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Direito Processual doTrabalho Aula 3

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PROCESSO DO TRABALHO II
	
	9º Período do Curso de Direito
	
	Professor: Vagner dos Santos da Costa
OBS.: A leitura deste material não exime o aluno da leitura de Legislação e Doutrina indicados pelo professor, que se fazem necessárias para o devido aprendizado e resultado nas avaliações desta matéria.
SENTENÇA E COISA JULGADA
1. SENTENÇA
O Juiz, no exercício de suas atividades legais, podem ensejar a prática dos seguintes pronunciamentos judiciais:
- Despachos: todos os pronunciamentos que não se enquadram no conceito de sentença ou decisões interlocutórias (art. 203, §3º, do CPC);
 - Sentença: é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, §1º, do CPC);
- Acórdãos: é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais (art. 204 do CPC).
Proferida a sentença, cumprido o seu ofício jurisdicional, o juiz não mais poderá voltar a atuar no processo, a não ser nas seguintes hipóteses:
- para julgar eventual recurso de embargos de declaração (art. 494, II, do CPC – c/c artigo 897-A da CLT);
- para corrigir inexatidões materiais ou lhe retificar erros de cálculo (art. 494, I, do CPC – c/c artigo 897-A da CLT);
- para conduzir o processo de execução posteriormente (art. 877 da CLT);
- para proferir sentença de mérito, quando tenha, em ato anterior, extinto o mesmo processo sem resolução do mérito, posicionamento este modificado pelo Tribunal, em função de recurso ordinário interposto pela parte prejudicada.
1.1 CLASSIFICAÇÃO
Podemos classificar as sentenças de duas espécies diferentes: quanto à natureza da ação e quanto ao resultado da lide.
A) Quanto à natureza da ação:
- Sentença Declaratória: são aquelas que tem na sua parte dispositiva apenas a declaração da existência de uma relação jurídica ou reconhecimento de um direito.
No Processo do Trabalho, temos como exemplo a RT (Reclamação Trabalhista) proposta por empregado em busca do reconhecimento judicial de existência da relação de emprego. Outro exemplo ocorre no julgamento do dissídio coletivo de natureza jurídica, em que o Tribunal declarará, por meio de sentença normativa, a interpretação de determinada norma. 
Por outro lado, não se pode negar que em qualquer tipo de ação, seja declaratória, condenatória ou constitutiva, sempre a sentença terá, de forma explícita ou implícita, um cunho declaratório (positivo ou negativo).
- Sentença Condenatória: declaram a existência de um fato e condena a parte vencida a uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. É o tipo mais complexo de sentença, haja vista que a doutrina ainda atribui uma sub-espécie chamada de sentença mandamental.
A sentença condenatória mandamental é aquela que condena a parte vencida a cumprir uma obrigação de fazer. Um exemplo é a sentença que condena a parte vencida a entregar bem infungível à parte vencedora, e se procede por meio de cumprimento de sentença e não de execução.
As sentenças condenatórias são as mais frequentes na Justiça do Trabalho, por exemplo, as proferidas em ações trabalhistas em que o Reclamado é condenado a pagar horas extras, aviso prévio, férias, 13º salário, etc.
- Sentença Constitutiva: são aquelas que declaram a existência de uma relação jurídica e assim constituem um direito. As sentenças constitutivas objetivam criar, modificar ou extinguir determinada ação jurídica.
Na Justiça Laboral, temos como exemplo a sentença normativa proferida no bojo de um dissídio coletivo de natureza econômica, sentença que julga procedente pedido de rescisão indireta de contrato de trabalho (art. 483 da CLT), sentença que julga procedente ação de inquérito para apuração de falta grave promovida em face de empregado estável (art. 494 c/c 853, ambos da CLT), etc.
Por fim, a sentença constitutiva também pode assumir, em certos casos, cunho condenatório, como na hipótese que reconhece a equiparação salarial (criando uma nova relação jurídica – natureza constitutiva) e determina o pagamento das diferenças salariais provenientes da equiparação salarial (cunho condenatório).
B) Quanto ao resultado da lide:
- Sentença Terminativa: extinguem o processo sem resolução do mérito, ou seja, o desfecho do processo na instância não aprecia o mérito, não sendo enfrentado o pedido formulado pelo autor na peça vestibular em função da existência de algum vício formal que macula a relação jurídica.
O artigo 485 do CPC elenca as hipóteses para a extinção do processo sem resolução do mérito:
Art. 485.  O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
Outra hipótese que pode gerar a resolução da lide sem mérito é a possibilidade de o juiz proferir sentença terminativa em caso de ato simulado ou colusão das partes, conforme previsto no art. 142 do CPC:
Art. 142.  Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé.
Na Justiça Laboral, o não comparecimento do Autor à audiência de conciliação (art. 844 da CLT) implica em uma sentença terminativa, com extinção do processo sem resolução do mérito.
- Sentença Definitiva: o mérito é apreciado, sendo enfrentado o pedido formulado pelo Reclamante na peça inicial. Para a prolação da sentença definitiva, torna-se necessário que estejam presentes todos os pressupostos de constituição e desenvolvimento regular do processo, encontrando-se superadas todas as causas impeditivas ou questões prejudiciais ao enfrentamento do mérito.
O artigo 487 do CPC aduz as possibilidades da Sentença Definitiva:
Art. 487.  Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
Parágrafo único.  Ressalvada a hipótese do § 1º  do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.
1.2 REQUISITOS ESSENCIAIS DA SENTENÇA
1.2.1 Introdução
Os requisitos essenciais da Sentença estão esculpidos no artigo 489 do CPC, in verbis:
Art. 489.  São elementos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivosque se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
§ 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.
§ 3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.
A IN 39/20016 do TST, em seu artigo 15, apresenta algumas diretrizes para aplicação do artigo 489, §1º do CPC, que se refere a fundamentação das decisões.
O artigo 832 da CLT traz também os requisitos essenciais da sentença:
  Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão.
O nome das partes e o resumo do pedido e da defesa – equivalendo ao relatório;
A apreciação das provas e os fundamentos da decisão – equivalendo à fundamentação;
A respectiva conclusão – equivalendo à parte dispositiva.
1.2.2 Relatório
É a descrição resumida das principais ocorrências verificadas no curso do processo, com indicação do pleito e seus fundamentos, bem como as defesas opostas pelo demandado.
No procedimento sumaríssimo, o artigo 852-I da CLT determina que a sentença mencionará os elementos da convicção do juízo, com resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório.
1.2.3 Motivação
Aqui, o Juízo deve expor os fundamentos fáticos e jurídicos que motivaram sua convicção na prolação da decisão, mediante análise circunstanciada dos argumentos dos litigantes. 
A ausência de fundamentação pode ser causa de nulidade do julgado, como preceitua o artigo 93, IX de nossa Carta Magna, com redação da EC 45/2004:
Art. 93.(...)
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
A não fundamentação da sentença também pode gerar interposição de Recurso Extraordinário para o STF, por afronta a dispositivo constitucional, no presente caso, o artigo 93, IX, com fulcro no artigo 102, II, ‘a’, também da Constituição Federal.
Com efeito, na fundamentação da decisão, deverá o magistrado observar, nesta ordem:
1- pressupostos processuais de constituição e desenvolvimento regular do processo;
2- questões prejudiciais de mérito (prescrição, por exemplo);
3- mérito propriamente dito.
Por último, o magistrado deve examinar de forma exaustiva todas as questões suscitadas pelas partes, sob pena de nulidade por ausência de prestação jurisdicional.
1.2.4 Dispositivo
Constitui parte da sentença que tem conteúdo decisório. É na parte dispositiva que o magistrado apresentará sua conclusão, extinguindo o processo com ou sem resolução do mérito.
O dispositivo é o elemento mais importante da sentença, o qual será, posteriormente, coberto pelo manto da coisa julgada.
O disposto pode ser direto ou indireto.
É direto quando o juiz menciona, expressamente, a conclusão da sentença, como na hipótese em que o magistrado condena o réu a pagar determinada quantia ao Reclamante.
É indireto quando o juiz, no dispositivo, limita-se a fazer referência ao lugar onde será localizado o teor da sua decisão, como na hipótese de julgar procedentes os pedidos nº1 a 8 contidos na inicial.
A ausência da parte dispositiva implica na inexistência da sentença.
1.2.5 Requisitos Complementares
Os §§ 1º, 2º e 3º dos artigo 832 da CLT traz alguns requisitos complementares da sentença, que poderão ser inseridos na parte dispositiva.
Com efeito, a sentença deverá ser dotada também dos seguintes requisitos:
Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão.
§ 1º - Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento.
§ 2º - A decisão mencionará sempre as custas que devam ser pagas pela parte vencida.
§ 3o As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso.
1.2.6 Julgamento Citra, Ultra e Extra Petita
Inicialmente, antes de adentrarmos no tema em si, importante se faz as seguintes definições:
Ultra Petita: consiste na sentença conferir à parte mais do que foi pleiteado;
Extra Petita: consiste na sentença conferir à parte pedido ou parcela do pedido diferente do que foi pleiteado;
Citra Petita: consiste na sentença conferir à parte menos do que foi por ela pleiteada, com omissão na análise das matérias invocadas.
A sentença judicial se encontra subordinada ao princípio da congruência, também conhecido como princípio da correlação, da adstrição, da correspondência, da simetria, etc., em que o magistrado, ao preferir a sentença, deve se ater aos limites em que foi proposta a lide.
Eventualmente, em casos expressos em lei, poderá condenar o réu em pedidos não contidos na exordial.
No Processo do Trabalho podemos citar alguns exemplos, como nos artigos:
CLT - Art. 137 - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração. 
§ 2º - A sentença cominará pena diária de 5% (cinco por cento) do salário mínimo da região, devida ao empregado até que seja cumprida.
CLT - Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento"
CLT - Art. 496 - Quando a reintegração do empregado estável for desaconselhável, dado o grau de incompatibilidade resultante do dissídio, especialmente quando for o empregador pessoa física, o tribunal do trabalho poderá converter aquela obrigação em indenização devida nos termos do artigo seguinte.
Súmula nº 211 do TST
JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. INDEPENDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL E DO TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL
Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou a condenação.
As sentenças ultra, citra e extra petita poderão ser impugnadas por Recurso comum, bem como por ação rescisória (artigo 966, V do CPC), por violação dos artigos 141 e 142 do CPC.
O entendimento doutrinário também vê que a sentença Citra Petita poderá ser corrigida por meio de embargos de declaração, o mesmo não acontecendo em relação as outras duas, em que se fazem necessária a interposição de Recurso Ordinário
1.2.7 Julgamento de Improcedência Liminar do pedido
O artigo 332 do CPC, aplicado subsidiariamente à CLT, traz as hipóteses de improcedência liminar do pedido.
Art. 332.  Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido peloSupremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241.
§ 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
1.2.7 Julgamento Antecipado Parcial do Mérito
Previsto no artigo 356 do CPC, também utilizado subsidiariamente à CLT, com exceção do §5º, como preceitua a IN 39/2016.
Art. 356.  O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida.
§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto.
§ 3º Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva.
§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.
2. COISA JULGADA
Ocorre quando a sentença judicial se torna irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de qualquer recurso. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os conflitos se perpetuem no tempo.
A coisa julgada também pode ser definida como uma qualidade especial da sentença, a qual, por força de lei, torna imutável e indiscutível as questões já decididas no bojo do processo.
Grande parte da doutrina brasileira adotou o conceito de Enrico Tullio Liebman, em que a coisa julgada torna a decisão judicial imutável, não podendo ser modificada, tornando eterno todos os seus efeitos – declaratórios, constitutivos e condenatórios:
“Diversas são as definições do fenômeno encontradas na doutrina. Interessa, aqui, referir a posição definida por Enrico Tullio Leibman, por ser a posição mais aceita na doutrina brasileira. Assim, é que, para aquele jurista italiano, mentor da escola processual brasileira, coisa julgada é ‘a imutabilidade do comando emergente de uma sentença’. Consistiria a coisa julgada, segundo Liebman, na imutabilidade da sentença em sua existência formal, e ainda dos efeitos dela provenientes” (SARAIVA, 2007, p. 407).
A Coisa Julgada pode ser definida em Coisa Julgada Formal e Coisa Julgada Material.
2.1 Coisa Julgada Formal e Material
a) Coisa Julgada Formal
É comum a todas as sentenças que se tornem irrecorríveis, ou seja, qualquer sentença, seja ela definitiva ou terminativa, quando transitada em julgado, estará coberta pela coisa julgada formal. 
Em outras palavras, proferida a sentença, terminativa ou definitiva, a ausência de recurso no prazo legal ou o esgotamento dos apelos possíveis – tornando a decisão imutável – enseja a formação de coisa julgada formal.
b) Coisa Julgada Material
Está prevista no artigo 502 do CPC, que assim a define:
Art. 502.  Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
A coisa julgada material é típica das sentenças definitivas, em que houve a resolução do mérito. Assim, uma vez transitada em julgado a decisão definitiva, ocorre a coisa julgada material, tornando-a imutável a decisão, não sendo permitido a rediscussão da sua parte dispositiva dentro do mesmo processo e nem em outra relação jurídico-processual.
De uma forma geral, as partes não poderão voltar a discutir o que restou decidido. A exceção ficaria restrita às hipóteses de cabimento da denominada ação rescisória.
Nesse sentido, a coisa julgada formal e a coisa julgada material possuiriam certas diferenças.
A coisa julgada formal atuaria dentro do processo em que a sentença foi proferida, sem impedir que o objeto do julgamento volte a ser discutido em outro processo. Já a coisa julgada material, revelando a lei das partes, produziria seus efeitos no mesmo processo ou em qualquer outro, vedando o reexame da res in iudicium deducta, por já definitivamente apreciada e julgada.
A coisa julgada formal poderia existir sozinha em determinado caso, como ocorre nas sentenças meramente terminativas, que apenas extinguem o processo sem julgar a lide. Todavia, a coisa julgada material está, necessariamente, ligada à coisa formal. Isto é, toda sentença para transitar materialmente em julgado, deve, também, passar em julgado formalmente.
2.2 Limites Objetivos e Subjetivos da Coisa Julgada
a) Limites Objetivos
Está previsto no artigo 503 do CPC, que assim aduz:
Art. 503.  A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal.
No limite objetivo, o que se torna definitivo e imutável é a parte dispositiva da sentença, ou seja, a decisão que apreciou o pedido formulado pela parte (a decisão que, ao final, acolhe ou rejeita o pedido). Logo, o relatório e a fundamentação da sentença não são alcançados pela coisa julgada.
O §1º do mesmo artigo insere que a coisa julgada também abrangerá a resolução de questões prejudiciais, tais como explicitadas nos incisos I, II e III.
Por outro lado, o artigo 504 do CPC dispõe que não fazem coisa julgada:
Art. 504.  Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.
Tratando-se de relação jurídica continuativa, caso ocorra modificação no estado de fato ou de direito, a parte poderá requerer a revisão do que foi estatuído na sentença, não obstante tenha havido coisa julgada material, sujeitando-se a decisão nesses casos à cláusula rebus sic standibus, correlacionada à teroria da imprevisão (art. 505, I, do CPC).
Nos domínios trabalhistas, um exemplo clássico está no artigo 873 da CLT, o qual permite que, decorrido mais de um ano, a sentença normativa seja revisada, desde que tiverem se modificado as circunstâncias que as ditaram, de modo que tais condições se hajam tornado injustas ou inaplacáveis.
b) Limites Subjetivos
Significa dizer que ela somente atinge as partes envolvidas no processo. Em outras palavras, diz-se que a coisa julgada é inter omnes, somente alcançando os litigantes do processo (autor, réu, litisconsorte, assistente litisconsorcial e todos aqueles que adquiriram a condição de parte). Por consequência, os terceiros, que não fizeram parte da relação processual não serão atingidos pela coisa julgada.

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