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Revisão Matemática e Postulados 1 0. SISTEMAS DE COORDENADAS Descreve um ponto, uma curva ou superfície no espaço: utilizaremos o sistema cartesiano e de coordenadas polares esféricas. A escolha depende do sistema ou problema a ser resolvido. Sistema de coordenadas: leva ao conjunto de equações que descreve o problema e o resultado numérico obtido tem de ser independente do sistema de coordenadas escolhido para descrever o sistema. 0.1 Coordenadas cartesianas É o sistema de coordenadas mais comum 0.2 Coordenadas polares esféricas O ponto P(r, , ) é representado pelo vetor distância θ φ r e os ângulos θ (ângulo polar), que é o ângulo entre o eixo z e a semirreta OP , e (ângulo azimutal)φ que é o ângulo entre o eixo x e a projeção da semirreta OP sobre o plano xy. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 2 x=r sencos y=r sen sen z=r cos em que {0r∞002 Exercício proposto1: Demonstrar as equações acima Exercício proposto 2: Usando as equações acima, demonstre que r 2=x2 y2z2 . Em problemas de mecânica quântica é comum a resolução de integrais sobre todo o espaço. O elemento de volume é chamado d e depende do sistema de coordenadas escolhido Coordenadas cartesianas: d =dx dy dz com {−∞x∞−∞y∞−∞z∞ Coordenadas polares esféricas: d =r2 sen dr d d com {0r∞002 1 - NÚMEROS COMPLEXOS Um número complexo contém uma variável imaginária: i=−1 C=AiB C é um número complexo em que A é a parte real e B é a parte imaginária do número complexo C. Definese o complexo conjugado de C como sendo: C∗=A−iB Observe que o complexo conjugado apenas troca o sinal algébrico do parte imaginária de C. Definese o valor absoluto ou magnitude de C como: ∣C∣=CC∗ 1/2=A2B2 1/2 A magnitude de um número complexo é SEMPRE um número real. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 3 Dois números complexos são iguais se ambas as partes real e imaginária são iguais. Adição e subtração de números complexos obedecem as regras de soma e subtração de vetores: as partes real e imaginária são somadas ou subtraídas separadamente. z1=x1i y1, z2=x2i y2 ⇒ z1 z2= x1 x2 i y1y2 Uma igualdade importante é a Equação de Euler: eix=cos xi sen x 2 - OPERADORES O conceito de operadores é de muita importância na estudo de mecânica quântica. Definese operadores como segue: “Operador é um símbolo que ordena qual operação matemática deve ser aplicada ao que lhe segue à direita”. O operador atua da esquerda para a direita na equação matemática. Ex. x , indica que se deve extrair a raiz quadrada de x; d dt r que devemos derivar o vetor r em relação à variável t. ∫dx operador f x indica que devemos integrar a função f(x) em x. Operadores genéricos são indicados com o símbolo: O , P , Q , ⋯ A álgebra de operadores segue procedimentos matemáticos definidos já bem conhecidos. Sejam P e Q definidos como: P= ∂ ∂ x , Q= ∂ ∂ y ⇒ P Q=[ ∂∂ x ∂∂ y ]= ∂ 2 ∂ x∂ y Na álgebra de operadores a ordem das operações é importante, pois como no caso dos vetores, nem sempre os operadores comutam. Por convenção iniciase a operação com o operador à esquerda que esteja mais próximo da função, em seguida operase com o operador seguinte que esteja à esquerda sobre o resultado da primeira operação, repetindose o procedimento tantos quantos forem os operadores da equação. O operador pode ser um vetor ou um número complexo. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 4 Se for um vetor é usado em termos de seus componentes. O gradiente é definido como: ∇= ∂ ∂ x i ∂ ∂ y j ∂ ∂ z k Exemplo: seja f =x2y2z2 . Aplicandose ou operando o gradiente sobre a função f obtemos: ∇ f =2xi2yj2k sendo f um escalar, o gradiente de f é a taxa de variação de f com respeito às distâncias x, y, z. Se o operador é um número complexo, este possui um complexo conjugado. O=i d dx , O∗=−i d dx Em mecânica quântica apenas operadores lineares são usados. Um operador é linear se cumpre as seguintes condições: O f g = O f O g f e g são funções. Oaf =a O f a é uma constante e f é uma função. 3 - EQUAÇÕES DE AUTOVALOR Definição: Em uma equação de autovalor aplicase um operador sobre uma função e obtémse a mesma função multiplicada por um valor escalar (um número) este escalar é uma constante, portanto não faz parte da variável e a variável não pode fazer parte deste autovalor. Este escalar corresponde a um observável. PG i= pG i p é um escalar, observável e um valor constante. Se esta equação se verifica, então a função passa a ser chamada de autofunção do operador P. P em geral é um operador diferencial => a equação de autovalor é uma equação diferencial. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 5 O problema central da mecânica quântica é encontrar a(s) solução(ôes) de G(i) e os autovalores p. A solução destas equações eram bem conhecidas muito tempo antes do desenvolvimento da mecânica quântica ⇒ as propriedades matemáticas destas equações não podem ser confundidas com a interpretação física que nelas são depositadas. Um exemplo de equação de autovalores: a) considere o operador P= d 2 dx2 e as funções f x=senax e g x =A e−ax . Demonstre que estas funções são autofunções deste operador e quais são os respectivos autovalores. b) Sob quais condições a função e−aq 2 é autofunção do operador d 2dq2−kq2 , sendo k uma constante? Qual é o autovalor nestas condições? Sugestão: a quantidade a tem de ser ajustada para eliminar termos que envolvem q no resultado. c) Mostrar que a função f x , y , z=cos ax cosbycos cz é autofunção de ∇2= ∂ 2 ∂ x2 ∂ 2 ∂ y2 ∂ 2 ∂ z2 sendo a, b e c constantes. Qual é o autovalor? 4 - O MODELO DE ÁTOMO DE BOHR Em termos históricos, nos anos 1880 conheciamse experimentalmente os espectros de linhas para o átomo de hidrogênio, que obedecia à equação empírica: 1 =R y 1n12− 1n22 , ni=1, 2, 3, ⋯, R y=109.677,581 cm−1 Em 1911 Rutherford apresenta seu modelo nuclear do átomo, em que a carga positiva e a massa do átomo se concentram no núcleo. Postulase que os elétrons estão orbitando ao redor do núcleo. Segundo as leis do movimento de Newton, para que um elétron sujeito a uma força atrativa do núcleo, se mantenha em uma órbita estável este tem de estar em um movimento acelerado. De acordo com a eletrodinâmica clássica, uma carga acelerada deve perder energia constante por emissão de radiação. PARADOXO: nesta visão da estrutura do átomo implica que estes são instáveis, pois se o elétron perde energia constantemente por emissão de radiação, tem de perder também aceleração até “cair” sobre o núcleo em movimento espiral. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 6 O fato verificado experimentalmente é que átomos são estáveis indefinidamente (a menos que sofram algum tipo de reação química ou nuclear). Experimentos mostram que os átomos só irradiam energia após excitação por um meio qualquer => frequências discretas => a descrição clássica do átomo era falha. Em 1913 Niels Bohr apresenta seu modelo atômico para explicar as discrepâncias entreo modelo clássico e os resultados experimentais relativos aos espectros de linhas para o átomo de hidrogênio. O MODELO: as linhas que eram observadas nos espectros de linhas surgiam devido a transições de um elétron entre dois estados discretos. Bohr partiu de alguns postulados: 1) A relação de PlanckEinstein, que relaciona a diferença de energia ao produto hυ é válida para emissão ou absorção de radiação por um átomo h=E2−E1= E em que E2 e E1 são as energias do átomo nos estados 1 e 2. 2) Em estados discretos, o valor do momento angular do elétron é dado por L=n h2 =nℏ , n=1, 2, 3, ⋯ 3) O comportamento do elétron durante uma transição não pode ser explicado classicamente. Para calcularse as órbitas permitidas preditas pela teoria de Bohr para sistemas hidrogenoides (um elétron e um núcleo de carga +Z), partese da segunda Lei de Newton e da Lei de Coulomb: F=m a F=− Z ee r2 ur a=− v2 r ur { F= força coulômbica Z=Carga nuclear ur=vetor unitário ao longo da direção núcleo−elétron r=distância núcleo−elétron v=velocidade centrípeta r=raio da órbita Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 7 −mv 2 r ur=− Zee r2 ur : Condição estabilidade mecânica mv2 r =Z e 2 r2 : Equação escalar Aplicandose a equação do movimento angular L=mv r= nh 2 =nℏ v= nℏmr ; v 2= n 2ℏ2 m2r2 , n=1,2 ,3 ,⋯ Fazendose as substituições obtemos: n2ℏ2 m2r2 ×mr=Ze2 r= n 2 ℏ2 mZ e2 , n=1,2,⋯⇒oespaço é quantizado Devido ao segundo postulado de Bohr, o valor de r fica restrito a certas órbitas que dependem do número quântico n. O MENOR valor que r se refere a n=1, então: r0 H=a0= ℏ2 m2e2 , a0=0,529 A˚ : primeira orbita de Bohr para o átomo de hidrogênio. A energia total de um átomo é a contribuição das energias cinética e potencial E=TV por substituição das expressões adequadas T= 1 2 mv2=1 2 Z e2 r Como o sistema é conservativo Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 8 Fr=−∫ dVdr , V=energia potencial V=−∫ ∞ r F rd r=−∫ ∞ r Ze2 r2 d r V=−Ze 2 r : V é negativo porque é necessário realizar trabalho sobre o sistema para afastar o elétron do núcleo. E=TV T=1 2 Z e2 r − Z e 2 r =−1 2 Z e2 r Substituindo o valor de r na equação acima E=−mZ 2e4 2n2 ℏ2 , n=1,2,3 ,⋯ Nesta equação fica claro que a energia depende do valor do número quântico n a energia dos sistemas hidrogenoides assume apenas valores discretos em função de n=1, 2, 3, … Sistemas conservativos O nome está relacionado a “teoremas de conservação”. Estes teoremas afirmam que, sob certas condições, uma dada quantidade não varia com o tempo. Um sistema conservativo é qualquer sistema de partículas e forças cuja energia total não varia com o tempo. Fica implícito nesta definição que o trabalho realizado em um caminho fechado tem de ser zero. Não há nenhum tipo de força dissipativa ou fricção no sistema ∮ F d S=0 Exemplo: F i=− ∇ iV : forças internas e externas estão representadas como o negativo do gradiente de uma função potencial V. Considerando o caso de uma única partícula se movendo em uma direção x, a Segunda Lei de Newton fica: Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 9 Fx=m d 2 x dt2 =m x¨ , Se a equação do gradiente é válida : Fx=− d V d x −d V d x =m x¨=m d x˙ d t −d V x d x =m x¨ a =m d x˙ d t a Integrandose sobre x: −∫ dV xdx dx=−∫d V=m∫ x˙ dt d x=m∫d x˙ d xd t dx=m∫ x˙ d x˙ −V xC=1 2 m x˙2⇒C=1 2 m x˙2V x C=TV , e é a constante de integração A soma da energia cinética e potencial é independente do tempo: Qualquer propriedade de um sistema mecânico independente do tempo é chamada de constante de movimento do sistema. Neste caso particular C é a energia total do sistema. Para o espectro de absorção temos h=E2−E1= Z2me4 2ℏ2 1n12− 1n22 , sabendo que =c , 1 == 2Z22me4 2ℏ2 1n12− 1n22 ⇒ número de onda Demonstração: h= hc = Z 2me 4 2ℏ 2 1n12− 1n22 , 1ℏ 2= 4 2 h2 1 == 4 Z 22me 4 2h c h2 1n12− 1n22 = 2 Z 22me 4 c h3 1n12− 1n22 é conhecido como número de onda, com unidade cm1 e é proporcional à energia ou diferença de energia entre dois níveis. É o recíproco do comprimento de onda em uma linha espectral. 1 ==R y 1n12− 1n22 A equação acima reproduz os espectros experimentais de linhas espectrais para o átomo de hidrogênio: n1=1 Série de Lyman n4=1 Série de Bracket n2=1 Série de Balmer n5=1 Série de Pfund n3=1 Série de Paschen Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 10 O modelo de Bohr funciona bem para sistemas hidrogenoides mas falha na explicação de espectros de átomos de mais de um elétrons, na explicação do ordenamento da Tabela Periódica, efeito de blindagem, e outros dados experimentais. O passo seguinte na evolução da Física foi dado por Louis de Broglie em 1924 quando reconhece que luz e matéria possuem comportamento dual, isto é, comportamento de onda e partícula. A ponte entre estes dois comportamentos é resumido na expressão conhecida como equação de de Broglie: = h p = h mv em que λ é o comprimento de onda da partícula, m é a massa, p é o momento e v é a velocidade da partícula. Thomson, Germer e Davidson confirmaram a hipótese de Broglie em 1927: relataram o fenômeno da difração de elétrons. A difração é um fenômeno associado ao movimento ondulatório. O comprimento de onda λ era o exatamente previsto pela equação de de Broglie. 5 - AS FORMULAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA Existem duas aproximações iniciais: a) Erwin Schrödinger: assumiu que o movimento dos elétrons podia ser tratado como ondas desenvolveu a mecânica ondulatória. Partiu das informações da mecânica clássica a respeito do movimento ondulatório e as aplicou aos movimentos eletrônicos e moleculares. Assumiu com condição de contorno que um elétron ou uma molécula possui ondas estacionárias como uma corda presa entre duas extremidades. A partir do método proposto por Schrödinger surgiu um formalismo matemático que relaciona quantidades observáveis a determinadas operações matemáticas. b) Werner Heisenberg: um pouco antes e de forma independente, a partir de propriedades de matrizes alcançou os mesmos resultados de Schrödinger. M. Born e P. Jordan: demonstraram que as duas abordagens eram equivalentes. P. A. M. Dirac e J. von Neumann: demonstraram que estas aproximações eram casos particulares de uma teoria mais geral conhecida como Mecânica Quântica Relativística. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 11 Apresentaremos a formulação da mecânica quântica na aproximação de Schrödinger que se baseia em postulados a exemplo do que ocorre com as Leis da Termodinâmica estes postulados são justificados, em parte, pelo fato de que seus resultados concordam com resultados experimentais. 5.1 – OS POSTULADOS DA MECÂNICA QUÂNTICA Postulados: formam um conjunto de afirmações fundamentais em que se deve “aceitar como verdadeiros” e tirar conclusões desta teoria. Estas conclusões são testadas por experimentos e se a teoria se confirma o postulado é justificado. Um postulado é tão mais fácil de ser aceito quanto mais cotidiano ou mais relacionado a experiênciasordinárias estiver. Os postulados são justificados apenas pela sua habilidade de predizer e correlacionar fatos experimentais e pela sua aplicabilidade geral. Em mecânica quântica os postulados estão longe de nossa experiência cotidiana, pois tratam do comportamento de átomos e moléculas. Variável dinâmica: qualquer propriedade de um sistema de interesse. Ex.: r posição , E energia , etc. : são chamadas de variáveis mesmo que sejam constantes. Observável: é qualquer variável dinâmica que pode ser medida. POSTULADO I a) qualquer estado de um sistema dinâmico de N partículas é descrito tão completamente quanto possível por uma função de estado ou de onda q1, q2, ⋯ , q3N , t tal que, b) a quantidade ∗ d (Ψ* é o complexo conjugado de Ψ) seja proporcional à probabilidade de encontrar q1 entre q1+dq1, q2 entre q2+dq2, q3N entre q3N+dq3N em um tempo definido t. Parte a explicada: q1, q2, ⋯ , q3N , t é uma função das três coordenadas espaciais e do tempo, para um sistema de N partículas (3N coordenadas espaciais). Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 12 Para um sistema de muitas partículas, a função de onda Ψ não pode ser interpretada como qualquer tipo de onda física. É melhor pensar a respeito da função de onda Ψ como sendo uma função da qual se extrai ou se calcula várias propriedades do sistema ⇒ a função Ψ contém “todas” as informações a respeito do sistema. q1, q2, ⋯ , q3N , t função de onda dependente do tempo. Se as propriedades observáveis do sistema não dependem do tempo, dizse que o sistema é estacionário, e o sistema é dito conservativo. Parte b explicada: Esta segunda parte do postulado I dá a interpretação física da função de onda . Considerando uma única partícula se movendo apenas na direção x, então ∗ d x representa a probabilidade de se encontrar a partícula entre x e x+dx em um dado tempo t. Se a função de onda qi , t descreve sistemas físicos reais, então sua natureza está sujeita a determinadas restrições matemáticas que necessitam fazer sentido do ponto de vista físico, a saber: 1) a função de onda tem de ser contínua ⇒ suas derivadas primeira e segunda também têm de ser contínuas; 2) a função tem de ser unívoca; 3) a função tem de ser de quadrado integrável, isto é, tem de ser finita no intervalo de integração considerado ⇒ qi , t tende a zero em ±∞ . Restrição 1: A função tem de ser contínua porque descreve, por exemplo, o movimento de uma partícula em um determinado intervalo do espaço. Do postulado que diz que ∗ d é uma probabilidade. A restrição da integrabilidade é uma exigência de que a probabilidade de encontrar a partícula em todo o espaço é finita, pois estamos considerando um sistema físico real. Um caso especial desta exigência ocorre quando ∫ −∞ ∞ ∗ d =1 d =dx dy dz A probabilidade de se encontrar a partícula no intervalo de integração considerado é 100%. Nesta situação especial dizse que a função de onda está Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 13 normalizada. O significado físico deste sistema é que a probabilidade de se encontrar a partícula em alguma região do espaço é 100 %. Restrição 2: A função tem de ser unívoca: para cada valor de x existe apenas um valor único de f(x). Por exemplo f(x)=xex. Exercício 3.7, Hanna: a) Demonstrar se as funções f x =ea x e f x =e−a x segundo as condições a0 e 0x∞ satisfazem as restrições para uma função matemática adequada para descrever um sistema eletrônico; b) Considere =A e−i m com 0∞ . Calcule a constante de normalização A da função. POSTULADO II Para todas as propriedades observáveis de um sistema, existe um operador matemático Hermitiano linear, e as propriedades físicas do observável podem ser inferidas das propriedades matemáticas do operador a ele associado. Operador linear obedece duas condições: O f g = O f O g , f e g são funções O af =a O f , a=constante e f = função Operador Hermitiano linear: a propriedade deste operador é que dele sempre se obtém valores reais dos observáveis a eles associados. POSTULADO III Supondo que o operador é um operador que corresponde a um observável e existe um conjunto de sistemas idênticos no estado Ψs (cada sistema se encontra no estado Ψs ou é descrito por uma função de estado Ψs). Supondo que Ψs é uma autofunção de : s=a s s . Então se um experimentador faz uma série de medidas da quantidade correspondente a em d diferentes membros do conjunto Ψs, o resultado será sempre as. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 14 Observe que o experimentador só obtém o mesmo resultado se Ψs for autofunção do operador . Este postulado é a ponte entre o formalismo matemático da mecânica quântica e resultados experimentais Exemplo: cálculo das energias permitidas para um sistema atômico ou molecular comparados com valores experimentais; potencial de ionização, afinidade eletrônica; etc. O postulado III afirma: para que para medidas de energia em uma série de sistemas idênticos seja reprodutíveis, o estado do sistema tem de ser descrito por uma função de estado ou de onda que seja autofunção do operador correspondente à energia total do sistema ⇒ o problema de se calcular a energia total do sistema se reduz a encontrar a função de onda Ψs que satisfaça a equação de autovalor para o operador de energia total. O operador para a energia total de sistemas atômicos ou moleculares é chamado de operador Hamiltoniano e a equação de autovalor é H N=EN N , N é o número de partículas do sistema. H= T V=− ℏ 2 2 m∇ 2V q : Operador Hamiltoniano Assumindo que o sistema de é de uma partícula − ℏ 2 2m ∇ 2V =E , ou− ℏ 2 2m ∇ 2V−E=0 que é conhecida como equação de Schrödinger para uma partícula no estado estacionário. Assim, para se calcular a energia do sistema usase o operador Hamiltoniano, se quiser calcular o momento angular, usase o operador correspondente ao momento angular, etc., ou seja, para cada grandeza OBSERVÁVEL há um operador matemático que corresponde a ela. POSTULADO IV Dado um operador e um conjunto de sistemas idênticos (átomos, moléculas, íons, etc.) caracterizados por uma função de onda Ψs, que não é autofunção do operador . Uma série de medidas da propriedade correspondente ao operador Ô aplicadas a diferentes membros do conjunto, não resultará no mesmo valor, mas sim uma distribuição de resultados será obtida, cujo valor médio é dado por Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 15 〈 〉= 〈 s∣ ∣ s〉 〈 s∣ s〉 Se s≠as s , s não é autofunção do operador então 〈 〉 é o valor médio do observável . 5.2. Aplicação dos Postulados em problemas simples 5.2.1. Partícula ou elétron na caixa unidimensional Este problema ilustra vários princípios da mecânica quântica. Demonstra que a discretização da energia surge naturalmente da solução do problema em função das condições de contorno do problema. A partícula na caixa nos remete a um OA ou OM. Fig.1 - Potencial com barreiras infinitas As condições de contorno são: Fora da caixa: V=∞ Dentro da caixa: V=0 Largura da caixa: a Estas condições garantem que a partícula está dentro da caixa em uma posição qualquer em 0<x<a. Aqui o observávelde interesse é a energia da partícula. O operador Hamiltoniano é o operador relacionado à energia do sistema. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 16 H=− ℏ 2 2m d2 dx 2 V q : Operador Hamiltoniano em x Postulado III: a função de onda deve ser autofunção do operador Hamiltoniano. Para isto temos que resolver a equação de autovalores H n n=En n A solução do problema pode ser dividida em duas partes: dentro e fora da caixa. Fora da caixa: V=∞ H=E ℏ2 2m d2 dx2 E−∞=0 d2 dx2 =∞ 2m ℏ2 Não existe função que, restrita às condições impostas pelo Postulado I, quando diferenciada duas vezes resulte em ∞ . Qualquer função que satisfaça a equação acima tem, necessariamente, quadrado da função não integrável. Portanto, fora da caixa a única solução possível é =0ψ de acordo com o Postulado I a probabilidade de se encontrar a partícula fora da caixa é nula. Devido a barreira de potencial ser infinita, a partícula precisaria ter energia infinita para sair da caixa. Dentro da caixa: V=0 H=E ℏ2 2m d2 dx2 E−0=0 d2 dx2 =−2mE ℏ2 Equação diferencial de segunda ordem cujas soluções são funções que quando diferenciadas duas vezes resulta na mesma função multiplicada por uma constante. Um exemplo de função que cumpre esta exigência é uma função do tipo =A sen x Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 17 Uma equação diferencial de segunda ordem, em geral, contém duas constantes arbitrárias. Estas constantes podem ser determinadas integrandose a equação no intervalo determinado pelas condições de contorno e na aplicação do conceito de normalização d2 dx2 = d d x [ dd x Asen x]=−2 A sen x=−2 Aqui identificamos α2 com 2mEℏ2 . Assumindo que =Asen x é solução da equação de autovalores. Na solução da equação acima observase que a energia do sistema pode assumir qualquer valor. Aplicandose as condições de contorno obtemos 0= a=0 0=Asen 0 a=Asen a⇒válida se a=n , n=1,2,3 ,⋯ a=n⇒=n a ⇒2=n 22 a2 =2mE ℏ2 E=ℏ 2 n22 2ma2 =n2 h28ma2 , n=1,2 ,3 ,⋯ São os valores de energia permitidos para a partícula na caixa. A imposição das condições de contorno restringiu os valores permitidos de energia a valores discretos. Para se completar o cálculo da função de onda devese aplicar a condição de normalização dentro dos valores de contorno (limites de integração do espaço em que a partícula pode se mover) n=[2a sen n xa ] 2 ; E= h 2 n2 8ma2 =n2 h28ma2 , n=1,2,3 ,⋯ Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 18 Resolução para a constante de normalização A: ∫ 0 a [ 2a sen n xa ] 2 dx=1, =n a ∫ sen2 xdx=∫ 12 1−cos 2xdx= 1 2 x−1 4 sen 2xC Resultados obtidos deste exemplo: a) para o mesmo valor de n, a energia é inversamente proporcional à massa da partícula e o quadrado da largura da caixa à medida que m e a largura da caixa aumentam. Os níveis de energia se tornam menos espaçados: no limite m e a muito grandes a energia tende para um continuum e o comportamento da partícula deixa de ser microscópico. b) apenas quando o produto ma2 é da mesma ordem de grandeza de h2 é que a energia é quantizada se torna importante em medidas experimentais (níveis atômicos e moleculares). Quando se trabalha em níveis macroscópico os níveis de energia ficam tão próximos que se assemelha a um continuum c) quando ma2>>h2 os resultados da mecânica quântica se igualam aos da mecânica clássica, pois esta última é um caso particular da primeira. Este fato corresponde ao Princípio da Correspondência. Exercício 3.11 Hanna: Calcule a energia, em cm1, dos dois primeiros níveis da partícula na caixa, e a diferença de energia E2E1 para: a) um elétron em uma caixa de 2 Å de largura; b) uma bola de massa 1 g em uma caixa de 10 cm de largura. Primeiro resultado do modelo da partícula na caixa: a quantização da energia. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 19 Segundo resultado do modelo da partícula na caixa: o número de nós da função de onda aumenta com o aumento de n e consequentemente com o aumento de En. Este fato é um fato geral das funções de onda, e é compatível com a relação de de Broglie. À medida que o número de nós aumenta a energia da partícula, diminui o comprimento de onda (aumenta a frequência) A definição de nó da função de onda é um ponto em que =0Ψ o que significa que a probabilidade de encontrar a partícula neste ponto é nula. Podemos fazer uma analogia com o aumento de nós nas funções s, p, d e f. Terceiro resultado do modelo da partícula na caixa: as funções de onda são ortogonais. Considerando a função n=2a sen n xa 〈 1∣ 2〉= 2 a∫0 a sen xa sen 2 xa dx sen 2x =2 sen xcos x ∫ senn kx coskx dx= sen n1kx n1k 〈 1∣ 2 〉=0 Esta demonstração prova que qualquer integral do tipo 〈 i∣ j 〉=0 . Os dois orbitais são ortogonais. i e j são estados (níveis) diferentes e, portanto, não há recobrimento entre partículas em níveis de energia diferentes. Um modo resumido de expressar esta afirmação é 〈 i∣ j 〉=ij {ij=1 i= jij=0 i≠ j ijdelta de Kroenecker Aplicação da propriedade de ortogonalidade de funções de onda: O princípio da incerteza de Heisenberg O conceito de ortogonalidade entre funções de onda de estados diferentes tem papel fundamental no formalismo matemático da Mecânica Quântica. Considerando outra propriedade da partícula na caixa, por exemplo o momento na direção x para um conjunto de sistemas idênticos no qual a partícula está no estado fundamental. Suponha que estamos interessados em medir a componente do momento na direção x. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 20 n=2a sen n xa p x=−i ℏ d dx : operador momento na direção x Aplicando este operador sobre a função de onda obtemos p^xΨn=−i ℏ d d x [√( 2a ) sen( π xa )]=−i ℏ dd x [ πa √( 2a )cos( π xa )] Observase que Ψn não é autofunção do operador, uma série de medidas de px não resultará no mesmo valor. Devemos utilizar o teorema do valor médio para calcular o valor esperado de px no estado fundamental (n=1) 〈 px〉1= 〈 1∣ px∣ 1〉 〈 1∣ 1〉 =0 Este resultado concorda com o fato de que um número grande de medidas sobre o conjunto de sistemas idênticos é zero. Aplicandose o operador px 2 temos px 2=−iℏ d d x 2 =−ℏ d 2 dx2 Aplicandose sobre a função de onda obtemos p x 2 n=−ℏ d 2 dx2 [2a sen xa ]=ℏ22a2 [ 2a sen xa ] ℏ22 a2 ⇒autovalor de px 2 Lembrando que: Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 21 E=ℏ 2n22 2ma2 ⇒ ℏ 22 a2 =2m En n2 para n=1 ⇒ ℏ 22 a2 =2mE1 p x 2 1= ℏ22 a2 =2mE1 tomando a raiz quadrada de px 2 1 px 21=±2mE1 1/2 Os resultados para os operadores 〈 px〉1 e px 2 1 apresentam um dilema 〈 px〉1=0 px 21=±2mE1 1/2}A solução recai nos postulados III e IV. – Qualquer medida de (px)21 sempre resulta em 2mE1, o momento (px)1 sempre resulta ±(2mE1)1/2; – Uma única medida de (px)1 resultará em um valor positivo ou negativo. O que o postulado do valor médio afirmaé que se se realiza um grande número de medidas de (px)1 obterá o mesmo número de medidas com mesmo valor positivo ou negativo ±(2mE1)1/2 e o valor médio será de (px)1 zero. O ponto importante é que nunca se saberá se a próxima medida resultará em um valor negativo ou positivo. Dizse que há uma incerteza no nosso conhecimento do momento, e a grandeza desta incerteza é 2×2mE1 1/2=2× px1 – Se a partícula está no estado Ψn a única afirmação possível sobre ela é que está em algum lugar na caixa. A incerteza na coordenada x da partícula é a largura da caixa a. Calculandose o produto das incertezas da posição e do momento da partícula na caixa de largura a, temse: x pa×22m En 1 /2 x p2a×n ℏ a x pnh considerando :{ En= ℏ 2n22 2ma2 2mEn= ℏ2n22 a2 ;2mEn 1/2=ℏna ℏ= h2 Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 Revisão Matemática e Postulados 22 x p≈h é a expressão matemática do Princípio da Incerteza de Heisenberg: medidas simultâneas da posição e momento (velocidade) da partícula não pode ser feita com exatidão maior que o valor da constante de Planck. Como o valor numérico da constante de Planck é muito pequeno, o princípio da incerteza tem efeito apenas em partículas macroscópicas (pequeníssima massa). Exercício 3.13 Hanna. a) Calcular a incerteza no momento e velocidade de um elétron em uma caixa de largura 1 Å; b) um átomo de hidrogênio em uma caixa de 10 Å; c) uma bola de 1 g em uma caixa de 10 cm. Uma pergunta surge naturalmente: por que, se uma partícula descrita por uma função de estado Ψ1, não se pode localizála com uma precisão maior que “em algum lugar na caixa”? Suponha que a largura da caixa seja de 0 a ½: a probabilidade de se encontrar a partícula dentro da caixa é um e fora dela é zero. Como a caixa é exatamente a metade da do caso discutido, E1 aumenta de um fator de quatro vezes En= ℏ2n22 2ma2 0xa En ' = ℏ 2n22 2m a24 =4 ℏ 2n22 2ma2 =4 En0x a 2 e a incerteza aumenta de um fator de 2 vezes p x1=±2m E 1 1 /2 px1 '=±2m E1 ' 1/2=±2m 4 E 1 ' 1 /2=±2 2m E 1 ' 1/2 px1 '=±2 px 21 A incerteza é o dobro daquela relativa à caixa de largura a. Este aumento na incerteza do momento é compensado exatamente pelo aumento na precisão da localização da partícula em uma caixa menor. Prof. Ricardo Celeste – UNICENTRO, Guarapuava PR - 03/08/14 0.1 Coordenadas cartesianas 5.1 – OS POSTULADOS DA MECÂNICA QUÂNTICA POSTULADO I POSTULADO II POSTULADO III POSTULADO IV 5.2. Aplicação dos Postulados em problemas simples 5.2.1. Partícula ou elétron na caixa unidimensional
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