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responsabilidade dos advogados

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO
CHIAPETTI, Guilherme;
LUNELLI, Janete;
SOUTES, Claudia;
RESUMO 
A teoria da responsabilidade civil expõe que todo aquele que causar dano a outrem, de natureza material e moral, fica obrigado a repará-lo. O presente trabalho tem por intento estudar a responsabilidade civil do advogado perante seu cliente por atos praticados no exercício da profissão, considerando seus aspectos, pressupostos e espécies, bem como, visa demonstrar quando o advogado, por ser um membro indispensável à administração da justiça, será responsabilizado civilmente, tendo em vista a sua obrigação contratual e o seu dever de atuar com grande profissionalismo e ética para não prejudicar os seus clientes. A obrigação do advogado trata de responsabilidade subjetiva e obrigação de meio e não de resultado, havendo, portanto, a responsabilização civil se ficar demonstrado o nexo de causalidade e o dano, tendo ainda o dever atuarem de acordo com as mais adequadas técnicas e científicas disponibilizadas no momento, mas não podem garantir o êxito no litígio processual. Aborda-se uma revisão do instituto na doutrina civil e posteriormente demonstra-se mais especificamente à advocacia, tanto o advogado profissional liberal, do advogado empregado e da sociedade de advogados, bem como expondo algumas das diversas hipóteses de condutas incoerentes ao exercício desta profissão e a subsequente obrigação de reparar.
Palavras-chave: pressupostos responsabilidade civil, responsabilidade civil do advogado, advogado e advocacia, natureza jurídica, perda de uma chance. 
ABSTRACT
The theory of civil liability states that anyone who causes harm to others, of a material and moral nature, is obliged to repair it. The purpose of this study is to study the civil liability of the lawyer before his client for acts practiced in the practice of the profession, considering its aspects, assumptions and species, as well as, it aims to demonstrate when the lawyer, being an indispensable member to the administration of justice, will be held civilly liable, given his contractual obligation and his duty to act with great professionalism and ethics in order not to harm his clients. The obligation of the lawyer deals with subjective responsibility and obligation of means and not of result, and therefore, the civil responsibility if it is demonstrated the causal link and the damage, and still have the duty to act according to the most appropriate scientific techniques available at present, but can not guarantee success in the course of the proceedings. A review of the institute in the civil doctrine is discussed and later on, it is demonstrated more specifically to the lawyer, both the liberal professional lawyer, the lawyer employed and the law firm, as well as exposing some of the various hypotheses of conduct incoherent to the practice of this profession and the subsequent obligation to repair.
Keywords: assumptions civil liability, civil liability of the lawyer, lawyer and legal, legal nature, loss of a chance.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por intento estudar a responsabilidade civil do advogado perante seu cliente por atos praticados no exercício da profissão.
O advogado é indispensável ao provimento de decisões do Poder Judiciário, em decorrência de sua contribuição ao convencimento do julgador, por meio de sua postulação, produção de provas e esclarecimento dos debates. 
A relação entre o advogado e o cliente é uma relação jurídica contratual, de prestação de serviços por meio do mandato. Essa prestação de serviço é regida pelo Código de Defesa do Consumidor.
A obrigação contratual do advogado deve ser realizada em favor das melhores condições ao seu cliente, de modo que esteja de acordo com os preceitos do Estatuto da Advocacia e da Lei 8.906/94, agindo com prudência, ética e eficiência para buscar o direito de seu mandante. No entanto, um erro pela má atuação profissional pode produzir danos irreparáveis ao cliente, daí decorrendo a responsabilidade civil. 
Para melhor compreensão do tema, serão abordados os aspectos, pressupostos e espécies da responsabilidade civil, um breve histórico sobre o termo Advogado e Advocacia, seu exercício, a natureza jurídica da relação, a obrigação de meio ou de resultado do advogado, responsabilidade civil do advogado profissional liberal, do advogado empregado e da sociedade de advogados.
Como são vastos os temas em que o advogado, quando por má atuação, pode ser responsabilizado civilmente, abordaremos apenas alguns desses assuntos, tais como: a responsabilidade pela perda de uma chance, por fato de outrem, a perda de prazo, o sigilo profissional, a imunidade dos advogados das ofensas irrogadas em juízo, a clausula de não indenizar, as excludentes de responsabilidade e a prescrição da pretensão.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Conceito
A expressão “responsabilidade” significa segurança, garantia, a responsabilidade de reparar o dano.
A responsabilidade civil está baseada na ideia de que aquele que causar dano a outrem é obrigado a repara-lo, restituindo o prejudicado e dessa forma inibindo o lesante para novas práticas lesivas. Maria Helena Diniz conceitua a responsabilidade civil dessa forma:
“A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva)”. (DINIZ, 2003, pg. 34)
Dessa maneia, a responsabilidade civil consiste no ato coercitivo de fazer com que o causador do dano repare os prejuízos causados a vítima. Vale dizer que: a violação de um dever jurídico que cause danos a outra pessoa, gera outra obrigação, a de indenizar a vítima, reparando os danos por ele causados.
Há assim, um dever jurídico originário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo, que é o de indenizar o prejuízo. É aqui que entra a noção de responsabilidade civil que, em seu sentido etimológico exprime a ideia de obrigação, encargo, contraprestação, e em seu sentido jurídico, designa o dever de reparar o prejuízo decorrente de outro dever jurídico. 
Tratando-se da responsabilidade civil, para que se configure o dever de indenizar, deverá haver a conduta do agente e nexo de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a conduta do agente. Dessa forma, o presente trabalho aborda os quatro pressupostos, sendo eles a conduta do agente (ação ou omissão), o nexo de causalidade, o dano e a culpa.
Pressupostos responsabilidade civil
Conduta humana
Entende-se por conduta humana, toda ação ou omissão que cause consequências jurídicas por ato próprio imputado ou de terceiro sob sua responsabilidade.
A conduta que gera a responsabilidade civil é a conduta voluntária, livre e consciente, bastando um grau moderado de consciência na atuação humana, podendo ser omissiva ou comissiva, que em regra, é gerada por conduta ilícita, com a exceção prevista em lei.
Sergio Cavalieri Filho (2003, p.42), preceitua que: “A ação ou omissão é o aspecto físico, objetivo, da conduta, sendo a vontade o seu aspecto psicológico, ou subjetivo”.
Segundo o autor, a ação é a forma mais comum de exteriorização da conduta, onde a violação do dever ocorre através de um fazer positivo, como a destruição de coisa alheia. Já a omissão é uma atitude negativa, que torna o omitente responsável por não agir para impedir a ocorrência do resultado. (CAVALIERI FILHO, 2003. p. 43)
Nexo de causalidade
O nexo de causalidade trata da conexão entre a conduta do agente ao resultado lesivo da vítima, sendo este, um dos pressupostos fundamentais para a configuração da responsabilidade civil e o dever jurídico de indenizar.
Sendo assim, antes de decidir se o agente agiu ou não com culpa, deve-se verificar se ele deu causa ao resultado, pois ninguém pode ser responsabilizado por algo que não fez. Diante do exposto, Cavalieri Filho coloca que:“Vale dizer, não basta que o agente tenha praticado uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. Em síntese, é necessário que o ato ilícito seja a causa do dano, que o prejuízo sofrido pela vítima seja resultado desse ato, sem o quê a responsabilidade não correrá a cargo do autor material do fato. Daí a relevância do chamado nexo causal. Cuida-se, então, de saber quando um determinado resultado é imputável ao agente; que relação deve existir entre o dano e o fato para que este, sob a ótica do Direito, possa ser considerado causa daquele”. (CAVALIERI FILHO, 2003, p. 65)
Portanto, não basta apenas que a vítima tenha sofrido o dano, é necessário que haja relação entre o ato omissivo ou comissivo do agente e o dano causado a vítima, e que este, seja o causador do prejuízo.
Diante do exposto, é relevante salientar que, essencial à caracterização da responsabilidade é a prova da causalidade, ônus da vítima ou de seus dependentes.
Segundo Paulo Nader (2016, p. 162), não bastam as definições da autoria de uma conduta comissiva ou omissiva e da culpa do agente ou ainda que haja uma hipótese de risco. É necessário que a parte interessada na reparação do prejuízo, comprove judicialmente o nexo entre a conduta do agente e o dano sofrido por ela. 
Dano
Para se caracterizar a responsabilidade civil, é necessário que a conduta cause danos ou prejuízo a vítima, pois sem ele não há o que reparar. Diniz (2003, p. 112) conceitua dano como a “lesão (diminuição ou destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral”.
Assim também preceitua Cavalieri Filho: 
“O dano constitui o elemento preponderante, sem ele não haverá o que reparar, ainda que a conduta tenha sido culposa ou até dolosa. Sem o dano pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil, pois a indenização sem que ocorra o dano importa em enriquecimento ilícito.” (CAVALIERI FILHO, 2003, p. 88)
Ainda segundo o autor
“Quando ainda não se admitia o ressarcimento do dano moral, conceituava-se o dano como sendo a efetiva diminuição do patrimônio da vítima. Hoje, todavia, esse conceito tornou-se insuficiente em face do novo posicionamento da doutrina e da jurisprudência em relação ao dano moral e, ainda, em razão da sua natureza não-patrimonial. Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc. em suma, dano é a lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida visão do dano em patrimonial e moral”. (CAVALIERI FILHO, 2003, p. 89)
Dessa maneira, o dano patrimonial importa a diminuição do patrimônio da vítima, sendo suscetível de avaliação pecuniária, o qual pode ser restituído perante restauração natural ou especifica da situação anterior ao dano. Sendo que, este pode atingir o patrimônio presente e futuro do lesado, dividindo-se em dano emergente, que importa a imediata diminuição do patrimônio, e em lucro cessante, que correspondente ao que a vítima deixa de lucrar devido ao ato ilícito do agente. Sendo que, este lucro não pode ser imaginário ou hipotético. O código civil brasileiro adotou a teoria da razoabilidade para ao caracterizar o lucro cessante, dizendo ser aquilo que razoavelmente se deixou de lucrar.
“[...]. Razoável é aquilo que o bom senso diz que o credor que o credor lucraria, apurado segundo um juízo de probabilidade, de acordo com o normal desenrolar dos fatos. Não pode ser algo meramente hipotético, imaginário, porque tem que ter por base uma situação fática concreta”. (CAVALIERI FILHO, 2003, p. 91)
Em tema de dano moral, é aquele que não pode ser retomado ao estado anterior, por não ter caráter pecuniário. Este fere os direitos da personalidade, como a integridade física, moral e psíquica, ou seja, os bens atingidos são personalíssimos. 
Conforme Cavalieri Filho (2003, p. 94), os bens que integram a personalidade, tem existência própria e autônoma, e por isso possuem valores distintos dos patrimoniais e não se confundem com bens materiais. Enquanto o dano material atinge o patrimônio, o dano moral atinge a pessoa, por atingir um bem integrante da personalidade, causando sofrimento, humilhação e outras dores do corpo. E nessa categoria, integram-se também os chamados novos direitos da personalidade, como a intimidade, imagem, bom nome, privacidade, integridade da esfera intima, assim também como, convicções religiosas, filosóficas hábitos, estado de saúde etc. Ou seja, o dano moral engloba todos os bens personalíssimos.
Culpa
A legislação vigente admite a responsabilidade civil tendo a culpa como pressuposto, que se caracteriza quando o agente age com negligencia, imprudência ou imperícia, causando danos a vítima. Quando verificado um dos três elementos, fica caracterizada a culpa, devendo o causador de o dano repará-los.
Desse modo, Nader (2016, p. 138) prescreve que, para a teoria subjetiva, o elemento culpa é essencial à caracterização da responsabilidade civil. Sendo que, se a conduta do agente não for voluntaria, nem decorrer de negligencia, imprudência ou imperícia, não há de se falar em ato ilícito nem em reparação de danos.
Atualmente vem ganhando terreno a chamada teoria do risco, que, sem substituir a teoria da culpa, supre muitas hipóteses em que está se revela insuficiente para a proteção da vítima.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO
A atividade do advogado é peça fundamental para garantir a justiça, na qual para exercer sua missão precisa atuar com prudência, honestidade, dignidade, fidelidade, diligência, independência, veracidade, lealdade, decorro e boa-fé. Tem também a obrigação de empenhar-se no seu conhecimento atualizado da ordem jurídica, guardar o segredo profissional, estimular a conciliação, prevenir litígios, não abandonar a causa sem justo motivo, informar e esclarecer.
O advogado é indispensável ao provimento de decisões do Poder Judiciário, em decorrência de sua contribuição ao convencimento do julgador, por meio de sua postulação, produção de provas e esclarecimento dos debates. 
A responsabilidade civil será sempre subjetiva de acordo com o CDC, art. 14, § 4.º, e o art. 32 do Estatuto da Ordem dos Advogados. 
O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa.
O advogado e a advocacia
O termo Advogado provém do latim “ad vocatus” (ad = para junto, e vocatus = chamado), que significa aquele que foi chamado para socorrer outro perante a justiça, significa também patrono, defensor ou intercessor.
O verbo “advoco” pode ser compreendido como “chamar a si, convocar, convidar“. Portanto, Advogado é aquele a quem se chama, convoca, convida sua defesa.
A palavra Advocacia vem do latim advocati, que significa assistência, consulta judiciária, reunião ou assembleia de defensores de um acusado. Advocacia é um “múnus publico” que tem o cargo, o encargo, o dever, a obrigação e o ofício.
O advogado é indispensável ao provimento de decisões do Poder Judiciário, em decorrência de sua contribuição ao convencimento do julgador, por meio de sua postulação, produção de provas e esclarecimento dos debates. A Constituição Federal o colocou ao lado do Ministério Público como detentores de funções essenciais à administração da justiça. 
Paulo Nader (2016, p. 529) nos trás que “a advocacia é diferenciada em virtude da função de múnus público”, no qual cabe ao profissional colaborar à efetividade da justiça nos casos em que atua. 
Silvio Venosa (2012, p. 270) completa a importância trazendo que “as obrigações do advogado consistem em defender a parte em juízo e dar-lhe conselhos profissionais”. 
Da advocacia e seu exercício
Em 1994, foi editada aLei nº 8.906, que instituiu o Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil que regulamenta o exercício da atividade advocatícia no país. No art. 2º o parágrafo 2º, da referida lei, deixa claro que “no processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público”. 
A indeclinabilidade da participação do advogado no mando da justiça é garantida pela Constituição Federal pelo art. 133, onde “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.
Com base nesse artigo constitucional e devido ao seu papel fundamental, garantiu a inviolabilidade aos atos realizados no exercício da sua profissão, dentro dos limites da lei, na qual se adverte que essa garantia alcança apenas os atos praticados no exercício à advocacia, não alcançando à vida privada do advogado.
Natureza jurídica da relação	
A obrigação contratual do advogado deve ser realizada em favor das melhores condições ao seu cliente, de modo que esteja de acordo com os preceitos do Estatuto da Advocacia e da Lei 8.906/94, agindo com prudência, ética e eficiência. 
Geralmente é por mandato judicial que são determinadas essa responsabilidade firmada entre ambos, de modo que sua obrigação incide em defender as partes em juízo, bem como aconselhar profissionalmente.
Conforme nos ensina Venosa (2012, p. 270) “no tocante a responsabilidade do advogado, ela é contratual, decorrendo do mandato” o qual impõe um acordo prévio entre o advogado e seus clientes. Completa ainda que “a conduta gravita em torno do mandato, mas apresentam características próprias da prestação de serviço e da empreitada, contratos que são próximos”.
De acordo com Caio Mario da Silva Pereira 
Considera-se mandato judicial o contrato que tem por objeto a representação para defesa de interesses e direitos perante qualquer juízo. É preciso não confundir este contrato, em que é essencial em nosso sistema a concessão de poderes para falar e agir em nome do mandante, com a prestação de serviço do advogado como consultor, orientador, a qual se cumpre sem representação. (PEREIRA, 2014, p. 343)
Entende-se que o mandato é uma espécie de contrato, por meio do qual uma pessoa nomeia outra para representá-lo, atribuindo-lhe poderes e definindo limites para a execução de determinados negócios em seu próprio nome, como se fosse ele próprio a praticar o ato, através de outrem.
A apresentação de seu instrumento é a procuração que representa um acordo de vontade em que o mandante outorga determinados poderes ao mandatário, representando um contrato consensual, personalíssimo, não solene e via de regra unilateral e gratuito, conferindo ao mandatário autorização para representação do mandante, praticando em seu nome os atos autorizados na procuração, dentro dos limites estabelecidos.
A obrigação de meio ou de resultado do advogado
A prestação de serviços advocatícios é, em regra, uma obrigação de meio, sem obrigar-se pelo resultado a ação judicial, e sendo elas executadas habilidosamente, não lhe pode imputar nenhuma responsabilidade pelo insucesso da causa, incumbindo, portanto, a obrigação de se utilizar da sua capacidade profissional no curso da sua prestação.
Entretanto admite-se, em determinados casos, que a obrigação assumida pelo advogado possa ser considerada de resultado, como na preparação de um contrato ou da minuta de uma escritura pública, na qual se compromete, em tese, a finalizar o resultado. 
Somente o exame do caso concreto, todavia, poderá apurar a ocorrência de eventual falha do advogado e a extensão de sua responsabilidade.
Ainda que exercendo uma atividade com potencial risco de dano, a responsabilidade civil será sempre subjetiva de acordo com o CDC, art. 14, § 4.º, e o art. 32 do Estatuto da Ordem dos Advogados que “O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa”. 
Atuando como profissional liberal, quando age por conta própria e assume o risco, ficará subordinado às regras do Código de Defesa do Consumidor, que por sua vez, como preceitua no art. 14, § 4º que “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”. Nesta condição o advogado responde por imprudência, negligência ou imperícia. 
Responsabilidade civil do advogado profissional liberal
Quando o advogado atende na condição de profissional liberal, subordina-se ao Código de Defesa do Consumidor, mas a sua responsabilidade direta será subjetiva.
Nesse sentido usamos o ensinamento de Sergio Cavalieri Filho:
Quando atua com autonomia e sem subordinação (por contra própria), o advogado é um profissional liberal e, como tal, tem responsabilidade subjetiva. Em seu sistema de responsabilidade objetiva, o Código do Consumidor abriu exceção em favor dos profissionais liberais em seu art. 14, § 42. “A responsabilidade em favor dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa". Vale dizer, os profissionais liberais, embora prestadores de serviço, respondem subjetivamente. (CAVLIERI FILHO, 2012 p. 431)
A culpa do advogado terá que ser provada. O cliente só poderá responsabilizá-lo pelo insucesso do litígio provando ter ele agido com dolo ou culpa. Nesta condição responde por imprudência, negligência e imperícia.
A imperícia caracteriza-se pela falta de aptidão para a execução de determinado tipo de trabalho. O advogado precisa se manter atualizado com a evolução do ordenamento jurídico, pois eventuais insucessos judiciais decorrente de imperícia gera ao advogado o dever de indenizar. 
Algumas circunstâncias exigem do advogado, diante de tarefas a serem cumpridas um comportamento atuante, participativo e uma atuação positiva, e, se por qualquer motivo se mantem inerte, agindo assim com negligência e descomprometido com o seu cliente. 
A conduta negligente do advogado pode ser comprovada quando este perde prazos, não arrola testemunhas existentes e importantes para o caso, ou quando ajuíza mal uma ação, não postulando adequadamente.
Da mesma forma, quando atua precipitadamente, como exemplo fazendo acordo que irá prejudicar o seu cliente, este age com imprudência.
Venosa nos alerta quanto ao cuidado que se deve ter a imputar a responsabilidade civil ao advogado quanto a sua atuação ineficiente, pois somente apuração do caso concreto é passível de indenização. Ainda segundo ele o que se repreende é o erro grosseiro, inescusável no profissional. (VENOSA, 2012, p. 270)
Responsabilidade civil do advogado empregado
O advogado quando funcionário de empresa ou escritório de advocacia, quem responde por eventuais danos é o empregador e sua responsabilidade é objetiva, cabendo-lhe direito de regresso, quando o causador direto responde por culpa, bem como também fazer demissão por justa causa, de acordo com a CLT.
Responsabilidade civil da sociedade de advogados
É comum ocorrer a união de grupos de advogados que criam uma sociedade civil de prestação de serviços jurídicos. Essas sociedades estão previstas pelo Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, nos artigos 15 a 17, e pelo Código de Ética e Disciplina. 
Mesmo fazendo parte de uma sociedade, a atuação dos advogados é individual, devendo as procurações ser outorgadas de forma particular ao profissional que patrocina a causa, desde que façam menção à sociedade da qual fazem parte. 
A responsabilidade civil dos sócios pelos danos que a sociedade coletivamente, ou cada sócio ou advogado empregado individualmente causarem, por ação ou omissão no exercício da advocacia, é solidaria e ilimitada, independentemente do capital individual integralizado.
Responsabilidade pela perda de uma chance
Perda de uma chance simboliza a perda, pela parte, da oportunidade de obter, no Judiciário, o reconhecimento e a satisfação integral de seus direitos.
Para Cavalieri Filho, “caracteriza-se quando, em virtude da condutade outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilita um benefício futuro para a vítima”. (CAVALIERI FILHO, 2012 p. 432)
O advogado somente será responsabilizado pelos danos causados ao seu cliente se houve um nexo de causalidade entre o ato ou omissão deste profissional liberal e o prejuízo ocasionado, ou seja, o prejuízo deve ocorrer diretamente em virtude da falha do agente.
Como lembra Carlos Roberto Gonçalves (2014) “A mera possibilidade não é passível de indenização, pois a chance deve ser séria e real para ingressar no domínio do dano ressarcível.”
Venosa muito contribui para esse tema trazendo a importância de se examinar, no caso concreto, quais as chances que efetivamente foram perdidas e que poderiam beneficiar a vitima. Esclarece ainda: 
[...] o que se indeniza é a potencialidade da perda e não se leva em conta a perda efetiva. Assim, opera-se um limite indenizatório, [...] . A perda de uma chance é utilizada para calcular indenização quando há um dano atual, porém ainda incerto na sua valoração, ou seja, a potencialidade de uma perda.” (VENOSA, 2012, p. 276) 
A chance é rodeada de incertezas, probabilidades e causas externas ao próprio agente, que podem contribuir para o êxito ou para o fracasso em alguma demanda. 
Cabe aqui o esclarecimento de Pablo Stolze Gagliano quanto ao tema:
“Como se trata da perda de uma chance, jamais se poderá saber qual seria o resultado do julgamento se o ato houvesse sido validamente realizado.” (GACLIANO, 2012, p. 322)
Responsabilidade por fato de outrem
Em muitos escritórios de advocacias há advogados auxiliares e ou estagiários que os auxiliam, e nesses casos, quando de eventual dano causado ao cliente, o advogado responsável assume a responsabilidade objetiva e poderá pleitear ação de regresso. 
Os estagiários não possuem autonomia para atuar nos feitos, e não tendo a obrigação final e cabe ao advogado a conferencia de todos os seus atos para evitar o dano ao cliente, e não o fazendo será responsabilizado objetivamente. A culpa do responsável é in elegendo.
Perda de prazo
A perda de prazo é uma das condutas mais graves que se pode ocorrer no âmbito da advocacia.
O Capitulo IX do Estatuto da OAB estabelece as infrações e sanções disciplinares que o advogado deve atentar e, no art. 34, XVI prevê que o descumprimento do prazo não pode ignorado pelo advogado. 
Nesse assunto Gonçalves alerta que a perda de prazo “constitui um erro grave”. Complementa ainda
Por constar expressamente da lei, não se tolera que o advogado o ignore. Na dúvida entre prazo maior ou menor, deve a medida judicial ser tomada dentro do menor, para não deixar nenhuma possibilidade de prejuízo para o cliente. (GONÇALVES, 2014)
Para que haja a responsabilização civil do advogado pela perda de um prazo decorrente de sua conduta negligente, é necessário ponderar se a chance perdida era séria e real. 
Sigilo profissional
A violação de sigilo também é tema do Capitulo IX do Estatuto da OAB onde consta no art 34, VII, que o advogado não deve “violar, sem justa causa”, sob pena de infrações e sanções disciplinares.
A violação além de gerar a obrigação de indenizar, gera também responsabilidade penal, de acordo com o art. 154 do Código Penal que institui “Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem.” 
O sigilo profissional é abordado no Código de Ética da OAB, no qual traz nos arts. 35 a 38 as regras sobre o tema. 
Ainda de acordo com o Código de Ética, a quebra de sigilo se justifica apenas em caso de ameaça à vida, à honra, em defesa própria ou quando o advogado for afrontado pelo cliente de acordo com o art. 37. 
Venosa contribui sobre o tema:
O segredo profissional é uma outra imposição ao advogado, como em outras profissões liberais. Assim, responde perante o cliente se divulgar fatos que soube em razão da profissão e, dessa forma, acarretar prejuízos à parte. Nesse sentido, é direito do advogado recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional. (VENOSA, 2012, p. 277)
		
Imunidade dos advogados
Estabelece o art. 7º, § 2º que
“O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria ou difamação punível qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer”.
Mesmo nos casos de injúria e difamação, o advogado não pode cometer excessos.
Cavalieri Filho nos trás quando a conduta pode caracterizar abuso de direito.
Todo direito tem limite, mesmo os direitos chamados de absolutos, qual seja, o direito alheio; e quando esse limite é ultrapassado, configura-se o abuso do direito, ato ilícito gerador da responsabilidade. O abuso do direito é o outro lado de uma mesma moeda: se o exercício regular de um direito é ato lícito, a contrário senso o exercício anormal é ilícito, repelido pela ordem jurídica. (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 434,435)
A imunidade profissional do advogado encontra limite no direito da inviolabilidade da honra e imagem do ofendido.
Das ofensas irrogadas em juízo
O Art. 133 da CF/88 garante ao advogado imunidade “por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. 
Dispõe também o art. 2º, § 3º, do Código de ética da OAB, Lei 8906/94 que “No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei”.
No art. 7, § 2.º da Lei n. 8.906/94, que estabelece que o “advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer”.
O STF declarou inconstitucional a expressão “ou desacato” pela ADIn 1.127-8-DF, a explicação, conforme Gonçalves (2014), vem do próprio STJ no qual 
“seria “odiosa qualquer interpretação da legislação vigente conducente à conclusão absurda de que o novo Estatuto da OAB teria instituído, em favor da nobre classe dos advogados, imunidade penal ampla e absoluta, nos crimes contra a honra e até no desacato, imunidade essa não conferida ao cidadão brasileiro, às partes litigantes, nem mesmo aos juízes e promotores. O nobre exercício da advocacia não se confunde com um ato de guerra em que todas as armas, por mais desleais que sejam, possam ser utilizadas” 
O advogado usando palavras ofensivas inseridas na defesa à ação proposta por ele, não dão direito à indenização por dano moral, se agindo dentro dos limites dos autos e da lei.
Para reforçar Gagliano (2012, p. 324) nos ensina que, para que haja imunidade judiciaria, pressupõe que do advogado a pratica de atos lícitos somente no âmbito da discussão da causa, visto que é inviolável quando no exercício da profissão, por outro, precisa respeitar a Constituição Federal no seu art. 5, X, onde toda e qualquer pessoa tem o direito de não ser ofendida ou agredida verbalmente em detrimento de sua imagem e de sua honra. 
Clausula de não indenizar
O Código de Defesa do Consumidor, em seus artigos 24, 25 e 51, inciso I, afastou completamente a possibilidade de se inserir a cláusula de não indenizar nos contratos. 
Os contratos de prestação de serviços advocatícios se dá pelo fato da relação cliente advogado ser considerada uma relação de consumo, aplicando-se as regras dispostas no CDC.
Excludente de responsabilidade
As quatro causas que excluem a responsabilidade civil, são: culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito e força maior, por eliminarem a relação causal do dano com o suposto agente lesante. 
O advogado precisa provar que a culpa ou o dano não decorreu de ato dele no momento da prestação do serviço. 
O CDC, em seu artigo14, parágrafo 3.º, dispõe que não será responsável quando provar que o defeito inexiste ou quando provar a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
A responsabilidade do profissional será mediante a verificação de culpa, pois, se não apurada a culpa, há exclusão da responsabilidade do profissional em reparar o dano. 
Prescrição da pretensão
Como é uma relação de consumo, para o Código de Defesa do Consumidor, especificamente em seu art. 27, afirma que prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, tendo a contagem iniciada a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 
Nos termos do art. 206, § 3º, V, do Código Civil, o exercício da pretensão de reparação civil prescreve em três anos. 
Sendo a contagem iniciada a partir do conhecimento do dano e de sua autoria, favorece o consumidor, pois se coincidisse com o defeito da prestação diminuiria o prazo, pois a casos em que o consumidor venha a ter conhecimento muito tempo depois da conduta nociva.
Cabe ao juiz declarar ex officio a prescrição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo que foi exposto, fica claro a importância do tema Responsabilidade Civil do Advogado, por possuir um vasto campo de estudo, com grandes áreas em que pode haver a reparação por parte do advogado para com o seu cliente. 
Durante todo o seu exercício profissional, o advogado, de forma semelhante a outros profissionais liberais, tais como médicos e engenheiros, também possui uma entidade de classe, que regula e fiscaliza as suas atividades, que no caso é a própria OAB do Estado em que ele se encontra inscrito de forma definitiva. 
A lei Federal 8906/94 regula atualmente a profissão dos advogados no Brasil, dispondo sobre os direitos e deveres do advogado, no que se inclui o Código de Ética da categoria, que disciplina a forma de atuação do profissional, bem como regula o papel da OAB no credenciamento e fiscalização do profissional em todo Brasil.
O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa.
Por se tratar de uma atividade de meio, não há como garantir o resultado, mas não será o advogado o julgador, o responsável pelo resultado do litígio, e, sim, o Juiz, que decidirá sobre a pretensão do autor. Entretanto, excepcionalmente poderá ser de resultado, ficando o profissional restrito ao acordado com o cliente.
O advogado deve buscar sempre a excelência na realização do seu serviço para que os direitos do seu cliente estejam garantidos dentro do processo judicial. Já o cliente deposita confiança e esperança no trabalho de seu mandatário. Ao saber que ele agiu de forma desidiosa e desleal gera uma frustração, e um prejuízo econômico não almejado. 
Por isso há a necessidade de responsabilização civil e a reparação do dano suportado pelo cliente.
REFERÊNCIAS
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____Programa de Responsabilidade Civil. 5° ed. Malheiros Editores LTDA. São Paulo. 2003.
DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil.Vol.7. 17° ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
GAGLIANO, Pablo Stolze, Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. — 10. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2012.
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro, volume 4: responsabilidade civil / Carlos Roberto Gonçalves. – 9. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
NADER, Paulo, Curso de direito civil, volume 7: responsabilidade civil. / Paulo Nader. – 6. ed.rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de direito civil – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
Vade Mecum RT / [Equipe RT]. –12. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2016 
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil / Sílvio de Saulo Venosa. - 12.ed. – São Paulo: Atlas, 2012. – (Coleção direito civil; v. 4)

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