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A ANÁLISE ESTRUTURAL DA NARRATIVA

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A ANÁLISE ESTRUTURAL DA NARRATIVA
	A estrutura das narrativas já foi analisada por vários estudiosos. Dentre os mais relevantes encontram-se Roland Barthes, Gérard Genette e Tzvetan Todorov. 
	O termo “narrativa” se evidencia em vários textos acompanhados em todo o mundo. Tal termo pode ser entendido como "discurso capaz de evocar, através da sucessão de fatos, um mundo dado como real ou imaginário situado num tempo e num espaço determinados.” (SODRÉ, 1988:75).
Tomando-se como base as conclusões de Todorov a respeito da estrutura que molda o processo narrativo, a análise estrutural da narrativa terá em todas as circunstâncias um caráter essencialmente teórico, em contraposição ao fenômeno descritivo. Desta forma, pode-se inferir que o objetivo de tal estudo nunca será a descrição de uma obra concreta. Sendo a obra, sob a óptica de Tzvetan Todorov, a manifestação de uma estrutura abstrata, da qual ela é apenas uma das realizações possíveis; o conhecimento dessa estrutura será o verdadeiro objetivo da análise estrutural. Vale ressaltar, que o termo “estrutura”, citado aqui, possui um sentido lógico, não espacial.
Conforme Todorov "Ao nível mais geral, a obra literária [assim como qualquer narrativa] tem dois aspectos: ela é ao mesmo tempo uma história e um discurso.” Ela é história, a partir do momento que interpela certa realidade, acontecimentos que teriam ocorrido, personagens que, deste ponto de vista, se confundem com os indivíduos dos nossos cotidianos. Esta mesma história poderia ter-nos sido relatada através de outros meios; por uma telenovela, por exemplo; sem necessariamente ser registrada em um livro. Contudo, a obra é ao mesmo tempo discurso: existe um narrador que relata a história; há diante dele um leitor que a percebe. Nesta etapa, não são os acontecimentos relatados que contam, mas a maneira pela qual o narrador faz o seu público conhece-la. (1973, pg. 211)
O autor utiliza ainda, a oposição entre a abordagem interna da obra literária a uma abordagem externa da mesma para reforçar a problemática do tema discutido. Segundo Tzvetan Todorov, se opusermos uma abordagem interna da obra literária a uma abordagem externa, a análise estrutural estará do lado da interna. Depreende-se que quando qualificamos a análise estrutural de teórica, nos aproximamos aparentemente daquilo que se conhece por externo. Um sociólogo ao analisar uma obra literária, por exemplo, não está interessado nesta por ela mesma, mas sim pelo reflexo que esta causa na sociedade. O conhecimento pelo qual o estudioso se interessa é o de uma estrutura abstrata, psíquica ou social que é manifestada por tal objeto de estudo. Já um crítico que se proponha a analisar a obra por ela mesma, irá parafrasear a mesma, de modo a revelar seu sentido melhor do que ela por ela mesma.
A análise estrutural da narrativa, por sua vez, diferencia-se dos dois exemplos mencionados no parágrafo anterior. Não se completa nem com uma mera descrição da obra, nem com seus aspectos psicológicos, sociais e filosóficos. A análise da estrutura da narrativa coincide com a teoria da literatura. 
Por mais que a teoria estrutural se baseie em um panorama no qual as obras literárias existentes aparecem como casos particulares realizados, cometeríamos um erro ao afirmamos que esta não visa as obras reais. O caminho empírico é um dos componentes que levam a formulação teórica. Todavia, a função desse estudo é relacionar o que cada obra tem em comum com as outras.
Todorov acrescenta que comprovar o caráter interno dessa abordagem não implica necessariamente afirmar que se negue a relação da literatura com outras séries homogêneas, como a filosofia, ou a vida social etc. Trata-se aqui principalmente de estabelecer uma ordem hierárquica: a literatura deve ser compreendida na sua especificidade, enquanto literatura, antes de se procurar estabelecer sua relação com algo diferente dela mesma.
Henry James, em seu artigo “The Art of Fiction” , acusa o crítico que utiliza termos como “descrição”, “narração”, “diálogo”, de cometer dois erros. Primeiramente, nunca se encontrará, num texto real, um diálogo puro, ou uma descrição pura etc. Em segundo lugar, o próprio emprego desses termos é inútil, senão prejudicial, pois o romance é “um ser vivo, uno e contínuo”.
A partir desse comentário de James, Todorov faz duas objeções. A primeira é acerca do significado que aquele atribui aos termos descrição, narração e diálogo, quando empregados na análise de uma obra. Todorov afirma que tais termos são conceitos teóricos, e que por suas vezes não precisam ser encontrados em estado puro. Sendo natural que os conceitos abstratos não se deixem observar diretamente, no nível da realidade empírica. A segunda ressalva diz respeito à obra ser caracterizada como ser vivo. Embora sendo os mecanismos constituintes da mesma, misturados, não é um absurdo distingui-los.
Outro argumento discutido por Todorov é o fato de a ciência ser considerada objetiva, enquanto a literatura é caracterizada sempre como subjetiva. Tal conclusão se torna insustentável, uma vez que o trabalho do crítico pode ter vários graus de subjetividade; e não existe nenhuma ciência social que seja livre totalmente de subjetividade. Todorov argumenta que a simples escolha de um conjunto de conceitos teóricos ao invés de outro já pressupõe uma decisão subjetiva.
Uma das estruturas literárias abstratas analisadas por Todorov é a da intriga. O autor compreende que esta análise da narrativa possui três subdivisões, sendo elas: estudo da sintaxe narrativa, estudo temático e estudo retórico.
No que concerne ao objeto estrutural da literatura, está a própria literatura, chamada neste caso de literariedade. Para Todorov, toda narrativa é composta pela história e pelo discurso. Ambos responsáveis pela literariedade da obra. Aliado a estrutura da narrativa, bem como sua interpretação está fatores relacionados ao leitor, como suas crenças, sua ideologia, o momento histórico em que vive. O mesmo elemento de uma obra pode ser interpretado de diversas maneiras, dependendo de quem é o leitor.

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