo em processos reducionistas, que impedem o interesse, o entusiasmo e a paixão. 
	Citando Bathers (2005), “ o professor que estabelece a conjunção amorosa é capaz de promover momentos inspiradores que promovem o prazer de aprender, a magia de inspirar mudanças, refletir, reescrever, criar, partilhar, o que nas palavras de Assmann (1998) acaba indicando que o professor possui a capacidade de reencantar a educação.” Além da ênfase nos processos cognitivos a educação deve dar ênfase também ao afetivo, que acaba determinando a qualidade das aprendizagens dos sujeitos. Até porque, as obras e autores, e autoras escolhidos (as) pelo(a) professor (a) também implica sentimentos. Destaca, (Magalhães, 2011) “ o trabalho pedagógico implica, necessariamente, uma interação entre pessoas, com sentimentos, afetos e sensibilidades.” Então, no processo ensino-aprendizagem, práticas permeadas por sentimentos de acolhimento, simpatia, cooperação, solidariedade, respeito e apreciação, compreensão, aceitação e valorização do outro marcam profundamente o aluno(a) e a forma com que ele(a) se relaciona com o objeto de conhecimento e sujeitos-sujeitos.
Afetar, afeição, do latim affectio, significa simpatia, disposição, estima, é a maneira de ser. Na filosofia, sentimento terno, ligado ao verbo afetar, por sua vez, significa exercer uma ação sobre uma coisa ou sobre alguém. Na psicologia, designa estado de sensibilidade. Na literatura o termo afetividade, emoção, afeto, são sentimentos evidenciados nas vivências dos indivíduos, referindo-se a capacidade, disposição do ser humano em ser afetado pelo mundo externo e interno por sensações ligadas ao corpo, que podem ser agradáveis ou desagradáveis. “ Afetividade tem sido utilizada com uma significação mais ampla, referindo-se às vivências dos indivíduos e ás formas de expressão mais complexas e essencialmente humanas” (Leite; Tassoni, 2010)
	Citando a Teoria das Emoções de Henri Wallon, as emoções são a exteriorização da afetividade, um “ comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio.” Através das emoções torna-se possível as relações sociais, sendo um instrumento de sociabilidade ( Wallon, 1995). Já o sentimento, corresponde a expressão representacional da afetividade, explica Solange Magalhães citando Mahoney e Almeida (2005). Sinaliza (Magalhães, 2011) que “os fenômenos afetivos são de natureza subjetiva, mas isso não os torna independente da ação do meio cultural, ao contrário, está diretamente relacionado com a qualidade das interações entre os sujeitos enquanto experiências vivenciadas.”. 
Citando, Fernandez (1991), Dantas (1992), Snyders (1993), Freire (1996) e Codo e Gazzoti (1999), Magalhães (2011) pontua, no campo da educação todos (as) se manifestam em defesa do afeto, reconhecendo sua indispensabilidade e relação no processo ensino-aprendizagem. Vygotsky (1998) em sua psicogênese articulou o biológico e o social na sua base explicativa das emoções dizendo que, as emoções primitivas evoluem para um plano superior, que seriam o simbólico, o da significação e do sentido. Articulando o biológico e o social como o anterior, Wallon (1971) diz que a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos, segundo ele “ afetividade e a inteligência constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas têm funções bem definidas e, quando integradas, permitem ao sujeito atingir níveis de evolução cada vez mais elevados” ( Wallon, 1971, p.51), assumindo assim para Magalhães ( 2011, grifo nosso) se faz importante que “a forma afetividade facilitadora” que “se expressa no processo ensino-aprendizagem também exige a existência, a colocação de limites” que facilitam e garante o bem-estar de todos envolvidos. Enfatiza, “ limites também são uma expressão da afetividade”. 
1- Segundo Nicolescu (2001), o prefixo trans de transdisciplinaridade indica o que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através delas e além de qualquer uma delas, dando uma ideia de transcendência e de inter-relações no mundo e na vida. A transdisciplinaridade está relacionada ao mundo acadêmico, pois se preocupa com aquela parte do mundo real que trata do conhecimento, de sua organização em disciplinas, das superposições e espaços vazios entre elas. 
Segundo a autora o desafio deve ser tomado na lógica complexa da transdiciplinariedade¹, que para ela “pressupõe um sujeito que aceita as intensidades dos seus sentires; entende que a sensibilidade e a afetividade são forças que movem, comovem, desconcertam e inquietam inclusive a própria razão.” Em um novo paradigma, onde a ideia foca no conviver coletivo solidário, cooperativo , respeitoso, permitindo-se a discriminação da autonomia e da dependência entre os sujeitos, que permita uma visão crítica e transformadora, expandindo para uma consciência planetária. Para assim, (Magalhães, 2011, grifo nosso) “possibilitar um olhar afetivo-sensível sobre si mesma, sobre as pessoas, a natureza, a vida”. Citando Morin (2000), “ o educar transdisciplinar, além de abrir possibilidades de visões plurais a respeito de um fenômeno ou conceito” (...), “(re)cria espaços de afetividade, de amor, de sensibilidade, possibilitando práxis pedagógica que se configura na arte de aprender”. 
Magalhães (2011), acordando com Araújo (2009) segue dizendo que “para a complexidade e a transdiciplinariedade, o desenvolvimento da sensibilidade é proposto como dimensão originária e matricial, como matriz geradora do entendimento da condição humana” . Citando a proposta de Pineau(1999) , a “auto-eco-heteroeducação” viabilizam o encontro da vida com o amor o que torna possível a consciência amorosa. Para Morin (2002), é a capacidade de auto-organizar-se, transcender; promover o cuidado a ecofraternização, que, com ênfase no afetar e no sensibilizar humanos, possibilitam
a constituição de uma razão-afetivo-sensível. Sintetizando Morin, explica Solange Magalhães, “ esta consciência só se faz possível se o amor for compreendido como princípio educativo”. 
No seu artigo, Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta transdisciplinar. Solange Magalhães dialogando com os autores empreendeu “uma pesquisa com 45 estudantes da disciplina Sociedade, Cultura e Infância do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás no segundo semestre em 2009. Utilizando a perspectiva qualitativa de pesquisa e os princípios do estudo de caso. Recobrindo o campo transdiciplinar atualmente, sendo multiparadigmática, explica. “ A abordagem qualitativa permite análises contextualizadas dos fenômenos da realidade social, do conhecimento e do ser humana em sua totalidade (Souza; Magalhães; Guimarães, 2009a; 2009b; 2010). Para a autora, citando Triviños (1987, p, 133) “ é uma categoria de pesquisa cujo objeto de estudo é uma unidade que se analisa aprofundadamente”. Evidenciando a técnica da triangulação, máxima descrição, explicação e compreensão do foco em estudo. Averiguando as percepções do sujeito, mediante, entrevistas, questionários, comportamento, observações livres, documentos produzidos, especificações de sistemas, projetos etc. (Bogdan; Biklen, 1994)
Neste processo de ensino-aprendizagem pautado na transdiciplinariedade o conteúdo programático foi pautado no Plano Nacional de Direitos Humanos - PNEDH (Brasil, 2008), conforme Candau (1995). Segundo a autora, além de frutífera a discussão acerca dos direitos humanos e o PNEDH, “a disciplina abordou temas relacionados a sociedade, à educação, sua historicidade, bem como aos temas de Educação em Direitos Humanos (EDH), Plano Nacional de Educação em Direitos humanos (PNEDH, 2008), suas possibilidades transformadoras do contexto educacional.” (SOLANGE, 2011). Neste processo salienta Magalhães (2011), a didática pautada na transdiciplinaridade “implica uma dinâmica aberta, fundada na solidariedade, no diálogo, no sensível questionamento constante e nas reflexões sobre as ações desenvolvidas no/com/fora do grupo.” Em sua experiência relata Solange Magalhães, “ a atividade proposta pautou-se na leitura e análise de textos retirados do livro Educar para a conexão (Silva, 2004). Onde educandos foram orientados a realizar: leitura, análise e discussão em grupos do texto carta 23, encontrados nos muros de um campo de concentração na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial. Utilizando as palavras do autor Magalhães recita, “ ela foi escrita por alguém que sofreu com a falta de conexão entre os seres humanos. Utilizando-se a perspectiva transdisciplinar a autora e professora, utilizou como metodologia proposta por Candau (1995), oficinas pedagógicas, segundo Magalhães (2011), “maximizam a aprendizagem com atividades que mobilizam, conjuntamente, as dimensões mentais, emocionais, sensíveis e corporais, tecendo relações tanto horizontais como verticais do conhecimento”. Cada grupo relata Magalhães (2011), “ optou por uma oficina específica - teatral, musical, cordel, dança, poesia - cada grupo de estudantes esforçou-se para sua realização, envolvendo-se efetiva e afetivamente, tornando o trabalho criativo e prazeroso.” Pressuposto da abordagem transdisciplinar, considera que vários tipos de inteligências, hábitos, comportamentos, dificuldades, valores, normas entre os integrantes, propiciando o desenvolvimento de diversas atividades metodológicas, a fim de atingir o maior número de estudantes, explica Solange Magalhães e acrescenta, “o apoio nas artes, possibilitaram trabalhar as dimensões sensível, afetivo, estético e corporal entre os sujeitos. Após as apresentações das oficinas registrou-se os relatos dos e das envolvidas:
Nunca havia percebido a dor do outro, a oficina de teatro me colocou neste lugar. (...) Talvez as palavras não dêem conta de expressar nossa tristeza e indignação! (Sujeito 4).
[...] Precisamos militar em prol dos direitos humanos sempre. Talvez a Educação em Direitos Humanos ajude em curto prazo a tornarmo-nos seres mais sensíveis e afetivos [...] (Sujeito 45) 
Após a oficina de canto, na qual o meu grupo escolheu a música “vida de gado” do Zé Ramalho, percebo que estamos patinando na vício do ruim, patinando na ideia da possibilidade de uma reconstrução do sistema, mas sempre nos adequamos. Será comodismo? Por que não instituímos o PNEDH? A sociedade não seria melhor? Os sujeitos não seriam mais sensíveis e assim atentos às desigualdades sociais? (Sujeito 3).
Conclui Solange Magalhães em seu estudo de caso qualitativo, a mudança paradigmática nos contextos formativos podem trazer novos rumos a educação, reiterando que, “simples ações como chamar pelo nome, mostrar que as pessoas estão sendo vistas, que têm visibilidade no grupo, que têm voz, pois centrar-se no conviver coletivo solidário e cooperativo implica todas estas atitudes a priori. Esta postura assumida para a autora torna possível a busca de soluções a questões essenciais, como lutar por um ideal integrador e não-excludente e capaz de promover uma transformação profunda nos sujeitos (Magalhães, 2011)”,
Conclui seu artigo dizendo, (Magalhães, 2011) “uma formação preocupada com processos formativos que dêem ênfase ao afetar e ao sensibilizar humanos promove a constituição de uma razão-afetivo-sensível, e com ela o futuro professor e a futura professora poderão: assumir conscientemente a intencionalidade de sua prática com mediação efetiva; procurar conhecer suas possibilidades, limitações, pontos fortes, suas motivações, valores e sentimentos, bem como de seus estudantes, para que a sua ação pedagógica seja sinergética, ou seja, entre pólos que se harmonizam complementar e holisticamente, de forma aberta e contínua”. Para a autora, os professores e professoras terão condições reais e significativas de tomarem decisões no campo pedagógico assumindo o modo aqui explicitado de proceder, para ela, isso significa que o professor(a) estará centrado em si mesmo e no outro, em equilíbrio nas direções para dentro (conhecimento de si) e para fora (conhecimento do mundo), com maiores recursos para controle das emoções e dos sentimentos, e para colaborar na resolução qualitativa dos conflitos. Estabelecendo assim uma razão-afetivo-sensível, integrando a visão de humano, a relação sujeito objeto, e deste com a própria realidade.

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