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Direito Civil IV Material de apoio 2

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DIREITO CIVIL IV 
 
 
1.1) Formas de aquisição da Posse: 
 
A aquisição da posse envolve a análise dos aspectos relativos à forma da 
pessoa chegar ao bem e de exercer um poder de dominação sobre o mesmo. É dizer, 
a aquisição é o “ato físico que leva a pessoa à posse da coisa”. 
A posse pode ser adquirida de forma originária ou derivada. Diz-se 
originária a posse que é adquirida em situações que não ensejam a anuência do 
possuidor anterior, ocorre de forma unilateral, mediante o exercício de um poder de 
fato sobre a coisa, sem a intervenção de outra pessoa. 
Já a derivada é a posse adquirida a partir da anuência do possuidor 
anterior, ou seja, neste caso ocorre a transmissão da posse do antigo possuidor ao 
novo. Nesta hipótese, presume-se que a posse é adquirida com os mesmos vícios e o 
“mesmo caráter” que ela possuía anteriormente, por força do art. 1.203: 
 
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o 
mesmo caráter com que foi adquirida. 
 
 
 Formas de Aquisição Originária: 
Nesta modalidade a coisa é adquirida sem os vícios que existiam 
anteriormente, são elas: 
a) Apreensão: é quando a pessoa passa a ter condições de usufruir da 
coisa livremente, excluindo a ação de terceiros e exteriorizando assim, a sua posse. 
Trata-se de uma apreensão unilateral que recai sobre bens 
abandonados ou “sem dono”, ou mesmo bens apropriados de terceiro por força dos 
vícios da violência, clandestinidade e precariedade. 
b) Exercício do direito: (arts. 1.196 e 1.204 do CC): é a manifestação 
externa do direito que pode ser objeto da relação possessória (locação, servidão). 
 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o 
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à 
propriedade. 
 
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna 
possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes 
inerentes à propriedade. 
 
c) Atos de disposição da coisa ou do direito: o fato de se dispor da coisa 
é conduta natural do titular da posse. Logo, no momento em que um possuidor 
realiza atos de disposição da coisa (vende, cede possíveis direitos), este estará 
induzindo-se na condição de possuidor. 
Por exemplo, se alguém da em comodato coisa de outrem, tal fato 
revela que esta pessoa se encontra no exercício de um dos poderes inerentes ao 
domínio, logo, conclui-se que adquiriu a posse, já que a desfruta. 
 
 Formas de Aquisição Derivada: 
A aquisição derivada decorre de um negócio jurídico, havendo a 
transmissão da posse. 
a) Tradição: É a transferência pela entrega da coisa. Esta modalidade 
pressupõe um acordo de vontades, é bilateral, podendo ser real ou simbólica (compra 
e venda, doação, entrega de chaves de um imóvel). 
b) Sucessão na posse: Também adquire-se a posse através da sucessão 
inter vivos (título singular) e mortis causa (herança, legado). 
 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do 
possuidor com os mesmos caracteres. 
 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do 
seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua 
posse à do antecessor, para os efeitos legais. 
 
 
 
1.2) Formas de perda da posse: 
 
Uma vez que a posse consiste no exercício de fato do direito de 
propriedade, logo, é possuidor aquele que se comporta como “dono”, deixa de ser 
possuidor aquele não mais atua dessa forma. 
 
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a 
vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o 
art. 1.196. 
 
O Código Civil não define as hipóteses de perda da posse, mas, 
exemplificativamente, é possível determinar algumas delas, como: 
 
 Abandono: é quando o possuidor renuncia à posse, manifestando 
verdadeira intenção em abandonar algo que lhe pertence (renúncia 
corpus e animus) não havendo intenção/tentativa de recuperá-la. 
 
 Tradição: é quando se tem a entrega do bem com o animus de transferi-
la a outrem. A tradição pode ser real ou ficta. 
 
 Perda ou perecimento da coisa: não é possível exercer posse sobre coisa 
que não se tem fisicamente (perda ou destruição). 
 
 Posse de outrem: ocorre quando um possuidor que vem a ser turbado 
ou esbulhado no exercício de sua posse é inerte e deixa escoar o prazo 
de ano e dia, acarretando-se na perda da sua posse em favor de 
outrem. 
 
 
2. EFEITOS DA POSSE: 
 
2.1) Proteção possessória: 
É o principal efeito da posse, consiste no poder de proteger a posse 
perante a conduta de terceiros, podendo ser exercido mediante a autotutela (desforço 
imediato/legítima defesa), ou mediante a heterotutela (ações possessórias). 
 
2.2) Percepção dos frutos: 
 
Em regra, pertence ao proprietário da coisa pertencem os frutos gerados 
por elas, visto que os frutos são acessórios ao principal (coisa). 
Contudo, quando a coisa está em posse de possuidor de boa-fé, que não é 
o proprietário, o possuidor será contemplado com o direito de perceber os frutos 
(mas não os produtos). 
O possuidor de boa-fé terá direito apenas os frutos percebidos, não 
fazendo jus aos pendentes e nem aos colhidos antecipadamente. 
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela 
durar, aos frutos percebidos. 
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a 
boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas 
da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos 
colhidos com antecipação. 
 
Considera-se cessada a boa-fé quando ocorre a citação do possuidor (Art. 
1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as 
circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.). 
 
O possuidor de má-fé não possui as mesmas vantagens em relação à 
percepção dos frutos: 
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos 
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, 
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de 
má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. 
 
 
2.3) Indenização pelas benfeitorias: 
 
a) Benfeitorias necessárias: tem por objetivo conservar a coisa ou evitar 
que ela se deteriore; 
b) Benfeitorias úteis: são aquelas que aumentam o valor ou facilitam o 
uso da coisa; 
c) Voluptuárias: são obras de mero deleite e embelezamento da coisa 
(“luxo”). 
 
De acordo com o art. 1.219 do CC, o possuidor de boa-fé tem direito à 
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, quanto às voluptuárias, poderá 
levantá-las se isto não causar detrimentos na coisa, se não lhe forem pagas pelo 
reivindicante. 
Em relação ao possuidor de má-fé, entende-se que este realizou a obra 
consciente de que estava praticando ato ilícito, logo, a ele só serão indenizadas as 
benfeitorias necessárias (art. 1.220). 
 
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias 
necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem 
pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá 
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. 
 
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias 
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, 
nem o de levantar as voluptuárias. 
 
2.4) Direito de retenção pelas benfeitorias: 
 
O direito de retenção consiste num meio de defesa onde se reconhece a 
faculdade de reter a coisa até que seja efetuado o pagamento pelas indenizações que 
lhe fazem jus. 
Somente o possuidor de boa-fé tem direito de retenção, consoante às 
benfeitorias necessárias e úteis que tenha realizado, conforme aduz a parte finaldo 
art. 1.219, CC: 
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias 
necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem 
pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá 
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e 
úteis. 
 
2.5) Responsabilização pelas deteriorações: 
 
De acordo com os arts. 1.217 e 1.218 do CC: 
 
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou 
deterioração da coisa, a que não der causa. 
 
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou 
deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de 
igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
 
 
2.6) Direito aos interditos possessórios e usucapião: 
 
É também um dos principais efeitos da posse a possibilidade de utilização 
das ações possessórias (interditos possessórios) para proteger e reivindicar a posse, 
bem como a possibilidade de adquirir a propriedade do imóvel através da ação de 
usucapião, as quais serão estudadas com maior profundidade nas aulas seguintes.

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