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CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula dois Prof. Antonio Nóbrega Olá, amigos. Nossa aula de hoje tratará de temas muito relevantes e constantemente cobrados em prova. Inicialmente serão discutidos tópicos acerca do regime jurídico inaugurado pelo Código de Defesa do Consumidor em relação aos contratos de consumo. Merecem destaque, nesse ponto, o rol de cláusulas abusivas previsto no art. 51 da Lei nº 8.078/90 e as regras relativas aos contratos de adesão. Em seguida, serão debatidas algumas regras referentes ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, às sanções administrativas e aos crimes contra as relações de consumo. Vamos aos estudos! AULA DOIS ROTEIRO DA AULA – TÓPICOS 1) Regime jurídico e principiológico dos contratos de consumo 2) Cláusulas abusivas 3) Contratos de adesão 4) Introdução ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 5) Sanções Administrativas 6) Crimes nas relações de consumo 7) Exercícios 1) Regime jurídico e principiológico dos contratos de consumo CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 2 Em nossa primeira aula traçamos um panorama histórico do desenvolvimento do Direito do Consumidor em nosso País e no mundo. Naquela oportunidade, foi chamada atenção para o fato de que o microssistema jurídico, criado pela Lei nº 8.078/90, tem como um dos principais fundamentos proteger a parte mais vulnerável de uma relação de consumo: o consumidor. Para tanto, o CDC traz em seu corpo normativo dispositivos e princípios que se aplicam de modo vigoroso nas relações de consumo, com vistas a estabelecer o equilíbrio entre as partes. É nos contratos de consumo que a aplicação destas regras ganha destaque. De fato, no regime consumerista foi afastado o modelo anteriormente consagrado pelo liberalismo, em que se buscava, essencialmente, o significado do que era exteriorizado no instrumento contratual. Tal entendimento decorria da teoria geral dos contratos, desenvolvida em sistemas jurídicos permeados por princípios e ideais ligados ao regime capitalista. Sob essa ótica, embora um contrato pudesse trazer ônus excessivos para uma das partes, a atuação do Estado deveria limitar-se à verificação dos termos pactuados com as regras vigentes no ordenamento jurídico, sem que se buscasse um equilíbrio justo entre os contratantes. Nos contratos de consumo, a tutela do Estado deve ter como vetor de atuação a equivalência material entre as prestações ajustadas. E a boa-fé objetiva, como regra de conduta e fonte de interpretação, constitui um relevante instrumento para que os objetivos do contrato sejam alcançados por ambas as partes. É evidente que a vontade dos contratantes ainda representa papel relevante dentro deste cenário. Tal vontade, entretanto, deve preservar a harmonia entre padrões mínimos de razoabilidade e as regras insculpidas no CDC, de modo que haja um equilíbrio entre as prestações devidas por aqueles que participaram do contrato. A excessiva rigidez contratual é substituída por princípios que visam criar uma relação mais justa entre as partes. Ademais, no próprio Código Civil há limitações para o campo de atuação da autonomia da vontade, tendo em vista que o seu art. 421 prevê que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” O anterior liberalismo contratual passa a dar espaço a uma atuação positiva do Estado, que poderá interferir em uma relação tipicamente de direito CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 3 privado, com o escopo de criar um ambiente propício para a aplicação dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. Mesmo diante de tudo o que foi exposto, deve-se enfatizar que alguns dos princípios inerentes à própria figura do contrato continuam a vigorar, ainda que mitigados em certas hipóteses. Com efeito, não se pode afastar a incidência das regras que admitem certa liberalidade nas manifestações de vontade, bem como do princípio da força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda), que garante a exigibilidade daquilo que foi pactuado. Feita esta breve introdução, vamos passar a discorrer sobre as regras que se aplicam ao regime contratual dos contratos celebrados nas relações de consumo. O art. 46 da Lei nº 8.078/90, com base no princípio da transparência, dispõe que “os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.” A norma tem como objetivo garantir que o consumidor tenha conhecimento efetivo dos termos do contrato. Exemplificando, se Pedro contrata um serviço de TV a cabo por telefone, é certo que as obrigações ou limitações previstas em cláusulas contratuais que não chegarem ao seu conhecimento não poderão ser exigidas ou impostas pelo fornecedor. Ressalte-se que, mesmo na situação em que seja dada oportunidade de o consumidor ter contato direto com o ajuste celebrado, é necessário que o conteúdo do contrato não tenha sido redigido de modo a dificultar a compreensão do real sentido das expressões utilizadas. Se o instrumento contratual que venha a ser utilizado em um determinado negócio apresentar cláusulas com grande quantidade de termos técnicos, jurídicos, ou mesmo de outros idiomas, os quais dificultem a compreensão do consumidor, é evidente que tais dispositivos não terão validade. Adiante, o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor determina que as cláusulas contratuais dúbias, ambíguas, ou que tenham várias interpretações simultâneas, devem ser interpretadas da maneira mais favorável ao consumidor1. 1 Na mesma linha, o art. 423 do Código Civil determina que “nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 4 Em situação concreta, caso o contrato de um plano de saúde não especifique de modo claro se determinado tratamento está ou não abrangido pela cobertura pactuada, a interpretação deverá ser a mais favorável ao consumidor. Não poderá a empresa fornecedora do serviço negar-se a prestar atendimento ao segurado. A Lei Consumerista entende que há uma presunção de que o fornecedor, utilizando-se de sua superioridade econômica e técnica, tenha tido uma maior influência na elaboração do contrato, e, desta forma, fulmina a inserção de termos obscuros e imprecisos com uma interpretação mais favorável ao consumidor. Embora se trate de uma regra de hermenêutica, a mesma é inaplicável diante de cláusulas onde não cabe qualquer interpretação. De fato, não é possível esposar o entendimento de que uma cláusula absolutamente clara e inequívoca possa ser alternativamente interpretada, de um modo ou de outro. Isto, não obstante ser possível afastar a sua aplicação em virtude de outras regras e princípios previstos na Lei nº 8.078/90, tais como o inciso IV do art. 51, que será visto mais a frente. O art. 48 busca o fortalecimento do ambiente legal de defesa dos consumidores, permitindo que certos documentos tenham eficácia para obrigar o fornecedor. É comum que consumidores recebam, como comprovante de seus direitos, escritos particulares, recibos e pré-contratos. Nostermos do aludido dispositivo legal, tais documentos, ainda que sejam dotados de certo grau de informalidade, tem aptidão para vincular o fornecedor. Consequentemente, se um consumidor, após contratar uma obra em sua casa, vier a receber um documento redigido a mão, em que sejam discriminados todos os serviços que serão realizados, é certo que o fornecedor deverá cumprir sua obrigação nos termos do que está consignado naquele documento. O direito de desistência vem consignado no art. 49 do CDC, que estatui que o “consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio”. Candidato, para melhor compreensão deste artigo, é válido fazer alusão a determinados anúncios, muito comuns na televisão. Consideremos, por exemplo, a publicidade feita a favor de um produto, por meio da qual se CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 5 disponibilize um telefone para que a compra possa ser feita imediatamente pelo consumidor. É comum, como forma de atrair o público-alvo, o anunciante afirmar que “caso o consumidor não esteja satisfeito com o produto poderá, no prazo de sete dias, devolver o bem e receber o dinheiro de volta.” Muitos consumidores desavisados chegam a acreditar que se trata de um favor ou de uma benesse concedida pelo fornecedor. Não é. Na realidade, trata-se apenas de se abrir ao consumidor a possibilidade do exercício de um direito, conforme a letra do art. 49. Na esteira daquele dispositivo, as vendas realizadas fora do estabelecimento comercial - como aquelas que são feitas por meio de revistas, correio, telefone, internet, ou quaisquer outros meios que impossibilitem o consumidor de analisar adequadamente o produto que está adquirindo - estão sujeitas a esta regra. Cria-se, tão somente, no cumprimento da lei, um prazo de sete dias para reflexão, quando o consumidor poderá avaliar com mais tranquilidade a conveniência do negócio que fora celebrado. É imperativo destacar que a desistência não precisa estar justificada e não há necessidade de que o produto adquirido apresente qualquer vício. Trata-se de mera faculdade do consumidor, a qual não pode ser afastada por cláusula contratual. OOOO ddddiiirrrreeee iiitttto ooo dddde eee aaaarrrrrrrreeeeppppeeeennnnddddiiimmmmeeeennnntttto ooo ppppoooodddde eee sssseeeerrrr eeeexxxxeeeerrrrcccc iiiddddoooo nnnnoooo pppprrrraaaazzzzoooo dddde eee sssseeeetttteeee ddddiiiaaaas sss qqqquuuuaaaannnnddddo ooo aaaa ccccoooonnnntttt rrrraaaattttaaaaççççãããão ooo dddde eee fffoooorrrrnnnneeeecccc iiimmmmeeeennnntttto ooo dddde eee pppprrrroooodddduuuuttttoooos sss eeee sssseeeerrrrvvvv iiiççççoooossss ooooccccoooorrrrrrrre eeerrrr fffoooor rrraaaa d dddoooo eeeessssttttaaaabbbbeeeellleeeecccc iiimmmmeeeennnntttto ooo ccccoooommmmeeeerrrrcccc iiiaaaa lll... Para concluir, o art. 50 da Lei nº 8.078/90 prevê a possibilidade de as partes convencionarem, por termo escrito, um prazo de garantia complementar àquele do art. 26, já discutido por nós. É relevante anotar que os prazos das garantias, legal e contratual, iniciam-se na mesma ocasião, por aquisição do produto ou contratação do serviço, tendo em vista que uma é complementar, e não suplementar, à outra. O parágrafo único do art. 50 está de acordo com o princípio da transparência nas relações de consumo, nos termos do art. 4º e do inciso III, do art. 6º, ambos do CDC, ao determinar que o termo de garantia deve ser claro e esclarecer as características da garantia. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 6 2) Cláusulas abusivas Ao dispor sobre as obrigações contratuais que agridem de modo sensível o regime protecionista do consumidor, o art. 51 da Lei nº 8.078/90 apresenta-nos um rol de cláusulas que são consideradas abusivas e que ferem o sistema inaugurado pelo CDC. Como sanção a este descompasso com o espírito das regras de defesa do consumidor, o aludido art. 51 determina que tais cláusulas são nulas de pleno direito. É importante notar que tal nulidade tem caráter absoluto e, por conseguinte, aquelas disposições contratuais já nascem tisnadas por esta condição. Ou seja, não se admite que elas cheguem a produzir qualquer efeito para as partes. Objetivamente, se o consumidor propõe uma ação judicial para discutir os termos de um contrato de consumo, caso o magistrado perceba que uma cláusula pode ser considerada abusiva, deverá declarar a sua nulidade, ainda que não haja pedido do autor da demanda neste sentido. Além disso, enfatize-se que, de acordo com a racionalidade do art. 51, o rol de cláusulas previsto nos incisos subsequentes é meramente exemplificativo. Neste passo, é oportuno frisar que o parágrafo segundo do art. 56 do Decreto nº 2.181/97 dispõe que o “elenco de cláusulas consideradas abusivas tem natureza meramente exemplificativa, não impedindo que outras, também, possam vir a ser assim consideradas pelos órgãos da Administração Pública incumbidos da defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor e legislação correlata”. Adiante, o parágrafo segundo do art. 51 reza que a “nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes”. De acordo com a orientação do dispositivo supracitado, infere-se que a nulidade de uma cláusula não necessariamente invalidará todo o contrato. Com efeito, de acordo com o princípio da conservação do contrato, o legislador optou por tentar preservar o ajuste feito entre as partes, que só será contaminado pela nulidade de uma das cláusulas se o negócio jurídico se tornar impossível. Como na hipótese de trazer ônus excessivo a uma das partes. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 7 O intérprete do contrato deve então, por meio de esforços de integração, tentar resguardar a vontade das partes em contratar, com o isolamento da cláusula abusiva e manutenção do equilíbrio das prestações pactuadas. Se Pedro contrata um serviço de manutenção periódica em seu jardim e, nos termos do ajuste, consta que a empresa fornecedora não responderá por qualquer dano causado às plantas por seus empregados, é patente que tal cláusula não contamina todo o contrato. Não obstante ser considerada abusiva (conforme veremos adiante), sua nulidade não prejudicará o contrato, que continuará a vigorar normalmente entre as partes. I - Impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis. Seguindo a mesma linha do art. 25 do CDC, o inciso I do art. 51 prevê a nulidade absoluta das cláusulas que retirem do consumidor o direito de ser indenizado pelos danos suportados em virtude de uma relação de consumo. Recorde-se, também, que, conforme o teor do inciso VI do art. 6º da Lei nº 8.078/90, é direito do consumidor a plena reparação dos danos materiais e morais suportados. Se, por exemplo, uma companhia aérea prevê em seu contrato de transporte uma cláusula que exclua a sua responsabilidade pelo extravio da bagagem, é certo que tal determinação estará contaminada pelaeiva da nulidade. Da mesma forma, poderá ser considerada abusiva uma cláusula que disponha que, em caso de acidente fatal, a companhia aérea só irá arcar com indenizações de até R$ 20.000,00 (vinte e mil reais) para os parentes das vítimas. Em relação à eventual existência de um limite de indenização, como demonstrado no segundo exemplo, é necessária cautela. Repare, candidato, que a segunda parte do inciso I permite que, em se tratando de consumidor pessoa jurídica – repise-se que, como vimos na nossa primeira aula, não há óbice em tal classificação – seja estipulado um limite à eventual indenização em situações justificáveis. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 8 É intuitivo que deverá ser feita uma análise em cada caso para que se verifique se o contexto fático amolda-se ou não ao conceito de “situação justificável”. Pode-se vislumbrar, neste caso, uma hipótese na qual uma microempresa consumidora aceite a inserção de cláusula contratual limitadora, como contrapartida de um desconto em uma grande compra. II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código. No texto da Lei nº 8.078/90, encontram-se diversas hipóteses normativas que permitem ao consumidor optar por ser reembolsado por quantia já paga ao fornecedor. Na esteira do que já foi ventilado nesta aula, podemos pensar no exemplo do art. 49. Se um consumidor adquire um aparelho eletrodoméstico pela internet, é certo que, após receber o produto, terá um prazo de reflexão para avaliar se deseja ou não manter o negócio. Se a escolhe desse consumidor for a rescisão do negócio, “os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados” (PU do art. 49). Deste modo, se no contrato disponibilizado na internet há cláusula impedindo o exercício deste direito, será flagrante sua nulidade. Como exemplo de outras hipóteses legais onde há ocorrência de tal direito, podemos fazer alusão ao art. 41, parágrafo único do art. 42 e art. 53, todos do Código de Defesa do Consumidor. III - transfiram responsabilidades a terceiros. Tal previsão legal tem como objetivo impedir que o fornecedor venha a transferir a terceiros, no todo ou em parte, sua responsabilidade pelos produtos e serviços disponibilizados por ele no mercado de consumo. O regime consumerista, nesse tipo de situação, busca garantir a efetiva reparação dos danos suportados pelo consumidor, com a criação de um sistema de regras e princípios que ampliam o leque de agentes que podem ser responsabilizados – como exemplo destas regras, podemos citar o parágrafo único do art. 7º e o art. 25 e seu parágrafo primeiro. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 9 A proibição de que a responsabilidade seja transferida a terceiros tem como escopo assegurar ao consumidor o exercício desse tipo de tutela. Assim, é vedado, por exemplo, que fabricante de móveis exclua sua responsabilidade por danos que venham a ser causados no transporte destes produtos por empresa escolhida e remunerada por aquele próprio fornecedor. IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade. Com o escopo de manter o equilíbrio das prestações devidas pelas partes de uma relação de consumo (inciso III do art. 4º), o inciso VI é intencionalmente vago e impreciso. Permite-se ao intérprete e aplicador da lei definir em cada caso se as obrigações consignadas no termo contratual estão em dissonância com o espírito protetivo do CDC. É evidente que a referência a conceitos fluidos, tais como iniquidade e abusividade, admite que a aplicação da sanção de nulidade a uma cláusula contratual seja efetivada de acordo com os princípios que dão sustentação para o regime consumerista. Ou seja, a análise pontual da subsunção de uma cláusula a um destes dois conceitos é realizada com base nos princípios e preceitos do Código de Defesa do Consumidor, sem a necessidade de que sejam observados parâmetros fixos do sentido de cada uma destas expressões. Recorde-se que o Código Civil de 2002, em seu art. 113, também consagra o princípio da boa-fé, e o insere entre os instrumentos com que deve trabalhar a hermenêutica na interpretação dos negócios jurídicos; e complementarmente, em seu art. 422, impõe essa mesma boa-fé como regra de conduta contratual entre as partes. No que tange à desvantagem exagerada, o parágrafo primeiro do art. 51 apresenta, em rol exemplificativo, alguns situações que servem como auxílio ao aplicador da norma. De acordo com a norma, presume-se que é exagerada a vontade que: I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 10 III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando- se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. Ao fim, o inciso IV do art. 51 também se reporta à boa-fé e equidade. Na aplicação do que é previsto em lei, cabe a análise da real intenção das partes exteriorizada por meio do que foi pactuado, bem como a onerosidade e equivalência das prestações previstas no termo contratual. Neste passo, é oportuna a lição Jorge Alberto Quadros de Carvalho Silva acerca do tema: “(...) conclui-se que a boa-fé, na medida em que exige dos contratantes atuação fundada nos ideais de honestidade e lealdade, termina por proibi- los, genericamente, de abusar do direito de livre estipulação do conteúdo do contrato. Isso significa que a cláusula que contrariar os ideais de honestidade e lealdade será considerada nula de pleno direito (...). Como exemplo, podemos imaginar as cláusulas inseridas em contratos de plano de saúde que estipulam limite de tempo de internação do segurado em Centro de Terapia intensiva2. Ora, a determinação para que um paciente acometido de grave enfermidade retire-se do CTI, com o risco de falecer, somente para que seja observado limite temporal previsto em contrato, é de uma indiscutível abusividade, além de colocar o consumidor em manifesta posição de desvantagem. VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. Conforme foi aventado em nossa Aula um, a inversão do ônus da prova é um direito básico do consumidor, de acordo com a racionalidade do inciso VIII, do art. 6º do CDC. A cláusula que contrarie este preceito ou altere a incidência das regras de processo civil – especificamente do art. 333 do Código de 2 O STJ emitiu a súmula 302 que prevê que “é abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 11 Processo Civil3 - para prejudicar o consumidor é considerada nula de pleno direito. VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem. A arbitragem é um relevante meio para a solução de conflitos. A utilização deste instrumento, que ainda não é visto com a importância devida pelos diversos segmentos da sociedade, pode se mostrar de grande valia para os consumidores. Além da celeridade e eficiência, a arbitragem poderiacontribuir para desafogar os nossos tribunais. De qualquer modo, mesmo considerando-se as vantagens do sistema arbitral, não é possível ao fornecedor impor ao consumidor sua utilização compulsória, impedindo-se o acesso ao Judiciário. Exemplificando: se uma cláusula compromissória inserida em um contrato de consumo determinar que, na hipótese de conflito entre consumidor e fornecedor, o caso será necessariamente levado a uma câmara de arbitragem, tal disposição não terá validade. Ressalte-se que não há impedimento para que, surgindo uma controvérsia na relação de consumo, as partes consensualmente estabeleçam a solução arbitral, nos termos da Lei 9.307/96, que dispõe sobre este instrumento. VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor. O inciso VIII do art. 51 proíbe a chamada cláusula de mandato. Tal modalidade de cláusula era muito utilizada por bancos e operadoras de cartão de crédito, com o intuito de permitir que esses agentes celebrassem outros negócios jurídicos em nome do consumidor. Seguem abaixo as palavra de Rizzato Nunes acerca do tema: 3 Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 12 “Inseria-se no contrato uma cláusula, conhecida como “cláusula-mandato, mediante a qual o consumidor nomeava um procurador, em caráter irretratável e irrevogável, para que ele, em nome desse consumidor, emitisse nota promissória, avalizasse cambiais, aceitasse letras de câmbio etc. Esse procurador era um representante indicado pelo fornecedor, normalmente a ele ligado e pertencendo – ou não; não importava – ao seu grupo financeiro. Por vezes, esse representante era mero funcionário, gerente ou diretor do fornecedor.” Neste tipo de negócio, é intuitivo que a instituição financeira irá atuar com o objetivo principal de obter lucro no mercado, colocando os interesses do consumidor em segundo plano, o que justifica a sanção prevista pelo regime consumerista. IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor. Conforme exaustivamente debatido em nossas aulas, o intuito do sistema protetivo do consumidor é equilibrar materialmente uma relação que já nasce de forma desigual, levando-se em consideração a presunção de vulnerabilidade do consumidor. O inciso IX, seguindo a linha do CDC, não permite a inserção de cláusula que garanta ao fornecedor o direito potestativo de concluir ou não o contrato e, de outro lado, obrigue o consumidor. Neste passo, é oportuno recordar que, em regra, quem se encontra obrigado a cumprir o que foi oferecido no mercado é o próprio fornecedor, de acordo com a regra prevista no art. 30 da Lei nº 8.078/90, que versa sobre o efeito vinculante da oferta. X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral. Imagine um contrato que permita que o fornecedor de um serviço de telefonia ou de TV a cabo escolha os índices pelos quais serão reajustados os valores cobrados pelo serviço. Ora, é flagrante a abusividade de tal previsão CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 13 contratual, que viola de modo vigoroso o princípio da boa-fé e o equilíbrio entre as partes. A inserção no contrato de disposição que faça referência a índices de reajustes oficiais ou em percentuais pactuados de comum acordo é tolerada pelo ordenamento jurídico, mas deve haver plena concordância por parte do consumidor, de modo que se afaste a abusividade da cláusula. XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor. O inciso XI dispõe sobre a cláusula resolutória. Tal modalidade de previsão contratual é permitida pelo CDC, mas deve possibilitar ao consumidor a escolha entre o encerramento do contrato ou sua conservação. Assim, as partes podem, de modo justificado, cancelar a vigência do contrato, mas, para tanto, devem existir recíprocas equivalências contratuais. Ademais, a rescisão do ajuste não deve acobertar um abuso de direito por parte do fornecedor. Imagine-se que em contrato de plano de saúde esteja presente cláusula que permita à operadora rescindir o ajuste unilateralmente, desde que o consumidor seja comunicado com prazo de 30 dias de antecedência. Pois bem, nesta hipótese, a fornecedora poderia decidir cancelar um antigo contrato apenas em virtude do fato de o segurado ter alcançado uma idade avançada, o que certamente representaria mais gastos para ela. Diante deste quadro, depreende-se a abusividade de tal disposição contratual, considerando que o segurado estaria entregue à própria sorte após longos anos de contribuição. XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor. Nos termos deste inciso, se o fornecedor tiver que se utilizar de instrumentos de cobrança para fazer valer seus direitos, eventuais despesas com esta providência só poderão ser exigidas do consumidor se tal direito também for assegurado a ele. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 14 Assim, seriam inválidas as cláusulas estabelecidas em contratos de financiamento e de mútuo que permitem que a instituição financeira exija, além do valor pactuado com respectivos juros e demais acessórios, honorários advocatícios por eventual cobrança extrajudicial, sem que tal direito esteja previsto para uso do consumidor. XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração. As alterações unilaterais do contrato de consumo por parte do fornecedor, além de atingirem de modo contundente as legítimas expectativas depositadas pela outra parte no ajuste celebrado, violam o princípio da boa-fé objetiva e da própria imutabilidade do contrato em prejuízo do consumidor. O inciso XIII refere-se especificamente ao conteúdo e qualidade do contrato, o qual não pode ser modificado para produzir efeitos negativos para o consumidor. Se um consumidor contrata uma obra em sua residência, com a utilização de determinados materiais de construção, não pode a empresa fornecedora do serviço, após a celebração do ajuste, decidir utilizar material de qualidade inferior. XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais. A proibição da violação de leis e regulamentos administrativos que protejam o meio ambiente está em consonância com o ar. 225 da Constituição Federal. Nesta linha, o CDC proíbe as cláusula que infrinjam (violem diretamente) ou que possibilitem (cujo exercício possa gerar) a violação de normas ambientais. Trata-se de uma linha conectora de dois relevantes ramos do direito: Consumidor e Ambiental. XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor. Seguindo a mesma orientação do inciso IV ventilado nas linhas acima, o inciso XV também pode ser considerado uma cláusula geral, com amplitude CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 15 normativa para abarcar aquelas previsões contratuais que não estejam amoldadas, de modo preciso, a nenhuma das hipóteses elencadas no art. 51, mas, ainda assim, em sua natureza, violem o espíritodo regime consumerista. É relevante frisar que por sistema de proteção ao consumidor deve-se entender não somente a Lei nº 8.078/90, e sim todo o sistema legal, incluindo outras leis e regulamentos que versem sobre a defesa do consumidor. XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. As benfeitorias necessárias são aquelas que, nos termos do parágrafo terceiro do art. 96 do Código Civil, “tem por fim conservar o bem ou evitar eu o bem se deteriore.” CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 16 Seguindo a direção do inciso I, que impede a renúncia ou a disposição de direitos, o inciso XVI veda que cláusula contratual impeça que o consumidor seja ressarcido por eventuais gastos, por exemplo, com obras realizadas para impedir a destruição do bem. Tratando-se de benfeitorias úteis e voluptuárias (§1º e §2º do art. 96 do Código Civil), as partes podem afastar a obrigação de indenizar. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 17 Os arts. 52 e 53 do CDC apresentam algumas regras que devem ser observadas para a concessão de créditos para os consumidores. Em sintonia com o inciso III, do art. 6º do CDC, que assegura ao consumidor o direito à informação, o aludido art. 52 determina que, nos contratos de crédito ou de financiamento, sejam fornecidas as informações necessárias sobre: III ---- pppp rrreeeeççççoooo ddddoooo pppprrroooodddduuuutttoooo oooouuuu sssseeeer rrvvvv iiiççççoooo eeeemmmm mmmmooooeeeeddddaaaa ccccoooorrrrrreeeennnnttteeee nnnnaaaacccc iiioooonnnnaaaa lll;;;; IIII II ---- mmmmoooonnnntttaaaannnnttteeee ddddoooossss jjjuuuurrroooossss ddddeeee mmmmo ooorrraaaa eeee ddddaaaa tttaaaaxxxxaaaa eeee fffeeee tttiiivvvvaaaa aaaannnnuuuuaaaa lll ddddeeee jjjuuuur rroooossss ;;;; IIIIIII II ---- aaaacccc rrréééésssscccc iiimmmmoooossss llleeeeggggaaaa lllmmmmeeeennnnttteeee pppprrreeeevvvv iiissss tttoooossss ;;;; IIIVVVV ---- nnnnúúúúmmmmeeeerrroooo eeee ppppeeeerrriiioooodddd iiicccc iiiddddaaaaddddeeee ddddaaaassss pppprrreeeessss tttaaaaççççõõõõeeeessss ;;;; VVVV - --- ssssoooommmma aaa tttoooottta aaa lll a aaa ppppaaaaggggaaaarrr, ,, cccco ooommmm e eee sssse eeemmmm fffiiinnnnaaaannnncccc iiiaaaammmmeeeennnntttoooo ... Os parágrafos primeiros e segundo daquele dispositivo garantem dois importantes direitos para o consumidor: limite de 2% do valor da prestação para a multa de mora em virtude do inadimplemento da prestação (§1º) e possibilidade de liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos (§2º). Imagine-se que Pedro contrate um empréstimo de R$ 20.000,00, com previsão de pagamento em sessenta prestações mensais. Caso, após alguns meses, deseje evitar o pagamento dos altos juros cobrados no mercado e obtenha quantia suficiente para pagar o que ainda é devido, a instituição financeira é obrigada a aceitar a quitação antecipada da dívida, com redução proporcional dos juros e demais acréscimos pactuados. O art. 53 tem como fundamento impedir o enriquecimento sem causa do fornecedor em evidente prejuízo ao consumidor. Com base neste suporte jurídico, o referido dispositivo legal estabeleceu mais uma espécie de cláusula vedada pelo sistema de defesa consumidor. A regra em comento busca impedir que consumidores percam, por exemplo, valores pagos durante meses ou anos em um imóvel, porque, ao fim, não tiveram condições de continuar arcando com as prestações. Ou seja, quando a construtora se apossa da quantia que foi paga pelo consumidor, o qual fica sem o imóvel e sem aquele valor. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 18 Insta enfatizar que a regra do art. 53 do CDC aplica-se tanto para as compras em prestação de móveis como de imóveis. Não há impedimento para que seja estipulada uma penalidade para o consumidor inadimplente, como a multa moratória ou a compensatória, permitindo que o fornecedor fique com parte das parcelas restituíveis para compensar o eventual prejuízo sofrido. Todavia, o percentual que deve ser devolvido ao consumidor deve ser equitativo e condizente com o princípio da boa-fé. Ademais, deve-se fazer alusão ao teor do art. 423 do Código Civil, que determina a redução equitativa da penalidade “se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio”. Em relação ao parágrafo segundo do art. 53, é válido recordar que o consórcio é um sistema de cooperação, no qual todos os participantes pertencem a um grupo de consorciados que se unem para a aquisição de bens. Todos contribuem com quantias mensais que representam uma fração do valor total do bem, possibilitando que, uma vez por mês, possa ser sorteado um daqueles produtos para os participantes do grupo. Ao se retirar de um grupo, o consorciado tem direito a receber as parcelas pagas, mas, nos termos daquele dispositivo normativo, será “descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo”. Deste modo, preservam-se os direitos dos demais integrantes do grupo, os quais não serão prejudicados pelo aumento de suas contribuições pelo inadimplemento de um dos participantes. Nestes casos, o CDC não se limitou a tutelar os interesses do consumidor que se desligou, mas também defendeu os interesses de todo o grupo de consorciados. 3) Contratos de adesão Com o desenvolvimento de uma sociedade de massa, os agentes fornecedores de produtos e serviços no mercado sentiram a necessidade de instituir mecanismos para dar celeridade à contratação e atender à crescente demanda de consumidores. Neste diapasão, buscou-se a criação de um modelo contratual que, não obstante colocar em segundo plano o princípio da livre manifestação das partes na discussão de todos os elementos do contrato – tais como preço, multas, CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br19 condições de pagamento etc -, permitisse aos fornecedores a celebração de negócios de forma célere e imediata. De fato, diante da atual conjuntura social e econômica, não é mais possível às instituições financeiras disponibilizar funcionários para debater com cada cliente todas as cláusulas apostas no contrato. Da mesma forma, não seria razoável que empresas de telefonia ou de TV a cabo chamassem seus possíveis clientes para discutir todos os termos e particularidades do contrato a ser celebrado. Assim, criou-se um modelo em que as cláusulas contratuais são determinadas de forma unilateral pelo fornecedor, não ocorrendo qualquer tipo de negociação preliminar entre as partes. É o chamado contrato de adesão. Diferencia-se, claramente, das demais modalidades de contrato, nas quais está aberta a possibilidade das prévias discussões e negociações entre os contratantes, de tal modo que, por manifestação de suas vontades, seja possível a modificação substancial de seu conteúdo. Nos contratos de adesão, ou o consumidor adere ao ajuste nos termos em que está redigido ou desiste do negócio. Ao definir esta espécie contratual, o art. 54 do Código de Defesa do Consumidor prevê que: “Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.” A primeira observação que cabe ser feita é que os contratos de adesão são tolerados pelo regime consumerista. Por essa razão, criou-se um sistema de normas para tentar mitigar os efeitos nocivos desta modalidade contratual e equilibrar a relação entre as partes. Além disso, o conceito de contrato de adesão não se limita àqueles cujo teor tenha sido estabelecido de modo unilateral pelo fornecedor, também sendo aplicado aos que tenham cláusulas aprovadas pela autoridade competente. Contratos de seguro, por exemplo, devem observar diversas normas regulamentares expedidas pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o que não descaracteriza sua natureza de contrato de adesão. No tocante ao parágrafo primeiro do art. 54, é mister ressaltar que, apesar de se referir a “formulário”, entende-se que, ainda que seja inserida uma CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 20 cláusula ou outra no contrato de adesão, sua natureza não restará descaracterizada. Assim, se um consumidor solicitar uma pequena mudança em uma das cláusulas do contrato oferecido por uma operadora de plano de saúde ou por uma empresa de telefonia, tal instrumento continuará sendo considerado como de adesão. Adiante, o parágrafo segundo dispõe sobre a cláusula resolutória, a qual permite a uma das partes decidir pela resolução do contrato. Tal previsão contratual é aceita pelas regras consumeristas, mas a alternativa pela manutenção ou não do contrato deve ser do consumidor. Com efeito, na hipótese de descumprimento de umas das obrigações por parte do fornecedor, é permitido ao aderente optar pelo desfazimento do ajuste, com a respectiva devolução das quantias pagas, monetariamente atualizadas, descontada eventual vantagem auferida pelo consumidor, ou pelo cumprimento da obrigação. O parágrafo terceiro harmoniza-se com o princípio da transparência, positivado no art. 4º e no inciso III, do art. 6º, dispondo que os contratos de adesão devem ser “redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor”. Seguindo esta mesma orientação, as “cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão” (§4º). Denota-se que o CDC, ao disciplinar as regras atinentes aos contratos de adesão, não veda a inserção de cláusulas limitativas e restritivas ao consumidor. Ao contrário, em nome da boa-fé que deve nortear as relações de consumo, para que tais dispositivos contratuais possam ser considerados válidos, é necessário que se sobressaiam às outras cláusulas, de forma a possibilitar ao consumidor uma compreensão total e imediata das estipulações que sejam desvantajosas para si. Imagine-se a contratação de um plano de saúde ou do seguro de um carro. É patente que, nestas modalidades de serviço, o conhecimento das limitações de responsabilidade da operadora ou da companhia seguradora – ou seja, quais eventos não estarão cobertos pelo contrato – é de reconhecida importância para o segurado. Assim, tais disposições devem estar destacadas no instrumento contratual. EEEEssssttttaaaabbbbeeeellleeeecccc iiiddddo ooossss d dddeeee mmmmooood dddoooo uuuunnnniiilllaaaatttteeeerrrraaaa lll ppppeeeelllo ooo fffoooorrrrnnnneeeecccceeeeddddoooorrrr , ,, oooou uuu qqqqu uuueeee tttteeeennnnhhhha aaammmm cccc l llááááuuuussssuuuulllaaaassss aaaapppprrrroooovvvvaaaadddda aaassss ppppeeeel llaaaa aaaauuuuttttoooorrrr i iiddddaaaaddddeeee ccccoooommmmppppeeeetttteeeennnntttteeee... CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 21 CCCCoooonnnntttt rrrraaaatttto ooossss ddddeeee AAAAddddeeeessssããããoooo 4) Introdução ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor Em nossas aulas anteriores, tecemos comentários sobre a Política Nacional de Relações de Consumo, nos moldes em que é tratada nos arts. 4º e 5º do Código de Defesa do Consumidor. Naquela oportunidade, deixou-se registrado que o CDC, além de trazer um conjunto de princípios e regras que dão corpo para o regime consumerista, também cria extensa e completa malha de instrumentos e órgãos com delegação normativa para desenvolver políticas públicas voltadas para a defesa do consumidor. Seguindo nesta direção, o legislador decidiu prever um Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, que se encontra constituído, nos termos do art. 105, pelos seguintes agentes: Diante de tal elenco, infere-se que o legislador optou por criar um sistema com capilaridade suficiente para abranger todo o território nacional. Neste sentido, utiliza-se a autonomia política e administrativa dos Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios para permitir a criação de estruturas próprias e independentes, mas que atuem de modo coordenado, na defesa dos interesses dos consumidores. SSSS iiissss ttteeeem mmmaaaa NNNNaaaacccc iiioooonnnna aaa lll ddddeeee DDDDeeee fffeeeessssa aaa ddddoooo CCCCoooonnnnssssuuuummmmiiiddddoooorrr ÓÓÓÓr rrggggããããoooossss MMMMuuuunnnn iiicccc iiippppaaaa iiissss EEEEnnnntttiiiddddaaaadddde eeessss PPPPrrriiivvvvaaaaddddaaaas sss ddddeeee DDDDeeee fffeeeessssa aaa ddddo ooo CCCCoooonnnnssssuuuummmmiiiddddoooorrr ÓÓÓÓrrrggggãããão ooossss EEEEssss tttaaaadddduuuuaaaa iiissss eeee ddddo ooo DDDDiiissss tttrrriiitttoooo FFFFeeeeddddeeeerrraaaa lll ÓÓÓÓr rrggggããããoooossss FFFFeeeeddddeeeerrraaaa iiissss CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 22 Essa descentralização de sistema, decorrência da grande extensão territorial do País, permite que as políticas de defesa do consumidor sejam aplicadas de acordo com as características e peculiaridades de cada região do Brasil, observados os preceitos trazidos pelo microssistema jurídico de defesa do consumidor. Neste diapasão, o art. 55 da Lei nº 8.078/90 prevê que “a União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação administrativa, baixarão normasrelativas à produção, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços”. À leitura da norma, evidencia-se que o supracitado artigo foi desenhado em harmonia com o art. 24 da Constituição, que prevê a competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal para legislar sobre consumo (inciso V) e responsabilidade por dano ao consumidor (inciso VIII). Repare, candidato, que os municípios não dispõe dessa competência. As entidades privadas também não foram esquecidas. Realmente, como são compostas por membros da própria coletividade, sem participação do Poder Público, esses agentes desempenham o chamado controle social e não poderiam ficar em segundo plano. A proximidade com a realidade da sociedade de consumo permite análise mais exata dos fatos, de modo que as demandas da população podem ser apreciadas sob uma ótica diferenciada. Caberá a esses órgãos e entidades a relevante tarefa de desenvolver uma atuação positiva para tornar possível a realização da Política Nacional de Relações de Consumo. Assim, o esforço para a obtenção deste resultado não se limita à esfera federal, estendendo-se aos Estados e demais entidades da federação, bem como a segmentos da sociedade civil. Utilizando a classificação de Daniel Roberto Fink, na obra Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, além dos órgãos que tem como função precípua a defesa do consumidor, outros atuam de modo contundente no mercado de consumo e, desta forma, acabam por caminhar ao lado do regime inaugurado pela Lei nº 8.078/90. Seguem as palavras do mestre: “Pode ocorrer que a destinação principal do órgão não esteja voltada a defesa do consumidor. São órgãos cuja defesa do consumidor é indireta. Contudo, apresar de indiretamente ligados à defesa do consumidor, sua atuação e decisões podem ter, e geralmente têm, reflexos importantes nas relações de consumo. Sua classificação como órgãos indiretos não leva em consideração a importância dos reflexos de sua atuação, mas a sua destinação principal, ou CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 23 seja, a finalidade primeira porque foi criado. Dentre os diversos órgãos que indiretamente exercem atribuições de defesa do consumidor, podemos citar, como exemplo, o Banco Central do Brasil, ao fixar tarifas e regular serviços; a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, ao baixar normas sobra as condições e cláusulas obrigatórias dos seguros em geral (…).” Por outro lado, o art. 5º da Lei nº 8.078/90 enumera os agentes que atuam diretamente na defesa do consumidor. São eles: Defensorias Públicas para assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente, Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo, Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo e Associações de Defesa do Consumidor. Em relação especificamente à estrutura federal, anteriormente ao Código de Defesa do Consumidor, fora criado, no ano de 1985, o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor - CNDC, que integrava a estrutura do ministério da Justiça e tinha como competência zelar pelo interesse e defesa dos consumidores, nos termos do Decreto nº 94.508 de 1987. Com a extinção do CNDC pela Lei nº 8.028/90, seguiu-se o art. 106 do CDC, que mencionou de modo específico o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor. Nesta direção, o Decreto nº 2.181 de 1997 criou o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor – DPDC. O DPDC é órgão de cúpula do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e encontra-se integrado à estrutura da Secretaria de Direito Econômico, órgão do Ministério da Justiça. As atribuições do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor estão arroladas no art. 106 do CDC, bem como no art. 3º do Decreto nº 2.181/97. Repare, candidato, que, para nosso estudo, devemos nos limitar à Lei nº 8.078/90, a qual encontra-se prevista no último edital da Caixa. Todavia, para facilitar o entendimento e servir de fonte para futuros estudos, também iremos discorrer sobre o Decreto nº 2.181/97. Para o próximo concurso, caso não ocorram mudanças no edital, não se preocupe com aquele Decreto. Assim, apesar de pequenas diferenças terminológicas, é possível o exame do rol de competências previsto no CDC e no Decreto nº 2.181/97 de modo simultâneo: CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 24 I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional de proteção ao consumidor (inciso I do art. 106 do CDC e inciso I do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); II - receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias ou sugestões apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado (inciso II do art. 106 do CDC e inciso II do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias (inciso III do art. 106 do CDC e inciso III do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); IV - informar, conscientizar e motivar o consumidor através dos diferentes meios de comunicação (inciso IV do art. 106 do CDC e inciso IV do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); V - solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito policial para a apreciação de delito contra os consumidores, nos termos da legislação vigente (inciso V do art. 106 do CDC e inciso V do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); VI - representar ao Ministério Público competente para fins de adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuições (inciso VI do art. 106 do CDC e inciso VI do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); VII - levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores (inciso VII do art. 106 do CDC e inciso VII do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de bens e serviços (inciso VIII do art. 106 do CDC e inciso VIII do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas especiais, a formação de entidades de defesa do consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e municipais (inciso IX do art. 106 do CDC e inciso IX do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); X - fiscalizar e aplicar as sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 1990, e em outras normas pertinentes à defesa do consumidor (inciso X do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); XI - solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico-científica para a consecução de seus objetivos (parágrafo único do art. 106 do CDC e inciso XI do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 25 XII - provocar a Secretaria de Direito Econômico para celebrar convênios e termos de ajustamento de conduta, na forma do § 6º do art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (inciso XII do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); XIII - elaborar e divulgar o cadastro nacional de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, a que se refere o art. 44 da Lei nº 8.078, de 1990 (inciso XIII do art. 3º do Decreto nº 2.181/97); XIV - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades (inciso XIII do art. 106 do CDCe inciso XIV do art. 3º do Decreto nº 2.181/97). É oportuno tecermos breves comentários sobre algumas das competências mencionadas acima. No tocante ao item I, repare que tais atribuições têm como fundamento a busca pela criação de um ambiente propício à realização dos princípios elencados no art. 4º do CDC, os quais funcionam como importantes vetores para as políticas públicas que serão desenvolvidas pelos agentes que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. A participação direta do consumidor na defesa de seus direitos é requisito inarredável para a implementação do regime consumerista. Assim, o item IV busca garantir que os consumidores tenham ciência de seus direitos, nos termos do inciso IV do art. 4º e incisos II e III do art. 6º. Somente desta forma, o Poder Público, por meio de suas entidades e órgãos devidamente legitimados, poderá ter ciência de comportamentos que agridam o regime consumerista e, consequentemente, atuar na defesa do consumidor. Os itens V e VI, na realidade, apenas descrevem uma obrigação do Poder Público. Ora, é certo que, diante da possível presença de ilícitos penais, caberá ao órgão administrativo que tomou conhecimento dos fatos oficiar ao Ministério Público ou à autoridade policial para que os fatos sejam devidamente apurados. Frise-se que, em relação ao item VI, é possível que o Ministério Público seja instado a atuar para que promova as medidas necessárias à defesa de interesses difusos e coletivos dos consumidores. Em relação aos itens VII e VIII, é necessário recordar que a defesa dos interesses dos consumidores passa por vários órgãos e entidades da Administração Pública – tais como órgãos que regulam setores da economia ou ligados à vigilância sanitária. Por essa razão, o CDC determina que infrações administrativas que afetem os interesses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores sejam levadas a conhecimento destes agentes, para que possam CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 26 atuar no limite de suas atribuições. É a garantia de que a defesa do consumidor permeará todas as atividades estatais que possam de alguma forma resguardar e proteger as normas e princípios do CDC. O item XIV assegura que o rol de atribuições lapidadas no art. 106 da Lei nº 8.078/90, bem como no art. 3º do Decreto nº 2.181/97, não é relação fechada (numerus clausus), sendo possível o desempenho de outras atividades, desde que compatíveis com suas finalidades. Perceba, candidato, que, conforme orientação do art. 4º do Decreto nº 2.181/97, em relação aos órgãos estaduais, do Distrito Federal e municipais de proteção e defesa do consumidor, as atribuições por eles desempenhadas limitar-se-ão àquelas estatuídas nos incisos II a XII do art. 3º daquele diploma legal, acrescidas de outras que são arroladas no próprio art. 4º. Em relação às entidades civis de defesa do consumidor, tais agentes poderão (art. 8º do Decreto nº 2.181/97): I - encaminhar denúncias aos órgãos públicos de proteção e defesa do consumidor, para as providências legais cabíveis; II - representar o consumidor em juízo, observado o disposto no inciso IV do art. 82 da Lei nº 8.078, de 1990; III - exercer outras atividades correlatas. 5) Sanções Administrativas Praticada infração às normas de proteção ao consumidor, abre-se a possibilidade de penalização administrativa do fornecedor. O art. 56 do Código de Defesa do Consumidor e o art. 18 do Decreto nº 2.181/97 apresentam as mesmas modalidades de sanções administrativas. Antes de tecermos alguns comentários acerca de algumas destas espécies punitivas, é necessário pontuar algumas características do sistema punitivo previsto no regime consumerista. Inicialmente, ressalte-se que a aplicação de eventual sanção administrativa não afasta a responsabilidade cível e penal do infrator. De fato, imagine-se que um fornecedor pratique uma conduta que viole as normas penais previstas no CDC e ainda cause danos a determinado grupo de consumidores. Nesta hipótese, a aplicação das sanções administrativas previstas nos dois dispositivos acima citados pelos órgãos competentes não CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 27 impede o pagamento de indenização aos consumidores eventualmente prejudicados e a responsabilização penal do representante legal daquele fornecedor. Registre-se, também, que as punições previstas no art. 56 do Código de Defesa do Consumidor e no art. 18 do Decreto nº 2.181/97 podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, conforme a gravidade da conduta. Além disso, a autoridade administrativa pode determinar a aplicação cautelar da medida, antes da instauração ou durante o processo administrativo. É conveniente anotar que as penas administrativas em debate podem ser aplicadas por quaisquer órgãos ou entidades da Administração no exercício do seu poder de polícia, com o escopo de resguardar e dar efetividade aos princípios e normas do regime consumerista, nos termos de suas respectivas competências. Não há unanimidade acerca da natureza fechada ou aberta do elenco de sanções administrativas previstas no CDC e no Decreto nº 2.181/97. Parte da doutrina entende que se trata de elenco exaustivo4, enquanto outros autores asseveram que o rol é meramente exemplificativo, considerando a menção a outras sanções “definidas em normas específicas”5 Segue abaixo uma abordagem das penalidades lapidadas no art. 56 do Código de Defesa do Consumidor e no art. 18 do Decreto nº 2.181/97. Para facilitar o entendimento e compreensão da matéria, utilizaremos a classificação doutrinária que divide as sanções em pecuniárias, objetivas e subjetivas6: Sanções Pecuniárias A penalidade de multa encontra-se consignada no inciso I de ambos os dispositivos acima citados. O art. 57 do Código de Defesa do Consumidor estabelece parâmetros para gradação desta espécie de penalidade administrativa. São eles: � Gravidade da infração; � vantagem auferida; 4 José Cretella Jr.. 5 João Batista de Almeida, Zelmo Denari. 6 Zelmo Denari, Codigo Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 28 � Condição econômica do fornecedor. Com a apreciação destes elementos, a autoridade administrativa poderá alcançar um valor razoável para a multa aplicada ao infrator, que será em montante não inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência – UFIR (PU do art. 57). O art. 28 do Decreto nº 2.181/97, além de referir-se a estes três critérios, também menciona a extensão do dano causado aos consumidores, e faz menção às circunstâncias agravantes e atenuantes dos arts. 25 e 26. Anote-se que, nos termos da regra estatuída no art. 19 Decreto nº 2.181/97, a multa será aplicada cumulativamente com outras sanções administrativas previstas na legislação no caso de publicidade enganosa ou abusiva. Tal penalidade também é devida para os “órgãos públicos que, por si ou suas empresas concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, deixarem de fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” (art. 20 do Decreto nº 2.181/97). Com o objetivo de fortalecer o sistema de proteção contratual do consumidor, também estará sujeito à pena de multa o fornecedor que inserir cláusula abusiva em contrato de consumo, conforme a letra do art. 22 do Decreto nº 2.181/97.É conveniente observar que, no caso de prática infrativa de mercado ou disposição contratual abusiva, a pena de multa poderá ser cumulada com outras sanções administrativas, dependendo da gravidade do caso, de acordo com a redação do parágrafo único do já aludido art. 22. Sanções Objetivas Como sanções objetivas vamos considerar aquelas que envolvem os bens e serviços colocados à disposição do consumidor e compreendem, nos termos do art. 56 do CDC e do art. 18 do Decreto nº 2.181/97, a apreensão (inciso II), inutilização (inciso III), cassação de registro (inciso IV), proibição de fabricação (inciso V) e suspensão do fornecimento de produto ou serviço (inciso VI). De acordo com a regra positivada no art. 58 da Lei nº 8.078/90, as sanções administrativas previstas acima “serão aplicadas pela administração, mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa, quando forem CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 29 constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ou insegurança do produto ou serviço”. Desta forma, se o órgão administrativo de defesa do consumidor receber a denúncia de que um fornecedor está colocando no mercado um medicamento potencialmente nocivo à saúde da coletividade, poderá adotar as medidas necessárias para a apreensão do produto e aplicação das demais medidas citadas acima. Registre-se que a “retirada de produto por parte da autoridade fiscalizadora não poderá incidir sobre quantidade superior àquela necessária à realização da análise pericial” (§2º, art. 21 do Decreto nº 2.181/97). Sanções Subjetivas Consideram-se subjetivas as penalidades que se referem à atividade empresarial ou estatal dos fornecedores de bens ou serviços e compreendem suspensão temporária da atividade (inciso VII), revogação de concessão ou permissão de uso (inciso VIII), cassação de licença do estabelecimento ou de atividade (inciso IX), interdição total ou parcial de estabelecimento, obra ou atividade (inciso X), intervenção administrativa (inciso XI) e imposição de contrapropaganda (inciso XII). Ao dispor sobre as penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da atividade, e de intervenção administrativa, o art. 59 do CDC determina que tais sanções devem ser aplicadas quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de maior gravidade previstas neste código e na legislação de consumo. Ou seja, considerando o comprometimento do direito do fornecedor de exercer sua atividade, o legislador determinou que a aplicação destas severas penalidades seja limitada aos casos de reincidência de infrações graves. Não seria razoável que o fornecedor que tenha colocado, uma única vez, um produto inadequado à disposição dos consumidores tenha sua licença para funcionar definitivamente cassada. Ressalte-se que o art. 28 do Decreto nº 2.181/97 reza que, para ser considerada reincidência, a prática anterior deve ser condenada por decisão administrativa irrecorrível. É patente que, não sendo mais possível interpor recursos na instância administrativa, os efeitos da decisão adquirem condição análoga ao da coisa julgada para a própria Administração. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 30 Em relação especificamente à cassação de concessão, tal penalidade deve ser aplicada à concessionária de serviço público, quando violar obrigação legal ou contratual (§1º do art. 59 do CDC). Note candidato, que a pena de interdição administrativa é prevista de modo residual. Desta forma, só será aplicada quando as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação de licença, a interdição ou suspensão da atividade (§2º do art. 59 do CDC). A intervenção tem como escopo afastar aqueles que estão incumbidos da prestação de um serviço público, mas não estão desempenhando tal tarefa de modo adequado. Busca-se garantir a continuidade do serviço, mas de modo que atenda aos interesses da coletividade. A contrapropaganda (inciso XII) deverá ser aplicada nos casos de propaganda enganosa ou abusiva. O objetivo desta sanção é evitar que o consumidor, iludido por publicidade que afronta as normas consumeristas, venha a adquirir bem ou serviço que não corresponde às suas reais e justas expectativas. A divulgação de contrapropaganda deve ser feita às expensas do fornecedor e será realizada na “mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva” (Art. 60 e §1º do CDC). Reincidência na prática de infrações de maior gravidade Publicidade enganosa ou abusiva Suspensão temporária Cassação Interdição Intervenção administrativa Contrapropaganda CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 31 6) Crimes nas relações de consumo 6.1 Considerações Gerais Candidato, nas próximas páginas vamos discorrer sobre as disposições penais capituladas no Código de Defesa do Consumidor. Trata-se de um tema não muito frequente em provas e que, para sua total compreensão, demandaria o conhecimento de regras doutrinárias e legais pertencentes ao ramo do Direito Penal, o que nos exigiria mais algumas aulas. Registre-se, também, que grande parte das penas cominadas aos crimes previstos no CDC permite a aplicação de instrumentos e regras trazidas pela Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais), e que a abordagem deste diploma legal nos levaria ao estudo de institutos correlatos ao Direito Processual Penal, o que escapa do foco de nossa aula. Sendo assim, optamos por tratar a matéria de modo sucinto e objetivo, com enfoque nos principais preceitos legais lapidados no Título II da Lei nº 8.078/90 (Infrações Penais). Busca-se criar maior familiaridade do candidato com o tema, além de possibilitar a memorização dos dispositivos que serão debatidos. Vamos lá? Para dar maior efetividade ao sistema trazido pela Lei consumerista, o legislador criou mecanismos de defesa do consumidor em três diferentes esferas: civil, administrativa e penal. Assim, uma conduta violadora dos princípios e normas trazidos pelo regime consumerista será aferida sob três óticas distintas. Imagine-se que um fornecedor, mesmo ciente da periculosidade de determinado produto, coloque o bem no mercado e não avise à coletividade acerca dos riscos apresentados. Nesta hipótese, é certo que o fornecedor responderá civilmente perante os consumidores eventualmente prejudicados pelo produto; responderá administrativamente perante o órgão de defesa do consumidor competente, nos termos do capítulo anterior, além de responder criminalmente pela sua conduta, nos moldes do art. 63 do CDC. É oportuno recordar que, com a missão de assegurar a efetiva responsabilização dos fornecedores que praticarem os delitos consignados nos arts. 63 a 74 do CDC, o art. 5º daquele diploma legal determinou, em seu inciso CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 32 III, a criação de delegacias de polícia, especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo. Em relação ao sujeito ativo dos crimes previstos no CDC – aqueles que praticam o delito -, é importante notar que, geralmente, somente os fornecedores poderão ser classificados deste modo7. Com efeito, o agente infrator deve, em regra, se amoldar ao conceito positivado no caput do art. 3º do CDC para que sofra uma das sançõespenais instituídas nos arts. 63 a 74. O sujeito passivo daqueles delitos – quem sofre o dano – é a própria coletividade indeterminada de consumidores, podendo haver repercussão na esfera do consumidor individualmente considerado. Além das normas penais estatuídas no CDC, há delitos tipificados em outros diplomas legais que também buscam proteger os interesses do consumidor, tais como a Lei nº 8.137/90 (Crimes contra ordem econômica), Lei nº 7.920/86 (Crime contra o Sistema Financeiro de Habitação), Lei nº 1.521/51 (Crimes contra a economia popular), dentre outros. Assim, conforme a advertência do art. 61 da Lei nº 8.078/90, os crimes previstos no CDC não excluem outros delitos que versem de modo direto ou indireto sobre as relações de consumo. Anote que o legislador preferiu, na maioria das vezes, apresentar tipos penais abertos, com certa ambigüidade e indeterminação. Ou seja, o texto consignado nos artigos lapidados no Titulo II do CDC nem sempre é suficientemente claro a ponto de esclarecer qual a conduta que está sendo reprimida pelo ordenamento jurídico penal consumerista. Ademais, podemos afirmar que a maior parte dos crimes instituídos no CDC são de perigo abstrato e de mera conduta. Deste modo, para que sejam caracterizados é suficiente a realização do comportamento vedado pela lei, não sendo necessária a obtenção do resultado. Nesta direção, seguem os ensinamentos de Claudia Lima Marques: “(...) o Direito Penal do Consumidor busca, como todas as normas jurídicas de consumo, a prevenção das desconformidades mercadológicas. (...) O interesse sancionatório manifesta-se em momento anterior ao aparecimento do dano. (...) Os tipos penais de proteção ao consumidor, 7 Ressalte-se que há certa divergência na doutrina e na jurisprudência acerca da possibilidade da pessoa jurídica responder por delitos penais. Todavia, deve-se mencionar que as penas previstas no Título II do CDC adequam-se às pessoas físicas, ou seja, diretores, administradores, representantes ou quaisquer outros que tenham contribuído para a prática do crime. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 33 como regra e em razão da presunção de perigo que carreiam, não exigem, para sua consumação, a realização de qualquer dano físico, mental ou econômico ao indivíduo consumidor.” Antes de apresentarmos breves comentários acerca de cada uma das condutas vedadas nos arts. 63 a 74 do Código de Defesa do Consumidor, é válido fazer alusão a três dispositivos legais que também versam sobre o tema e que podem despertar a atenção do examinador. O art. 75 pode ser identificado como uma norma de extensão, permitindo o concurso de pessoas e a responsabilização daqueles que, mesmo não tendo praticado exatamente a conduta praticada na norma, contribuíram para a prática do delito. Além disso, determina a responsabilização penal do “diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas”. Considerando a vulnerabilidade do consumidor e a necessidade de sua proteção, o art. 76 elenca um rol de circunstâncias agravantes dos crimes previstos nos arts. 63 a 74: Æ serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de calamidade (inciso I); Æ ocasionarem grave dano individual ou coletivo (inciso II); Æ dissimularem a natureza ilícita do procedimento (inciso III); Æ quando cometidos por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima, ou em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não (inciso IV); Æ serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais (inciso V). Tais circunstâncias deverão ser consideradas pelo Juízo Criminal para o cálculo da pena que será aplicada ao eventual infrator, nos termos do art. 68 do Código Penal. Por fim, o art. 78 possibilita que o magistrado aplique, conforme a gravidade a as circunstâncias do caso, cumulativa ou alternadamente, as penas de: interdição temporária de direitos (inciso I); publicação em órgãos de CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 34 comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação (inciso II); e prestação de serviços à comunidade (inciso III). 6.2 Condutas típicas previstas no CDC O art. 63 da Lei nº 8.078/90 prevê que é crime “omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade”. Acrescentando, em seu parágrafo primeiro, que “incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado”. O art. 63 nos remete aos arts. 8º, 9º e as partes finais dos arts. 12 e 31 do CDC. Ademais, é oportuno recordar que o art. 6º, em seus incisos I e II, estabelece, como direitos básicos do consumidor, o direito à proteção da vida, saúde e segurança. Repare que a conduta do agente do crime é omissiva. Ou seja, o infrator deixa de realizar uma ação que devia e podia realizar. Também, não há necessidade de qualquer dano ao consumidor. O parágrafo segundo prevê a responsabilidade do agente por culpa. Se no caput e no parágrafo primeiro era necessário o dolo, ainda que em sua modalidade eventual (o agente assume o risco), a modalidade culposa permite a responsabilização do agente por imprudência, negligência e imperícia. O texto do art. 64 é o seguinte: deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado. Neste delito, é clara a correlação com a obrigação consubstanciada no parágrafo primeiro do art. 10. Para a configuração deste crime, é necessário que o fornecedor não tenha ciência da periculosidade do produto quando o colocou à disposição no mercado de consumo. É imperativo atentar que a norma exige que a comunicação seja feita à autoridade competente e aos consumidores. O parágrafo único dispõe que incorrerá “nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo”. CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 35 Da mesma forma que o caput, trata-se aqui de conduta omissiva, que consiste no descumprimento das determinações da autoridade administrativa competente. Recorde-se que, como vimos nos capítulos anteriores, diversas medidas administrativas podem ter como objetivo retirar produtos nocivos ou perigosos do mercado de consumo. O art. 65 do CDC, reza que é crime “executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente”. Neste dispositivo, o objetivo da norma é proteger o direito à vida, saúde e segurança do consumidor. Note que o tipo legal determina que o prestador do serviço – sujeito ativo do delito – deve executar efetivamente o serviço. Assim, o oferecimento de serviço perigoso em descumprimento de determinação de autoridade competente caracterizará somente tentativa. Ademais, ressalte-se que fornecedor será responsabilizado criminalmente
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