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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM – CEULS/ULBRA REDE DE FLUXO Antônio Rodrigo do Carmo Moreira Dalila de Sá Nunes Jefferson Luiz Paz Oliveira Karen Mikele Barreto dos Santos SANTARÉM 2017 CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM – CEULS/ULBRA Antônio Rodrigo do Carmo Moreira Dalila de Sá Nunes Jefferson Luiz Paz Oliveira Karen Mikele Barreto dos Santos Trabalho realizado para obtenção de nota parcial na Avaliação de Grau 2, na disciplina de Mecânica dos solos, ministrada pelo professor José Renato Lima Aguiar. SANTARÉM 2017 1 1. INTRODUÇÃO Às vezes o engenheiro se defronta com situações em que é necessário controlar o movimento de água através do solo e, evidentemente, proporcionar uma proteção contra os efeitos nocivos deste movimento. Do ponto de vista prático, a água pode ser considerada incompressível e sem nenhuma resistência ao cisalhamento, o que lhe permite, sob a ação de altas pressões, penetrar em microfissuras e poros, e exercer pressões elevadas que levam enormes maciços ao colapso. Um aspecto importante em qualquer projeto em que se tenha a presença de água é a necessidade do reconhecimento do papel que os pequenos detalhes da natureza desempenham. Assim, não basta apenas realizar verificações matemáticas, mas também recorrer a julgamentos criteriosos dessas particularidades, pois que elas nem sempre podem ser suficientemente quantificadas. 1.1. Fluxos bi e tridimensionais Quando o fluxo de água ocorre sempre na mesma direção diz-se que o fluxo é unidimensional. Sendo uniforme a areia, a direção do fluxo e o gradiente são constantes em qualquer ponto. Quando as partículas de agua se deslocam segundo qualquer direção, o fluxo é tridimensional. A migração de água para um poço é um exemplo de fluxo tridimensional de interesse para a engenharia. Quando as partículas de agua seguem caminhos curvos, mas contidos em planos paralelos, o fluxo é bidimensional. É o caso da percolação pelas fundações de uma barragem. Em virtude da ocorrência frequente deste tipo de fluxo em obras de engenharia e de sua importância na estabilidade das barragens, o fluxo bidimensional merece especial atenção. O estudo de fluxo bidimensional é muito facilitado pela representação gráfica dos caminhos percorridos pela agua e da correspondente dissipação de carga. Esta representação é conhecida como REDE DE FLUXO (“flow net”). 2 2. CARACTERÍSTICAS DA REDE DE FLUXO 2.1. Estudo da percolação com redes de fluxo Analisando a imagem, qualquer gota de água que penetre na face interior da areia se dirige à face superior segundo uma linha reta. A esta linha chamamos de linha de fluxo. As próprias paredes verticais do permeâmetro são linhas de fluxo. Tracemos algumas linhas e fluxo, por exemplo, a cada 2 cm de largura. Formam-se 4 faixas limitadas por linha de fluxo, que recebem o nome de canais de fluxo. A vazão por cada canal de fluxo é igual à dos demais, pois tem a mesma largura. Consideremos, agora, as cargas. Em qualquer ponto da superfície inferior, as cargas totais são iguais. Pode-se dizer, portanto, que a linha que a representa é uma linha equipotencial. Da mesma forma, a linha superior é uma linha equipotencial. A diferença de carga, de 6 cm neste exemplo, dissipa-se linearmente ao longo da linha de percolação. Em todos os pontos a 2 cm da face inferior, já ocorreu uma dissipação de 2 cm de carga, pois, sendo o gradiente igual a 0,5, a cada 1 cm de percurso corresponde uma perda de potencial de 0,5 cm. A definição básica de que as linhas de fluxo devem determinar canais de igual vazão e que as equipotenciais devem determinar faixas de perda de potencial de igual valor leva ao fato que, no fluxo unidimensional, a rede resultante seja constituída de retângulos. Entretanto, tanto para o traçado da rede como para os cálculos, é conveniente escolher espaçamentos iguais entre as linhas, formando quadrados. A rede fluxo define: Número de canais de fluxo: Nf 3 Número de faixas de perda de potencial: Nd Dimensões de um quadrado genérico: b – largura do canal de fluxo e l – distância entre equipotenciais. Traçada a rede fluxo, as seguintes informações são obtidas: i) Perda de carga entre equipotenciais A construção com igual espaçamento entre as linhas equipotenciais teve como objetivo que a perda de carga em cada faixa de perda de potencial fosse a mesma. Então, em cada uma, a perda é: ii) Gradiente O gradiente vale: No exemplo da figura, ele vale: iii) Vazão Para o cálculo de vazão, consideremos um elemento qualquer da rede. A vazão por este elemento vale, pela Lei de Darcy: Em todos os elementos ao longo do canal de fluxo a que pertence este elemento, a vazão é a mesma. Por outro lado, nos outros canais, a vazão também é a mesma, pois o princípio de construção da rede foi justamente o de se constituírem canais com a mesma vazão. A vazão total vale, portanto: No exemplo da figura: 4 3. DIMENSIONAMENTO E TRAÇADOS DA REDE DE FLUXO No caso de fluxos bidimensionais, as redes de fluxo devem traçadas mantendo-se os mesmos princípios: canais de igual vazão e zonas de igual perda de potencial. A areia está contida pelas telas AB e CD, que são ortogonais ás paredes do permeâmetro. As distancias AB e CD são iguais a 10 cm, o arco Ac mede 12 cm e o arco BD mede 24 cm. Para o traçado da rede de fluxo, consideremos o seguinte: Linhas de fluxo A face interna do permeâmetro, o arco AC, é uma linha de fluxo. Nela, o gradiente é igual a 6/12=0,5. A face externa, o arco BD, também é uma linha de fluxo, ao longo da qual o gradiente é igual a 6/24=0,25. Todas as outras linhas de fluxo serão arcos de círculos concêntricos. Como o comprimento de cada arco é diferente, também são os gradientes. Sendo constante o coeficiente de permeabilidade, conclui-se que as velocidades de percolação serão diferentes, sendo menores junto a superfície externa (menor i) do que junto à face interna. Nas redes de fluxo, o que se pretende das linhas de fluxos é que elas delimitem canais de fluxo de igual vazão. Ora, se a velocidade é menor junto à superfície externa, é necessário que os canais próximos a ela sejam mais largos do 5 que os canais junto à superfície interna. As linhas de fluxo deverão estar mais próximas entre si junto à superfície interna. Análise de equipotenciais A diferença de carga que prova a percolação é de 6 cm. Esta carga se dissipa linearmente ao longo de cada linha de fluxo. Se se optar por traçar linhas equipotenciais que definam faixas de perda de potencial iguais a 0,5 cm, existirão 12 faixas (6/0,5=12). Ao longo da superfície externa do permeâmetro o afastamento entre as equipotenciais será de 2,0cm. Em qualquer outa linha de fluxo, seu comprimento será dividido em 12 partes iguais. As equipotenciais serão, então, retas convergentes. Esta construção determina que as equipotenciais sejam ortogonais às linhas de fluxo, como deve ocorrer em qualquer rede de fluxo em materiais de permeabilidade homogênea. Escolha das linhas de fluxo Os canais de fluxo devem ter a mesma vazão. Além disto, é útil que as linhas de fluxo formem com as equipotenciais figuras aproximadamente quadradas. Assim, a primeira linha de fluxo a partir da superfície interna deve estar afastada dela um pouco mais do que1cm, pois as equipotenciais junto a superfície interna estão distantes de 1 cm. Á medida que se afasta da face interna, a distância entre as linhas de fluxo deve aumentar, pois as equipotenciais se afastam. Junto à superfície externa, o espaçamento se aproxima de 2 cm. No detalhe da figura, se constata que, com esta construção, o número de canais de fluxo é igual a 5,7, número fracionário porque o ultimo canal tem largura da ordem de 0,7 da distância entre as equipotenciais. Neste canal, a vazão é igual a 70% das vazões que ocorrem nas demais. Observe como faz sentido as linhas de fluxo se afastarem quando as equipotenciais se afastam. Maior afastamento das equipotenciais indica menor gradiente. Como se pretende a mesma vazão em todos os canais, o menor gradiente deve ser compensado com uma maior largura do canal. Analisando-se a vazão em cada canal pela Lei de Darcy, tem-se: 6 A vazão em todos os canais será a mesma se a relação b/l for constante. Resumindo, a rede de fluxo é um procedimento gráfico que consiste, basicamente, em traçar na região em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de curvas conhecidas com linhas de escoamento ou de fluxo, que são as trajetórias das partículas do líquido e por linhas equipotenciais ou linhas de igual carga total. O trecho compreendido entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer é denominado canal de fluxo e representa um acerta porção ∆Q da quantidade total Q de água que se infiltra. Portanto, a vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os canais. A perda de carga ∆h entre as linhas equipotenciais adjacentes denomina-se queda de potencial. No caso de solos isotrópicos e homogêneos, as linhas de fluxo e equipotenciais formam figuras que são basicamente “quadrados”, em destaque na Figura 1.10. A mesma vazão percola entre dois pares adjacentes de linhas de fluxo. A perda de carga entre linhas equipotenciais sucessivas é a mesma. O método mais comum na resolução de problemas de fluxo bidimensional consiste na construção da REDE DE FLUXO, representação gráfica da solução da equação diferencial. 3.2. Métodos para traçado das redes de fluxos Os métodos para determinação das redes de fluxos são: 7 i. Soluções analíticas, resultantes da integração da equação diferencial do fluxo. Somente aplicável em alguns casos simples, dada a complexidade do tratamento matemático quando se compara com outros métodos. ii. Analogias, método baseado na semelhança ou analogia entre a rede de fluxo e um campo elétrico ou um campo de tensões. De fato, as leis de Ohm e de Hooke têm a mesma forma que a lei de Darcy. Assim, conhecida a solução de um problema de eletricidade ou de elasticidade, pode-se, por analogia, conhecer a solução de um problema de percolação de água em um meio permeável. iii. Métodos reduzidos, construídos normalmente no interior de um tanque com paredes transparentes, permitem uma melhor visualização das redes de percolação e têm sido amplamente usados nas investigações das linhas de corrente em barragens de terra. iv. Solução gráfica é o mais rápido e prático de todos os métodos, como veremos adiante. 3.3. Traçado de redes fluxo de fluxos O método mais comum de determinação de redes de fluxo é a construção gráfica. A sua obtenção desta maneira tem inclusive a vantagem de despertar a sensibilidade de quem a constrói para o problema em estudo. A construção gráfica é feita por tentativas a partir da definição das linhas limites. Por exemplo, no caso da pranchada, a linha contornando a pranchada e o fundo da camada permeável são linhas de fluxo e a superfície do terreno representa as linhas equipotenciais inicial e final. Naturalmente, recomendações feitas por Casagrande (1937), que foi um dos primeiros estudiosos do assunto: “Aproveite todas as oportunidades para estudar o aspecto de redes de fluxos bem construídas; quando a representação gráfica estiver bem assimilada, tente desenhá-las sem olhar o desenho original; repita a tentativa até ser capaz de reproduzir a rede de maneira satisfatória. Para o traçado de uma nova rede, três ou quatro canais de fluxo são suficientes na primeira tentativa; o emprego de muitos canais de fluxo distrai a atenção dos aspectos mais importantes da rede. Sempre observe a aparência de toda a rede. Não se ocupe de acertar detalhes antes de toda a rede estar aproximadamente correta. 8 Há uma tendência de se errar em traçar transições muito abruptas entre trechos aproximadamente retilíneos e trechos curvos das linhas equipotenciais ou de fluxo. Lembre-se sempre que as transições são suaves, com formatos semelhantes aos de elipses ou de parábolas. O tamanho dos quadrados em cada canal varia gradualmente.” Num primeiro contato com o assunto, custa-se a acreditar que várias pessoas, traçando redes para um problema, cheguem ao mesmo resultado, mas se as redes forem bem traçadas, isso acontece. 4. EXEMPLO PRÁTICO DE APLICAÇÃO 4.1 Percolação sob pranchada (cortina de estacas-pranchas) A figura a seguir mostra uma rede de fluxo correspondente à percolação sob uma pranchada penetrante numa camada de areia, sendo o nível d’agua rebaixado num dos lados por bombeamento. O contorno da pranchada, de um dos lados, e a superfície inferior da camada permeável, do outro, são duas linhas de fluxo. Traçadas algumas outras linhas de fluxo, observa-se que esta rede tem canais de fluxo com espessuras variáveis ao longo de seu desenvolvimento, pois a seção pela qual a água penetra no terreno, por exemplo. (Rede de fluxos sob pranchas) Em virtude disso, ao longo de um canal de fluxo, a velocidade da agua é variável. Quando o canal se estreita, devendo ser constante a vazão, a velocidade 9 tem que ser maior. Logo, o gradiente é maior. Em consequência, sendo constante a perda de potencial de uma linha para a outra, o espaçamento entre equipotenciais deve diminuir. A relação entre linhas de fluxo e equipotenciais se mantém constante. Por outro lado, a superfície livre do terreno, tanto a montante como a jusante, são equipotenciais. Consideremos um ponto qualquer numa equipotencial. A partir deste ponto, o gradiente é máximo pelo caminho normal às equipotenciais. Em solos isotrópicos, o fluxo segue o caminho de maior gradiente, da mesma forma que, colocando-se uma esfera numa certa cota de um talude, ela rola pelo caminho mais íngreme. Na figura, as equipotenciais podem ser consideradas como curva de nível do terreno: a esfera rolará até a cota mais baixa pelo caminho mais íngreme, que é normal às curvas de nível. Portanto, as linhas de fluxo são normais às equipotenciais. A análise feita mostra que, neste caso, representativo de uma situação genérica de fluxo bidimensional, as duas condições de redes de percolação devem se manter: as linhas equipotenciais e as de fluxo se interceptam perpendicularmente, e, em cada figura formada, a distância média entre equipotenciais deve ser da mesma ordem de grandeza da distância média entre as linhas de fluxo. 4.2 Percolação pelo solo de fundação de uma barragem de concreto Linhas de fluxo: o contorno submerso da barragem e a superfície inferior impermeável são linhas de fluxo. Entre estas são traçadas outras Linhas de Fluxo. 10 Linhas Equipotenciais: as superfícies livres do terreno são equipotenciais. Entre estas são traçadas outras Linhas Equipotenciais. Definição da rede de fluxo: as duas condições básicas das redes de fluxo devem ser atendidas: as Linhas de fluxo e as Linhas Equipotenciais se interceptam perpendicularmente e, em casa elemento da rede,a relação entre as distancias medias entre as Linhas equipotenciais e as distâncias media entre as Linhas de fluxo de ser constante (de preferência igual a 1). Vazão: Gradientes: a diferença de carga entre Linhas equipotenciais consecutivas O valor de dividido pela distância entre Linha Equipotencial é o gradiente no elemento da rede . O gradiente é maior nos menores elementos (próximos a superfície da barragem). Deve ser verificada a condição de gradiente critico junto ao pé de jusante (fluxo ascendente sob gradiente mais elevado). Cargas e pressões: estabelecida um NR, para cada ponto temos a carga altimétrica e a carga total (descontando da carga inicial o somatório de até o ponto). A piezométrica é a diferença entre cargas total e altimétrica. A pressão neutra é a carga piezométrica em termos de pressão: 4.3 Percolação pelo interior de barragens de terra 11 Neste caso tem-se uma condição de contorno indefinida, a linha de fluxo superior não é previamente conhecida. O problema é indeterminado. O primeiro passo é a estimativa da linha de fluxo superior – LFS (ou também chamada linha freática superior). Existem na literatura vários métodos para esta estimativa, função principalmente da geometria do talude de jusante e da presença ou não de filtros. Na análise deste caso consideram-se validas as hipóteses de Dupuit: Para pequenas inclinações da LFS as linhas de fluxo podem ser consideradas horizontais e as equipotenciais verticais; o gradiente hidráulico é a inclinação da LFS no ponto considerado. O traçado do restante da rede de fluxo e os cálculos decorrentes seguem os mesmos procedimentos e recomendações dos casos anteriores. 12 4.4 Outros exemplos 13 5. CONCLUSÃO O estudo de fluxo de água nos solos é de vital importância para o engenheiro, pois a água ao se mover no interior de um maciço de solo exerce em suas partículas sólidas forças que influenciam o estado de tensão do maciço. Os valores de pressão neutra e como isso os valores de tensão efetiva em cada ponto do maciço são alterados em decorrência de alterações de regime de fluxo. De uma forma geral, os conceitos de fluxo de água nos solos são aplicados nos seguintes problemas de grande relevância para a Engenharia Geotécnica: Estimativa da vazão de água (perda de água do reservatório da barragem), através da zona de fluxo; Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol freático; Problemas de colapso e expansão em solos não saturados; Dimensionamento de sistemas de drenagem; Dimensionamento de “liners” em sistemas de contenção de rejeitos; Previsão de recalques diferidos no tempo (adensamento de solos moles – baixa permeabilidade); Análise da influência do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo (estabilidade de taludes); Análise da possibilidade da água de infiltração produzir erosão, arraste de material sólido no interior do maciço, “piping”, etc. É necessário ressaltar, que o traçado das redes de fluxo exige um certo traquejo prévio do engenheiro, o qual deve ser adquirido pela experiência. Para que obtenha essa experiência aconselha-se o treinamento à vista de redes já traçadas. Que o estudante os reproduza por si mesmo, mantendo-se consciente das regras citadas por Casagrande, cuja a obediência é necessária para que a solução seja correta. 14 REFERÊNCIAS CAPUTO, Homero Pinto: Mecânica dos solos e suas aplicações. 6° edição, Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1987. PINTO, C.S. Curso básico de mecânica dos solos em 16 aulas. 3ª edição, São Paulo: Oficina de Textos, 2009. VARGAS, Milton: Introdução à Mecânica dos Solos. – São Paulo: MCgraw-Hill do Brasil, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1977. HIDRÁULICA DOS SOLOS. Disponível em: <http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/ms2_unid01.pdf>. Acesso em 20 de Maio de 2017.
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