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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 890-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos e por ter sido decidido com base em peculiaridades 
do caso concreto: Rcl 14996/MG. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI. 
 
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA 
 É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de tratamento. 
 
SAÚDE 
 Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art. 32 da Lei 9.656/98. 
 
COMUNIDADES QUILOMBOLAS 
 Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para titulação das terras ocupadas 
por remanescentes das comunidades dos quilombos. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PLANO DE SAÚDE 
 A Lei 9.656/98 é constitucional, mas não pode ser aplicada para contratos celebrados antes da sua vigência. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR 
 Os Estados-membros/DF e Municípios podem fixar valor referencial inferior ao do art. 87 do ADCT (RPV), desde que 
respeitado o princípio da proporcionalidade. 
 
DIREITO PENAL 
PRESCRIÇÃO 
 Interpretação do art. 112 do CP. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
 Haverá mudança de competência para julgar o recurso se, após a interposição, houve a diplomação do réu como 
Deputado Federal. 
 
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 
 “Denúncia anônima”, quebra de sigilo e renovação das interceptações. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
ITR 
 Progressividade das alíquotas do ITR. 
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DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI 
 
Importante!!! 
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação? 
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação 
do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na 
redação original. 
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de 
apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade 
na norma que promoveu a alteração ou revogação. 
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em 
razão da perda superveniente do objeto. 
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação? Ex: em 
1999, foi proposta uma ADI contra o art. 10 da Lei nº 9.656/98; em 2013, foi editada a Lei nº 12.880 
alterando esse art. 10 da Lei nº 9.656/98; ocorre que a ADI ainda não foi julgada pelo STF; o que fazer? 
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo 
impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original. Em outras 
palavras, ele informa ao STF que houve a alteração legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação 
continua contrariando a Constituição Federal. 
 
E se o autor da ADI não fizer isso? 
Neste caso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em razão da perda 
superveniente do objeto (perda superveniente do interesse de agir), nos termos do art. 485, VI, do CPC: 
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: 
(...) 
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; 
 
Nesse sentido: 
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de apresentar 
eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu 
a alteração ou revogação. 
STF. Plenário. ADI 2595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2017. 
 
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do 
julgamento da ação? 
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203). 
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado 
que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que 
o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306). 
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi 
repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização 
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significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, 
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016. Info 824). 
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente que houve a 
revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após o julgamento, a 
prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 
27/10/2016. Info 845). 
 
 
 
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA 
É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de tratamento 
 
É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos consumidores 
informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa de algum 
procedimento, tratamento ou internação. 
O Mato Grosso do Sul editou uma lei estadual prevendo que, se o plano de saúde recusar algum 
procedimento, tratamento ou internação, ele deverá fornecer, por escrito, ao usuário, um 
comprovante fundamentado expondo as razões da negativa. 
O STF entendeu que essa norma não viola competência privativa da União, considerando que 
ela trata sobre proteção ao consumidor, matéria inserida na competência concorrente (art. 
24, V, da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 4512/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
O Mato Grosso do Sul editou uma lei estadual (Lei 3.885/2010) prevendo que, se o plano de saúde recusar 
algum procedimento, tratamento ou internação, ele deverá fornecer, por escrito, ao usuário, um 
comprovante fundamentado expondo as razões da negativa. Veja o art. 1º da referida Lei: 
Art. 1º As operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde obrigam-se a fornecer 
ao consumidor informações e documentos, nos termos desta Lei, em caso de negativa de 
cobertura parcial ou total de procedimento médico, cirúrgico ou de diagnóstico, bem como de 
tratamento e internação. 
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, entende-se por negativa de cobertura a recusa em 
custear a assistência à saúde, de qualquer natureza, ainda que fundamentada em lei ou cláusula 
contratual. 
 
Em caso de descumprimento da norma, o fornecedor estará sujeito às sanções administrativas previstas 
no art. 56 do CDC. 
 
ADI 
Foi proposta uma ADI contra essa Lei sob o argumento de que ela tratou sobre direito civil, comercial e política 
de seguros, matérias que são de competência privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e 
do trabalho; 
(...)VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; 
 
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Além disso, a autora afirmou que a lei estadual interfere nos contratos em vigor e viola a livre iniciativa 
(art. 170 da CF/88). 
 
O que o STF decidiu? A referida lei é inconstitucional? Viola competência privativa da União? 
NÃO. 
É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos consumidores 
informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa de algum procedimento, 
tratamento ou internação. 
STF. Plenário. ADI 4512/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
Proteção do consumidor e acesso à informação 
Essa lei estadual tratou sobre proteção do consumidor, matéria que está dentro da competência legislativa 
concorrente, nos termos do art. 24, V, da CF/88: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
(...) 
V - produção e consumo; 
(...) 
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer 
normas gerais. 
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência 
suplementar dos Estados. 
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa 
plena, para atender a suas peculiaridades. 
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no 
que lhe for contrário. 
 
Assim, a lei impugnada não disciplinou assuntos de direito civil, comercial ou política securitária. 
O CDC é a norma geral editada pela União na defesa do consumidor e tal diploma reconhece como direito 
básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com 
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, 
bem como sobre os riscos que apresentem (art. 6º, III). 
A lei estadual está, portanto, em harmonia com o CDC, respeitando assim as regras do art. 24 da CF/88. 
Além disso, essa lei atende ao comando do inciso XXXII do art. 5º da Constituição: 
Art. 5º (...) 
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
 
Sem interferência nos contratos 
A lei atacada cumpre a função estatal de proteção ao consumo, não havendo interferência nos contratos 
firmados entre as operadoras e os usuários nem representando equilíbrio atuarial das operadoras de 
planos e seguros privados de assistência à saúde. Conforme explicou a Min. Cármen Lúcia: 
“A entrega do documento informativo expondo as razões pelo qual um determinado tratamento ou 
procedimento foi negado não amplia o rol de obrigações contratuais entre a operadora e o usuário. Pelo 
contrário, o que se tem é apenas uma transparência maior para cumprimento dos termos legislados” (Min. 
Cármen Lúcia). 
Em outras palavras, as operadoras já tinham esse dever por força do próprio CDC e a lei estadual apenas 
explicitou o comando. 
 
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Sem violação à livre iniciativa 
A lei estadual impugnada não limita a livre iniciativa. Ao contrário, fomenta o desenvolvimento de um 
mercado mais sustentável. 
Além disso, conforme preconiza o inciso V do art. 170, a livre iniciativa deverá ser exercida observando-se 
como um dos seus princípios a defesa do consumidor. 
 
 
 
SAÚDE 
Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art. 32 da Lei 9.656/98 
 
Importante!!! 
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É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável aos 
procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a 
4.6.1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos 
os marcos jurídicos. 
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços 
do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com 
essas despesas. Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma obrigação 
legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o 
SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por esses planos. 
STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018 (repercussão geral) 
(Info 890). 
 
Ressarcimento ao SUS 
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços do SUS, o 
Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com essas despesas. Veja: 
Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 
1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de atendimento à 
saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e respectivos 
dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas, integrantes do 
Sistema Único de Saúde - SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44/2001) 
 
Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32 da Lei nº 9.656/98, é uma obrigação legal 
das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o SUS teve ao 
atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por esses planos. 
 
Passo-a-passo 
Apenas a título de curiosidade, na prática funciona assim: 
1) O paciente é atendido em uma instituição pública ou privada, conveniada ou contratada, integrante do SUS; 
2) A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) cruza os dados dos sistemas de informações do SUS 
com o Sistema de Informações de Beneficiários (SIB) da própria Agência para identificar as pessoas que 
foram atendidas na rede pública e que possuem plano de saúde; 
3) A ANS notifica a operadora informando os atendimentos que realizou relacionados com seus clientes; 
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4) A operadora pode contestar isso nas instâncias administrativas, dizendo, por exemplo, que aquele 
serviço utilizado pelo seu cliente no SUS não era coberto pelo plano, que o paciente já havia deixado de 
ser usuário do plano etc. 
5) Não havendo impugnação administrativa ou não sendo esta acolhida, a ANS cobra os valores devidos. 
6) Caso não haja pagamento, a operadora será incluída no CADIN e os débitos inscritos em dívida ativa da 
ANS para, em seguida, serem executados. 
7) Os valores recolhidos a título de ressarcimento ao SUS são repassados pela ANS para o Fundo Nacional 
de Saúde. 
 
Sobre o tema: 
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento de valores devidos ao 
SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no Cadin. 
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 6/6/2013 (Info 524). 
 
Tese dos planos de saúde 
As operadoras privadas de plano de saúde comumente ingressam com ações judiciais questionando a 
validade do art. 32 da Lei nº 9.656/98 sob o argumento de que a sua participação na saúde tem caráter 
suplementar, uma vez que o dever primário de assegurar o acesso à saúde é atribuído pela Constituição 
Federal aos entes políticos. 
Logo, defendem que o Poder Públicopossui sim obrigação de prestar saúde a quem procurar, não devendo 
os planos de saúde ser obrigados a ressarcir tais despesas. 
Além disso, tais operadoras aduziram que esse art. 32 representa a instituição de uma nova fonte de 
custeio para a seguridade social, o que somente poderia ocorrer por meio de lei complementar, nos 
termos do art. 195, § 4º, da CF/88: 
Art. 195 (...) 
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da 
seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. 
 
Art. 154. A União poderá instituir: 
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta 
Constituição; 
 
A tese dos planos de saúde foi aceita pelo STF? O art. 32 da Lei nº 9.656/98 é inconstitucional? 
NÃO. O STF entendeu que o art. 32 da Lei nº 9.656/98 é válido. 
O art. 32 não representa a criação de uma nova fonte de receitas para seguridade social, nos termos do 
art. 195, § 4º, da CF/88. Trata-se apenas de um desdobramento do contrato firmado entre as operadoras 
de saúde e seus clientes. As operadoras de saúde atuam em um serviço regulado pelo Poder Público, 
devendo cumprir as condições impostas. 
O tratamento em hospital público não pode ser negado a nenhuma pessoa, considerando que o acesso 
aos serviços de saúde no Brasil é universal (art. 196 da CF/88). Porém, se o Poder Público atende um 
usuário do plano de saúde, o SUS deve ser ressarcido, assim como ocorreria caso esse usuário do plano de 
saúde tivesse sido atendido em um hospital particular (não conveniado ao SUS). 
Esse art. 32 impede o enriquecimento ilícito das empresas de plano de saúde. 
O STF fez, contudo, uma ressalva: a regra do art. 32 somente é aplicável aos procedimentos ocorridos após 
04/06/1998, data em que foi publicada a Lei nº 9.656/98. 
 
 
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Resumindo: 
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável aos 
procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a 4.6.1998, 
assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os marcos jurídicos. 
STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018 (repercussão geral) (Info 890). 
 
 
 
COMUNIDADES QUILOMBOLAS 
Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para titulação 
das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos 
 
Importante!!! 
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que 
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado 
emitir-lhes os títulos respectivos.” 
Em 2003, foi editado o Decreto nº 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para 
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por 
remanescentes das comunidades dos quilombos. 
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto foi 
tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do comando 
constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar da 
Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição. 
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo 
Poder Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da 
autoatribuição (autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério não foi 
arbitrária, não sendo contrária à Constituição. 
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das 
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade 
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa 
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as 
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita 
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas. 
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação de 
determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos 
quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida essa 
previsão tendo em vista que, em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos ou 
extintos os títulos eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes das 
comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de reconhecer um direito aos 
quilombolas, não invalida os títulos de propriedade eventualmente existentes, de modo que, 
para que haja a regularização do registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a 
realização do procedimento de desapropriação. 
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de 
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da 
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da 
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades 
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT. 
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STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 
8/2/2018 (Info 890). 
 
Quilombolas 
O art. 68 do ADCT da CF/88 confere proteção especial aos territórios ocupados pelos remanescentes 
quilombolas. Confira: 
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é 
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. 
 
Esse artigo possui duas partes: 
1ª) estabelece um direito aos quilombolas: propriedade das terras ocupadas (“aos remanescentes das 
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva”); 
2) determina uma ordem ao Estado para que pratique o ato necessário a fim de assegurar esse direito: 
expedição dos títulos de propriedade (“devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”). 
 
O que são as terras dos quilombolas? 
São as áreas ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos e utilizadas por este grupo 
social para a sua reprodução física, social, econômica e cultural. 
 
O que são remanescentes das comunidades dos quilombos? 
Existe uma grande discussão antropológica sobre isso, mas, de maneira bem simples, os grupos que hoje 
são considerados remanescentes de comunidades de quilombos são agrupamentos humanos de 
afrodescendentes que se formaram durante o sistema escravocrata ou logo após a sua extinção. 
O Decreto 4.887/2003 assim os define: 
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste 
Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica 
própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra 
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. 
 
A previsão do art. 68 do ADCT foi uma forma que o constituinte encontrou de homenagear “o papel 
protagonizado pelos quilombolas na resistência ao injusto regime escravista” (Min. Rosa Weber). 
 
FundaçãoCultural Palmares (FCP) 
Por meio da Lei nº 7.668/88, a União foi autorizada a constituir a Fundação Cultural Palmares, uma 
fundação pública federal que possui, dentre outras atribuições, a de realizar a identificação dos 
remanescentes das comunidades dos quilombos, proceder ao reconhecimento, à delimitação e à 
demarcação das terras por eles ocupadas e conferir-lhes a correspondente titulação (art. 2º, III). 
 
Decreto nº 4.887/2003 
O Decreto nº 4.887/2003 regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, 
demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. 
 
ADI 
Em 2004, o Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), ajuizou ADI contra o Decreto nº 
4.887/2003. 
Na ação, o autor alegou que o referido Decreto possuiria vícios de inconstitucionalidade formal e material. 
Quanto ao aspecto formal, alegou que houve invasão da “esfera reservada à lei”, considerando que 
disciplina direitos e deveres entre particulares e a administração pública, define os titulares da 
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propriedade de terras onde se localizavam os quilombos, disciplina procedimentos de desapropriação e, 
consequentemente, importa aumento de despesa. Em outras palavras, afirmou que foi editado um 
decreto autônomo, ou seja, que foi muito além de apenas regulamentar a lei. 
Apontou também supostas inconstitucionalidades materiais: 
• no art. 2º, § 1º: o Decreto seria inconstitucional pelo fato de ter escolhido o critério da autoatribuição 
para a identificação dos remanescentes quilombolas; 
• nos §§ 2º e 3º do art. 2º: pelo fato de o Decreto ter, supostamente, ampliado demais aquilo que deve 
ser considerado como terras pertencentes aos quilombolas; 
• no art. 13: o Decreto prevê que o INCRA deverá determinar a desapropriação de áreas que estejam em 
domínio particular, para transferi-las às comunidades. O partido alegou que, por força do art. 68 do ADCT, 
as terras já pertencem aos remanescentes das comunidades quilombolas que lá fixam residência desde 5 
de outubro de 1988. Logo, não haveria necessidade de desapropriar considerando que os particulares não 
seriam donos dessas terras. 
 
O que o STF decidiu? O Decreto nº 4.887/2003 é inconstitucional? 
NÃO. Vejamos abaixo os principais pontos discutidos. 
 
Cabe ADI contra Decreto? O STF conheceu a ação proposta contra o Decreto nº 4.887/2003? 
O STF afirmou que a ADI deveria ser conhecida, ou seja, que o seu mérito deveria ser apreciado. Isso 
porque cabe ADI contra decreto desde que este tenha “coeficiente mínimo de normatividade, 
generalidade e abstração”, ou seja, desde que esse decreto possa ser considerado um ato normativo 
autônomo, que retire seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal. 
 
Alegação de que houve invasão de esfera reservada a lei 
O autor da ADI alegou que o Decreto nº 4.887/2003 não regulamentou nenhuma lei, tendo regulamentado 
diretamente o art. 68 do ADCT. Desse modo, para o autor, o Presidente da República invadiu esfera 
reservada ao Poder Legislativo considerando que o tema deveria ter sido tratado por meio de lei. 
O STF não acolheu este argumento. 
O art. 68 do ADCT é uma norma de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral. Isso significa 
que o art. 68 do ADCT já era apto a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que entrou em 
vigor a CF/88, independentemente de qualquer norma integrativa infraconstitucional. Em outras palavras, 
ele nunca precisou de lei ou decreto para produzir seus efeitos. 
Diante disso, o Decreto nº 4.887/2003 teve por objetivo tão somente regular o comportamento do Estado 
na implementação do comando constitucional previsto no art. 68 do ADCT, razão pela qual não houve 
invasão de esfera reservada à lei. Houve o mero exercício do poder regulamentar da Administração, nos 
limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição. 
O art. 68 do ADCT é autoaplicável, mas o Decreto confere efetividade máxima à norma constitucional. 
Veja que interessante: para a maioria dos Ministros, é possível que um decreto regulamente, de forma 
direta, ou seja, sem necessidade de intermediação de lei, um dispositivo da Constituição Federal 
(especialmente em caso de normas que veiculem direitos fundamentais). 
 
Análise do art. 2º, caput e § 1º do Decreto (critério de identificação) 
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder 
Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido pelo Decreto foi o da autoatribuição, ou 
seja, as próprias pessoas se autodefinem como sendo quilombolas. Veja: 
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste 
Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica 
própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra 
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades dos 
quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade. 
 
O autor questionava esse critério da autoatribuição afirmando que, com isso, haveria o reconhecimento 
do direito para pessoas que não mereceriam por não se enquadrarem no art. 68 do ADCT. 
O STF entendeu que a escolha do critério da autoatribuição não foi arbitrária, não sendo contrária à 
Constituição. 
A autoatribuição é um método autorizado e prestigiado pela antropologia contemporânea e tem por 
objetivo interromper um “processo de negação sistemática da própria identidade aos grupos 
marginalizados”. Em outras palavras, ao se adotar este critério, estimula-se que as pessoas integrantes de 
tais grupos, antes marginalizados, tenham orgulho de assumirem-se. 
Trata-se de uma forma de revalorização das identidades antes desrespeitadas. 
Vale ressaltar que o Estado brasileiro incorporou, ao seu direito interno, a Convenção 169 da Organização 
Internacional do Trabalho – OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, de 27.6.1989, aprovada pelo Decreto 
Legislativo 143/2002 e ratificada pelo Decreto 5.051/2004. Esta Convenção consagrou a “consciência da 
própria identidade” como critério para determinar os grupos tradicionais (indígenas ou tribais). Esta 
Convenção determinou que nenhum Estado tem o direito de negar a identidade de um povo indígena ou 
tribal que se reconheça como tal. 
Para os efeitos do Decreto nº 4.887/2003, a autodefinição da comunidade como quilombola é atestada 
por certidão emitida pela Fundação Cultural Palmares, nos termos do art. 2º, III, da Lei nº 7.668/88. 
Importante esclarecer que, para os fins do art. 68 do ADCT, não basta que uma comunidade se qualifique 
como remanescente de quilombo (elemento subjetivo da autoidentificação). É necessário também o 
preenchimento de um elemento objetivo: “que a reprodução da unidade social, que se afirma originada 
de um quilombo, estivesse atrelada a uma ocupação continuada do espaço.” 
 
Análise do art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto (terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas) 
Confira o que dizem os §§ 2º e 3º do art. 2º do Decreto: 
Art. 2º (...) 
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a 
garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural. 
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideraçãocritérios de 
territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado 
à comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução procedimental. 
 
O autor da ADI afirmava que esses dispositivos seriam inconstitucionais considerando que na 
identificação, medição e demarcação das terras dos quilombolas deveriam ser utilizados critérios 
histórico-antropológicos (e não critérios indicados pelos próprios interessados). 
O STF explicou que o Decreto nº 4.887/2003 não prevê a apropriação individual das terras pelos 
integrantes da comunidade, mas sim a formalização de uma “propriedade coletiva das terras”, atribuída 
à unidade sociocultural. Em outras palavras, os títulos não são emitidos em favor das pessoas físicas 
individualmente consideradas. São emitidos em favor da comunidade quilombola, sendo este pró-indiviso 
e em nome das associações que legalmente representam as comunidades quilombolas. 
Assim, quando o Decreto afirma que deverão ser levados em consideração, na medição e na marcação da 
terra, os critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades quilombolas, isso 
não significa que o procedimento demarcatório ficará ao arbítrio exclusivo dos próprios interessados. Não 
é isso. O que o Decreto está garantindo é que as comunidades envolvidas tenham voz e sejam ouvidas. 
 
 
 
 Informativo 
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Análise do art. 13 do Decreto (desapropriação) 
O art. 13 do Decreto prevê o seguinte: 
Art. 13. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos 
título de domínio particular não invalidado por nulidade, prescrição ou comisso, e nem tornado 
ineficaz por outros fundamentos, será realizada vistoria e avaliação do imóvel, objetivando a 
adoção dos atos necessários à sua desapropriação, quando couber. 
(...) 
§ 2º O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de desapropriação, com obrigatória 
disposição de prévio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do título de propriedade, 
mediante levantamento da cadeia dominial do imóvel até a sua origem. 
 
A insurgência do autor quanto a este dispositivo foi a seguinte: o art. 68 do ADCT já prevê que as terras 
ocupadas pelas comunidades quilombolas pertencem a estes grupos. Logo, se uma pessoa que não é 
quilombola possui um título de propriedade referente a esta área, esse título não é válido. Assim, não 
haveria necessidade de desapropriar o imóvel considerando que o particular não seria o real dono dessas 
terras. 
O STF, mais uma vez, não concordou com o autor. 
De fato, o próprio art. 68 do ADCT confere o título de propriedade. Assim, constatada a situação de fato – 
ocupação tradicional das terras por remanescentes dos quilombos –, a própria Constituição confere-lhes 
o título de propriedade. 
Ocorre que em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos 
eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, 
diferentemente do que acontece no caso das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, cujo art. 231, 
§ 6º preconiza: 
Art. 231 (...) 
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a 
ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas 
naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da 
União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a 
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da 
ocupação de boa fé. 
 
Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de 
propriedade eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do registro em favor 
das comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de desapropriação. 
 
Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios x terras dos quilombolas 
A Constituição Federal prevê que as terras tradicionalmente ocupadas por índios pertencem à União (art. 
20, XI), mas os índios possuem o direito à posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das 
riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes (art. 231, § 2º). 
Segundo o § 1º do art. 231 da CF/88 são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios: 
• as que eles habitam em caráter permanente; 
• as utilizadas para suas atividades produtivas; 
• as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar; 
• e as necessárias a sua reprodução física e cultural (segundo seus usos, costumes e tradições). 
Vale ressaltar que se a terra já foi habitada pelos índios, porém quando foi editada a CF/88 o aldeamento 
já estava extinto, ela não será considerada terra indígena. Confira: 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Súmula 650-STF: Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos 
extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto. 
 
Apesar da divergência de alguns Ministros, segundo o critério que prevalece até hoje no STF, somente são 
consideradas “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” aquelas que eles habitavam na data da 
promulgação da CF/88 (marco temporal) e, complementarmente, se houver a efetiva relação dos índios 
com a terra (marco da tradicionalidade da ocupação). 
Assim, em regra, se em 05/10/1988 a área em questão não era ocupada por índios, isso significa que ela 
não se revestirá da natureza indígena de que trata o art. 231 da CF/88. Exceção: renitente esbulho. 
 
Esse mesmo critério temporal é adotado no caso das terras dos quilombolas? 
NÃO. Durante os debates da ADI 3239/DF, os Ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes tentaram fazer com 
que o STF desse interpretação conforme à Constituição ao § 2º do art. 2º do Decreto nº 4.887/2003 para 
definir que “somente deveriam ser titularizadas as áreas que estavam ocupadas por remanescentes das 
comunidades dos quilombos — inclusive as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, 
econômica e cultural —, na data da promulgação da Constituição (5.10.1988), salvo comprovação, por 
todos os meios de prova juridicamente admitidos, da suspensão ou perda da posse nesta data em 
decorrência de atos ilícitos praticados por terceiros”. 
A maioria dos Ministros, contudo, não concordou com essa tese. 
O Min. Edson Fachin registrou, no que foi acompanhado pelo Min. Celso de Mello, que, dentro de uma 
hermenêutica constitucionalmente adequada à interpretação e à aplicação de um direito fundamental 
que surge pela primeira vez na CF/1988, não se poderia depreender, da redação do art. 68 do ADCT, a 
restrição do direito à titulação de propriedade apenas àqueles remanescentes de comunidades 
quilombolas que estivessem na posse da área na data da promulgação do texto constitucional. Assim, não 
haveria fundamento constitucional para a incidência da teoria do marco temporal na hipótese. 
Nessa mesma linha de entendimento, o Min. Roberto Barroso assentou que o art. 68 do ADCT deveria ser 
aplicado às comunidades que ocupavam suas áreas quando da promulgação da Constituição, bem como 
àquelas que foram delas desapossadas à força e cujo comportamento, à luz da sua cultura, indica intenção 
de retomar a permanência do vínculo cultural e tradicional com o território, dispensada a comprovação 
de conflito possessório atual de fato. 
Diante disso,a Ministra Relatora Rosa Weber decidiu suprimir de seu voto qualquer referência à ideia de 
marco temporal. 
Muita atenção porque esse ponto será explorado nas provas! 
 
Resumindo: 
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam 
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos 
respectivos.” 
Em 2003, foi editado o Decreto nº 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para 
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por 
remanescentes das comunidades dos quilombos. 
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto foi tão 
somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do comando constitucional 
previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar da Administração, nos 
limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição. 
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder 
Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição 
(autodefinição). O STF entendeu que a escolha desse critério não foi arbitrária, não sendo contrária à 
Constituição. 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das terras dos 
quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade indicados pelos 
remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa previsão é constitucional. Isso 
porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as comunidades envolvidas sejam ouvidas, não 
significando que a demarcação será feita exclusivamente com base nos critérios indicados pelos 
quilombolas. 
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação de 
determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos 
estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida essa previsão, tendo em vista 
que em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente 
incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 
do ADCT, apesar de reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade 
eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do registro em favor das 
comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de desapropriação. 
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de quilombolas 
aquelas que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da promulgação da CF/88 
(05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que na data da promulgação da CF/88 a terra não mais 
estivesse sendo ocupada pelas comunidades quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o 
direito previsto no art. 68 do ADCT. 
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 8/2/2018 
(Info 890). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PLANO DE SAÚDE 
A Lei 9.656/98 é constitucional, mas não pode ser aplicada 
para contratos celebrados antes da sua vigência 
 
A Lei nº 9.656/98, que disciplina os planos e seguros privados de assistência à saúde, é 
constitucional. 
Este diploma, contudo, não pode ser aplicado para contratos celebrados antes de sua vigência. 
Assim, são inconstitucionais os dispositivos da Lei nº 9.656/98 que determinavam a sua 
aplicação para contratos celebrados antes da sua edição. 
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
Lei nº 9.656/98 
A Lei nº 9.656/98 dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. É conhecida como a 
“Lei dos Planos de Saúde”. 
A Confederação Nacional de Saúde ajuizou ADI contra diversos dispositivos dessa Lei e também contra a 
MP 2.177/44/2001, que alterou esse diploma. 
Em 2003, o STF concedeu, em parte, a liminar, para declarar inconstitucionais alguns poucos dispositivos 
da Lei e da MP e para afirmar que os contratos celebrados antes da edição da Lei nº 9.656/98 não podem 
ser por ela atingidos. 
Agora, em 2018, o STF julgou definitivamente a ação e confirmou a medida liminar que já havia sido 
deferida em 2003. 
 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Quais dispositivos foram declarados inconstitucionais? 
• o art. 10, § 2º e o art. 35-E da Lei nº 9.656/98; 
• o artigo 2º da MP 2.177-44/2001. 
 
Esses dispositivos previam que a Lei nº 9.656/98 deveria incidir mesmo se o contrato tivesse sido 
celebrado antes da sua vigência. Vejamos a sua redação: 
Art. 10 (...) 
§ 2º As pessoas jurídicas que comercializam produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta 
Lei oferecerão, obrigatoriamente, a partir de 3 de dezembro de 1999, o plano-referência de que trata 
este artigo a todos os seus atuais e futuros consumidores. (Redação dada pela MP 2.177-44/2001) 
 
Art. 35-E. A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos celebrados 
anteriormente à data de vigência desta Lei que: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44/2001) 
I - qualquer variação na contraprestação pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos 
de idade estará sujeita à autorização prévia da ANS; 
II - a alegação de doença ou lesão preexistente estará sujeita à prévia regulamentação da matéria 
pela ANS; 
III - é vedada a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato individual ou familiar de produtos 
de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei por parte da operadora, salvo o disposto no 
inciso II do parágrafo único do art. 13 desta Lei; 
IV - é vedada a interrupção de internação hospitalar em leito clínico, cirúrgico ou em centro de 
terapia intensiva ou similar, salvo a critério do médico assistente. 
 
Art. 2º Os arts. 3º, 5º, 25, 27, 35-A, 35-B, 35-D e 35-E da Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, 
entram em vigor em 5 de junho de 1998, resguardada às pessoas jurídicas de que trata o art. 1º a 
data limite de 31 de dezembro de 1998 para adaptação ao que dispõem os arts. 14, 17, 30 e 31. 
 
Por que esses dispositivos foram declarados inconstitucionais? 
Porque previram a incidência das novas regras dos planos de saúde fixadas pela Lei nº 9.656/98 aos 
contratos celebrados anteriormente à vigência deste diploma normativo. Isso representa afronta ao art. 
5º, XXXVI, da CF/88: 
Art. 5º (...) 
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; 
 
Nas palavras do Ministro Marco Aurélio, a vida democrática pressupõe segurança jurídica e não há 
segurança jurídica se uma lei nova desrespeita o ato jurídico perfeito e acabado, como é o caso de um 
contrato já assinado. 
Não se pode aplicar uma lei nova para relações contratuais já consolidadas, considerando que essas regras 
não existiam no momento da manifestação da vontade das partes. 
 
E os demais dispositivos da Lei nº 9.656/98? 
O STF entende que são todos constitucionais. 
Assim, o que você deve guardar é o seguinte: 
A Lei nº 9.656/98, que disciplina os planos e seguros privados de assistência à saúde, é constitucional. 
Este diploma, contudo, não pode ser aplicado para contratos celebrados antes de sua vigência. 
Os contratos celebrados antes da edição da Lei nº 9.656/98 não podem ser porela atingidos. 
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR 
Os Estados-membros/DF e Municípios podem fixar valor referencial inferior ao 
do art. 87 do ADCT (RPV), desde que respeitado o princípio da proporcionalidade 
 
Importante!!! 
Os Estados-membros podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno 
valor, para fins de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88. 
É lícito aos entes federados fixar o valor máximo para essa especial modalidade de pagamento, 
desde que se obedeça ao princípio constitucional da proporcionalidade. 
Ex: Rondônia editou lei estadual prevendo que, naquele Estado, as obrigações consideradas 
como de pequeno valor para fins de RPV seriam aquelas de até 10 salários-mínimos. Assim, a 
referida Lei reduziu de 40 para 10 salários-mínimos o crédito decorrente de sentença judicial 
transitada em julgado a ser pago por meio de RPV. O STF entendeu que essa redução foi 
constitucional. 
STF. Plenário. ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
 
Regime de precatórios 
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial 
transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime 
especial chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88). 
No caput do art. 100 da CF/88 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos pela 
Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na ordem cronológica de 
apresentação dos precatórios. Existe, então, uma espécie de “fila” para pagamento dos precatórios: 
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e 
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de 
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos 
ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 
(Redação dada pela EC 62/09) 
 
Exceção ao regime de precatórios 
O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece que, 
se a condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a 
necessidade de expedição de precatório: 
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos 
pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas 
devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 
 
Quanto é “pequeno valor” para os fins do § 3º do art. 100? 
Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de 
leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100: 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às 
entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo 
igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. 
 
União 
Para as condenações envolvendo a União, pequeno valor equivale a 60 salários mínimos (art. 17, § 1º, da 
Lei nº 10.259/2001). 
Em 2018, levando-se em consideração o salário-mínimo de R$ 954,00, isso significa que, nas dívidas em 
que a União for condenada até R$ 57.240,00 (60 x 954), a parte beneficiária não precisará ter que entrar 
na fila dos precatórios, recebendo a quantia por meio de requisição de pequeno valor (RPV), um 
procedimento muito mais simples e célere. 
 
E se o ente federado não editar a lei prevendo o quantum do “pequeno valor”? 
Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88, para os entes que não editarem suas leis, serão adotados, 
como “pequeno valor” os seguintes montantes: 
I — 40 salários mínimos para Estados e para o Distrito Federal; 
II — 30 salários mínimos para Municípios. 
 
RPV 
Nas hipóteses de “pequeno valor”, o pagamento é feito por meio de requisição de pequeno valor (RPV), 
que se trata de uma ordem expedida pela autoridade judicial à autoridade da Fazenda Pública responsável 
para pagamento da quantia devida. 
 
Imagine agora a seguinte situação concreta: 
Rondônia editou lei estadual (Lei nº 1.788/2007) prevendo que, naquele Estado, as obrigações 
consideradas como de pequeno valor seriam aquelas de até 10 salários-mínimos. Em outras palavras, a lei 
afirmou que “pequeno valor”, para fins de RPV no Estado de Rondônia, seria até 10 salários-mínimos. 
Veja o caput do art. 1º da Lei estadual nº 1.788/2007: 
Art. 1º Para fins previstos no artigo 100, § 3º da Constituição Federal e artigo 87 do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias, será considerado de pequeno valor, no âmbito do Estado 
de Rondônia, o crédito decorrente de sentença judicial transitada em julgado, cujo montante, 
devidamente atualizado, não exceda o valor correspondente a 10 (dez) salários mínimos ao tempo 
em que for requisitado judicialmente. 
 
Essa lei foi “boa” ou “ruim” para os credores (exequentes) do Estado? 
“Ruim”. A Lei Estadual 1.788/2007 reduziu de 40 para 10 salários-mínimos o crédito decorrente de 
sentença judicial transitada em julgado a ser pago por meio de RPV. 
Se não houvesse a Lei nº 1.788/2007, a quantia considerada “pequeno valor” seria 40 salários-mínimos, 
conforme previsto no art. 87 do ADCT da CF/88. 
Antes da Lei, se a pessoa tivesse um crédito em relação ao Estado de Rondônia de até 40 salários-mínimos, 
não precisaria receber por meio de precatório. Com a Lei, esse limite caiu para 10 salários-mínimos. Isso 
significa que ficou mais “difícil” (restrito) receber por RPV. Em outras palavras, mais pessoas passaram a 
ter que se submeter ao regime de precatórios (que é horrível). 
 
Essa previsão da Lei estadual nº 1.788/2007 é válida? 
SIM. 
Os Estados-membros podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para 
fins de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/2/2018 (Info 890). 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
A norma do art. 87 do ADCT tem caráter transitório e ela própria afirma que somente tem eficácia 
enquanto o Estado-membro não editar sua lei regulamentando o tema: 
Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato 
das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê 
a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o 
disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em 
precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: 
I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; 
II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. 
 
Desse modo, o legislador estadual tem sim liberdade para fixar valor inferior aos 40 salários-mínimos para 
o pagamento por meio de RPV, de acordo com a sua realidade orçamentária regional.E o Estado pode fixar qualquer valor? Ex: o Estado de São Paulo pode fixar 5 salários-mínimos como 
sendo pequeno valor para fins de RPV? Isso seria possível? 
NÃO. Os Estados/DF e Municípios, ao editarem as suas leis definindo o que seja “pequeno valor”, deverão 
ter como critério a sua capacidade econômica, respeitado o princípio da proporcionalidade. 
A fixação de 5 salários-mínimos como sendo pequeno valor para um Estado rico como São Paulo seria uma 
ofensa ao princípio da proporcionalidade. 
No caso concreto, entendeu-se que Rondônia atendeu o princípio da proporcionalidade ao reduzir esse 
teto para 10 salários-mínimos considerando que é um dos Estados que menos arrecada na Federação, 
com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,69. 
Vale ressaltar que nenhum ente pode fixar como pequeno valor quantia inferior ao valor do maior 
benefício do regime geral da previdência social (“teto do INSS”): 
Art. 100 (...) 
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às 
entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo 
igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. 
 
Em 2018, o “teto do INSS” foi fixado em R$ 5.645,80. 
 
Uma última pergunta: os Estados/DF e Municípios podem editar leis fixando quantias superiores aos 
limites do art. 87 do ADCT? Ex: São Paulo pode editar uma lei dizendo que “pequeno valor” naquele 
Estado, para fins de RPV, corresponde a 60 salários-mínimos? 
SIM. Os Estados/DF e Municípios podem fixar limites inferiores ou superiores àqueles que estão previstos 
no art. 87 do ADCT. Na prática, contudo, será muito difícil que um Estado amplie o limite do art. 87 porque, 
em tese, ele prejudica suas finanças considerando que terá mais débitos a serem pagos por RPV. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
DIREITO PENAL 
 
PRESCRIÇÃO 
Interpretação do art. 112 do CP 
 
Importante!!! 
Tema polêmico! 
Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença condenatória, tendo havido apenas 
recurso da defesa, qual deverá ser o termo inicial da prescrição da pretensão executiva? O 
início do prazo da prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em 
julgado para o MP? Ou o início do prazo deverá ser o instante em que se dá o trânsito em 
julgado para ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa? 
• Posicionamento pacífico do STJ: o termo inicial da prescrição da pretensão executória é a 
data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, ainda que a defesa 
tenha recorrido e que se esteja aguardando o julgamento desse recurso. Aplica-se a 
interpretação literal do art. 112, I, do CP, considerando que ela é mais benéfica ao condenado. 
• Entendimento da 1ª Turma do STF: o início da contagem do prazo de prescrição somente se 
dá quando a pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado não pode executar a pena, 
não se pode dizer que o prazo prescricional já está correndo. Assim, mesmo que tenha havido 
trânsito em julgado para a acusação, se o Estado ainda não pode executar a pena (ex: está 
pendente uma apelação da defesa), não teve ainda início a contagem do prazo para a 
prescrição executória. É preciso fazer uma interpretação sistemática do art. 112, I, do CP. Vale 
ressaltar que, com o novo entendimento do STF admitindo a execução provisória da pena, para 
essa segunda corrente (Min. Roberto Barroso) o termo inicial da prescrição executória será a 
data do julgamento do processo em 2ª instância. Isso porque se estiver pendente apenas 
recurso especial ou extraordinário, será possível a execução provisória da pena. Logo, já 
poderia ser iniciada a contagem do prazo prescricional. 
STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 
6/2/2018 (Info 890). 
 
Conceito de prescrição 
Prescrição é a perda do direito do Estado de punir (pretensão punitiva) ou de executar uma punição já 
imposta (pretensão executória) em razão de não ter agido (inércia) nos prazos previstos em lei. 
 
Espécies 
Existem duas espécies de prescrição: 
I – Prescrição da pretensão punitiva, que pode ser: 
I.a) prescrição da pretensão punitiva propriamente dita; 
I.b) prescrição superveniente ou intercorrente; 
I.c) prescrição retroativa; 
 
II – Prescrição da pretensão executória. 
 
Prescrição da pretensão executória (prescrição da condenação) 
Ocorre quando o Estado perde o seu poder-dever de executar uma sanção penal já definitivamente 
imposta pelo Poder Judiciário em razão de não ter agido nos prazos previstos em lei. 
 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Cálculo da prescrição executória no caso de pena privativa de liberdade 
A prescrição da pretensão executória da pena privativa de liberdade é calculada com base na pena concreta, 
fixada na sentença ou no acórdão que já transitou em julgado e, portanto, não pode mais ser alterada. 
 
Termo inicial 
Como vimos, o Estado tem um prazo máximo para fazer com que o réu condenado inicie o cumprimento 
da pena. Caso não o faça, ocorre a prescrição executória. 
A pergunta é: a partir de que dia começa a correr esse prazo que o Estado tem para fazer com que o 
condenado inicie o cumprimento da pena? Dito de outra forma: qual é o termo inicial do prazo da 
prescrição da pretensão executória? 
A resposta encontra-se no art. 112, I do CP: 
Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível 
Art. 112. No caso do art. 110 deste Código [que trata da prescrição executória], a prescrição 
começa a correr: 
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga 
a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; 
 
Desse modo, segundo o art. 112, I do CP, o termo inicial da prescrição executória é a data do trânsito em 
julgado da sentença condenatória para a acusação. 
 
E se o MP não recorre, mas a defesa apresenta recurso? 
Nesse caso, a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. Logo, segundo a redação do 
art. 112, I do CP, inicia-se a contagem do prazo de prescrição executória mesmo ainda estando pendente 
a apreciação do recurso interposto pela defesa. 
 
Veja o seguinte exemplo hipotético 
João foi condenado a 4 anos de reclusão pelo Tribunal de Justiça. 
O Ministério Público concorda com o acórdão e não recorre, razão pela qual ocorre trânsito em julgado 
para a acusação no dia 18/02/2010. 
O advogado do réu apresenta recurso extraordinário, de forma que, para a defesa, não houve trânsito em 
julgado. 
 
Qual é o prazo de prescrição executória quando o réu é condenado a 4 anos? 
A prescrição ocorre em 8 anos (art. 109, IV, do CP). Em outras palavras, se o réu for condenado a 4 anos, 
o Estado tem o poder-dever de fazer com que esse condenado inicie o cumprimento da pena em até 8 
anos. Se passar desse prazo, o Estado perde o poder de executar a sanção e o condenado não mais terá 
que cumprir a pena imposta. 
 
Em nosso exemplo, quando se iniciou a contagem do prazo de prescrição executória (levando-se em 
consideração a regra do art. 112, I do CP)? 
No dia 18/02/2010, data em que a sentença transitou em julgado para a acusação. Isso significa que o 
Estado tinha um prazo de 8 anos para fazer com que o réu iniciasse o cumprimento da pena. 
Se o réu não começou a cumprir a pena até 18/02/2018, aconteceu a prescrição. 
Essa é a regra que estápresente no art. 112, I do CP. 
 
Crítica à regra do art. 112, I do CP 
A CF/88 prevê que ninguém poderá ser considerado culpado até que haja o trânsito em jugado da sentença 
penal condenatória (art. 5º, LVII). Por força desse princípio, durante os anos de 2009 até 2016 prevaleceu no 
STF o entendimento de que não existia no Brasil a execução provisória (antecipada) da pena. 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Assim, de 2009 até 2016 o STF entendia que, enquanto não tivesse havido trânsito em julgado para a 
acusação e para a defesa, o réu não poderia ser obrigado a iniciar o cumprimento da pena. 
Se ainda estava pendente de julgamento qualquer recurso da defesa, o condenado não podia iniciar o 
cumprimento da pena porque ainda era presumivelmente inocente. 
Isso perdurou, como já dito, de 2009 (STF. Plenário. HC 84078, julgado em 05/02/2009) até 2016, quando 
o STF mudou sua jurisprudência no HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/2/2016. 
 
Desse modo, perceba a seguinte situação estranha que o art. 112, I, ocasionava (entre 2009 a 2016): 
• se o réu fosse condenado, a defesa recorresse e o MP não, esse condenado não podia iniciar o 
cumprimento da pena enquanto estivesse pendente o recurso; 
• apesar disso, pela redação literal do art. 112, I, do CP, já começava a correr o prazo da prescrição 
executória. 
 
Diante desse paradoxo que podia ser ocasionado pela regra do art. 112, I, do CP, alguns doutrinadores 
e membros do Ministério Público idealizaram a seguinte tese: 
O início do prazo da prescrição executória devia ser o momento em que ocorre o trânsito em julgado para 
ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa. 
Não se pode dizer que o prazo prescricional começa com o trânsito em julgado apenas para a acusação, 
uma vez que, se a defesa recorreu, o Estado não pode dar início à execução da pena, já que ainda não 
haveria uma condenação definitiva. 
Se há recurso da defesa, o Estado não inicia o cumprimento da pena não por desinteresse dele, mas sim 
porque há uma vedação de ordem constitucional decorrente do princípio da presunção de inocência. Ora, 
se não há desídia do Estado, não se pode falar em prescrição. 
Desse modo, foi uma tese que surgiu para desconsiderar a interpretação literal do art. 112, I, do CP. 
 
Essa tese que desconsidera a regra do art. 112, I, do CP foi aceita pela jurisprudência? 
• STJ: NÃO. Para o STJ, conforme determina o art. 112, I do CP, o termo inicial da prescrição da pretensão 
executória é a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, ainda que a defesa 
tenha recorrido e que se esteja aguardando o julgamento desse recurso. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. 
AgRg no RHC 74.996/PB, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/09/2017. 
O argumento de que se deveria aguardar o trânsito em julgado para ambas as partes não tem previsão 
legal e contraria o texto do Código Penal. 
Além disso, não se pode querer “corrigir” a redação do art. 112, I, do CP invocando-se o art. 5º, LVII da 
CF/88, porque, nesse caso, se estaria utilizando um dispositivo da Constituição Federal para respaldar uma 
“interpretação” totalmente desfavorável ao réu e contra expressa disposição legal. 
Exigir o trânsito em julgado para ambas as partes como termo inicial da contagem do lapso da prescrição 
da pretensão executória, ao contrário do texto expresso da lei, seria inaugurar novo marco interruptivo 
da prescrição não previsto no rol taxativo do art. 117 do CP, situação que também afrontaria o princípio 
da reserva legal. 
Assim, somente com a devida alteração legislativa é que seria possível modificar o termo inicial da 
prescrição da pretensão executória, e não por meio de "adequação hermenêutica". 
 
• Precedente da 1ª Turma do STF: SIM. 
A 1ª Turma do STF acolhe a tese acima explicada e entende que o art. 112, I, do CP deve ser interpretado 
sistematicamente à luz da jurisprudência que prevaleceu no STF de 2009 a 2016, segundo a qual só era 
possível a execução da decisão condenatória depois do trânsito em julgado. 
Assim, se não era possível a execução provisória da pena, não era razoável considerar que o curso da 
prescrição da pretensão punitiva já começou a correr pelo simples fato de a acusação não ter recorrido. 
Ora, não é possível prescrever aquilo que não pode ser executado. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Veja ementa nesse sentido: 
(...) 2. A partir do julgamento pelo Plenário desta Corte do HC nº 84.078, deixou-se de se admitir a 
execução provisória da pena, na pendência do RE. 
3. O princípio da presunção de inocência ou da não-culpabilidade, tal como interpretado pelo STF, deve 
repercutir no marco inicial da contagem da prescrição da pretensão executória, originariamente regulado 
pelo art. 112, I do Código Penal. 
4. Como consequência das premissas estabelecidas, o início da contagem do prazo de prescrição somente 
se dá quando a pretensão executória pode ser exercida. (...) 
STF. 1ª Turma. HC 107710 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 09/06/2015. 
 
Em suma: 
Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença condenatória, tendo havido apenas recurso da 
defesa, qual deverá ser o termo inicial da prescrição da pretensão executiva? O início do prazo da 
prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em julgado para o MP? Ou o início 
do prazo deverá ser o instante em que se dá o trânsito em julgado para ambas as partes, ou seja, tanto 
para a acusação como para a defesa? 
• Posicionamento pacífico do STJ: o termo inicial da prescrição da pretensão executória é a data do trânsito 
em julgado da sentença condenatória para a acusação, ainda que a defesa tenha recorrido e que se esteja 
aguardando o julgamento desse recurso. Aplica-se a interpretação literal do art. 112, I, do CP, 
considerando que ela é mais benéfica ao condenado. 
• Entendimento da 1ª Turma do STF: o início da contagem do prazo de prescrição somente se dá quando 
a pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado não pode executar a pena, não se pode dizer que 
o prazo prescricional já está correndo. Assim, mesmo que tenha havido trânsito em julgado para a 
acusação, se o Estado ainda não pode executar a pena (ex: está pendente uma apelação da defesa), não 
teve ainda início a contagem do prazo para a prescrição executória. É preciso fazer uma interpretação 
sistemática do art. 112, I, do CP. 
STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 
(Info 890). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
Haverá mudança de competência para julgar o recurso se, após a interposição, 
houve a diplomação do réu como Deputado Federal 
 
Se, após a interposição de recurso especial contra a condenação criminal, o réu foi diplomado 
Deputado Federal, a competência para julgar este recurso passa a ser do STF. 
STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 
6/2/2018 (Info 890). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, Prefeito, praticou um delito de competência da Justiça Estadual. 
O Tribunal de Justiça condenou João. 
A competência para julgar os crimes cometidos por Prefeitos é, em regra, do Tribunal de Justiça (art. 29, 
X, da CF/88). 
Suponhamos que o TJ tenha condenado João a uma pena de 6 anos de reclusão. 
 Informativocomentado 
 
 
 
Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Contra o acórdão do TJ, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial ao STJ e recurso extraordinário 
ao STF. 
Ocorre que, logo em seguida, João foi diplomado Deputado Federal. 
 
O que fazer com o recurso especial? 
O STJ deverá encaminhá-lo ao STF para ser julgado conjuntamente com o recurso extraordinário 
considerando que a competência para julgar Deputados Federais é do Supremo Tribunal Federal, nos 
termos do art. 102, I, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do 
Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; 
 
Se, após a interposição de recurso especial contra a condenação criminal, o réu foi diplomado Deputado 
Federal, a competência para julgar este recurso passa a ser do STF. 
STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 
(Info 890). 
 
 
 
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 
“Denúncia anônima”, quebra de sigilo e renovação das interceptações 
 
“Denúncia anônima” e quebra de sigilo 
Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, não há ilegalidade em iniciar investigações 
preliminares com base em "denúncia anônima" a fim de se verificar a plausibilidade das 
alegações contidas no documento apócrifo. 
A Polícia, com base em diligências preliminares para atestar a veracidade dessas “denúncias” 
e também lastreada em informações recebidas pelo Ministério da Justiça e pela CGU, requereu 
ao juízo a decretação da interceptação telefônica do investigado. 
O STF entendeu que a decisão do magistrado foi correta considerando que a decretação da 
interceptação telefônica não foi feita com base unicamente na "denúncia anônima" e sim após 
a realização de diligências investigativas e também com base nas informações recebidas dos 
órgãos públicos de fiscalização. 
 
Renovação das interceptações 
A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze 
dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova." 
(art. 5º). 
A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual 
período, não havendo restrição legal ao número de vezes para tal renovação, se comprovada 
a sua necessidade. 
STF. 2ª Turma. RHC 132115/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 6/2/2018 (Info 890). 
 
 
 Informativo 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
O que é a chamada "denúncia anônima"? 
Denúncia anônima ocorre quando alguém, sem se identificar, relata para as autoridades (ex: Delegado de 
Polícia, MP etc.) que determinada pessoa praticou um crime. É o caso, por exemplo, dos serviços 
conhecidos como "disk-denúncia" ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se "denuncia" 
a ocorrência de delitos. 
O termo "denúncia anônima" não é tecnicamente correto porque em processo penal denúncia é o nome 
dado para a peça inaugural da ação penal proposta pelo Ministério Público. Assim, a doutrina prefere falar 
em "delação apócrifa", "notícia anônima" ou "notitia criminis inqualificada". 
 
É possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima”? 
NÃO. A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito à intimidade. Logo, para ser 
decretada, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima. 
 
É possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denúncia anônima”? 
NÃO. A Lei nº 9.296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) estabelece: 
Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer 
das seguintes hipóteses: 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
 
Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada a ultima ratio, ou 
seja, trata-se de prova subsidiária. 
 
Tendo como fundamento esse dispositivo legal, a jurisprudência pacífica do STF e do STJ entende que é 
ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com base em “denúncia anônima”. Veja: 
(...) 4. A jurisprudência desta Corte tem prestigiado a utilização de notícia anônima como elemento 
desencadeador de procedimentos preliminares de averiguação, repelindo-a, contudo, como fundamento 
propulsor à imediata instauração de inquérito policial ou à autorização de medida de interceptação telefônica. 
5. Com efeito, uma forma de ponderar e tornar harmônicos valores constitucionais de tamanha 
envergadura, a saber, a proteção contra o anonimato e a supremacia do interesse e segurança pública, é 
admitir a denúncia anônima em tema de persecução penal, desde que com reservas, ou seja, tomadas 
medidas efetivas e prévias pelos órgãos de investigação no sentido de se colherem elementos e 
informações que confirmem a plausibilidade das acusações. 
6. Na versão dos autos, algumas pessoas - não se sabe quantas ou quais - compareceram perante 
investigadores de uma Delegacia de Polícia e, pedindo para que seus nomes não fossem identificados, 
passaram a narrar o suposto envolvimento de alguém em crime de lavagem de dinheiro. Sem indicarem, 
sequer, o nome do delatado, os noticiantes limitaram-se a apontar o número de um celular. 
7. A partir daí, sem qualquer outra diligência, autorizou-se a interceptação da linha telefônica. 
8. Desse modo, a medida restritiva do direito fundamental à inviolabilidade das comunicações telefônicas 
encontra-se maculada de nulidade absoluta desde a sua origem, visto que partiu unicamente de notícia 
anônima. 
9. A Lei nº 9.296/96, em consonância com a Constituição Federal, é precisa ao admitir a interceptação 
telefônica, por decisão judicial, nas hipóteses em que houver indícios razoáveis de autoria criminosa. 
Singela delação não pode gerar, só por si, a quebra do sigilo das comunicações. Adoção da medida mais 
gravosa sem suficiente juízo de necessidade. (...) 
STJ. 6ª Turma. HC 204.778/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 04/10/2012. 
 
Logo, se a autoridade policial ou o Ministério Público recebe uma “denúncia anônima” (“delação apócrifa”) 
contra determinada pessoa, não é possível que seja requerida, de imediato, a interceptação telefônica do 
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Informativo 890-STF (20/02/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
suspeito. Isso seria uma grave interferência na esfera privada da pessoa, sem que houvesse justificativa 
idônea para isso. 
 
É possível a propositura de ação penal com base unicamente em “denúncia anônima”? 
NÃO. A propositura de ação penal exige indícios de autoria e prova de materialidade. Logo, não é possível 
oferecimento de denúncia com base apenas em "denúncia anônima". 
 
É possível instaurar investigação criminal (inquérito policial, investigação pelo MP etc.) com base em 
“denúncia anônima”? 
SIM, mas a jurisprudência afirma que, antes, a autoridade deverá realizar uma investigação prévia para 
confirmar se a "denúncia anônima" possui um mínimo de plausibilidade. Veja o que diz Renato Brasileiro: 
"Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar 
a procedência e veracidade das informações por ela veiculadas. Recomenda-se, pois, que a autoridade policial, 
antes de proceder à instauração formal do inquérito policial,

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