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Quatro regras do método de Descartes

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Quatro regras do método de Descartes 
 
Seja por excesso de informação ou dúvida da validade do conhecimento, essas 
quatro regras do método de investigação dedutiva de René Descartes são 
perenemente úteis e válidas. 
Pensei ser mister procurar algum outro método (…); assim em vez desse grande 
número de preceitos de que se compõe a Lógica, julguei que me bastariam os 
quatro seguintes, desde que tomasse a firme e constante resolução de não 
deixar uma só vez de observá-los: 
Regra da evidência – O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como 
verdadeira que eu não. Conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar 
cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos 
que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não 
tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. 
Regra da análise – O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu 
examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem 
para melhor resolvê-las. 
Regra da síntese – O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, 
começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, 
pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e 
supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns 
aos outros. 
Regra da enumeração – O quarto, fazer em toda parte enumerações tão 
completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir. 
Essas regras de inquirição da verdade aparecem no livreto O Discurso do 
Método de René Descartes. A obra, cujo título completo é O discurso sobre o 
método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência, foi 
publicada em francês na cidade holandesa de Leiden em 1637. Rapidamente 
disseminada e discutida, seria traduzida para o latim poucos anos depois. 
Apresentado em seis partes, O discurso do método é relativamente simples. Na 
primeira parte, buscando a autonomia do conhecimento, sem depender de 
autoridades prévias, Descartes se dispõe a investigar um método seguro para a 
descoberta da verdade. Pode ser que nossos sentidos tenham sido enganados 
por um gênio malicioso. Assim, Descartes utiliza da razão para adquirir 
conhecimento, apesar de sua educação erudita e extensivas viagens as quais 
creditavam importantes. 
Na segunda parte, Descartes apresenta seu método, concebido enquanto estava 
aquartelado na Alemanha, aos 23 anos. Na terceira parte propõe uma moral 
provisória, pela adesão aos costumes de cada país e preceitos religiosos, pois 
nada ainda poderia ser afirmado com certeza. Na quarta parte, apresenta o 
cogito ergo sum como base do conhecimento e Deus como um garantidor 
necessário da verdade, pois evitaria que sejamos enganados por um demônio 
enganador. 
Na quinta parte, menos lida hoje, Descarte aplica seu método na física, 
medicina e na investigação da alma humana. Por fim, explica os motivos para 
a obra e conclama à busca do conhecimento. 
A partir da dúvida sistemática, Descartes questionou tudo até chegar na 
máxima: “Penso, logo existo”, o cogito, ergo sum. Com base nessa 
autoconsciência o autor formula uma série de assertivas demonstradas umas 
pelas outras. Consequentemente, Descartes separa a mente-corpo, mas com 
um dualismo mais refinado que a dicotomia ideia-matéria do platonismo, pois 
pressupõe a localização do pensamento no sujeito. Todavia, o dualismo 
cartesiano também pressupõe a subordinação do mundo físico à mente. Outra 
crítica é a redução de outros seres vivos sem uma mente racional a um mero 
corpo mecânico complexo. 
Os elementos das coisas racionalmente demonstradas não existiriam em 
isolamento. frequentemente o racionalismo cartesiano é apresentado como 
atomista, mas ao contrário disso, o método de Descartes pressupunha um 
sistema, mathesis universalis, que conjugava os múltiplos elementos 
verdadeiros. 
A consequência maior do método cartesiano foi sua aplicação para validar o 
conhecimento por meio de instrumentos quantitativos, tais como o sistema de 
coordenadas, a estatística, o cálculo e a geometria analítica. O método 
cartesiano, aliado o empirismo, suplantou o método escolástico – fundado em 
autoridade e conclusões lógicas sem verificações reais – permitindo o 
surgimento da ciência e da tecnologia hoje resultantes.

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