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MATERIA DE HERMENEUTICA JURIDICA 1 BIMESTRE

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1o BIMESTRE
01 - APRESENTAÇÃO INICIAL
	 
	Olá, pessoal!
Sejam bem vindos à disciplina de HERMENÊUTICA JURÍDICA E TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA pelo ambiente virtual.
Eu sou o professor Anderson de Azevedo.
Lembram de mim?
Brincadeira ... Esse aí é o Agostinho,
... da Grande Família ... 
Qualquer "parecência" é mera coincidência !!!!
Bem, estou aqui para dizer que teremos uma jornada longa, mas muito produtiva, com encontros semanais, durante todo o ano, sempre com liberação de aulas de Hermenêutica às sextas-feiras, conforme prevê o nosso calendário.
 Hoje, pessoal, estou aqui apenas para me apresentar como professor, e pedir para que vocês, simplesmente, não desistam de mim.
Não desejamos o sucesso?
Vamos pagar o preço?
Dedicação e Trabalho!
Acesse  vídeo abaixo e reflita sobre isso!!! 
http://www.youtube.com/watch?v=jZImbbr12Po&feature=player_embedded 
 
  Gostou?
Na próxima semana já teremos o nosso primeiro encontro presencial, com a apresentação do plano de ensino, oportunidade em que discutiremos o conteúdo programático, as avaliações, a bibliografia básica e complementar e, principalmente, a forma que devemos adotar nesse modelo de ensino (à distância).
   
Bom, ... apenas passei para avisar da liberação da plataforma e de que estaremos juntos a partir de agora. Não acessou o calendário ainda? Está no primeiro link da plataforma, na aula anterior ...
Qualquer dúvida, me envie um e-mail.
Forte abraço e um ótimo ano de estudos.
Por hoje é só ...
Prof. Anderson
	
1o BIMESTRE
02 - AULA PRESENCIAL
	 
	
Apresentação do professor, da disciplina, do método de aprendizagem (ensino à distância), das avaliações (trabalhos, fóruns, chats, questionários e provas) e plano de ensino.
	
1o BIMESTRE
03 - INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA JURÍDICA
	 
	
 
E AÍ, PESSOAL. TUDO CERTO?
 
Hoje iniciaremos nossos estudos a respeito de hermenêutica jurídica. O OBJETIVO dessa aula é apresentar os conceitos fundamentais que envolvem a hermenêutica jurídica, especialmente essa expressão "hermenêutica" e outra, correlata: "interpretação".
 
Dentre as COMPETÊNCIAS E HABILIDADES perseguidas, pretendemos, nesse início aprender a utilizar corretamente a terminologia jurídica
 
CONTEÚDO: Os temas propostos para hoje são:
1) Conceitos e diferenças entre Hermenêutica e Interpretação.
2) Funções da Hermenêutica.
 
AVALIAÇÃO: Após a aula haverá uma avaliação, que na verdade, consiste em um fórum. Não esqueça de participar, porque ele vale nota. Conforme já tivemos oportunidade de falar pessoalmente, nesse bimestre teremos 4 avaliações, dentre fóruns, chats, questões de múltipla escolha e dissertação. Cada avaliação vale 25 pontos e a soma total é 100 pontos, com peso 40 na nota bimestral. 
 
 
  
CALMA, NÃO SE ASSUSTA !!!  
VAI SER TRANKS!!!
     
1. INTRODUÇÃO E ORIGENS
O termo  hermenêutica,  de  origem  grega,  é possivelmente  oriundo de  "Hermes",  o deus  que, na mitologia grega,  foi considerado o  inventor da  linguagem e da escrita. Hermes  também  tinha a  função de trazer as instruções dos deuses para o entendimento do ser humano, o que já mostra as ligações iniciais entre hermenêutica e a linguagem.
 
 
A hermenêutica surgiu primeiramente na teologia pagã, depois migrou para a teologia cristã, passando a ser estudada pela a filosofia. Só depois, tornou-se um dos ramos do conhecimento jurídico. O estudo da hermenêutica  jurídica, ou seja, a  técnica e os métodos para a correta  interpretação das leis se torna fundamental para o estudo da ciência do direito.
 
No entanto, podemos perceber já uma centelha da hermenêutica jurídica no Direito Romano, quando, a partir do desenvolvimento da vida em uma sociedade mais complexa, multicultural, os pensadores, juristas romanos, começam a lidar com o problema da variação de sentidos da lei e sua aplicação, com o objetivo de promover a pacificação social.
 
Na verdade, desde a sua fundação, em 753 a .C., como uma cidade-Estado monárquica (civitas), até o advento da República, em 509 a .C., Roma adotava o modelo de direito arcaico ou primitivo. Esse sistema vigorou até o advento da Lei das XII Tábuas, legislação promulgada entre 451 e 450 a .C., por influência da civilização grega e, principalmente, pela forte pressão popular da classe plebéia que exigia maior participação política. A Lei das XII Tábuas foi um dos marcos do direito romano, porquanto instituiu o modelo de um direito codificado que influenciou e ainda influencia toda a civilização ocidental. 
 
A lei escrita passou a ser o referencial da ordem jurídica. Mas ela nunca é suficiente para solucionar todos os problemas que a sociedade apresenta.
 
 
Com a instituição da República, até o advento do Império, organiza-se também o órgão responsável pela pacificação social em Roma: a magistratura. Inicialmente a atividade de julgar foi atribuída a dois magistrados supremos, chamados cônsules, e de diversos outros magistrados com funções específicas.Com o desenvolvimento urbano, houve a necessidade de se constituírem outras magistraturas, para o exercício de atividades co-relacionadas à solução de conflitos sociais.
 
  
Durante o período do direito clássico romano, em razão do forte desenvolvimento de Roma e da complexidade das relações sociais, aumentam sobremaneira os conflitos comunitários. O século II a.C. é especialmente um momento em que Roma passou a sofrer os efeitos da superconcentração populacional derivada do êxodo rural. 
 
A magistratura, por conseguinte, se transmudou e se adaptou às constantes variações do exercício do poder político em Roma, deixando de fazer a aplicação da lei estritamente aos patrícios e passando a adaptá-la à realidade de plebeus e estrangeiros. Surgem as raízes da hermenêutica jurídica, porquanto o magistrado passou a ser chamado a interpretar os textos jurídicos e adaptá-los a situações cotidianas não abrangidas pela lei. A complexidade cada vez maior dos problemas acabou desenvolvendo a jurisprudência, com o auxilio da hermenêutica jurídica.
 
 
Mas, há diferença entre HERMENÊUTICA e Interpretação?
 
 
2. HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO
O nome dado à ciência que estuda e confecciona o repertório de enunciados a serem respeitados pela vida interpretativa é Hermenêutica. Quando esses enunciados dizem respeito a fatos jurídicos, relativos ao cumprimento ou descumprimento de leis, contratos, sentenças, costumes, etc ... esse ramo do conhecimento científico recebe a designação específica de HERMENÊUTICA JURÍDICA. 
 
Já a interpretação tem outra dimensão, um caráter mais concreto, seguindo uma via preestabelecida, em caráter abstrato, pela Hermenêutica. Pode-se dizer que a interpretação somente se dá em confronto com o caso concreto a ser analisado pelo operador do direito. A Hermenêutica, ao contrario, é totalmente abstrata, isto é, não tem em mira qualquer caso a resolver.
Assim a interpretação é, nada mais nada menos, que a aplicação ao caso concreto de enunciados já estabelecidos pela ciência da Hermenêutica.
 
 
 
 Pedro dos Reis Nunes faz a distinção entre as expressões, atribuindo à interpretação a noção de técnica, enquanto que à hermenêutica associa à idéia de ciência, no seu dizer, Hermenêutica Jurídica é a “ciência de interpretação” das normas jurídicas.
A interpretação é momento de contato direto do intérprete com a norma jurídica, ocorre quando o operador do direito procura encontrar, por meio de técnicas específicas, qual o real conteúdo e significado da norma jurídica. Por outro lado, a hermenêutica jurídica é a ciência formada  pelo conjunto sistêmico de técnicas e métodos interpretativos.
No mesmo sentido, posiciona-se Maria Helena Diniz que afirma tratar-se a hermenêutica da “teoria científica da arte de interpretar”. Ou seja, o conjunto de princípios e normas que norteiam a interpretação é uma ciência: a hermenêutica.
 
Interpretar é descobriro sentido de determinada norma jurídica ao aplicá-la ao caso concreto. 
 
Abaixo o Professor Lenio Streck, nos ensina um pouco mais sobre Hermenêutica Jurídica, quando lançamento da 11a Edição de sua obra "Hermenêutica Jurídica em Crise". Acompanhe o ensino professor Lênio, que é bem esclarecedor.
 http://www.youtube.com/watch?v=vq3Upkg9Vmw&feature=player_embedded
A vaguidade, ambigüidade do texto, imperfeição, falta da terminologia técnica, má redação, obrigam o operador do direito, a todo instante, interpretar a norma jurídica visando a encontrar o seu real significado, antes de aplicá-la a caso sub judice.
Mas não é só isso. A letra da lei permanece, mas seu sentido deve, sempre, adaptar-se às mudanças que o progresso e a evolução cultural do vocábulo imputam à sociedade.
Interpretar é, portanto, explicar, esclarecer, dar o verdadeiro significado do vocábulo, extrair da norma tudo o que nela se contém, revelando seu sentido apropriado para a vida real e conducente a uma decisão.
 
 
Tércio Sampaio Ferraz Júnior:  “a determinação do sentido das normas, o correto entendimento do significado dos seus textos e intenções, tendo em vista decibilidade de conflitos constitui a tarefa da dogmática hermenêutica”.  
  
EM SÍNTESE:
		INTERPRETAÇÃO
	HERMENEUTICA
	o caráter concreto
	caráter abstrato
	somente se dá em confronto com o caso concreto a ser analisado e decidido pelo judiciário
	não tem em mira qualquer caso a resolver
	a noção de técnica
	idéia de ciência - “ciência de interpretação” das normas jurídicas
	é momento de contato direto do intérprete com a norma jurídica - ocorre quando o operador do direito procura encontrar, por meio de técnicas específicas, qual o real conteúdo e significado da norma jurídica
	ciência formada  pelo conjunto sistêmico de técnicas e métodos interpretativos.
  
3. FUNÇÕES DA INTERPRETAÇÃO
Não existe unanimidade, na doutrina, em relação à definição das funções da interpretação das normas jurídicas. Para Maria Helena Diniz as funções da interpretação são as seguintes:
 a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram origem;
 b) estender o sentido da norma a relações novas, inéditas ao tempo de sua criação;
 c) temperar o alcance do preceito normativo, para fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos valores que pretende garantir.
  
 
 
 EROS ROBERTO GRAU, 
ministro aposentado do STF, entende que a interpretação do direito não pode ser dissociada da sua aplicação, afirma que interpretar é “dar concreção (= concretizar) ao direito”, reconhecendo para tanto, como único intérprete, verdadeiramente, autêntico o Juiz, que é o responsável pela construção da norma decisão.
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Nas próximas aulas iremos aprofundar essa análise, discutindo aspectos bem mais filosóficos da matéria, iniciando com a apresentação das escolas hermenêuticas, que nos apresentarão as diversas formulações teóricas acerca dessa nova ciência que se nos apresenta. E da análise das formulações dessas escolas poderemos extrair a real importância dos estudos da hermenêutica jurídica.
	 
No entanto, se você deseja, desde agora aprofundar seus estudos sobre o tema, leia os seguintes textos:
http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/7310/a_real_e_autentica_importancia_de_uma_interpretacao_hermeneutica_da_constituicao_federal_de_1988
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5707/Hermeneutica-origem-significado-e-atuação
http://revista.ulbrajp.edu.br/ojs/index.php/jussocietas/article/viewFile/577/396
 
Forte abraço e até a próxima aula.
	
1o BIMESTRE
04 - ESCOLAS HERMENÊUTICAS
	 
	E AÍ, GALERA!
TUDO TRANQUILO NA FOLIA DO CARNAVAL?
 
HORA DE ESTUDARMOS, ENTÃO...
Hoje vamos nos aprofundar nos estudos da hermenêutica jurídica, conhecendo as ESCOLAS HERMENÊUTICAS, isto é, as diferentes teorias que foram, ao longo dos tempos, formulando enunciados sobre as diversas técnicas de interpretação e aplicação das normas jurídicas.
Dentre as COMPETÊNCIAS E HABILIDADES que pretendemos desenvolver, podemos citar o uso correto da nomenclatura e terminologia jurídica, e a adequada correlação do direito em determinado momento histórico cultural de nossa sociedade.
E, especialmente hoje, não teremos nenhuma avaliação, em homenagem ao feriadão.
 
1. O QUE SÃO ESCOLAS HERMENÊUTICAS?
A primeira pergunta que você pode formular nessa aula é: O que são as Escolas de Hermenêutica? Será que são instituições de ensino que orientam seus alunos sobre como se deve interpretar a lei? Nada disso.
O estudo da História do Direito (eu gosto, né?) nos mostra que o fenômeno jurídico e, portanto, a interpretação do Direito sofreu uma evolução, ou seja, passou por etapas que corresponderam às prioridades que a sociedade foi identificando com o passar dos tempos, e que promoveram intensa modificação na forma de interpretar e aplicar a norma jurídica. 
De acordo com determinada época e também conforme o grau de liberdade que foi sendo conferido aos juízes, advogados, promotores, procuradores, enfim, aos operadores do Direito, foram surgindo novas formulações teóricas acerca da interpretação e aplicação do Direito. 
Quando essas formulações teóricas passam a ganhar consistência científica e passam a repercutir na vida em sociedade, transformando o próprio direito, podemos dizer que surge uma Escola Hermenêutica.
 
Então, vamos aprofundar um pouco mais esse ponto, conhecendo quais as principais Escolas de Hermenêutica que orientaram e ainda orientam a Ciência do Direito.
 
 
 
2. QUAIS SÃO AS ESCOLAS HERMENÊUTICAS?
A partir dessas considerações iniciais é possível identificarmos pelos menos 3 grandes Escolas Hermenêuticas, que agrupam pequenas outras escolas, considerando elementos que aproximam as formulações teóricas. Assim, temos as:
 
2.1. ESCOLAS TRADICIONAIS, LEGALISTAS OU CLÁSSICAS
a) Escola dos Glosadores
b) Escola dos Comentadores
c) Escola da Exegese
d) Escola do Jusnaturalismo
 
2.2. ESCOLAS OU SISTEMAS MODERNOS
a) Escola Histórica
b) Escola da Livre Investigação Científica
c) Escola do Direito Livre
 
2.3. NOVAS CORRENTES
a) Escola Sociológica
b) Escola do Positivismo Formalista
c) Escola Egológica
d) Teoria Tridimensional do Direito
e) Escola do Direito Alternativo
 
VAMOS CONHECÊ-LAS!
 
2.1. ESCOLAS TRADICIONAIS, LEGALISTAS OU CLÁSSICAS
O primeiro grupo de escolas que se desenvolveu foram as escolas tradicionais ou legalistas, ou também chamadas de clássicas. São escolas em cuja doutrina predominam os elementos da gramática e da lógica interna (processo de raciocínio utilizado pelo intérprete por meio do qual ele submete a lei a uma análise do ponto de vista do texto legislativo, sem levar em consideração elementos de informação exteriores). 
Elas desenvolveram técnicas de interpretação e aplicação do direito que objetivam prender o direito aos textos legislativos, de forma rígida, defendendo a constante busca da vontade do legislador. 
Tá na cara que é coisa de velho, isso né?
Dentre as principais escolas tradicionais, destacam-se: a) Escola dos Glosadores; b) Escola dos Comentaristas ou comentadores; c) Escola da Exegese; d) Escola do Direito Natural ou Escola do Jusnaturalismo
 
a) Escola dos Glosadores 
Foi fundada em 1088, em Bolonha, perdurando até, aproximadamente, 1250. Lembra das aulas de História do Direito, do ano passado? Bolonha foi a primeira Universidade do mundo. Dá uma olhadinha no pátio e na sala de aula dos caras ...
	 
	 
Esses estudiosos, estavam preocupados em realizar a tradução de textos antigos, especialmente do corpus juris civilis, com a transcrição das principais regras legais. Lembra do filme que assistimos no ano passado: "O Nome da Rosa"? Lembra que tinha um grupo de estudiosos no Mosteiro que realizava esse trabalho de analisar e transcrever esses textos antigos?Pois é, eles eram chamados glosadores porque faziam anotações à margem das normas inscritas nos documentos históricos, ao lado das inscrições legais. Essas anotações que fazemos ao lado de um texto são chamadas glosas, por isso o nome "Glosadores'.
Essa Escola do Direito se caracteriza por examinar o texto legal sob o ponto de vista gramatical, interpretando as palavras e as frases de forma isolada do seu contexto e indiferente as modificações históricas. Tinham como característica principal a fidelidade ao Corpus Iuris Civilis. Davam explicações sobre cada parágrafo dos textos clássicos, mas sem preocupar-se em relacioná-los com outras partes da obra.
 
b) Escola dos Comentaristas ou Comentadores
Os adeptos dessa escola passaram a interpretar o Direito Romano de forma mais livre, ao buscar soluções para casos concretos, alicerçados no conjunto da obra, e não apenas em partes específicas do texto romano.Faziam uma interpretação com base filosófica, associando o Direito à Ética e buscando integrá-lo a um valor fundamental, a Justiça.
Procederam a uma nova ordenação da matéria jurídica que foi formada pela communis opinion, constituída pelas opiniões comuns dos doutores da época, uma espécie de doutrina baseada em formulações lógicas e racionais.
As communis opinion foram adotadas como argumento de autoridade e fonte de criação ou de interpretação do Direito.
Uma das principais consequencias dessa Escola Hermenêutica é a sentença (juicio), conforme a gente conhece hoje, divida em 3 partes (fatos, fundamentação e dispositivo), que, mesmo ao final da medievalidade e início da modernidade, já possuía os traços atuais, como a idéia do esgotamento da atividade do juiz. 
Nesse momento, já se percebe que a sentença não poderia ser dada contra a natureza das coisas, nem contra as leis escritas e os bons costumes, pois a ausência de um desses requisitos implicaria em inexistência de fundamentos lógico-racionais, não produzindo nenhum efeito. Também se encontrava alicerçada a idéia de certeza, precisão e delimitação do pedido.
 
c) Escola da Exegese (também denominada Clássica, Tradicional ou Dogmática)
Esta Escola, por entender que o Código Napoleão previa todas as situações da vida, acreditava que a interpretação devia limitar-se à pesquisa da vontade do legislador, levando-se em conta sua intenção. Essa era a perspectiva do positivismo moderno, derivado da idéia de que o Legislativo é um SUPERPODER.
Seu surgimento deveu-se a Revolução Francesa que permitiu o crescimento de uma verdadeira escola de hermenêutica dedicada a combater o arbítrio judicial. Contra o Absolutismo Judicial se insurgiram os seus adeptos, proclamando uma total subserviência do poder de decidir ao texto da lei, expressão única do direito (Montesquieu, Laurent, Pescatore). 
	 
	 MONTESQUIEU
 
	 
	=
Para esses pensadores, da Escola Exegética, se a lei é clara, inútil qualquer tentativa de interpretação senão aquilo que o próprio legislador objetivou escrever com aquele determinado texto: in claris cessat interpretatio (na clareza da lei cessa a sua interpretação). Sendo a lei incerta, ambígua ou obscura, é mister perquirir a vontade, o pensamento do legislador. 
O intérprete, segundo os ensinamentos da escola, devia aplicar, precisa e mecanicamente, a regra desejada pelo legislador. Afinal, o Direito para a Escola da Exegese era o Código, e o Código não tinha lacunas. Assim, a conseqüência da doutrina ensinada pela Escola da Exegese é a de que O Estado é o único produtor do direito.
Crítica: “da vontade primitiva, aparentemente criadora da norma se deduziria, quando muito, o sentido desta, e não o respectivo alcance, jamais preestabelecido, e difícil de prever” (Carlos Maximiliano, ob. cit., p. 72). Ou seja, essa Escola desconhecia a natural evolução dos fatos sociais, base do direito. 
Para aprofundamento no tema, vide o texto constante dos seguintes links. Vale a pena:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9031
http://jus.com.br/revista/texto/23137/a-escola-da-exegese-origem-caracteristicas-e-contribuicoes
 
d) Escola do direito natural ou Escola do Jusnaturalismo (Hugo Grócio)
Essa Escola acabou influenciando as grandes codificações do início do séc. XIX, especialmente o Código Civil Francês, de 1804 (Código de Napoleão), segundo o qual: "Existe um direito universal, imutável, fonte de todas as leis positivas, e que não é mais do que a razão natural enquanto diretora de todos os povos da terra".
 
	 
	 
De acordo com essa perspectiva da Hermenêutica Jurídica, a norma (Direito) deve ser interpretada segundo os seguintes princípios:
1)    Princípio do Direito à Vida;
2)    Princípio do Direito à Liberdade;
3)    Princípio do Direito à Participação na Vida Social;
4)    Princípio do Direito da União entre os Seres (para criação da prole);
5)    Princípio do Direito da Igualdade;
6)    Princípio do Direito de Oportunidade.
A interpretação do direito deve levar em consideração as características tradicionais do Direito Natural, ou seja:
1)    que o Direito Natural é eterno (válido para todas as épocas)
2)    que o Direito Natural é imutável (não se modifica - natureza humana)
3)    que o Direito Natural é universal (porque é comum a todos)
 
Essas foram as variações das Escolas Hermenêuticas Tradicionais, Legalistas ou Clássicas, que permearam as formas de interpretar e aplicar o Direito até o século XIX. A partir desse mesmo momento histórico (modernidade), principalmente a partir do século XIX, começam a surgir outras formulações teóricas sobre as técnicas de interpretação e aplicação do Direito, fruto de novas compreensões sobre o próprio fenômeno jurídico. Ingressamos na segunda modalidade de Escolas Hermenêuticas, isto é, nas Escolas ou Sistemas Modernos de Interpretação.
 
2.2. ESCOLAS OU SISTEMAS MODERNOS DE INTERPRETAÇÃO
Surgiram em decorrência das dificuldades que os Sistemas Legalistas encontravam para realizar justiça em determinadas situações concretas, já que aquelas escolas estavam extremamente apegadas à literalidade da regra. São as seguintes as escolas ou sistemas modernos de interpretação:
 
a) Escola Histórica
	Tem como principal representante Friedrich Karl v. Savigny. Colocavam a investigação histórica em primeiro plano. Impunha-se o conhecimento dos costumes e dos fatos sociais ligados ao conteúdo da lei, já que o direito, produto da vontade nacional, não se poderia considerar originário da razão humana. Essas escola permitindo ao magistrado aplicá-la a casos novos, dando-lhe sentido atualizado. 
	 
 
 
O art. 5° da nossa Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro filia-se a essa posição intermédia, ao estabelecer, que, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Da mesma forma, o art. 127 do CPC autoriza ao juiz decidir por equidade. São autorizativos legais que permitem ao magistrado extrapolar os limites semânticos da norma jurídica e aplicá-la segundo o contexto histórico no qual ela se encontra.
 
 
b) Escola de Livre Investigação Científica
	 
	Seu principal representante é  François Geny, para quem a lei é a fonte mais importante, mas, não é a única fonte existente no mundo jurídico. Essa escola reconhece e atribui importância também ao costume, a jurisprudência, a doutrina, e por isso é denominada escola da livre investigação científica. E mais, segundo essa concepção, inexistindo norma escrita ou consuetudinária é lícito ao juiz criar o Direito do caso concreto.
O Código Civil suíço ofereceu guarida ao preceito. Permitiu ao magistrado, na falta do direito escrito ou consuetudinário, sob inspiração da doutrina e jurisprudência consagradas, decidir segundo a regra que ele próprio estabeleceria se fora legislador. 
 
2.3. Escola do Direito Livre  
 
 
Herman Kantorowicz
Propôs novos métodos de interpretação, permitindo-se ao Juiz corrigir e completar a Lei, guiado por orientações subjetivas, com a valoraçãode interesses pelos próprios sentimentos. Competia ao juiz, de acordo com sua habilidade e consciência, procurar e aplicar o direito justo, superior à própria lei, especialmente se persistem dúvidas a respeito de seu conteúdo. 
Entretanto, não havia acordo entre os defensores desta corrente.
1 - Para uns, o juiz só pode criar o Direito no silêncio da Lei;
2 - Para outros, o juiz só pode criar o Direito ao proceder à interpretação lógica;
3 - E para outros, em qualquer caso, o Juiz tem liberdade para ir de encontro à norma, todas as vezes em que tiver como objetivo buscar o direito justo.
2.3. NOVAS ESCOLAS HERMENÊUTICAS
 
E, recentemente, no século XX surgiram novas formulações teóricas acerca da hermenêutica jurídica. São as novas escolas hermenêuticas, dentre elas
 
a) Escola Sociológica (realismo do direito) - Tem como representante Leon Duguit, para quem o importante na aplicação da Lei é a eficácia. As mutações e o progresso social não seriam antevistas pelo legislador. Cumpre ao intérprete a tarefa de fazer com que atinja o seu verdadeiro escopo, eminentemente social.
 
 
 
b) Escola do Formalismo Jurídico ou do Positivismo Formalista - KELSEN é o grande pilar dessa Escola, concebendo o Direito como uma ordem do dever ser separando-o da moral, que é simples dever. A regra moral não pode ser exigida pelo Estado, não é dotada de coercibilidade, ao contrário da regra de Direito. Temos então três dimensões: do ser (fato), do dever ser (norma) e do dever (moral). A tese fundamental é a da absoluta disparidade entre ser e dever ser. O fato, em si, não é objeto do Direito, mas sim da sociologia e história. O Direito é ciência autônoma que estuda não o fato, mas o fenômeno jurídico.  E, KELSEN procura uma explicação para o fenômeno jurídico desvinculado de indagação causal. Ou seja, não importam as causas do evento, apenas as consequências jurídicas previstas na lei. Esse é objeto da Ciência do Direito. Assim, o Direito é um conjunto de normas. 
 
c) Teoria Egológica do Direito, de Carlos Cóssio. É o oposto do positivismo. Para essa Escola o objeto da ciência do direito não é a norma, mas a conduta social. A conduta juridicamente regulada é (a) obrigatória, (b) proibida ou (c) potestativa. No primeiro caso, o direito exige sua execução e veda sua omissão. No segundo, o direito exige sua omissão e veda sua execução. No terceiro, o direito autoriza tanto sua omissão quanto sua execução. A norma é apenas CONCEITO de que o jurista se utiliza para pensar ou conhecer a conduta, sob o signo de valores jurídicos. 
 
 
d) Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale. A norma não é síntese de ser e dever ser. O fenômeno jurídico é tridimensional porque estabelece uma conexão entre o fato, o valor e a norma. O fato, no plano da eficácia. O valor como fundamento e a norma, no plano da vigência. 
 
 
e) Direito Alternativo - Amílton Bueno de Carvalho e João Baptista Herkenhoff. Entendem que uma norma injusta não deve fazer parte do Direito e que o legalismo representa um atraso, tendo-se em vista a dinâmica das relações sociais e da sociedade como um todo. Tentam fazer com que as leis injustas não sejam aplicadas, com a finalidade de se alcançar o bem comum e a diminuição das desigualdades, devendo o magistrado, para isso, se utilizar de valores éticos e morais na hora de aplicar o Direito ao caso concreto.
Essa visão alternativista não ocorreu apenas no Brasil. Na Itália, França e Alemanha - "renascimento do Direito Natural" adotado por Stammler, Del Vecchio e Radbruch.
 
 
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre o Direito Alternativo, essa nova formulação hermenêutica que se distancia do estrito cumprimento da regra imposta, eu selecionei, como complemento da aula, o debate do Programa "Conversas Cruzadas", da TV Com de Santa Catarina, que aborda o assunto, com bastante clareza e informação. Ele está dividido em 3 vídeos sequenciais, que somam, aproximadamente 30 minutos.
Se você tiver um tempinho, seria um ótima oportunidade para se aprofundar no tema.
 
 http://www.youtube.com/watch?v=Zb6ECy9jU6U&list=PLF55FCAF0D230E83B&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?v=U7OvRsFg1vw&list=PLF55FCAF0D230E83B&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?v=o-QZuq8jDfE&list=PLF55FCAF0D230E83B&feature=player_embedded
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
E daí, muito hard core a aula hoje? Muita informação? É, companheiro (a), não dizem por aí que o ano só começa depois do carnaval? Então, acabou a folia! Faz o seguinte, continue assim, participando todas as semanas, assistindo aos vídeos e, se possível, fazendo as leituras complementares, que vai dar tudo certo. E, se precisar, já sabe ...
 
PODE CONTAR COMIGO!!!
ATÉ A PRÓXIMA AULA.
	
1o BIMESTRE
05 - AS 5 FASES DO CICLO DA INTERPRETAÇÃO
	 
	Olá a todos!
É muito bom reencontrá-los.
Vamos continuar estudando a hermenêutica jurídica?
Mas, antes precisamos conhecer o nosso plano de aula! 
 
 
OBJETIVOS: vamos especificar a nossa análise, entendendo as diferenças entre hermenêutica, interpretação e aplicação do direito. Depois, vamos estudar as cinco fases da interpretação.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES PERSEGUIDAS: Dominar os métodos para a constante compreensão e aplicação do direito. Utilizar corretamente a terminologia jurídica. Analisar os textos jurídicos para auferir os resultados de interpretação e aplicação do direito.
CONTEÚDO: Cinco fases do ciclo de interpretação: Diagnóstico do fato. Diagnóstico do direito. Crítica formal e crítica substancial da norma jurídica. Interpretação. Aplicação. 
AVALIAÇÃO: Sem avaliação por enquanto. Mas, na próxima aula ... PREPARE-SE!
 
 
 
DICA DA AULA
ENQUANTO ESTIVER ACOMPANHANDO A AULA, CONCENTRE-SE NA LEITURA E NÃO FIQUE NAVEGANDO EM JANELAS PARALELAS. SENÃO, JÁ SABE ...
ENTÃO, VAMOS AO CONTEÚDO LOGO!
1. HERMENÊUTICA, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO
Para continuar entendendo a hermenêutica jurídica é preciso fazer, inicialmente, uma distinção entre hermenêutica, interpretação e a aplicação do direito, que são conceitos diversos. Essas palavras (hermenêutica, interpretação e aplicação) não são sinônimas, ou seja, não possuem o mesmo significado, mas fazem parte de uma mesma família ideológica. 
FAMÍLIA IDEOLÓGICA? 
Você sabe o que é família ideológica ou está igual ao Manolito da tirinha abaixo?
 
 
Família ideológica é um grupo de palavras que, apesar de terem significados distintos, são próximas e se relacionam. E quais são as relações entre as palavras "hermenêutica", "interpretação" e "aplicação"? 
A hermenêutica jurídica tem como objetivo estudar as diversas formas de interpretação da lei, isto é, esclarecer o sentido e o alcance das expressões jurídicas que compõem os textos legais. E a interpretação é um processo racional que visa, em última instância a aplicação do direito. 
 
É pelo processo interpretativo da norma jurídica que vamos saber se os fatos, as situações que acontecem no dia a dia da nossa vida, são regidas pelo Direito e quais leis que se aplicam a esses casos. Ou seja, "hermêutica", "interpretação" e "aplicação" são expressões que estão diretamente relacionadas umas com as outras.
Vamos tentar entendê-las...
O jurista Vicente Ráo, em sua brilhante obra "O Direito e a Vida dos Direitos", apresenta-nos o objetivo da hermenêutica:
 
	
 
	"A hermenêutica tem como objetivo investigar e coordenar por modo sistemático os princípios científicos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, no sentido e nos fins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para o efeito de sua aplicação."
 
 
Hoje, a hermenêutica jurídica é a ciência que utiliza a interpretação como um dos processos de entendimento do sentido das normas jurídicas. 
Cada palavra, cada expressão, cada sinal gramatical que integra um determinado dispositivo legal tem um significado, que pode ser interpretadode diferentes formas, dependendo da técnica utilizada .
Quando a Constituição reza no art. 5o, inciso XIII, que "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer", é óbvio que a palavra "qualquer" refere-se apenas ao trabalho lícito, autorizado pela lei. Portanto, não é "qualquer" trabalho, mas os ofícios legalmente reconhecidos.
Por óbvio, os integrantes de uma organização criminosa que controla o tráfico de drogas de uma determinada região não poderão ingressar com ações judiciais exigindo adicional de periculosidade do chefe da quadrilha. Esse tipo de "empresa" também não está sujeita à tributação do Estado. Já pensou?
Assim, a expressão qualquer trabalho mencionada no texto constitucional deve ser compreendida, não em seu seu sentido literal, porque não é "qualquer trabalho" que pode ser regulado pela lei. Esse processo racional de buscar o sentido e o alcance das expressões que compõe a lei é um dos temas da hermenêutica jurídica.
Por outra via, a aplicação das normas jurídicas consiste na técnica de adaptar os preceitos nela contidos e interpretados às situações que de fato acontecem. Geralmente, quem "aplica" a lei é Poder Judiciário, quando é chamado para "dizer o direito" (jurisdição) e resolver uma lide (um conflito).
A aplicação das leis deve levar em conta uma situação concreta. Devemos interpretar a norma, o sentido de suas expressões, para verificarmos se ela alcança a situação concreta que estamos examinando. A hermenêutica, portanto, lança mão tanto da interpretação quanto da aplicação da norma jurídica. Da interpretação, para alcançar o sentido preciso da norma; e da aplicação, para verificar qual a melhor forma de apllicá-la ao caso que é submetido à análise.
Vamos concentrar o nosso estudo, agora, na interpretação, e procurar compreender como ocorre o ciclo interpretativo.
 
2. O CICLO DA INTERPRETAÇÃO
De acordo com o jurista Vicente Ráo o ciclo da interpretação é uma forma de se raciocinar para buscar o sentido adequado da norma jurídica. São passos que vamos dando para interpretar e aplicar a norma jurídica ao caso concreto.
Esse ciclo É MARCADO POR 5 FASES:
A) Diagnóstico do fato
B) Diagnóstico jurídico
C) Crítica formal e substancial
D) Interpretação
E) Aplicação e adaptação
 
 
 ESTÁ NEBULOSO?
CALMA, NÃO FIQUE APAVORADO!
 
Vamos tentar entender cada um desses passos 
apresentados pelo Prof. Vicente Ráo.
2.1. DIAGNÓSTICO DO FATO
O ciclo da interpretação inicia-se com um diagnóstico, uma avaliação do fato para se verificar se ele é realmente regulamentado pelo Direito. Porque as vezes a situação que estamos analisando não é afeta ao Direito. Pode ser de índole ética, religiosa, política ... , e não encontrar nenhuma correspondência ou regulamentação do ordenamento jurídico. 
 
Depois de realizarmos esse dignóstico (do fato) é que realizaremos um diagnóstico jurídico, procurando elucidar qual a área jurídica e qual a regra de direito que se aplica ao caso em análise. 
 
As duas operações são conexas, mas são sucessivas e não concomitantes. Vicente Ráo nos ensina:
"A primeira operação deve considerar a situação de fato na sua individualidade concreta, segundo o seu conteúdo de espírito e pensamento e de conformidade com o sentimento que recebe no ambiente social em que se verifica. É operação  preliminar, em relação a segunda, que se realiza, esta, sim no campo do direito."
Queremos dizer que, somente depois de alcançar um determinado resultado através da operação preliminar, é que realizamos a segunda operação, para descobrir como aquele fato já examinado está ou não sofrendo a tutela do direito. 
Assim fazemos: primeiro, o diagnóstico do fato e, depois, diagnóstico jurídico. Vamos citar um exemplo para elucidar esses ensinamentos. 
 
 
ANALISE A FOTO ABAIXO:
 
Se eu te perguntar: "o que esse cara está assinando?" 
 
Você provavelmente responderá: "Parece que é um documento, professor!"
 
Mas, se analisando esse "documento", o que nele está escrito, descobrimos que ele possui uma série de cláusulas, onde as partes manifestam suas vontades de criar obrigações recíprocas, chegaremos à conclusão que estamos diante de um contrato.
 
Muito bem! Já temos o diagnóstico do fato. As partes assinaram um documento pelo qual manifestaram suas vontades no sentido de criar direitos e deveres recíprocos, o que denominamos CONTRATO.  
 
 
ESSA É A PRIMEIRA OPERAÇÃO: ESSE É O DIAGNÓSTICO DO FATO!
 
 
Poderia ser uma "cartinha de amor", uma redação intitulada "Minhas Férias", a tradução de uma música, mas pelo conteúdo verificamos ser um contrato. 
 
BLZ? AGORA VAMOS AO SEGUNDO PASSO!
 
 
2.2. DIAGNÓSTICO DO DIREITO
 
Superada a primeira operação preliminar, pergunta-se, novamente: esse documento chamado contrato ... por acaso, ele é regulamentado pelo direito? O Direito se ocupa de regrar, regulamentar, normatizar "o contrato"? Estamos diante de uma das espécies de relação jurídica? 
 
A resposta será: "SIM, Professor! Lógico, o contrato importa para o "mundo jurídico". TRATA-SE DA RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL!"
 
Ora, se estivéssemos diante de uma "cartinha de amor", de uma redação intitulada "Minhas Férias", ou da tradução de uma música, em regra, esses manuscritos não importariam ao Direito (dependendo do conteúdo, é claro!). Mas, tratando-se de um contrato, o Direito se ocupa, sim.
Ótimo. Agora vamos fazer a qualificação jurídica ou o diagnóstico jurídico: De que Contrato estamos falando? É de direito público ou de direito privado? É um contrato de trabalho? Ou, é um contrato civil, comercial ou de consumo? Que espécie de contrato? Existem normas jurídicas específicas que o disciplinam? Quais normas regem esse contrato?
As respostas a todas essas indagações equivalem à qualificação jurídica, isto é, ao DIAGNÓSTICO JURÍDICO. Respondendo a essas perguntas, vamos apurar a qual sistema jurídico esse contrato pertence (se trabalhista, civil, comercial, consumerista, etc ...), e qual a norma jurídica que, provavelmente, deverá reger essa relação jurídica contratual. Sim, porque dependendo do sistema jurídico aplicável, teremos uma solução jurídica diferente para o caso, concorda?
 
 
2.3. CRÍTICA FORMAL E SUBSTANCIAL
O TERCEIRO PASSO é realizar a CRÍTICA FORMAL E CRÍTICA SUBSTANCIAL da regra de direito encontrada como referencial da situação concreta que estamos analisando. A crítica formal e substancial consiste em se verificar, no caso concreto, se essa norma jurídica (que possivelmente será aplicada ao caso) está vigente e é válida. Portanto, aqui, já estamos no plano da vigência e validade da norma eleita.
A crítica formal ou verificação formal da existência da lei, consiste em apurar, após a realização do diagnóstico jurídico, a autenticidade formal da norma relacionada. Isto é: dentro desse sistema jurídico que regulamenta da relação jurídica contratual, existe uma norma específica para reger esse contrato? Então, devemos nos perguntar, nesse passo: essa lei, essa norma que eu encontrei ainda está "vigente"? Será que não foi revogada? 
 
 
Se isso ainda não aconteceu, ou seja, se a norma específica eleita ainda existe e está produzindo os seus efeitos, a norma é formalmente aplicável. Ok! TEMOS SUPERADA A CRÍTICA FORMAL.
 
Mas será que ela é válida? E se essa lei for inconstitucional? E se ela contiver dispositivo que viole regra hierarquicamente superior? Então, devemos nos aprofundar sobre o estudo dessa norma que encontramos para verificar se ela está adequada ao sistema a que pertence, ou seja, se ela é válida. Após verificarmos a validade da norma, TEMOS SUPERADA A CRÍTICA SUBSTANCIAL.
 
 
Assim, o que chamamos de CRÍTICA FORMAL E SUBSTANCIAL É UMA INVESTIGAÇÃO, segundo os princípios e as leis integrantes do ordenamento jurídico, sobre a vigência e validade da norma jurídica eleita após o diagnóstico de fato e diagnóstico jurídico realizados.
 
2.4. INTERPRETAÇÃO DA NORMADepois de verificarmos que, provavelmente, "aquela determinada norma" deverá ser aplicada para resolver o nosso contrato, precisamos interpretá-la, para checar essa hipótese.
Impossível seria definir a interpretação com uma fórmula universalmente aceita. Por enquanto, nessa fase do nosso curso de hermenêutica jurícia, podemos aceitar a interpretação como sendo a operação lógica que, obedecendo aos princípios de leis científicos ditados pela hermenêutica e visando integrar o conteúdo orgânico do direito, apura o sentido e os fins das normas jurídicas. E temos várias formas de compreender os sentidos das expressões que integram o comando normativo, concorda?
São essas operações que vamos estudar com mais vagar a partir das próximas aulas. É aqui que vamos nos deter durante longo tempo do nosso curso, analisando as diversas formas de desenvolver o processo interpretativo.
2.5. APLICAÇÃO E ADAPTAÇÃO DO DIREITO
Por último, depois de interpretarmos a norma, verificando o seu alcance, vamos aplicá-la e adaptá-la ao caso, verificando quais são os efeitos práticos desse casamento entre o "fato das partes terem assinado esse contrato" e a "norma regente dessa situação jurídica".  
Quais serão as consequências da assinatura desse contrato e da aplicação dessa norma? Como as pessoas devem se comportar a partir desse "evento jurídico"?
Citando mais uma vez Vicente Ráo:
"E depois, só depois de todas essas operações, procede-se a adaptação do preceito  normativo ao caso concreto, fechando-se, com esta ação terapêutica, o ciclo do tratamento jurídico da situação de fato."
Portanto, a aplicação e adaptação consiste na sujeição de um fato da vida a uma regra jurídica correspondente, de modo a conseguir determinada conseqüência de direito.
3. CONCLUSÃO
Como visto o ciclo da interpretação tem 5 operações, ou fases, que devem ser realizadas para que se possa identificar como o direito tutela determinada situação do "mundo da vida". 
A partir da próxima aula, vamos nos preocupar mais detalhadamente com a interpretação da norma (que o objeto da nossa disciplina de hermenêutica jurídica), estudando os princípios e as leis estabelecidas que nos orientam nesse processo interpretativo.
VALEU POR HOJE?
 
ATÉ A PRÓXIMA AULA.
	
1o BIMESTRE
06 - AS LEIS SOBRE REGRAS E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
	 
	SEJA BEM VINDO!
 
OBJETIVO: o objetivo da aula é aprofundar o nosso estudo sobre hermenêutica jurídica, analisando os sujeitos e o objeto da atividade interpretativa.
CONTEÚDO: De acordo com o nosso plano de ensino, hoje estudaremos sobre as leis que prescrevem regras de interpretação; quais as normas jurídicas estão sujeitas à interpretação; a quem compete interpretar as normas jurídicas.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: Dominar os métodos para a constante compreensão e aplicação do direito. Utilizar corretamente a terminologia jurídica. Analisar os textos jurídicos para auferir os resultados de interpretação e aplicação do direito.
AVALIAÇÃO: Nessa aula não teremos avaliação! Que folga, heim ...
 
ANTES DE MAIS NADA, VAMOS
NOS LEMBRAR QUE HOJE É ...
Mas, antes da balada, vamos estudar a hermenêutica jurídica, procurando descobrir quais são os caminhos para encontrar o sentido da norma, o seu melhor alcance. Achou que ia ser moleza?
A interpretação do direito não é tarefa das mais simples, por isso também existem algumas regras que impõem ao hermeneuta, vez ou outra, uma determinada forma de interpretar.
O juiz paranaense Alberto dos Santos escreveu:
	 
	Como ciência que é, a hermenêutica não traça regras, no sentido em que usualmente utilizamos esse termo - regra como norma imperativa e garantida por sanção. A hermenêutica estuda o fenômeno interpretativo, e sugere procedimentos que o tornam mais eficaz.
Esses procedimentos sugeridos é que constituem as chamadas regras da hermenêutica, que não são regras jurídicas, mas regras técnicas como as que indicam os métodos de trabalho mais aceitos em cada profissão ou ofício. As leis da hermenêutica não são “leis de fim”, como as normas jurídicas, mas “leis de causa”, ou “leis indicativas ou causais” (na terminologia de Geny), tal como a lei da oferta e da procura na economia, ou a lei das partidas dobradas na contabilidade.
(SANTOS, Alberto Marques dos. Regras científicas da hermenêutica).
Geralmente, a lei tem como objetivo regulamentar um caso concreto, uma situação da vida, impor um comportamento e, em caso de inobservância, aplicar uma sanção. 
Contudo, existem normas que orientam a atividade do hermeneuta, do operador do Direito. Essas regras não regulam fatos, como a grande maioria das leis, mas determinam como se deve interpretar o ordenamento jurídico, ou seja, determinam a maneira de interpretar a própria lei. São leis sobre leis.
 
2. LEIS SOBRE REGRAS DE INTERPRETAÇÃO
As regras da hermenêutica são o fruto de uma longa trajetória do direito na história da humanidade. Elas derivam dos costumes e tradições jurídicas, das doutrinas que foram sendo elaboradas ao longo dos tempos, e também dos princípios e leis das grandes civilizações. Algumas dessas normas acabaram convertidas em texto de lei na modernidade e na atualidade.
 
Qual aluno de Direito nunca ouviu a expressão abaixo?
 
IN DÚBIO PRO REO
Durante toda Idade Média o princípio usual era o In Dubio Pro Societate, em outras palavras, caso existisse qualquer possibilidade de o réu ser culpado (ainda que fosse inocente), deveria o julgador condená-lo, buscava-se desta maneira proteger a sociedade, eliminando definitivamente o "suposto" culpado.
Na Idade Média em termos de "justiça" o que prevalecia era osistema acusatório, o julgamento era um confronto, sem a necessidade de advogado, visto que o juiz desafiava o réu a revelar toda verdade. O réu deveria se defender sozinho, a questão era pessoal entre o juiz e o acusado.
Já, em nossos dias, prevalece a regra do IN DÚBIO PRO REO. A não observância deste princípio coloca em xeque a justiça, as instituições democráticas e fragiliza a proteção individual. Esse princípio é uma das regras de aplicação do Direito Penal mais conhecidas e importantes. É um brocardo latino, um princípio consagrado que considera inocente o acusado quando prevalece a dúvida quanto à autoria de uma prática delituosa. 
Dessa regra, acabaram derivando outras regras, para outros sistemas jurídicos: no direito do trabalho ficou in dubio pro operario. Isto é, se houver dúvida o julgamento deve ser em favor do trabalhador. Não é assim que acontece na Justiça do Trabalho?
 
 
Por exemplo, agora todos que possuem funcionários domésticos trabalhando em suas residências devem criar um sistema de controle de horas diárias trabalhadas, de descanso de uma ou duas horas durante a jornada diária de trabalho, de horas extras, etc. Se o empregador não fizer o seu dever, e não demonstrar que cumpriu a regra à risca, a lei trabalhista determina que o contrato de trabalho deva ser interpretado de forma mais favorável à doméstica. Certamente, o patrão será condenado em todas essas verbas trabalhistas e seus reflexos.
 
IN DUBIO PRO REO, IN DUBIO PRO OPERARIO, IN DUBIO PRO CONSUMIDOR são, portanto, regras sobre regras, engenhos hermenêuticos que permitem ao intérprete desenvolver o raciocínio correto da norma e aplica-la ao caso concreto.
 
No Brasil, cada sistema tem suas próprias construções hermenêuticas (que serão estudadas posteriormente nesse curso). A norma constitucional intepreta-se de modo diferente da norma tributária; que por sua vez tem um modo diferente de ser interpretada quando comparada com a regra de direito civil; e, esta por sua vez, interpreta-se diferentemente das regras de direito do trabalho; e, assim por diante. Mas todas as regras do ordenamento jurídico brasileiro obedecem à Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, que é uma das matrizes hermenêuticas no Brasil.
 
 
3. A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO E OUTRASLEIS SOBRE AS REGRAS DE INTERPRETAÇÃO
Há mesmo quem defenda que o legislador não tem atribuição para determinar como deva ser feita a interpretação de uma norma, porque se trata de matéria afeta à competência dos operadores do Direito.
Contudo, as regras legais de hermenêutica têm grande valor, porque consolidam a experiência jurídica de muitos séculos. E na modernidade o positivismo, cuidou de criar regras para normatizar a interpretação de outras regras.
 Nesse tópico vamos estudar qual é a norma referencial da atividade hermenêutica, quais normas devem sofrer o processo de interpretação e quais são os sujeitos que desenvolvem essa atividade.
 
	 
	A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO (LINDB) é um decreto que foi elaborado ainda na década de quarenta com o objetivo de instituir um sistema unificado de regras hermenêuticas no Direito brasileiro. Ela tem a função de fixar e definir as regras hermenêuticas fundamentais, como o tempo de vigor da lei, o momento dos efeitos da lei e a validade da lei.
 
 
Até o ano de 2010 ela tinha um outro nome: chamava-se Lei de Introdução ao Código Civil (LICC). Mas como ela se aplica a todos os códigos, decretos, resoluções, portarias, instruções normativas, isto é, a todo o ordenamento jurídico, os doutrinadores pediram e o legislador mudou o nome desse Estatuto.
A LINDB (como agora é conhecida) caracteriza-se por ser um metadireito ou supradireito, na medida em que dispõe sobre a própria estrutura e funcionamento das normas, coordenando, assim, a aplicação de toda e qualquer lei. Alguns doutrinadores formularam a expressão "lei de introdução às leis".
 O art. 5º da LINDB é a principal norma desse conjunto legislativo. Esse artigo dispõe que
 
"na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
 
SABE O QUE ISTO SIGNIFICA?
Significa que todas as vezes que formos aplicar uma lei 
é preciso interpretá-la à luz dos seus fins sociais. 
Que tal um exemplo para entendermos melhor? A Constituição Federal consagra a regra de que "a casa é o asilo inviolável do indivíduo", conforme consta da tirinha abaixo:
 
 
 
Pergunta-se: Mas e o apartamento? E o sítio? E a fazenda? Se fomos interpretar a palavra casa no seu sentido literal, teríamos de excluir o apartamento, o sítio, a fazenda ...
 
É óbvio que se interpretarmos essa norma considerando a sua finalidade social da inviolabilidade domiciliar, vamos ter de ampliar o significa de "casa" incluindo os conceitos de apartamento, de sítio, de fazenda ... e até mesmo "o escritório", "o lugar onde trabalhamos" acaba sendo incluído nesse conceito de "casa", se considerarmos a finalidade social da norma.
 
Agora, você que acha que o nosso estudo não é tão importante, dá só uma olhada na 21a Questão (Prova de Direito Constitucional) do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, de Fevereiro de 2012. 
 
21ª Questão: 
A Constituição assegura, entre os direitos e garantias individuais, a inviolabilidade do domicílio, afirmando que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do morador” (art. 5º, XI, CRFB).
A esse respeito, assinale a alternativa correta.
	a)
	O conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel.
	b)
	O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório de advocacia.
	c)
	A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa garantia, mas apenas quando houver mandado judicial.
	d)
	A prisão em quarto de hotel obedecendo a mandado judicial pode se dar no período noturno.
 
Vê como a hermenêutica também é cobrada nos exames e concursos? O estudo da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro é fundamental para qualquer operador do Direito que pretenda trabalhar em qualquer área do conhecimento jurídico.  Vamos analisar com bastante profundidade esse Estatuto, justamente pela importância que ele tem para a interpretação do Direito Brasileiro.
Mas a LINDB não é a único referencial legislativo hermenêutico. Outras normas, em outras leis, exercem a mesma função. Por exemplo, lá no Código de Defesa do Consumidor há um dispositivo com a seguinte redação: 
(Lei 8.078/90 - Art. 47)
As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
 
Selecionamos esse exemplo em homenagem ao Dia Internacional do Consumidor (dia 15/03). Está aí, mais um exemplo de uma regra que orienta o hermeneuta em relação à forma correta de interpretar uma regra ... no caso, a regra contratual.  Sempre quando estivermos diante de uma cláusula contratual e houver dúvida em relação à interpretação mais correta, o Código de Defesa do Consumidor determina que ela deve ser interpretada SEMPRE da forma mais favorável ao consumidor. É, também, e mais uma vez, a busca do fim social da norma jurídica.
MARIA HELENA DINIZ, em sua obra Compêndio de Introdução à Ciência do Direito(2004, p. 422), ensina sobre esse aspecto que:
 
Ao se interpretar a norma deve-se procurar compreendê-la em atenção aos seus fins sociais e aos valores que pretende garantir. O ato interpretativo não se resume, portanto, em simples operação mental, reduzida a meras inferências lógicas a partir das normas, pois o intérprete deve levar em conta o coeficiente axiológico e social nela contido, baseado no momento histórico em que está vivendo.
 
Bom, agora que já sabemos que existem leis que orientam a atividade hermenêutica, devemos nos perguntar: para quem essas leis são criadas? Quem são os destinatários dessas leis?
 
 
4. O DESTINATÁRIO DAS REGRAS DE INTERPRETAÇÃO
 
Emprestando novamente as palavras do Juiz Alberto dos Santos, identificar o valor que a norma quer proteger, e qual o seu objetivo, não é tarefa simples, e contém sempre um componente ideológico. É justamente a esse respeito - a identificação do valor protegido, do fim da norma, da mens - que se controverte com mais freqüência.
É que por ser um elemento fluido, subjetivo, a tal mens serve de ponto de partida para as interpretações mais díspares. Funciona como um “espelho mágico” onde cada um enxerga exatamente o que quer enxergar. É justamente aí que os paradigmas pessoais mais interferem. O “liberal” enxerga no “espírito” da norma um conteúdo liberal, enquanto o “conservador” enxerga ali uma mensagem conservadora.
 
 
Portanto, a interpretação varia de acordo com o propósito do intérprete, conforme a vocação jurídica de cada operador do direito. 
 
 
Agora, analise abaixo as diversas vocações jurídicas
e verifique qual é a sua!
 
Os destinatários das regras de interpretação são todos os operadores do direito. Sejam acadêmicos, advogados, juízes, promotores, delegados, procuradores, técnicos judiciários, enfim, todos aqueles que trabalham com a norma jurídica ... até mesmo o estagiário!
 
 
 
Todo aquele que examina o texto de lei, o seu sentido, o significado de cada vocábulo no contexto em que está inserido, com o propósito de compreender o alcance da regra e aplicá-la, é o destinatário dessas regras que determinam a forma correta de interpretar. Por essa razão, precisamos conhecer as principais regras hermenêuticas para bem desempenhar a nossa função.
 
 
 
5.CONCLUSÕES DA AULA
De todo o exposto extraem-se, pois, dois postulados que interferem na aplicação de todas as normas jurídicas: a) a aplicação de todas as normas jurídicas pressupõe e requer, em todos os casos, a interpretação segundo o fim social e o contexto no qual a norma se insere para a solução de um caso concreto; b) é o operador do direito, como destinatário da norma, quem utilizará dos métodos e das técnicas de interpretação para bem exercer a sua função hermenêutica.
 
 
TÁ FELIZ QUE A AULA ACABOU?
 
 
Na próxima aula vamos começar a estudar esses diversos instrumentos de interpretação e conhecer um pouco mais sobre a prática da hermenêutica jurídica.
ATÉ LÁ!
	
1o BIMESTRE
07 - ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO: QUANTO AO MÉTODO (gramatical, lógico,sistemático, histórico, teleológico)
	 
	 
E aí? "TAMO JUNTO, IRMÃO"!
Já estudamos o conceito de hermenêutica e as suas escolas; analisamos a distinção entre hermenêutica e aplicação; aprendemos as 5 fases do ciclo da intepretação e, por último, refletimos sobre as leis que regem o processo hermenêutico em nosso ordenamento jurídico. Hoje vamos aprofundar esse conhecimento e procurar descobrir quais são os métodos de interpretação utilizados para descobrirmos o mais adequado "sentido" da lei.
Olha só o nosso plano de aula:
OBJETIVO: iniciar o estudo e a compreensão dos métodos hermenêuticos.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: Espécies de interpretação: Quanto ao método: Interpretação gramatical. Interpretação lógica. Interpretação histórica. Interpretação sistemática. Interpretação teleológica.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: os métodos para a constante compreensão e aplicação do direito. Utilizar corretamente a terminologia jurídica. Analisar os textos jurídicos para auferir os resultados de interpretação e aplicação do direito.
AVALIAÇÃO: SÓ NA PRÓXIMA AULA, GENTE! MAS NÃO DEIXE PARA ESTUDAR DEPOIS ...
Então, vamos iniciar o conteúdo de hoje?
1. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
Como visto na aula passada a hermenêutica é inerente à atividade dos operadores do direito, sejam eles juízes, advogados, procuradores, promotores, delegados, enfim, todos aqueles que trabalham com a norma jurídica.
Também já vimos que, na vida jurídica, interpretar é confrontar o texto frio da lei com os acontecimentos do cotidiano. É dar vida à norma jurídica. Para entender melhor sobre a interpretação, e compreendermos como os métodos de interpretação modificam o sentido da lei, vamos sair um pouco da seara jurídica, e vamos para a música.
A letra de uma música, e até mesmo a sua harmonia, o seu ritmo, podem receber diversas formas de interpretação. Em cada uma delas, o intérprete coloca "algo de si", "o seu próprio sentimento" ou "a sua própria compreensão". A letra, a harmonia, a melodia e o ritmo, podem até serem os mesmos, mas quando cada artista faz a sua leitura da canção, parece que "tudo muda", o sentido é outro.
Assista ao clipe abaixo e perceba como cada artista, dentro do mesmo compasso musical, da mesma melodia, da mesma harmonia, expressa um sentido completamente diferente da canção, através da sua voz, do seu arranjo, e dos instrumentos que estão envolvidos.
http://www.youtube.com/watch?v=Us-TVg40ExM&feature=player_embedded
Com o direito acontece o mesmo fenômeno. A letra fria da lei pode ser interpretada de diversas maneiras. Para conseguirmos encontrar a forma adequada de explicar a norma jurídica, encontrar o seu sentido real, a ciência do direito desenvolveu diferentes métodos de interpretação da lei. As contingências da vida e dos fatos associadas à finalidade da lei é que vão determinar qual é a melhor forma de encontra o sentido de determinada norma jurídica.
A princípio, até acreditou-se que, para interpretar a lei, antes de mais nada, era necessário buscar saber qual teria sido a vontade do legislador, quando elaborou a norma. Daí a razão dos romanos, inicialmente, valerem-se apenas da interpretação literal ou gramatical. Mas, com o tempo, percebeu-se que muitas vezes a intepretação literal da lei não alcança o fim a que ela mesma se propõe. Então, os próprios romanos perceberam isso e começaram a desenvolver outros métodos de interpretação, o que permitiu o desenvolvimento da doutrina (que eles chamavam de jurisprudentia).
 
Já tratamos disso na disciplina de História do Direito, no ano passado, lembra?
 
 
Essa escola exegética cedeu espaço em virtude da própria dinâmica dos fatos sociais que reagem sobre o direito, bem como da evolução dos institutos, que exigiram a flexibilidade e o alcance que hoje nos ministram seus intérpretes. Assim, hoje, falamos em diversas espécies de interpretação, que são as seguintes:
Quanto ao método:
a) Interpretação gramatical.
b) Interpretação lógica.
c) Interpretação histórica.
d) Interpretação sistemática.
e) Interpretação teleológica.
Quanto a origem ou agente de que promana:
a) Interpretação autêntica.
b) Interpretação doutrinária ou livre.
c) Interpretação judicial ou usual.
 
Quanto aos resultados:
a) Interpretação declarativa.
b) Interpretação restritiva.
c) Interpretação Extensiva.
CALMA, NÃO SE DESESPERE!
 
HOJE VAMOS ESTUDAR APENAS O PRIMEIRO GRUPO, ISTO É, AS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO QUANTO AO MÉTODO! OS OUTROS DOIS GRUPOS ANALISAREMOS NA PRÓXIMA AULA!!! E DEPOIS ... PROVA!!!
 
 
 
2. DA INTERPRETAÇÃO QUANTO AO MÉTODO
 
2.1. MÉTODO GRAMATICAL OU LITERAL
No tocante ao método de intepretação, diz-se gramatical ou literal quando a análise do hermeneuta se prende à filologia do texto, isto é, ao sentido estritamente gramatical da sua linguagem.
Assim, o sentido da lei ficará adstrito ao significado das palavras. Esse método corresponde a um estágio primitivo na interpretação das leis, quando suas palavras guardavam um sentido místico e se revestiam de invólucro sacramental. Parte do princípio de não haver termos inúteis nas leis, prestando-se, todavia, pela fiel observância do texto literalmente positivado na norma.
 
VAMOS AO EXEMPLO:
O art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro prevê como crime de crime de trânsito a seguinte conduta:
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº12.760, de 2012)
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar;
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.
 
Quando esse dispositivo foi alterado, em 2012, ainda não havia uma regulamentação específica do CONTRAN para explicar o seriam sinais que indiquem alteração da capacidade psicomotora. Em razão disso, o Superior Tribunal de Justiçadecidiu, alinhando o princípio do in dubio pro reo à interpretação gramatical da lei que não se pode presumir a embriaguez ao volante, sem um grau de certeza absoluta.  Ou seja, enquanto o Contran não dissesse (mediante um instrumento normativo) quais seriam os sinais que indicassem alteração na capacidade psicomotora não seria possível imputar o crime ao sujeito baseado nesse dispositivo, apenas com o bafômetro (inciso I).
 
Com essa redação da lei, portanto, era impossível, sem o bafômetro, afirmar com certeza realmente absoluta que o sujeito estava em situação de embriaguez ao volante. Pergunta-se: e se o bafômetro estiver quebrado, ou funcionando mal? E se o bafômetro não tiver sido objeto de controle pelos órgãos técnicos, no período exigível? E se o condutor se recusasse a fazer o teste do bafômetro?
 
 
Foi por causa dessa intepretação gramatical imposta pelo STJ que houve recente alteração, com a elaboração da RESOLUÇÃO DO CONTRAN, permitindo-se a verificação da condição de embriaguez do motorista pelas autoridades legalmente constituídas, a partir de sinais que evidenciem essa condição, tal como odor etílico, olhos vermelhos, desorientação, descordenação da fala, etc ... isso foi para atender a interpretação gramatical do art. 306, do CTB.
O método gramatical, portanto, deve ser o ponto de partida para o processo hermenêutico, mas ele não pode, com efeito, servir de obstáculo para o cumprimento da função social da norma legal, sob pena de ofensa ao disposto no art. 5o da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, que estudamos na semana passada.
 
2.2. MÉTODO LÓGICO RACIONAL
A interpretação lógica ou racional pesquisa o espírito da disposição, dessume-se de fatores racionais, da elaboração de um raciocínio baseado em premissas que levem a uma conclusão. Segundo Carlos MAXIMILIANO (in Hermenêutica e Aplicação do Direito,1995, p. 123 e 127):
O processo lógico propriamentedito consiste em procurar descobrir o sentido e o alcance de expressões do Direito sem o auxílio de nenhum elemento exterior (...).
 
Conforme já disseram os romanos "age em fraude à lei aquele que, ressalvadas as palavras da mesma, desatende ao seu espírito" e "mais importante e de mais força que a palavra é a intenção de quem afirma". Trata-se, portanto, de uma técnica que consiste em se aplicar os princípios universais da lógica e da razão aos dispositivos da lei que se deseja interpretar.
A interpretação lógica entende que o estudo puro e simples da letra da lei conduz a resultados insuficientes e imprecisos, havendo necessidade de investigações mais amplas.
EXEMPLO:
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (art. 3o, parágrafo primeiro) "Produto é qualquer bem, material ou imaterial". O referido Código, quando diz "é qualquer bem" está, por óbvio, se referindo àqueles produtos que podem ser comercializados, adquiridos, vendidos, trocados, etc.
Ocorre que a palavra "bem" não abrange apenas o que é economicamente apreciável. Existem bens que não passíveis de precificação, de valoração econômica. São os chamados bens da personalidade, tais como a vida, a liberdade, a honra, a dignidade.Assim, pela interpretação lógica (e não pela gramaticidade do dispositivo, que diz"qualquer bem") esse patrimônio da personalidade humana, esses bens inapreciáveis do ponto de vista econômico, estão (logicamente) excluídos do conceito de produto previsto do CDC.
 
2.3.MÉTODO SISTEMÁTICO
Segundo Carlos Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 1995, p. 128):
Consiste o Processo Sistemático em comparar o dispositivo sujeito à exegese, com outros do mesmo repositório ou de leis diversas, mas referentes ao mesmo objeto.
A idéia é a de que por uma norma se conhece o espírito das outras, e que o ordenamento jurídico é um complexo coordenado de normas jurídicas, de modo que cada uma, exercendo a sua própria função, não o faz isoladamente, mas coordenadamente com outras.
 
Então, para encontrar o sentido adequado da lei é preciso contextualizá-la no sistema a que pertence. Nas preciosas palavras de Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 1995, p. 128), “O processo sistemático encontra fundamento na lei da solidariedade entre os fenômenos coexistentes”.
O Direito não é um conjunto caótico de leis e preceitos, espalhados a esmo para regulamentar a vida em sociedade. Existe unidade sistêmica do ordenamento jurídico, que torna cada preceito um membro de um grande todo. Assim, para se encontrar o real sentido da lei é preciso confrontá-la com outras regras que pertencem a esse mesmo sistema e verificar se aquela interpretação “realmente faz sentido”.
EXEMPLO:
De acordo com o art. 5º, parágrafo único do Código Civil, a maioridade civil pode ser antecipada com a emancipação. A emancipação é uma forma de outorgar capacidade civil plena ao menor de 18 anos, permitindo-se que ele pratique, por si, todos os atos da vida civil.
A lei prevê 5 hipóteses de emancipação. Mas apenas em duas, refere que a idade para emancipar é de, no mínimo, 16 anos (incisos I e V). Nas outras 3 hipóteses a lei silenciou, não mencionou nada acerca da idade do menor que poderá receber a emancipação.
Veja como o texto legal está redigido:
Art. 5o . Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completostenha economia própria.
 
	 
Será que a lei exige a idade mínima de 16 anos para se emancipar apenas nas situações previstas nos incisos I e V, permitindo que menores de 16 anos possam ser emancipados nas situações previstas nos demais incisos? Como devemos interpretar a redação desse artigo? Inciso por inciso ou como um conjunto? 
	 
 
 
Por óbvio que, valendo-se da interpretação sistemática desses dispositivos legais (incisos II, III e IV) e comparando-os com os demais (incisos I e V) não se verifica razão para tratarmos de modo diferente situações que são tão próximas e semelhantes. Assim, aplicando-se a interpretação sistemática de todos os incisos do parágrafo único do art. 5º, concluímos que a idade mínima que a lei permite para um menor ser emancipado será, sempre, de 16 anos.
 
2.4. MÉTODO HISTÓRICO
O Direito é um produto da evolução histórica da sociedade e das civilizações. A lei não pode ser uma mera previsão abstrata e ideológica. Ela é fruto de um processo histórico social. Como atesta Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 1995, p. 138):
	 
	 “Se o presente é um simples desdobramento do passado, o conhecer este parece indispensável para compreender aquele: daí a grande utilidade da História do Direito, para o estudo da ciência jurídica.”
 
Investigar as razões históricas de um determinado preceito, muitas vezes, ajuda a encontrar o seu mais adequado sentido. Quais são as suas origens? E como foi o seu processo de formação (processo legislativo)? Quais dispositivos antecederam esse preceito e quais foram as razões que determinaram o seu surgimento?
Pois bem, pela análise do processo de alteração legislativa e das transformações e reformas sofridas por um preceito legal em sua trajetória histórica, podemos conhecer a sua função, o seu real sentido, na atualidade.
EXEMPLO:
Em 2002 a Lei 10.406/02 foi promulgada entrando em vigor no ano seguinte. Essa lei, formada por mais de 2000 artigos, revogou totalmente o Código Civil de 1916. Mas, prestem atenção em algumas edições do Código Civil. Elas trazem, abaixo de cada preceito, a seguinte expressão:
“artigo correspondente ao artigo tal do Código Civil de 1916” .
Sabe porquê? Porque dessa forma o hermeneuta, no momento de interpretar aquele determinado artigo, poderá verificar como o mesmo dispositivo estava redigido no Código que o antecedeu. Comparando o preceito do “Código Novo” com o artigo correspondente do “Código Velho” o intérprete pode encontrar um sentido já consagrado no tempo e no espaço, e buscar a melhor exegese do preceito.
Há dispositivos, cujo sentido e alcance estão sedimentados há séculos, de forma que já se transformaram em verdadeiros princípios, podendo instruir o intérprete no desenvolvimento de sua atividade hermenêutica.
 
2.5. MÉTODO TELEOLÓGICO
Trata-se de uma técnica que tem por objeto investigar o fim colimado pela lei como elemento fundamental para descobrir o sentido e o alcance da mesma.Carlos Maximiliano, mais uma vez, nos ensina que:
 
“A norma enfeixa um conjunto de providências, protetoras, julgadas necessárias para satisfazer a certas exigências econômicas e sociais; será interpretada de modo que melhor corresponda àquela finalidade e assegure plenamente a tutela de interesse para a qual foi regida.”
A expressão "telos", cunhada por Aristóteles perdura no tempo. A lei sempre foi entendida em razão de um fim; ela se propõe a um fim - defesa dos interesses da comunidade, ou, em outros termos, do bem comum, segundo Tomás de Aquino. Segundo Ihering o fim prático da lei, ou todas as regras de direito se revestem de motivação pragmática, com o objetivo de solucionar as exigências sociais, que as inspiram.
 
EXEMPLO:
Em 1990, a Lei nº 8009 estabeleceu que o “imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza” (artigo 1º).
Então, surge a pergunta: A pessoa solteira, viúva, separada ou divorciada que vive sozinha em seu imóvel não tem direito à moradia e pode ver penhorado o imóvel em que reside, já que este não seria “bem de família”?
Utilizando da interpretação teleológicao Superior Tribunal de Justiça, decidiu que a Lei nº 8.009/90 destina-se a proteger a pessoa, independente de ser casada, viúva, desquitada ou divorciada, pois o sentido social da norma busca garantir a moradia aos indivíduos que vivem no seio de uma entidade familiar bem como à pessoa que reside só (RESP 182.223/SP, Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Sexta Turma, j. 19/08/1999).
 
3. CONCLUSÃO
Na próxima aula continuaremos estudando as espécies de interpretação, de acordo com a origem ou o agente que a promana e também quanto aos resultados.
 
ESTAREI ESPERANDO VOCÊ!
VÊ SE NÃO DEMORA MUITO!!!!
FORTE ABRAÇO!
	
1o BIMESTRE
08 - ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO: QUANTO AO AGENTE E QUANTO AO RESULTADO
	 
	SEJAM BEM-VINDOS, NOVAMENTE!
TÁ CANSADO (A)?
DESANIMA, NÃO!
FORÇA, COMPANHEIRO (A)!
JÁ ESTAMOS TERMINANDO O BIMESTRE!
No post passado entendemos quais são os métodos de interpretação (gramatical, lógico, sistemático, histórico e telelógico). Na aula de hoje, vamos continuar estudando espécies de interpretação, agora buscando conhecê-las quando o referencial é o agente que interpreta a norma e também quanto aos resultados. Vamos ao nosso plano de aula:
CONTEÚDO: 1) Quanto a origem ou agente de que promana: Interpretação autêntica. Interpretação doutrinária ou livre. Interpretação judicial ou usual. 2) Quanto aos resultados: Interpretação declarativa. Interpretação extensiva. Interpretação restritiva.
OBJETIVOS: Compreender outras espécies de interpretação jurídica.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: Dominar os métodos para a constante compreensão e aplicação do direito. Utilizar corretamente a terminologia jurídica. Analisar os textos jurídicos para auferir os resultados de interpretação e aplicação do direito.
AVALIAÇÃO:
PESSOAL! NA AULA PASSADA EU TINHA AVISADO QUE TERÍAMOS UM EXERCÍCIO HOJE. MAS, PENSANDO MELHOR, NOSSA ATIVIDADE SERÁ NA PRÓXIMA AULA, QUANDO TEREMOS FINALIZADO AS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO, OK?
1. CLASSIFICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO QUANTO AO AGENTE
Nessa semana vamos finalizar as espécies de interpretação. Hoje estudaremos as interpretações considerando o agente que desenvolve a atividade hermenêutica. Alguns autores classificam essas espécies de interpretação usando a expressão "quanto à fonte". Enfim, cada um escolhe um nome diferente. Mas o importante é você entender cada uma das espécies.
Quando analisamos o agente que desenvolve a exegese, podemos classificar a interpretação da seguinte forma: 1.1. Interpretação Autêntica; 1.2. Interpretação Doutrinária; e 1.3. Interpretação Judicial ou Usual
A interpretação é uma só. Entretando atribuímos várias denominações, conforme o órgão do qual a interpretação procede. Por vezes, o próprio órgão que elabora a norma toma a cautela de interpretá-la: essa é chamada de interpretação autêntica ou legislativa. Outras vezes (e na maioria dos casos), esse é um trabalho desenvolvido pelos estudiosos, pelos cientistas. Trata-se da interpretação doutrinária ou livre. Mas a norma também é interpretada pelos tribunais, no exercício das jurisdição. Nesse caso, denominamos interpretação judicial ou jurisprudencial.
Vamos aprofundar o estudo de cada uma delas?
1.1. INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA OU LEGISLATIVA
Segundo Carlos Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 1995, p. 93) denomina-se autêntica a interpretação que emana do próprio poder que elaborou o ato. Ou seja, o mesmo órgão que criou a norma realiza o trabalho de interpretá-la. O efeito da lei interpretativa é criar interpretação vinculada ao sentido determinado por ela. Segundo, Francesco Ferrara (Como Aplicar e Interpretar as Leis, 2002, p. 28).:
A interpretação autêntica [...] declara formal e obrigatoriamente o sentido de uma lei anterior, prescindindo de que este se ache efetivamente contido na lei interpretada.
Portanto, o legislador, quando elabora a norma interpretativa, busca, por meio da mesma fonte (a lei), esclarecer o seu sentido e o seu alcance. Vamos entender por meio de um exemplo? Olha o que diz o Código de Defesa do Consumidor, em seu Art. 2o:
Art. 2o. Consumidor é toda pessoa, física ou juridica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Mas o que é produto? Como devemos interpretar essa expressão? O Código Civil, por exemplo, não usou essa designação. No Código Civil encontramos a palavra "bem" e não "produto". Na verdade, o legislador do CDC queria mesmo criar uma expressão diferente, porque a linguagem do Código do Consumidor é mais atualizada, mercadológica. Então, para resolver essa questão, o legislador cuidou de elaborar um conceito para "Produto", e o fez, logo em seguida, no artigo 3°, nos seguintes termos:
§ 1°. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Ou seja, o próprio legislador criou um dispositivo que é, na verdade, o conceito deProduto. E na sequencia, no mesmo artigo 3o (parágrafo segundo), o legislador também elaborou um conceito para Serviço. Reza o dispositivo:
§ 2°. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Viu só? O legislador elaborou uma norma-conceito de consumidor e, na sequencia, ele mesmo (legislador) cuidou de interpretá-la, por meio da própria lei, esclarecendo o sentido e o alcance do primeiro dispositivo. Assim, quando é o próprio legislador quem interpreta a lei, dizemos que essa espécie de interpretação é autêntica (ou legislativa).
A interpretação autêntica já foi a de maior prestígio, talvez a única em certas épocas. Segundo Carlos Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito, 1995, p. 93), o Imperador Justiniano repelia qualquer outra exegese, isto é, a que não procedesse dele próprio. Então, o próprio Justiniano elaborou o seguinte preceito:
"Interpretar incumbe àquele que compete fazer a lei"
(Codex, Liv. I, Tít. 44)
No entanto, como as Câmaras de senadores e deputados são formadas mais de políticos que de juristas, raramente os propósitos da Justiça orientam essas deliberações; quando os políticos se empenham em dar um sentido a um texto não observam as regras da Hermenêutica, procurando atender antes a propósitos políticos. Assim, quase sempre, essa tentativa resulta em um trabalho cheio de defeitos.
1.2. INTERPRETAÇÃO DOUTRINÁRIA OU LIVRE
A interpretação doutrinária decorre do processo reflexivo dos pensadores, dos cientistas, dos acadêmicos. A interpretação doutrinária é fruto do pensamento dos eruditos. Sua principal característica é que não tem imperatividade, ou seja, sua observância não se torna obrigatória, ainda que haja consenso.
A interpretação doutrinária é feita por todos os que atribuem sentido e alcance ao texto legal e que não sejam órgãos do Estado criadores desse mesmo texto. Assim, um advogado ao interpretar uma disposição normativa faz uma interpretação doutrinal. Da mesma forma, produz uma intepretação doutrinária o Promotor de Justiça ao delimitar o alcance de um texto normativo e pretender que sua interpretação seja adotada no caso concreto. Um estudante de direito também produz uma interpretação doutrinária quando se depara com um texto de lei que precisa ser interpretado, e atribui a esse texto sentido e delimita seu alcance.
Interpretação doutrinária, portanto, é aquela produzida pelos doutrinadores do direito, pelos juristas, que, pelo notório e incontestável conhecimento do direito atribuem sentido e alcance aos textos.
Voltemos ao exemplo do art. 2o, do Código de Defesa do Consumidor. Vamos repetir o seu texto: Art. 2o. Consumidor é toda pessoa, física ou juridica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Apesar do legislador ter interpretado as expressões Produto e Serviço, ele não explicou o que entende pordestinatário final.Essa tarefa ficou para a doutrina que criou duas teorias acerca do que significa, na prática, ser destinatário

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