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1 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados PARECER EMENTA: ATO ADMINISTRATIVO – INTERDIÇÃO – VÍCIO NOS ELEMENTOS “FORMA” (MOTIVAÇÃO) E “MOTIVO” – ATO NULO – POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA II RELATÓRIORELATÓRIO Trata-se de consulta realizada pelo site www.torcedorbotafoguense.com.br acerca do estudo do ato administrativo que interdita prédio público ou privado, com fundamento na preservação da integridade física dos administrados, haja vista a existência de um laudo técnico condenando a estrutura da construção. É importante frisar que o presente estudo foi realizado no CAMPO HIPOTÉTICO, logo o mesmo não deve ser parâmetro para impugnar ato de qualquer Administração Pública, pois que não há, até o momento, elemento probatório para elaboração de um parecer jurídico específico para determinado fato. Estudada a matéria, passamos a opinar. 2 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados II FUNDAMENTAÇÃO A primeira questão objeto de análise diz respeito à possibilidade da Administração Pública interditar imóvel privado ou público. Todos os atos administrativos são praticados pelo Estado para benefício da coletividade. Mesmo quando age em vista de algum interesse estatal imediato, o fim último de sua atuação deve ser voltado para o interesse público. Se não estiver presente esse objetivo, a atuação estará inquinada de DESVIO DE FINALIDADE. Desse modo, não é o indivíduo em si o destinatário da atividade administrativa, mas sim o grupo social num todo. Saindo da era do individualismo exacerbado, o Estado passou a caracterizar-se como o Welfare State (Estado/bem-estar), dedicado a atender ao interesse público. Logicamente, as relações sociais vão ensejar, em determinados momentos, um conflito entre o interesse público e o interesse privado, mas, ocorrendo esse conflito, HÁ DE PREVALECER O INTERESSE PÚBLICO.1 É o conhecido primado do interesse público. Dessarte, em eventual necessidade de interdição de prédio em virtude do perigo que o mesmo represente para a coletividade, o interesse público, obviamente, deve sempre se sobrepor ao interesse do particular. Superado o intróito, passamos a análise dos elementos do ATO ADMINISTRATIVO que interdita prédio público/privado. 1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 3 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados Não há uniformidade entre os doutrinadores quanto a um conceito de ato administrativo, e isso porque deve atender ao exato perfil do instituto. De acordo com o festejado professor José dos Santos Carvalho Filho, três pontos são fundamentais para a caracterização do ato administrativo. Em primeiro lugar, é necessário que a vontade emane de agente da Administração Pública ou dotado de prerrogativas desta. Depois, seu conteúdo há de propiciar a produção de efeitos jurídicos com fim público. Por fim, deve toda essa categoria de atos ser regida basicamente pelo direito público.2 Firmadas tais premissas, concluiu o douto professor que o ato administrativo é a exteriorização da vontade do agente da Administração Pública ou de seus delegatários, nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à produção de efeitos jurídicos com o fim de atender ao interesse público. A partir desse momento, passaremos a analisar os ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO, salientando que a prática do ato administrativo, sem a observância de qualquer desses elementos (e basta a inobservância de somente um deles), estará ele contaminado de VÍCIO DE LEGALIDADE, fato que o deixará, como regra, sujeito à ANULAÇÃO. A)A) DA COMPETÊNCIADA COMPETÊNCIA Competência é o círculo definido por lei dentro do qual podem os agentes exercer legitimamente sua atividade. Trata-se da necessidade de divisão de trabalho, isto é, da necessidade de distribuir a intensa quantidade de tarefas decorrentes de cada uma das funções básicas (legislativa, administrativa e 2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 4 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados jurisdicional) entre os vários agentes do Estado. O AGENTE DEVE ATUAR DENTRO DA ESFERA QUE A LEI TRAÇOU. A título de exemplo, compete ao chefe do executivo municipal dispor sobre os bens que façam parte do patrimônio da respectiva municipalidade. Sem mais delongas, visto que esse não é o objetivo do presente trabalho, conclui-se que a competência administrativa há de se originar de texto expresso contido na Constituição, na lei e em normas administrativas. B)B) DO OBJETODO OBJETO O Objeto nada mais é que o objetivo imediato da vontade exteriorizada pelo ato, ou seja, a proposta do agente que manifestou a vontade com vistas a determinado alvo. Um ato administrativo que INTERDITA determinado imóvel, eis que o mesmo apresenta risco de desabar, tem como OBJETO a PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA DOS ADMINISTRADOS. C)C) DA FINALIDADEDA FINALIDADE A finalidade é o elemento que vincula o ato administrativo sempre ao interesse público. O administrador não pode praticar ato voltado para interesses privados, já que o mesmo exerce a função de gestor de bens e interesse da coletividade, devendo, assim, sempre atuar em atendimento aos reclamos da comunidade, porque essa é a sua função. 5 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados O desrespeito ao interesse público configura abuso de poder sob a forma de desvio de finalidade, sem mencionar a violação dos princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa, eis que esta relega os preceitos éticos que devem nortear a Administração, enquanto aquela determina o tratamento igual aos administrados na mesma situação jurídica. Apesar da semelhança entre os elementos OBJETO e a FINALIDADE, é importante ressaltar que o OBJETO é variável conforme o resultado prático buscado pelo agente da Administração, ao passo que a FINALIDADE é invariável para qualquer espécie de ato: SERÁ SEMPRE O INTERESSE PÚBLICO. D)D) DA FORMADA FORMA Diversamente do que se passa no direito privado – princípio da liberdade das formas-, no direito público a regra é a solenidade das formas. A razão por tal distinção tem um sentido óbvio: No direito privado prevalece o interesse privado, a vontade dos interessados, ao passo que no direito público toda a atividade deve estar voltada ao interesse público. Na visão do professor Marcelo Alexandrino, a motivação deve estar presente na exteriorização do ato administrativo, isto é, deve haver menção e comprovação de um laudo técnico esclarecendo a real situação do imóvel e seus riscos para a coletividade, sob pena de o ato administrativo ser posteriormente anulado por ausência de um de seus elementos. 6 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & MachadoSociedade de Advogados E)E) DO MOTIVODO MOTIVO É inadmissível, em sede de direito público, a prática de ato administrativo sem que o agente tenha tido, para tanto, razões de fato ou de direito, responsáveis pela exteriorização da vontade. Logo, podemos conceituar o motivo como sendo a situação de fato ou de direito que gera a vontade do agente quando pratica o ato administrativo. Na interdição de um prédio, a motivação é o interesse público de proteger a integridade física dos administrados que, salvo melhor juízo, seria ato VINCULADO3 da Administração Pública, já que não caberia a ela critério de conveniência e oportunidade na prática de tal ato. No entanto, assim como na motivação estudada no item precedente, o elemento motivo do ato administrativo que interdita um imóvel só estaria presente se, de fato, existir laudo técnico esclarecendo a real situação do imóvel e os riscos que o mesmo representa para a coletividade. III.III. DA CONCLUSÃODA CONCLUSÃO Pelo exposto, em atendimento ao pedido de esclarecimentos formulado pelo Torcedor Botafoguense, opinamos no sentido de que o ato administrativo que interdita um imóvel só seria válido com a existência de um laudo técnico esclarecendo a real situação do imóvel e os riscos que o mesmo representa para 3 Atos vinculados, como o próprio adjetivo demonstra, são aqueles que o agente pratica reproduzindo os elementos que a lei previamente estabelece. Ao agente, nesses casos, não é dada liberdade de apreciação da conduta, porque se limita, na verdade, a repassar para o ato o comando estatuído na lei. Isso significa que nesse tipo de ato não há qualquer subjetivismo ou valoração, mas apenas a averiguação de conformidade entre o ato e a lei. os administrados, sob pena de tal ato sofrer pedido de anulação por ausência dos elementos FINALIDADE, FORMA E MOTIVO. Por derradeiro, insta esclarecer que o administrado que sofreu violação em seu direito líquido e certo - em virtude de eventual ilegalidade por parte da Administração Pública - é parte legítima para impetrar AÇÃO CONSTITUCIONAL DE MANDADO DE SEGURANÇA, sem prejuízo de outros instrumentos processuais, tais como AÇÃO ANULATÓRIA de ato administrativo e, dependendo do caso, eventual AÇÃO POPULAR ou AÇÃO CIVIL PÚBLICA por parte do Ministério Público. É o nosso parecer, salvo melhor juízo. Rio de Janeiro, 24 de abril de 2013, BARBOSA & MACHADO SOCIEDADE DE ADVOGADOS 7 Rua Senador Dantas, 117, sala 632, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20031‐911. Telefone: 21‐3128‐0611| Barbosa & Machado Sociedade de Advogados
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