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A escuta analítica no viés de Jung

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O processo da clínica pode se dizer que a princípio se dar pelo pressuposto; reconstrução de significados, organizadores da experiência. Diante aos fenômenos, o homem sofre por natureza externa e natureza interna, além das relações humanas, visto a isso, pode-se dizer que a clínica na ideia atual, possui uma epistemologia em que pauta no sofrimento, com uma visão da psicologia, diferente de uma clínica clássica com visão médica e epistemologia na visão orgânica, a partir da dor, pois a noção da ciência moderna está centrada na razão, uma ciência voltada na economia e indivíduo, já o pós-moderno percebe-se a influência de um senso individual, além de um exagero diante as situações. Entretanto, a clínica é vista como dispositivo da fala, que veicula uma verdade institucional em que o sujeito traz seu sofrimento, e é de grande relevância destacar que cada sofrimento tem uma narrativa, isso é a dinâmica na clínica, a questão é que cada sujeito traz uma realidade, que é “co-construída na linguagem”, por isso na clínica é a escuta-se da enunciação e por sua vez o resultado é uma “travessia cultural”. 
	Nessa visão da epistemologia do sofrimento afirma-se que o sujeito se encontra imerso em significados e isso organiza-se sua visão do mundo, atribuindo sentidos nas experiências. Dentro das relações humanas percebe-se que o sofrimento é o Desejo, por tornar o gozo do sujeito, além disso, Lacan aponta que o desejo é do Outro, ou seja, o sujeito sofre dentro dessa dinâmica, tendo um desejo que não é seu. Por isso, percebe-se a dificuldade de um sujeito aceitar a mudança, mesmo reconhecendo a necessidade de mudar. 
	Na clínica o processo parte a uma escuta de sintoma, de forma que identifique o que se propõe algo sintomático, sendo algo que se repete, esse sintoma é um sinal de conflito, Jung aponta que isto relaciona-se com a self, a partir disso cria-se símbolo em forma de solução e tentativa de organizar, diferente de Freud ao dizer que cria-se uma substituição para ajudar o sujeito viver, pois para Jung o símbolo tem uma dimensão prospectivo, em que se separa da cultura e realização de individuação. Por isso a terapia caracteriza-se pela criação de um espaço de escuta, em que o terapeuta em perspectiva dialógica com o cliente, possam co-construir uma nova narrativa, em cuja trama de significados do problema originário não mais se encontre. Os significados estabelecem disposições afetivas que configuram o familiar, o comum, o singular com o estranho, além disso organiza as vivências, favorece o nosso sentido a continuidade da existência e a do nosso próprio self, por isso reconstruir implica reconstrução do próprio self. 
	Para Jung, o sujeito já nasce com conteúdo herdados dos ancestrais no inconsciente, assim, o inconsciente existe “antes”, é pré-existente ao consciente. O inconsciente é dinâmico, com movimento de conteúdos pessoais adquiridos nas experiências mais conteúdos produzidos no inconsciente, Jung classificou de inconsciente coletivo e inconsciente pessoal. Além disso, chama-se traços funcionais do inconsciente coletivo de arquétipos, que são percebidos através de imagens expressam de acordo com situações típicas e isto permeia no desenvolvimento da personalidade. Jung pensará sobre a personalidade de forma que organiza o sujeito, tendo funções que implica no inconsciente e no consciente para lidar com as situações da vida, sendo as funções a irracional com sensação e intuição, e a função racional com sentimento e pensamento, isto é, a maneira como o sujeito lida com suas experiências, existe a Função Principal em que o sujeito se coloca como confortável e a auxiliar que apresenta ao se deparar com situações e a terciaria e a Inferior que exige algo a mais do sujeito, consiste na atuação da sombra que é um arquétipo que carrega o pior e o melhor do sujeito, por isso pode-se dizer que é aquilo que projeta no outro, por estar fixado no inconsciente. 
	Pensando nessa organização, pode-se dizer que durante todas as situações da vida o sujeito elabora símbolos para enfrentar suas experiências e nisso todas as funções estão no sujeito, só que a função que aparecerá dependerá de como o sujeito vê o mundo, entretanto o mudar aciona a função transcendentes, personaliza a vida, que seria transcender uma função e ativar produção de símbolo. Pode-se pensar que a análise utiliza como uma função transcendente para o paciente apropriar. Isto ocorre de forma organizado para antropomorfizar o destino, em que Jung diria sobre a centroversão que implica de síntese entre os modos de expressão da personalidade entre introvertido e o extrovertido, uma forma de organizar as funções necessárias nos momentos da vida, o modo de sofrer que operalizará as funções. 
A centroversão funciona em forma de três eixos, primeiramente o sujeito vai ter uma dificuldade de adaptação diante de momentos da vida, isto leva ao sujeito uma inercia libidinal, ou seja, pouco interesse, ou um interesse fixado apenas, nesse momento não se movimenta, a partir disso começa-se uma compensação que significa uma ativação de processos inconscientes, Jung diria que seria o momento em que o sujeito começa a ter vontades diante a inercia. Após essa compensação, vem o segundo eixo que cria-se o sintoma da neurose, não significa uma doença propriamente dita, mas o sujeito começa se sentir incomodado, tendo conflito e o aumento de tensão, visto que falta símbolo que não canaliza a energia daquilo que está fixado, neste momento em que pode-se dizer que aparece o analista para tirar o sujeito do lugar e ativar uma produção de símbolos, através da função transcendente, como foi dito, o símbolo é uma forma de organizar a vida e neste momento há interesse pleno, tendo um transito libidinal e por fim uma assimilação, em que Jung diz que passa-se o inconsciente coletivo, pessoal e o self como uma dinâmica do próprio EU, ou seja, os conteúdos passam entre si, pode se dizer que seria a conjunção de opostos, em que há uma união entre pares opostos para caminho simbólico, união de conteúdos consciente e inconscientes, o EU consciente se apropria do inconsciente coletivo e do pessoa, disso emergem novas situações ou estados de consciência. Jung vai dizer que a meta da psicoterapia não se contenta apenas com a cura dos sintomas é a de conduzir a personalidade em direção à totalidade.
A clínica implica receber a fixação, “desamor” que aparece na escuta, além disso é de grande importância ressaltar que é uma escuta cultural. A princípio a psicanálise traz a escuta em forma de que o homem pratique uma escuta de si. O analista convoca a falar e isso produz valorização da fala do analisando, conduzindo aproximação das dimensões inconscientes. 
Pode-se referenciar sobre a escuta de acordo com o novo organium de Fracis Bacon, que reflete que a escuta deve desapropriar de ídolos como a tribo, que prejudica a escuta por não separar de uma única maneira, a caverna é uma escuta comprometida com senso comum, atualmente seria ficar apenas na queixa, outro que Bacon traz é sobre o fórum, isto é, a escuta comprometida com o convencional, seria abordagem escolhida do profissional, isso compromete, pois é necessário ser amplo, e por fim o teatro que é uma escuta comprometida com suas crenças e fantasias, nessa escuta se coloca para dar conta do outro. 
De fato, é relevante basear-se da ideia de Rosseau ao pensar na escuta analítica, em relação a construir o lugar do Outro e da Alteridade, pois atualmente é necessário o reconhecimento do “eu é um outro” e o outro é um “eu”, diferenciar na medida que o eu torna-se capaz além de se afirmar, também de considerar a posição do outro. A intersubjetividade é outra experiência do campo analítico, pois entre o narrador e o ouvinte forma-se um campo interativo que pode comportar a constituição de um terceiro elemento que seria o produto da relação das subjetividades presentes, isto permite criação de novas possibilidades.
Na análise clínica os conteúdos inconscientes se manifestam primeiro pela projeção sobre pessoas e condiçõesobjetivas para o analista, na verdade, é comum o processo de projeção na vivência humana, está na relação do homem com praticamente todas as coisas, já no setting analítico classifica como transferência e com um papel central de transcender os opostos do psiquismo, dentro da visão prospectiva. Ou seja, são processos que ocorrem inconscientemente e através de símbolos (ou imagens, ou fantasias), para que exista ampliação de consciência e o Self cumpra sua função de individuação.

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