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Direitos Humanos AULA GERAL

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Direitos Humanos / Aula 1 - A dignidade da pessoa humana e a ordem jurídica
do próprio Estado e da ordem jurídica. Em seguida, discutiremos sua problemática conceitual, destacando a 
A dignidade da pessoa humana: considerações gerais
Vejamos, a seguir, um trecho do famoso poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Mello Neto:
No famoso poema, João Cabral de Mello Neto conta a história de Severino, um retirante do interior da Paraíba que foge da seca, em direção a Recife, no litoral de Pernambuco. Lá, Severino acredita que terá uma vida melhor, com melhores condições.
Esse trecho reproduzido se refere ao final da viagem de Severino, já chegando em Recife. Mas, ainda assim, mesmo estando na capital pernambucana, Severino encontra morte e pobreza, da mesma maneira que via no interior do sertão. Decepcionado e desiludido, o trecho reproduzido sugere ao leitor que Severino irá se suicidar para dar fim a sua sina.
Esse sonho desfeito de Severino, escrito pelos idos dos anos 50 do século passado, ainda se mostra atual. Traduzido para o mundo do Direito, traz os desafios que a dignidade humana (ou sua falta ou desrespeito) coloca para as sociedades contemporâneas, e em especial a brasileira.
A dignidade da pessoa humana tem sido considerada por muitas áreas do saber humano, tais como a Filosofia, a Ética, a Política e o Direito, como o ponto central de construção de todo o ordenamento jurídico e do próprio Estado.
Ela é vista até mesmo com um valor suprajurídico, isto é, para além do Direito e da Constituição, já que seria a dignidade um valor ínsito do ser humano. E, desta maneira, a dignidade trata diretamente da essência do ser humano. É, portanto, esse seu caráter supraconstitucional que permite, inclusive, que possamos sustentar sua efetividade independentemente da sua positivação (isto é, seu reconhecimento pelo direito, através de uma norma jurídica, quer seja ela lei ou mesmo uma norma constitucional).
Se pensarmos, por exemplo, nos dramas humanos da atualidade, como entre tantos outros, a questão dos refugiados de guerra ou a fome nos países africanos, salta aos olhos a crise humanitária que vivenciamos e destacamos a importância da valorização e proteção da dignidade humana como bússola para enfrentarmos essas calamidades que assolam o mundo.
Assim, falar de dignidade humana é falar do outro, é falar de direitos, é falar de democracia, é falar de cidadania.
Para as sociedades atuais, a dignidade da pessoa humana coloca uma série de desafios a serem enfrentados, assegurando a todas as pessoas uma vida decente: com respeito, igualdade e liberdade, com acesso aos bens necessários para a realização do projeto de vida de cada um e que leve, enfim, à felicidade. Assim, a dignidade se articula com a própria possibilidade de existir com decência no mundo para nele viver em plenitude.
No entanto, a vida em sociedade é marcada por desigualdades materiais e carências sociais, pois, ainda que expresso de forma simplista, há mais pessoas do que bens disponíveis, isto é, não é possível o acesso igual de todos a todos os recursos disponíveis: aí se coloca o dilema da dignidade humana.
A construção histórica da dignidade humana
A ideia de dignidade humana não é uma invenção do século XX. Os estudiosos do tema apontam que, já na Antiguidade Grega, havia um movimento de valorização da pessoa humana. Também entre os orientais a pessoa humana tinha seu destaque. Confúcio, partidário de uma ideia de aperfeiçoamento do ser, em detrimento da caridade pura, já pregava “ame a todos sem distinção”. Posteriormente, com o advento do Cristianismo, a figura do ser humano, à imagem e semelhança de Deus, inspirava uma relação de reconhecimento de si no outro. O fundamento da dignidade morava no divino.
Saltando no tempo, é com o Iluminismo que, no Ocidente, a dignidade da pessoa humana passa a derivar da razão, daí decorrendo a criação de vários documentos emblemáticos para o marco do respeito à dignidade humana, como por exemplo, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, resultado da Revolução Francesa.
Fonte: Le Salon de Mme Geoffrin - Anicet-Gabriel Lemonnier. https://www.histoire-image.org/sites/default/salon-geoffrinf.jpg
Kant, na famosa obra "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" sustentava que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um meio (objetos). O filósofo assim dizia:
São as noções de Kant que fixaram as bases da compreensão moderna da dignidade humana fixando sua relação com os direitos humanos e que até hoje se colocam como, de certa forma, pertinentes.
Há duas dimensões do pensamento kantiano que merecem destaque:
A ideia de finalidade, isto é, o homem, por ser dotado de razão, é um fim em si mesmo.
A ideia de autonomia, isto é, a vontade humana deve estar direcionada para o dever de estabelecer parâmetros de moralidade que sirvam para todos, inclusive para ela mesma, não porque se busca uma vantagem futura, mas sim porque esta é a dignidade do ser dotado de razão.
A problemática conceitual e sua relação com os direitos humanos
Em uma postagem, de março de 2015, no Blog JOTA, Daniel Sarmento, diz que:
“uma rápida pesquisa no site do STF mostra que, sob a égide da Constituição de 1988, o princípio da dignidade da pessoa humana foi explicitamente invocado em nada menos que 260 acórdãos, 2.298 decisões monocráticas, 79 decisões da Presidência, 9 questões de ordem e 3 repercussões gerais. Os temas abordados pelas decisões são os mais variados, indo da vedação de denúncias criminais genéricas à união homoafetiva; da impossibilidade de realização compulsória do exame de DNA ao aborto de fetos anencéfalos; das políticas de ação afirmativa à criminalização da violência doméstica”.
Desses dados apresentados, logo pensamos:
Veremos que há um esforço doutrinário no sentido de responder nossos questionamentos, embora sem que possamos ter uma definição fechada, com todos os seus elementos determinados.
Um conceito de dignidade humana: desafios
A dignidade humana é uma daquelas expressões chamadas de polissêmicas. Isto quer dizer que ela é portadora de muitos sentidos diferentes, sendo um desafio estabelecer um sentido único para a mesma.
Assim, dignidade humana quer (e pode) dizer respeito a muitas coisas diversas, em razão do sentido que lhe é atribuído e dos interesses que se busca preservar ou defender quando a ela recorremos.
Entretanto, ainda que a dignidade humana possa ser etiquetada como uma cláusula aberta, podemos fazer aqui alguns acordos quanto ao seu sentido.
Para nossa disciplina, adotaremos o conceito dado por Ingo Wolfgang Sarlet que articula a ideia de respeito a todos os seres humanos, independentemente de suas qualidades. Esse respeito é exigido do Estado e da sociedade como um todo, materializando-se em um feixe de direitos e deveres fundamentais que asseguram uma existência minimamente decente, (como, por exemplo, acesso ao saneamento básico, à água potável, dispor de alimentação adequada, etc.) que permita ao ser humano decidir os rumos de sua vida, assegurando sua felicidade e participação na sociedade.
Leia a conceituação de Ingo Wolfgang Sarlet:
A relação da dignidade humana com os direitos humanos
A despeito da dificuldade semântica já registrada, podemos adotar também uma fórmula para conceituar a dignidade:
Atributo inerente da pessoa humana, pelo simples fato de alguém “ser humano”.
Desse modo, por existir enquanto ser humano, em uma sociedade plural, automaticamente, esta pessoa se torna merecedora de respeito e proteção, independentemente, de sua origem, etnia, sexo, idade, estado civil, religião, filiação partidária, condição sócio econômica, cultura partilhada, ou de qualquer outro fator de identificação ou diferenciação.
Reconhece-se que a dignidade é um princípio fundamental que emana de todos os humanos, desde a concepção no útero materno, não se vinculando e não dependendo de atribuição de personalidade jurídica ao seu titular para seu reconhecimento.
Aqui, neste ponto de nossadisciplina, não aprofundaremos a distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais.
Assim nesta aula, consideraremos os dois como sinônimos, apesar de haver uma distinção entre eles, especialmente, no que tange a sua esfera de incidência:
Desse modo, quer sejam direitos humanos ou direitos fundamentais, ambos emanam, decorrem da dignidade humana. Podemos, então, dizer que dignidade é um critério unificador, ao qual todos os direitos humanos/fundamentais se reportam, em maior ou menor grau de adesão ou concretização.
Por outro lado, também se discute se esses direitos poderão ser relativizados, ou não, na medida em que nenhum direito ou princípio se apresenta de forma absoluta, especialmente quando estudamos o conflito ou colisão entre direitos e suas formas de resolução.
Por exemplo, em nome do direito à intimidade e privacidade é possível que se proíba a circulação de uma reportagem jornalística? Esse é um tema de muita relevância e também delicado.
A relação da dignidade humana com os direitos humanos/fundamentais gera uma dupla obrigação para o Estado quanto ao que dele se pode exigir: uma de caráter negativo e outra de aspecto positivo.
CARÁTER NEGATIVO
CARATER NEGATIVO
Inspirado nos ideais liberais, remete a uma noção de proteção, de defesa contra o Estado, determinando que o Estado deve se abster de adotar qualquer medida que possa violar a dignidade humana.
Por exemplo, se não houver ordem judicial, o Estado só pode prender as pessoas em flagrante delito, isto é, se estiverem naquele momento praticando um crime. É o que temos no art. 5º. inciso LXI, da Constituição de 1988, preservando-se, assim, o direito à liberdade:
“LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.”
DIMENSÃO POSITIVA
ASPECTO POSITIVO
Impõe ao Estado um dever de agir jurídica ou faticamente. Em geral, a dimensão positiva irá se traduzir na prestação de um serviço púbico, tal como a educação, a previdência social, a assistência social e a saúde, entre outros. Ela resulta do modelo de Estado social, que tem por finalidade proteger e promover, inclusive materialmente, a dignidade da pessoa humana.
No texto constitucional, temos como exemplo o direito à educação, previsto no Capítulo III da Constituição, regulamentado a partir do art. 205.
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".
Ou ainda, como outro exemplo concreto, podemos citar o dever do Estado de prestar assistência social a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, garantindo um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (art. 203, inciso V da Constituição de 1988).
Aspectos jurídico e constitucional do princípio da dignidade humana
A dignidade da pessoa humana, ao ser incorporada à ordem normativa de um país, passa a ostentar um aspecto jurídico que lhe dá todos os atributos que a norma jurídica ostenta, deixando de ser apenas uma indicação ética ou moral cuja adesão do sujeito depende apenas de sua consciência.
A dignidade da pessoa humana como princípio constitucional e a Constituição de 1988
No caso do Brasil, em especial, a dignidade da pessoa humana é uma norma jurídico-positiva de status constitucional e, como tal, dotada de eficácia, sendo, então, capaz de garantir os direitos fundamentais do cidadão.
Logo no art. 1º. Inciso III da Constituição, o princípio da dignidade humana é declarado como um fundamento da República e do Estado Democrático de Direito do Brasil.
Para comentar este artigo trazemos novamente a contribuição de Ingo Wolfgang Sarlet:
“Consagrando expressamente, no título dos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado democrático (e social) de Direito (art. 1º, inc. III, da CF), nosso Constituinte de 1988 [...] além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e justificação do exercício do poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal”. (SARLET, 2010: 133)
Em outras palavras, é o Estado que passa a servir ao cidadão, como instrumento para a garantia e promoção da dignidade das pessoas individual e coletivamente consideradas.
Além desse artigo, o princípio da dignidade se encontra previsto de modo expresso ou implícito ao longo do texto constitucional, reforçando a ideia de fundamento, sendo a dignidade humana o eixo valorativo de nosso Estado e direito.
A proteção da dignidade da pessoa humana como vetor para uma hermenêutica adequada
Ao estudarmos a dignidade humana, percebemos, também, que ela se encontra diretamente relacionada ao tema da hermenêutica. Nesse sentido, dois aspectos merecem atenção: a dimensão principiológica e a questão de seus limites ou restrições.
 A dimensão principiológica Sendo considerado como um princípio fundamental1 , a dignidade se coloca como elemento de justificação da própria existência do Estado, que tem na realização da dignidade humana sua razão de ser. Em assim sendo, todo esforço interpretativo deve ser no sentido de dar maior eficácia à dignidade da pessoa humana e, por decorrência, há uma comando interpretativo que aponta para a realização dos direitos humanos que da dignidade humana emanam, e portanto, estamos falando em assegurar seu real cumprimento, mediante a concretização das regras e princípios constitucionais que a eles se vinculam. Assim uma adoção de uma hermenêutica adequada está compromissada com a valorização da Constituição e, como nos explica o hoje Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, “a ênfase recai em procurar-se propiciar a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos constitucionais, fazendo com que eles passem do plano abstrato da norma jurídica para a realidade concreta da vida. A efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho verdadeiro de sua função social.”
 A questão de seus limites ou restrições O problema dos limites ou restrições à dignidade humana diz respeito a admitirmos ou não que ela poderá ser objeto de restrição e, dessa forma, não pode ser considerada absoluta, no sentido de ser revestida por uma total imunidade à imposição de limites ou restrições. Em uma dimensão objetiva, a dignidade da pessoa humana deve ser considerada como absoluta e, dessa forma, irrenunciável, inalienável e intangível. É essa dimensão objetiva que a dignidade se coloca como valor inerente ao ser humano que merece proteção contra violações e degradações. No entanto, em uma dimensão subjetiva, hoje a posição da melhor doutrina é no sentido de que não há como sustentar essa impossibilidade de limitação, em um cenário de pluralidades de pessoas de igual dignidade. Se cada ser humano, em virtude de sua dignidade, é merecedor de igual respeito e consideração no que diz a sua condição de pessoa, e se tal dignidade não poderá ser violada ou sacrificada, nem mesmo para preservar a dignidade de terceiros, deve-se reconhecer uma relativização, em certa medida, pelo menos ao nível jurídiconormativo. Com efeito, estamos aqui tratando de um contexto que considera estarem as pessoas sempre se relacionando entre si, daí, surge a possibilidade de relativização da dignidade diante do caso concreto a ser examinado. Novamente nos socorremos de Ingo Wolfgang Sarlet, que desenha a questão da restrição, a partir de uma reflexão sobrea dignidade, sua violação, e relação entre a dignidade do ofensor e do ofendido: “Parece-nos irrefutável que, na esfera das relações sociais, nos encontramos diuturnamente diante de situações nas quais a dignidade de uma determinada pessoa (e até mesmo de grupos de indivíduos) esteja sendo objeto de violação por parte de terceiros, de tal sorte que sempre se põe o problema – teórico e prático – de saber se é possível, com o escopo de proteger a dignidade de alguém, afetar a dignidade do ofensor, que, pela sua condição humana, é igualmente digno, mas que, ao mesmo tempo naquela circunstância, age de modo indigno e viola a dignidade dos seus semelhantes, ainda que tal comportamento não resulte – como já anunciado alhures – na perda da dignidade.” (SARLET, 2010: 64)
Atividade proposta
Leia o artigo Crise humanitária: Direito, moralidade e solidariedade publicado na Carta Capital e responda:
a) Para o autor, é verdade que a Europa é o continente que mais recebe refugiados? Aponte no texto a base de sua resposta.
b) De que forma o problema se relaciona com a dignidade humana?o é verdade que a Europa 
GABARITO
a) Não Global em geral, são os que recebem mais refugiados. Essa é uma inversão perversa dos fatos. Os que mais recebem refugia
b) A problemática se relaciona com a dignidade humana porque os refugiados hoje se colocam como um grupo vulnerável, cujos direitos estão sistematicamente ameaçados tanto em seus países de origem (em razão das condições econômicas e políticas que os levaram a fugir de suas casam de serem materialmente destituídos (o que lhes impede de 
ter meios materiais de subsistência), são alvo frequente de preconceitos.
Direitos Humanos / Aula 2 - Os Direitos Humanos – questões gerais
Relações entre as pessoas
No Fim da Era do Gelo em algum lugar na Bósnia Central, Ivan Ramadan nos conta uma história...
A dificuldade terminológica e as diferenças entre Direitos Humanos v. Direitos Humanitários v. Direitos Fundamentais v. Garantias
O que são os Direitos Humanos?
Todos parecem saber, mas têm muita dificuldade em determinar um conceito que dê conta de transmitir o sentido dos direitos humanos. Assista ao vídeo que tem a intenção de esclarecer um pouco o assunto:
Confira o que Vicente Barreto diz a respeito:
Ainda assim, podemos associar os direitos humanos de um lado a uma ideia de vulnerabilidade do ser humano e de outro à ideia de proteção.
Carlos Nino, um professor argentino, ao pensar sobre DH, chama atenção para o fato de que muitas vezes é o próprio homem que ameaça e põe em risco o outro.
“Esta importância dos Direitos Humanos está dada, como é evidente, pelo fato de que eles constituem uma ferramenta imprescindível para evitar um tipo de catástrofe que com frequência ameaça a vida humana. Sabemos, embora prefiramos não recordá-lo a todo o tempo, que nossa vida é permanentemente espreitada por infortúnios que podem aniquilar nossos planos mais firmes, nossas aspirações de maior alento, o objeto de nossos afetos mais profundos. Não é por ser óbvio que deixa de ser motivo de perplexidade o fato de que este caráter trágico da condição humana esteja dado pela fragilidade de nossa constituição biológica e pela instabilidade de nosso habitat ecológico, por obra de nós mesmos.” (1989:01)
Apesar da ausência de um conceito único, no mundo atual,
podemos ao menos concordar que os
Direitos Humanos são
direitos de TODAS as pessoas humanas
– HOMENS, MULHERES e CRIANÇAS -
em TODOS OS LUGARES,
sustentam-se na dignidade do ser humano
e obrigam os Estados e agentes públicos,
protegendo indivíduos e grupos.
Nesse sentido, não podem ser suprimidos, nem negados. São iguais e interdependentes: isto é, nenhum deles é mais importante que os demais e o gozo de qualquer um afeta o gozo dos demais.
Por exemplo, duvidamos que alguém com fome (vítima de violação do direito humano a uma alimentação adequada) possa exercer seu direito de voto de forma adequada, em igualdade de condições com alguém que não passe fome.
Há um uso de outros termos que podem ser, em um primeiro momento, confundidos como sinônimos. Entretanto, cada um deles é reservado para um contexto diferente.
Vejamos:
DIREITOS HUMANOS - A ONU define os direitos humanos como “garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana”.
Os direitos humanos são garantidos internacionalmente, juridicamente protegidos e universais. É a expressão que tem uso predominante na ordem jurídica internacional, especialmente nos tratados internacionais.
Em nossa disciplina, privilegiaremos o uso de “direitos humanos”, já que estamos focando nossos estudos na projeção dos direitos humanos na ordem internacional.
DIREITOS HUMANITÁRIOS - Dizem respeito aos direitos humanos considerados em contextos de guerra. Fazem parte do chamado Direito Internacional Humanitário. Alguns autores consideram que os direitos humanitários são desdobramentos dos direitos humanos.
DIREITOS FUNDAMENTAIS - Quando os direitos humanos se encontram inseridos na ordem jurídica interna são chamados de direitos fundamentais. Eles podem estar previstos na Constituição ou mesmo em leis esparsas. No Brasil, se encontram previstos no texto da Constituição Federal, especialmente no art. 5º. da Constituição de 1988.
“Art. 5º, caput da CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]”
Normalmente, são estudados como parte temática do Direito Constitucional e a doutrina contemporânea tem se esforçado em identificar uma “teoria dos direitos fundamentais”.
Podemos dizer que os direitos fundamentais são o núcleo inviolável de uma sociedade, voltados para assegurar e proteger a dignidade da pessoa humana, com o que não basta apenas seu reconhecimento formal nos instrumentos normativos, mas devem ser materialmente efetivados pelo Poder Público.
GARANTIAS - A expressão “garantias” muitas vezes acompanha os direitos humanos e fundamentais, inclusive na Constituição de 1988 são tratados em conjunto. Contudo, a ideia de garantia propõe a noção de instrumentos, de proteção.
As gerações ou dimensões dos DH
Assista ao vídeo sobre os Antecedentes Históricos e Atualidade dos Direitos Humanos, por Giuseppe Tosi, que integra o Curso de Agentes da Cidadania da DHnet e CDHMP:
Dhnet.org.br
Percebemos que os direitos humanos, como hoje são compreendidos, são resultado de um processo histórico que, ao longo do tempo, vai se sedimentando em avanços e retrocessos nesse tema.
Embora a proposta de geração de direitos tenha sido feita por Karel Vasak em 1979, em uma conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo (França), entre nós, a ideia de geração de direitos se tornou muito popular a partir da obra de Norberto Bobbio (1992).
Os direitos humanos (ou fundamentais) são organizados a partir de gerações. Esses direitos são associados a um núcleo de valores comuns, em geral referenciados ao lema da Revolução Francesa:
Apesar de simbólica e de seu valor pedagógico, a teoria da geração tem sido criticada uma vez que implica uma sucessão no tempo, como um movimento evolutivo, que não tem comprovação histórica, além de sugerir que uma geração possa vir a substituir outra – o que igualmente não é verdade.
Os direitos sociais, nos Estados Unidos, não são pacificamente reconhecidos como direitos fundamentais, além existir o problema da adoção da pena de morte em muitos estados membros da Federação norte-americana.
Desse modo, ao invés de gerações, tem sido proposta a sistematização pela noção de dimensões. As dimensões melhor se articulam com a ideia de indivisibilidade, conforme reconhecido pela ONU na Carta de 1948. As dimensões de direitos permitem uma compreensão de interdependência estrutural dos direitos humanos, implicando em uma teia de relaçõese complementariedade.
Nesse sentido, como alinhado por Lima (2003), note-se, por exemplo, como é difícil desvincular:
o direito à vida (1ª geração) do direito à saúde (2ª geração),
a liberdade de expressão (1ª geração) do direito à educação (2º geração),
o direito de voto (1ª geração) do direito à informação (4ª geração),
o direito de reunião (1ª geração) do direito de sindicalização (2ª geração),
o direito à propriedade (1ª geração) do direito ao meio ambiente sadio (3ª geração)
E assim por diante...
Por fim, “o ideal é considerar que todos os direitos fundamentais podem ser analisados e compreendidos em múltiplas dimensões, ou seja, na dimensão individual-liberal (primeira dimensão), na dimensão social (segunda dimensão), na dimensão de solidariedade (terceira dimensão) e na dimensão democrática (quarta dimensão). Não há qualquer hierarquia entre essas dimensões. Na verdade, elas fazem parte de uma mesma realidade dinâmica. Essa é a única forma de salvar a teoria das dimensões dos direitos fundamentais”. (LIMA, 2003)
As características dos DH
Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa, sendo certo que entre eles não há hierarquia.
No que tange as características dos DH, em geral, são apontadas:
A imprescritibilidade
O decurso do tempo ou a inércia do seu titular não levam a perda do direito em si (ainda que nos casos de direitos patrimoniais o tempo seja um fator importante, como por exemplo, o usucapião. Mesmo que se perda a propriedade de determinado bem imóvel, não se perde, em tese, o direito de ser proprietário em relação a outros bens).
A inalienabilidade
Não se pode alienar a condição humana, logo os direitos que dela decorrem também não o podem. Ainda que se possa alienar direitos patrimoniais, o direito a ter direitos patrimoniais é inalienável.
A irrenunciabilidade
São irrenunciáveis pois não se pode abrir mão de sua própria natureza.
A inviolabilidade
Não podem ser violados pela ordem jurídica, especialmente no plano interno, por leis infraconstitucionais, nem por atos administrativos de agente do Poder Público, sob pena de responsabilidade civil, penal e administrativa.
A universalidade
Alcançam a todos os seres humanos sem distinções.
A interdependência
Um direito depende de outro para sua realização, logo estão inter-relacionados, interligados.
Complementaridade
Devem ser observados não isoladamente, mas de forma conjunta e interativa com os demais direitos e o próprio ordenamento jurídico;
Historiciedade
São construções históricas.
Essencialidade
Os direitos humanos são inerentes ao ser humano, tendo por base sua dignidade (aspecto material), assumindo posição normativa de destaque (aspecto formal).
As limitações e colisões de DH
As limitações e colisões dos direitos humanos têm por pressuposto o fato dos direitos não serem absolutos, o que já se verifica pela existência de um em número de seus titulares.
Como explica André de Carvalho Ramos,
Assim, é possível que o exercício de um direito possa gerar algum ônus para o direito alheio.
Ao se falar em limitações, em geral, estamos tratando de discutir se é possível a imposição de limites ou restrições normativas ao direitos humanos? E, se possível, em que medida essas limitações são legítimas? As crises constitucionais, como estado de sítio e estado de emergência, justificam a restrição?
Por um lado, essas limitações podem ser impostas pela própria ordem normativa, sendo aí importante levar em conta o princípio da proporcionalidade como parâmetro para avaliar se a restrição é justificável.
Por outro lado, há limitações que são impostas pela existência de outros direitos – que aqui chamaremos de conflito ou colisão de direitos. Por exemplo, a direito de acesso à informação em oposição à privacidade ou intimidade.
Na colisão de direitos, há que se levar em conta a questão da ponderação de valores, no sentido de determinar no caso em concreto qual será o direito que deverá prevalecer em detrimento do outro.
George Marmelstein, em seu blog “Direitos Fundamentais” traz uma coletânea de seis casos pitorescos que envolvem conflitos de direitos, mas que apesar de serem curiosos, valem pelas discussões éticas e filosóficas que colocam. Vamos visitar esses casos?
E lembro que um dos casos – o do “arremesso do anão” - já foi estudado na aula anterior.
Clique aqui para acessar esse material.
Por fim, chamamos atenção para os questionamentos que André Carvalho Ramos faz:
“A visão isolada e estática de um direito é irreal e, via de regra, fruto de uma opção ideológica do intérprete, ansioso por justificar sua posição jurídica graças ao apelo a um “direito fundamental”, esquecendo, propositalmente, que outros direitos seriam afetados e mereceriam também proteção.
Esse cenário de interdependência e inter-relação dos direitos nos leva à seguinte dúvida: como justificar racionalmente a prevalência de um direito e o afastamento de outro? Devemos, assim, estudar como evitar o recurso retórico a fundamentações vazias, como o apelo à “dignidade humana” sem maior consideração sobre a existência, no outro polo, de direitos que serão afastados”. (RAMOS, 2012:109)
Atividade proposta
Assista ao vídeo da Casa do Saber, apresentando a Prof. Glenda Mezarobba. Em seguida, proponha o seu conceito de direitos humanos.
Você deverá assistir ao vídeo e, a partir do discurso da professora, propor um conceito de direitos humanos que dê conta de, pelo menos, d
Direitos Humanos / Aula 3 - A proteção de DH no Brasil
Defesa dos Direitos Humanos no Brasil
Antes de começarmos nossos estudos, vejamos o documentário "Extremos", de João Freire, realizado pela TV NBR, em 2011, que mostra como o Estado e a sociedade têm agido em defesa dos Direitos Humanos no Brasil, além de apresentar quais os desafios para as políticas públicas de promoção dos Direitos Humanos e como elas se integram com as ações de combate à pobreza.
Fonte: https://youtu.be/DoloDhFjg28
A reportagem esteve na Vila Estrutural, no DF, mostrando o trabalho realizado por catadores. Destaca, também, a disparidade com a riqueza do Plano Piloto da Capital Federal, Brasília. Esse é o pano de fundo da realidade brasileira que contempla muitos extremos, tanto que usualmente falamos em “muitos Brasils”.
O sistema brasileiro de direitos humanos/fundamentais
A proposta de estudar o sistema brasileiro de direitos humanos fundamentais, nesta aula, nos remete ao plano da Constituição Federal de 1988 e como ela se coloca como a moldura a ser levada em conta quando falamos na proteção de direitos no Brasil.
Nesse sentido, trataremos do tema em quatro momentos:
	
	
O sentido da Constituição de 1988;
	
	
A ideia de sistema jurídico;
	
	
A concepção de direitos fundamentais abrigados pela Constituição;
	
	
O rol dos direitos constitucionalmente consagrados.
O sentido da Constituição de 1988
"A Constituição é mais que um documento legal. É um documento com intenso significado simbólico e ideológico – refletindo tanto o que nós somos enquanto sociedade como o que nós queremos ser", nos ensina Flávia Piovesan (2016), ao citar dois autores estrangeiros, Joel Bakan e David Schneiderman.
Assim, a Constituição de 1988 representa a visão de mundo, de Estado, de sociedade e do cidadão que, pelo exercício do Poder Constituinte, adotamos como rota e destino para nosso país e povo.
Como afirma o preâmbulo da Constituição, somos um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias.
O sentido da Constituição de 1988
Por outro lado, tendo a cidadania e a dignidade da pessoa humana como fundamentos (art. 1º.), as ações do Estado brasileiro, quer no plano administrativo,legislativo ou jurisdicional, devem ser direcionados para:
Construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Garantia o desenvolvimento nacional.
Erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais.
Promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
São esses objetivos fundamentais determinados na Constituição, em seu art. 3º, que revelam um compromisso inafastável com a promoção e proteção dos direitos humanos como eixo de legitimidade do Estado Brasileiro.
A ideia de sistema jurídico
A Constituição também é um sistema jurídico e como tal dotada de organicidade e coerência.
A utilização dessa expressão “sistema jurídico”, como escreve John Rawls, implica “[...] uma ordem coercitiva de regras públicas endereçadas a pessoas racionais, com o propósito de regular certas condutas e assegurar os fundamentos de uma cooperação social. [...] A ordem jurídica é um sistema de regras públicas, endereçadas e pessoas racionais, no qual os preceitos de justiça são associados ao Estado de Direito." (1971: 235-236).
Para Paulo Bonavides, a ideia de sistema remete de plano a outras ideias, como: unidade, totalidade e complexidade.
Para ao autor:
E sendo um sistema, há um desdobramento imediato no plano da interpretação constitucional, que deverá assumir como referencial obrigatório, para a compreensão da norma, toda a dimensão dos princípios da Constituição que apontam para a maior realização possível da dignidade humana traduzidas nos direitos fundamentais.
A concepção de direitos humanos abrigados pela Constituição
A concepção de direitos humanos adotada pela Constituição está assentada no valor da dignidade humana – o que significa dizer que há uma valorização dos direitos e garantias fundamentais que funcionam como o eixo axiológico (isto é valorativo) de todo o sistema jurídico brasileiro, que deve, por sua vez, incorporar as exigências de justiça e de valores éticos.
Nos dizeres de Flávia Piovesan (2016), “constata-se, assim, uma nova topografia constitucional, na medida em que o texto de 1988, em seus primeiros capítulos, apresenta avançada Carta de direitos e garantias, elevando-os, inclusive, a claúsula pétrea, o que, mais uma vez, revela a vontade constitucional de priorizar os direitos e garantias fundamentais”.
Entretanto, continua a professora Piovesan (2016), “a Carta de 1988 não se atém apenas em alterar a topografia constitucional tradicional e elevar a cláusula pétrea os direitos e garantias individuais”.
Há uma inovação significativa, pois ao ampliar a dimensão dos direitos e garantias, a Constituição não apenas assegura direitos individuais, mas abarca também as diferentes dimensões dos direitos, como veremos em seguida.
Além do mais, na mesma linha adotada pela Lei Fundamental de Bonn de 1949 e pela Constituição Portuguesa de 1976, a Constituição de 1988, com a finalidade de reforçar a obrigatoriedade das normas que consagram direitos e garantias fundamentais, estabeleceu no parágrafo 1º. do art 5º que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.”
Isso quer dizer que a ideia do constituinte é evitar que as normas de direitos fundamentais sejam consideradas como “letra morta”. Sendo de aplicabilidade imediata, elas devem ser aplicadas de plano, já que por si só têm o condão de regular diretamente relações jurídicas.
Assim, não ficam sujeitas à edição de lei para lhes dar concretude. Ao contrário, é a lei que deve atentar para as prescrições de direitos fundamentais.
Atenção!
Dessa forma, este princípio da aplicabilidade de direitos fundamentais está vinculado à efetividade dos direitos fundamentais que vai dizer respeito a sua aptidão de produzir efeitos, mudando a realidade fática.
Por outro lado, a questão da efetividade se relaciona diretamente com o seu cumprimento forçado por intermédio do Poder Judiciário.
DIREITOS DE LIBERDADE
Para os direitos de liberdade, isto é, que demandam do Estado um não fazer, uma abstenção de conduta. Essa questão é menos problemática, já que a intervenção do juiz se dá no sentido de fazer cessar a violação à liberdade (por exemplo, o relaxamento de uma prisão ilegal).
DIREITOS SOCIAIS
Para os direitos sociais, que demandam sua implementação mediante principalmente políticas públicas, a aplicabilidade imediata não é tão fácil de ser obtida pela via judicial. Tanto é que, nesses casos, muito se discute sobre a possibilidade de implementação desses direitos pelo Poder Judiciário, como por exemplo, temos o debate sobre a judicialização da saúde.
O rol de direitos fundamentais constitucionalmente consagrados
No movimento expansivo da dignidade humana, o constituinte recepcionou e organizou os direitos fundamentais da seguinte maneira:
Direitos individuais
Também conhecidos como liberdades públicas, direitos negativos, liberais ou de 1a geração (art. 5o da CRFB/88) - são direitos que apresentam como principais características os indivíduos como titulares e controlar os abusos de poder estatais.
Direitos coletivos e difusos (ou de 3a geração)
Os coletivos caracterizam-se por serem direitos de um grupamento humano com interesses homogêneos, por exemplo o pleito dos sindicatos. Já os difusos são direitos que pertencem a todos, ou seja, não somos capazes de identificar quem são os seus titulares como, por exemplo, o meio ambiente.
Direitos da nacionalidade
Caracteriza-se como vínculo jurídico-político de uma pessoa com o Estado que nos permite dizer que esta pessoa faz parte do povo deste Estado. Ela pode ser de dois tipos: originária, que chamamos de natos, que no Brasil pode ser adquirida pelo critério misto, ou seja, pelo nascimento em nosso território (ius soli) ou pela consanguinidade (ius sangunis) de pai ou mãe brasileiros ou; derivada, que se adquire com um pedido ao governo brasileiro atendendo aos requisitos de se for originário de país de língua portuguesa: ter visto (autorização de permanência regular no Estado Brasileiro) de permanência, residência ininterrupta por um ano e idoneidade moral e, se originário de outro país: visto de permanência, quinze anos de residência ininterrupta e nenhuma condenação penal. (art. 12 da CRFB/88).
Direitos políticos
Segundo Pedro Lenza, “direitos políticos nada mais são do que instrumentos através dos quais a Constituição Federal garante o exercício da soberania popular atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente”. Esses direitos são basicamente exercidos pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto. O sufrágio (capacidade eleitoral ativa) determina o direito de eleger e ser eleito (capacidade eleitoral passiva). O voto é um direito público subjetivo que tem como características ser personalíssimo, sigiloso, obrigatório, livre, periódico e igual. Apenas para não confundir, vale lembrar que escrutínio significa a maneira pela qual se vota e que a legislação infraconstitucional referente aos direitos políticos é a Lei 4737/65.
Direitos sociais
São direitos sociais ou de segunda geração, se caracterizam por terem como titulares grupos específicos de pessoas como, por exemplo, crianças, mulheres, trabalhadores etc. Exigem do Estado um fazer, um animus de proteção efetiva na persecução desses direitos a fim de amenizarem as desigualdades sociais.
A cláusula de abertura dos direitos fundamentais
Para além do principio da aplicabilidade imediata, a Constituição adotou uma clausula de abertura no que toca ao reconhecimentos dos direitos fundamentais.
Essa cláusula também está prevista no art. 5º, em seu parágrafo segundo, estabelecendo que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou, de forma original, dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Isto quer dizer que há uma abertura material para o reconhecimento de outros direitos fundamentaisque topograficamente não estejam listados nem no catálogo do art. 5º, nem no Título II da Constituição e/ou nem mesmo na própria Constituição. Logo, podemos falar de uma não tipicidade que define um regime de direitos fundamentais.
Aliás, nesse mesmo sentido, já entendeu o STF que o rol dos direitos fundamentais (que são cláusulas pétreas – art. 60, §4o ,inciso IV da CRFB/88) é meramente exemplificativo, visto que podemos depreender novos direitos implicitamente como também pela incorporação de tratados internacionais de direitos humanos (art. 5o §§ 2o e 3o da CRFB/88).
A hierarquia dos tratados internacionais sobre direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro
Hoje temos o reconhecimento máximo, sob o plano normativo-formal, da prevalência dos DH como fonte de referência para o Direito brasileiro, bem como os Poderes do Estado e seus agentes e para toda a sociedade civil.
Além dos parágrafos 1º e 2º do artigo 5º, a Emenda 45 de 2004 acrescentou mais um parágrafo terceiro:
“ § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
O mencionado dispositivo é de extrema relevância, pois dá aos tratados de DH uma hierarquia normativa superior a da lei no sentido formal (lei ordinária ou lei complementar), fazendo com que os mesmos tenham o status de norma constitucional derivada (Emenda constitucional).
Para tanto, a aprovação deste tratado deverá observar procedimento mais qualificado, bastante rígido:
	
	
Aprovação em dois turnos;
	
	
Em cada casa em separado (Câmara e Senado Federal);
	
	
Quórum de três quintos dos membros.
Atenção!
Atente que, ao assumir o valor formal de emenda à Constituição, o tratado de DH se coloca como um parâmetro a ser seguido por todo o ordenamento jurídico que necessariamente deve observar seus preceitos sob pena de vício de inconstitucionalidade, passível de correção pelos mecanismos de controle de constitucionalidade adotados pela nossa ordem constitucional.
Logo, o legislador ordinário está vinculado à proteção desses direitos e, ao exercer a função legislativa, deverá tê-los como norte ao propor as regulamentações legais.
O sistema de garantias constitucionais dos direitos fundamentais
O mundo contemporâneo tem revelado sistemas de garantias dos direitos fundamentais variados, que incorporam muitas experiências diferentes, em distintos níveis normativos. Muitas delas se repetem nos diferentes países, especialmente se considerado o mundo ocidental. Veja-se, por exemplo, a proteção à liberdade de ir e vir internacionalmente adotada pelo Habeas Corpus ou instrumento equivalente.
A Constituição de 1988 prestigia uma estrutura protetiva, ao menos no plano normativo (já que nem sempre a previsão em texto de lei corresponde a uma real e efetiva proteção), bastante extensiva e que contempla um sistema de proteção que pode ser articulado em circunstâncias distintas, levando em conta o tipo de violação perpetrada contra o direito fundamental considerado, a estrutura procedimental oferecida e a quem compete acionar esse sistema de proteção.
Também podemos falar em um sistema genérico que não foi especialmente concebido para a proteção de direitos fundamentais, mas que tem nos direitos sua última finalidade.
E há, ainda, um sistema previsto explicitamente para a proteção dos direitos fundamentais que se compõe de figuras jurídicas constitucionais garantidoras dos direitos fundamentais (que trata das ações voltadas para proteção de direitos fundamentais, chamadas de remédios constitucionais); assim como do incidente de deslocamento de competência, como veremos adiante.
Em ambos os sistemas, ressalta-se a importância do Poder Judiciário como estrutura do Estado, à qual é atribuída a missão de zelar pela cidadania, com a entrega da prestação jurisdicional, em situações de conflito entre as pessoas, assegurando que os direitos fundamentais sejam respeitados.
O sistema genérico basicamente se organiza em torno de dois grandes eixos:
- O modelo de controle de constitucionalidade
- O acesso a justiça 
O modelo de controle de constitucionalidade
O controle de constitucionalidade tem por finalidade assegurar que toda a produção normativa do Estado seja feita em conformidade com a Constituição. Logo, o controle busca suprimir a incompatibilidade expressa ou implícita entre a norma infraconstitucional com dispositivo que conste expressamente na Constituição.
O sistema de controle adotado pela Carta de 1988, oferece um leque variado de possibilidades que leva em conta alguns critérios para a caracterização do modelo que adotamos.
O sistema brasileiro se admite um controle chamado de misto:
Controle político, que deve ser, em regra, preventivo, exercitado pelo próprio Poder Legislativo;
Controle jurisdicional que:
 é repressivo, e pode se dar na modalidade indireta (no bojo de qualquer ação qualquer) quando efetuado por todas as instâncias jurisdicionais;
 na modalidade direta, através das ações especialmente desenhadas para o controle de constitucionalidade – controle direto - cuja competência, na esfera federal, no que toca a Carta de 1988, é do Supremo Tribunal Federal.
Entre as ações de controle direto, há duas espécies tratam explicitamente da proteção dos direitos fundamentais. São elas:
- 
- Ação de descumprimento preceito fundamental - ADPF
A ADPF está prevista no art. 102, § 1º da Constituição. Tem por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público ou quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual, municipal, incluídos os anteriores à constituição.
Pela redação do caput do art. 102, é possível notar a enorme abrangência da ADPF que pode ser utilizada não apenas para censurar atos normativos, mas os atos administrativos e até os judiciais, inclusive atos normativos anteriores a promulgação da Constituição, como por exemplo, contratos administrativos, editais de licitação de concurso, decisões dos tribunais de contas. Logo, esses atos ficariam, também, sujeitos ao crivo do controle concentrado de constitucionalidade – o que não seria possível na tradicional via da Ação Direta de Inconstitucionalidade.
A doutrina tem entendido que os preceitos fundamentais são os princípios fundamentais, os direitos fundamentais, as cláusulas pétreas e os princípios constitucionais. Daí sua relevância no sistema de proteção dos DH. Hoje, a ADPF está regulamentada na Lei n. 9882.
- Ação direta interventiva (ADIN INTERVENTIVA)
A ação direta interventiva (art. 36, III da CRFB/88) é uma modalidade de controle de constitucionalidade concreto e concentrado para um conflito federativo, proposta na esfera federal pelo chefe do Ministério Público Federal, o Procurador-Geral da República, quando um dos Estados membros desrespeita lei federal ou um dos princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII da CRFB/88). Entre eles, se encontra a DIGNIDADE HUMANA.
O acesso à justiça
O acesso à justiça, traduzido aqui no direito de ação, pode ser considerado, também, ferramenta de proteção aos direitos fundamentais, nas violações em concreto da esfera jurídica do cidadão, já que, nos termos do art. 5º. inciso XXXV da Constituição, a lei poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
É o chamado de princípio da inafastabilidade da jurisdição que se traduz no direito da parte de acionar a Poder Judiciário, em busca de proteção/reparação ao direito fundamental violado. Esse direito se articula pelo princípio do devido processo legal que deverá ser observado como forma de se alcançar a solução adequada para a controvérsia apresentada ao juiz e que demanda uma resposta jurisdicional que é chamada de prestação jurisdicional.
As figuras jurídicas constitucionais garantidoras dos direitos fundamentais
Os remédios são instrumentosprocessuais que visam assegurar o exercício dos direitos fundamentais quando violados. São eles:
Significa “tomes o corpo do delito”. É uma ação gratuita que visa proteger a liberdade de locomoção, e dispensa a necessidade de advogado. Ela pode ser proposta a seu favor ou de terceiro, preventiva (quando se há ameaça à liberdade) ou repressivamente – art. 5o, inciso LXVIII da CRFB/88.
Ação que pode ser individual ou coletiva, que visa proteger direito líquido e certo, ou seja, aquele que pode ser provado de plano, isto é, só pode ser provado por provas documentais irrefutáveis e apto a ser exercido no momento da impetração, que não seja protegido por habeas corpus ou habeas data quando se sofre uma ilegalidade de poder por uma autoridade pública. (art. 5o, incisos LXIX e LXX da CRFB/88 e LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009.
Significa “tomes a informação”. Segundo José Afonso da Silva “tem por objeto proteger a esfera íntima dos indivíduos contra: a) usos abusivos de registro de dados pessoais coletados por meios fraudulentos, desleais ou ilícitos; b) introdução nesse registro de dados sensíveis; c) conservação de dados falsos ou com fins diversos autorizados em lei”. É uma ação gratuita. (art. 5o , inciso LXXII da CRFB/88, Lei 9507/97 e súmula 2 do STJ).
Remédio que objetiva garantir a toda pessoa a eficácia plena de direitos fundamentais assegurados pela Constituição, de forma que busque obrigar o Poder Público a estabelecer norma regulamentadora – art. 5o, inciso LXXI da CRFB/88 LEI Nº 13.300, DE 23 DE JUNHO DE 2016.
Ação gratuita própria de cidadão em sentido estrito que visa proteger atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades que o Estado participe, a moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico – art. 5o , inciso LXXIII da CRFB/88 e lei 4717/65 e súmula 35 do STF.
Remédio cabível para defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e de interesses difusos e coletivos e tem a sua única previsão constitucional no art. 129, inciso III. (Lei 7347/85).
O incidente de deslocamento de competência
O Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) foi trazido pela Emenda Constitucional no. 45 de 2004. Entre as várias novidades introduzidas pela emenda, o IDC permite ao Procurador-Geral da República, nos casos de grave violação aos Direitos Humanos, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, a remessa do caso para a Justiça Federal que passaria a ter competência para processar a violação.
Confira o texto constitucional:
Desde a sua origem, em 2004, o incidente não tem sido muito frequente, o que nos leva a indagar o motivo de seu baixo grau de adesão, já que as violações aos DH, infelizmente, na atualidade, não são raras.
Atenção!
Aliás, essa crítica de baixa efetividade pode ser formulada para todo o sistema de proteção dos direitos fundamentais, eis que, na atualidade, o grande desafio que se coloca não é mais o reconhecimento normativo, a positivação dos DH, mas sim como realmente protegê-los, de modo que se possa consolidar na vida de todos e de cada um uma dimensão real e plenamente vivenciada da dignidade humana.
Ainda assim, com a previsão normativa do incidente marca-se o seu valor simbólico no sentido de apontar o compromisso do Estado Brasileiro com os DH.
Atividade proposta
Assista à reportagem sobre a crise dos haitianos no Brasil:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/05/estamos-em-emergencia-diz-padre-que-acolhe-haitianos-em-sp.html
Sob o aspecto dos direitos humanos, aponte duas questões que se colocam como desafiadoras para a proteção dos direitos.
GABARITO
Você também pode formular sua resposta levando em conta os diferentes aspectos que se articulam com a questão da
Direitos Humanos / Aula 4 - A comunidade internacional e os DH
DH e a comunidade internacional
Um dos grandes desafios das sociedades contemporâneas, que se desdobra em suas ordens jurídicas, é a proteção dos direitos humanos, o que ganha especial relevo na esfera internacional e na forma como os Estados nela se articulam e se posicionam.
Tal relevância, por sua vez, pode ter seu marco temporal moderno na Segunda Guerra Mundial, que lançou as bases para a consolidação de um discurso de proteção ao ser humano para além das fronteiras geográficas do Estado Nação.
Por outro lado, esses desafios, na atualidade, podem ser sistematizados em quatro tipos que podem se combinar:
• As questões de violações em razão de conflitos bélicos internos ou mesmo externos;
• O baixo grau de institucionalidade de certos estados que colocam em risco a própria noção do rule of law.
Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;
• Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;
• Os riscos aos regimes democráticos que compõe o sistema internacional.
A proteção de DH em contextos históricos distintos
A proteção de DH tem contornos distintos se levarmos em conta os contextos históricos em que essa discussão se coloca.
Nesse sentido, o desenho da proteção de DH tem se influenciado também pelos tipos de violações aos direitos humanos – o que se traduzirá em redes de política externa e compromissos jurídico-políticos assumidos frente a comunidade internacional e seus organismos. Esses arranjos integram o que chamamos de Direito Internacional Público.
Podemos ainda dizer que o Direito Internacional Público passou por um desenvolvimento histórico agrupado, segundo Jorge Miranda (2000), em oito momentos distintos e como consequência segue atualmente algumas tendências:
UNIVERSALIZAÇÃO - O Direito internacional é um Direito universal e não é mais um Direito euroamericano a partir da desintegração dos impérios marítimos europeus e do império continental soviético.
REGIONALIZAÇÃO - Solidariedade e cooperação entre Estados dentro de determinado espaço regional. Como exemplo, cita-se a criação da União Europeia.
INSTITUCIONALIZAÇÃO - O Direito Internacional deixa de ser um direito das relações entre Estados para se tornar mais presente nos organismos internacionais, como a ONU.
FUNCIONALIZAÇÃO - O Direito Internacional extravasa a esfera das relações externas e penetra nas matérias pertencentes tanto ao direito interno como ao próprio contexto das relações internacionais.
HUMANIZAÇÃO - Aspecto humanizador do Direito Internacional que se apresenta com o surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos, desde a Carta das Nações Unidas em 1945, o desenvolvimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948, e os vários tratados internacionais surgidos no pós-guerra, que se voltaram para a proteção dos direitos humanos.
OBJETIVAÇÃO - Criação de regras e normas internacionais, presentes no moderno Direito Internacional, que são independentes e livres da vontade dos Estados.
CODIFICAÇÃO - A Carta das Nações Unidas prescreveu em seu artigo 13 o incentivo ao desenvolvimento do Direito Internacional e sua codificação o que é realizado pelas comissões de Direito Internacional e de Direitos Humanos da própria ONU.
JURISDICIONALIZAÇÃO - Com o desenvolvimento das regras de proteção internacional dos direitos humanos aumenta-se a necessidade de criação de tribunais internacionais, como por exemplo o Tribunal Penal Internacional.
A Organização das Nações Unidas
Hoje, a grande rede de proteção de DH e que um valor simbólico no cenário internacional é a Organização das Nações Unidas (ONU).
A ONU, abreviação de Organização das Nações Unidas (UN, United Nations, em inglês) é uma instituição supranacional, isto é, além dos Estados nação, tem por objetivo principal garantir a paz no mundo mediante o relacionamento amistoso entre os países. Está situada em Nova York, nos Estados Unidos.
A Organização das Nações Unidas
Essa organização tem com objetivos:
• Salvar as gerações futuras do flagelo da guerra;
• Reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais;
• Criar as condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações emanadasde tratados e outras fontes do direito internacional possam ser mantidos;
• Promover o progresso social e melhores padrões de vida num cenário de maior liberdade.
Infelizmente, embora em muitos casos ela não tenha atingido seus objetivos pacifistas, a ONU desempenha, também, um importante papel humanitário, buscando amenizar as desigualdades sociais no mundo, fomentando ações que buscam, por exemplo, combater a fome e a desnutrição.
Apesar de sua importância no mundo contemporâneo, como grande defensora de DH, cabe ressaltar que a ONU não dispõe de poder de coerção (salvo para os casos relacionados às ameaças contra a paz e à segurança internacionais e que estão previstos no capítulo VII da Carta).
Ainda assim, suas decisões tem importância pelo significado ético-humanitário.
A Carta das Nações Unidas
A Carta das Nações Unidas de 1948, ou também chamada de Carta de São Francisco, é o documento que concebeu a ONU e procurou estabelecer, como uma de suas prioridades, a criação de um sistema internacional que protegesse os Direitos Humanos de forma ampla.
Adotada e assinada em 26 de junho de 1945, passou a ter vigência no dia 24 de outubro de 1945. A Carta estimula os direitos às liberdades fundamentais sem distinção por motivos de sexo, raça, religião ou idioma.
No entanto, tal propósito se tornou, e ainda se torna, dificultoso pela necessidade de não ingerência dessas determinações dentro dos assuntos internos dos Estados signatários da Carta.
O Tribunal Penal Internacional – TPI
O Tribunal Penal Internacional/TPI, conhecido como Internacional Criminal Court (ICC) em inglês ou Court Pénale Internacionale (CPI) em francês, é uma organização independente, não pertencendo a ONU e que foi criada pelo Estatuto de Roma em 2002.  Disponível em:
Tem por finalidade processar e julgar, subsidiariamente ao Poder Judicial dos Estados (isto é, se não houver julgamento interno pelo Estado) acusados de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão.
GENOCÍDIO - Com o desenvolvimento das regras de proteção internacional dos direitos humanos aumenta-se a necessidade de criação de tribunais internacionais, como por exemplo o Tribunal Penal Internacional.
CRIMES CONTRA A HUMANIDADE - Estão previstos no art. 7º e são entendidos quando cometidos no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque. Caracterizam-se por:
• Homicídio;
• Extermínio;
• Escravidão;
• Deportação ou transferência forçada de uma população;
• Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional;
• Tortura;
• Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;
• Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal;
• Desaparecimento forçado de pessoas;
• Crime de apartheid;
• Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.
CRIMES DE GUERRA - São definidos pelo Estatuto tendo como base as violações graves do direito internacional humanitário contidas principalmente nas Convenções de Genebra e seus Protocolos adicionais de 1977. Pressupõe-se que sejam cometidos dentro de um contexto de guerra e que o crime tenha relação com esta. O que diferencia os crimes de guerra dos crimes contra a humanidade é a necessidade de existência de um conflito, tenha ele caráter internacional ou não.
CRIMES DE AGRESSÃO - Tendo em vista a controvérsia que existe a seu respeito, o Estatuto de Roma deixou a questão por ainda ser definida.
Continuando nosso estudo sobre o TPI, vamos nos apropriar das explicações que o Itamaraty nos oferece:
“O Brasil apoiou a criação do Tribunal Penal Internacional, por entender que uma corte penal eficiente, imparcial e independente representaria um grande avanço na luta contra a impunidade pelos mais graves crimes internacionais. O Governo brasileiro participou ativamente dos trabalhos preparatórios e da Conferência de Roma de 1998, na qual foi adotado o Estatuto do TPI.
Com sede em Haia (Países Baixos), o TPI iniciou suas atividades em julho de 2002, quando da 60ª ratificação ao Estatuto [...]. O TPI julga apenas indivíduos – diferentemente da Corte Internacional de Justiça, que examina litígios entre Estados. A existência do Tribunal contribui para prevenir a ocorrência de violações dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e de ameaças contra a paz e a segurança internacionais. O Brasil depositou seu instrumento de ratificação ao Estatuto de Roma em 20 de julho de 2002, sendo incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 4.377, de 25 de setembro de 2002.”
O Itamaraty adverte “como qualquer instrumento jurídico internacional, o Estatuto de Roma é produto de seu tempo e é passível de ajustes para seu aprimoramento.”
E ainda para o Itamaraty, “O Brasil tem exercido papel de liderança nas reuniões em que os Estados partes tratam de ajustes com vistas a promover maior aceitação e a consolidação do TPI – a exemplo das discussões que levaram à adoção, em 2010, na Conferência de Revisão de Campala (Uganda), das emendas relativas ao crime de agressão, que estabelecem as condições para que o TPI possa exercer sua jurisdição sobre esse crime”.
Para alguns autores o TPI marca uma nova era na História do Direito internacional e das Relações Internacionais.
Intervenções Humanitárias
Conflitos geram impactos sobre os direitos humanos – considerados, no mundo contemporâneo, como eixo de proteção da pessoa humana, tanto na esfera interna dos Estados quanto na esfera internacional.
Essas são as perguntas que se colocam quando estudamos as intervenções humanitárias e como tais ações repercutem na esfera de soberania nacional dos estados. E as respostas não são simples, pois não existe uma norma que autorize expressamente a intervenção humanitária.
Muito pelo contrário: a Carta da ONU estabelece o princípio da não intervenção como norteador da conduta dos Estados no âmbito internacional.
A Carta, em seu artigo segundo, itens 3 e 4, estabelece que “todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais” e que “todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas”.
No entanto, no mesmo documento, o artigo 42 do capítulo VII preconiza o uso da força (aérea, naval ou terrestre) para manter ou reestabelecer a paz e a segurança.
Tais dispositivos nos permitem concluir que se não se cita explicitamente na Carta a intervenção armada com justificativa humanitária, também não se cita nenhuma proibição à guerra, seja ela justa ou injusta. Dessa forma, a resposta para as intervenções humanitárias não está estampada na norma de Direito Internacional.
Há, porém, que sustente que é possível estabelecer duas exceções a esse princípio:
I. legítima defesa individual ou coletiva;
II. quando o Conselho de Segurança da ONU (CS) determinar que uma situação constitui uma ameaça à paz ou segurança internacional.
A questão fica ainda mais complexa quando as intervenções, ditas humanitárias, e geral com o uso de força bélica, ocorrem sem que o estado que sofre a intervenção tenha solicitado a presença de ajuda externa, comono caso do Kosovo em 1999, ou na Líbia em 2011, ou mesmo quando não houver a autorização do CS da ONU.
Para aqueles que admitem as intervenções, quando há o intuito protetivo e ações respaldadas no discurso da necessidade de defesa de DH, sustenta-se que mais importante do que a soberania de um estado que agride seus próprios habitantes é a proteção aos direitos.
Nesse cenário, a intervenção humanitária não deve ser vista somente como um instrumento justificador para que potências econômicas e militares aproveitem de sua superioridade para adentrar o território de outro estado que possua, por exemplo, riquezas de interesse do Estado interventor. Há, nessas ações, a responsabilidade de proteger, baseado nos DH, que impõe uma obrigação de agir em prol dessa proteção.
ATIVIDADE
Assista à reportagem Tribunal Penal Internacional, em Haia, acusa líder islâmico do mali de crime de guerra:

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