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Análise Harmônica A famosa ópera Aída, de Verdi, poderia ser apresentada dispensando-se os metais, os instrumentos de sopro, as cordas e a percussão, os barítonos e os sopranos. Para tal bastaria tomar apenas uma coleção completa de diapasões (freqüências) e um método preciso de controlar suas alturas (amplitudes). Essa é uma aplicação acústica do Teorema de Fourier. Certamente, músicos e matemáticos divergiriam quanto a apresentação da ópera, principalmente Verdi e Fourier, mas são inúmeras as aplicações desta técnica, como por exemplo, na identificação de voz em processos criminalistas. Digitalização dos sons e a série de Fourier - uma aplicação "Qualquer movimento vibratório de ar na entrada do ouvido corresponde a um tom musical que pode ser sempre e de maneira única exibido como uma soma de um número infinito de movimentos vibratórios simples, correspondendo aos sons parciais desse tom musical" [1]. Gravações digitais, remasterização de músicas antigas ou mesmo a identificação de uma voz gravada, são problemas cuja solução passa pela representação digital da complexidade desses infinitos movimentos vibratórios, os quais podem ser apresentados graficamente. Ao observarmos o gráfico de um determinado som, vemos que a função f nele desenhada é uma função periódica. Informalmente, o Teorema de Fourier nos diz, que uma função periódica é, uma combinação linear infinita de funções periódicas do tipo cos(kx) e sen(kx), compondo o que chamamos de uma série de Fourier. Podemos assim dizer que a função periódica f, que representa um som, é dada por onde os coeficientes ak e bk , correspondem aos valores de amplitudes e kx as freqüências das vibrações. Portanto, para a identificação do som produzido por f , basta determinar seus coeficientes o que , na prática, não é muito simples. Em primeiro lugar, não é possível calcular os infinitos termos dessa série, o que sugere que só conseguimos encontrar uma aproximação para f. Além disso o som, quando digitalizado, fica representado por um conjunto discreto de valores, os quais são representados por números que têm uma precisão definida pelo computador. Nosso problema resume-se em aproximar um conjunto de pontos discretos, que foram obtidos a partir da função periódica f(x), por uma função que possui um número finito de termos, g(x) = . Uma das maneiras de se obter a função aproximadora é através do método dos mínimos quadrados (MMQ), chamada de aproximação trigonométrica, aproximação de Fourier ou de análise harmônica. Algumas exigências são necessárias para garantir a ortogonalidade das funções 1, cosx, cos2x,..., cos(N-1)x, cosNx, senx, sen2x,..., sen(N-1)x, senNx em relação ao produto escalar (no caso discreto) . A primeira delas é que o período de f deve ser igual a 2 . Caso f(x) esteja definida num intervalo [a, b] qualquer, e portanto, tenha um período T = (b-a) diferente de2 , é necessário fazer a mudança de variável (isso é muito importante e não pode ser esquecido) x = [ (b-a)/ 2 ] t + a , t no intervalo [0, 2 ] assim, trabalhamos com f(x(t)) = F(t). A segunda, é pelo fato de estarmos com o caso discreto, os pontos tabelados devem estar igualmente espaçados em [ 0, 2 ], ou seja, para um inteiro N, , onde j=1,...,2N. Completamos lembrando que dados 2N pontos tabelados, a maior freqüência da aproximação será n, com n < N. Aproximação de Fourier - caso discreto Queremos aproximar a função f, tabelada em 2N pontos equidistantes , que denotaremos por fj , j = 1,...,2N, tal que Vamos determinar a função aproximadora g dada no segundo membro da expressão acima, pelo MMQ. Considerando que nessas condições vale a ortogonalidade para o caso discreto: o sistema normal do MMQ é resolvido imediatamente e os coeficientes da g são dados pelas expressões e para os outros valores de k entre 1 e N, Vamos fazer esses cálculos explicitamente para o caso da função f f = 0.2 + 0.62 cos(x) +4 sen(x) +5.5 sen(2x) + 4.5 cos(3x) representada no gráfico acima, considerando dois casos, no primeiro onde foram tabelados 10 pontos, portanto N = 5 e no segundo N = 2. Caso 1: N = 5 O gráfico mostra os 10 pontos que foram tabelados e utilizados na aproximação. Em vermelho a função f original. Os coeficientes calculados foram: que coincidem com os da função f , para a precisão d = 10 -15 que foram calculados. De fato, o gráfico do erro absoluto (g(t)-f(t)) mostra exatamente isso Caso 2: N = 2 Neste caso temos apenas 4 pontos tabelados. Os coeficientes encontrados foram Observamos que o gráfico do erro absoluto traz valores da ordem da dezena e ao compararmos as duas funções vemos que a aproximação é realmente muito ruim para N = 2: Idealizamos o problema para podermos comparar os resultados da aproximação com os da própria função e é óbvio que, no caso real não será possível fazer isso pois não conhecemos de fato a função f ,mas apenas alguns de seus valores (e com distorsões). O resultado "prático"do teorema de Fourier, é que podemos garantir que quanto maior o número de pontos, mais freqüências poderão ser incorporadas na solução numérica, resultando numa aproximação mais fiel da função original. Aproximação de Fourier - caso contínuo Queremos aproximar a função f, definida num intervalo [a,b]por uma função tal que, Caso b-a não seja igual a 2 , a primeira coisa a fazer é uma mudança de variáveis, pois senão, não teremos a ortogonalidade. Para o caso contínuo, a análise é a mesma feita anteriormente, apenas a definição de produto interno é definida como a integral em um intervalo de tamanho 2 , não importando o início, ou seja poderia estar definido em [a, a+2 ]. Usualmente a=0 ou a=- . Os produtos internos das funções que compõem a função aproximadora: Como a matriz do sistema normal é diagonal, os coeficientes que definem a combinação linear das gk's são dados por Observe que o cálculo dos ak's e dos bk's envolvem o cálculo de uma integral, a qual nem sempre é facilmente calculada. Métodos numéricos para calcular integrais serão em breve estudados e deverão ser implementados para resolver estas integrais. Por enquanto, utilizem seus conhecimentos do Cálculo I para resolvê-las. Exercícios (I) Considere a função, definida no intervalo [0,4] f = 0.2 + 0.62 cos(x) +4 sen(x) +5.5 sen(2x) + 4.5 cos(3x) 1) faça a análise harmônica até o harmônico de ordem 10 (isto significa que vamos até cos(10x) sen(10x); 2) qual o erro absoluto entre a função f e a aproximadora; 3) repita so exercícios 1 e 2 para a função f(x) = 1, em [0,1[, e nula em [1,2[. (II) Represente a expressão do segundo membro de g(x) = . em função de senos de kx e uma fase, como Sugestão: Defina (III) Qual a vantagem desta última forma de representação? Referências bibliográficas específicas [1] Abdounur, O. J.: 1997, "O pensamento analógico na construção/reconstrução de significados: um estudo no âmbito das relações entre a Matemática e a Música", tese de Doutorado, Faculdade de Educação, USP. [2] Davis, P.J., Hersh, R.: 1985, "A experiência Matemática", ed. Francisco Alves, pag, 289-297. [3] Gerald, C.F., Wheatley, P.O.: 1994, Applied Numerical Analysis, Addison-Wesley Publishing Company, USA. Este texto foi retirado do Coletâneas de Modelos Matemáticos, desenvolvido sob a coordenação das profas. Cristina Cerri e Joyce Bevilacqua, dentro do projeto SIAE/9899.
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