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Linguagem e pensamento: da estrutura ao funcionamento nos processos de aprendizagem

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LINGUAGEM E PENSAMENTO: DA ESTRUTURA AO 
FUNCIONAMENTO NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 
 
PERUZZO∗, Léo Júnior – PUCPR 
leo.junior@pucpr.br 
 
TREVISOL∗∗, Marcelo – PUCPR 
marcelo.trevisol@klingspor.com.br 
 
SCHONS∗∗∗, André – PUCPR 
andre.schons@pucpr.br 
 
RESUMO 
 
A linguagem é o banco de operações pela qual nosso pensamento está estruturado. Através da 
linguagem realizamos as mais variadas intervenções no ambiente, especialmente quando nos 
referimos a alfabetização e aos processos de cognição. Entender o funcionamento da 
linguagem e a sua estrutura são requisitos indispensáveis para desenvolver habilidades no 
processo ensino-aprendizagem. Nossas categorias lingüísticas são formadas por regras 
culturais alteradas de acordo com a evolução das necessidades. Neste caso, a mente e o 
pensamento relacionam-se com o mundo de acordo com as variações comunicativas. A 
Educação é um processo resultante desta elaboração. Contanto, a aprendizagem muitas vezes 
torna-se um processo arbitrário onde são desconhecidos os mecanismos estruturais internos 
que permitem o avanço do conhecimento. Pensar a Educação assimilada a genética e a cultura 
é tarefa dos educadores da sociedade moderna. Porém, a técnica não é condição suficiente 
para o aprimoramento de bases educacionais sólidas. A crise de referências do mundo atual 
não satisfazem as necessidades que os seres humanos almejam. O universo pluralista formado 
pelo conjunto de crenças e convicções remete-nos a muitos paradoxos. A inexistência de um 
método rigoroso obriga-nos a reconhecer o vasto universo de inteligências. A Educação, por 
essa razão, associa-se a metáfora da caixa de ferramentas, onde as necessidades específicas de 
cada indivíduo requerem uma ferramenta própria. Esta perspectiva, agora unida aos 
fundamentos das diversas ciências, exigem um novo olhar sobre as questões éticas, estéticas, 
religiosas, culturais e sociais. A linguagem não manifesta uma entidade pronta, formata ou 
universalizada. É o uso e a utilidade da língua que delimitam as relações humanas. A 
capacidade de aprender torna-se, por sua vez, uma das características mais fundamentais da vida. 
Portanto, o educar nesta sociedade lingüística plural requer o conhecimento da estrutura pela qual 
pensamos e progredimos culturalmente. 
 
 
Palavras-Chave: Linguagem, Pensamento, Educação, Aprendizagem, Cultura. 
 
 
 
 
∗
 Graduando do Curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná / PUCPR e Bolsista de 
Iniciação Científica PIBIC/CNPQ. 
∗∗
 Graduando do Curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná / PUCPR. 
∗∗∗
 Graduando do Curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná / PUCPR. 
 2768 
 
Heródoto, a título de anedota, a propósito da origem da linguagem, 
conta que o rei do Egito, Psamético, século VIII a.C., querendo saber 
qual era o povo mais antigo do mundo, teria mandado educar duas 
crianças recém-nascidas proibindo que se pronunciasse qualquer 
palavra em sua presença; depois de dois anos, o pastor encarregado 
dos cuidados com elas relatou que ouviu-as dizer a primeira palavra: 
“békos”. Psamético mandou investigar em que língua “békos” teria 
significado e descobriu que era o nome de pão em frígio. Daí 
concluindo que os frígios eram de uma antigüidade anterior aos 
egípcios; é bom salientar que as crianças tinham sido educadas junto 
com um rebanho de cabras (Bééééé...).(BASTOS; CANDIOTTO, 2007, 
p.99) 
 
“Sem linguagem não há acesso a realidade, não há pensamento” (ARAÚJO, 2004, 
p.9). A linguagem é a faculdade humana que universalmente distingue o homem de outras 
espécies. Tomemos aqui a linguagem como fundamento do pensamento cultural e social, pois 
é através dela que surgem as manifestações individuais e coletivas de cada sujeito. Uma vez 
que é próprio do ser humano nomear, referir, designar, a linguagem aparece como base do 
pensamento, possibilitando a expressão de idéias e a formação de conceitos. 
Os contextos educacionais apresentam-se fortemente envolvidos pela maneira especial 
que tratam as questões referentes a linguagem. Porém, existe a necessidade de compreender o 
funcionamento da linguagem e aplicá-la corretamente na metodologia do ensino. Este aspecto 
faz-nos relacionar e verificar as concepções e as teorias mais influentes nos campos da 
lingüística, da psicologia, da filosofia e da pedagogia. O processo de aprendizagem, mediado 
por um sistema lingüístico, pode configurar o pensamento e as concepções de quem está na 
fase de formação. Envolvidos nestes aspectos, pretendemos destacar o papel da comunicação, 
neste caso a linguagem, como mediador e formador de uma prática educacional eficaz para o 
processo de aprendizagem. 
Saussure afirma que: 
A linguagem é uma faculdade humana abstrata, ou seja, uma capacidade: isto é, 
aquela capacidade que o humano tem de comunicar-se com os semelhantes por meio 
de signos mediante mecanismos de natureza psico-fisiológica . A linguagem é ao 
mesmo tempo física, fisiológica, psíquica e de domínio social. É simultaneamente o 
único modo dd ser do pensamento, ou seja, sua matéria no plano do conteúdo, e 
realidade do pensamento, isto é, o próprio elemento da comunicação e sua realização 
no plano da expressão. ( SAUSSURE, 1975, p.81 ) 
 
Uma análise das expressões lingüísticas aborda temas fundamentais, como a relação 
da linguagem e realidade, das palavras e coisas, dos processos comunicativos, da fala como 
prática humana, isto é, de como operamos com as palavras quando pretendemos elucidar uma 
idéia e se, após transmiti-la somos compreendidos com totalidade. 
 2769 
A linguagem aparece então, além de fundamento das relações sociais, como fator 
primordial dos processos cognitivos. De acordo com Vygotsky, aprendizagem e linguagem 
são indissociáveis. Através da linguagem e de suas diversas formas de comunicação verbais e 
extraverbais (olhares, gestos e movimentos), os sujeitos interagem uns com os outros e com o 
mundo que os rodeia. Todavia, por intermédio desses diferentes momentos interativos, além 
da possibilidade de comunicação, algo mais é produzido: o conhecimento. Ainda segundo 
Vygotsky, o processo de aprendizagem é anterior ao processo de escolarização das crianças. 
Desde o início de sua vida, através das diversas interações (com a mãe, familiares e colegas), 
a criança se desenvolve, aprendendo sobre as coisas e o mundo em que vive. Essa forma de 
pensamento é marcada pelas experiências e vivências imediatas mediadas pela palavra e 
absorvidos nos conceitos cotidianos. 
Desse modo, o processo ensino-aprendizagem é concebido como um processo global 
de relação interpessoal que envolve ao mesmo tempo alguém que aprende, alguém que ensina 
e a própria relação ensino-aprendizagem. Essa concepção inclui dois aspectos: a presença do 
outro social e a necessidade da linguagem como elemento fundamental nesse processo. 
Tratando-se de uma abordagem sobre a área de aquisição da linguagem, algumas 
teorias destacam-se ao afirmar os processos pelos quais uma criança, neste caso, faz a 
aquisição da linguagem. A abordagem mais recente é a teoria inatista, desenvolvida pelo 
lingüista Noam Chomsky, que reforça a idéia do vínculo da linguagem a mecanismos mentais, 
ao mesmo tempo biológicos e psicológicos. Trata-se da postulação de mecanismos inatos, 
específicos de aquisição da linguagem, dos quais a criança é dotada geneticamente. Outra 
abordagem, oposta à anterior, chamada behaviorista ou comportamentalista, é representada 
por Skinner. Trata-se da linguagem como sendo um conjunto de comportamentos verbais, 
externos, observáveis, cuja aquisição depende do condicionamento operante, de estímulos 
externos, de cadeias de respostas e reforços, de treino, imitação. Uma terceiraabordagem é a 
cognitivista, desenvolvida pela epistemologia genética de Piaget, reforça para a emergência e 
o desenvolvimento da linguagem condicionada ao desenvolvimento da inteligência e, mais 
especificamente, à superação da inteligência sensorimotora. 
Os processos de aquisição da linguagem e da cognição possuem uma estreita relação 
com a cultura. A linguagem e a cultura são produtos das interações humanas e a cognição 
também é uma forma de operar mentalmente, resultante dessa relação humana. Nos processos 
de aprendizagem, a criança que se encontra imersa nas relações sociais, dotada pela sua 
história, está imersa numa realidade sócio-histórica. Entende-se, que a cultura é uma produção 
humana, que pode ser ou não controlada e projetada dentro de novos estatutos éticos. 
 2770 
Participar de um contexto é como uma caixa de ferramentas. Nela encontram-se muitas 
ferramentas que devem ser usadas nas mais diversas situações e ocasiões. Ler e escrever são 
formas específicas organizadas por um sistema cultural. É por isso que o mundo é 
estabelecido por conceitos e o pensamento é uma amostra da maneira como classificamos a 
realidade por uma linguagem mediada pela linguagem. 
Para estabelecer uma relação da linguagem com os processos de aprendizagem e 
instaurar os problemas que a partir de então são resultantes é necessário verificar o gráfico 
para o desenvolvimento da linguagem infantil: 
���������	
������ 
������������������������ ��������	��	��	���	���������	����
���	�����	�
Pré-natal Respostas às vozes humanas 
Meses iniciais Arrulhamento, que abrange 
todos os fonemas possíveis 
Á medida que os sons se tornam mais 
significativos, a percepção dos sons torna-
se mais seletiva e a capacidade de 
memória para os sons aumenta. 
Seis meses após o 
nascimento 
Balbuciação dos fonemas 
distintos da linguagem 
primária das crianças. 
 
De um a três anos de 
idade 
Elocuções de uma ou duas 
palavras e, posteriormente, fala 
telegráfica. 
À medida que a fluência e a compreensão 
aumentam, cresce a capacidade mental 
para manipular símbolos lingüísticos, 
também cresce o desenvolvimento 
conceitual; ocorrem erros de 
superextensão quando a criança aplica o 
vocabulário limitado a situações variadas; 
à medida que o vocabulário torna-se mais 
especializado, esses erros são menos 
freqüentes. 
De três a quatro anos Frases simples que refletem a 
explosão do vocabulário, bem 
como compreensão competente 
da sintaxe, apesar dos erros de 
super-regularização. 
Vocabulário e conceitos expandem-se em 
função da compreensão e da fluência e a 
criança internaliza as regras da sintaxe. Os 
erros de super-regularização propiciam um 
feedback de como as crianças formam 
regras sobre a estrutura lingüística. 
Próximo aos quatro 
anos de idade 
Estrutura de frases básicas dos 
adultos; acréscimos na 
complexidade da estrutura 
prosseguem na adolescência; o 
vocabulário aumenta em ritmo 
decrescente. 
Padrões e estratégias lingüísticas das 
crianças para a aquisição da linguagem são 
estudados nos mesmos moldes que aqueles 
para adultos; as estratégias metacognitivas 
para adquirir vocabulário tornam-se 
crescentemente sofisticadas ao longo da 
infância. 
Fonte: STERNBERG, R.T. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000. 
De acordo com a leitura do gráfico entende-se que os padrões físicos e sociais 
confluem no processo de conhecimento. A criança é uma tabula rasa dotada de faculdades 
 2771 
específicas que servirão para armazenar todas as informações adquiridas com o tempo. Essa 
predisposição ao recebimento de informações pertence ao seu padrão biológico. Contanto, o 
conteúdo é processo da evolução da humanidade. O comportamento, por sua vez, integra-se 
no locus da responsabilidade moral. Steven Pinker afirma que são diversos os fatores 
responsáveis pela organização do conhecimento: 
Nesta era científica, entender significa tentar explicar o comportamento como uma 
complexa interação entre (1) os genes, (2) a anatomia do cérebro, (3) o estado 
bioquímico deste, (4) a educação que a pessoa recebeu da família, (5) o modo como 
a sociedade tratou esse indivíduo e (6) o estímulos que se impõem a pessoa. De fato, 
a cada um desses fatores, e não apenas as estrelas ou os genes, tem sido 
impropriamente invocado como origem de nossas falhas e justificativa de que não 
somos senhores de nosso destino. (PINKER, 2002, p.64) 
 
Essa organização de diversos fatores (genéticos e sociais) formatam o módulo mental 
do indivíduo pensar. O pensamento modula-se pela junção desses fatores. É por esta razão 
que não existe uma linguagem pronta, que poderia ser aprendida e dominada perfeitamente, 
funcionando através de um conjunto de regras determinadas. Os significados de qualquer 
enunciado tornam-se, então, condições de verdade ou falsidade preenchidos pelos requisitos 
que o falante utiliza. 
A linguagem é uma descrição do mundo. Chomsky, assim como Pinker, são 
considerados os primeiros lingüistas a afirmarem universais lingüísticos, ou seja, a 
salientarem semelhanças na construção das diversas línguas humanas. Suas teorias afirmam 
que todos os idiomas tem características estruturais comuns. Em Chomsky encontramos os 
universais lingüísticos em virtude das limitações determinadas geneticamente. Pinker 
considera a linguagem como fator genético e evolutivo (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, 
p.113). 
Existem, por exemplo, evidências a favor da base genética da linguagem. Utilizamos a 
classificação adotada por Bastos e Candiotto que são componentes das teses de Pinker e 
Chomsky: 
 
a) “A linguagem é um fenômeno universal das populações humanas: todos os grupos 
humanos, em todos os lugares, independente da complexidade cultural ou tecnológica, 
usam a linguagem, todas possuem o mesmo grau de complexidade: idiomas primitivos ou 
de culturas industrializadas contemporâneas possuem a mesma elegância e complexidade 
formais; 
b) O aprendizado infantil da linguagem: aproximadamente aos doze meses as crianças de 
todos os povos começam a se utilizar de palavras. Aos dezoito meses combinam as 
 2772 
palavras e, em torno de três anos, já possuem uma rica complexidade lingüística. A 
observação importante que se faz aqui é que dominam seus idiomas e suas estruturas sem 
ensino sistemático, naturalmente. A seqüência da aquisição da linguagem é universal e 
progride por estágios (Sternberg); 
c) Todos os idiomas possuem elementos estruturais básicos comuns: assim como cada 
idioma possui regras gramaticais de geração (gerativas), também existem regras 
gramaticais gerais, que se aplicam a todos os idiomas, como sujeito, verbo, objeto direto. 
Fenômeno que só pode ser explicado se houver um componente inato significativo para o 
desenvolvimento da linguagem” (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, p.p.113-114) 
 
A teoria do mentalês proposta por Pinker, neste caso, afirma que a linguagem é inata e 
a linguagem complexa é universal. Ela sofre modificações geração após geração e é definida 
de acordo com a atividade prática de uma comunidade de pessoas. Na década de 80 é fácil 
destacar frases ou palavras que caíram de modo. No entanto, quase trinta anos depois é fácil 
destacar a criação de novas expressões que adquirem sentido de acordo com a utilização de 
um grupo. Por essa hipótese, é possível afirmar que a maleabilidade da linguagem associa-se 
aos fundamentos sócio-históricos da comunidade lingüística, porém tanto boeuf, böf, oks ou 
boi referem-se a fronteira cultural ou a arbitrariedade das palavras e dos significados. 
Os contextos educacionais são dotados pela pluralidade de linguagens. A utilização de 
metáforas e gírias compõem grande parte do vocabulário dos adolescentes. Pode-se afirmar 
que não existe mais um dicionário estável, mas variáveis lingüísticas que sofrem alterações deacordo com a independência e a aceitação de novas palavras. A linguagem é uma entidade 
complexa que se deteriora e se compõem de acordo com método e o objetivo a serem 
alcançados. A ciência também recorre à linguagem e suas analogias para explicar o 
funcionamento das leis. Assim escreve Steven Mithen: 
Podemos dizer o mesmo sobre a terceira característica da ciência – o uso de 
metáforas e analogias, que na verdade são ferramentas do pensamento” 
(DENNETT, 1991). Algumas podem ser desenvolvidas recorrendo-se ao 
conhecimento de um domínio apenas, mas as mais poderosas ultrapassam os limites 
entre domínios, como na associação de uma entidade viva com algo que é inerte, ou 
a geração de uma idéia sobre algo que é tangível. Por definição, isso somente pode 
surgir dentro de uma mente cognitiva fluida. [...] Enquanto muitos exemplares são 
bem conhecidos – o coração é uma bomba mecânica, os átomos são sistemas solares 
em miniaturas – outros se escondem em teorias científicas, como a noção de 
wormholes na teoria da Relatividade e nas nuvens de elétrons na física de partículas. 
(MITHEN, 2002, p.345) 
 
As competências na área educacional, quando referimo-nos as habilidade lingüísticas 
exigem atenção e critério na maneira de interpretar um significado, podendo resultar em uma 
 2773 
possível patologia lingüística. Os exemplos clássicos em se afirmar que algumas palavras são 
obscenas, sem-sentido podem tornar-se um problema. Como não existe um critério para 
verificar a correspondência exata de uma palavra a um significado o erro pode resultar em 
atitudes classificadas desde a simples agressão até equívocos de interpretação. Na realidade, o 
problema não pode ser resolvido, apenas remediado. A linguagem é degenerativa, transforma 
o corpo de um conjunto de regras variáveis de acordo com a utilidade, influenciada pelos 
nuances da cultura. 
Cavalli-Sforza afirma: 
 
A capacidade de aprender é uma das características mais fundamentais da vida – 
mesmo em organismos extremamente simples. a cultura, ou a capacidade de 
aprender com a experiência alheia, é um fenômeno especial que depende da 
comunicação. A rapidez e a precisão da comunicação, e até a nossa capacidade de 
memorizar o que aprendemos, são fatores que determinam a eficiência da cultura. 
Naturalmente, não basta a uma cultura existir para ser útil do ponto de vista 
biológico. Mas diversos exemplos podem demonstrar o seu valor potencial na 
adaptação biológica. Por isso só, os sentidos do paladar e olfato não são suficientes 
para que escolhamos com segurança os alimentos que ingerimos; também 
precisamos aprender a reconhecer quais plantas são tóxicas e quais animais são 
perigosos. (CAVALLI-SFORZA, 2003, p.p.228-229) 
 
Aprendemos a língua no convívio com os outros e, de tal forma, a variedade 
lingüística que aprendemos é aquela falada no grupo social que fazemos parte. Essa variedade 
de signos é tão complexa como qualquer outro sistema de signos lingüísticos, diferentes 
daqueles que utilizamos. No processo pedagógico, não se trata de construir um conjunto sobre 
o outro, porém construir relações e interações com os demais conjuntos que são recursos 
expressivos de como está organizado o mundo. A educação torna-se, portanto, uma 
articulação entre a visão de mundo específica e as necessidades surgidas por um conjunto 
cultural. 
A construção do conhecimento, considerando-se aí também a aquisição da linguagem, 
resulta de um processo de interação do sujeito com o meio social e físico, com o mundo das 
pessoas e das coisas. É através das trocas entre sujeito e meio que a inteligência se estrutura, 
se organiza (ZORZI, 1993, p.90). Assim, na medida em que a inteligência se constrói abre 
alternativas de novas interações mais complexas que as anteriores. A sociabilização através da 
linguagem, torna-se, por essa razão, uma construção progressiva. A evolução da inteligência 
caracteriza-se pela evolução gradual das operações mentais, que estão ligadas as operações 
interpessoais e ao conjunto lingüístico. A interação no meio social permite o progresso do 
pensamento. 
 2774 
Integralmente a estas noções, surge a pergunta: Quais são as razões que explicam a 
aquisição da linguagem por uma criança? Para responder a essa questão, segundo Menyuk, 
existem três razões. A primeira diz que a criança adquire a língua porque ela é parte de seu 
ambiente e porque a vocalização é parte de seu repertório de comportamento. Ela adquire a 
língua porque aprende que o comportamento vocal leva a recompensa. A segunda teoria tenta 
circunscrever a teoria anterior propondo que as crianças adquirem a linguagem devido aos 
princípios de identificação (chorar recebe reforçamento primário pelo fato de que por meio 
desta vocalização se reduz um impulso fisiológico – durante este período, a criança identifica-
se com a mãe e, desta forma, começa a imitar o comportamento vocal da mesma). Uma 
terceira teoria propõe que a capacidade para a aquisição da linguagem está estruturalmente 
presente na época do nascimento e que a maturação destas estruturas leva às mudanças no uso 
da linguagem pela criança durante o período de aquisição da mesma. O ambiente lingüístico 
mantêm-se relativamente constante, mas a criança modifica seu uso do estímulo de entrada à 
medida que suas capacidades são modificadas durante o período de maturação (MENYUK, 
1975, p.345-347). 
As estruturas educacionais trabalham com uma pluralidade lingüística. Os contextos 
que formam o universo mental correspondem as categorias utilizadas pelo grupo. É 
imprescindível que o processo de aprendizagem escolar utilize métodos eficazes na 
correspondência das necessidades específicas de cada padrão cultural analisado e educado. 
Nesta análise, os problemas éticos decorrentes da utilização da linguagem podem ser 
suprimidos pelo simples conhecimento do universo-padrão que o indivíduo é educado. Em 
determinados contextos algumas palavras possuem um significado, mudando o contexto pode-
se mudar o significado. 
As quatro forças evolutivas identificadas nos mecanismos de evolução podem ser 
aplicados a evolução das variações lingüísticas. Essas quatro forças evolutivas atuam, 
segundo a genética, no processo de sobrevivência dos indivíduos mais aptos: 
 
[...] a mutação, que produz novos tipos genéticos; a seleção natural, o 
mecanismo que seleciona automaticamente os tipos mutados mais bem 
adaptados a determinado ambiente; a deriva genética, que consiste na 
oscilação aleatória das freqüências gênicas em populações; e a migração, às 
vezes chamada de fluxo gênico”. (CAVALLI-SFORZA, 2003, p.65) 
 
Os processos de aprendizagem confluem de maneira semelhante. As épocas, as 
descobertas, a mudança de pensamento e de mentalidade transformam-se simultaneamente às 
necessidades humanas. As mais de 5 mil línguas faladas hoje são um exemplo dos nuances 
 2775 
culturais na sociedade. Entender o fator lingüístico requer observação do pensamento por ela 
moldado. Educar é uma tarefa entrelaçada na complexidade dos saberes. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, I.L. Do Signo ao Discurso. São Paulo: Parábola, 2004. 
 
BASTOS, C.L.; CANDIOTTO, K. Filosofia da Linguagem. São Paulo: Vozes, 2007. 
 
CAVALLI-SFORZA. Genes, Línguas e Povos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 
 
MENYUK, P. Aquisição e desenvolvimento da Linguagem. São Paulo: Pioneira, 1975. 
 
MITHEN, S. A pré-história da mente: Uma busca das origens da arte, da religião e da 
ciência. São Paulo: UNESP, 2002. 
 
PINKER, S. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
 
SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1975. 
 
STERNBERG, R.T. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000. 
 
ZORZI, J.L. Aquisição da Linguagem Infantil. São Paulo: Pancast, 1993.

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