Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estrutura e Organização da Escola de Educação Infantil FREITAS, Marcos Cezar de. História Social da Infância no Brasil. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2009. KRAMER, Sonia. Retratos de um desafio: crianças e adultos na educação infantil. São Paulo: Editora Ática, 2009. ♦ Sugestão de Documentário: A invenção da infância Motivações para o abandono • Entre os séculos XVIII e XIX, as rodas do Rio e de Salvador receberam 40 mil crianças abandonadas. • O abandono das crianças ocorria principalmente por dois fatores: miséria ou honra. • As mulheres brancas e livres da elite que se arriscavam em encontros clandestinos e amorosos, e que ficavam grávidas, abandonavam os filhos para ter a garantia de um matrimônio bem sucedido, afinal mulher solteira que virava mãe era por fruto do pecado. •Mulheres e homens casados que tinham amantes e geravam filhos ilegítimos também os abandonavam por uma questão de honra familiar. • Casais pobres, mães solteiras, pobres, prostitutas, crianças negras filhas de ex-escravas... • Muitas crianças chegavam à roda dos expostos com um bilhetinho junto ao corpo: na maioria das vezes um pedido dos pais para que a criança fosse batizada. “A preocupação central era a salvação espiritual”. • Às vezes, o bilhete vinha com uma justificativa do abandono: em geral, por causa da morte dos pais, doenças familiares, vergonha do filho ilegítimo e até abandono por necessidade de viagem. • “Houve pais que deixaram um bilhete dizendo que mais tarde buscariam o filho, porque naquele momento não tinham condições de criar” IMAGENS PARA PENSARMOS A HISTÓRIA DA MULHER E DA CRIANÇA AS PARTEIRAS As crianças enjeitadas – a Roda dos expostos Roda dos expostos ou roda dos enjeitados • Consistia num mecanismo utilizado para abandonar recém- nascidos que ficavam ao cuidado de instituições de caridade. • Normalmente a criança era abandonada na calada da noite e a mãe, assim, tinha a identidade preservada. Ao colocar o bebê, tocava-se uma campainha e a rodeira da instituição cristã vinha recolher o rebento. • As Câmaras Municipais deveriam subsidiar o custo de criação do enjeitado nascido sob a sua jurisdição. No Brasil o subsídio foi pago até 1830 (depois obras filantrópicas). • A Casa dos Expostos e a Roda dos Expostos eram formas de assistência a infância abandonada (assistência caritativa). As Casas de Enjeitados • O Brasil passou a adotar a roda dos enjeitados como uma herança do reino português. • O primeiro registro de uma Casa de Enjeitados no país é na capital baiana, Salvador (1726). • Rio de Janeiro (1738) recebeu 8.713 crianças até 1821. • Recife (1791). • São Paulo (1825) • Santa Catarina, em Desterro (Florianópolis – em 1828) • Mato Grosso (1833) • Porto Alegre (1837); Rio Grande (1838), Pelotas (1849) • Enfim, no Brasil tivemos 13 Rodas dos Expostos. • A última a encerrar as atividades foi a de São Paulo, em 1950. Assistência à infância • O número de crianças abandonadas crescia no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX. • As crianças normalmente eram abandonadas perto de rios, de lixões ou até na beira de rios ou praias, muitas morriam sem ao menos receber o batismo. • “As crianças expostas eram devoradas por cães e porcos” (Marcílio). • Assim, a roda foi também um processo civilizador. AS AMAS DE LEITE • Crianças abandonadas nas rodas dos expostos ficavam na instituição religiosa ou iam viver com uma ama de leite até completar cerca de 3 anos. • Isso porque a casa costumava ficar cheia e, quando a demanda era muito grande, restava às câmaras municipais contratar amas para o cuidado das crianças. • Quando não tinha condições de amamentar, ela era chamada de ama-seca. A CRIANÇA ENFAIXADA AMAS DE LEITE ASILOS E AMAS CONTRATADAS Concepções •As rodas fecharam na Europa no século 19 e, no Brasil, só um século depois. •Houve uma valorização da maternidade e na normatização da sexualidade feminina. • “O discurso médico passou a ser que a maternidade é natureza de qualquer mulher”. •As amas de leite, antes vistas como salvadoras das crianças abandonadas (e disputadas até pelas mulheres de grandes fazendeiros, para a amamentação dos filhos), passaram a ser vistas como um ato de desamor. A FAMILIA Modelo de assistência: Filantropia • Uma nova fase assistencial no final do século XIX, preponderante até 1960 – a Filantropia. • Filantropia significa "amor à humanidade". Os donativos a organizações humanitárias, pessoas, comunidades, ou o trabalho para ajudar os demais, direta ou através de organizações não governamentais sem fins lucrativos, assim como o trabalho voluntário para apoiar instituições que têm o propósito específico de ajudar os seres vivos e melhorar as suas vidas, são considerados actos filantrópicos. • Associações filantrópicas – Rothary Club, Liga das Senhoras Católicas, Associação Pérola Bygthon para a atenção as crianças desvalidas. Primeiras propostas de instituições Pré-escolares (IPAE – 1899) A vertente médico-higienista Patronato de menores : casa construída em 1892 (RS) A ESCOLARIZAÇÃO OS MENINOS A Educação das mulheres se restringia a atividades que fossem úteis no ambiente doméstico, desprovidas de valor no mercado: costurar, aprender música ou desenvolver habilidades artísticas. A CRIANÇA NA INDUSTRIA O que é o sentimento de infância? • As concepções de criança, infância e Educação Infantil são construções sociais formadas ao longo da vida. • Elas carregam “histórias, ideias, representações, valores, modificam-se ao longo dos tempos e expressam aquilo que a sociedade entende em determinado momento histórico por criança, infância, educação, política de infância e instituição de Educação Infantil” (KRAMER). • Kramer destaca, em relação a esse período da vida escolar da criança, que vai de 0 a 5 anos e 11 meses, denominado Educação Infantil, que uma nova concepção de educação para essa faixa etária vem sendo pensada com base em um novo olhar sobre a infância. Kramer pontua que, • a noção de infância tal como é hoje é um conceito relativamente novo. • o início da ideia de infância como uma idade profundamente singular a ser respeitada em suas diferenças data do início do século XVIII . • a noção de infância e sua conceituação não são um fato natural que sempre existiu; são produto de evolução da história das sociedades, e o olhar sobre a criança e sua valorização na sociedade não ocorreram sempre da mesma maneira, mas, sim, de acordo com a organização de cada sociedade e as estruturas econômicas e sociais em vigor. A ideia de infância aparece com a sociedade capitalista urbano industrial, quando a sociedade muda o papel social desempenhado pela criança. [...] se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto (“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade burguesa, ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura. Esse conceito de infância é, pois determinado historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade (KRAMER). Conceber a criança como ser social que ela é, significa: considerar que ela tem uma história, que pertence a uma classe social determinada, que estabelece relações definidas segundo seu contexto de origem, que apresenta uma linguagem decorrente dessas relações sociais e culturais estabelecidas, que ocupa um espaço que não é só geográfico, mas que também dá valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com os padrões de seu contexto familiar e de acordo com sua própria inserção nesse contexto (KRAMER). DESAFIO É necessário pensarmos na construção de um pensar coletivo,de novas formas de convivência, e “a escola como um lugar de trabalho é lócus de produzir diferentes formas de constituição de sujeitos e de subjetividades” (KRAMER) A Educação – Que olhe a criança em suas especificidades; que tenha um olhar mais potente para a compreensão de sua trajetória e de sua identidade histórica” . Kramer (2009): [...] a criança é essencialmente lúdica, utiliza o brincar como um aprendizado sociocultural. O brincar é um indicativo revelador de culturas, e sua análise permitirá ou não que os traços culturais da sociedade em questão sejam evidenciados. Sendo a criança sujeito cultural, o seu brinquedo tem as marcas do real e do imaginário vividos por ela. A criança é colecionadora, dá sentido ao mundo, produz história e pertence a uma classe social. Olhar o mundo a partir do ponto de vista da criança pode 89 revelar contradições e dar novos contornos à realidade e conhecer a infância e as crianças favorece que o ser humano continue sendo sujeito crítico da história que ele produz (e que o produz). (KRAMER, 2009, p.71).
Compartilhar