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unidade I

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UNIDADE I
Aspectos Gerais do Direito das Sucessões
1.1. Evolução histórica e pontos importantes:
O direito sucessório é um dos ramos do direito civil mais polêmicos, sendo alvo frequente de inúmeras discussões e divergências. Tal fato se justifica, principalmente pelo fato de que, é tal ramo que disciplina a forma da divisão da herança de uma pessoa após a sua morte, determinando para quem e o que é determinado para cada pessoa. 
O direito sucessório passou por várias modificações e ainda passa, como é o caso da decisão recente do CNJ – Conselho Nacional de Justiça – onde se tem que o concubino impuro faz jus ao recebimento da herança concorrendo com o cônjuge legitimo. Sabe-se que, há tempos atrás a herança era dividida diferenciando os filhos legítimos (nascidos da relação dde casamentoo) dos ilegítimos (nascidos fora do casamento), bem como os naturais (filhos biológicos) dos civis (adoção), porém, com o advento da carta magna, qualquer diferenciação entre os filhos é proibida, ou seja, não pode haver diferenciação no que diz respeito aos direitos.
As inovações não se resumem apenas na igualdade entre os filhos, sendo que o código civil pode ser considerado como um grande marco no direito sucessório. É inovador até mesmo se considerarmos os diplomas legais de outros países. Isto porque, até o advento da diploma civil em vigência, o cônjuge sobrevivente somente era chamado a suceder na ausências de descendentes e ascendentes do de cujus, recebendo o mesmo a totalidade da herança. Se o de cujus falecesse deixando descendentes ou ascendentes, ao cônjuge era conferido apenas o que lhe cabia a título de meação, sendo a herança do de cujus divididas entre os descendentes ou ascendentes. 
Porém, com o advento do novo diploma legal, o cônjuge passou a ser considerado como concorrente, podendo ser chamado a herdar ainda que exista descendentes ou ascendentes, conforme se verá no momento oportuno. Quanto ao primeirro a concorrência dependderrá do regime de bens, quanto ao segundo, independerá.
Há ainda que se ressaltar que, para um bom entendimento do direito sucessório, indispensável é uma ligação direta com o direito de família, haja vista que, este influencia diretamente naquele.
1.2. Conceito de sucessão e direito sucessório
O direito sucessório tem como objetivo disciplinar a forma de divisão da herança de uma pessoa após a sua morte, determinando a forma de divisão, capacidade sucessória, exclusão, dentre diversas outras questões. Porém, para que seja possível a sua análise, necessário é analisar o próprio conceito de sucessão, do que cuidará a seguir.
Segundo nos ensina Carlos Roberto Gonçalves (2010, p 1), onde afirma que a terminologia “Sucessão’’, em seu sentido amplo, significa o ato através do qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. A título de exemplo, basta recorrermos ao contrato de compra e venda, onde o comprador sucede ao vendedor, em todos os seus direitos no que diz respeito à propriedade do bem. 
Recorremos ainda aos ensinamentos de Silvio Rodrigues (2002) que assim preceitua “A ideia de sucessão sugere, genericamente, a de transmissão de bens, pois implica a existência de um adquirente de valores, que substitui o antigo titular. Assim, em tese, a 
Sucessão pode operar-se a título gratuito ou oneroso, inter vivos ou causa mortis.”
Por fim, podemos citar o que nos ensina Barros citado por CATEB (2010) “a palavra sucessão, tomada algumas vezes como sinônima de herança, com que aliás se não confunde, é empregada para significar a transmissão, em regra, dos direitos ativos e passivos, que uma pessoa falecida faz a uma outra, que lhe sobrevive.” 
Neste diapasão o direito sucessório, segundo Maria Helena Diniz (2010, p. 3) pode ser entendido como sendo “O direito sucessório é conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento”.
No mesmo sentido é o entendimento da Silvio Rodrigues (2002, p. 3) que em poucas palavras nos ensina que o direito sucessório é o conjunto de princípios jurídicos que regulamenta a forma de transmissão do patrimônio de uma pessoa, após a sua morte, aos seus sucessores. 
A sucessão pode ser legítima ou testamentária, singular ou universal, conforme se verá a seguir.
1.2.1. Espécies e sucessão:
Sucessão legítima ou testamentária
A Sucessão legítima é aquela que decorre da vontade da lei estabelecendo uma ordem de preferência, conforme preceitua o artigo 1829, desta forma, a existência do mais próximo exclui o mais remoto. Para se determinar a ordem da vocação legítima, parte do pressuposto de que uma pessoa prefere um em detrimento do outro. Vejamos o seguinte exemplo:
EXEMPLO: José é casado com Maria. O casal possui três filhos e quatro netos. José é filho de Adão e Joana. José falece. São seus herdeiros os descendentes (filhos e netos) e ascendentes (pais). Os descendentes são os primeiros herdeiros de José e dentro dos descendentes os filhos ( linha reta de 1º grau) são mais próximos que os netos (linha reta de segundo grau), de forma que, os filhos excluem os netos, recebendo a herança de José.
Considerando o exemplo acima, percebe-se que todos os descendente (filhos e netos), os ascendentes (pais), bem como, o cônjuge (Maria), são herdeiros, porém, na hora de se dividir uma herança, a classe mais próxima excluirá a mais afastada. A ordem de preferência encontra-se prevista no artigo 1829 determinando que assim prescreve:
Artigo 1829. A sucessão legítima defere-se na seguinte ordem:
I - aos descendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se este era casado com o autor da herança no regime da comunhão universal de bens, de separação obrigatória ou comunhão parcial, se o falecido não deixou bens particulares;
II - as ascendentes em concorrência com o cônjuge qualquer que seja o regime de bens;
III - ao cônjuge sobrevivente na hipótese de ausência de ascendente e descendente, será herdeiro único, qualquer que seja o regime de bens;
IV - aos colaterais até quarto grau.
Podemos dizer que a sucessão legítima ou ab intestato “é uma complementação natural, com a transferência do patrimônio aduirido em vida a certas e determinadas pessoas, nomeadas pela lei, sem qualquer interferência da vontade de seu titular. Verifica-se quando o autor do patrimônio morre sem deixar testamento ou o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não tiverem sido testados ou, ainda, se estes caducar ou mesmo for declarado nulo (1788)” (CATEB, 2010)
A sucessão legítima sempre ocorrerá nas seguintes situações:
1º) Se a pessoa falecer sem deixar testamento ou deixar bens que não foram contemplados no mesmo ou se o testamento deixado por inválido;
2º) Se a pessoa falecer deixando herdeiro necessário (descendentes, ascendentes e cônjuge, pois neste caso há a reserva da paarte legítima.
A sucessão testamentária é aquela que decorre da própria vontade do de cujus que, em vida, deixa um documento onde expõe a sua vontade.
De acordo com os ensinamentos de Dimas Messias de Carvalho a sucessão testamentária é “aquela que se dá e obediência à vontade do defunto, prevalecendo, contudo, as disposições legais naquilo que constitua ius cogens, bem como no que for omisso ou silente o instrumento. (CARVALHO, 2010, p. 71)
A sucessão testamentária só ocorrerá se a pessoa que faleceu deixou testamento válido. O testamento é negócio jurídico formal, devendo seguir todos os requisitos impostos pela lei, sob pena de não ter validade.
Pode o testamento ser entendido como o “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém, de conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo ou em parte (CC. Art. 1857, caput) do seu patrimônio, mas também faz estipulações extrapatrimoniais.” (DINIZ, 2010, p. 185)
Sucessão universal e singular
A sucessão universal é aquela onde há a transmissão de todo o patrimônio do falecido ou parte dele aosseus herdeiros, sejam testamentários ou legítimos.
Segundo Carvalho a sucessão universal é aquela onde “transfere-se ao sucessor herdeiro a totalidade do patrimônio, ou uma fração determinada, abrangendo tanto o seu ativo como o seu passivo”. (CARVALHO, 2010, p. 4)
O herdeiro universal pode ser legítimo ou testamentário. Valendo dizer que, toda vez que for legítima, automaticamente será universal, porém, se for testamentária, dependerá da forma como foi feita a disposição.
A sucessão singular é aquela onde uma pessoa sucede a outra em determinado bem específico e individualizado.
Segundo mesmo doutrinador acima na sucessão singular “é transferido ao legatório um bem específico e determinado, sem ter de responder pelo passivo da herança. Não recebe uma fração, mas um bem certo, e só responde por algum débito se o de cujus tiver onerado ao legado.” (CARVALHO, 2010, p. 4)
A distinção do tipo de sucessão, nem sempre, é tarefa fácil, por exemplo, o fato de uma pessoa falece deixando apenas uma bicicleta não quer dizer que seja a sucessão singular, pois se tal objeto for tudo que a pessoa deixar, será a sucessão universal. 
1.3. Princípio da saisine e seus efeitos
A palavra saisine tem como origem a palavra grega sacire, tendo o sentido de apoderar-se. Assim, o princípio da saisine quer dizer a transmissão do patrimônio do de cujus aos seus herdeiros, apoderando-se, estes, dos bens deixados pelo falecido.
De acordo com o prescrito no arigo 1.784, a sucessão transmite-se, desde logo, aos seus herdeiros legítimos (herdeiros por força de determinação legal) e testamentários (herdeiros por vontade do testador). Ressalta-se que, a transmissão ocorre com a morte do autor da herança, conforme melhor veremos.
Transmissão da propriedade x transmissão da posse (posse direta e indireta). Há que se ressaltar que, com a morte do de cujus, transmite-se ao herdeiro legítimo tanto a propriedade do bem como a posse, porém, somente a indireta, sendo que a direta será concedida ao inventariante. Por outro lado, os herdeiros legatários, com a morte do de cujus, recebem somente a propriedade, sendo que, a posse somente é adquirida posteriormente quando for aprovado o testamento.
A administração dos bens deixados pelo falecido, é concedida ao Inventariante que, é nomeado pelo Juiz de Direito, dentro da ação de inventário. O inventariante possui uma série de obrigações, sendo dele a responsabilidade pelos informações, gerência dos bens, dentre outras questões.
De acordo com os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (2007), são efeitos do princípio da saisine:
a sucessão se abre no exato momento do falecimento do de cujus, ocorrendo uma substituição na titularidade da propriedade dos bens = subjetiva;
 com o falecimento transmite-se aos herdeiros a posse e a propriedade, com exceção dos herdeiros legatários;
Os herdeiros possuem legitimidade ad causam;
Se o herdeiro falece após receber a herança, transmite aos seus herdeiros o patrimônio recebido;
Mesmo que os bens não estejam individualizados, a herança pode ser objeto de transmissão inter vivos
Após toda análise a respeito das espécies de sucessão, bem como, do princípio da saisine, importante é analisar o momento da abertura da sucessão, bem como, o lugar de sua abertura do que se cuidará no presente momento.
2. Momento da abertura da sucessão e Regulamentação:
Saber identificar o momento da abertura da sucessão é de suma importância, conforme se verá. A sucessão considera-se aberta no exato momento do falecimento do de cujus, independentemente, da abertura do processo de inventário ou não. 
É muito comum se confundir o momento da abertura da sucessão com abertura do processo de inventário, porém, são duas coisas completamente diversas, sendo necessário identificá-los e separá-los. Quando uma pessoa falece, no exato momento, como dito acima, considera-se aberta a sucessão. Depois do falecimento, deixando bens o falecido, necessário é a feitura do inventário que, é o processo competente para determinar os herdeiros e bens, dividindo-os entre os herdeiros legítimos ou testamentários. Estabelece o Código de Processo Civil que, o prazo para o ajuizamento da ação de inventário é de 60 dias, contados da abertura da sucessão, porém, muito se tem discutido qual é a consequência do não ajuizamento. 
Assim, considere que, A tenha falecido no dia 20 de janeiro às 23:59 hs, do ano de 2012 e o inventário tenha sido ajuizado no dia 15 de junho do mesmo ano. O momento da abertura da sucessão será o dia 20 de janeiro.
Pode até parecer insignificante identificar o momento da abertura da sucessão, porém, deve-se atentar para o disposto no artigo 1787 do CC, que determina que, a divisão dos bens deixados pelo de cujus, será determinada pela lei que se encontra em vigência no momento da abertura da sucessão. Veja-se o seguinte exemplo:
	Considere que A tenha falecido no dia 10 de janeiro de 2003 às 23:59 hs e que o processo de inventário tenha sido ajuizado no mês de maio do ano de 2003. Percebe-se que, quando da abertura do processo de inventário, já estava em vigência o Código Civil votado e aprovado em 2002 que encontrou em vigência no dia 11 de janeiro do ano de 2003. A lei que determinará a divisão da herança será as constante do código civil de 1916, porém, as normas processuais, serão as que estavam em vigência no momento da abertura da ação. Parece estranho, mas é perfeitamente possivel a aplicação das normas contidas no código revogado.
Assim, pode-se dizer que, é perfeitamente possível a aplicação das normas do código civil de 1916 em processos de inventários em trâmite nos dias atuais ou até mesmo, naqueles que ainda não foram ajuizados. Observando-se que, se aplicará, nestes casos, o código civil de 1916 quanto à forma de partilha dos bens e as normas em vigencia do CPC.
3. Lugar da abertura da sucessão
Como o momento da abertura da sucessão é o da morte, é como associar o lugar da abertura da sucessão ao lugar da morte, porém, não é correta esta associação. O lugar da abertura da sucessão encontra-se previsto no artigo 1785 que assim prescreve “a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido”. 
Valendo dizer que, o lugar da abertura da sucessão determina a competência para conhecimento e julgamento do processo do inventário. Porém, deve-se atentar para o fato de que, como é competência fixada considerando território, trata-se de competência relativa, passível de alteração, por vontade das partes, desde que, preenchidos todos os requisitos para tanto.
3.1. Competência para julgamento e conhecimento do inventário
Segundo dispõe o Art. 96 do CPC , o processo de inventário deve ser ajuizado no último domicílio do falecido, ou seja, o lugar da abertura da sucessão, ainda que, o falecimento tenha ocorrido em lugar diverso. Porém, nem sempre é possível verificar o lugar do domicílio do falecido, talvez, porque não o tivesse ou possuía mais de um domicílio em locais diversos, assim, é necessário analisar algumas exceções à regra.
Exceções:
Mais de um domicílio = possuindo a pessoa mais de um domicílio, será competente para julgar e conhecer o processo qualquer um deles;
Sem domicilio certo, com bens imóveis = não possuindo a pessoa domicílio certo, porém, possuindo bens imóveis, será competente para analisar o lugar da situação dos bens;
Bens em locais diversos = havendo bens em locais diversos (Comarcas distintas) será competente o lugar do falecimento.
Como dito, trata-se de competência relativa, de forma que, é muito comum inventários serem ajuizados em locais diversos dos estabelecidos acima. Muito embora esta seja a prática, é importante atentarmos para o que é legal.
FONTE BIBLIOGRÁFICA UTILIZADA E CITADA:
CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2010. 354 p.
CATEB, Salomão de Araújo. Direito das sucessões. Ed. Atlas. 2010.
DINIZ, Maria Helena Diniz. Curso de direito civil brasileiro. Direito das sucessões 22.ed. Ed.Saraiva. 2010.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Sucessões. Vol.7. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
PEREIRA, Caio Mário da Silva Pereira. Instituições do direito civil. Sucessões. Rio de Janeiro: Forense. 2007.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito das Sucessões. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
EXERCÍCIO PARA FIXAÇÃO
Qual é o significado da terminologia “sucessão”?
O que é direito das sucessões?
Quais são as espécies de sucessão existentes no direito brasileiro?
O que é sucessão legítima?
O que é sucessão testamentária?
Um herdeiro pode ser chamado a suceder como legítimo e testamentário?
O que é sucessão singular?
Um herdeiro pode ser considerado como legítimo e singular?
Um herdeiro pode ser considerado como testamentário e universal?
Um herdeiro pode ser considerado como testamentário e singular?
ANALISE O CASO PRÁTICO ABAIXO E RESPONDA AS INDAGAÇÕES FORMULADAS
José faleceu no último dia 10-01-2011, oportunidade em que, deixou quatro filhos, quais sejam, João, Paulo, Pedro e Maria e a viúva, Madalena. O patrimônio deixado por José está valor estimado em R$ 300.000,00. Sendo que, deste patrimônio, R$ 180.000,00 é comum e R$ 120.000,00 é patrimônio só dele. Quando do falecimento, José deixou um testamento beneficiando Joaquim, seu irmão, com o seu carro, no valor de R$ 20.000,00 – este se encontra inserido no patrimônio particular. Responda:
Quem são os herdeiros de José? Classifique-os.
é possível uma mesma pessoa ser herdeira testamentária e legítima? E o universal e singular? Explique.
Existem, no caso acima, herdeiros necessários? Quais?
Qual é o valor da herança?

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