Buscar

DIREITO PENAL MATERIAL DE APOIO

Prévia do material em texto

OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
P
e
n
a
l
Prof. Nidal K. Ahmad
D
i
r
e
i
t
o
P
e
n
a
l
Prof. Nidal K. Ahmad
1 
01) TEORIA DA NORMA
1) DA LEI PENAL NO TEMPO
1.1) Princípios da lei penal no tempo 
Há dois princípios que regem os conflitos de leis penais no tempo: 
1º) o da irretroatividade da lei mais severa; 
2º) o da retroatividade da lei mais benigna. 
Esses dois princípios podem ser resumidos em um só: o da retroatividade da lei mais 
benigna. 
1.2) HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
A) ABOLITIO CRIMINIS
Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato 
que anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por 
parte do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. 
(adultério era típico, mas se tornou atípico com a Lei 11.106/05) É decorrência da previsão do art. 5º, 
XL, CF, e art. 2º, do CP. 
B) NOVATIO LEGIS IN MELLIUS
Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias 
maneiras. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, 
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado (Art. 2, parágrafo único do CP). 
C) NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA
A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis 
incriminadora): não retroage. 
A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera 
crime fato anteriormente não incriminado. 
D) NOVATIO LEGIS IN PEJUS
A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a nova lei de 
drogas, Lei n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de drogas). Incide, no caso, 
o princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu" (art.
5o. XL).
1.3) CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO E LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME 
PERMANENTE, ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa 
está presente a vontade do agente. 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
P
e
n
a
l
Prof. Nidal K. Ahmad
D
i
r
e
i
t
o
P
e
n
a
l
Prof. Nidal K. Ahmad
2 
Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, 
considerando que uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da 
pena, o agente responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime continuado. 
Portanto, se uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade delitiva, deverá ser 
aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando. 
É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se 
ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência”. 
2) LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA – Art. 3º do CP
2.1) Conceito 
De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou temporárias, embora 
decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que as determinaram, aplicam-se 
aos fatos praticados durante sua vigência. 
São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies: 
* LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessam a sua
vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional também terminar.
Portanto, são aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, guerras, 
revoluções, cataclismos, epidemias, etc. 
* LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, portanto, dotadas de
auto-revogação.
É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado pelo 
legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua entrada 
em vigor está marcada para morrer. 
2.2) CARACTERÍSTICAS 
A) São autorrevogáveis
Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, que a 
revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela 
tratada (art. 2º, § 1º da LICC). 
As leis de vigência temporária constituem exceção a esse princípio, visto que 
perdem sua vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue. 
B) São ultrativas
A ultratividade significa a possibilidade de uma lei se aplicar a um fato 
cometido durante a sua vigência, mesmo após a sua revogação (a lei adere ao fato como se fosse um 
carrapato, acompanhando-o para sempre, mesmo após sua morte). 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
3 
3. DO TEMPO DO CRIME – Art. 4º 
 
3.1) CONCEITO E IMPORTÂNCIA 
 
A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita da fixação 
do momento em que se considera o delito cometido. 
 
O CP adotou a teoria da atividade, segundo a qual se reputa praticado o 
delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado. 
 
Ex. homicídio: o mais importante é detectar o instante da ação (desfecho dos 
tiros), e não o momento do resultado (ocorrência da morte). 
 
 
4) DA LEI PENAL NO ESPAÇO – Art. 5º 
 
4.1) INTRODUÇÃO 
 
A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que o Estado 
exerce a sua soberania. 
 
Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis brasileiras 
aos delitos cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do 
conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos 
acontecimentos dentro do seu território. 
 
4.2) TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO (EMBARCAÇÕES E AERONAVES) 
 
Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território brasileiro 
por equiparação: 
 
A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde 
estiverem. 
 
B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem navegando em 
alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
 
Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que 
públicos, não são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos 
devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza 
privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º). 
 
5) LUGAR DO CRIME – Art. 6º 
 
A determinação do lugar em que o crime se considera praticado é decisiva 
no tocante à competência penal internacional. Surge o problema quando o crime se desenrola em 
lugares diferentes. 
 
O CP adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar 
do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
4 
6) CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
 
6.1) CONCEITO 
 
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente 
aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é 
aparente, porque apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. 
 
6.2) PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS 
 
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
 
A norma especial, ou seja, a que acresce elemento próprio à descrição legal 
do crime previsto na geral, prefere a esta. 
 
A norma do art. 123 do CP, que trata do infanticídio, prevalece sobre a do 
art. 121, que cuida do homicídio, porque possui, além dos elementos genéricos deste último, os 
seguintes especializantes: “própriofilho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do estado 
puerperal”. 
 
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
 
B.1) Conceito de norma subsidiária 
 
Uma norma é considerada subsidiária à outra, quando a conduta nela 
prevista integra o tipo da principal, significando que a lei principal afasta a aplicação da lei 
secundária. 
 
Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de 
violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor 
gravidade que a da principal é absorvida por esta. 
 
O crime de ameaça (art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante 
ameaça (art. 146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro (art. 148) no 
de extorsão mediante seqüestro (art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15) cabe 
no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (art. 121). Há um único fato, o qual 
pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária. 
 
B.2) Espécies 
 
a) Subsidiariedade Expressa ou explícita 
 
Ocorre quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra. 
Quando a norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de maior 
gravidade punitiva. 
 
A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo 
incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
5 
Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo 
direto e iminente: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não 
constitui crime mais grave. 
 
B.2) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA 
 
Ocorre quando uma figura típica funciona como elementar ou 
circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta exclui a 
simultânea punição da primeira. 
 
A norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se a sua 
subsidiariedade. 
 
Ex: Estupro contendo o constrangimento ilegal. 
 
C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
 
C.1) Conceito 
 
Ocorre quando um ato definido por uma norma incriminadora é meio 
necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando 
constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade 
prática atinente àquele crime. 
 
Em outras palavras, quando a infração prevista na primeira norma constituir 
simples fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas 
a última. 
 
Trata-se da hipótese de crime meio e do crime fim. 
 
Ex. é o que se dá na violação de domicílio com a finalidade de praticar furto 
em residência. A violação é mera fase de execução do delito de furto. 
 
02) TEORIA DO CRIME 
 
Segundo a concepção analítica, crime é fato típico, antijurídico e culpável. 
 
1) DO FATO TÍPICO 
 
É o fato que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato 
que se enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal. 
 
Elementos do fato típico 
 
a) a conduta 
b) o resultado 
c) o nexo de causalidade 
d) a tipicidade 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
6 
Ausente um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um 
indiferente penal. É um fato atípico. 
 
1.1) CONDUTA 
 
CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a 
determinada finalidade. 
 
Para a caracterização da conduta, sob qualquer prisma, é indispensável a 
existência do binômio vontade e consciência. 
 
Ausente a vontade ou consciência, não haverá conduta punível, como, por 
exemplo, na coação física irresistível, movimentos reflexos e estado de inconsciência. 
 
a) Coação física irresistível (“vis absoluta”) 
 
Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força 
corporal exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age voluntariamente. 
Neste caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do coator. 
 
Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há 
fato típico. Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado mediante coação física 
irresistível é atípico. Não responde por crime nenhum. 
 
Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral. 
 
Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou 
intimidação, feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato 
criminoso. 
 
No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é 
culpável, em face da inexigibilidade de conduta diversa. 
 
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não 
se há falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do CP (causa de exclusão da 
culpabilidade). 
 
 
Em síntese: 
coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade 
coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade 
coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP) 
 
b) Movimentos reflexos 
 
São atos reflexos, puramente somáticos, aqueles em que o movimento 
corpóreo ou sua ausência é determinado por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
7 
Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o 
transmitem diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, como ocorre, por exemplo, 
em um ataque epilético (ex...). 
 
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações 
motoras, secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano (ex. tosse, 
espirro, etc.). 
 
c) Estados de inconsciência 
 
A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a 
hipnose, o sonambulismo a narcolepsia. 
 
2) DA OMISSÃO E SUAS FORMAS 
 
A) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS 
 
São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito, 
independentemente da produção de qualquer consequência posterior. A norma, ao invés de 
descrever uma conduta negativa (não matarás, p. ex.), impõe um comportamento positivo. 
 
Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a 
desobediência ao dever de agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE 
AGIR E NÃO DE EVITAR O RESULTADO. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será 
irrelevante para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma 
qualificadora. 
 
- Ex. 
Omissão de socorro 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-
lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à 
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e 
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da 
autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da 
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, 
se resulta a morte. 
 
Abandono material 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do 
cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para 
o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 
(sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursosnecessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia 
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa 
causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente 
enfermo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma 
a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
8 
Nesses casos, o crime se perfectibiliza a partir da conduta omissiva. A norma 
impõe que o agente pratique uma ação para que o delito não se consume. Se deixar de praticar a 
ação, terá cometido o delito omissivo. 
B) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO 
 
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a 
obrigação de agir, mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir 
com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão 
há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado. 
 
O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente 
assume a condição de garantidor. 
 
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por 
omissão é preciso que tenha o dever jurídico de impedir o resultado. E esse dever está 
previsto no artigo 13, § 2º: 
 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
 
É um dever decorrente de lei. Dever esse que aparece numa série de 
situações, como, por exemplo, o dever de assistência que se devem mutuamente os cônjuges (art. 
1564 do CC), que devem os pais aos filhos (art. 1634 do CC). 
 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
 
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de 
garantidor pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante 
é que o sujeito se coloque em posição de garante da não-ocorrência do resultado, haja 
contrato ou não, como nas hipóteses em que voluntariamente assume encargo sem mandato ou 
função tutelar. 
 
Ex: médico plantonista; salva-vidas, com relação aos banhistas; babá, em 
relação à criança. 
 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de 
perigo para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica 
obrigado a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. 
 
Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa 
ou culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou 
uma situação já existente. 
 
Ex. exímio nadador convida uma criança para nadar e se omite na hipótese 
de o infante estar se afogando. 
 
 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
9 
3) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no 
vínculo ou liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime. 
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma 
direta. Trata-se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade. 
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa 
contribua para o resultado. É a chamada concausa. 
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente 
independente, dependendo se teve ou não origem na conduta do agente. 
3.1) CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
A) CONCEITO 
São aquelas que não têm origem na conduta do agente. O advérbio de 
intensidade “absolutamente” serve para designar que a causa não partiu da conduta, mas de fonte 
totalmente distinta. 
Além disso, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem 
por si sós produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta. 
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. 
B) ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
a) Preexistentes 
Existem antes de a conduta ser praticada e atuam independentemente de 
seu cometimento, de maneira que com ou sem a ação o resultado ocorreria do mesmo modo. 
Ex: “A” desfecha um tiro de revólver em “B”, que vem a falecer pouco 
depois, não em conseqüência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno. 
b) Concomitantes 
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o 
resultado independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em 
que a ação é realizada. 
Ex: “A” fere “B” no mesmo momento em que este vem a falecer 
exclusivamente por força de um ataque cardíaco. 
c) Supervenientes 
São causas que atuam após a conduta. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
10 
Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B” que, quando está tomando a 
refeição, vem a falecer em consequência de um desabamento ou posterior atropelamento. 
C) CONSEQUÊNCIAS DAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o 
problema é resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou 
seja, o agente responde somente por aquilo que deu causa. 
Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o 
comportamento do agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos 
praticados antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá 
por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
3.2) CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
A) CONCEITO 
Causa relativamente independente é a que, funcionando em face da conduta 
anterior, conduz-se como se por si só tivesse produzido o resultado. 
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se 
situando dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas 
relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente. 
Aqui não há, via de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre 
as causas, que, ao final, conduzem ao resultado lesivo. 
B) ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
a) Preexistentes 
São as que atuam antes da conduta. 
Ex: “A” desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer 
em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe 
isoladamente seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de 
forma independente, produzindo por si só o resultado. 
b) Concomitantes 
São as causas que atuam exatamente no instante em que a ação é realizada. 
Ex: considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da agressão, sofre 
ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a morte, 
já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o 
resultado morte. 
c) Supervenientes 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
11 
São as causas que ocorrem depois da conduta praticada pelo agente. 
Ex. A vítima de um atentado élevada ao hospital e sofre acidente no trajeto, 
vindo, por esse motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo acidente 
e não pelo atentado, mas essa independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima não 
estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado posteriormente à conduta, denomina-
se causa superveniente. 
C) CONSEQUÊNCIA DAS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo 
causal, o agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou 
culpa. 
Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-
naturalístico, a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, do CP, que excepcionou a regra geral, 
manda desconsiderá-lo, não respondendo o agente jamais pelo resultado, mas tão-somente pelos 
fatos anteriores. 
 
4) DO CRIME DOLOSO E CULPOSO – Art. 18 do CP 
 
4.1) DOLO DIRETO 
 
No dolo direto o agente quer o resultado representado como fim de sua 
ação. A vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. Adota-se, pois, a teoria da vontade. 
 
Ex: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O 
dolo se projeta de forma direta no resultado morte. 
 
4.2) DOLO EVENTUAL 
 
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o 
resultado, isto é, admite e aceita o risco de produzi-lo. 
 
O agente não quer o resultado, pois se assim fosse haveria dolo direto. Ele 
antevê o resultado e age. Percebe que é possível causar o resultado e, não obstante, realiza o 
comportamento. Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que este se produza. 
 
Sobre o dolo eventual, o Código Penal adota a teoria do consentimento, 
segundo a qual o sujeito não leva em conta em conta a possibilidade do evento previsto, agindo e 
assumindo o risco de sua produção. 
 
4.3) DO CRIME CULPOSO 
 
A) CONCEITO 
 
É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado 
objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ser 
evitado. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
12 
B) ELEMENTOS DA CULPA 
 
a) Conduta humana voluntária 
 
O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não 
fazer. O agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a 
perigo de dano. Falta, porém, com o dever de cuidado exigido pela norma. 
 
b) Resultado involuntário 
 
É imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido 
pelo agente. 
 
c) Nexo de causalidade 
 
Somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o 
resultado danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que o agente não deseja 
a produção do evento lesivo. 
 
d) Tipicidade 
 
Deve haver atenção a este ponto, porquanto o crime culposo precisa estar 
expressamente previsto no tipo penal. Ex: não existe menção, no art. 155 do CP, à culpa, de forma 
que não há “furto culposo”. 
 
e) Previsibilidade objetiva 
 
É a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser 
humano normal. Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da pessoa uma 
atenção extraordinária e fora do razoável. 
 
f) Ausência de previsão 
 
É necessário que o sujeito não tenha previsto o resultado. Se o previu, não 
estamos no terreno da culpa, mas do dolo. O resultado era previsível, mas não foi previsto pelo 
sujeito. Daí falar-se que a culpa é a imprevisão do previsível. 
 
g) Inobservância do cuidado objetivo 
 
Ocorre quando o agente deixa de seguir as regras básicas de atenção e 
cautela, exigíveis de todos que vivem em sociedade. Essas regras gerais de cuidado derivam da 
proibição de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente organizada está 
disposta a tolerar. 
 
C) MODALIDADES DE CULPA 
 
a) Imprudência 
 
É a prática de um fato perigoso. Ex. dirigir em alta velocidade em via 
movimentada. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
13 
B) Negligência 
 
É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex. 
deixar arma de fogo ao alcance de uma criança. 
 
c) Imperícia 
 
É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na 
incapacidade ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex. médico 
que deixa de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia, demonstrando sua nítida 
inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do paciente. 
 
5) DA CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Art. 14 
 
5.1) DA CONSUMAÇÃO 
 
A) CONCEITO 
 
Determina o artigo 14, I, do CP que o crime se diz consumado “quando nele 
se reúnem todos os elementos de sua definição legal”. 
 
É o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o fato praticado 
pelo agente se enquadra no tipo abstrato. 
 
* ITER CRIMINIS 
 
Iter criminis é o conjunto de fases pelas quais passa o delito. É o caminho do 
crime. Compõe-se das seguintes etapas: 
 
a) Cogitação 
 
É o momento da ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a idéia 
de praticar o crime. 
 
A cogitação não constitui fato punível. 
 
b) Atos preparatórios 
 
É a fase de exteriorização da idéia do crime, através de atos, que 
começam a materializar a perseguição ao alvo idealizado. 
 
Os atos preparatórios também não são puníveis, salvo quando o 
legislador os define como atos executórios de outro delito autônomo. Nesses casos, o sujeito pratica 
crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometer no futuro, mas sim 
porque praticou atos executórios de outro delito. 
 
c) Execução 
 
É a fase da realização da conduta designada pelo núcleo da figura 
típica, constituída, como regra, de atos idôneos para chegar ao resultado, mas também daqueles 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
14 
que representarem atos imediatamente anteriores a estes, desde que se tenha certeza do 
plano concreto do autor. 
 
d) Consumação 
 
É o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo 
penal. 
 
5.2) DA TENTATIVA 
 
A) CONCEITO 
 
TENTATIVA é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
B) INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM A TENTATIVA 
 
a) Crimes culposos 
 
Os crimes culposos não admitem tentativa. 
 
Na tentativa, o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado, mas 
este não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
Assim, no crime culposo, há evento sem intenção de provocá-lo; na 
tentativa, intenção sem resultado. Daí ser impossível tentativa em crime culposo. 
 
b) crimes preterdolosos 
 
É incompreensível a tentativa de crime preterdoloso, uma vez que neste o 
resultado vai além do que o agente desejou e naquele ele não atinge o evento pretendido. 
 
Sendo o resultado agravado punido a título de culpa, excluída fica a hipótese 
de crime tentado. 
 
c) as contravenções (art. 4º LCP); 
 
d) os crimes omissivos próprios 
 
Pois ou o agente deixa de realizar a conduta, e o delitose consuma, ou a 
realiza, e não se pode falar em crime. 
 
e) Os crimes unissubsistentes 
 
Pois se realizam por único ato. 
 
f) Os crimes habituais 
 
Pois não possuem iter, como no descrito no art. 230 (rufianismo); 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
15 
De fato, o que caracteriza estes crimes é a prática reiterada de certos atos 
que, isoladamente, constituem um indiferente penal. Conclusão: ou há reiteração e o crime consumou-
se ou não há reiteração e não há crime. 
 
6) DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ – Art. 15 
A desistência voluntária consiste numa abstenção de atividade: o sujeito 
cessa o seu comportamento delituoso. Ex: ladrão, dentro da residência da vítima e prestes a 
subtrair-lhe valores, desiste de consumar o furto e se retira. 
O arrependimento eficaz ocorre entre o término dos atos executórios 
e a consumação. 
O agente, nesse caso, já fez tudo o que podia para atingir o resultado, 
mas resolve interferir para evitar a sua consumação. 
Assim, o arrependimento eficaz verifica-se quando o agente ultimou a fase 
executiva do delito e, desejando evitar o resultado, atua para impedi-lo. 
Ex: se estava tentando matar “A” e desiste, já tendo alvejado a vítima, 
responderá unicamente pelas lesões corporais causadas. 
A) CONSEQUÊNCIA 
Nos termos da parte final do artigo 15 do CP, não obstante a desistência 
voluntária e o arrependimento eficaz, o agente responde pelos atos já praticados. Desta forma, retiram 
a tipicidade dos atos somente com referência ao crime cuja execução o agente iniciou. 
Assim, se o ladrão, dentro da casa da vítima, desiste de consumar o furto, 
responde por violação de domicílio (art. 150). Se desiste de consumar o homicídio, responde por lesão 
corporal (art. 129) se antes ferira a vítima. 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz excluem a tipicidade da tentativa. 
Assim, nesses casos jamais o agente responderá pelo crime tentado, mas somente pelos 
atos até então praticados. 
Desistência voluntária e arrependimento eficaz: não consumação do delito por força de 
conduta voluntária. 
Tentativa: não consumação do delito por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Logo, são institutos incompatíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
16 
7) ARREPENDIMENTO POSTERIOR – Art. 16 
 
A) CONCEITO 
 
Trata-se da reparação do dano causado ou da restituição da coisa subtraída 
nos delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que por ato voluntário do agente, até o 
recebimento da denúncia ou da queixa. 
 
É causa obrigatória de redução de pena, pois o artigo 16 é imperativo: “a 
pena será reduzida”. 
 
8) CRIME IMPOSSÍVEL – Art. 17 
A) CONCEITO 
É a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente 
ineficazes ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do 
crime. 
É uma causa de exclusão da tipicidade. 
B) DELITO IMPOSSÍVEL POR INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO 
Ocorre quando o meio empregado pelo agente, pela sua própria natureza, é 
absolutamente incapaz de produzir o resultado. 
Ex. o agente querendo matar a vítima mediante veneno, ministra açúcar na 
alimentação, supondo ser arsênico. 
Ex. pretender atirar na vítima com arma defeituosa, sem condições de 
efetuar disparos. 
Obs: a ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime 
impossível. 
Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à produção do 
resultado, este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do agente que pretende desfechar 
um tiro de revólver contra a vítima, mas a arma nega fogo. 
Ex: uma porção de açúcar é ineficaz para matar uma pessoa normal, mas 
apta a eliminar um diabético. 
C) DELITO IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO MATERIAL 
Ocorre quando inexiste o objeto material sobre o qual deveria recair a 
conduta, ou quando, pela sua situação ou condição, torna impossível a produção do resultado 
visado pelo agente. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
17 
A pessoa ou a coisa sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea 
para a produção de algum resultado lesivo. 
Ex: “A”, pensando que seu desafeto está a dormir, desfere punhaladas, vindo 
a provar-se que já estava morto; 
 
9) ERRO DE TIPO – Art. 20 
 
9.1) CONCEITO 
A figura típica (ou tipo legal) é composta de elementos específicos ou 
elementares. Em outras palavras, os “elementos constitutivos do tipo” tratam de cada componente 
que constitui o modelo legal de conduta proibida. 
Ex. No crime de lesão corporal temos os seguintes elementos: ofender + 
integridade corporal + saúde + outrem. O engano sobre qualquer desses elementos pode levar ao 
erro de tipo. 
O erro de tipo pode recair sobre uma circunstância qualificadora. 
Ex. No crime de lesão corporal seguida de aborto, o sujeito não responde por 
este crime se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele supõe inexistente uma 
circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo o tipo fundamental doloso (lesão 
corporal leve). 
9.2) ERRO DE TIPO ESSENCIAL 
É o erro que incide sobre as elementares e circunstâncias do tipo. 
Daí o nome erro essencial: incide sobre situação de tal importância para o 
tipo que, se o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos, não naquelas 
circunstâncias. 
Portanto, há erro de tipo essencial quando a falsa percepção da realidade 
impede o sujeito de compreender a natureza criminosa do fato. 
O erro de tipo essencial se subdivide em: INVENCÍVEL OU VENCÍVEL 
I) INVENCÍVEL (OU ESCUSÁVEL) 
Ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência. Qualquer 
pessoa, empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas condições em que se 
viu o sujeito, incidiria em erro. 
Ex. o agente se embrenha em mata virgem e fechada, distante de qualquer 
centro urbano, com a intenção de caçar capivara. Pelas tantas, vislumbra um vulto se movimentando 
pela intensa vegetação. Supondo ser um animal, efetua um disparo. Atinge o alvo e constata, para sua 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
18 
surpresa, que abateu não um animal, mas um ser humano que, por coincidência, também caçava por 
ali. 
O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois o 
sujeito não age dolosa ou culposamente. 
II) ERRO VENCÍVEL (OU INESCUSÁVEL) 
Ocorre quando pode ser evitado pela diligência ordinária, resultando de 
imprudência ou negligência. Qualquer pessoa, empregando a prudência normal exigida pela ordem 
jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito. 
É o erro evitável, indesculpável ou inescusável (cuidado: vencível = 
inescusável): poderia ter sido evitado se o agente empregasse mediana prudência. 
Ex. Suponha-se que o agente vá caçar em mata próxima a zona urbana, 
onde costumam passar pessoas, e efetua um disparo de arma de fogo contra um vulto pensando ser 
um animal, atingindo, na verdade, uma pessoa que passava pelo local, matando-a. No caso, não 
obstante ter se verificadoo erro de tipo, o erro, pelas circunstâncias, não era plenamente justificável, 
porquanto o agente agiu com imprudência, sem o devido cuidado objetivo, devendo responder por 
homicídio culposo. 
O erro de tipo essencial vencível exclui o dolo, mas não a culpa, desde 
que previsto em lei o crime culposo. 
9.3) ERRO DE TIPO ACIDENTAL 
Incide sobre dados irrelevantes da conduta típica. Não impede o sujeito de 
compreender o caráter ilícito de seu comportamento. Mesmo que não existisse, ainda assim a conduta 
seria antijurídica. 
São casos de erro acidental: 
a) erro sobre o objeto 
b) erro sobre pessoa 
c) erro na execução (aberratio ictus) 
d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) 
 
A) ERRO SOBRE OBJETO 
Há erro sobre objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre 
determinada coisa, sendo que, na realidade, ela incide sobre outra. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
19 
É o caso do sujeito subtrair farinha pensando ser açúcar. O erro é 
irrelevante, pois a tutela penal abrange a posse e a propriedade de qualquer coisa, pelo que o 
agente responde por furto. 
B) ERRO SOBRE PESSOA – Art. 20, § 3º 
Ocorre quando há erro de representação, em face do qual o sujeito 
atinge uma pessoa supondo tratar-se da que pretendia ofender. Ela pretende atingir certa 
pessoa, vindo a ofender outra inocente pensando tratar-se da primeira. 
Nos termos do art. 20, § 3º, 2ª parte, reza o seguinte: “Não se consideram, 
neste caso” (erro sobre pessoa), “as condições ou qualidades da vítima, senão as de pessoa contra 
quem o agente queria praticar o crime”. Significa que no tocante ao crime cometido pelo sujeito não 
devem ser considerados os dados subjetivos da vítima efetiva, mas sim esses dados em 
relação à vítima virtual (que o agente pretendia ofender). 
Exs: 
a) O agente pretende cometer homicídio contra Pedro. Coloca-se de tocaia e, 
pressentindo a aproximação de um vulto e supondo tratar-se da vítima, atira e vem a matar o próprio 
pai. Sobre o fato não incide a agravante genérica prevista no art. 61, II, “e”, 1ª figura (ter cometido o 
crime contra ascendente). 
b) o agente pretende praticar um homicídio contra o próprio irmão. Põe-se 
de emboscada e, percebendo a aproximação de um vulto e o tomando pelo irmão, efetua disparos 
vindo a matar um terceiro. Sobre o fato incide a agravante do art. 61, II, “e”, 3ª figura (ter sido o 
crime cometido contra irmão). 
 
C) ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus) – Art. 73 
 
I) CONCEITO 
 
Aberratio ictus significa aberração no ataque ou desvio do golpe. Ocorre 
quando o sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra. 
 
Aqui a relação é entre pessoa e pessoa. Ou seja, o agente pretende atingir 
uma pessoa e acerta outra. 
 
II) ABERRATIO ICTUS COM UNIDADE SIMPLES 
 
Existe a aberratio ictus com resultado único quando em face de erro na 
conduta causal um terceiro vem a sofrer o resultado, que pode ser lesão corporal ou morte. 
 
O Código Penal vê na aberratio ictus com unidade de resultado um só delito 
(tentado ou consumado). Nesse caso, de acordo com o que preceitua o art. 73, 1ª parte, in fine, deve 
ser atendido ao disposto no art. 20, § 3º, 2ª parte, ou seja, o agente responde como se tivesse 
atingido a pessoa pretendida. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
20 
Ex: O agente pretende matar o próprio pai, que se acha conversando com 
Pedro, estranho. Atira e mata o terceiro (Pedro). Sobre o fato incide a circunstância agravante. 
 
II) ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO 
 
Ocorre quando o agente atinge a vítima virtual e terceira pessoa. Aplica-se a 
2ª parte do art. 73: “(...) No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, 
aplica-se a regra do art. 70 deste Código”, ou seja, a regra do concurso formal de crimes. 
 
D) RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis) – Art. 74 
 
I) CONCEITO 
 
Significa desvio do crime. Enquanto na aberratio ictus, o agente quer atingir 
uma pessoa e ofende outra (ou ambas). Na aberratio criminis, o agente quer atingir um bem jurídico e 
ofende outro (de espécie diversa). 
 
Ex: o agente joga uma pedra contra uma vidraça e acaba acertando uma 
pessoa, em vez do vidro. 
 
II) ESPÉCIES 
 
1º) Com unidade simples ou resultado único: 
 
Só atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer 
atingir uma coisa e atinge uma pessoa. Responde pelo resultado produzido a título de culpa (homicídio 
ou lesão corporal culposos). 
 
Portanto, a consequência é a seguinte: responde só pelo resultado 
produzido, se previsto como crime culposo. 
 
2º) Com unidade complexa ou resultado duplo: 
 
São atingidos tanto o bem visado quanto um diverso. 
 
O agente quer atingir uma coisa, vindo a ofender esta e uma pessoa. 
Responde por dois crimes: dano (art. 163) e homicídio ou lesão corporal culposa em concurso formal 
(concurso entre crime doloso e culposo). Aplica-se a pena do crime mais grave com o acréscimo de 
1/6 até metade (regra do concurso formal de crimes – art. 70). 
 
10) DESCRIMINANTES PUTATIVAS – Art. 20, § 1º 
A) CONCEITO 
É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela 
não existe na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na 
mente, na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante imaginária 
ou erroneamente suposta. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
21 
Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas 
circunstâncias do caso concreto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa, 
estrito cumprimento do dever legal ou em exercício regular do direito. Quando isso ocorre, aplica-se o 
disposto no art. 20, § 1º, 1ª parte. 
Em relação às consequências, o Código Penal, tendo adotado a teoria 
limitada da culpabilidade, disciplina o tema da seguinte forma: 
Quando o erro incide sobre os pressupostos de fato da excludente, trata-se 
de erro de tipo, aplicando-se o disposto no art. 20, § 1º. 
Se invencível, há exclusão do dolo e da culpa. Exemplos acima. 
Se vencível, fica excluído o dolo, podendo o sujeito responder por crime 
culposo. (matar o vigia pensando ser o ladrão). 
Quando, entretanto, o erro do sujeito recai sobre os limites legais 
(normativos) da causa de justificação, aplicam-se os princípios do erro de proibição: se inevitável, há 
exclusão da culpabilidade; se evitável, não se exclui a culpabilidade, subsiste o crime doloso 
atenuando-se a pena (art. 21). 
11) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 20, § 2º 
Existe o erro provocado quando o sujeito a ele é induzido por conduta de 
terceiro. A provocação pode ser dolosa ou culposa. 
A posição do terceiro provocador é a seguinte: 
Responde pelo crime a título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento 
subjetivo do induzimento. 
A posição do provocado é a seguinte: 
a) Tratando-se de erro invencível, não responde pelo crime cometido, quer a 
título de dolo, quer de culpa. 
b) tratando-se de provocação de erro vencível, não responde pelo crime a 
título de dolo, subsistindo a modalidade culposa, se prevista na lei penal incriminadora. 
 
12) ERRO DE PROIBIÇÃO – Art. 21 
 
12.1) CONCEITO 
 
Surge o erro deproibição: O erro de proibição é o erro que incide sobre a 
ilicitude do fato. O sujeito, diante do erro, supõe lícito o fato por ele cometido. Ele sabe o que faz, 
mas supõe inexistir a regra de proibição. 
 
12.2) FORMAS DE ERRO DE PROIBIÇÃO 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
22 
O erro de proibição pode ser: Escusável ou Inescusável. 
 
A) ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL: 
 
Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, 
valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da 
culpabilidade. 
 
Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi 
aprovado, trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um 
parente, crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável. 
 
B) INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL: 
 
Trata-se de erro sobre a ilicitude do fato que não se justifica, pois, se 
tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido conhecimento da 
realidade. 
 
Ex. abstendo-se do seu dever de se manter informado, o agente deixa de 
tomar conhecimento de uma lei, divulgada na imprensa, que transforma em crime determinada 
conduta. Praticando o ilícito, não há exclusão da culpabilidade, embora haja redução da pena, 
variando de um 1/6 a 1/3. 
 
 
13) DA ANTIJURIDICIDADE 
 
13.1) CONCEITO 
 
É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando lesão a um bem 
juridicamente protegido. 
 
É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação 
ou omissão típicas tornam-se ilícitas. 
 
São causas de exclusão da antijuricidade, previstas no artigo 23 do CP: 
 
a) Estado de necessidade; 
b) legítima defesa; 
c) estrito cumprimento do dever legal 
d) exercício regular de direito. 
 
13.2) ESTADO DE NECESSIDADE – Art. 24 
 
I) CONCEITO 
 
É a causa de exclusão da ilicitude da conduta de quem, não tendo o dever 
legal de enfrentar o perigo atual, a qual não provocou por sua vontade, sacrifica um bem jurídico 
ameaçado por esse perigo para salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável exigir. 
 
II) EXEMPLOS DE ESTADO DE NECESSIDADE 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
23 
a) danos materiais produzidos em propriedade alheia para extinguir um incêndio e salvar pessoas. 
b) Subtração de um carro para transportar um doente em perigo de vida ao hospital. 
c) Violação de domicílio para salvar vítimas de desastres 
d) Subtração de alimentos para salvar alguém da morte por inanição. 
 
13.3) LEGÍTIMA DEFESA – Art. 25 
 
I) CONCEITO 
 
É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste em repelir injusta 
agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios 
necessários. 
 
II) REQUISITOS 
 
1) agressão injusta, atual ou iminente 
2) agressão a direito próprio ou de terceiro 
3) repulsa com os meios necessários 
4) uso moderado dos meios 
5) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se). 
 
A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legítima defesa. 
 
13.4) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 
 
O fundamento reside no fato de que não há crime quando o agente pratica o 
fato no “estrito cumprimento de dever legal”. Quem cumpre um dever legal dentro dos limites 
impostos pela lei obviamente não pode estar praticando ao mesmo tempo um ilícito penal, a não ser 
que aja fora daqueles limites. 
 
Ex: o policial que prende o agente em flagrante ou cumprindo mandado de 
prisão, embora atinja o seu direito de liberdade, não comete o crime previsto no art. 148 do CP, 
porque cumpre o dever que lhe é imposto por lei. 
 
13.5) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
 
É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada 
por lei, que torna lícito um fato típico. 
 
É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício de uma 
prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizado como fato típico. 
 
Ex: prisão em flagrante realizada por um particular; 
 
Qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade 
previstos em lei (penal ou extrapenal). 
 
 
 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
24 
13.6) EXCESSO – Art. 23, parágrafo único 
 
A condição essencial para que exista excesso é a preexistência de uma 
situação objetiva de legítima defesa. Deve haver uma agressão injusta, de modo que o excesso se 
refere aos limites da conduta do agredido, não à sua inicial ilicitude. Por isso, chama-se de excesso à 
intensificação desnecessária de uma conduta inicialmente justificada. 
 
Os nossos tribunais admitem o excesso quer na imoderação, quer no 
emprego de meios desnecessários. 
 
a) Excesso doloso 
 
Ocorre quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega 
meio que sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua desproporcionalidade, atua com 
imoderação. 
 
Ex: já prostrado seu agressor, que não pode continuar a agressão, o 
agredido prossegue na conduta de feri-lo. De uma conduta lícita passa a um comportamento ilícito. 
Responde por crime doloso (art. 23, parágrafo único). 
 
Consequência: constatado o excesso doloso, o agente responde pelo 
resultado dolosamente. Ex: aquele que mata quando bastava tão-somente a lesão responde por 
homicídio doloso. 
 
b) excesso culposo 
 
Ocorre quando o agente, diante do temor, aturdimento ou emoção 
provocada pela agressão injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um verdadeiro 
ataque, após ter dominado o seu agressor. 
 
Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda 
sofrendo o ataque, tendo seu excesso decorrido de uma equivocada realidade. 
 
O agente responderá pelo resultado produzido, a título de culpa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
25 
14) DA CULPABILIDADE 
 
14.1) CONCEITO 
 
Doutrinariamente, a culpabilidade é considerada um juízo de censurabilidade 
e reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com 
potencial consciência da ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de modo 
diverso. 
 
14.2) CAUSAS EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE 
 
I) INIMPUTABILIDADE 
 
INIMPUTÁVEL é o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, não possui, ao tempo da prática do fato, capacidade de entender o seu 
caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
 
São causas de exclusão da imputabilidade previstas no Código Penal: 
 
a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26 
do CP); 
 
b) menoridade (art. 27 do CP e 228 da CF/88). 
 
c) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, 
§ 1º, do CP). 
 
Em relação à inimputabilidade pela enfermidade mental, o Código Penal 
adotou o critério biopsicológico. Só é imputável o sujeito que, em consequência da anomalia 
mental, não possui capacidadede compreender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de 
acordo com essa compreensão. 
 
A) DA INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL 
INCOMPLETO OU RETARDADO (ART. 26) 
 
Para que seja considerado inimputável não basta que o agente seja portador 
de “doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado”. É necessário que, em 
consequência desses estados, seja “inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento” (no momento da conduta). 
 
* Diminuição da capacidade de entendimento e de vontade – Semi-imputabilidade – Art. 
26, parágrafo único, CP 
 
É a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em 
razão de doença mental ou de desenvolvimento incompleto ou retardado. Alcança os indivíduos em 
que as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência 
interior em relação à prática do crime. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
26 
A responsabilidade diminuída, como o próprio nome indica, não constitui 
causa de exclusão da culpabilidade. O agente responde pelo crime com pena privativa de liberdade 
atenuada ou medida de segurança. E a sentença é condenatória. 
 
B) DA INIMPUTABILIDADE POR EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO 
FORTUITO OU FORÇA MAIOR – Art. 28, § 1º, do CP 
 
a) Conceito 
 
É a causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e 
vontade do agente, em virtude de uma intoxicação aguda e transitória causada por álcool ou qualquer 
substância de efeitos psicotrópicos, sejam eles entorpecentes (morfina, ópio), estimulantes (cocaína) 
ou alucinógenos (ácido lisérgico). 
 
b) embriaguez acidental 
 
A EMBRIAGUEZ É ACIDENTAL quando não voluntária nem culposa. Pode ser 
proveniente de: 
 
a) CASO FORTUITO: ocorre quando o sujeito desconhece o efeito inebriante 
da substância que ingere, ou quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere 
substância que possui álcool (ou substância análoga), ficando embriagado. 
 
B) FORÇA MAIOR: há embriaguez proveniente de força maior no caso, p. ex., 
de o sujeito ser obrigado a ingerir bebida alcoólica. 
 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA 
MAIOR, é COMPLETA, em consequência da qual, ao tempo da ação ou da omissão, o agente ERA 
INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento, HÁ EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE (art. 28, § 1º). 
 
c) Embriaguez acidental: casos de diminuição da pena – Art. 28, § 2º, do CP 
 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA 
MAIOR, é INCOMPLETA, não há exclusão da imputabilidade. O sujeito responde pelo crime com a pena 
atenuada, desde que haja redução de sua capacidade intelectiva ou volitiva. A sentença é 
condenatória. Aplica-se o disposto no art. 28, § 2º. 
 
Tratando-se de EMBRIAGUEZ PREORDENADA não há exclusão da 
imputabilidade. O agente responde pelo crime, incidindo sobre a pena a agravante prevista no artigo 
61, II, l, CP. 
 
d) Embriaguez voluntária ou culposa – art. 28, II, CP 
 
Não só a embriaguez proveniente de álcool não exclui a imputabilidade, mas 
também a derivada de outras substâncias de consequências semelhantes, como a maconha, éter, 
ópio, etc. sendo irrelevante que seja completa ou incompleta. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
27 
Se o sujeito comete uma infração penal sob efeito de embriaguez voluntária 
ou culposa, não há exclusão da imputabilidade e, por consequência, não fica excluída a culpabilidade. 
Ele responde pelo crime. 
 
II) FALTA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE – Art. 21 
 
A) CONCEITO 
 
É a consciência ou conhecimento atual ou possível da ilicitude da conduta, ou 
seja, a possibilidade de valoração da conduta que toda pessoa possui, independentemente de ser ou 
não afeita às ciências jurídicas. 
 
Trata-se, em suma, da possibilidade de o agente poder conhecer o caráter 
ilícito da sua ação. 
 
A potencial consciência da ilicitude pode ser excluída no caso de erro de 
proibição. Excluindo-se, nesse caso, a própria culpabilidade. 
 
Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-
se o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da culpabilidade. 
 
Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi 
aprovado, trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um 
parente, crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável. 
 
III) INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 
 
Além dos dois primeiros elementos, exige-se que nas circunstâncias do fato 
tivesse o agente possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico. 
 
Só há culpabilidade quando, devendo e podendo o sujeito agir conforme o 
direito, realiza conduta diversa. 
 
Ao contrário, quando não lhe era exigível comportamento diverso, não incide 
o juízo de reprovação, excluindo a culpabilidade. 
 
Isso ocorre na coação moral irresistível e a obediência hierárquica. Ou seja, 
coação moral irresistível e a obediência hierárquica excluem a exigibilidade de conduta diversa. 
 
A) COAÇÃO MORAL IRRESTÍVEL – Art. 22 
Coação moral é o emprego de grave ameaça contra alguém, no 
sentido de que realize um ato ou não. Ex. o sujeito constrange a vítima, sob ameaça de morte, a 
assinar um documento falso. 
Assim, se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo 
crime de falsidade o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
28 
incide a causa de exclusão da culpabilidade. Logo, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico 
sob coação moral irresistível não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta 
(não é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se da figura do coato para a do coator. 
Quando o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não 
praticará crime por ausência de conduta, aplicando-se o disposto no art. 13, “caput”, do CP. Trata-se 
de causa excludente da tipicidade. 
A coação moral deve ser irresistível. Tratando-se de coação moral 
resistível não há exclusão da culpabilidade, incidindo uma circunstância atenuante (CP, art. 
65, III, c, 1ª figura). 
B) OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA – Art. 22 
Ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de 
uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta 
(positiva ou negativa). 
A ordem ilegal pode ser: a) manifestamente ilegal; b) não manifestamente 
ilegal. 
Quando a ordem é MANIFESTAMENTE ILEGAL, RESPONDEM pelo 
crime o SUPERIOR E O SUBORDINADO. 
Ex. o delegado de polícia determina ao soldado que exija do autor de um 
crime determinada quantia, a fim de não ser instaurado inquérito policial. Os dois respondem pelo 
crime de concussão. Em relação subordinado há uma atenuante genérica (art. 65, III, c). 
No caso de a ordem não ser manifestamente ilegal, embora a conduta 
do subordinado constitua fato típico e antijurídico, não é culpável, em face de incidir umrelevante 
erro de proibição. Diante disso, o subordinado não responde pelo crime, em face da ausência 
de culpabilidade. A obediência hierárquica constitui, assim, causa de exclusão da 
culpabilidade. 
 
15) CONCURSO DE PESSOAS (OU CONCURSO DE AGENTES) – Arts. 29/31 
 
15.1) CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS 
 
Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de 
uma infração penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se 
para a prática de um ou mais delitos. 
 
A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e 
codelinquência. 
 
15.2) AUTORIA 
 
I. CONCEITO 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
29 
Para se compreender o instituto do concurso de pessoas, mostra-se 
imprescindível estabelecer o conceito de autoria criminal, já que repercutirá na identificação da 
conduta de cada agente na prática delituosa. 
 
Várias teorias buscam definir o conceito de autor, merecendo destaque duas 
posições apontadas pela doutrina: 
 
A) Teoria do domínio do fato 
 
De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle 
final do fato. É quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e 
circunstâncias. O partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do 
delito. 
 
Por essa razão, o mandante, embora não realize o núcleo da ação típica, 
deve ser considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação, 
determinando a prática delitiva. 
 
Diante da sua natureza conceitual e hipótese de incidência, poder-se-ia 
cogitar da aplicação da teoria do domínio do fato somente aos delitos dolosos, porquanto somente 
esses exigem voluntariedade e, portanto, domínio em relação ao resultado final. 
 
Os crimes culposos, por se caracterizarem pela ausência de vontade em 
relação ao resultado final, não estão adstritos à teoria do domínio do fato, por absoluta 
incompatibilidade. 
 
b) Teoria restritiva 
 
Segundo essa teoria, autor é aquele que pratica a ação descrita no verbo 
nuclear do tipo penal, isto é, o que pratica o verbo nuclear do tipo: mata, subtrai, constrange, etc. 
 
Em síntese, autor é aquele que realiza a conduta descrita no verbo nuclear 
do tipo, ao passo que partícipe seria o agente que contribui para a prática delituosa, induzindo, 
instigando ou auxiliando materialmente seu autor. 
 
Para a maioria da doutrina1, a teoria restritiva é a aplicada pelo Código 
Penal. 
 
Sinala-se, por fim, que a coautoria é a realização conjunta, por mais de uma 
pessoa, de uma mesma infração penal. É, em última análise, a própria autoria. 
 
15.3) PARTICIPAÇÃO 
 
I. CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO – Art. 31 
 
 
1
 Guilherme de Souza Nucci; André Estefam; Fernando Capez, Aníbal Bruno, Mirabete, René Ariel Dotti, dentre 
outros. 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
30 
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o 
autor ou coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do 
tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. 
 
A participação pode ser: 
 
A) Moral 
 
A determinação (ou induzimento) e a instigação são as formas de 
participação moral. 
 
A.1) Induzimento ou determinação 
 
Ocorre a determinação ou induzimento quando uma pessoa faz surgir na 
mente de outra a intenção delituosa. 
 
Ex: Rafa incute na mente de Iuri a ideia homicida contra Jonas. A 
característica da determinação é a inexistência da resolução criminosa na pessoa do autor principal. Se 
Iuri matar Jonas, Rafa responde por homicídio na condição de partícipe. 
 
A.2) Instigação 
 
Instigar é reforçar uma idéia já existente. O agente já a tem em mente, 
sendo apenas reforçada pelo partícipe. 
 
No caso do exemplo acima, Iuri já tinha em mente matar Jonas. Rafa apenas 
reforçou a ideia homicida. Rafa é partícipe do crime de homicídio, enquanto Iuri responde pelo crime 
na condição de autor. 
 
B) Material 
 
Ocorre na forma de auxílio. Considera-se, assim, partícipe aquele que presta 
ajuda efetiva na preparação ou execução do delito. 
 
Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à 
realização do crime. Auxilia na execução quem permanece de atalaia, no sentido de avisar o autor da 
aproximação de terceiro, leva o ladrão em seu veículo ao local do furto, carrega a arma do homicida. 
 
II) NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO 
 
A participação é acessória a um fato principal. Significa que não se pode falar 
em participação sem que haja uma ação principal, ou seja, sem que alguém realize atos de execução 
de um crime consumado ou tentado. 
 
Como a conduta do partícipe não descrita no tipo penal, faz-se necessária 
uma norma de extensão que viabilize a adequação típica da conduta do partícipe à norma 
incriminadora. Trata-se de uma norma de ligação entre a conduta do partícipe e o tipo penal. E essa 
norma se encontra no artigo 29 do Código Penal, segundo o qual quem concorrer, de qualquer forma, 
para um crime por ele responderá. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
31 
Nesse sentido, o artigo 29 do Código Penal viabiliza que o agente que 
contribuiu para um resultado sem praticar a ação descrita no tipo penal seja enquadrado no crime 
praticado por conta de uma conduta principal (do autor). Assim, quem ajudou a matar não praticou a 
conduta descrita no art. 121 do Código Penal, mas, como concorreu para o seu cometimento, será 
alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29. 
 
III) PARCIPAÇÃO IMPUNÍVEL – Art. 31 
 
Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato 
executório do crime tenha sido iniciado. 
 
Ex: Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de Mafalda 
e, ao avistá-la, apiedado, não dá início ao intento executório. Nesse caso, tanto Fabrício quanto Félix 
não respondem pelo delito de homicídio, pois sequer foi dado início ao ato executório. 
 
IV) PARTICIPAÇÃO POSTERIOR AO CRIME 
 
A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha 
sido praticada antes ou durante a execução do delito. 
 
A contribuição posterior à consumação do crime, conforme o caso, pode 
configurar o crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou real (art. 349 do CP), além de 
outros... 
 
15.4) TEORIAS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
Estabelecida a distinção entre autoria e participação, importa aqui verificar se 
as condutas praticadas em concurso de pessoas ensejam a incidência de vários crimes ou se revestem 
em crime único, ou seja, se todos os agentes devem responder pelo mesmo crime. 
 
Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, 
não havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe. 
 
Daí decorre o nome da teoria: todos respondem por um único crime 
(Teoria unitária). 
 
A teoria pluralista foi adotada, como exceção, no § 2º do art. 29 do CP, que 
dispõe: “se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena 
deste...”. 
 
15.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
I) PLURALIDADE DE CONDUTASTrata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de 
mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. 
 
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos 
agentes tenha realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, onde há duas 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
32 
condutas principais; ou autoria e participação, onde há uma conduta principal e outra acessória, 
praticadas, respectivamente, por autor e partícipe. 
 
II) RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS 
 
Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se 
necessário que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a 
produção do resultado. 
 
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não 
contribuiu em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do 
concurso de pessoas. 
 
A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura 
participação. 
 
Assim, se Tereza Cristina simplesmente diz que vai concorrer no homicídio a 
ser cometido por Ferdinand não há participação. Agora, se Tereza Cristina instiga Ferdinand a matar, 
ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação. 
 
III) DO LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO (Vínculo subjetivo e normativo entre os 
participantes) 
 
Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que 
autor e partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo+dolo) ou normativo 
(culpa+culpa). 
 
As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou 
coautoria. Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem 
consciência de contribuir para a realização do resultado. 
 
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, 
ainda que não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico 
inviabiliza o concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas. 
 
Assim, não há participação dolosa em crime culposo. Ex. Anastácio, 
desejando matar Grizelda, sua paciente, alcança a Januária, enfermeira contratada para cuidar da 
velha senhora, uma substância dizendo ser medicamento, quando, na verdade, tratava-se de veneno. 
Mesmo percebendo a dosagem inadequada e a coloração diferente, a enfermeira, sem maiores 
cautelas, de forma negligente, ministra a substância à paciente, causando-lhe a morte. Não há, no 
caso, concurso de pessoas, por ausência de vínculo subjetivo, já que Anastácio agiu com dolo e 
Januária a título de culpa. Há, portanto, dois delitos: homicídio doloso em relação a Anastácio; 
homicídio culposo em relação a Januária. 
 
Importante lembrar que a lei não requer acordo prévio entre agentes, sendo 
suficiente a consciência por parte das pessoas que de algum modo contribuem com o fato. 
 
Ex. uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para 
vingar-se do patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
33 
participação e, não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a 
empregada também responderá pelo crime de furto. 
 
IV) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES 
 
Nos termos do artigo 29, todos que concorrem para o crime respondem 
pelo mesmo delito. 
 
Ex: Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto 
um desvia a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de 
evadir-se do local com o produto do furto. 
 
É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, 
convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem 
todos por um único tipo penal, qual seja, furto. 
 
15.6) ESPÉCIES DE AUTORIA 
 
I) AUTORIA MEDIATA 
 
Trata-se de uma modalidade de autoria, que ocorre quando o agente se vale 
de pessoa não culpável, ou que atua sem dolo ou culpa, para executar o delito. 
 
Ex: o médico que, dolosa e insidiosamente, entrega uma injeção de morfina, 
em dose demasiadamente forte, para enfermeira, que, sem desconfiar de nada, a aplica em enfermo, 
matando-o. 
 
O médico é autor mediato de homicídio doloso, pois usou sua assistente 
como instrumento de sua agressão, ao passo que a enfermeira não será partícipe deste delito, 
respondendo por crime culposo, desde que tenha atuado com imprudência ou negligência, ou por 
crime nenhum, se o seu erro tiver sido inevitável. 
 
II) AUTORIA COLATERAL 
 
Ocorre quando os agentes desconhecendo cada um a conduta do 
outro, realizam atos voltados à produção do resultado visado por eles, mas que decorre da 
conduta de apenas um dos agentes. 
 
Ex. Suponha-se que “A” e “B”, pretendendo matar “C” com tiros, postam-se 
de emboscada, ignorando cada um o comportamento do outro. Ambos atiram na vítima, que 
vem a falecer unicamente em razão dos ferimentos causados pela arma de “A”. Não há coautoria 
nem participação. “A” responde por homicídio consumado; “B” por tentativa de homicídio. 
 
III) AUTORIA INCERTA 
 
Dá-se a autoria incerta quando, na autoria colateral, não se apura a quem 
atribuir a produção do resultado. Suponha-se a hipótese acima. Não foi descoberto de quem 
partiu o tiro fatal. A solução é punir os agentes como autores de tentativa de homicídio, 
abstraindo-se o resultado, cuja autoria não se apurou. 
 
 
 
 
OAB – 1ª Fase 
Direito Penal 
Prof. Nidal Ahmad 
 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
D
i
r
e
i
t
o
 
P
e
n
a
l
 
Prof. Nidal K. Ahmad 
34 
15.7) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
 
A ressalva “na medida da sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade 
no art. 29 diz respeito somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo crime. 
 
Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). 
Todavia, a unidade criminosa não importa necessariamente na aplicação de pena idêntica a todos os 
que contribuíram para a prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua 
culpabilidade. 
 
I) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – ART. 29, §1º 
 
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso 
porque, ainda que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor 
importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade, naturalmente 
superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do CP, e a pena a ser 
fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido. 
 
II) DA COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU DESVIOS SUBJETIVO ENTRE OS 
PARTICIPANTES – ART. 29, § 2º 
 
O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a 
concretização de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele 
imputar outra conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva. 
 
Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais 
grave que o pretendido pelo partícipe ou coautor. 
 
Ex. “A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, 
“A” responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da 
vítima lhe era previsível. 
 
15.8) COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES

Continue navegando