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meu MATERIAL deESTUDO jurídicomeu site com TESES SOBRE OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS SEGUNDO O STJ Compartilhe este material Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com TESES SOBRE OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS SEGUNDO O STJ – PARTE I 1) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma Recursal dos Juizados Especiais. No âmbito dos Juizados Especiais criminais, os recursos são julgados por turmas compostas por três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição e reunidos na sede do respectivo juizado (art. 82 da Lei 9.099/95). Caso a decisão proferida pela turma enseje a impetração de habeas corpus, o órgão competente para julgar a existência ou não de constrangimento ilegal é o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal, a depender da situação, pois os juízes que integram a turma são subordinados a esses mesmos tribunais. Esta é a tese firmada pelo STJ com fundamento em inúmeros julgados como o seguinte: “Inviável o conhecimento de habeas corpus impetrado contra acórdão de Turma Recursal de Juizado Especial, ante a incompetência deste Tribunal Superior para o julgamento do mandamus nos termos do artigo 105, I, c, da Constituição Federal, já que aquele não se qualifica como Tribunal e seus juízes não são designados como Desembargadores” (HC 369.717/MS, DJe 03/05/2017). A tese vem na esteira de decisões semelhantes proferidas pelo Supremo Tribunal Federal: “A competência para julgar habeas corpus impetrado contra ato de integrantes de turmas recursais de juizados especiais é do Tribunal de Justiça ou do Tribunal Regional Federal, conforme o caso. Precedentes” (ARE 676.275 AgR/MS, DJe 01/08/2012). Note-se que o STF havia sumulado o entendimento de que competia ao próprio tribunal o julgamento de habeas corpus Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com impetrado contra decisão de turma recursal (súmula 690). Mas, desde o julgamento do HC 86.834/SP (j. 23/08/2006), os termos da súmula estão superados. 2) A aceitação pelo paciente do benefício da suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei n. 9.099/95, não inviabiliza a impetração de habeas corpus nem prejudica seu exame, tendo em vista a possibilidade de se retomar o curso da ação penal caso as condições impostas sejam descumpridas. O art. 89 da Lei 9.099/95 contempla a suspensão condicional do processo, consistente em obstar, por dois a quatro anos, o andamento do processo relativo a crime a que a lei comine pena mínima não superior a um ano. Uma vez que aceite o benefício, o agente é submetido a um período de prova com as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de frequentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. Não obstante a aceitação da proposta oferecida pelo Ministério Público, é possível que o acusado busque, por exemplo, o trancamento da ação penal por ausência de justa causa. Isto, segundo a tese firmada pelo STJ, pode ser feito por meio do habeas corpus porque, embora a ação penal tenha sido suspensa – o que afasta a possibilidade imediata de cerceamento do direito de ir e vir –, nada impede sua retomada no caso de revogação do benefício processual: “Eventual aceitação pela paciente do benefício da suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, não inviabiliza a impetração de habeas corpus nem prejudica seu exame. De fato, embora não se trate diretamente do direito ambulatorial, mostra-se cabível a impetração, uma vez que, acaso descumpridas as condições impostas, a ação Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com penal poderá retomar o seu curso normal, acarretando, ao final, a aplicação de pena privativa de liberdade, o que repercute, inevitavelmente, em seu direito de ir e vir” (HC 402.718/SP, DJe 25/08/2017). 3) No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, não se exige a intimação pessoal do defensor público, admitindo- se a intimação na sessão de julgamento ou pela imprensa oficial. Dispõe o art. 44, inc. I, da Lei Complementar 80/94, que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, que constitui-se em prerrogativa de seus membros “receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos”. Este diploma, pela Lei 9.271/96, acabou se incorporando ao texto do Código de Processo Penal, que, no art. 370, § 4º, estabelece: “A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal”. No conceito de defensor nomeado deve ser incluído não apenas o Defensor Público, mas também aquele que, não compondo a instituição (Defensoria Pública), atua na condição de defensor dativo. Ocorre que, tratando-se de intimações no âmbito dos Juizados Especiais, cujos processos são norteados pelos princípios da simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, o STJ firmou a tese de que a intimação pessoal é dispensável, bastando que o defensor público tome ciência na própria sessão de julgamento ou mesmo pela imprensa oficial: “4. A sistemática adotada nos Juizados Especiais Cível e Federal tem o escopo de assegurar a celeridade processual e a devida prestação jurisdicional (art. 5º, LXXVIII, da CF/88). A Lei dos Juizados Especiais, nos seus arts. 19, § 1º, e 45, prevê que "dos atos praticados na audiência, considerar-se-ão desde logo cientes as partes" e "as partes serão intimadas da data da Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com sessão de julgamento". 5. O Fórum Nacional dos Juizados Especiais editou o Enunciado n. 85 estabelecendo que "o prazo para recorrer da decisão da Turma Recursal fluirá da data do julgamento". Assim, verifica-se que os acórdãos de julgamento dos recursos dirigidos ao Colégio Recursal são publicados na própria sessão de julgamento, o que permite, neste momento, o início do prazo para a interposição de recurso” (RHC 54.206/SP, DJe 09/11/2016). 4) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua incidência. Ao dispor sobre as condições a que fica subordinado o agente que aceita a proposta de suspensão do processo, a Lei 9.099/95 as especifica no § 1º do art. 89 (reparação do dano; proibição de frequentar determinados lugares; proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades) e, no § 2º, estabelece a possibilidade de que o juiz especifique outras condições adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. O disposto no § 2º proporciona ao juiz a possibilidade de estabelecer condições que, embora não expressas na lei, sejam adequadas às peculiaridades do caso concreto. Mas, como se trata de fórmula genérica, a extensão das condições nela baseadas é objeto de discussãona qual há quem argumente não ser possível a imposição de medidas equivalentes a sanções penais, pois isso viola o devido processo legal. No STJ, a 6ª Turma costumava afastar a possibilidade: “A imposição de prestação pecuniária como condição à suspensão condicional do processo carece de comando legal Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com autorizador. Precedentes da 6ª Turma” (AgRg no REsp n. 1.492.740/RS, 6ª T., DJe 03/02/2015). Posteriormente, no entanto, aquele órgão colegiado adequou sua orientação à que já vinha sendo aplicada pela 5ª Turma, o que levou o tribunal, após inúmeros julgamentos, a estabelecer a tese de que, se adequadas aos fatos e à situação pessoal do agente, as condições podem equivaler, na prática, a sanções penais sem que isso constitua ilegalidade: “1. Nos termos do que dispõe o art. 89 da Lei n. 9.099/1995, é facultado ao magistrado estabelecer outras condições para a suspensão condicional do processo, além das previstas nos incisos I a IV do § 1º do art. 89 da legislação de regência, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. 2. Não há óbice legal, segundo o art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, a que o réu assuma obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a penas restritivas de direitos (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), visto que tais condições são apenas alternativa colocada à sua disposição para evitar sua sujeição a um processo penal e cuja aceitação depende de sua livre vontade” (AgRg no RHC 83.810/PR, DJe 29/08/2017). 5) A perda do valor da fiança constitui legítima condição do sursis processual, nos termos do art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/95. Assim como ocorre sobre condições equivalentes a sanções penais, há quem sustente ser incabível a imposição da perda da fiança como condição para a suspensão do processo, não só porque o art. 89 da Lei 9.099/95 não é expresso, mas também porque o art. 341 do Código de Processo Penal não classifica esta situação como quebra do valor da fiança. O STJ, no entanto, firmou tese em sentido contrário, admitindo a imposição da perda: “4. "A perda do valor da fiança constitui legítima condição do sursis processual, nos termos do artigo 89, § 2º, da Lei 9.099/1995" (AgRg no RHC 69.873/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 2/8/2016, DJe 10/8/2016) Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com 5. As condições impostas pelo Magistrado de 1º grau – prestação de serviços à comunidade ou prestação pecuniária e perda da fiança – estão em perfeita consonância com os princípios da proporcionalidade e da adequação, que regem o instituto da suspensão condicional do processo” (RHC 64.083/RS, DJe 01/08/2017). 6) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. Esta tese reitera os termos da súmula 536 do próprio STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. O art. 41 da Lei nº 11.340/06 é claro ao dispor que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95. A resistência, porém, ao afastamento daquela lei, e, consequentemente, de seus institutos despenalizadores, foi grande. Exemplo disso pode ser visto em algumas das conclusões extraídas do Encontro de Juízes dos Juizados Especiais Criminais e de Turmas Recursais do Estado do Rio de Janeiro, realizado em Búzios: (a) “É inconstitucional o art. 41 da Lei 11.340/2006 ao afastar os institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995 para crimes que se enquadram na definição de menor potencial ofensivo, na forma dos arts. 98, I, e 5.º, I, da CF”; (b) “São aplicáveis os institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995 aos crimes abrangidos pela Lei 11.340/2006 quando o limite máximo da pena privativa de liberdade cominada em abstrato se confinar com os limites previstos no art. 61 da Lei 9.099/1995, com a redação que lhe deu a Lei 11.313/2006” (Os enunciados foram publicados Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com no DOE do Rio de Janeiro, em 11.09.2006. Podem ser consultados, ainda, no Informativo 37/2006, da Adv/Coad). Sobre esse entendimento, todavia, foi apontada uma série de equívocos, dentre eles: (a) torna letra morta o art. 41 da Lei nº 11.340/06, que é claro ao afastar o JECrim dos crimes perpetrados contra a mulher; (b) transforma o juiz em legislador. Não que se pretenda reduzir a figura do juiz a um mero e frio espectador, verdadeiro autômato na aplicação da lei. Fosse assim, mais prático seria sua substituição por um computador. Mas também não se admite que confira ao texto legal, fugindo mesmo de sua análise gramatical, uma interpretação tão apartada da vontade do legislador. Seria quase que um “direito alternativo” às avessas, pois opta por uma interpretação da lei totalmente contrária a seu espírito, em franco detrimento da mulher; (c) ignora um dos métodos de interpretação da norma que é, exatamente, o método lógico-sistemático, a reclamar do intérprete que leve em conta o sistema em que se insere o texto e procure estabelecer uma concatenação entre ele (o texto) e os demais elementos da lei. Afinal, por intermédio de uma norma se conhece o sentido de outra. Nenhuma análise deve ser feita com base apenas em uma parte da lei, mas tomando-a como um todo; (d) esquece dos fins sociais da lei, que devem ser considerados em sua interpretação. Na ADIn 4.424/DF e na ADC 19/DF, o STF considerou constitucional a vedação disposta no art. 41, afastando, de vez, qualquer argumento contrário à aplicação do dispositivo. Com esta mesma orientação, o STJ editou a súmula nº 536. 7) A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos para fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da responsabilidade civil. Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com Consiste a transação penal na composição entre o Ministério Público e o autor do fato delituoso, ao qual são propostas medidas que equivalem a penas restritivas de direitos ou a multa. É cabível se à infração penal for cominada pena não superior a dois anos. Como se trata de composição, ou seja, o autor do fato deve aceitar os termos propostos pelo Ministério Público, que não chega nem mesmo a oferecer denúncia, as medidas impostas não são consideradas, em termos estritos, sanções penais, às quais o agente só se submete por meio de condenação, que por sua vez pressupõe o devido processo legal. Em razão disso, embora a transação possa fazer com que o agente cumpra medida na prática equivalente a uma pena (como prestação de serviços à comunidade ou pagamento de prestação pecuniária), não pode fazer incidir nenhum dos efeitos decorrentes da pena. Quem aceita a transação penal não reconhece a culpa (lato sensu), não pode depois ser considerado reincidente, nem é marcado por maus antecedentes: “O instituto pré-processual da transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos para fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da responsabilidade civil. Precedentes” (REsp 1.327.897/MA, DJe 15/12/2016). 8) A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei n. 9.099/1995não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. Os efeitos do descumprimento da transação penal sempre foram objeto de controvérsia. Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com Para parte da doutrina, uma vez homologada a transação, a única possibilidade, no caso de descumprimento, é a execução da multa, caso tenha sido a modalidade aplicada. Se a transação envolvia penas restritivas de direitos, nenhuma providência pode ser adotada, pois o ato de homologação põe fim ao procedimento, que não pode ser retomado. Neste sentido, Guilherme de Souza Nucci: “Não cumprimento do acordo: conforme a atual redação da Lei 9.099/95 nada há a fazer, em nossa visão, a não ser executar o que for possível. (...) A transação homologada pelo juiz fez cessar, por acordo, o trâmite do procedimento, ainda na fase preliminar. A decisão é terminativa e meramente declaratória. Transitando em julgado, não há como ser revista, para qualquer outra alternativa, como, por exemplo, permitir o oferecimento da denúncia ou queixa e prosseguimento do processo. (...) Há uma lacuna, que precisaria ser solucionada por lei, indicando um caminho plausível para esse descumprimento. Por ora, nada há a fazer. Resta aguardar a prescrição da penalidade imposta e não cumprida” (Leis Penais e Processuais Penais Comentadas – 10 ed. – vol. 2. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 547/548). Os tribunais superiores, no entanto, têm se orientado em sentido oposto. O STF emitiu a súmula vinculante 35 exatamente para estabelecer que “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial”. O mesmo caminho seguiu o STJ, que firmou a tese de que, descumprida a transação penal, é possível ao Ministério Público oferecer denúncia. E o tribunal já decidiu também que, da Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com mesma forma como o descumprimento da transação não impede a deflagração da ação penal, se provada a inexistência do crime na esfera administrativa a não formação da coisa julgada permite o afastamento dos efeitos da proposta: “1. A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de renúncia ou requisição de inquérito policial (Súmula Vinculante 35/STF). 2. No caso, após a aceitação da proposta de transação penal pelo recorrente, sobreveio o julgamento dos recursos administrativos anulando os autos de infrações que apuraram a prática de infrações ambientais, ante a conclusão de ausência de danos ambientais. 3. Assim como a sentença homologatória de transação penal não é capaz de obstar o prosseguimento da ação penal em caso de descumprimento das condições impostas, por não fazer coisa julgada material, desaparecendo os fundamentos fáticos que ensejaram a lavratura do termo circunstanciado, por não existir infração penal ambiental, devem ser afastados os efeitos da proposta de transação penal aceita pelo imputado e homologada por sentença. 4. Recurso provido para afastar os efeitos da proposta de transação penal realizada nos Autos n. 0050165-16.2010.8.26.0547, do Juizado Especial Cível e Criminal da comarca de Santa Rita do Passa Quatro/SP, em especial, a restrição prevista no art. 76, § 4º, da Lei n. 9.099/1995” (RHC 55.924/SP, DJe 24/06/2015). 9) O prazo de 5 (cinco) anos para a concessão de nova transação penal, previsto no art. 76, § 2º, inciso II, da Lei n. 9.099/95, aplica-se, por analogia, à suspensão condicional do processo. O caput do art. 89 da Lei 9.099/95 estabelece a possibilidade de suspensão condicional do processo desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com por outro crime, bem como se estiverem presentes os requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). Um dos requisitos para a concessão do sursis, conforme dispõe o art. 77, inc. II, do Código Penal, é que “a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício”. Mas, na análise do caso concreto, quais critérios podem ser utilizados para averiguar se o autor do fato criminoso faz jus à medida despenalizadora? Suponhamos que “A” tenha sido surpreendido cometendo o crime de furto simples (art. 155, caput, do Código Penal). Como a pena, no caso, varia de um a quatro anos, o Ministério Público ofereceu a suspensão condicional do processo, que, aceita, foi cumprida até o final. Mas, passado algum tempo, o agente repete o ato. Pode ser beneficiado novamente? A Lei 9.099/95 é silente a respeito do prazo mínimo entre dois benefícios de suspensão condicional do processo, ao contrário do que ocorre na transação penal, que, segundo o art. 76, § 2º, inc. II, não pode ser oferecida se comprovado que o agente teve o mesmo benefício nos cinco anos anteriores. Diante da omissão, o STJ firmou o entendimento de que, por analogia, o prazo do art. 76 pode ser utilizado para negar a suspensão condicional do processo a quem foi beneficiado mas voltou a delinquir: “1. De acordo com o artigo 89 da Lei dos Juizados Especiais, para a concessão da suspensão condicional do processo é necessário, além do preenchimento dos requisitos objetivos, o atendimento às exigências de ordem subjetiva, dispostas no artigo 77 do Código Penal, referentes à adequação da medida em face da culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do agente, bem como dos motivos e circunstâncias do delito. Precedentes. 2. No caso dos autos, foram declinadas justificativas plausíveis para a negativa do sursis processual, uma vez que a existência de processo Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com anterior, por crime idêntico, no qual o recorrente já havia sido beneficiado com a medida, revela que a benesse não se mostra adequada, consoante o disposto no artigo 77 do Código Penal. 3. Os fatos assestados ao recorrente no presente feito ocorreram em 2.9.2015, tendo a sua punibilidade sido extinta no processo anteriormente deflagrado ante o cumprimento das condições a ele impostas aos 2.9.2014, o que reforça a impossibilidade de concessão do benefício, por analogia ao disposto no artigo 76, § 2º, inciso II, da Lei dos Juizados Especiais. Doutrina. Precedente do STJ” (AgRg no RHC 83.511/CE, DJe 27/09/2017). 10) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. Uma vez concluída a investigação, o Ministério Público forma sua opinio delicti com base nas informações angariadas até aquele momento. Se, por exemplo, alguém comparece na delegacia de polícia afirmando que “A”, mediante violência, subtraiu-lhe a carteira, e o inquérito policial demonstra, por elementos diversos, que o relato é factível, o Ministério Público oferece denúncia pelo cometimento do crime de roubo. Não se descarta, no entanto, que, durante a instrução processual, a defesado acusado prove que não se tratou efetivamente de violência contra a pessoa, mas apenas de um gesto abrupto para retirar do bolso a carteira da vítima. Neste caso, a prova produzida pode acarretar a desclassificação do crime de roubo para o de furto simples, cuja pena admite a suspensão condicional do processo. Em situações como a narrada, deve-se proporcionar ao acusado o benefício da suspensão condicional do processo – caso, evidentemente, cumpra os requisitos de que trata o art. 89 da Lei 9.099/95. Além disso, é também cabível o benefício se a pretensão punitiva for apenas parcialmente procedente. É o caso, por Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com exemplo, de ter sido incluída na imputação de um furto determinada qualificadora que, na sentença, o juiz considere mal provada, embora a subtração tenha sido inconteste. Nesta situação, a parcial procedência da ação penal faz com que o benefício da suspensão condicional do processo seja cabível, razão pela qual deve o juiz proporcioná-lo. A tese firmada pelo STJ reforça os termos da súmula 337 do próprio tribunal: “2. Conforme a dicção da Súmula 337/STJ, "é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva". Diante disso, deve ser aberto prazo para o Ministério Público, a fim de que verifique a possibilidade de oferecimento dos benefícios previstos na Lei n. 9.099/1995, não cabendo ao julgador tal análise, uma vez que trata de prerrogativa do órgão ministerial. 3. Tendo sido, no caso em apreço, operada a desclassificação da conduta inicial do paciente do delito de apropriação indébita para estelionato, em primeiro grau de jurisdição, caberia ao Magistrado processante a suspensão do julgamento, com a imediata remessa do feito ao órgão ministerial para manifestação sobre os institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/1.995, já que seria cabível, em tese, a concessão do sursis processual, considerando o quantum de pena mínima estabelecido pelo preceito secundário do tipo penal previsto no art. 171 do Estatuto Repressor, que corresponde a 1 (um) ano de reclusão. Logo, ao ter proferido decisão condenatória, o Julgado de 1º grau impôs ao paciente manifesto constrangimento, segundo reiterada jurisprudência deste Tribunal Superior. Precedentes” (HC 393.693/SP, DJe 09/06/2017). 11) Nos casos de aplicação da Súmula n. 337/STJ, os autos devem ser encaminhados ao Ministério Público para que se manifeste sobre a possibilidade de suspensão condicional do processo ou de transação penal. Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com Vimos nos comentários à tese anterior que a desclassificação do crime e a procedência parcial da ação penal autorizam a aplicação da Lei 9.099/95. Os benefícios disciplinados na lei, por disposição expressa dos artigos 76 e 89, são oferecidos pelo Ministério Público, vedado ao julgador substitui-lo ou mesmo decidir sem que o cabimento de tais medidas seja analisado. Por isso, se for o caso de oferecer algum dos benefícios em razão da desclassificação ou da procedência parcial, é necessária a remessa dos autos ao Ministério Público para que avalie o preenchimento dos requisitos e as condições que serão impostas de acordo com as características pessoais do agente e as circunstâncias do crime: “A teor da Súmula 337/STJ, "é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. Assim, caso o Julgador de 1º grau, após a análise dos elementos probatórios produzidos durante a persecução penal, entenda que a conduta deve se tipificada como descaminho, nos moldes do caput do art. 334 do CP, deverá abrir prazo para o Ministério Público, a fim de que este verifique a possibilidade de oferecimento dos benefícios previstos na Lei n. 9.099/1995” (HC 390.899/SP, DJe 23/11/2017). Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com TESES SOBRE OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS SEGUNDO O STJ – PARTE II 1) A Lei n. 10.259/01, ao considerar como infrações de menor potencial ofensivo as contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, não alterou o requisito objetivo exigido para a concessão da suspensão condicional do processo prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, que continua sendo aplicado apenas aos crimes cuja pena mínima não seja superior a 1 (um) ano. Em sua redação original, o art. 61 da Lei 9.099/95 estabelecia que as infrações de menor potencial ofensivo eram aquelas cuja pena máxima não ultrapassava um ano. Em 2001, a Lei 10.259, dispondo sobre os Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, passou a definir as infrações de menor potencial ofensivo como aquelas a que a lei cominasse pena máxima não superior a dois anos. De acordo com a maioria da doutrina à época, a Lei de 2001 havia revogado tacitamente a anterior definição que trazia a Lei 9.099/95. O pouco de divergência que ainda pudesse existir despareceu em 2006, quando o art. 61 da Lei 9.099/95 foi alterado para fazer referência expressa à pena máxima de dois anos. Ocorre que, com a alteração promovida em 2001, havia quem sustentasse também a modificação da regra sobre a suspensão condicional do processo, aplicável, conforme dispõe o art. 89 da Lei 9.099/95, nas situações em que a infração penal tem pena mínima não superior a um ano. Se a lei havia alterado de um para dois anos a pena máxima para a transação penal, a pena mínima cominada ao crime, para a suspensão condicional do processo, poderia ser de até dois anos. O STJ, no entanto, rejeitou essa pretensão e firmou tese em sentido contrário: embora a Lei 10.259/01 tenha alterado o conceito de crime de menor potencial ofensivo, revogando Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com tacitamente o art. 61 da Lei 9.099/95, não o fez em relação à suspensão condicional do processo: “Malgrado com o advento da Lei n. 10.259/2001 tenha sido ampliado o conceito de crimes de menor potencial ofensivo, derrogando o art. 61 da Lei n. 9.099/1995, não houve alteração no patamar previsto para o instituto da suspensão condicional do processo, disciplinado pelo art. 89 do mesmo diploma legal, que continua sendo aplicado apenas aos crimes cuja pena mínima não seja superior a 1 (um) ano” (RHC 63.027/SP, DJe 09/11/2016). 2) É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal aos delitos que preveem a pena de multa alternativamente à privativa de liberdade, ainda que o preceito secundário da norma legal comine pena mínima superior a 1 ano. Em algumas das teses anteriores vimos os requisitos para a concessão da transação penal e da suspensão condicional do processo. Recapitulando: a primeira é cabível quando a pena máxima cominada ao crime não ultrapassa os dois anos; o segundo, quando a pena mínima não supera um ano. Ocorre que a lei pode cominar, cumulativa ou alternadamente à pena privativa de liberdade, a de multa. No caso de cominação alternativa, ou seja, aplica-se a pena privativa de liberdade ou a multa, como se avalia o cabimento dos institutos da Lei 9.099/95? De acordo com a tese firmada pelo STJ, deve-se considerar a alternatividade da pena de multa, ainda que a pena privativa de liberdade não se adéque aos termos dos artigos 76 e 89 da Lei 9.099/95. Isto porque a cominação alternativa da pena de multa indica que, apesar da pena privativa de liberdade mais alta, o legislador considera a possibilidade de que concretamente o crime tenha menor gravidade: “1. O preceito sancionadordo delito descrito no art. 7.º, IX, da Lei n.º 8.137/90 comina pena privativa de liberdade mínima Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com igual a dois anos ou multa. 2. Consistindo a pena de multa na menor sanção penal estabelecida para a figura típica em apreço, é possível a aplicação dos arts. 76 e 89 da Lei n.º 9.099/95” (RHC 54.429/SP, DJe 29/04/2015). Em seu voto, argumentou o ministro Rogério Schietti Cruz: “A um primeiro olhar pareceria que esses crimes, por preverem, como uma das possíveis sanções, a privação máxima da liberdade por período superior ao estabelecido no art. 61 da Lei 9.099/95 como teto para o seu enquadramento no conceito de crime de menor potencial ofensivo, estariam excluídos do âmbito de incidência das respectivas normas. Ou que, por sua vez, cominada pena privativa mínima maior do que 1 ano, em relação a tais delitos estaria vedada a possibilidade do sursis processual previsto no art. 89 daquela lei. Sem embargo, haja vista que a própria norma penal incriminadora, inserida na parte especial do Código (ou de lei esparsa), prevê essa pena pecuniária autônoma, não cumulativa à privativa de liberdade, não é absurdo sustentar que tais infrações penais podem, a depender da análise do caso concreto, ser classificadas como de menor ou de médio potencial ofensivo, dada a previsão alternativa da pena de multa, mesmo que cominem também pena privativa de liberdade superior aos limites indicados nos artigos 76 e 89 da Lei nº 9.099/95”. 3) A suspensão condicional do processo não é direito subjetivo do acusado, mas sim um poder-dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o faça de forma fundamentada. Segundo o art. 89 da Lei 9.099/95, nas infrações penais em que a pena mínima cominada não ultrapasse um ano, ao oferecer a denúncia o Ministério Público poderá propor a suspensão condicional do processo. Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com Trata-se de um direito subjetivo do agente ou compete ao Ministério Público analisar a conveniência e a oportunidade de oferecer o benefício? No primeiro caso, uma vez preenchidos os requisitos legais, é obrigação do órgão acusatório oferecer a proposta; no segundo, a análise dos requisitos deve vir acompanhada da avaliação das circunstâncias objetivas e subjetivas que envolvem o fato e seu autor. Pelo critério do direito subjetivo, se o agente não estiver sendo processado, não houver sido condenado por outro crime e se estiverem presentes, no geral, os requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal), não é possível negar a suspensão; pelo segundo, o benefício pode ser negado se, por exemplo, apesar do preenchimento desses critérios, o agente já foi agraciado, em razão de outros fatos, pela mesma suspensão condicional ou até pela transação penal. O mesmo é possível se considerada a gravidade concreta do fato praticado. No caso, o órgão acusatório pode chegar à conclusão de que a medida despenalizadora não é suficiente. A jurisprudência – como a doutrina – se manifesta em ambos os sentidos. O próprio STJ tem julgados nos quais trata a suspensão condicional do processo como direito subjetivo: “A suspensão condicional do processo representa um direito subjetivo do acusado na hipótese em que atendidos os requisitos previstos no art. 89 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Por essa razão, os indispensáveis fundamentos da recusa da proposta pelo Ministério Público podem e devem ser submetidos ao juízo de legalidade por parte do Poder Judiciário” (HC 131.108/RJ, j. 18/12/2012). O tribunal, no entanto, acabou por firmar a tese de que não se trata de um direito subjetivo e que compete ao Ministério Público, após avaliar todas as circunstâncias, decidir sobre a conveniência da suspensão: “1. Deve ser mantida a decisão monocrática em que se nega provimento ao recurso em habeas corpus , quando não evidenciado constrangimento ilegal decorrente da ausência de Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com proposta de suspensão condicional do processo. 2. No caso, o Ministério Público Federal deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do processo, ao argumento de que o recorrente possui ao menos 3 (três) outras apreensões de mercadorias de procedência estrangeira registradas nos últimos 5 (cinco) anos, a denotar que sua conduta social demonstra não estar adimplido o requisito previsto no art. 77, II, o Código Penal, c/c o art. 89 da Lei n. 9.099/1995. 3. Este Superior Tribunal tem decidido que a suspensão condicional do processo não é direito subjetivo do acusado, mas sim um poder-dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o faça de forma fundamentada (AgRg no AREsp n. 607.902/SP, Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 17/2/2016)” (AgRg no RHC 74.464/PR, DJe 09/02/2017). 4) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência. A revogação da suspensão condicional do processo pode ser obrigatória ou facultativa. Dá-se obrigatoriamente a revogação se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano (art. 89, § 3º). Por outro lado, pode ocorrer a revogação se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta (art. 89, § 4º). Segundo o disposto no § 5º do art. 89 da Lei 9.099/95, uma vez expirado o prazo sem que tenha havido a revogação da suspensão, o juiz declarará extinta a punibilidade. Há quem sustente que a disposição do § 5º impede que a revogação seja decretada após o decurso do prazo de suspensão, ainda Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com que a causa seja anterior. É o caso de Guilherme de Souza Nucci: “Segundo o nosso entendimento, passado o período de prova, sem que o Estado tenha apontado qualquer descumprimento das condições estabelecidas, não há mais cenário para a revogação do benefício. O mesmo se dá no contexto do sursis (suspensão condicional da pena). A ineficiência estatal não pode ser debitada na conta do réu” (Leis Penais e Processuais Penais Comentadas – 10 ed. – vol. 2. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 580). Firmou-se, no entanto, o entendimento de que a revogação pode ser decretada inclusive após o período de suspensão, desde que se refira a fato ocorrido no curso do benefício: “A Terceira Seção desta Corte Superior, sob a égide dos recursos repetitivos, art. 543-C do CPC, no julgamento do REsp 1498034/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, DJe 02/12/2015, firmou posicionamento no sentido de que da exegese do § 4º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995 ("a suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta), constata-se ser viável a revogação da suspensão condicional do processo ante o descumprimento, durante o período de prova, de condição imposta, mesmo após o fim do prazo legal” (AgRg no REsp 1.649.472/RS, DJe 05/05/2017). 5) Opera-se a preclusão se o oferecimento da proposta de suspensão condicional do processo ou de transação penal se der após a prolação da sentença penalcondenatória. Os benefícios da transação penal e da suspensão condicional do processo são propostos em momentos processuais específicos. A transação deve ser oferecida antes mesmo da apresentação da denúncia, ao passo que a suspensão do processo é proposta no momento em que o Ministério Público Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com oferece a peça acusatória. Além disso, como já estudamos, é possível a aplicação dos benefícios nos casos de desclassificação do crime e de procedência parcial da pretensão punitiva. Se, no entanto, os benefícios não foram propostos, e o agente não os reivindicou no momento oportuno, não pode fazê-lo depois de prolatada a sentença: “4. Em momento algum no curso do processo criminal em apreço a defesa questionou o não oferecimento de transação penal ao acusado, o que só veio a ocorrer por ocasião da oposição de embargos de declaração contra a sentença condenatória, o que revela a preclusão do exame do tema. Precedentes” (RHC 66.196/RJ, DJe 27/05/2016). 6) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. Vimos que a suspensão condicional do processo é cabível nas situações em que a pena cominada ao crime não seja superior a um ano. É comum que infrações penais sejam cometidas em concurso, que pode ser material, formal ou na forma de continuidade delitiva. No primeiro, somam-se as penas, ao passo que nos demais incide fração de aumento de acordo com as circunstâncias do caso concreto. O cabimento da suspensão condicional do processo deve ter em conta o número de infrações cometidas. Se, por exemplo, o agente comete dois furtos simples em continuidade delitiva, não faz jus à suspensão, pois a incidência da fração de aumento, mínima que seja, eleva a pena do furto para mais de um ano. Há quem sustente que o cabimento do benefício deve ser analisado sobre cada infração penal, não sobre o conjunto, Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com mas essa tese não foi acolhida pelo STJ, que editou a respeito a súmula 243 e a vem reiterando: “3. Considerando a pena mínima prevista para o tipo penal do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que corresponde a 6 meses de detenção, a qual deve ser somada àquela prevista no preceito secundário do tipo penal do art. 331 do CP, que também foi estabelecida em 6 meses de detenção, chega-se a reprimenda superior a 1 ano, por se tratem de 4 crimes de desacato em concurso material, o que afasta a possibilidade de oferta da vindicada proposta de suspensão condicional do processo. 4. Mesmo que o Magistrado processante venha a reconhecer a continuidade delitiva entre os delitos de desacato, a somatória das penas ultrapassaria o patamar máximo previsto no art. 89 da Lei n. 9.099/1995. Nos termos do entendimento consolidado na Súmula 243/STJ, ‘o benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja no somatório, seja pela incidência da majorante ultrapassar o limite de 1 (um) ano’” (RHC 89.197/SC, DJe 25/10/2017). 7) A existência de inquérito policial em curso não é circunstância idônea a obstar o oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo. O art. 89, caput, da Lei 9.099/95 dispõe que a suspensão condicional do processo é cabível desde que o agente não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena, dentre os quais que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício. Com fundamento neste último requisito relativo ao sursis, o Ministério Público pode deixar de propor a suspensão Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com condicional do processo apesar de o agente não estar sendo processado nem ter sido condenado. É o que ocorre, por exemplo, no caso de quem já foi beneficiado por transação penal e por outra suspensão em processos distintos. Isso pode indicar que a medida de suspensão não será eficaz, servirá apenas como incentivo à impunidade. No entanto, o fundamento para negar a suspensão deve ser idôneo. Para o STJ, a existência de inquérito policial em que o agente seja investigado não é motivo para negar o benefício: “1. A existência de inquéritos policiais em curso não é circunstância idônea a obstar o oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo. Inteligência do art. 89 da Lei 9.099/95. 2. Recurso provido” (RHC 79.751/SP, DJe 26/04/2017). 8) A extinção da punibilidade do agente pelo cumprimento das condições do sursis processual, operada em processo anterior, não pode ser valorada em seu desfavor como maus antecedentes, personalidade do agente e conduta social. A aceitação das condições para a suspensão do processo não significa admissão de responsabilidade penal. O agente analisa a conveniência e a oportunidade entre ter o processo suspenso ou se defender até a decisão final. E, uma vez aceitas e cumpridas as condições, dá-se a extinção da punibilidade (art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95). Com isso, em caso de condenação por crime posterior, não pode o juiz considerar a suspensão condicional já extinta para exasperar a pena-base por maus antecedentes, personalidade do agente e má conduta social. Se o cumprimento do benefício extingue a punibilidade, disso não podem decorrer efeitos penais: “O registro de ação penal suspensa por força do art. 89 da Lei n. 9.009/1995 não pode ser utilizado para agravar a pena- Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com base, em confronto com o princípio da não culpabilidade” (REsp 1.533.788/PE, DJe 29/02/2016). 9) É constitucional o art. 90-A da Lei n. 9.099/95, que veda a aplicação desta aos crimes militares. O Direito Penal militar é regido por princípios nem sempre compatíveis com o Direito Penal comum, tanto que os militares são submetidos a legislação penal e processual específicas. Isto ocorre porque o que norteia as relações militares são a disciplina e a hierarquia. A Lei 9.099/95 é fundamentada nos princípios do Direito Penal mínimo, por meio do qual se buscam alternativas ao encarceramento diante da prática de infrações penais de menor gravidade. Por isso, justifica-se a transação penal num desacato, por exemplo. Na seara militar, no entanto, essas medidas não são bem- vindas, pois contrariam os princípios de disciplina e hierarquia. Se, por exemplo, um militar desobedece a alguma ordem de autoridade também militar, não é recomendável que os superiores não possam buscar a devida punição criminal porque a lei estabelece medidas despenalizadoras. Por isso, em 1999 a Lei 9.099/95 foi modificada pela inserção do art. 90-A, segundo o qual as disposições da mesma lei não são aplicáveis aos crimes militares. Isso suscitou debates em virtude das disposições constitucionais (art. 98) que estabelecem a criação dos Juizados Especiais para julgar os crimes de menor potencial ofensivo. Mas, no julgamento do HC 99.743/RJ, o STF decidiu que o art. 90-A é constitucional: “Penal Militar. Habeas corpus. Deserção – CPM, art. 187. Crime militar próprio. Suspensão condicional do processo - art. 90-A, da Lei n. 9.099/95 – Leidos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Inaplicabilidade, no âmbito da Justiça Militar. Constitucionalidade, face ao art. 98, inciso I, § 1º, da Carta da República”. Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com A tese do STJ atende, como se extrai do julgado abaixo, ao que decidiu a Corte Suprema: “Conforme decidido pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, não é inconstitucional o art. 90-A da Lei nº 9.099/1995 que veda a sua aplicação aos crimes militares (ut, (RHC 75.753/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 25/11/2016)” (AgRg no AREsp 1.104.239/MG, DJe 16/08/2017). 10) Na hipótese de apuração de delitos de menor potencial ofensivo, deve-se considerar a soma das penas máximas em abstrato em concurso material, ou, ainda, a devida exasperação, no caso de crime continuado ou de concurso formal, e ao se verificar que o resultado da adição é superior a dois anos, afasta-se a competência do Juizado Especial Criminal. Trata-se aqui de situação semelhante à estudada na tese nº 6, ou seja, no caso de concurso de crimes a proposta de transação penal só pode ser feita se a soma das penas, no concurso material, ou a fração de aumento, no concurso formal e no crime continuado, não elevar a pena máxima a patamar superior a dois anos: “1. A Constituição Federal, em atenção ao devido processo legal, estatui, como garantia individual, o juízo natural, e impõe que "XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção" e "LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente". 2. A criação dos Juizados Especiais concretiza a garantia do acesso à Justiça e permite a materialização da tutela jurisdicional de maneira célere e mais simples. Já no aspecto penal, adota medidas despenalizadoras, reduzindo a característica punitiva para crimes considerados de menor potencial ofensivo. 3. O rito célere e simplificado não atenta o devido processo legal, contudo, a competência do Juizado Especial Criminal se encerra no contexto criminoso cuja pena máxima não exceda dois anos, haja ou não concurso de delitos. 4. A atuação do JECRIM em casos cuja pena máxima Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com excedam o limite do art. 61 da Lei n. 9.099/1995 fere o princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, por retirar da parte a possibilidade de, em processo mais dilatado e amplo, produzir as provas que entender necessárias. 5. No caso em exame, o somatório das penas máximas em abstrato dos crimes excedeu o limite legal de 2 anos, de modo que é da competência absoluta da Justiça comum o processamento e julgamento da ação penal. 6. Recurso em habeas corpus provido para declarar a nulidade da ação desde o recebimento da denúncia” (RHC 84.633/RJ, DJe 22/09/2017). 11) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do juizado especial estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n. 11.343/06 não o inclui dentre os que devem ser julgados pela justiça federal. Uma das modalidades do crime de tráfico é a internacional, em que o agente importa ou exporta droga ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas (art. 33, caput e § 1º, inc. I, da Lei 11.343/06). Neste caso, a atribuição para apuração é da Polícia Federal e a competência de julgamento é da Justiça Federal. É, ademais, expresso no art. 70 da Lei 11.343/06 que os crimes tipificados nos arts. 33 a 37, se transnacionais, são de competência federal. Ocorre que a investigação pode resultar na desclassificação do crime de tráfico para o de posse de droga para uso próprio (art. 28), caso não haja indícios suficientes do propósito mercantil. E a desclassificação, de acordo com a tese firmada pelo STJ, desloca a competência para a Justiça Estadual: “1. O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei 11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do Juizado Especial Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n. 11.343/2006 não o inclui dentre os que devem ser julgados pela Justiça Federal. 2. Ao qualificar uma conduta como “porte de drogas para consumo pessoal”, o magistrado deve orientar-se pelos parâmetros objetivos e subjetivos definidos no § 2º do art. 28 da Lei 11.343/2006, que determina o exame da quantidade e natureza da droga, seu destino, o local e condições em que se desenvolveu a ação, assim como as circunstâncias sociais e pessoais, além da conduta e dos antecedentes do agente. 3. A mera potencialidade de refinamento de matéria prima da droga não induz, necessariamente, à conclusão de que a intenção daquele que a porta é refiná-la, com vistas à sua comercialização, máxime quando desacompanhada de indícios de que o portador possua apetrechos e/ou conhecimentos que lhe permitam fazê- lo, nem tampouco indícios de conexão com outro(s) traficante(s) ou mesmo de atividades suspeitas que sinalizem a obtenção de renda sem fonte lícita. 4. Situação em que o réu foi surpreendido, no dia 16/08/2014, durante fiscalização de rotina da Receita Federal em Posto de Estra, próximo à fronteira Brasil/Bolívia, trazendo consigo 185 (cento e oitenta e cinco) gramas de cocaína, na forma de pasta-base, adquirida na Bolívia. 5. A pequena quantidade de entorpecente apreendida em poder do réu, somada à sua confissão de dependência química e à existência de um único antecedente penal ocorrido há mais de 10 (dez) anos relacionado ao tráfico, sem nenhuma evidência recente de relacionamento com traficantes, ou mesmo de atividades suspeitas que indiquem a obtenção de renda sem fonte lícita, demonstram estar correto o Juízo suscitado (da Justiça Federal) quando afirmou não existirem, nos autos, elementos aptos a sustentar a tipificação do art. 33 c/c 40, I e III, da Lei 11.343/2006, merecendo a conduta descrita na denúncia ser desclassificada e reenquadrada no tipo penal do art. 28 da Lei 11.343/2006. 6. Conflito conhecido, para declarar competente para o julgamento da ação penal o Juízo de Direito Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com do Juizado Especial Cível e Criminal de Corumbá/MS, o suscitante” (CC 144.910/MS, DJe 25/04/2016). 12) A conduta prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/06 admite tanto a transação penal quanto a suspensão condicional do processo. O art. 28 da Lei 11.343/06 pune as condutas de adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Para este fato, a lei não comina pena privativa de liberdade, mas sim advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. A não cominação de privação de liberdade, aliás, levou o STF a discutir e a estabelecer que a infração manteve seu caráter criminoso (RE 430.105 QO/RJ). O fato de o art. 28 não cominar pena privativa de liberdade não o afasta, obviamente, da definição de crime de menor potencial ofensivo, razão pela qual, caso o agente esteja sendo processado – ou mesmo seja condenado em primeira instância – pelo crime de tráfico e, posteriormente, o órgão julgador competente decida por desclassificar a conduta para a posse para uso próprio, devem ser proporcionados os benefícios despenalizadores da Lei 9.099/95:“De fato, por ocasião da prolação do v. acórdão condenatório, foi operada a desclassificação do delito de tráfico para a conduta do art. 28 da Lei n. 11.343/06, tendo sido condenado o ora recorrente à pena de advertência sobre os efeitos da droga. Entretanto, não foi oportunizada vista ao Ministério Público para que fosse viabilizada a possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, nos moldes do que dispõe o enunciado 337 da súmula desta Corte: "é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva". Assim, na linha da jurisprudência desta eg. Corte Superior, "absolvido Distribuição gratuita jurídicomeu site comPara mais conteúdos como este, acesse: www.meusitejuridico.com o réu de parte das imputações que lhe foram feitas ou desclassificada a conduta que lhe foi imputada, e sendo cabível o oferecimento dos benefícios previstos na Lei 9.099/1995, cumpre ao magistrado abrir vista dos autos ao Ministério Público a fim de que sobre eles se manifeste. Enunciado 337 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça" (HC n. 291.259/SC, Quinta Turma, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE), DJe de 25/6/2015)” (REsp 1.672.788/SP, DJe 07/08/2017).
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