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Fichamentos dos textos da disciplina “Temáticas de Pesquisa”

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Curso de Psicologia
Alexia Moreira Nascimento – RA: C626ED-1
Fichamentos dos textos da disciplina “Temáticas de Pesquisa”
GOIÂNIA
MARÇO 2018
Alexia Moreira Nascimento – RA: C626ED-1
Fichamentos dos textos da disciplina “Temáticas de Pesquisa”
Fichamentos apresentados à disciplina Temáticas de Pesquisa, para obtenção de nota (NP1), da turma PS7B42, na referida disciplina do curso de Psicologia, sob orientação da professora Ms. Alice Canuto, da Universidade Paulista, Campus Flamboyant/Goiânia.
GOIÂNIA
MARÇO 2018
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................4
1. Fichamento do texto “A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus procedimentos” da Maria Aparecida Bicudo.........................................................................5
2. Fichamento do texto “Planejamento de Pesquisa” do Sérgio Vasconcelos de Luna......11
3. Fichamento do texto “Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?” do Hartmut Günther...............................................................................................22
4. Fichamento do livro “Pesquisa social: teoria, método e criatividade” da Maria Cecília Minayo........................................................................................................................................26
APRESENTAÇÃO
Neste trabalho são apresentados quatro fichamentos para a disciplina “Temáticas de Pesquisa”, sob orientação da Profa. Ms. Alice Canuto. 
Os fichamentos são a prática da documentação, isto é, da organização de determinados estudos, a partir de diferentes levantamentos como o bibliográfico, conteúdo ou temático e citação. É um tipo de técnica direcionada a contribuição no que se refere à organização de diferentes conhecimentos, é uma pratica de estudos individual, sendo um ponto de partida para os tipos de estudos que podem e/ou deve ser feitos sobre um tema, isso pode ser feito através da identificação de diferentes obras, analise do material, destaques de partes principais das obras, conhecer o conteúdo, compara-lo e ainda se pode anotar as ideias que surge durante a leitura, reter elementos que permitam sua seleção posterior e fácil localização no momento de necessidade. 
A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus procedimentos, Maria Bicudo.
“Toda investigação solicita que se fique atento às concepções concernentes à realidade do investigado” (p. 11) “é um cuidado prévio, a ser assumido pelo investigador, no momento em que vai em direção à explicitação dos procedimentos de investigação” (p. 11) “no cotidiano do mundo da investigação científica, hoje, é premente que sejam expostos os procedimentos de pesquisa, ou sua metodologia, na busca de conferir-lhe graus de confiança. Entendemos que a importância atribuída ao método, embora ele possa ser compreendido como desdobramento de questões epistemológicas, é importante, porém, muitas vezes, apartada de possíveis questionamentos sobre a realidade do investigado” (p. 11 - 12).
	“Indagar sobre a realidade do investigado pode causar, à primeira vista, estranheza, pois a tendência daqueles que se pautam em concepções de conhecimento "pós-modernas" é negar a realidade como existindo em si e passível de ser conceituada positivamente, afirmação com a qual concordamos. Entretanto, ao pensar desse modo e não aprofundar a interrogação sobre o quê se pesquisa, isto é, sobre as características disto que está sob investigação, acaba por enfatizar a produção do conhecimento, destacando os aspectos sociais e históricos que contextualizam processos cognitivos e linguísticos constitutivos dessa produção e, muitas vezes, negando a possibilidade de se falar em realidade. Não queremos levantar um mal-entendido a priori sobre este tema (p. 12)” “na medida em que poderia levar à interpretação de que compreendemos realidade com separa dos processos histórico social, linguístico e cognitivo, o que não é o caso. A realidade mundana, do modo como a compreendemos, mostra-se na teia desses processos os quais são sempre complexos” (p. 12). 
Compreendemos, como exposto em Fenomenologia: confrontos e avanços (Bicudo, 2000), que construção/produção da realidade e construção/produção do conhecimento são faces de um mesmo movimento, o investigador consciente que sempre se pergunta "quais as características do que quero conhecer?" e "como proceder para avançar no conhecimento disso que me proponho a conhecer?" já não satisfazem respostas lineares” (p. 12 e 13) "que se estrutura em termos de antes e depois, de causa e de consequência” (p. 13) “Se seguíssemos essa lógica linear” (p. 13). “acabaríamos por penetrar em um círculo vicioso, confundindo-se o quê e o como” (p. 13). Porém aquelas perguntas se mostram procedentes se assumirmos a complexidade do "ser sendo", ou seja, se concebermos que somos à medida que nos tornamos, fazendo, acontecendo. Isso significa que o que "é" não se deixa aprisionar no instante do seu conhecimento, que não é estático” (p. 13). 
“Essa concepção permite que se fale em construção da realidade e construção do conhecimento dando-se em um movimento de ser e de conhecer. De onde o epistemológico não se separar, do ponto de vista do seu processo de produção, do ontológico. Porém, pode se separar nos desdobramentos da compreensão do produzido, uma vez que este, o produzido, se deixa captar na teia de expressões cujos significados se configuram e iluminam conforme os contextos em que são olhados” (p. 13). “Essas considerações mostram-se pertinentes á metacompreensão da pesquisa em qualquer região do inquérito. Ao particularizar uma região, paradoxalmente, o campo de preocupação se amplia e aprofunda, conduzindo o pensar em direção a complexidades das interrogações de fundo que a habitam” (p. 13 e 14). 
“O tema deste livro é a pesquisa qualitativa, primordialmente aquela efetuada na região de inquérito da Educação e das Ciências Humanas, em geral, ainda que possa também abranger a produção de conhecimento em outras áreas” (p. 14) “Já de imediato chamamos a atenção do leitor para o significado de qualitativo, adjetivo que modifica a modalidade de pesquisa. No cotidiano acadêmico costuma-se opor pesquisa qualitativa à pesquisa quantitava” (p. 14) “O qualitativo da pesquisa informa que se está buscando trabalhar com qualidades dos dados à espera de análise” (p. 14) “Visando não se perder no emaranhado do qualitativo/quantitativo, Roth afirma que "seria muito melhor falar a respeito da extensão em que os pesquisadores fazem inferências sobre a generalibilidade ou transferibilidade dos achados da pesquisa para outros contextos. Descrições de contextos e situações específicas não são facilmente generalizáveis ou transferíveis para outros contextos, enquanto resultados de pesquisar estatísticas admitem tais generalizações com maior facilidade” (Roth, 2005, p. xxiv)” (p. 14). 
“Ainda que tenhamos clareza da complexidade em que essa questão se enreda, diremos pesquisa qualitativa” (p.14) “É comum que pesquisadores se refiram a essa modalidade de pesquisa, dizendo apenas, em uma generalidade vazia, conforme tal e tal autor/es está é uma pesquisa etnográfica, ou estudo de caso etc., em uma tentativa de informar ao leitor sobre seus procedimentos e de legitimar a pesquisa efetuada” (p. 15) “Entretanto, os títulos citados, que sustentam essa intenção, em sua maioria, fornecem um panorama geral sobre pesquisa qualitativa e sobre algumas modalidades, sem adentrar meandros pelos quais a complexidade da pesquisa fui e muitas vezes se enrosca” (p. 15).
Do significado de pesquisa
“De um modo geral, fala-se sobre como fazer pesquisa, mas não se foca o que é pesquisa (Guba e Licoln, 1985; Bogdan e Bilklen, 1994). Em trabalhos
prévios (Bicudo, 2000, 2004, 2005) demoramo-nos na tentativa de trazer ao leitor significados possíveis de pesquisa qualitativa, abordando a interrogação pelo viés de lógicas que sustentam procedimentos investigativos, conforme a concepção de ciência assumida, e na tentativa de explicar o que o termo "qualidade" indica” (p. 15 e 16)” Generalização e transferibilidade de resultados são ações sustentadas por um raciocínio de inferência passível de ser efetuado a partir de investigação denominada, grosso modo, de quantitativa e cujas análises são efetuadas mediante contagem (que inclui mensuração) e cálculos estatísticos que se abrem às interpretações” (p. 16) “Generalização, no sentido de que um estudo de caso apresentado na investigação efetuada pode ser um representante, entendido no sentido matemático, de todos os casos semelhantes. As transferências entendida no sentido de que ações efetuadas no desenrolar daquela pesquisa específica podem ser efetuadas em outras situações como possibilidade de sucesso de similares” (p. 16 e 17) “O que muda entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa, no que concerne à generalização e à transferibilidade, é a concepção de certeza e a de repetição exata, ainda que probabilística, de ocorrências” (p. 17).
“a qualidade está no âmago da quantidade” (p.17) “no processo de contagem e respectivos modos de expressão, houve uma cisão entre os atos, desdobrados em ideias de unidades, numeração, contagem etc., apresentamos como produtos, levando a uma visão de que a exatidão assim obtida e cálculos possíveis são tão e somente objetivos e exatos. Entretanto, afirmar que a qualidade está no núcleo da quantidade não significa que toda pesquisa pode ser quali-quantitativa concomitantemente, apenas por temos compreendidos essa amarração de sentidos. A pesquisa quantitativa trabalha a partir do momento em que o objeto investigado é assumido pelo investigador como contável/mensurável” (p. 17) “Uma pesquisa quali-quantitativa deveria focar o processo pelo qual a qualidade é reunida e contada. Outro modo de trabalhar quali-quantitativamente seria fazer uma pesquisa qualitativa, visando compreender as características do fenônemo investigado, em temos de interrogação levantada mediante procedimentos que trabalham com contextos e situações específicas” (p. 18)
“A pesquisa quali-quantitativa poderia, ainda, dada uma interrogação, trabalhar com levantamento de aspectos apontados como relevantes pela teoria estudada, tomando-se uma quantidade de sujeitos – amostra – considerada satisfatória segundo a técnica estatística escolhida e com estudos qualitativos para investigar outras perspectivas que se anunciam como relevantes para a mesma interrogação. A pesquisa qualitativa, como o nome já indica, trabalha com qualidade. Qualidade do quê? Do objeto/observado, fenômeno/percebido? Com estas formulações já estamos apontando pares que já anunciam posturas em relação ao modo de tomar um ou outro par de investigações. O par/objeto observado indica uma postura de separação entre sujeito que efetua a observação e objeto observado. É como se a qualidade fosse do objeto e se mostra passível de ser observada. O par fenômeno/percebido indica que a qualidade é percebida, mostrando-se na percepção do sujeito. Há uma doação de aspectos passíveis de serem percebidos em modos próprios de aparecer” (p. 18 e 19) “Não há uma separação entre o percebido e a percepção de quem percebe, uma vez que é exigida uma correlação de sintonia entendi como doação, no sentido de exposição, entre ambos. Nesta perspectiva não se assume uma definição prévia do que será observado na percepção, mas fica-se atento ao que se mostra” (p. 19). 
“Uma vez expressado e comunicado, o percebido do sujeito já não é do sujeito, mas está apresentado (dado) à comunidade, solicitando, então, procedimentos de análise e interpretação. E aqui se abrem bifurcações possíveis resultantes de compreensão e de má compreensão do modo de verem-se os pares fenômeno/percebido e objeto/observado. O par fenômeno/percebido caracteriza a concepção fenomenológica de realidade e de conhecimento e solicita que a descrição e o que expressão sejam analisados e interpretados. Não se tem, a priori, um quadro de categorias de como se deve interpretar o relato, mas há que se ficar atento ao rigor para não se cair prisioneiro do "achismo", pontificando-se sobre o que ali está dito a partir de visões particulares” (p. 19 e 20)
 “Dada à característica de pesquisa qualitativa, o fenômeno investigado é sempre situado/contextualizado. Exploram-se as nuanças dos modos de a qualidade mostrar-se e explicitam compreensões e interpretações. Sendo assim, os dados trabalhados não se permitem generalizar e transferir para outros contextos. Admitem apenas tercerem-se generalidades sustentadas por articulações efetuadas sucessivamente com os sentidos do que está sendo expresso. São pesquisas que permitem compreender as características do fenômeno investigado e que assim procederem dão oportunidade para abrirem-se possibilidades de compreensões possíveis quando a interrogação do fenômeno é dirigida a contextos diferentes daquele em que a investigação foi efetuada. Sustentam raciocínios articuladores importantes para tomada de decisão políticas, educacionais, de pesquisa e aos poucos semeiam regiões de inquérito com análises e interpretações rigorosas.” (p.21).
Aspectos filosóficos a serem considerados
“Até onde compreendemos o significado de pesquisa, que diz de se perquirir sobre o que nos chama atenção que nos causa desconforto e perplexidade, de modo atento e rigoroso, não há um modo correto ou certo de pesquisar-se. Isso significa dizer que não há um padrão de procedimentos. Também não há primazia, a priori, do qualitativo sobre o quantitativo e respectivos procedimentos de análise e de interpretação” (p. 22)
A interrogação 
“Entendemos que o ponto crucial da pesquisa é constituído pela interrogação e seu esclarecimento. Daí fazer sentido perguntarmo-nos constantemente o que a interrogação interroga. O movimento efetuado para dar conta dessa busca auxilia a focar o o quê, contribuindo para que pensemos reflexivamente no como proceder para corresponder ao indagado. A interrogação é diferente da pergunta, que indaga, solicitando esclarecimento e explicitações, do problema, que explicita a pergunta” (p. 22) A interrogação subjaz a essas modalidades e que formular problemas, hipóteses e perguntas são maneiras de assumir perspectivas a partir das quais a interrogação será perseguida (p. 23) “Mesmo para pesquisadores que trabalham com teorias tradicionalmente formuladas e constituídas, ou não tanto, no âmago da qual formulam suas perguntas e hipóteses, há sempre uma interrogação que dirige seus olhares e opções, sustentando-os no movimento de investigação” (p. 24).
Possibilidades de pesquisar-se qualitativamente 
“Conforme as considerações postas no horizonte da visão da realidade e de conhecimento que vem sendo trabalhada e dada ao mundo por pensadores que têm sido denominados fenomenólogos, incluindo seu maior mentor e iniciante, Edmund Husserl” (p.25) “Das décadas de 1980 para o momento atual” (p.25) “há autores cujas trajetórias filosóficas se movimentam no solo das ideias fenomenológicas, avançando em temos de trabalhar com a complexidade mediante a qual nossa realidade mundana se mostra. Para exemplificar, dentre brasileiros citamos Paulo Freire e dentre aqueles oriundos de outros países, Ricoeur e Foucault” (p. 25) “Nosso objetivo não é apresentar uma seleção resumida embora abrangente, de procedimentos de investigação qualitativa, informando sobre suas características e possibilidades, porém, expor procedimentos desenvolvidos, tendo como solo visão de realidade e de conhecimento assumidos pela Fenomenologia, nos contextos da realidade que se mostra no encontro interrogação/interrogado/pesquisador” (p. 25) “Focaremos” (p. 26) “pesquisas cujas interrogações perguntam pelo o quê do fenômeno focado, solicitando procedimentos que entendemos, à luz da literatura
estudada, como evidenciando o estruturante do fenômeno” (p. 26). 
Referência: BICUDO, M. A. (2011). A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus procedimentos. In: 20/03/2018 (Org.). Pesquisa qualitativa segundo a visão fenomenológica. 1ªed.São Paulo:Editora Cortez, pp. 11-28. Disponível em: http://www.mariabicudo.com.br/resources/CAPITULOS_DE_LIVROS/A%20pesquisa%20qualitativa%20olhada%20par%20al%C3%A9m%20dos%20procedimentos.pdf
2. Fichamento Planejamento de pesquisa. Sergio Vasconcelos de Luna. 
“A metodologia é um instrumento poderoso justamente porque representa e apresenta os paradigmas de pesquisa vigentes e aceitos pelos diferentes grupos de pesquisadores, em um dado período de tempo. É ela mesma, um objeto de pesquisa, e grandes pesquisadores têm se dedicado a estudá-la, o que atesta, mais uma vez, a sua importância e seriedade. No entanto, há, ainda, considerável confusão em relação à sua função e utilidade. Uma coisa é empregá-la para preparar o caminho de iniciantes à pesquisa que estão continuamente sendo confrontados com a situação de pesquisa; outra coisa é substituir a prática da pesquisa pela metodologia. Uma coisa é promover, entre os alunos, a discussão teórico metodológica sobre a realidade que eles precisam aprender a representar para poder analisar; outra coisa é substituir o
fazer pesquisa pelo falar sobre pesquisa” (p. 4).
 “Se foi possível, em certo período da história da ciência, estabelecer parâmetros e limites para delimitar o que era pesquisa, de há muito pode-se afirmar que ninguém sairá ileso de tal empreitada” (p. 5) “O sentido da palavra metodologia tem variado ao longo dos anos. Mais importante, tem variado o status atribuído a ela no contexto da pesquisa. Em alguns âmbitos profissionais, metodologia é associada a Estatística, e Demo (1981) sugere que, na América Latina, metodologia se aproxima mais do que se poderia chamar de Filosofia ou Sociologia da Ciência, enquanto que a disciplina instrumental é referida como Métodos e Técnicas. Mais importante, porém, que as conotações que possam ser atribuídas ao termo, foram as transformações que sofreu o seu status dentro do cenário da ciência. De fato, reconhece se, hoje, que a metodologia não tem status próprio, precisando ser definida em um contexto teórico metodológico. O reconhecimento do poder relativo da metodologia tem por trás outra decorrência da evolução do pensamento epistemológico: a substituição da busca da verdade pela tentativa de aumentar o poder explicativo das teorias. Neste contexto, o papel do pesquisador passa a ser o de um intérprete da realidade pesquisada, segundo os instrumentos conferidos pela sua postura teórico epistemológica. Não se espera, hoje, que ele estabeleça a veracidade das suas constatações. Espera se, sim, que ele seja capaz de demonstrar segundo critérios públicos e convincentes que o conhecimento que ele produz é fidedigno e relevante teórica e/ou socialmente” (p. 5).
“Qualquer que seja o referencial teórico ou  a metodologia empregada, uma pesquisa implica o preenchimento dos seguintes requisitos: 1) a formulação de um problema de pesquisa, isto é, de um conjunto de perguntas que se pretende responder, e cujas respostas mostrem se novas e relevantes teórica e/ou socialmente; 2) a determinação das informações necessárias para encaminhar as respostas às perguntas feitas; 3) a seleção das melhores fontes dessas informações; 4) a definição de um conjunto de ações que produzam essas informações; 5) a seleção de um sistema para tratamento dessas informações; 6) o uso de um sistema teórico para interpretação delas; 7) a produção de respostas às perguntas formuladas pelo problema; 8) a indicação do grau de confiabilidade das respostas obtidas 9) Finalmente, a indicação da generalidade dos resultados” (p. 5 e 6).
“Os efeitos da inexistência de um problema de pesquisa (ou de uma pergunta que se queira responder) parecem claros e não dependem de muita discussão. Ele precisa existir, mesmo que sob a folha de uma mera curiosidade, para dirigir o  trabalho de coleta de informações e, posteriormente, para organizá-las” (p. 6) “Os critérios 5 e 6 justificam-se pela noção de "recorte" da realidade, mencionada acima. Respostas a um questionário, transcrições de entrevistas, documentos, registros de observação representam apenas "informações"  à espera de um tratamento que lhes dê um sentido e que permita que a partir delas se produza um conhecimento até então não disponível” (p. 6) 
“A questão da confiabilidade da resposta oferecida pela pesquisa pode, resumidamente, ser colocada da seguinte forma: se a resposta (ou  respostas)  produzida pela pesquisa depende da interpretação das informações geradas pelo procedimento, o pesquisador deve oferecer garantias quanto à sua adequação” (p. 6) “Embutida na questão da fidedignidade, existe outra questão. Uma vez tratadas e analisadas as informações, o pesquisador chega à resposta (ou respostas)  ao seu  problema. Consideradas as circunstâncias em que foi realizada a pesquisa, por que a resposta oferecida é a melhor resposta possível? Por que respostas alternativas puderam ser descartadas?” (p. 6) O último item da sequência por mais abrangente que possa ser, uma pesquisa toma sempre um "pedaço", uma amostra de um fenômeno para estudo; até demonstração em contrário, os resultados a que a pesquisa chega se teórica e metodologicamente corretos têm sua validade restrita às condições sob as quais foi realizada” (p. 6).
“A evolução das matrizes epistemológicas que presidem à pesquisa em educação e as preocupações com os determinantes sociais do fenômeno educacional produziram uma alteração sensível no padrão de pesquisa nos últimos anos. Ocorreu uma imersão mais profunda do pesquisador na situação natural, aumentando, em muito, a relevância dos conhecimentos produzidos. Ao mesmo tempo, aumentou  o compromisso do pesquisador com a transformação da realidade pesquisada” (p. 7) “Ao se realizar  uma pesquisa, espera se que o ponto de partida identifique um problema cuja resposta não se encontre explicitamente na literatura; consequentemente, a resposta obtida ao final da pesquisa constatada a correão metodológica deve ser relevante para a comunidade científica, não apenas por se tratar de urna resposta, mas, principalmente, por se tratar de uma resposta importante de ser obtida. Desta forma, pesquisa é sempre um elo  de ligação  entre o  pesquisador e a comunidade científica, razão  pela qual sua publicidade é elemento  indispensável do processo de produção de conhecimento” (p. 7) “Uma das principais dificuldades com que se defronta quem quer que se disponha a discorrer sobre o processo envolvido no planejamento da pesquisa diz respeito à inevitável peculiaridade de cada projeto (p. 8) De fato, a partir das primeiras decisões tomadas, abre-se um verdadeiro leque de caminhos alternativos a tomar, e o pesquisador deve estar  preparado para, ao mesmo tempo, ser  sensível às alterações que se lhe impõem (seja pela lógica do planejamento, seja pelos resultados que começa a obter) e manter o equilíbrio metodológico” (p.8)
 “Não raramente, um pesquisador iniciará (um)  a pesquisa, fará intervenções na realidade a ser pesquisada e colherá informações com o propósito explícito de localizar um (o) problema de pesquisa ou de detalhar o problema inicialmente formulado. Essas circunstâncias, no entanto, apenas falam a favor da importância do detalhamento do problema de pesquisa como guia para o desenvolvimento futuro desta. Entretanto, com alguma frequência se estabelece uma confusão entre elementos relativos a um problema de pesquisa e o próprio problema, dando-se andamento ao trabalho de pesquisa sem uma clareza suficiente quanto ao que se pretende pesquisar” (p.8) “quanto mais claramente um problema estiver formulado, mais fácil e adequado será o processo de tomada das decisões posteriores, mas deve ficar  claro, porém, que essa clareza não significa que o pesquisador  não decida/prefira/precise reformular
o problema posteriormente. O processo de pesquisa é essencialmente dinâmico”(p. 8) “Um dos recursos úteis no detalhamento do problema de pesquisa é o destrinchar  da formulação inicial, buscando destacar as respostas que o pesquisador gostaria de obter” (p. 8),
“No sentido mais leigo do termo, hipótese significa uma suposição” (p. 9) “quando aplicada à pesquisa, implica conjectura quanto aos possíveis resultados a serem obtidos. Deste ponto de vista, hipóteses são quase inevitáveis, sobretudo para quem é estudioso da área que pesquisa e, com base em análises do conhecimento disponível, acaba "apostando" naquilo que pode surgir como produto final do estudo” (p. 9) “Hipótese sempre teve um significado e uma função bem mais precisos, especialmente no que se refere à pesquisa quantitativa conduzida segundo delineamentos estatísticos” (p. 9) “Durante muitos anos, a primazia quase absoluta da pesquisa quantitativa tornou impensável que se dispensasse o uso de testes estatísticos para encaminhar os resultados da pesquisa. Neste contexto, hipóteses eram derivadas do problema formulado e faziam parte indispensável do projeto e do relatório de pesquisa. Particularmente nas ciências humanas, quando começaram a ser introduzidos novos modelos de pesquisa, a estatística inferencial teve seu  uso drasticamente reduzido e, em decorrência, evidenciou-se a existência de uma confusão  estabelecida entre problema e hipótese. Em síntese, objetivos e hipóteses de pesquisa não se confundem com o problema de pesquisa, mas dependem da prévia formulação dele” (p. 10).
“Há pelo menos dois tipos de relevância a considerar: a teórica e a social. Inúmeros textos têm discutido essa questão” (p.10) “A solução de grandes problemas nas ciências exatas como nas humanas se dá como trabalho de criação coletiva, e em um espaço de tempo  que ultrapassa em muito aquele de um projeto individual de pesquisa” (p.10) “quanto maior a clareza na formulação de um problema mais adequada poderá vir a ser as decisões subsequentes em relação ao projeto. Por outro lado, o detalhamento de um problema de pesquisa é um processo  relativamente aberto e, com alguma frequência, o pesquisador ver-se-á tentado ou  mesmo  instado a alterar a sua formulação em meio à coleta de dados. Portanto, a insistência quanto à clareza da formulação do problema e da sua delimitação visa a obtenção de parâmetros claros para as decisões metodológicas, mas não pode e não deve funcionar  como uma camisa de força que torne . o pesquisador insensível à realidade com que ele se defronta” (p. 11).
“Inúmeros fatores podem comprometer a viabilidade da consecução de um projeto de pesquisa” (p.12) “Lembro que Eco (1977) discute algumas dessas questões de forma impecável, chegando mesmo a assumir um tom irônico e divertido.­ A primeira, e mais empolgante, é exatamente a extensão que se confere ao problema em sua formulação ou, dito de outra forma, que se permite que o problema assuma por não se imporem limites ao formulá-lo” (p. 12) “­ Formular um problema sob a forma de perguntas ajuda a encaminhar o projeto, mas há perguntas e perguntas. Por exemplo, "como a criança aprende?" é uma formulação que está muito longe de permitir o detalhamento de um projeto, assemelhando-se mais a um tema geral, já que não permitem entrever, de imediato, procedimentos que gerem informações passíveis de produzirem respostas. “Como" refere-se a um procedimento? A um processo? De que criança se fala? Aprendendo o quê? Etc. ­ Muitas vezes, a função da pergunta falha por falta de compreensão do nível conceitual do problema formulado” (p. 12)
“certos assuntos demandam grande conhecimento relativo a eles para que se possa produzir mais conhecimento empírico a respeito deles. É preciso que se conheça um determinado assunto por dentro para que se possam criar eventos críticos que levem os entrevistados (por exemplo) a reverem suas posições ou mesmo a se disporem a revelar fatos. Eco (1977) discute, com vários exemplos, a situação do indivíduo que deve fazer uma pesquisa, mas tem um tempo delimitado para isto. A ameaça à viabilidade do projeto começa quando o cronograma de execução não dá conta adequadamente das condições externas à pesquisa, prendendo-se exclusivamente à (suposta ou real)  capacidade de trabalho do pesquisador”.
“informações, em geral, exigem interpretação de ambas as partes: de quem as emite (seja porque a própria natureza da informação implica subjetividade, seja porque o indivíduo pode não ter, de momento, uma formulação verbal como resposta)  e de quem precisa registra-la e/ou  decodificá-la no momento da análise (aqui, de novo, evidenciasse a importância da teoria). Essas distinções podem soar meramente formais, sobretudo se considerarmos que, nos extremos, dificilmente haverá ambiguidade na discriminação entre uma informação tão factual quanto sexo ou idade e uma avaliação tão subjetiva quanto ‘gosto/não gosto’. Mas duas circunstâncias justificam sua consideração: em primeiro lugar, nem sempre a comparação é feita entre extremos (ou nem sempre há o segundo termo para estabelecer-se a comparação); em segundo  e mais importante , não raro uma informação altamente opinativa é tomada como factual” (p. 13)
“a esta altura, qual seja a primeira regra na escolha de fontes de informação: escolha sempre a fonte mais direta possível. A segunda regra é: esteja preparado para assumir, na análise das informações, as implicações da escolha feita. Certos problemas de pesquisa quer pela sua própria natureza, quer pela habilidade do pesquisador na delimitação do  problemas de pesquisa não deixam muita margem de escolha quanto às fontes a serem consultadas” (p.14) “O caso particular dos relatos verbais merece destaque neste item. Estudar um fenômeno por meio de relatos verbais implica selecionar indivíduos que a) detenham a informação; b) sejam capazes de traduzi-las verbalmente (especialmente no caso de informações não factuais); c) e principalmente disponha-se a fazê-lo para o pesquisador. Essas características dos indivíduos selecionados não deveriam constituir meros pressupostos; ao contrário, o pesquisador deve estar preparado para avaliá-las durante a seleção de seus sujeitos” [...] Muito poucas situações justificam a seleção de fontes indiretas, no entanto, seu uso é frequente, e as razões alegadas nem sempre são convincentes” (p. 14).
“Cada procedimento de coleta de informações, pelas suas próprias características, apresenta uma série de vantagens, mas é limitado em vários aspectos. É preciso que o  pesquisador tenha conhecimento das desvantagens e saiba como contorná-las; se isto não for possível, é mais prudente buscar um procedimento alternativo” (p.15) [...] “essas peculiaridades de cada procedimento (já bem mapeadas pela literatura), somam-se outros fatores de consideração decorrentes da situação sob investigação” (p.15). “Ao insistir na explicitação de cada uma das perguntas que nos interessa responder e no detalha mento, para cada uma delas, da melhor fonte para cada conjunto de informações necessárias, estamos tentando explorar ao máximo as condições da pesquisa, de modo que a seleção dos procedimentos seja a mais adequada possível. E, deste ponto de vista, a seleção será mais uma decorrência do que uma escolha” (p.15).
“Uma questão precisa ser reconsiderada: trata-se da insistência no detalhamento do problema de pesquisa [...] Com alguma frequência, um pesquisador pode descobrir que a formulação adequada do seu problema pode depender de algumas informações a serem coletadas preliminarmente: algo semelhante ao que costumava ser feito, no passado, sob o  rótulo de projeto piloto e que, hoje, provavelmente será denominado pesquisa exploratória. Esse procedimento poderá ter a finalidade de "treinar" o pesquisador iniciante à situação concreta que enfrentará durante a pesquisa, mas também poderá ser um recurso de um pesquisador experiente que adentra una área ainda pouco explorada. Pode, ainda, ter o  sentido de um pré-teste de instrumentos ou de determinados procedimentos a serem empregados,
com o objetivo de não "queimar" o trabalho efetivo de pesquisa” (p.15)
“Uma segunda situação exige reconsideração da proposta de detalhamento do problema: trata-se das vertentes metodológicas que defendem que a construção do problema ocorra ao longo e como parte do processo de pesquisa. Meu ponto de vista, porém, não se altera também neste caso, porque, admitindo-se que se trate mesmo de um processo de pesquisa, então ou  a proposta é a de que pesquisador e grupo caminhem juntos no trabalho ­ qualquer que seja o  projeto ­, mas o primeiro responde pelo processo de pesquisa e presta conta dele a seus pares; ou  ele poderá ter um belo, engajado e relevante programa de transformação social, mas ainda não terá chegado  à pesquisa. Evidentemente, não deve ser descartada a hipótese de que um novo paradigma de pesquisa já esteja em vigor, com novos objetivos e diferentes parâmetros. A estes casos, porém, provavelmente não se apliquem as considerações feitas aqui” (p. 16).
“Revendo-se o esquema anexo, pode-se verificar que a etapa seguinte à da seleção dos procedimentos é a de tratamento das informações obtidas. Cada conjunto de perguntas previa informações que foram coletadas pelos procedimentos selecionados” (p.16) “Informações tratadas resultam em dados, e o procedimento para isto é extremamente dependente do referencial teórico do pesquisador, que deve ter condicionado a natureza das perguntas formuladas que, por sua vez, delimitaram o tipo de informação a ser obtido, e assim por diante. Em alguns casos, o tratamento é tão direto que a própria maneira de coletar a informação já produz o dado ou  encaminha facilmente o seu tratamento. Nem sempre (eu  diria, cada vez menos em relação aos problemas de pesquisa atuais)  as coisas encaminham-se tão facilmente. A complexidade dos problemas que vêm sendo propostos, a variedade de informações coletadas, a diversidade de fontes de onde são coletadas acaba produzindo uma verdadeira massa de inforn1ações que exige tratamento diferenciado e para a qual nem sempre está disponível um sistema de tratamento” (p.16)
 “do compromisso do pesquisador com a transparência das transformações efetuadas nas informações. Um grande volume de informações, tratado na ausência de unidades prévias, implica uma quantidade considerável de ambiguidade e de interpretação, o que significa aumentar  sensivelmente a incerteza da análise. Aumenta, nessa mesma proporção, a necessidade de o pesquisador oferecer ao seu  leitor todos os passos que seguiu na transformação do material (procedimento de análise ) e, no mínimo, exemplificar  abundantemente as transforn1ações feitas com o material origil1a1 coletado” (p.17)
“No último item da sequência de passos que caracterizam a pesquisa, a generalidade foi conceituada como possibilidade de expansão das condições em que a pesquisa foi realizada, mantendo-se resultados semelhantes” [...] “Nas abordagens experimentais ou  quasi­experimentais (cf. Campbell e Stanley, 1979), os critérios para avaliar fidedignidade e generalidade são essencialmente estatísticos, o que equivale a dizer que são essencialmente probabilísticos” (p. 17) “Generalidade, dentro desse delineamento de pesquisa, é consequência direta do planejamento, mas é necessário  introduzirem-se alguns elementos novos para esclarecer essa afirmação. O conceito chave em relação à generalidade, dentro de delineamentos estatísticos, é representatividade da amostra em relação à população. Considerando-se os problemas de pesquisa com que nos defrontamos, especialmente na área de Ciências Humanas, seria inviável conceber uma pesquisa com uma população inteira. Habitualmente, o que se faz é extrair desta um grupo de casos ­o que se chama de amostra da população e estudá-lo como se se estivesse estudando a população. É nessa expectativa de considerar válidos para a população os resultados obtidos para a amostra que se coloca em consideração a questão da generalidade. Precisamos aumentar ao máximo as chances de que a amostra contenha os fatores relevantes que estão presentes na população, em relação a um dado fenômeno que queremos estudar: quanto mais próxima a amostra estiver da população nesses aspectos relevantes, maior será a probabilidade de que o que conhecermos dela valha também para a população” (p. 17).
“Quaisquer que sejam os referenciais teóricos metodológicos do  pesquisador, bem como seus compromissos sociais, presume-se que ele inclua, entre seus objetivos para pesquisar, o crescimento do conhecimento e a ampliação do poder  explicativo de sua teoria. Ora, para que isto ocorra é necessário que sua pesquisa vá além da constatação das informações por ele coletadas, que suas conclusões possam superar os limites das condições estudadas; em outras palavras, é preciso que ele possa conferir generalidade aos seus resultados” (p.18) “O risco do acúmulo de informações descritivas não é característico de nenhum esquema metodológico de pesquisa. Ao contrário, durante a vigência estrita dos delineamentos estatísticos para a pesquisa, eram frequentes os estudos em que o autor se contentava com a demonstração de uma hipótese, por exemplo, sem que fosse feito qualquer esforço no sentido de contextualizar os resultados do ponto de vista teórico” (p.19).
A REVISÃO DE LITERATURA COMO PARTE INTEGRANTE DO  PROCESSO DE FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
“uma revisão de literatura é uma peça importante no  trabalho científico e pode, por ela mesma, constituir um trabalho de pesquisa (basta rever os critérios apontados para caracterizar uma pesquisa e garantir que eles sejam atingidos)” (p. 20) “A normatização de como deva ser elaborada uma revisão de literatura é duplamente arriscada. Por um lado, porque há inúmeras razões pelas quais alguém se dispõe a escrevê-las, as quais condicionarão muitas de suas características. Uma revisão de literatura que procure recuperar a evolução de determinados conceitos enfatizará aspectos muitos diferentes daqueles contemplados em um trabalho de revisão que tenha como objetivo, por exemplo, familiarizar o pesquisador  com o que já foi investigado sobre um determinado problema de interesse. Por outro lado  e esta é a questão mais delicada  diferentes pessoas apresentam estilos diversos de organização de material, que se refletem no modo de transmitir o produto, sem necessariamente afetar a sua qualidade” (p.20)
 “Embora cada leitor possa preferir um ou  outro estilo, não há como  discuti-los em termos de certo ou errado. Entretanto, resguardadas as liberdades do autor no que diz respeito a estilo, e respeitados os condicionantes dos objetivos que ele propõe, há que se reconhecer que uma revisão de literatura, como  qualquer trabalho escrito, é uma peça destinada à divulgação, à comunicação e, como tal, está sujeita a um mínimo de critérios e normas” (p. 20). 
“Alguns objetivos da revisão de literatura: O termo "objetivo" foi empregado, aqui, cuidadosa e deliberadamente [...] parece preferível falar em objetivos, já que assim se estabelece um critério  mais facilmente identificável da intenção do autor” (p.20) “Determinação do "estado da arte": O objetivo deste tipo de trabalho é descrever o estado atual de uma dada área de pesquisa: o que já se sabe, quais as principais lacunas, onde se encontram os principais entraves teóricos e/ou metodológicos” (p. 20) “Revisão teórica A expressão "revisão teórica"  está sendo empregada com o intuito de opô-la à revisão de pesquisa empírica” (p. 20) “Revisão de pesquisa empírica: Uma das funções mais importantes desse tipo de revisão é a explicação de como o problema em questão vem sendo pesquisado, especialmente do ponto de vista metodológico” (p.21) “Revisão histórica: Revisões históricas são extremamente importantes, mas, infelizmente, raras. Seu principal objetivo é a recuperação da evolução de um conceito, área, tema, etc. e a inserção dessa evolução dentro de um quadro de referência que explique os fatores determinantes e as implicações das mudanças” (p.21).
“Localização e identificação de material potencialmente relevante: Arquivos.
Bibliotecas contam com fichários com diferentes entradas (autor, assunto, periódicos, teses e dissertações), a Capes (Coordenadoria de Capacitação de Pessoal do Ensino Superior ­ MEC) tem mantido um banco de teses e publicado a relação anual de teses defendidas em qualquer área; o mesmo vem sendo feito, desde 1982, pela Associação Nacional de Pós-graduação em Educação - ANPEd. Neste caso, apenas trabalhos em Educação” (p.21 e 22)” “Referências citadas em artigos já encontrados. Cada pesquisador realiza seu próprio levantamento da literatura e faz referência aos artigos utilizados no trabalho” (p.22) 
“Serviços de levantamento  bibliográfico: Algumas instituições (incluindo universidades estrangeiras)  mantêm um serviço de levantamento bibliográfico” (p.22) Outras alternativas; é possível (embora extremamente improvável) que, após percorrer os caminhos indicados acima, você não consiga encontrar literatura adequada ao seu problema, ou pelo menos uma quantidade de artigos suficiente para uma boa revisão. Neste caso, há pelo menos três caminhos não necessariamente excludentes. 1) Consultas a especialistas na área. Com relação a essa possibilidade, cabe um alerta. Um especialista (que poderia ser seu professor) provavelmente estará mais disponível para uma conversa do tipo "troca de ideias entre pesquisadores" do que para uma conversa do tipo "ajude-me". 2) Analogias. Esta não  é uma boa solução, mas, de qualquer forma, a esta altura, a sua situação  também não  muito boa. 3) Se nada disso foi frutífero e se você continuar decidido a estudar o problema, você estará autorizado a dispensar uma revisão de literatura e a proclamar a inexistência desta” (p.22). 
“Até onde r retroceder no tempo? A menos que se trate de uma revisão  histórica, em que o  critério  deveria ser o momento  de aparecimento  do conceito ou problema que se quer estudar, é quase impossível responder a essa pergunta. É possível, contudo, lançar mão de alguns critérios auxiliares. Frequência de pesquisas na área. Se a literatura for abundante, com publicações regulares, é possível que o material dos últimos 4 ou 5 anos seja suficiente para compor um quadro de referência para o problema. Disponibilidade de artigos de revisão frequentes na área. a. A disponibilidade dessas revisões e o acesso a elas, na área de interesse, reduzem consideravelmente a necessidade de retrocesso no tempo em busca de literatura. As próprias revisões indicarão artigos ou  pesquisas particularmente importantes, de forma que bastará caminhar a partir deles” (p. 22 e 23).
“A melhor maneira de se organizar um texto é, indiscutivelmente, por meio de um planejamento prévio da sequência de tópicos dentro do tema e das informações a serem oferecidas dentro de cada tópico. Ou seja, trata-se de organizar uma sinopse ampliada do texto, antes de ele ser escrito (sempre é possível reformulá-la posteriormente). É fácil discutir pontos que tornam um trabalho inadequado do ponto de vista dos itens aqui analisados [...] “dada à importância de explicar os objetivos da revisão e das vantagens de incluir  "aberturas"  e "fechos"  em cada subdivisão do trabalho. São esses elementos que ajudarão a avaliar a adequação das informações oferecidas. Todavia, tudo isso pode ser feito de forma rotineira, formal e sem funcionalidade” (p.23). 
“Os vários textos citados nas referências discutem. a questão de fontes primárias e secundárias de forma bastante completa” [...] “Uma fonte primária é o texto original” [...] “Há variações no que se aceita como primário, dependendo do objetivo que se tem” (p. 25) “Uma citação de um autor sobre outro autor é indiscutivelmente uma fonte secundária e há poucas circunstâncias que a justifiquem” (p. 25) “É verdade que nosso acesso à bibliografia internacional está aquém do desejável. Da mesma forma, determinados documentos podem ser acessíveis apenas in loco, o que pode dificultar sua leitura. Em condições como estas, um autor pode ser autorizado a recorrer a fontes secundárias. Mas apenas em condições como estas” (p. 25). “Uma citação direta é uma transcrição literal de uma parte de um texto. Em revisões históricas, essa transcrição assume uma função fundamental na medida em que coloca o leitor em contato direto com o texto original, antes de se analisá-lo” (p. 25).
Referência: LUNA, V. S. (1997). Planejamento de pesquisa. (pp. 4-25). São Paulo: EDUC. Disponível em: http://franciscoqueiroz.com.br/portal/phocadownload/MetodologiadaPesquisa/luna%20sv%20planejamento%20de%20pesquisa.pdf 
3. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Hartmut Günther.
“Ao se considerar como objeto de estudo do cientista social a variabilidade do comportamento e dos estados subjetivos, i.é, pensamentos, sentimentos, atitudes, segue-se a pergunta: a que atribuir esta variabilidade? Sob a ótica das ciências sociais empíricas existem três aproximações principais para compreender o comportamento e os estados subjetivos : a) observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; b) criar situações artificiais e observar o comportamento diante das tarefas definidas para essas situações; c) perguntar às pessoas sobre o seu comportamento, o que fazem e fizeram e sobre os seus estados subjetivos [...] Cada uma destas três famílias de métodos de conduzir estudos empíricos – observação de comportamento, experimento e survey – apresentam vantagens e desvantagens distintas (Kish, 1987). As vantagens e desvantagens são ligadas à qualidade dos dados obtidos, às possibilidades da sua obtenção e à maneira de sua utilização e análise.”
“O que une os mais diversos métodos e técnicas de pesquisa incluídos nestas três grandes famílias de abordagem é o fato de todos partirem de perguntas essencialmente qualitativas [...] Assim, usando números, ou não, na tentativa de se chegar de uma pergunta qualitativa a uma resposta qualitativa, qual seria a diferença entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa? Será que se pode argumentar que todo tipo de pesquisa é qualitativa?” “Para organizar as diferenças e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, consideramos: a) características da pesquisa qualitativa; b) postura do pesquisador; c) estratégias de coleta de dados; d) estudo de caso; e) papel do sujeito e f) aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa”.
Características da pesquisa qualitativa
	“Flick, von Kardorff e Steinke (2000), apresentam quatro bases teóricas: a) a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados; b) a ênfase no caráter processual e na reflexão; c) as condições “objetivas”5 de vida tornam-se relevantes por meio de significados subjetivos; d) o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa [...]s, chegamos a cinco grupos de atributos da pesquisa qualitativa: a) características gerais; b) coleta de dados; c) objeto de estudo; d) interpretação dos resultados; e) generalização.”
“A pesquisa é percebida como um ato subjetivo de construção. Os autores afirmam que a descoberta e a construção de teorias são objetos de estudo desta abordagem. Um quarto aspecto geral da pesquisa qualitativa, conforme estes autores, é que apesar da crescente importância de material visual, a pesquisa qualitativa é uma ciência baseada em textos, ou seja, a coleta de dados produz textos que nas diferentes técnicas analíticas são interpretados hermeneuticamente [...] Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) consideram o estudo de caso como o ponto de partida ou elemento essencial da pesquisa qualitativa [...] O princípio da abertura se traduz para Flick e cols. (2000) no fato da pesquisa qualitativa ser caracterizada por um espectro de métodos e técnicas, adaptados ao caso específico, ao invés de um método padronizado único. Ressaltam, assim, que o método deve se adequar ao objeto de estudo”.
“Para Mayring (2002) a ênfase
na totalidade do indivíduo como objeto de estudo é essencial para a pesquisa qualitativa, i.é, o princípio da Gestalt. Além do mais, a concepção do objeto de estudo qualitativo sempre é visto na sua historicidade, no que diz respeito ao processo desenvolvimental do indivíduo e no contexto dentro do qual o indivíduo se formou.” “Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) apontam acontecimentos e conhecimentos cotidianos como elementos da interpretação de dados. Os acontecimentos no âmbito do processo de pesquisa não são desvinculados da vida fora do mesmo. Isto leva, ainda, a contextualidade como fio condutor de qualquer análise em contraste com uma abstração nos resultados para que sejam facilmente generalizáveis. Implica, ainda, num processo de reflexão contínua sobre o seu comportamento enquanto pesquisador e, finalmente, numa interação dinâmica entre este e seu objeto de estudo”.
	“A generalização de resultados da pesquisa qualitativa passa por quatro dimensões. Mayring (2002) introduz o conceito da generalização argumentativa. À medida que os achados na pesquisa qualitativa se apóiem em estudo de caso, estes dependem de uma argumentação explícita apontando quais generalizações seriam factíveis para circunstâncias específicas. No caso da pesquisa quantitativa, uma amostra representativa asseguraria a possibilidade de uma generalização dos resultados. Relaciona-se a isto a ênfase no processo indutivo, partindo de elementos individuais para chegar a hipóteses e generalizações. Entretanto, este processo deve seguir regras, que não são uniformes, mas específicas a cada circunstância. Desta maneira, é de suma importância que as regras sejam explicitadas para permitir uma eventual generalização. Finalmente, Mayring não exclui a quantificação, mas enfatiza que a função importante da abordagem qualitativa é a de permitir uma quantificação com propósito. Desta maneira, poder-se-ia chegar a generalizações mais consubstanciadas.”
	“O contraponto feito entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa é o de estudar um determinado fenômeno no seu contexto natural versus estudá-lo no laboratório. A primeira estratégia – da pesquisa qualitativa – implica em relativa falta de controle de variáveis estranhas ou, ainda, a constatação de que não existem variáveis interferentes e irrelevantes [...] Na segunda estratégia – da pesquisa quantitativa – tenta-se obter um controle máximo sobre o contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais com o objetivo de reduzir ou eliminar a interferência de variáveis interferentes e irrelevantes”. “Abordagens qualitativas, que tendem a serem associadas a estudos de caso, dependem de estudos quantitativos, que visem gerar resultados generalizáveis, i.é, parâmetros. Desta maneira dilui-se a controvérsia entre o estudo de caso, i.é, uma investigação aprofundada de uma instância de algum fenômeno, e o estudo envolvendo um número estatisticamente significativo de instâncias de um mesmo fenômeno, a partir do qual seria possível generalizar para outras instâncias. Além do mais, num estudo de caso é possível utilizar tanto procedimentos qualitativos quanto quantitativos”.
“Existe uma longa controvérsia sobre o valor relativo da natureza da ciência básica versus aplicada. Por alguma razão pouco clara, a posição da primazia da pesquisa aplicada é associada à pesquisa qualitativa e da pesquisa básica à pesquisa quantitativa. O fato de considerar a distinção entre pesquisa aplicada versus básica pouca vantajosa no contexto do avanço do conhecimento, torna uma eventual associação destas duas vertentes a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, respectivamente, ainda menos relevante” “são características da pesquisa qualitativa sua grande flexibilidade e adaptabilidade. Ao invés de utilizar instrumentos e procedimentos padronizados, a pesquisa qualitativa considera cada problema objeto de uma pesquisa específica para a qual são necessários instrumentos e procedimentos específicos. Tal postura requer, portanto, maior cuidado na descrição de todos os passos da pesquisa: a) delineamento, b) coleta de dados, c) transcrição e d) preparação dos mesmos para sua análise específica”.
“Mayring (2002) apresenta seis delineamentos da pesquisa qualitativa: estudo de caso, análise de documentos, pesquisa-ação, pesquisa de campo, experimento qualitativo e avaliação qualitativa [...] a pesquisa-ação independe da técnica, podendo ser utilizada com experimento, observação ou survey. Observa-se, ainda, uma junção entre a pesquisa-ação e a pesquisa participante (vide Brandão, 1985, 1987) [...] A análise de documentos é a variante mais antiga para realizar pesquisa, especialmente no que diz respeito à revisão de literatura [...] A pesquisa de campo é especialmente interessante do ponto de vista do método da pesquisa qualitativa, ao mesmo tempo em que se constitui como exemplo de triangulação, i.é, uma integração de diferentes abordagens e técnicas – qualitativas e quantitativas – num mesmo estudo [...]O fato de qualificar experimento e avaliação com o adjetivo “qualitativo” reforça a constatação de que estes procedimentos, além da interpretação tradicional da pesquisa quantitativa, podem incluir uma abordagem qualitativa”.
“Para o contexto da pesquisa qualitativa, as três maneiras de coleta de dados apontadas por Kish (1987) – observação, experimento e survey – podem ser reagrupadas como coleta de dados visuais e verbais. Diferentes técnicas de coleta de dados visuais e verbais podem ser utilizadas”. Os meios de representação de dados de qualquer pesquisa são intimamente ligados às técnicas de coleta dos mesmos. Isto é mais evidente no caso de escolher meios visuais: o próprio ato de fotografar ou filmar um determinado evento já inclui a “transcrição” de uma ideia em uma representação, no caso visual”.
“Enquanto participante do processo de construção de conhecimento, idealmente, o pesquisador não deveria escolher entre um método ou outro, mas utilizar as várias abordagens, qualitativas e quantitativas que se adequam à sua questão de pesquisa. Do ponto de vista prático existem razões de ordens diversas que podem induzir um pesquisador a escolher uma abordagem, ou outra. Assim como é difícil ser fluente em mais de uma cultura e língua, é igualmente difícil aproximar-se de um tema de pesquisa a partir de paradigmas distintos. Em suma, a questão não é colocar a pesquisa qualitativa versus a pesquisa quantitativa, não é decidir-se pela pesquisa qualitativa ou pela pesquisa quantitativa. A questão tem implicações de natureza prática, empírica e técnica. Considerando os recursos materiais, temporais e pessoais disponíveis para lidar com uma determinada pergunta científica, coloca-se para o pesquisador e para a sua equipe a tarefa de encontrar e usar a abordagem teórico-metodológica que permita, num mínimo de tempo, chegar a um resultado que melhor contribua para a compreensão do fenômeno e para o avanço do bem-estar social”.
Referência: GUNTHER, H. (2006). Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 22, n. 2, pp. 201-210. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a10v22n2.pdf 
4. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Maria Cecília de Souza Minayo.
	
CAPÍTULO 1: O DESAFIO DA PESQUISA
1. Ciência e cientificidade 
“Na sociedade ocidental, no entanto, a ciência é a forma hegemônica de construção da realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito, por sua pretensão de único promotor e critério de verdade. No entanto, continuamos a fazer perguntas e a buscar soluções (p. 10)” “O campo científico apesar de sua normatividade é permeado por conflitos e contradições. Por isso Paul de Bruyne et al. (1995) advogam que a ideia da cientificidade comporta, ao mesmo tempo, um polo de unidade e um polo de diversidade” (p. 10)
“a interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra em várias. A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma ideia reguladora
de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos (p. 11)” “O nível de consciência histórica das Ciências Sociais está referido ao nível de consciência histórica da sociedade de seu tempo, embora essas criações humanas não se confundam. Nas ciências sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto. Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente ideológica” (p. 14) “Por fim, é preciso afirmar que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. As Ciências Sociais possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em sociedade” (p. 15).
2. Conceito de metodologia de pesquisa
“A metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade) (p. 16)” “A metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade. No entanto, nada substitui a criatividade do pesquisador (p. 16)” “Para Kuhn (1978), o progresso da ciência se faz pela quebra dos paradigmas, pela colocação em discussão das teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira revolução (p. 17)” “Kaplan (1972) fala da formulação de conceitos em diferentes níveis de abstração [...] Lembremo-nos do fato de que os conceitos teóricos não são simples jogo de palavras. Como qualquer linguagem, devem ser construídos recuperando as dimensões históricas e até ideológicas de sua elaboração. Cada corrente teórica tem seu próprio acervo de conceitos. Para entendê-los, temos que nos apropriar do contexto em que foram gerados e das posições dos outros autores com quem o pesquisador dialoga ou a quem se opõe” (p.21).
3. Pesquisa Qualitativa
“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (p. 22) “O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia” (p. 22) 
“São apresentadas algumas abordagens metodológicas; ao Positivismo se lhe contesta, sobretudo, a postura e a prática de restringir o conhecimento da realidade social ao que pode ser observado e quantificado e de transferir para a utilização do método a questão da objetividade. Aos adeptos da Sociologia Compreensiva as críticas enfatizam o empirismo e o subjetivismo dos investigadores que confundem o que percebem e a fala que ouvem com a verdade científica e o envolvimento emocional do pesquisador com seu campo de trabalho. A abordagem da Dialética faria um desempate nas correntes colocadas anteriormente. Ela se propõe a abarcar o sistema de relações que constrói, o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que traduzem o mundo dos significados. A Dialética pensa a relação da quantidade como uma das qualidades dos fatos e fenômenos. Busca encontrar, na parte, a compreensão e a relação com o todo; e a interioridade e a exterioridade como constitutivas dos fenômenos. Desta forma, considera que o fenômeno ou processo social tem que ser entendido nas suas determinações e transformações dadas pelos sujeitos” (p. 24 e 25).
4. O Ciclo da Pesquisa
“Diferentemente da arte e da poesia que se concebem na inspiração, a pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular. A esse ritmo denominamos ciclo da pesquisa, ou seja, um processo de trabalho em espiral que começa com um problema ou uma pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas interrogações (p. 26) [...] O processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa divide-se em três etapas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e documental” “Portanto, o ciclo da pesquisa não se fecha, pois toda pesquisa produz conhecimento e gera indagações novas. Mas a ideia do ciclo se solidifica não em etapas estanques, mas em planos que se complementam” (p. 27).
CAPÍTULO 2: O PROJETO DE PESQUISA COMO EXERCÍCIO CIENTÍFICO E ARTESANATO INTELECTUAL
1. Projeto Científico
“Quando tratamos da pesquisa qualitativa, frequentemente as atividades que compõem a fase exploratória, além de antecederem à construção do projeto, também a sucedem. Muitas vezes, por exemplo, é necessária uma aproximação maior com o campo de observação para melhor delinearmos outras questões [...] Então, quando termina a fase exploratória de uma pesquisa? Formalmente, a fase exploratória termina quando o pesquisador definiu seu objeto de pesquisa, construiu o marco teórico conceitual a ser empregado, definiu os instrumentos de coleta de dados, escolheu o espaço e o grupo de pesquisa, definiu a amostragem e estabeleceu estratégias para entrada no campo” (p. 32 e 33).
2. A Construção do projeto
“Quando escrevemos um projeto, estamos mapeando de forma sistemática um conjunto de recortes. Estamos definindo uma cartografia de escolhas para abordar a realidade (o que pesquisar, como, por quê. Esta etapa de reconstrução da realidade, entendida aí enquanto a definição de um objeto de conhecimento científico e as maneiras para investigá-lo, traz em si muitas dimensões. Ao elaborarmos um projeto científico, estaremos lidando, ao mesmo tempo, com pelo menos três dimensões importantes que são interligadas [...] A dimensão técnica trata das regras reconhecidas como científicas para a construção de um projeto” (p. 34) “A dimensão ideo1ógica se relaciona às escolhas do pesquisador. Quando definimos o que pesquisar, a partir de que base teórica e como pesquisar, estamos fazendo escolhas que são, mesmo em última instância, ideológicas (p. 34) A dimensão científica de um projeto de pesquisa articula estas duas dimensões anteriores’ (p. 35
“Fazemos um projeto de pesquisa para mapear um caminho a ser seguido durante investigação. Buscamos, assim, evitar muitos imprevistos no decorrer da pesquisa que poderiam até mesmo inviabilizar sua realização. Outro papel importante é esclarecer para o próprio investigador os rumos do estudo. Ao apresentar um projeto, o pesquisador assume uma responsabilidade pública com a realização do que foi prometido. A pesquisa é uma prática dinâmica, contudo, caso o pesquisador realize alterações, o mesmo, precisará esclarecer e justificar as modificações daquilo que foi preconizado inicialmente.” (p. 35) “O projeto de pesquisa deve, responder as seguintes perguntas: o que pesquisar? (definição do problema, hipóteses, base teórica e conceitual); para que pesquisar? (propósitos de estudo, seus objetivos); por que pesquisar? (justificativa da escolha do problema); como pesquisar? (metodologia); por quanto tempo pesquisar? (cronograma de execução); com que recursos (orçamento); a partir de quais fontes? (citações e referências)” (p. 37 e 38).
CAPÍTULO 3: O TRABALHO DE CAMPO COMO DESCOBERTA E CRIAÇÃO
“Discutindo a importância do trabalho de campo, é necessário ressaltarmos que muitos pesquisadores vêem essa tarefa como algo restrito a determinadas ciências, tais como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e várias outras do campo das ciências sociais e humanas. No entanto, algumas áreas das ciências têm como espaço de realização de uma pesquisa o laboratório do pesquisador. Segundo nosso posicionamento a ideia de laboratório se diferencia
bastante do que vamos tratar sobre trabalho de campo. Em nossa percepção, a relação do pesquisador com os sujeitos a serem estudados é de extrema importância. Isso não significa que as diferentes formas de investigação não sejam fundamentais e necessárias” (p. 52) “Com base em Minayo (1992), concebemos campo de pesquisa como o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação” (p. 53).
“Vários são os obstáculos que podem dificultar ou até mesmo inviabilizar essa etapa da pesquisa. Sobre isso, faremos algumas considerações. Em primeiro lugar, devemos buscar uma aproximação com as pessoas da área selecionada para o estudo. Essa aproximação pode ser facilitada através do conhecimento de moradores ou daqueles que mantêm sólidos laços de intercâmbio com os sujeitos a serem estudados [...] Destacamos como importante a apresentação da proposta de estudo aos grupos envolvidos [...] Outro aspecto por nós destacado se refere à postura do pesquisador em relação à problemática a ser estudada (p.55 e 56) “Entre as diversas formas de abordagem técnica do trabalho de campo, destacamos a entrevista e a observação participante. Por se tratar de importantes componentes da realização da pesquisa qualitativa, tentaremos a seguir sistematizar aspectos relevantes sobre essas técnicas. Esses aspectos que envolvem a coleta de dados qualitativos também podem ser encontrados em Chizzotti (1991). A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva” (p.57). 
“A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem oque há de mais imponderável e evasivo na vida real” (p.61 e 60).
“A plena realização de um trabalho de campo requer, como vimos anteriormente, várias articulações que devem ser estabelecidas pelo investigador. Uma dessas diz respeito à relação entre a fundamentação teórica do objeto a ser pesquisado e o campo que se pretende explorar. A compreensão desse espaço da pesquisa não se resolve apenas por meio de um domínio técnico. É preciso que tenhamos uma base teórica para podermos olhar os dados dentro de um quadro de referências que nos permite ir além do que simplesmente nos está sendo mostrado. Concordamos com Cardoso (1986) sobre a relevância que deve ser dada ao trabalho de campo e sobre o respeito pelo dado empírico” (p. 61) “O trabalho de campo, em síntese, é fruto de um momento relacional e prático: as inquietações que nos levam ao desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo do cotidiano. O que atrai na produção do conhecimento é a existência do desconhecido, é o sentido da novidade e o confronto com o que nos é estranho. Essa produção, por sua vez, requer sucessivas aproximações em direção ao que se quer conhecer. E o pesquisador, ao se empenhar em gerar conhecimentos, não pode reduzir a pesquisa à denúncia, nem substituir os grupos estudados em suas tarefas político-sociais” (p.64).
CAPÍTULO 4: A ANÁLISE DE DADOS EM PESQUISA QUALITATIVA
	“Quando chegamos à fase de análise de dados, podemos pensar que estamos no final da pesquisa. No entanto, podemos estar enganados porque essa fase depende de outras que a precedem. Às vezes, nossos dados não são suficientes para estabelecermos conclusões e, em decorrência disso, devemos retomar à fase de coleta de dados para suplementarmos as informações que nos faltam. Outras vezes, podemos dispor dos dados, mas o problema da pesquisa, os objetivos e as hipóteses e/ou questões não estão claramente definidas. Nesse caso, devemos redefinir esses aspectos da fase exploratória da pesquisa. Também pode acontecer que não tenhamos uma fundamentação teórica bem estruturada e, devido a isso, toma-se necessário reestudarmos os conhecimentos que embasam nossa pesquisa” (p.67 e 68)
	“A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à ideia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões em tomo de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa. As categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratória da pesquisa, ou a partir da coleta de dados. Aquelas estabelecidas antes são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse tipo requer uma fundamentação teórica sólida por parte do pesquisador” (p. 68 e 69) “Nem sempre a tarefa de formular categorias a partir dos dados coletados é simples. Às vezes, essa tarefa pode se transformar numa ação complexa e isso só pode ser ultrapassado com a fundamentação e a experiência do pesquisador. Por outro lado, a articulação das categorias configuradas a partir dos dados com as categorias gerais também requer sucessivos aprofundamentos sobre as relações entre a base teórica do pesquisador e os resultados por ele investigados” (p. 74)
“A técnica de análise de conteúdo, atualmente compreendida muito mais como um conjunto de técnicas, surgiu nos Estados Unidos no início do atual século. Seus primeiros experimentos estavam voltados para a comunicação de massa. Até os anos 50 predominava o aspecto quantitativo da técnica que se traduzia, em geral, pela contagem da frequência da aparição de características nos conteúdos das mensagens veiculadas. Atualmente podemos destacar duas funções na aplicação da técnica. Uma se refere à verificação de hipóteses e/ou questões. Ou seja, através da análise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se complementar e podem ser aplicadas a partir de princípios da pesquisa quantitativa ou da qualitativa” (p. 74 e 75).
Referência: MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 9-50 (capítulos 1 e 2). Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/franciscovargas/files/2012/11/pesquisa-social.pdf

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