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AULA 02

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AULA 02 - Nascimento de uma nova Ciência
Segundo Cristina Costa, no seu célebre livro de introdução às Ciências Sociais, a primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Seu primeiro representante e principal sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte.
POSITIVISMO
O Positivismo derivou do cientificismo, isto é, da crença no poder exclusivo da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade.
O Positivismo reconheceu a existência de princípios reguladores do mundo físico e do mundo social.
EVOLUÇÃO 
A rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais – física, química, biologia – e o visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção material e no controle das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas para o seu método de investigação. A tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social.
A filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, para identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais cientistas explicavam a vida natural. A sociedade era um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente. O Positivismo constituía seu objeto, pautava seus métodos e elaborava seus conceitos à luz das ciências naturais.
A expansão da Revolução Industrial pela Europa trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade - a capitalista -, estruturada sobre a indústria. Surgia a época dos monopólios e dos oligopólios, que, associados ao capital dos grandes bancos, dão origem ao capital financeiro.
A reestruturação do capitalismo estava associada às sucessivas crises de superprodução na Europa, que matavam milhares de pequenas indústrias para dar lugar às maiores e mais bem estruturadas. Crescer fora da Europa era a única saída para garantir a continuidade dessas indústrias.
O capital financeiro necessitava de novos mercados para poder crescer, pois era perigoso investir na Europa sem causar novas crises de superprodução. Os alvos eram a Ásia e a África. A exploração dessas colônias encontrava resistência nas estruturas sociais e produtivas vigentes nesses continentes que não atendiam às necessidades do capitalismo europeu.
A Europa se deparou com civilizações organizadas, o politeísmo, a poligamia, formas de poder tradicionais, economia agrária de subsistência, em sua maioria, ou voltada para o comércio local e artesanato. O europeu teve de organizar as nações conquistadas, estruturando-as segundo o capitalismo.
Transformar esse mundo em colônias que se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande envergadura, para garantir a expansão e sobrevivência do capitalismo industrial. Sob um manto humanitário, a conquista e a dominação foram transformadas em “missão civilizadora”.
A “civilização” era oferecida, mesmo contra vontade dos dominados, com o objetivo de “elevar” essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido. Essa nova forma de colonialismo se assentava na justificativa de que a Europa tinha, diante dessas sociedades, a obrigação moral de civilizá-las e retirá-las do atraso em que viviam. Entendia-se que o mais alto grau de civilização que o homem poderia chegar seria a sociedade industrial do século XIX.
Em conformidade com essa forma de pensar, desenvolveram-se as ideias do cientista inglês Charles Darwin sobre a evolução biológica das espécies animais.
Para Darwim, as diversas espécies de seres vivos se transformam continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar e garantir a sobrevivência.
Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no darwinismo social, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num sentido e que tais transformações representariam a passagem de um estágio inferior para outro superior. Esse tipo de sociedade garantiria a sobrevivência dos organismos, sociedade e indivíduos mais fortes e mais evoluídos.
Os principais cientistas sociais positivistas, combinando as concepções organicistas e evolucionistas inspiradas nas perspectivas de Darwin, entendiam que as sociedades mais simples deveriam evoluir a níveis de maior complexidade e progresso na escala da evolução social, até atingir o “topo”: a sociedade industrial europeia. Essas concepções se contradiziam com o que estava acontecendo na Europa, os frutos do progresso não eram igualmente distribuídos, nem todos participavam igualmente das conquistas da civilização.     
Essa transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e das relações entre essas trouxe, ao darwinismo social, desvios importantes. Se o homem constitui sociologicamente uma espécie, o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu. O caráter cultural da vida humana imprime, no desenvolvimento das suas formas de vida, princípios diferentes daqueles existentes na natureza.
Hoje, sente-se que a complexidade da cultura humana tem concorrido para limitar a ação da lei de seleção natural. Essa transposição serviu como justificativa de uma ação política e econômica que nem sequer avaliava o que representaria o “mais forte” ou mais evoluído. A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é aplicada as leis de mercado, principalmente pela doutrina do liberalismo econômico.
Pressupõe-se que a competitividade seja o princípio natural – universal e exterior ao homem - que assegura a sobrevivência do melhor, do mais forte e do mais bem adaptado.   
O desenvolvimento industrial gerava a todo momento novos conflitos sociais. Os empobrecidos e explorados – camponeses e operários – organizavam-se exigindo mudanças políticas e econômicas. Os primeiros pensadores sociais positivistas responderam com ideias de ordem e progresso. 
Os movimentos reivindicatórios, os conflitos, as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade, ou ainda quando inibissem o progresso.
Auguste Comte identificou na sociedade dois movimentos vitais:
Dinâmico – representava a passagem para formas mais complexas de existência, com a industrialização;
Estático – responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social. As instituições que mantêm a coesão, a família, religião, propriedade, linguagem, direito e etc.
Assim se justificava a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso.
Essa outra escola, o organicismo, teve como seguidores cientistas que procuraram aplicar seus princípios na explicação da vida social.
Albert Shaffle, que se dedicou ao estudo dos “tecidos sociais”.
Herbert Spencer, que procurou estudar a evolução da espécie humana de acordo com as leis que explicariam o desenvolvimento de todos os seres vivos.
Seu seguidor, Alfred Espinas, afirma que os princípios da biologia são aplicáveis a todo ser vivo.
Todos esses cientistas partem do princípio de que existem caracteres universais presentes nos mais diversos organismos vivos. Procuravam criar uma identidade entre leis biológicas e leis sociais, hereditariedade e história. Ignoram a especificidade do homem, enquanto espécie predominantemente histórica e cultural.
O positivismo foi o pensamento que glorificou a sociedade europeia do século XIX, em franca expansão. Procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, a harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social.
A simples postura de que a vida em sociedade era  passível de estudo e compreensão – que o homem possuía – além do corpo e sentimentos – uma natureza social; que asemoções, os desejos e as formas de vida derivavam de contingências históricas e sociais - , tudo isso foram descobertas de grande importância. Formam teorias que abriram as portas para uma nova concepção da realidade social com suas especificidades e regras.
Quase todos os países europeus economicamente desenvolvidos conheceram o positivismo. No entanto, foi na França,  por excelência, que floresceu essa escola, a qual, partindo de uma interpretação original do legado de Descartes, buscava na razão e na experimentação seus horizontes teóricos.
Entre os filósofos sociais franceses, pode-se destacar, Hipolite Taine, Gustave Le Bon e Le Play.
Embora Comte seja considerado o pai da sociologia e tenha lhe dado esse nome, Durkheim é apontado como um de seus primeiros grandes teóricos. Ele e seus colaboradores se esforçaram para constituir a sociologia como disciplina rigorosamente científica. Sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método, e as aplicações dessa nova ciência.
Durkheim, em uma de suas obras, definiu com clareza o objeto da sociologia – os fatos sociais.  Distingue três características dos fatos sociais: Coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade em que vivem, independente da sua vontade e escolha.
O grau de coerção dos fatos sociais se torna evidente pelas sansões a que o indivíduo estará sujeito quando tenta se rebelar contra elas. As sansões podem ser legais ou espontâneas. Legais são as sansões prescritas pela sociedade, sob forma de leis. Espontâneas seriam as que aflorariam como decorrência de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade.
Exteriores aos indivíduos, os fatos sociais existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. As regras sociais, os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas.
GENERALIDADE
É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. Por essa generalidade, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral.
A explicação científica exige que o pesquisador mantenha certa distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a objetividade de sua análise.
É preciso, segundo Durkheim, que o sociólogo deixe de lado suas prenoções, isto é, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado. Essa postura exige o não envolvimento afetivo ou de qualquer outra espécie entre o cientista e seu objeto. Para ele, o trabalho científico exigia, portanto, a eliminação de quaisquer traços de subjetividade, além de uma atitude de distanciamento.
Durkheim aconselhava o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas, isto é, objetos que lhe sendo exteriores, deveriam ser medidos, observados e comparados. 
Imbuído dos princípios positivistas, Durkheim queria com esse rigor, à maneira do método que garantia o sucesso das ciências exatas, definir a sociologia como ciência, rompendo com as ideias e o senso comum.
Os fenômenos devem ser sempre considerados em suas manifestações coletivas, distinguindo-se dos acontecimentos individuais ou acidentais. A generalidade distingue o essencial do fortuito e especifica a natureza sociológica dos fenômenos.    
Para Durkheim, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como também encontrar soluções para a vida social. A sociedade, como todo organismo, apresentaria estados normais e patológicos, isto é, saudáveis e doentios.
Durkheim considera um fato social como normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução. 
A generalidade de um fato, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito de determinada questão.
O objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade por meio do consenso social, a “saúde” do organismo social se confunde com a generalidade dos acontecimentos.
PORTANTO...
Normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade. Patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Durkheim usava uma rigorosa postura empírica, centrada na verificação dos fatos que poderiam ser observados, mensurados e relacionados através de dados coletados diretamente pelo cientista. Elaborou um conjunto coordenado de conceitos e de técnicas de pesquisa que guiava o cientista para o discernimento de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para interpretá-lo. Havia busca, ainda que não expressa, da noção de totalidade.
	
	
		1.
		Émile Durkeim, um dos clássicos da Sociologia estava vinculado à corrente de pensamento do Positivismo- Funcionalista. Para esse autor a sociedade deveria ser compreendida através de:
	
	
	
	
	
	Os tipos ideias, criados teoricamente para fins de estudo
	
	 
	As funções das instituições, analisando a sociedade como um corpo, um organismo vivo
	
	
	A análise metafísica das relações sociais
	
	
	Compreensão da forma que as relações de poder se estabelecem
	
	
	Os modelos das relações de produção, tendo a categoria Trabalho no centro da sua investigação.
	 Gabarito Comentado
	 Gabarito Comentado
	
	
		2.
		(UPE, 2010).Dentre os principais autores articuladores da Sociologia na sua fase inicial de desenvolvimento, é CORRETO citar os nomes de
	
	
	
	
	
	Descartes e Marx.
	
	 
	Comte e Durkheim.
	
	
	Durkheim e Chartier.
	
	
	Marx e Foucault.
	
	
	Aristóteles e Comte.
	 Gabarito Comentado
	
	
		3.
		Na verdade, a sociologia, desde o seu início, sempre foi algo mais do que uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no rumo desta civilização. (MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo, 2001, p. 8). Qual característica do pensamento sociológico clássico está presente na citação acima?
	
	
	
	
	
	O pouco interesse dos primeiros teóricos da sociologia pelos problemas sociais presentes no mundo capitalista.
	
	
	A falta de cientificidade dos primeiros autores, compromissados que estavam com a atividade política.
	
	 
	A preocupação em buscar soluções para os problemas sociais da época, como o pauperismo, por exemplo.
	
	
	A proximidade entre a sociologia e o senso comum, pois todas as pessoas formulam explicações para a vida social.
	
	 
	A proximidade entre a sociologia e a filosofia, pois a vida social sempre foi uma preocupação dos filósofos.
	 Gabarito Comentado
	
	
		4.
		Considere as sentenças abaixo:
I - Para Durkheim, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais.
II - A Sociologia é chamada de geral quando consideramos a sociedade em seu sentido mais amplo e é especial quando se ocupa de determinado grupo de fatos sociais de mesma natureza.
III - A Sociologia da Educação tornou-se uma disciplina autônoma, desvinculada da Sociologia Geral, pela importância que a educação assumiu no mundo contemporâneo.
Está (ão) correta(s):
	
	
	
	
	
	Somente as sentenças II e III
	
	 
	Somente as sentenças I e II
	
	
	Somente a sentença II
	
	
	Somente a sentença III
	
	
	Somente a sentença I
	
	
	
		5.
		Uma vez identificado o objeto da Sociologia, Émile Durkheim parte para a definição da conduta necessária ao cientista. Ao recomendar que os Fatos Sociais fossem abordados enquanto "coisas", ele está sugerindo que o papel do sociólogo é:
	
	
	
	
	 
	de distanciamento em relação ao objeto, deixando delado pré-noções, valores e sentimentos na medida em que poderiam distorcer os fatos;
	
	
	de abordagem representativa em relação ao objeto, buscando estabelecer uma relação entre a consciência e o objeto, de modo a superar a visão científica;
	
	
	de busca pela verdade, através do conhecimento subjetivo da realidade, considerando seus aspectos filosóficos;
	
	
	de envolvimento em relação ao objeto estudado, visando, através da pesquisa, a transformação da sociedade e de suas relações de dominação;
	
	
	de aproximação em relação ao objeto, considerando o caráter interpretativo e subjetivo da realidade, e por consequência, da Sociologia;
	
	
	
		6.
		"conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade [que] forma um sistema determinado que tem vida própria". A definição em questão explica o conceito durkheimniano de:
	
	
	
	
	 
	Consciência Coletiva
	
	
	Solidariedade Orgânica
	
	
	Educação
	
	
	Anomia
	
	
	Solidariedade Social
	
	
	
		7.
		Émile Durkheim desenvolve o conceito de Fato Social como o objeto de estudo da Sociologia. Sobre o aspecto coercitivo do Fato Social é possível afirmar que:
	
	
	
	
	
	diz respeito ao aspecto geral do fato em questão, na medida em que se encontra amplamente difundido nas sociedades existentes;
	
	 
	diz respeito à força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade em que vivem;
	
	
	diz respeito à existência exterior (e anterior) dos fatos em relação aos indivíduos, estabelecendo uma relação de independência entre ambos;
	
	
	diz respeito às relações de interdependências geradas pela divisão social do trabalho e pelo desenvolvimento industrial;
	
	
	diz respeito à força que os fatos não exercem sobre os indivíduos, levando-os a estabelecer uma postura de inconformidade em relação às regras da sociedade em que vivem;
	
	
	
		8.
		Com base na perspectiva positivista da sociologia, analise as proposições apresentadas. I - É a primeira corrente teórica sistematizada do pensamento sociológico. II - Promoveu a aproximação metodológica entre as ciências naturais e sociais. III - Auguste Comte e Émile Durkheim são representantes desta tradição teórica. IV - A ciência foi elevada ao status de forma mais "evoluída" do conhecimento. Estão corretas as afirmativas:
	
	
	
	
	
	I , II e III, apenas.
	
	
	III e IV, apenas.
	
	 
	todas.
	
	
	I e IV, apenas.
	
	
	I e II, apenas.

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