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Interpretação, Integração e Aplicação

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
HERMENÊUTICA JURÍDICA 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO – josemar@josemararaujo.com 
FOLHA DE APOIO 03 
 
Interpretação, Integração e Aplicação 
 
São três termos técnicos que correspondem a três conceitos distintos, 
que às vezes se confundem, em virtude de sua íntima correlação. 
Miguel Reale explica que o Direito é sempre uma prescrição ou 
imperativo, e não uma simples indicação que possa ou não ser 
atendida, a critério exclusivo dos interessados. O Direito existe para ser 
obedecido, ou seja, para ser aplicado. Todos nós, na nossa vida 
comum, aplicamos o Direito. Não se realiza contrato algum sem que 
uma forma de juridicidade se aplique nas relações humanas. 
 
Aplicação do Direito 
 
O termo "aplicação do direito" reserva-se, entretanto, à forma de 
aplicação feita por força da competência de que se acha investido um 
órgão, ou autoridade. O juiz aplica o Direito porquanto age, não como 
homem comum, mas como membro do Poder Judiciário. O mesmo 
acontece com o administrador. A aplicação do Direito é a imposição de 
uma diretriz como decorrência de competência legal. 
 
Interpretação 
 
Mas, para aplicar o Direito, o órgão do Estado precisa, antes, 
interpretá-lo. A aplicação é um modo de exercício que está 
condicionado por uma prévia escolha, de natureza axiológica, entre 
várias interpretações possíveis. Antes da aplicação não pode deixar de 
haver interpretação, mesmo quando a norma legal é clara, pois a 
clareza só pode ser reconhecida graças ao ato interpretativo. Ademais, 
é óbvio que só aplica bem o Direito quem o interpreta bem. 
 
Integração 
 
Por outro lado, se reconhecemos que a lei tem lacunas, é necessário 
preencher tais vazios, a fim de que se possa dar sempre uma resposta 
jurídica, favorável ou contrária, a quem se encontre ao desamparo da 
lei expressa. Esse processo de preenchimento das lacunas chama-se 
integração do direito, encontrando previsão na Lei de Introdução ao 
Código Civil, segundo a qual, em sendo a lei omissa, deve-se recorrer 
à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. 
 
Elementos de Integração do Direito 
 
A analogia atende ao princípio de que o Direito é um sistema de fins. 
Pelo processo analógico, estendemos a um caso não previsto aquilo 
que o legislador previu para outro semelhante, em igualdade de 
razões. Se o sistema do Direito é um todo que obedece a certas 
finalidades fundamentais, é de se pressupor que, havendo identidade 
de razão jurídica, haja identidade de disposição nos casos análogos, 
segundo um antigo e sempre novo ensinamento: ubi eadem ratio, ibi 
eadem juris dispositio (onde há a mesma razão deve haver a mesma 
disposição de direito). 
 
Quando recorremos, portanto, à analogia, estendendo a um caso 
semelhante a resposta dada a um caso particular previsto, estamos, na 
realidade, obedecendo à ordem lógica substancial ou à razão 
intrínseca do sistema. Se um caso reúne, por exemplo, os elementos a, 
b, c, d, e surge um outro com esses elementos e mais o elemento f, é 
de se supor que, sendo idêntica a razão de direito, idêntica teria sido a 
norma jurídica na hipótese da previsibilidade do legislador, desde que o 
acréscimo de f não represente uma nota diferenciadora essencial. É 
preciso, com efeito, ter muita cautela ao aplicar-se a analogia, pois 
duas espécies jurídicas podem coincidir na maioria das notas 
caracterizadoras, mas se diferençarem em razão de uma que pode 
alterar completamente a sua configuração jurídica. Essa nota 
diferenciadora, como a teoria tridimensional o demonstra, pode resultar 
tanto de uma particularidade fática quanto de uma específica 
compreensão valorativa: em ambos os casos o emprego da analogia 
não teria razão de ser. 
 
Principal diferença Entre Analogia e Interpretação Extensiva 
 
Reale demonstra que o pressuposto do processo analógico é a 
existência reconhecida de uma lacuna na lei. Na interpretação 
extensiva, ao contrário, parte-se da admissão de que a norma existe, 
sendo suscetível de ser aplicada ao caso, desde que estendido o seu 
entendimento além do que usualmente se faz. É a razão pela qual se 
diz que entre uma e outra há um grau a mais na amplitude do processo 
integrativo. 
 
Equidade 
 
Reale observa que em certos casos em que é necessário abrandar o 
texto, opera-se tal abrandamento através da equidade. Esta seria, 
portanto, a justiça amoldada à especificidade de uma situação real. O 
nosso Direito Positivo possibilitava ao juiz, quando autorizado a decidir 
por eqüidade, a aplicar no caso a regra que estabeleceria se fosse 
legislador, consoante o art. 114, do Código de Processo Civil de 1939, 
substituído pelo rigorista art. 127 da atual Lei Processual. 
 
Princípios Gerais de Direito 
 
Miguel Reale considera que toda forma de conhecimento filosófico ou 
científico implica a existência de princípios, isto é, de certos 
enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das 
demais asserções que compõem dado campo do saber. 
Evidentemente que este significado refere-se à palavra "princípio" 
apenas em seu significado lógico, daí excluída a acepção ética desse 
termo, tal como se dá quando demonstramos respeito pelos "homens 
de princípios", fiéis, na vida prática, às suas convicções de ordem 
moral. 
 
Restringindo-se ao aspecto lógico da questão, afirma Reale que os 
princípios são "verdades fundantes" de um sistema de conhecimento, 
como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido 
comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter 
operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da 
pesquisa e da praxis. , Os princípios podem ser discriminados em três 
grandes categorias, a saber: 
a) princípios omnivalentes, quando são válidos para todas as formas 
de saber, como é o caso dos princípios de identidade e de razão 
suficiente; 
b) princípios plurivalentes, quando aplicáveis a vários campos de 
conhecimento, como se dá com o princípio de causalidade, essencial 
às ciências naturais, mas não extensivo a todos os campos do 
conhecimento; 
c) princípios monovalentes, que só valem no âmbito de determinada 
ciência, como é o caso dos princípios gerais de direito. 
Conceito 
 
Reale conceitua os “princípios gerais de Direito” como “enunciações 
normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a 
compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e 
integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, desse 
modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua 
atualização prática.” 
 
Importância 
 
Alguns deles se revestem de tamanha importância que o legislador 
lhes confere força de lei, com a estrutura de modelos jurídicos, 
inclusive no plano constitucional, consoante dispõe a nossa 
Constituição sobre os princípios de isonomia (igualdade de todos 
perante a lei), de irretroatividade da lei para proteção dos direitos 
adquiridos etc. A maioria dos princípios gerais de direito, porém, não 
constam de textos legais, mas representam contextos doutrinários ou, 
de conformidade com terminologia assente no Capítulo XIV, são 
modelos doutrinários ou dogmáticos fundamentais. Nem todos os 
princípios gerais têm a mesma amplitude, pois há os que se aplicam 
apenas neste ou naquele ramo do Direito, sendo objeto de estudo da 
Teoria Geral do Direito Civil, do Direito Constitucional, do Direito 
Financeiro etc. 
 
Costume 
 
O costume continua desempenhando função relevante na experiência 
jurídica de nossos dias, não sendo, porém, igual o seu papel em todas 
as disciplinas. Verificamos uma força maior do Direito costumeiro em 
certos ramos ou para a solução de determinados problemas, como é o 
caso do Direito Comercial e do Direito Internacional. 
 
No direito positivo as "fontes" são categorias históricas,ou seja, 
realidades sujeitas a variações de lugar e de tempo. Se, hoje em dia, 
as normas legais primam no sistema do Direito brasileiro, o mesmo não 
acontece em outras Nações, havendo diferenças e contrastes até 
mesmo entre países subordinados à mesma tradição jurídica. 
 
Fonte: REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: 
Saraiva, 2002.

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