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PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO CONTRATUAL

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UNIDADE I – PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO CONTRATUAL
I – INTRÓITO.
II – PRINCIPIOLOGIA CLÁSSICA DO DIREITO CONTRATUAL.
PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO OU DA AUTONOMIA DA VONTADE.
PRINCÍPO DA LIBERDADE CONTRATUAL.
PACTA SUNT SERVANDA.
RELATIVIDADE SUBJETIVA CONTRATUAL.
A AUTONOMIA DA VONTADE, O DIRIGISMO ESTATAL E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
III – FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRATO.
I V – PRINCÍPIOS SOCIAIS DOS CONTRATOS.
1. PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL.
1.1. ASPECTOS LEGAIS.
1.2. ELEMENTOS OBJETIVOS.
1.3. CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DO P. DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL.
2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS.
3. PRINCÍPO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS.
3.2. BOA-FÉ SUBJETIVA.
3.3. BOA-FÉ OBJETIVA.
4. FUNÇÕES DO PRINCÍPIO DA BFO.
4.1. FUNÇÃO INTERPRETATIVA DA BFO.
4.2. FUNÇÃO DE CONTROLE OU LIMITATIVA.
4.3. FUNÇÃO INTEGRATIVA OU SUPLETIVA DA BFO.
5. DEVERES ANEXOS AO PRINCÍPIO DA BFO.
5.1. DEVER DE COLABORAÇÃO OU COOPERAÇÃO.
5.2. DEVERES DE PROTEÇÃO, SEGURANÇA OU CUIDADO.
5.3. DEVER DE INFORMAÇÃO E BFO.
6. VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO OU “ADIMPLEMENTO RUIM”.
7. MANIFESTAÇÕES DO PRINCÍPIO DA BFO.
7.1. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL OU INADIMPLEMENTO MÍNIMO.
7.2. NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
7.3. SUPRESSIO.
7.4. SURRECTIO.
7.5. TU QUOQUE.
7.6. EXCEPTIO DOLI.
	I. INTRÓITO
O Estado Liberal clássico, predominante ao longo dos séculos XVIII e XIX, impulsionado em razão do desenvolvimento do comércio e da ascensão da classe burguesa, pode ser considerado fruto da queda do Estado absolutista e teve seus ideais refletidos na concepção dos contratos.
Assim, a preconização de uma igualdade meramente formal, o individualismo, o acentuado (porém não absoluto) abstencionismo estatal, além do reconhecimento da propriedade privada, da livre iniciativa empresarial e uma cultura favorável a uma economia de mercado marcaram fortemente a compreensão jurídica do contrato nesta fase.
Essa principiologia inspirou codificações como o Código Civil Napoleônico de 1804 e o Código Civil Brasileiro de 1916, assim como as Constituições Liberais, notadamente aquelas que sucederam as revoluções americana e francesa, em que se defendeu a bandeira da autodeterminação individual e a ausência de limitação da atividade econômica, com base na crença da regulação espontânea do mercado e da sociedade mesma.
A atuação do Estado nas relações econômicas privadas se dava, pois, de modo limitado. O papel do Estado, no que pertine à regulação das relações sociais por meio do Direito, traduzia-se na criação de condições mínimas e essenciais ao exercício pleno da liberdade econômica, que encontraria limites, porém, no exercício da liberdade dos outros.
Dentre os princípios que nortearam as relações contratuais, no momento histórico de predomínio do Estado Liberal, destacam-se três: a liberdade contratual; a força obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos dos contratos, os quais serão analisados adiante. 
	II. PRINCIPIOLOGIA CLÁSSICA DO DIREITO CONTRATUAL
1. PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO OU DA AUTONOMIA DA VONTADE: 
Realizando-se uma análise etimológica, observa-se que autonomia é expressão de origem grega, equivalente à αὐτονομία, é formada por αὐτος, que significa próprio ou si mesmo, e νόμος que significa lei, norma ou regra, podendo ser traduzida, assim, como norma própria derivada da vontade.
Clóvis do Couto e Silva (2007, p. 24), em sua tese de livre-docência pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, originalmente apresentada em 1964, confere à autonomia da vontade, sentido lato, enxergando nela a essência mesma da formação de toda a ordem privada, conforme se depreende do trecho abaixo destacado:
Entende-se por autonomia da vontade a facultas, a possibilidade, embora não ilimitada, que possuem os particulares para resolver seus conflitos de interesses, criar associações, efetuar o escambo dos bens e dinamizar, enfim, a vida em sociedade. Para a realização desses objetivos, as pessoas vinculam-se, e vinculam-se juridicamente, através de sua vontade. [...] No Estado liberal, com a nítida separação entre o Estado e a sociedade, assumiu extraordinário relevo a autonomia dos particulares, sendo-lhes deferida quase totalmente a formação da ordem privada. [...].
Não obstante a discussão que se possa travar em torno do conteúdo da autonomia da vontade, o fato é que para a Ciência Jurídica, trata-se de princípio essencial, podendo-se afirmar, com fundamento na doutrina de Karl Larenz (apud, PRATA, p. 15), estar, o mesmo, diretamente relacionado à personalidade do homem:
O indivíduo só pode existir socialmente como personalidade quando lhe seja reconhecida pelos outros não apenas a sua esfera da personalidade e da propriedade, mas também quando, além disso, possa em princípio regular por si mesmo as suas questões pessoais e, na medida em que com isso seja afectada outra pessoa, possa regulamentar as suas relações com ela com carácter juridicamente obrigatório mediante um acordo livremente estabelecido.
A essencialidade da questão foi igualmente reconhecida por Miguel Reale (2000, p.179), para quem: 
Reconhece-se, em última análise, como uma conquista impostergável da civilização o que, técnica e tradicionalmente, se denomina autonomia da vontade, isto é, o poder que tem cada homem de ser, de agir e de omitir-se nos limites das leis em vigor, tendo por fim alcançar algo de seu interesse e que, situado no âmbito da relação jurídica, se denomina bem jurídico.
A autonomia da vontade possui, assim, segundo a doutrina de Reale, tripla dimensão, na medida em que pertine ao poder do indivíduo de ser, de agir e de não agir, valendo destacar o caráter relativo dessa questão, posto que limitada a um dado ordenamento jurídico vigente.
Não obstante parte da doutrina faça coincidir as expressões autonomia privada e autonomia da vontade, não adentrando no mérito da questão da distinção existente entre ambas, o fato é que se pode realizar tal diferenciação, conforme abordagem adiante formulada.
Em obra intitulada L’autonomia privata, Luigi Ferri, demonstrando salutar lucidez acadêmica, propôs distinção em torno dos conceitos de autonomia privada e autonomia da vontade. A respeito dessa distinção, Rosa Maria de Andrade Nery (2008, p.238) leciona que, a partir da visão do autor:
[...] a ideia de autonomia da vontade liga-se à vontade real ou psicológica dos sujeitos, no exercício pleno da liberdade própria de sua dignidade humana, que é a liberdade de agir, ou seja, a raiz ou a causa de efeitos jurídicos. Respeita, portanto, à relação entre vontade e declaração e é um desdobramento da dignidade da pessoa humana, porque destaca a liberdade de agir da pessoa, sujeito de direito. [...] A autonomia privada é outra coisa. É princípio específico de direito privado. Situa-se em outro plano, ligada à ideia de poder o sujeito de direito criar normas jurídicas particulares que regerão seus atos.
Há autores como Ana Prata, ainda, que distinguem autonomia privada de liberdade jurídica privada, compreendendo, esta, como um fenômeno mais amplo: “Autonomia privada não abarca toda a liberdade humana, refletindo apenas a liberdade negocial que é um aspecto da liberdade jurídica privada, ou seja, abrange somente situações que exprimam conteúdo patrimonial.” (PRATA, 1982, p.13). Dessa maneira, na visão da autora, a autonomia privada seria uma categoria ou uma aspecto, se assim se preferir, daquilo que convencionou chamar de liberdade jurídica privada.
Portanto, três conceitos foram apresentados até aqui: autonomia da vontade, autonomia privada e liberdade jurídica privada. Tais conceitos são academicamente relevantes e conferem maior rigor técnico a eventuais argumentações, devendo, pois, serem observados.
Superada a etapa de delimitação conceitual proposta, será abordado a seguir o princípio da liberdade contratual o qual é apresentado como uma especificação dos temas anteriormente abordados.
2. PRINCÍPODA LIBERDADE CONTRATUAL
Segundo esse principio, podem as partes optar por contratar ou não, elegendo um parceiro e definindo livremente o seu conteúdo. Por tal razão, a liberdade contratual pode ser desmembrada em: i) liberdade de contratar propriamente dita; ii) liberdade de escolher com quem contratar e iii) liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato, liberdades essas todas exercidas com vistas a uma finalidade, a saber, a disposição da propriedade privada que, no dizer de Vera Helena de Mello Franco, constitui o fundamento mesmo da autonomia privada (2011, p. 44).
Orlando Gomes (2001, p.22), expressa o entendimento de que a liberdade contratual é, em verdade, uma particularidade daquela autonomia da vontade de que se falou anteriormente, significando o poder dos indivíduos de suscitar, mediante declaração de vontade, efeitos reconhecidos e tutelados pela ordem jurídica.
No entanto, é unânime a doutrina em reconhecer que a liberdade contratual nunca foi exercida de modo absoluto limites assim na lei, como nos costumes, na Moral e na ordem pública, de tal modo que, quando se afirmou que foi característica do Estado Liberal o menor grau de intervenção nas relações econômicas não se disse, por óbvio, que tal intervenção seja nula. Assim, mesmo no período liberal, o Estado interveio nas relações contratuais.
Observa-se no âmbito do ordenamento jurídico pátrio que mesmo o Código Civil Brasileiro de 1916, legislação eminentemente liberal, além de exigir certos requisitos para a validade do ato jurídico, a saber, a capacidade do agente, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei, estabelecia no Capítulo II de seu Livro III, as consequências dos defeitos dos atos jurídicos, reputando-os anuláveis quando eivados de vícios como o erro, o dolo, a coação, a fraude contra credores e a simulação. Ademais, destinou o Título IV a uma teoria geral dos contratos e o seguinte aos contratos em espécie, sendo evidente as limitações impostas à liberdade contratual.
O Código Civil vigente, seguindo a tradição do Código revogado, trata detidamente dos negócios jurídicos e dos contratos de modo especial, estabelecendo inúmeras limitações à liberdade contratual, conforme será estudado ao longo do curso.
3. PACTA SUNT SERVANDA ou força obrigatória dos contratos
Tal princípio, “consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com observância de todos pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos”. (GOMES, 2001, p. 36).
Consequentemente, à luz do princípio em questão, os contratos são imodificáveis, imexíveis, por assim dizer, não admitindo que as partes, de forma unilateral, ou o juiz, a pedido destas, alterarem a vontade inicial, comprometendo-a, raciocínio que se impõe em homenagem à ideia de segurança do comércio jurídico.
Quando estudado em conjunto com a liberdade contratual e temas correlatos anteriormente abordados, a força obrigatória dos contratos, consagrada na expressão latina pacta sunt servanda, assume caráter instrumental e derivado, podendo ser compreendido como um desdobramento da autonomia da vontade a cuja preservação se destina.
Inclusive, Orlando Gomes (2001, p.36), ao abordar a questão, assevera: “Justifica-se, ademais, como decorrência do próprio princípio da autonomia da vontade, uma vez que a possibilidade de intervenção do juiz na economia do contrato atingiria o poder de obrigar-se, ferindo a liberdade de contratar”.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:
	LOCAÇÃO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO. CLÁUSULA CONTRATUAL RESOLUTIVA. OBSERVÂNCIA. PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. ALUGUERES. DESCUMPRIMENTO PELA LOCATÁRIA. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA N. 283/STF. INCIDÊNCIA.
 1. O locatário, durante o prazo determinado, poderá devolver o imóvel alugado mediante o pagamento da multa pactuada, ex vi do disposto no art. 4º da Lei n. 8.245/91. Por sua vez, o art. 56 da referida norma legal, dispõe que "o contrato por prazo determinado cessa, de pleno direito, findo prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso".
2. Havendo previsão contratual de liberação de eventuais ônus da rescisão em face da natureza do negócio avençado, este deve ser respeitado, em homenagem ao princípio pacta sunt servanda.
3. Embora o Tribunal estadual tenha consignado que, durante a vigência do contrato, houve descumprimento da cláusula quarta pela recorrente, esta deixou de enfrentar o tema em suas razões.
Incidência da Súmula n. 283/STF.
4. Agravo regimental improvido. (AgRg no Ag 1277790/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/11/2010, DJe 13/12/2010)
_______________________________
PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - CONTRATO ADMINISTRATIVO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO - SÚMULA 211/STJ - INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC - PAGAMENTOS EFETUADOS COM ATRASO - DIREITO À CORREÇÃO MONETÁRIA - EXCEÇÃO A DETERMINADO PERÍODO, POR FORÇA DE PREVISÃO CONTRATUAL - INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL - SÚMULA 5/STJ - OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA - JUROS MORATÓRIOS DEVIDOS A PARTIR DA CITAÇÃO.
1. Não se admite recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo. Súmula 211/STJ.
2. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
3. Esta Corte tem pacífico entendimento no sentido de ser devida a correção monetária em razão do pagamento de parcelas em atraso pela Administração, independente de expressa previsão contratual nesse sentido.
4. Havendo expressa previsão contratual afastando a correção monetária decorrente de atraso no pagamento para determinado período, por livre acertamento entre as partes, torna-se impositiva a aplicação do princípio pacta sunt servanda.
5. É inviável o conhecimento do recurso especial quando o acolhimento da pretensão depender da interpretação de cláusulas contratuais. Incidência da Súmula 5/STJ.
6. Os juros moratórios, em se tratando de obrigação ilíquida, devem incidir a partir da citação.
7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (REsp 1178903/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe 03/05/2010)
	
Conforme será abordado noutro momento, tal princípio, não obstante válido e plenamente vigente, é mitigado ou flexibilizado em razão de outros princípios, não assumindo, pois, caráter absoluto, o que, aliás, não pode ser afirmado em conhecimento científico.
Segundo Vera Helena de Melo Franco (2011, p. 93):
[...] no direito moderno, embora o princípio da obrigatoriedade do pactuado se mantenha em sua inteireza, admite-se possa não só o contrato ser revisto pelo Juízo, assim na situação prevista na norma do art. 317 CC 2002 como ainda, faculta-se ao Juiz ordenar a resolução do contrato quando se torne excessivamente oneroso (arts. 478-480 CC 2002) e, inclusive, trazer para o conteúdo do contrato consequências não previstas pelas partes, como ocorre mediante a integração contratual. 
	PROCESSO CIVIL. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. NOVAÇÃO. POSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO NEGÓCIO JURÍDICO ANTECEDENTE. MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. SÚMULA 286 DO STJ. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC CONFIGURADA. RETORNO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM.
1. [...]
2. A novação, conquanto modalidade de extinção de obrigação em virtude da constituição de nova obrigação substitutiva da originária, não tem o condão de impedir a revisão dos negócios jurídicos antecedentes, máxime diante da relativização do princípio do pacta sunt servanda, engendrada pela nova concepção do Direito Civil, que impõe o diálogo entre a autonomia privada, a boa-fé e a função social do contrato. Inteligência da Súmula 286 do STJ.
3. Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem. (REsp 866.343/MT, Rel.Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/06/2011, DJe 14/06/2011)
________________________________
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCESSÃO DE LIMINAR ANTECIPATÓRIA DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL. VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO. PRESENÇA DA APARÊNCIA DO BOM DIREITO E DO PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO. - A PAR DO PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS, O ORDENAMENTO JURÍDICO CONVIVE HOJE COM SITUAÇÕES QUE CAUSAM NA RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL SUBSTANCIAIS MODIFICAÇÕES E QUE, EM MUITOS CASOS, ALTERAM DESPROPORCIONALMENTE A INICIAL EQUAÇÃO FINANCEIRA, TORNANDO O PACTO EXCESSIVAMENTE ONEROSO PARA UMA PARTE EM BENEFÍCIO DA OUTRA, CAUSANDO DESEQUILÍBRIO ANTES NÃO EXISTENTE. EIS QUE, ASSIM, O CONTRATO NÃO MAIS É INTOCÁVEL EM VIRTUDE DA CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. NESSE DIAPASÃO, LEGÍTIMA É A POSSIBILIDADE DE REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE IMPLICARAM EM ÔNUS EXCESSIVO À PARTE, SOBRETUDO EM SE TRATANDO DE INSTRUMENTOS REPUDIADOS PELA DOUTRINA E PELA JURISPRUDÊNCIA COMO A CAPITALIZAÇÃO DE JUROS, A CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM CORREÇÃO MONETÁRIA, ETC. NESSE ASPECTO, RESIDE A APARÊNCIA DO BOM DIREITO. - A MANUTENÇÃO DO AGRAVADO NA POSSE DO BEM ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA DEMANDA É MEDIDA QUE SE COMPATIBILIZA, INCLUSIVE, COM O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, QUE PROÍBE A TOMADA DE DECISÕES BIZARRAS, DESPROVIDAS DE CONTEÚDO E, PORTANTO, LESIVAS À PARTE, TENDO-SE EM MENTE, AINDA, QUE NÃO SERIA RAZOÁVEL DESPRENDER O AGRAVADO DA POSSE DO IMÓVEL OBJETO DO CONTRATO, SOB PENA DE NÃO SE PODER ASSEGURAR O RESULTADO PRÁTICO DE EVENTUAL PROCEDÊNCIA DA DEMANDA DE REVISÃO CONTRATUAL OBJETO DA AÇÃO PRINCIPAL. EIS AÍ O PERICULUM IN MORA. - AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO E AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO. (AG 200105000322356, Desembargador Federal Frederico Pinto de Azevedo, TRF5 - Primeira Turma, 04/04/2003)
4. RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATUAL
Como sugere seu enunciado, o princípio em questão tutela a amplitude dos efeitos contratuais estabelecendo limites subjetivos – é dizer, relacionados aos sujeitos contratantes – e objetivos ou relacionados ao objeto contratado.
Tal princípio está relacionado à ideia de que, a rigor, os contratos somente geram efeitos entre as partes contratantes, motivo porque se diz que sua oponibilidade não é absoluta ou erga omnes, mas, tão somente, relativa. 
De fato, segundo a Teoria Geral do Direito Obrigacional, uma das características das obrigações é sua relatividade, no sentido de que o seu cumprimento somente pode ser exigido do devedor, diferentemente do que ocorre com as obrigações reais, cuja oponibilidade é absoluta.
Dessa forma, os efeitos internos do contrato não aproveitam ou prejudicam os interesses de terceiros, segundo a máxima res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest, podendo-se concluir, com Orlando Gomes (2001, p.43), em arremate, que “[...] os efeitos internos, isto é, os direitos e obrigações dos contratantes, a eles se limitam, reduzem-se, circunscrevem-se”, não sendo possível “[...]criar, mediante contrato, direitos e obrigações para outrem”.
Convém observar, por fim, que conforme foi assinalado inicialmente, o presente princípio incide, igualmente, sobre o aspecto objetivo da relação contratual, de tal modo que os efeitos do contrato respeitam, a rigor, àquilo que compõe sua prestação, não atingindo objetos diversos daquele contratado.
Tal como ocorre em relação ao princípio da força obrigatória dos contratos, não é compreendido uma verdade absoluta, devendo ser considerado num raciocínio apriorístico, é dizer, numa análise inicial de um problema, pois o contrato pode gerar efeitos para além das partes contratantes. Basta que se imagine a fusão de duas grandes empresas, criando uma espécie de monopólio; a construção de uma grande obra que afete o meio ambiente; a anulação de uma cláusula contratual em decorrência de atuação judicial do Ministério Público em defesa do consumidor (art. 51, §4º, CDC), entre outras situações que envolvam a tutela de direitos coletivos lato sensu.[1: Art. 51. Caput.[...]§4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.]
5. A REPERSONALIZAÇÃO OU A DESPATRIMONIALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL.
O tema sugerido para este tópico evidencia em sua composição terminológica a prevalência dos valores relativos à personalidade humana sobre aqueles de ordem puramente patrimonial, refletindo, assim, uma mudança valorativa em todo um sistema jurídico.
Sobre a despatrimonialização, Pietro Perlingieri (1999, p. 33) explica que:
Com o termo, certamente não elegante [...] individua-se uma tendência normativo cultural; se evidencia que no ordenamento se operou uma opção, que, lentamente, se vai concretizando, entre o personalismo (superação do individualismo) e patrimonialismo (superação da patrimonialidade fim a si mesma, do produtivismo, antes, e do consumismo, depois, como valores). Com isso não se projeta a expulsão e a “redução”quantitativa do conteúdo patrimonial no sistema jurídico e naquele civilístico em especial; o momento econômico, como aspecto da realidade social organizada, não é eliminável. 
Portanto, a repersonalização do Direito Civil não induz ao abandono completo das questões econômicas ou patrimoniais das relações jurídicas, não significando a antítese perfeita do patrimonialismo. A despatrimonialização do Direito Civil propõe tão somente uma releitura dos clássicos institutos patrimoniais – dentre estes os contratos – a partir de novos axiomas, ou valores existenciais. 
Seguindo essa tendência, autores como Rosa Maria de Andrade Nery, incluem a dignidade da pessoa humana como um princípio do Direito Privado, partindo da “consideração primordial e fundamental de que o homem é sujeito de direito, e nunca objeto de direito” (2008, p. 234).
Pois bem. Ao longo do SEC. XX houve uma necessidade de releitura dos princípios contratuais clássicos, especialmente para adequá-los ao valor da dignidade da pessoa humana, na medida em que se percebeu o óbvio: aqueles que contratam são pessoas e, portanto, portadoras de dignidade.
Observou-se que em uma sociedade de massa, em que as negociações tendem a ser impessoais e a ser instrumentalizadas por meio de contratos de adesão – deixando de ser paritários, pois – o sujeito economicamente mais forte tende a oprimir o hipossuficiente, de modo que os contratos garantem apenas uma igualdade formal.
Assim, difundiu-se a ideia da necessidade de se defender um intervencionismo estatal, a fim de se garantir uma igualdade material, ou seja, a isonomia, entre os contratantes, condicionando a autonomia da vontade a normas de ordem pública.
Amadureceu-se, por essa razão, o conceito de dirigismo contratual, isto é, de uma intervenção do Estado nas relações contratuais privadas, a fim de que seja preservada a dignidade da pessoa humana, que se assegure a igualdade material e que se evitem abusos quando da estipulação unilateral dos contratos.
A seguir, alguns exemplos do intervencionismo do Estado nas relações contratuais: 
A Tipificação dos contratos; 
Os requisitos de validade dos negócios jurídicos; 
Os limites impostos às doações (não se pode doar de modo a comprometer a própria subsistência; se tiver herdeiros é preciso se preservar a legítima);
A proibição de o preço estar subordinado exclusivamente à vontade de uma das partes; 
A regra que determina que as seguradoras somente podem funcionar com autorização do Banco Central, se submete à fiscalização da SUSEP, pois se equipara a instituição financeira; vedação, ao casado sob o regime da comunhão parcial de bens, de prestar fiança sem a anuência do cônjuge. Enfim, o Estado intervém nas relações privadas.
	III. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAISDO CONTRATO[2: Cf. Paulo Lôbo. Direito Civil: Obrigações. 2.ed. São Paulo: Saraiva. 2011, p.19]
A constitucionalização do Direito Civil impõe a inserção nas relações obrigacionais como um todo, de novos princípios pautados nos ideais de justiça, solidariedade e igualdade sociais norteados pelo princípio maior da dignidade da pessoa humana.
Feitas essas considerações iniciais, serão destacados adiante alguns dispositivos constitucionais estritamente relacionados com o Direito Contratual:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Tal dispositivo está diretamente relacionado com o objeto de estudo da presente disciplina. Não se pode olvidar que o trabalho humano, independentemente de sua natureza, desenvolve-se por meio de contratos, visto que aquele que realiza um trabalho, forçosamente o faz em favor de outro sujeito de direito, estabelecendo-se uma relação jurídica obrigacional, que pode ser tipificada em um contrato de trabalho, de empreitada ou mesmo de prestação de serviços.
Da mesma forma, a livre inciativa, que envolve a liberdade de desenvolvimento de atividades econômicas, está da mesma forma relacionada ao Direito dos Contratos, na medida em que o desempenho de qualquer atividade econômica, envolvendo a circulação de bens e serviços no mercado, igualmente se desenvolve por meio de contratos.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
[...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
[...]
§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
	IV – PRINCÍPIOS SOCIAIS DOS CONTRATOS
Adverte Paulo Lobo, em artigo intitulado: Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil (disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2796):
Os princípios sociais do contrato não eliminam os princípios liberais (ou que predominaram no Estado liberal), a saber, o princípio da autonomia privada (ou da liberdade contratual em seu tríplice aspecto, como liberdades de escolher o tipo contratual, de escolher o outro contratante e de escolher o conteúdo do contrato), o princípio de pacta sunt servanda (ou da obrigatoriedade gerada por manifestações de vontades livres, reconhecida e atribuída pelo direito) e o princípio da eficácia relativa apenas às partes do contrato (ou da relatividade subjetiva); mas limitaram, profundamente, seu alcance e seu conteúdo.
Miguel Reale, em exposição de motivos do CCB, afirma que:
[...] firme consciência ética da realidade sócio-econômica norteia a revisão das regras gerais sobre a formação dos contratos e a garantia de sua execução equitativa, bem como as regras sobre resolução dos negócios jurídicos em virtude de onerosidade excessiva, às quais vários dispositivos expressamente se reportam, dando a medida do propósito de conferir aos contratos estrutura e finalidade sociais. É um dos tantos exemplos de atendimento da “socialidade” do Direito.
Vejamos cada um dos princípios sociais individualmente:
1. PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL
Ideia central: Equilíbrio real. Superação da igualdade meramente formal para atingir a igualdade material (isonomia – tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades).
Proporcionalidade entre direitos e deveres na relação jurídica contratual.
Evitar vantagens e desvantagens excessivas.
Aferição objetiva do desequilíbrio contratual. Sopesamento ou balanceamento objetivo dos direitos e deveres em questão.
Mais uma vez é Paulo Lobo quem esclarece:
O princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses. Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis. O que interessa não é mais a exigência cega de cumprimento do contrato, da forma como foi assinado ou celebrado, mas se sua execução não acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, aferível objetivamente, segundo as regras da experiência ordinária.
1.1. ASPECTOS LEGAIS:
Art. 6º, V do Código de Proteção e Defesa do Consumidor – CDC:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
[...]
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Arts. 423 e 424 do CCB:
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
1.2. ELEMENTOS OBJETIVOS: Devem estar presentes para que se possa invocar a proteção oferecida por esse princípio.
Desproporção entre direitos e deveres na relação contratual;
Desigualdade dos poderes negociais das partes envolvidas;
Vulnerabilidade de uma das partes em relação à outra.
1.3. CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DO P. DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL:
Declaração da nulidade total ou parcial do contrato, como retorno ao status quo ante; ou
Manutenção da relação contratual, com a indicação da interpretação válida.
2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS.
Na verdade se pode falar numa função social dos negócios jurídicos em geral, em especial dos contratos. Isso porque o CCB/2002 refletiu uma verdadeira mudança axiológica.
	OBS: Deve-se lembrar que o CCB/1916 foi redigido à luz da ideologialiberal e do não intervencionismo do Estado nas relações privadas, ao passo que o CCB/2002 reflete o ideal do Estado Social, em que a presença do Estado se faz necessária para equilibrar tais relações e promovendo a justiça social.
Essa justiça social difere das ideias de justiça comutativa e de justiça distributiva. Veja:
A justiça comutativa, como a própria denominação deixa transparecer, presta uma tutela jurídica comum, é dizer, igual, por partir da concepção de igualdade formal;
A justiça distributiva, por sua vez, levando em consideração as desigualdades de cada um, permite que se destine um tratamento jurídico diferenciado aos diferentes. Parte, pois, da ideia de igualdade material, também denominada por alguns juristas de isonomia;
A justiça social, diferentemente, vai além, não se contentando com o reconhecimento das desigualdades, impondo a adoção de medidas que promovam a redução destas. É, pois, uma justiça promocional.
A função social do contrato acentua a diretriz de “socialidade do direito”, conforme a doutrina de Miguel Reale, como princípio a ser observado pelo intérprete na aplicação dos contratos. 
Nesse sentido o Enunciado n. 23, aprovado na I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ. Vejamos:
A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
Tal princípio, que constitui um dever geral de conduta, vez que encerra preceito de ordem pública, manifesta-se em dois níveis:
Intrínseco: Contrato visto a partir da relação jurídica intersubjetiva, em que as partes devem agir conforme a BFO, para atingir um equilíbrio material;
Extrínseco: Contrato considerado em face de toda a coletividade, isto é, considerando sua importância e seus efeitos perante toda a sociedade;
Contrato não mais é visto como mero instrumento de circulação de riquezas, mas, acima de tudo, como mecanismo de promoção do desenvolvimento social;
Impõe que, na execução de um contrato, seja imposto o respeito a todos os valores constitucionais já mencionados linhas atrás, tais como: a dignidade da pessoa humana, a proteção do consumidor, a valorização do trabalho humano; a livre iniciativa; a livre concorrência; a proteção do meio ambiente etc.
Do contrário, haveria o risco de se ferir o princípio constitucional do não retrocesso social, o qual é facilmente transplantado do direito constitucional para o direito contratual, pois, de fato, a violação da função social dos contratos conduziria, inevitavelmente a um retrocesso da ordem jurídica.
A ausência desse princípio no CCB/1916 se deu em razão do contexto econômico e social da época, certamente menos complexo, não se podendo esquecer que a ideologia que permeou o referido diploma legal foi o liberalismo, a cultura do Estado não intervencionista.
No CCB vigente o princípio foi positivado:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão [caráter finalístico] e nos limites [caráter limitativo] da função social do contrato. (sem destaques no original)
	Destaque-se o caráter finalístico e limitativo o princípio. Os contratos em última análise devem ser firmados para a consecução de interesses sociais que também lhes servem de limites.
A respeito do tema, o enunciado 431 da V Jornada de Direito Civil promovido pelo CJF:
A violação do art. 421 conduz à invalidade ou à ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais. 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
De acordo com Gustavo Tepedino: 
A rigor, a função social do contrato deve ser entendida como princípio que, informado pelos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1o, III), do valor social da livre iniciativa (art. 1º, IV) – fundamentos da República – e da igualdade substancial (art. 3o, III) e da solidariedade social (art. 3o, I) – objetivos da República – impõe às partes o dever de perseguir, ao lado de seus interesses individuais, a interesses extracontratuais socialmente relevantes, dignos de tutela jurídica, que se relacionam com o contrato ou são por ele atingidos. [...] Se assim é, nos termos do art. 421 do Código Civil, toda situação jurídica patrimonial, integrada a uma relação contratual, deve ser considerada originariamente justificada e estruturada em razão de sua função social. Como ocorrido em relação à propriedade, opera-se a transformação qualitativa do contrato, que passa a consubstanciar instrumento para a concretização das finalidades constitucionais. Em definitivo, a função social – elemento interno do contrato – impõe aos contratantes a obrigação de perseguir, ao lado de seus interesses privados, interesses extracontratuais socialmente relevantes, assim considerados pelo legislador constitucional, sob pena de não merecimento de tutela do exercício da liberdade de contratar. [3: in. Notas sobre a Função Social dos Contratos, disponível em: http://www.tepedino.adv.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/biblioteca12.pdf).]
O princípio ora estudado impõe uma nova visão do contrato, que passa a ser visto, não mais como mero instrumento particular de circulação de bens jurídicos, mas, antes de tudo, como mecanismo de realização do bem coletivo, devendo, por isso mesmo, ser realizado, em todas as suas fases, em razão e nos limites da sua função social, cf. destacado no art. 421 do CCB.
Segundo STOLZE e PAMPLONA FILHO, para haver efetivo respeito à função social do contrato, é preciso:
Respeitar a dignidade da pessoa humana e, em última análise, os direitos e garantias fundamentais;
Admitir a relativização do principio da igualdade das partes, reconhecendo suas desigualdades e permitindo a adoção de medidas para reduzí-las;
Consagrar uma cláusula implícita de boa-fé objetiva;
Respeitar o meio ambiente;
Respeitar o valor social do trabalho.
Importa destacar o teor do Enunciado n. 431 aprovado na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ. Vejamos:
431. Art. 421. A violação do art. 421 conduz à invalidade ou à ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais.
Portanto, o desrespeito a quaisquer dos bens jurídicos acima, importará em ofensa ao princípio da função social do contrato, fato que poderá implicar na invalidade ou ineficácia total ou parcial do contrato.
3. PRINCÍPO DA BOA-FÉ OBJETIVA
3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
O CCB/2002 positivou o princípio ora estudado em seu art. 422, cuja redação é a seguinte:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Deve-se atentar para o fato de que o método legislativo, no CCB/2002, em relação ao CCB anterior, foi profundamente modificado.
O legislador do CCB/1916, inspirado pelo ideal positivista, bem como pela concepção do Estado Liberal, se valia da denominada técnica legislativa regulamentar, própria do sistema da subsunção ou exegese, em que o fato é levado ao juiz que lhe aplica a norma para produzir uma sentença. Assim: SENTENÇA = FATO + NORMA. Nesse contexto, o juiz não fazia a valoração da norma. De acordo com essa técnica legislativa, a rigor, não havia espaço para que o juiz pudesse trazer para a sua decisão novos valores sociais. O reconhecimento desses novos valores pelo juiz estava subordinado ao prévio reconhecimento destes pelo legislador. O juiz não definia a conclusão, sendo esta dada pela lei. 
Atualmente,segundo a concepção pós-positivista, não mais se admite o quadro desenhado acima, por inviabilizar o ideal de justiça social consagrado na CRFB/88, a qual possibilitou a abertura do sistema legal que, hoje é permeado por cláusulas gerais, que serão melhor explicadas adiante. Desse modo, além dos fatos e das normas, o juiz pode buscar os valores vigentes na sociedade, desde que refletidos na CRFB, para elaborar suas decisões. Assim: SENTENÇA = FATOS + NORMAS + VALORES CONSTITUCIONAIS. 
Com o CCB vigente, uma nova técnica legislativa veio coadjuvar (não substituir) a técnica regulamentar. Trata-se da técnica legislativa das cláusulas gerais, através da qual o legislador, de forma proposital, é dizer, intencional, elabora a norma com certa vagueza semântica (de conteúdo), para que o julgador, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, possa definir o conteúdo, atendendo, ainda, aos valores vigentes na sociedade, os quais, normalmente, estarão reconhecidos pela CRFB. Por esta técnica, além de se permitir o alcance de uma solução mais justa, permite-se que o julgador possa ter uma atividade criativa, atento aos novos valores da sociedade. Essa técnica foi bastante utilizada pelo legislador, quando da inserção dos novos princípios contratuais.
Assim, temos que, no CCB/1916 o legislador valeu-se da técnica regulamentar e no CCB/2002, essa técnica é coadjuvada (e não substituída) pela técnica legislativa das cláusulas gerais, de modo que as duas técnicas podem ser verificadas.
	OBS. Não se deve confundir a técnica legislativa das CLÁUSULAS GERAIS com a inserção de CONCEITOS JURÍDICOS INDETERMINADOS no bojo da TÉCNICA REGULAMENTAR, pois nem toda vagueza semântica é cláusula geral. Nem tudo que é indefinido se confunde com cláusula geral. 
O ponto de aproximação entre os conceitos jurídicos indeterminados e as cláusulas gerais está em que, ambas, são expressões inseridas na norma regulamentar que, em razão de sua vagueza, devem ser complementadas pelo juiz. 
A distinção está em que: Em se tratando de cláusula geral, o juiz, ao definir os contornos desta, é livre para decidir quanto às consequências do seu descumprimento. Dito de outro modo, o magistrado poderá adotar as medida que entender mais justa para o caso, não estado adstrito a parâmetros legais previamente definidos. Já, ao preencher a vagueza dos conceitos jurídicos indeterminados, o juiz estará subordinado à conclusão previamente estabelecida na lei, como ocorre em relação à situação definida no art. 1.228 §§4º e 5º do CCB.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
[...]
§ 4º. O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º. No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Perceba que, para a hipótese do §4º acima destacado, o legislador prescreve aquilo que o magistrado deve fazer, no caso, a fixação de uma indenização.
O mesmo não ocorre quando cláusulas gerais, como a função social do contrato ou a boa-fé objetiva, são descumpridas. Nesse caso, cabe ao magistrado adotar as medidas que entender necessárias, não havendo na legislação, qualquer indicativo de sua atuação.
3.2. BOA-FÉ OBJETIVA:
Comportamentos éticos constituem o ponto de partida para raciocinarmos esse princípio. Atuar conforme a boa-fé objetiva é manter um comportamento ético nas relações privadas que venham a se estabelecer. 
O comportamento ético exigido por esse princípio, que envolve honestidade, transparência, respeito mútuo etc, apesar de estar fortemente presente no direito contratual, avança para diversos outros ramos do direito, como o direito de família, o direito do trabalho, o direito processual etc. 
Na seara dos contratos, impõe-se às partes que, ao contratarem, respeitem-se mutuamente, atendendo às expectativas da outra, adotando comportamentos transparentes, que preservem a confiança entre as partes. Determina, pois, um comportamento ou um standart de comportamento com embasamento na tutela da confiança.
De acordo com o Prof. Álvaro Villaça, a Boa-fé Objetiva implica em:
“[...] um estado de espírito, que leva o sujeito a praticar um negócio em clima de aparente segurança. Assim, desde o início devem os contratantes manter seu espírito de lealdade, esclarecendo os fatos relevantes e as situações atinentes à contratação, procurando razoavelmente equilibrar as prestações, expressando-se com clareza e esclarecendo o conteúdo do contrato, evitando eventuais interpretações divergentes, bem como cláusulas leoninas, só em favor de um dos contratantes, cumprindo suas obrigações nos moldes pactuados, objetivando a realização dos fins econômicos e sociais do contratado; tudo para que a extinção do contrato não provoque resíduos ou situações de enriquecimento indevido, sem causa”. (AZEVEDO, ÁLVARO VILLAÇA. Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos. São Paulo: Editora Atlas, 2002.).
Antes de prosseguir, vale anotar, juntamente com Flávio Tartuce que:
Ao contrário do que muitos podem imaginar, já existia previsão expressa quanto à boa-fé objetiva, de cunho contratual, em nosso ordenamento jurídico. Com efeito, esta era a previsão do artigo 131, I, do Código Comercial de 1.850, constante na parte que foi revogada pelo Novo Código Civil: “A inteligência simples e adequada que for mais conforme a boa-fé e ao verdadeiro espírito e natureza do contrato deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras”. (Trecho retirado do artigo intitulado: O princípio da boa-fé objetiva em matéria contratual. Apontamentos em relação ao novo Código Civil e visão do projeto nº 6.960/02).
3.3. BOA-FÉ SUBJETIVA
Significa a boa-fé no estado psicológico, no estado anímico, que se contrapõe ao agir de má-fé.
As expressões “estar de boa-fé” ou “agir de boa-fé”, se referem à boa-fé subjetiva, que significa a boa-fé crença ou boa-fé ignorância, ou seja, aquele comportamento que ignora a existência de vícios. 
Conforme destacado por Vera Helena de Melo Franco, ao citar José Luiz de Los Mozos: O fundamental aqui é a convicção de não estar “prejudicando um interesse alheio tutelado pelo direito”.[4: In. Teoria Geral do Contrato: Confronto com o direito europeu futuro. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 83.]
Portanto, não é correta a expressão “má-fé objetiva”, pois, na verdade, a má-fé é sempre subjetiva, pois é o oposto da boa-fé subjetiva.
	QUESTÃO: Que distinção pode ser feita entre os efeitos da violação à boa-fé subjetiva e ao princípio da boa-fé objetiva? 
Resp. Os efeitos do descumprimento da BFO dependerão da concepção do juiz, da sua valoração e da fundamentação contida na decisão. Isso por se tratar de cláusula geral. Já a consequência da violação da boa-fé subjetiva, ou seja, da má-fé, está prescrita na lei, por se tratar de CJI (técnica regulamentar). Exemplo:
CCB, Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.
Esse é um caso de violação à boa-fé subjetiva, pois, como se pode ver, as consequências estão previstas no próprio dispositivo legal.
4. FUNÇÕES DO PRINCÍPIO DA BFO
 4.1. FUNÇÃO INTERPRETATIVA DA BFO.
 
A BFO funciona como referencial hermenêutico. Veja, no CCB vigente, o art. 113 estabelece:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Como sabido e conforme será estudado emmomento oportuno, todo e qualquer negócio jurídico tem como elemento fundamental, a manifestação de vontade dos seus participantes.
No que respeita a esse elemento, o CCB/1916 adotou a denominada Teoria da Vontade. Vejamos:
Art. 85. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção que ao sentido literal da linguagem. 
Já o vigente CCB, adotou a denominada Teoria da Declaração a qual reflete a diretriz ou o princípio da operabilidade (o qual pretende um CCB mais efetivo). Vejamos:
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
	ATENÇÃO: Ambas as teorias são espécies da chamada Teoria Subjetiva, porém distintas, apesar da diferença ser sutil. Vejamos:
De acordo com a sistemática do art. 85 do CCB/1916, o intérprete precisa perquirir a real intenção da parte, i.e a intenção subjetivada, inserta na mente do sujeito. 
Já o art. 112 do Código Reale não exige que o intérprete busque tal intenção em seu aspecto subjetivo, sendo bastante a intenção declarada, aquela que foi externada nas declarações dos sujeitos contratantes. Portanto, em termos de interpretação dos negócios jurídicos, o CCB/2002 traz uma maior segurança jurídica.
De acordo com Gustavo Tepedino:[5: In. Novos Princípios Contratuais e Teoria da Confiança: a exegese da cláusula to the best knowledge of the sellers. Disponível em: http://www.tepedino.adv.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/biblioteca13.pdf]
Com relação à dogmática dos contratos prevalecem, nos ordenamentos codificados, as teorias da declaração5 e da confiança6, que privilegiam, na interpretação do negócio jurídico, a manifestação externa e objetiva da vontade, em detrimento da intenção do agente, cuja importância foi exasperada pelo voluntarismo do Século XIX, no âmbito do qual se forjou a chamada teoria da vontadeSegundo o artigo 112 do Código Civil, “nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem” (grifou-se). O dispositivo, mais claro que o correspondente artigo 85 do Código Civil de 19167, adota a teoria da confiança, referindo-se à vontade consubstanciada nas declarações, ou seja, tal qual manifestada pelo declarante, de modo a relegar a segundo plano a literalidade do texto, mesmo que esta pudesse refletir a intenção real do agente.
Portanto, deve-se fixar a informação de que o CCB/2002 trabalha com a Teoria da Declaração e não com a Teoria da Vontade, não obstante alguns autores, como Carlos Roberto Gonçalves, afirmarem que ainda persiste a teoria da vontade.
	OBS. O art. 112 será insuficiente em algumas ocasiões. O intérprete, mesmo analisando as declarações manifestadas pelas partes, poderá não chegar a uma conclusão, em razão da existência de ambiguidade, obscuridade, contradição etc. Nesse caso, o CCB forneceu ao interprete um apoio para interpretar os negócios jurídicos. Impõe o art. 113 que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
O princípio da BFO foi utilizado pelo legislador como critério subsidiário para a interpretação dos negócios jurídicos. Assim, quando o juiz não conseguir chegar à conclusão sobre qual era a real intenção das partes através de suas declarações (teoria da declaração), a BFO será fator coadjuvante nessa busca, assim como os usos do lugar da celebração do negócio.
Importante destacar o teor do Enunciado n. 26 da I Jornada de Direito civil promovida pelo CJF/STJ:
26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.
SINTETIZANDO O ASSUNTO: Os contratos devem ser interpretados de forma a preservar a confiança, a justa expectativa das partes.
4.2. FUNÇÃO DE CONTROLE OU LIMITATIVA.
Parte da ideia de abuso do direito prevista no art. 187 do CCB.
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Há, pois, dois paradigmas: FUNÇÃO SOCIAL E BOA-FÉ. Todo titular de direito subjetivo deve exercê-lo conforme a boa-fé e a função social, sob pena de incorrer em abuso do direito.
A BFO funciona, pois, no controle de práticas abusivas, limitando a atuação dos contratantes.
4.3. FUNÇÃO INTEGRATIVA OU SUPLETIVA DA BFO.
Já foi destacado o teor do Enunciado n. 26 da I Jornada de Direito civil promovida pelo CJF/STJ, donde também se pode depreender a função integrativa da BFO. Vejamos:
26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.
A BFO faz nascer entre as partes contratantes novos deveres para além dos principais (dar, fazer e não fazer), que, de certa forma, os permeiam, preenchendo, por assim dizer, espaços vazios da norma privada (contratual). Estes deveres são comumente conhecidos como deveres anexos ou laterais, os quais não foram fixados na lei.
5. DEVERES ANEXOS:
A BFO impõe que as partes devem cumprir, além do dever contratual principal, aqueles denominados de deveres anexos, paralelos, de proteção, de conduta, instrumentais, laterais ou acessórios. 
O descumprimento desses deveres pode ocorrer na fase pré-contratual, contratual e pós-contratual.
Tal ideia foi retirada do direito comparado. O ordenamento jurídico alemão trata desse assunto desde início do SEC XX; o italiano desde a década de 60 e o português desde a década de 40.
Para memorizar as classes de deveres anexos, basta lembrar da sigla: C P I, que se refere às iniciais da denominação dada a cada um desses deveres, que são os seguintes:
COOPERAÇÃO ou colaboração; 
PROTEÇÃO ou cuidado e 
INFORMAÇÃO ou transparência
	OBS: Alguns autores dão a esses deveres nomenclatura distinta, podendo ser mencionar, ainda, outras espécies, como é o caso de Pablo Stolze e Pamplona Filho, que se referem aos deveres de sigilo ou confidencialidade e lealdade, como sendo categorias de deveres anexos.[6: In. Novo curso de Direito Civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, v.4, p. 70.]
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O ASSUNTO:
	DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA, RENOVADO ININTERRUPTAMENTE POR DIVERSOS ANOS. CONSTATAÇÃO DE PREJUÍZOS PELA SEGURADORA, MEDIANTE A ELABORAÇÃO DE NOVO CÁLCULO ATUARIAL. NOTIFICAÇÃO, DIRIGIDA AO CONSUMIDOR, DA INTENÇÃO DA SEGURADORA DE NÃO RENOVAR O CONTRATO, OFERECENDO-SE A ELE DIVERSAS OPÇÕES DE NOVOS SEGUROS, TODAS MAIS ONEROSAS. CONTRATOS RELACIONAIS. DIREITOS E DEVERES ANEXOS. LEALDADE, COOPERAÇÃO, PROTEÇÃO DA SEGURANÇA E BOA FÉ OBJETIVA. MANUTENÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO NOS TERMOS ORIGINALMENTE PREVISTOS. RESSALVA DA POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DO CONTRATO, PELA SEGURADORA, MEDIANTE A APRESENTAÇÃO PRÉVIA DE EXTENSO CRONOGRAMA, NO QUAL OS AUMENTOS SÃO APRESENTADOS DE MANEIRA SUAVE E ESCALONADA.
1. No moderno direito contratual reconhece-se, para além da existência dos contratos descontínuos, a existência de contratos relacionais, nos quais as cláusulas estabelecidas no instrumento não esgotam a gama de direitos e deveres das partes.
2. Se o consumidor contratou, ainda jovem, o seguro de vida oferecido pela recorrida e se esse vínculo vem se renovando desde então, ano a ano, por mais de trinta anos, a pretensão da seguradora de modificar abrutamente as condições do seguro, não renovando o ajuste anterior, ofende os princípios da boa fé objetiva, da cooperação, da confiança e da lealdade que deve orientar a interpretação dos contratos que regulam relações de consumo.
3. Constatado prejuízos pela seguradora e identificada a necessidade de modificação da carteira de seguros em decorrência de novo cálculo atuarial, compete a ela ver oconsumidor como um colaborador, um parceiro que a tem acompanhado ao longo dos anos. Assim, os aumentos necessários para o reequilíbrio da carteira têm de ser estabelecidos de maneira suave e gradual, mediante um cronograma extenso, do qual o segurado tem de ser cientificado previamente. Com isso, a seguradora colabora com o particular, dando-lhe a oportunidade de se preparar para os novos custos que onerarão, ao longo do tempo, o seu seguro de vida, e o particular também colabora com a seguradora, aumentando sua participação e mitigando os prejuízos constatados.
4. A intenção de modificar abruptamente a relação jurídica continuada, com simples notificação entregue com alguns meses de antecedência, ofende o sistema de proteção ao consumidor e não pode prevalecer.
5. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1073595/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/03/2011, DJe 29/04/2011)
Especifiquemos, a partir de agora, cada uma dessas classes de deveres anexos:
5.1. DEVER DE COLABORAÇÃO OU COOPERAÇÃO
A relação contratual não é uma relação de antagonismo ou rivalidade. As partes são parceiras. O adimplemento é interesse, inclusive do devedor. 
O negócio deve ser exitoso para os dois polos da relação, que, para tanto, devem agir com espírito de colaboração.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:
	Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé contratual. Deveres anexos ao contrato.
- O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao contrato, que são decorrência lógica deste princípio.
- O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade dentro da relação contratual.
- A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe tenha dado causa.
- A alteração dos valores arbitrados a título de reparação de danos extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso Especial, nos casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou exagerado.
Recursos não providos. (REsp 595.631/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/2004, DJ 02/08/2004, p. 391)
	OBS: UM DESDOBRAMENTO DO DEVER ANEXO DE COOPERAÇÃO é a figura retirada do direito anglo saxão, baseado no sistema common law, denominada DUTTY TO MITIGATE THE LOSS ou o dever de mitigar o próprio prejuízo. Tal figura determina a busca da menor onerosidade para o devedor e mais proveitosa para o credor. 
Ex. Um banco que tem um devedor inadimplente e não propõe as medidas cabíveis para preservar seu crédito, postergando sua cobrança e potencializando um superendividamento, fere a BFO, na medida em que tem o dever de mitigar ou reduzir o seu próprio prejuízo. 
Nesse sentido o ENUNCIADO 169 DA 3ª JORNADA DO CJF. Art. 422: “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:
DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO-JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS PARTES CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO. INÉRCIA DO CREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO IMPROVIDO.
1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade.
2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico.
3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade.
4. Lição da doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que a realização mais célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano.
5. Violação ao princípio da boa-fé objetiva. Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão de um ano de ressarcimento).
6. Recurso improvido. (REsp 758.518/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, REPDJe 01/07/2010, DJe 28/06/2010).
NOTA DO PROFESSOR:
Deve-se observar aquilo que se falou sobre o fato de a BFO ser uma cláusula geral. As consequências da violação ao princípio da boa-fé objetiva não são preestabelecidas e depende da concepção do juiz, da sua valoração e da fundamentação contida na decisão. 
5.2. DEVER DE PROTEÇÃO, SEGURANÇA OU CUIDADO.
Preconiza que as partes devem proteger-se, acautelar-se, assim em relação a seus interesses patrimoniais como extrapatrimoniais ou existenciais. 
É o caso dos estacionamentos dos estabelecimentos comerciais. Há uma expectativa de que o veículo esteja protegido. Por esse motivo, os avisos que comumente são expostos nesses locais, informando que o estabelecimento não se responsabiliza por quaisquer danos causados aos veículos, enquanto cláusulas contratuais que são, não geram qualquer efeito jurídico, sendo consideradas nulas de pleno direito.
 Outro exemplo bem simples. As placas que os estabelecimentos colocam para alertar que o piso é escorregadio constituem prática decorrente do dever anexo de proteção.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:
	EMENTA: REVISÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL - FINANCIAMENTO HABITACIONAL - INADMISSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TR - SUBSTITUIÇÃO PELO INPC - SUCUMBÊNCIA EQÜITATIVA - ART. 21 CPC - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. No caso específico de financiamento de imóveis, a instituição financeira deve, acima de tudo, pretender a preservação da situação econômica do mutuário, para que o mesmo possa adimplir com as prestações regularmente, e não incidir na dívida encargos que não tenham condições de serem suportados. É o intitulado dever anexo de proteção. A taxa referencial não só recompõe o capital, como traduz alteração em seu valor real, tendo a natureza de juros remuneratórios, evidência que impõe a substituição daquele índice, quando utilizado com o cunho de correção do capital. A regra do artigo 21 do CPC estabelece a distribuição eqüitativa da verba sucumbencial de acordo com o êxito obtido pelas partes.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.00.047028-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE (S): BANCO ITAU S/A - APELADO (A)(S): APARECIDA YARA PEREIRA DE OLIVEIRA - RELATOR: EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO PEREIRA DE SOUZA
5.3. DEVER DE INFORMAÇÃO E BFO.
Preconiza que toda informação que disser respeito ao objeto da contratação e que puder influenciar na vontade da outra parte contratar deve ser esclarecido.
OBSERVAÇÃO: Fatos notórios não precisam ser informados, pois não ampliam a esfera de conhecimento da parte contratante.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:
 
	PLANO DE SAÚDE E DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. APRECIAÇÃO ACERCA DE VIOLAÇÃO À RESOLUÇÃO. DESCABIMENTO. RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL. CONSUMO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 30 DA LEI 9.656/98. NORMA AUTO-APLICÁVEL, QUE PRESCINDE DE REGULAMENTAÇÃO.
1. O artigo 30 da Lei 9.656/98 confere o direito, após a cessação do vínculo laboral do autor, de ser mantido nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava durante a vigência de seu contrato de trabalho, desde que assuma o pagamento integral da contribuição.
2. O autor despendia R$ 110,75 (cento e dezreais e setenta e cinco centavos) pela assistência médico-hospitalar, e o empregador arcava com R$ 166,13 (cento e sessenta e seis reais e treze centavos), totalizando R$ 276,88 (duzentos e setenta e seis reais e oitenta e oito centavos). Com a mudança para outro plano, com pior cobertura, dentro do período em que o consumidor tinha direito a ser mantido no plano primevo, passou a pagar R$ 592,92 (quinhentos e noventa e dois reais e noventa e dois centavos), não se podendo admitir que o tenha feito espontaneamente.
3. Os denominados deveres anexos, instrumentais, secundários ou acessórios revelam-se como uma das faces de atuação ou operatividade do princípio da boa-fé objetiva, sendo nítido que a recorrente faltou com aqueles deveres, notadamente os de lealdade; de não agravar, sem razoabilidade, a situação do parceiro contratual; e os de esclarecimento; informação e consideração para com os legítimos interesses do parceiro contratual.
4. Os artigos 6º, incisos III, IV, V, 46, 51, incisos I, IV, XV, parágrafos 1º e 2º do Código de Defesa do Consumidor e 16, inciso IX, da Lei 9.656/98 impõem seja reconhecido o direito de o autor permanecer no Plano em que se enquadrava, com as mesmas condições e cobertura assistencial, no período subsequente ao rompimento de seu vínculo empregatício com o Banco.
5. Todavia, como o artigo 30, § 1º, da Lei 9.656/98 impõe a manutenção do ex-empregado como beneficiário do plano de saúde, contanto que assuma o pagamento integral, pelo período máximo de 24 meses e, no caso, por força de antecipação dos efeitos da tutela, o autor permanece no denominado "Plano Associado" desde o ano de 2003, não pode ser mais imposto à ré a manutenção do recorrido naquele Plano.
6. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 925.313/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 26/03/2012)
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Informativo nº 0475 do STJ.
Período: 30 de maio a 3 de junho de 2011.
Terceira Turma
PÓS-GRADUAÇÃO. CREDENCIAMENTO. MEC. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRESCRIÇÃO. In casu, a universidade recorrente foi condenada, na origem, a indenizar os danos morais e materiais advindos da quebra da boa-fé objetiva ante o descumprimento do dever de informar que o curso de pós-graduação lato sensu a distância por ela ministrado e concluído pelas recorridas não era credenciado pelo MEC e tinha sua validade questionada em juízo. Nesse contexto, a Turma, entre outras questões, negou provimento ao recurso especial por entender que a hipótese dos autos atrai o prazo prescricional de cinco anos nos termos do art. 27 do CDC, por se tratar de ação indenizatória decorrente do inadimplemento absoluto da obrigação do fornecedor de produtos ou serviços. Precedente citado: REsp 773.994-MG, DJ 18/6/2007. REsp 1.076.496-AL, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/6/2011.
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Informativo nº 0468
Período: 28 de março a 8 de abril de 2011.
Terceira Turma
RESPONSABILIDADE. REDIRECIONAMENTO. APLICAÇÕES FINANCEIRAS. O recorrente fez aplicações em fundo gerido pela instituição financeira recorrida, do qual era correntista. Sucede que ela redirecionou suas aplicações para outro banco alheio à relação contratual que, após, sofreu intervenção do Bacen, o que ocasionou a indisponibilidade dos valores aplicados. Diante disso, o recorrente pretende a responsabilização da recorrida pelos danos materiais causados ao fundamento de violação do art. 31 do CDC. Mesmo ao se considerar que os fundos de investimentos comportam contratos de risco, aleatórios e, geralmente, dependentes do acaso, é certo que o investidor (consumidor) que se utiliza dos préstimos de fornecedor de serviços bancários está albergado pelas normas do CDC, além do princípio da boa-fé e seus deveres anexos, o que impõe ao banco a exigência fornecer informações adequadas, suficientes e específicas a respeito do serviço prestado ao investidor. Assim, na hipótese, o redirecionamento das aplicações do recorrente configura operação realizada pela recorrida fora de seu compromisso contratual e legal, o que, sem dúvida, extrapola a alea inerente a esse contrato. Dessarte, não há que se comparar a hipótese aos casos referentes ao risco da desvalorização do real diante do dólar americano (em que há precedente da Terceira Turma pela não responsabilização do banco) ou mesmo aos de ações que perdem abruptamente seu valor na bolsa de valores, pois está presente na espécie o elemento volitivo (a escolha da própria recorrida), com o qual o conceito de risco que poderia desonerar a instituição bancária de sua responsabilidade, por revestir-se de incerteza, é incompatível. Assim, ausente a alea, a mera presunção de conhecimento ou a anuência quanto aos riscos não são fundamentos a desonerar a recorrida de ressarcir ao recorrente os valores aplicados, pois aquela não se desincumbiu de comprovar que o recorrente lhe concedera expressa autorização, devendo, assim, arcar com a má escolha operada supostamente em nome do cliente. Esse entendimento foi acolhido pela maioria dos componentes da Turma no prosseguimento do julgamento. Precedentes citados: REsp 1.003.893-RJ, DJe 8/9/2010, e REsp 747.149-RJ, DJ 5/12/2005. REsp 1.131.073-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/4/2011.
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA - JUÍZOS ESTADUAIS - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO AJUIZADA NO FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU CONSTANTE NO CONTRATO - AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 112 DO CPC - ALTERAÇÃO DO DOMICÍLIO NO CURSO DO CUMPRIMENTO DO CONTRATO - NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO AO FORNECEDOR - DEVERES ANEXOS DO CONTRATO DECORRENTES DA BOA-FÉ.
1. Não se faz concretizada a hipótese prevista no parágrafo único do art. 112 do Código de Processo Civil quando o foro de eleição previsto no contrato de adesão coincide com o domicílio do consumidor à época da celebração do negócio.
2. A alteração do domicílio do consumidor durante o desenvolvimento do contrato deve ser informada ao fornecedor, dando-se máxima efetividade ao princípio da boa-fé e aos deveres anexos que dela dimanam.
3. Necessária a suscitação do incidente respectivo pelo próprio interessado, manifestando o interesse em ver declinada a competência - e evitando a prorrogação - e comprovando eventual comunicação à instituição financeira da alteração de domicílio, de forma a evidenciar o pleno atendimento dos referidos deveres.
4. Conflito conhecido e julgado improcedente, mantendo-se a competência do MM. Juízo da 16ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP. (CC 109.203/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/09/2010, DJe 04/10/2010).
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“SEGURO DE VIDA E/OU ACIDENTES PESSOAIS - INDENIZAÇÃO - DOENÇA GRAVE PREEXISTENTE - OMISSÃO - EXPRESSA E CLARA ADVERTÊNCIA CONTRATUAL NO QUE CONCERNE A EVENTUAL INVERACIDADE NAS DECLARAÇÕES - INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – DESCABIMENTO. Segurado que omite doença preexistente de seu conhecimento na proposta desafia, sem sombra de dúvida ou interpretação outra, dicção dos artigos 1443 e 1444 do Código Civil, não se cogitando de eventual revogação desses dispositivos pela oportuna proteção hoje dispensada pelo Código do Consumidor. Segurado e seguradora são obrigados a guardar no contrato "a mais estrita boa-fé e veracidade" a respeito do objeto, das circunstâncias e declarações a ele concernentes regra o primeiro artigo, completando o subseqüente que, se o segurado não fizer declarações verdadeiras e completas, omitindo circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta, perderá o direito ao valor do seguro”. (Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Ap. c/ Rev. 614.770-00/2 - 4ª Câm. - Rel. Juiz FRANCISCO CASCONI - J. 27.11.2001. SOBRE O TEMA: FONTE: Ap. c/ Rev. 614.770-00/2 - 4ª Câm. - Rel. Juiz FRANCISCO CASCONI - J. 27.11.2001, com a seguinte referência: ARRUDA e THEREZA ALVIM - "Código do Consumidor Comentado", RT, 2ª ed., pág. 238. ANOTAÇÃO No mesmo sentido: Ap. c/ Rev. 490.182 - 9ªCâm. - Rel. Juiz FRANCISCO CASCONI - J. 21.5.97).
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Notícia retirada do site do STJ: 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=106044. Acesso em 14.06.2012.
DECISÃO 
Apresentação de taxas no contrato não basta para configurar contratação expressa de capitalização.
A menção numérica a taxas de juros incidentes no contrato não é suficiente para caracterizar contratação expressa de capitalização de juros. Diante da falta de clareza dessa informação, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu como abusivos os encargos exigidos num contrato de financiamento bancário e afastou a mora. 
A decisão foi proferida no julgamento de recurso especial interposto pelo Banco Finasa. Para a Turma, o direito à informação, nos termos do Código de Defesa do Consumidor (CDC), decorre da transparência, da adoção da boa-fé objetiva e do dever de prestar informações necessárias à formação, desenvolvimento e conclusão do negócio jurídico estabelecido entre as partes. 
Os ministros entenderam que a simples visualização das taxas de juros não é suficiente para que a maioria da população compreenda que está, na verdade, contratando a capitalização. 
Essa decisão da Terceira Turma diverge de entendimento da Quarta Turma, que já admitiu como cláusula contratual expressa de capitalização a mera divergência numérica entre as taxas de juros remuneratórios mensais e anuais previstas no contrato. 
Capitalização
A partir da Medida Provisória 2.170-36/00, passou-se a admitir a contratação de capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nos contratos bancários. O STJ firmou seu entendimento no sentido de que a incidência de capitalização em qualquer período depende de contratação expressa. 
Segundo a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, em se tratando de contratos bancários, os juros são essenciais na decisão de contratar, já que são essas taxas de juros que levam o consumidor a optar por uma ou outra instituição financeira.
Ela ressaltou que, embora os contratos bancários façam parte do cotidiano da população, eles ainda são incompreensíveis para a maioria dos consumidores. “Nesse contexto, a capitalização de juros está longe de ser um instituto conhecido, compreendido e facilmente identificado pelo consumidor médio comum”, apontou. 
Atribui-se, portanto, à instituição financeira o dever de prestar informações de forma clara e evidente. O CDC impõe expressamente a prestação de esclarecimentos detalhados e corretos sobre todas as cláusulas que compõem o contrato, sob pena de incorrer em abuso contratual. 
Revisão 
O caso começou com uma ação de revisão contratual, ajuizada por consumidor que pretendia a anulação de cláusulas que entendeu abusivas, decorrentes de financiamento bancário. O juiz de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos, para vedar a capitalização dos juros em qualquer período, bem como a cumulação da comissão de permanência com a correção monetária, juros e multa. 
O Banco Finasa apelou ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que negou provimento ao apelo. De acordo com a decisão, foi verificada a cobrança de encargos abusivos – capitalização e comissão de permanência – e, portanto, o afastamento da mora é decorrência lógica. O banco interpôs recurso no STJ contra o acórdão proferido pelo TJSC, alegando a existência de cláusula expressa de capitalização, conforme a lei. 
O contrato
Coube ao Judiciário avaliar, no caso, se as taxas de juros anual e mensal apresentadas são claras o bastante aos olhos do consumidor, a ponto de ele poder perceber a existência de capitalização. Verificou-se que a taxa de juros anual é superior à taxa mensal multiplicada por 12 meses. Portanto, estava comprovada a prática de capitalização. 
O financiamento bancário, feito por contrato de adesão, prevê 36 parcelas. Desse modo, deduz-se que, mesmo em se tratando de capitalização anual, a taxa média anual não corresponderá ao duodécuplo da taxa de juros mensal, pois a cada ano, incidirá a capitalização de juros do período, elevando a taxa média anual. Para a relatora, isso mostra que a simples visualização das taxas de juros não é suficiente para compreensão de qual periodicidade de capitalização está sendo ofertada ao consumidor.
A ministra concluiu que, violando a cláusula da boa-fé objetiva, a capitalização de juros não estava expressamente pactuada, devendo ser afastada, qualquer que seja sua periodicidade. Seguindo o voto da relatora, todos os ministros da Terceira Turma negaram provimento ao recurso. 
6. VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO OU “ADIMPLEMENTO RUIM”.
Consiste no cumprimento do dever contratual principal e no descumprimento de algum dever anexo ou acessório oriundo da BFO.
Tal fato implica na responsabilidade civil pelos danos causados. Veja:
	DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. RELAÇÃO ENTRE BANCO E CLIENTE. CONSUMO. CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO EXTINGUINDO O DÉBITO ANTERIOR. DÍVIDA DEVIDAMENTE QUITADA PELO CONSUMIDOR. INSCRIÇÃO POSTERIOR NO SPC, DANDO CONTA DO DÉBITO QUE FORA EXTINTO POR NOVAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL. INAPLICABILIDADE DO PRAZO PRESCRICIONAL PREVISTO NO ARTIGO 206, § 3º, V, DO CÓDIGO CIVIL.
1. O defeito do serviço que resultou na negativação indevida do nome do cliente da instituição bancária não se confunde com o fato do serviço, que pressupõe um risco à segurança do consumidor, e cujo prazo prescricional é definido no art. 27 do CDC.
2. É correto o entendimento de que o termo inicial do prazo prescricional para a propositura de ação indenizatória é a data em que o consumidor toma ciência do registro desabonador, pois, pelo princípio da "actio nata", o direito de pleitear a indenização surge quando constatada a lesão e suas consequências.
3. A violação dos deveres anexos, também intitulados instrumentais, laterais, ou acessórios do contrato - tais como a cláusula geral de boa-fé objetiva, dever geral de lealdade e confiança recíproca entre as partes - implica responsabilidade civil contratual, como leciona a abalizada doutrina com respaldo em numerosos precedentes desta Corte, reconhecendo que, no caso, a negativação caracteriza ilícito contratual.
4. O caso não se amolda a nenhum dos prazos específicos do Código Civil, incidindo o prazo prescricional de dez anos previsto no artigo 205, do mencionado Diploma.
5. Recurso especial não provido. (REsp 1276311/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe 17/10/2011)
No entanto, há atualmente divergência na doutrina quanto à espécie de responsabilidade civil decorrente da violação positiva dos contratos.
Para uma parte dos estudiosos a violação positiva do contrato é conceituada como:
Uma forma de inadimplemento em que uma das partes atuando culposamente venha a descumprir uma das obrigações decorrentes da boa-fé objetiva, isto é, um dos deveres laterais ou anexos.
PORTANTO, SEGUNDO ESSA CORRENTE, A VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO EXIGIRIA O DESCUMPRIMENTO CULPOSO DOS DEVERES ANEXOS DO CONTRATO.
Em sentido contrário, o Enunciado n. 24 da I Jornada de Direito Civil promovida pelo CJF/STJ:
24 - Art. 422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
De acordo com Flávio Tartuce, em artigo intitulado “A boa-fé objetiva e a mitigação do prejuízo pelo credor. Esboço do tema e primeira abordagem”, tal responsabilidade é objetiva, pelo seguinte fato:
E mesmo se assim não fosse a responsabilidade objetiva estaria configurada pela presença do abuso de direito, previsto no art. 187 do Código Civil em vigor e pela interpretação que lhe é dada por outro Enunciado da I Jornada de Direito Civil, o de nº 37. Visando esclarecer, cumpre transcrever tanto o art. 187 do NCC quanto o referido enunciado: 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular

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