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CONCEITOS GERAIS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA – CARL JUNG Professora: Nizanéia Matos Palavras-chave: inconsciente; psiquê; complexos; arquétipos; energia; libido; estrutura; sintoma; doença; psicopatologia. Carl Jung se desvinculou de muitas ideias criadas pelo Freud e criou diversos conceitos para a sua teoria, os quais, muitas vezes, receberam os mesmos nomes utilizados na Psicanálise, tal qual “inconsciente”. Apesar desta quebra de vínculo, nem todos os conceitos psicanalíticos foram desconsiderados por Jung. O termo “instinto” (o que nos impulsiona para buscarmos a saciedade das nossas necessidades básicas de sobrevivência), por exemplo, tem o mesmo significado para as duas linhas de pensamento. INCONSCIENTE – FREUD x JUNG Freud e Jung divergem as suas ideias quando começam a pensar o que é/como é a mente humana. FREUD: compreende que a vida psíquica nasce do inconsciente (o id, ego e superego nascem deste). Em sua visão, o inconsciente é o lugar onde guardamos traumas, desejos, fantasias e recalques. Em sua visão, nós temos o inconsciente na partição da mente. JUNG: compreende que a mente não funciona tão somente por conta do inconsciente, mesmo porque o inconsciente, para ele, é muito vasto – bem maior do que Freud postulou. Para Jung, o inconsciente não é apenas um pequeno lugar na mente, pelo contrário, ele toma toda a psiquê/mente. Em sua visão, nós não temos o inconsciente, mas o inconsciente que nos tem, isto é, nós pertencemos a este inconsciente (visto que, como dito anteriormente, ele toma a psiquê inteira; ele é dono dela). PSIQUE Na psicologia Junguiana, a personalidade como um todo é denominada psique. Dessa forma, todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos são abrangidos pela psique, tanto os conscientes quanto os inconscientes – ela regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico, funcionando como um guia. O conceito de psique sustenta a ideia de Jung de que uma pessoa, em primeiro lugar, é um todo. Para Jung, o homem não luta para se tornar um todo; ele já é um todo. O que lhe cabe fazer durante a existência é desenvolver-se até chegar ao mais alto grau possível de coerência, diferenciação e harmonia, e cuidar deste todo para que ele não se fracione, pois uma personalidade dissociada é uma personalidade deformada. A psique apresenta três níveis: o inconsciente pessoal, a consciência e o inconsciente coletivo [ver imagem da sua estrutura na pág. 02]. ESTRUTURA DA PSIQUE Para Jung, a nossa estrutura psíquica é um círculo onde ocorrem todos os processos, sendo esta comandada pelo inconsciente. Ademais, a psique é um sistema energético relativamente fechado, cujo potencial de energia é constante. Assim, a quantidade de energia de que dispõe a psique é constante, apenas variando a sua distribuição entre as instâncias inconsciente (ICS) e consciência (CS) [ler sobre “energia” na pág. 03]. Cada processo psíquico possui um valor psicológico: a intensidade de energia agregada a ele. Demonstramos a nossa vida psicológica com os nossos comportamentos, neuroses, sintomas, psicopatologias, escolhas que fazemos etc. – são estes que mostram para o mundo como o inconsciente está trabalhando na nossa cabeça. O inconsciente tem um gerenciador que funciona como um centro de formação da nossa personalidade. O IC é o organizador da personalidade. ➔ Quando um psicólogo pergunta como é a constituição de um homem, ele quer saber como a estrutura psicológica (psiquê) dessa pessoa se forma. OUTRAS DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA ANALÍTICA E PSICANÁLISE Na Psicanálise, quando o sintoma aparece o analista vai em sua raiz. Esta linha de pensamento se preocupa muito mais com a causa do sintoma do que com o sintoma em si (efeito). Essa causa é geralmente observada por meio da linguagem do inconsciente (chistes, sonhos etc.). Na Analítica, não encontramos as razões do sintoma em sua causa, mas sim, em seu efeito. Quando um paciente chega à terapia com ansiedade, por exemplo, um psicólogo junguiano deve se debruçar sobre a doença que já está posta, e não buscar a sua causa. Ele precisa observar como o paciente coloca afeto na doença e qual o tipo deste afeto, além de perceber quais as emoções e sentimentos despertados pela doença e quais os gatilhos (como palavras e ideias) que os despertam. Jung parte da doença e seus respectivos sintomas (efeito) para chegar à causa. Até mesmo a quantidade de emoção é importante nesse processo, que pode ser mensurada por meio da forma com que o paciente fala. Para isso, o psicólogo junguiano precisa, por exemplo, observar o tanto de emoção que o paciente investe nas palavras que gatilham a doença. O primeiro material de trabalho na clínica junguiana é o sintoma das psicopatologias. Para compreender a quantificação das emoções, o psicólogo junguiano precisa arrumar o mapa de self do paciente, ou seja, precisa entender como a mente dele está funcionando. Para tal realização, é necessário que se observe o repertório da pessoa atendida, isto é, tudo aquilo que ela fala e tudo aquilo que ela viveu (considerando todas as fases da vida e não exclusivamente a infância), o que proporciona a compreensão do que está ocorrendo em sua psiquê e/ou em seu movimento. ALGUNS CONCEITOS JUNGUIANOS Para Jung, nós estamos em movimento elétrico infinito e constante, na velocidade da luz, em relação à cada doença, à cada sintoma, à nossa história. Sendo assim, a nossa mente não para, pelo contrário, está sempre passando por mudanças de elementos. Somos pura energia psíquica. Nada é determinado, finito ou organizado – isso não significa que a mente seja caótica, mas que não passa pelo desenvolvimento da forma com que Freud explicou ao abordar as fases psicossexuais. Para ele, na nossa mente existe um turbilhão de elementos que estão em constante interação e movimento. ➔ Energia e libido (termo da Psicanálise) são a mesma coisa. Mas, para se afastar dos conceitos psicanalíticos, Jung usa “energia”, apropriando-se da Física – ele usa conceitos físicos para explicar o funcionamento da mente. VIDA PSÍQUICA: tudo que ocorre no espaço entre o inconsciente e o consciente. Nossa mente é composta por energia, a qual distribuímos em locais diferentes; para cada local investimos um pouco dessa energia. Caso esta esteja bem distribuída, nos aproximamos da “normalidade”, do equilíbrio. Estar na “normalidade” é saber identificar quanto de energia depositar em cada “coisa” e/ou circunstância. ENERGIA: corresponde a uma grande motriz, pois sem ela não temos força ou vontades. Um indivíduo depressivo, por exemplo, está desprovido de vontades, isto é, a sua energia está muito baixa e não está sendo muito bem utilizada. Ele não consegue investi-la em atividades e pensamentos produtivos. Portanto, o seu foco está em coisas ruins, tais quais as ideias de morte e fracasso – esses conjuntos de ideias e pensamentos são denominados de “complexos” por Jung. • Assim, a energia psíquica é uma condição para que haja força psíquica para a realização de um trabalho ou processo psíquico. Quando uma pessoa depressiva afirma que ela não possui vontade de fazer nada, significa que não há energia psíquica disponível na consciência para ser convertida em força psíquica, isto é, em vontade, para que seja realizada uma atividade. ➔ A energia psíquica é transformada em força psíquica (vontade/desejo). ➔ O motor da análise, para Freud, é a transferência. Para Jung, é a energia. Para estar saudável é importante realizar a distribuição de energia em vários pontos. Quando essa energia fixa em um só lugar, o indivíduo adoece. ➔ Ao adotar ponto de vista energético, não é possível afirmar os atributos ou qualidades da energia psíquica em sua origem, apenas podemos compreendê-la em sua manifestação final, assim, a esse respeito o que se pode observar é a quantidade de energia envolvida no fenômeno, dada a intensidade.COMPLEXOS: são núcleos de energia (como caixas na mente) cheios de ideias, pensamentos, vivências (que podem ser bons ou ruins), traumas etc. O modo de falar, o entoar de energia, a quantidade de emoção e sentimentos que o paciente põe em determinadas falas são muito importantes para compreender os complexos que ele apresenta em relação ao tema abordado. Por exemplo, um homem que não quer ser pai fala com bastante veemência sobre isso – suas falas trazem ao psicólogo a sua “caixinha” (os seus complexos) sobre paternidade. Esses complexos remetem às lembranças de sua vida acerca da paternidade (como a sua relação com o seu pai ou o modo que ele foi filho). • A intensidade de manifestação de um fenômeno vai sempre indicar uma maior ou menor quantidade de energia investida naquele processo. • Na intervenção, o psicólogo parte do efeito, por exemplo: “Por que a paternidade é tão ruim?”; “Olha como você fala sobre a paternidade”; “Você percebe como você fala sobre a paternidade? Você percebe como você enfatiza? O seu tom de voz muda, seus gestos mudam!”; “Quando eu falo com você sobre paternidade, o que te vem à cabeça?”. Jung trabalhava com testes de associação de ideias/palavras. • Se o paciente traz as suas vivências e os seus traumas ao responder as intervenções, isso significa que os complexos estão localizados em um lugar da psiquê que se chama “inconsciente pessoal”. Cada indivíduo tem um inconsciente pessoal. Nesse caso, o paciente fixou a sua energia em um dos seus complexos. ➔ Todos nós temos complexos da paternidade? Sim e não. Podemos ter ou não. Sempre depende da vivência de cada indivíduo e o modo como cada um as enxergou. Às vezes, inclusive, esses complexos podem existir, mas a energia que passa por eles não faz com que o indivíduo se incomode. Existem complexos que só aparecem em terapia, e outros que nunca irão aparecer, mas que estão no inconsciente pessoal. CONSCIÊNCIA: segundo Jung, a consciência é a única parte da mente humana diretamente conhecida pelo indivíduo. Esta faz parte do todo (visto que somos um todo, somos holísticos). É na consciência que as ideias e sintomas surgem. Ao observar uma criança, por exemplo, é possível notar uma percepção consciente operando enquanto ela reconhece e identifica os brinquedos, os pais e os diversos objetos que a rodeiam. Essa percepção consciente cresce por força da aplicação das quatro funções mentais denominadas por Jung de pensamento, sentimento, sensação e intuição. Além das funções mentais, existem duas atitudes que determinam a orientação da mente consciente, a introversão e a extroversão [leia mais na pág. 12]. ➔ O processo graças ao qual a consciência de um indivíduo se diferencia ou se individualiza da de outras pessoas é conhecido como individuação. A individuação desempenha um papel primordial no desenvolvimento psicológico; sua meta é ajudar o indivíduo a desenvolver a autoconsciência, isto é, conhecer a si mesmo. EGO: gerencia as ideias e sintomas que vão do inconsciente para a consciência, transformando/nomeando de uma forma que possamos entendê-los em nosso mundo inteligível. O ego tem uma função “persona”, ou seja, ele gerencia a nossa personalidade. A persona, que irá organizar a nossa personalidade, é o que Jung chama de “arquétipo”. • PERSONA: arquétipo que o ego faz uso para conseguirmos representar quem somos em cada situação. Em outras palavras, o arquétipo persona nos ajuda a lidar com o mundo. Ego é o nome dado por Jung à organização da mente consciente, e que se compõe de percepções conscientes, de recordações, sentimentos e pensamentos. O Ego desempenha a função básica da vigia da consciência. A menos que o Ego reconheça a presença de uma ideia, de um sentimento, de uma lembrança ou de uma percepção, nada disto pode chegar à consciência. O Ego é altamente seletivo, assemelha-se a uma destilaria, muito material psíquico é levado a ele, porém muito pouco sai dele, ou nele atinge o nível da plena consciência. O Ego fornece à personalidade continuidade e identidade. Sentimos hoje sermos a mesma pessoa de ontem, deve-se ao Ego. ARQUÉTIPOS: elementos que estão organizados/dispostos e se conectam aos complexos [ver imagem na pág. 01]. Os arquétipos estão presentes no inconsciente coletivo; são transmitidos para nós devido a nossa ancestralidade e pelas coisas que vamos herdando ao longo da nossa história. • Complexos: estão no inconsciente pessoal // Arquétipos: estão no inconsciente coletivo. Existem vários arquétipos, a exemplo de: sombra, animas e animus, persona, herói, self etc. Quando um arquétipo é acionado por experiências da vida, por exemplo, o complexo se abre, o núcleo de energia se rompe e o indivíduo entra em contato com tal arquétipo. O complexo está em movimento. Para Jung, como existe um arquétipo de persona e um complexo que está em movimento, o paciente pode se transformar e mudar de postura, mudar os pensamentos; ele pode, inclusive, acabar com os seus sintomas psicopatológicos, ou até mesmo transformar a sua vida inteira, visto que os complexos podem mudar. O self é um arquétipo que mora no IC coletivo e que corresponde ao centro de toda a vida psíquica. É no self que está quem nós realmente somos. É preciso que esse self cresça, alargue-se e ganhe voz para que consiga gerenciar a energia na nossa mente. Este arquétipo é capaz de trazer o equilíbrio, distribuindo a energia de forma correta em cada complexo. Se esse self conseguir crescer, temos a “individualização”, ou seja, autoeficácia, realização, entendimento dos próprios traumas, compreensão de quem somos, aceitação da vida etc. Um self alargado faz um sujeito equilibrado e saudável. O QUE JUNG FALA SOBRE A LIBIDO Em 1928, Jung publicou um trabalho chamado “Energia Psíquica”. Este trabalho foi a conclusão de um longo estudo que começou em 1912, quando Jung começou a tornar públicas suas divergências com Freud. O grande marco dessa diferença acerca da “teoria da libido” foi o livro “Metamorfoses e Símbolos da Libido” (1912). Em setembro desse mesmo ano, Jung realizou uma série de conferências na Universidade Fordham, (EUA), onde apresentou uma nova concepção acerca da teoria da libido, segundo ele, Creio não estar errado, se acho que o valor do conceito de libido não está em sua definição sexual, mas no seu ponto de vista energético, graças ao qual estamos de posse de uma concepção heurística extremamente valiosa. Graças também à concepção energética, temos a possibilidade de imagens dinâmicas e relações que são de valor incalculável no caos do mundo psíquico. A escola freudiana faria muito mal se fechasse os ouvidos às vozes da crítica que acusam nosso conceito de libido de misticismo e incompreensível. Uma das nossas ilusões foi acreditar que podíamos transformar a libido sexual em veículo de uma concepção energética da vida psíquica, e muitos de nossos ainda pensam que possuem um conceito perfeitamente claro e por assim dizer concreto de libido, não se dão conta de que esse conceito foi empregado em sentidos que ultrapassam de longe os limites de sua definição sexual. (JUNG, 1989, p. 127-8). Jung deixa claro que, em sua concepção, o ser humano não é impulsionado apenas pela sexualidade, mas sim pela libido/energia. A sexualidade é apenas um ponto de energia, mas não representa a energia inteira. O que deve ficar claro é que nunca houve uma negação acerca do caráter sexual da libido, mas, uma ampliação que também abarcava a libido de Freud. • Ao partir do que é manifesto (efeito), Jung pode verificar que nem tudo é derivado de uma função sexual e, somado ao fato de não se poderia afirmar inequivocamente que a natureza da libido é sexual, ele adotou a concepção neutra e mais ampla de “energia” tomando emprestado da física este conceito. Ao adotar ponto de vista energético, não pode afirmar os atributos ou qualidades da energia psíquicaem sua origem, apenas podemos compreendê-la em sua manifestação final, assim, a esse respeito o que se pode observar é a quantidade de energia envolvida no fenômeno, dada a intensidade. A nossa energia aparece no movimento. Doenças, o ato de falar, sintomas, pensar, lembrar de um trauma são movimentos (tudo é movimento) – todas essas coisas têm um sentido. CONSTÂNCIA E INCONSTÂNCIA Freud traz a “constância” em Além do Princípio do Prazer ao dizer que afastamos o desprazer para manter uma constância de prazer. Para Jung, a constância se dá de forma distinta. De acordo com Jung, a inconstância se dá quando fixamos a energia em um complexo, enquanto a constância se dá quando há um equilíbrio de energia, isto é, quando essa energia está bem distribuída em todos os complexos. Tudo que acontece conosco no mundo externo, nós damos sentido por meio do trauma. Se uma professora te ridicularizou na frente dos seus colegas quando você era criança, por exemplo, essa situação ficará guardada em um complexo. Assim, na vida adulta, no momento da apresentação de seminários na faculdade, vem a ansiedade – isso ocorre porque um complexo foi acionado, fazendo com que toda energia fique focada nesta situação. Isso não significa que a pessoa ficará fixada nesse complexo. Ao fazer outros tipos de atividades, a energia é distribuída em outros complexos. Contudo, sempre que situações parecidas surgem, a lembrança ativa a energia no complexo específico que remete ao trauma. Quando um paciente fixa em determinado complexo, o junguiano precisa ouvi-lo, acolhê-lo e entrar no seu complexo, para que consiga retirar a energia deste e redistribuí-la em outros complexos. Por exemplo, se uma pessoa está focada apenas nos problemas da faculdade e isso não está sendo saudável, o junguiano lembrará das suas outras atividades: “E como anda o seu namoro?”; “E na sua casa, está tudo bem?”. EIXO SI MESMO: também conhecido como eixo ego-self. Jung não denomina “chistes”, como Freud, por exemplo, mas considera que falamos coisas e não entendemos o porquê, que trocamos palavras etc. – essa é uma maneira de acessar os complexos e os arquétipos das pessoas. Esse rol de significados vem à nossa consciência, de modo que o transformamos em fala na terapia por meio do “eixo si mesmo”, isto é, vem porque existe uma comunicação entre o nosso si mesmo (self) e o nosso ego. Para Jung, temos dois universos: um mundo externo e um interno. Esses dois estabelecem uma ligação por meio do eixo ego-self. Muitas vezes, fugimos de nós mesmos, não queremos olhar para o nosso mundo interno, mas precisamos olhá-lo: “Aquele que olha para fora sonha. Mas o que olha para dentro, acorda”. “Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”. É importante retirar os olhos da cultura e daquilo que escolheram para nós e focar no que está no nosso interior para que possamos realizar uma autoanálise: “Será que sou mesmo alguém ruim?”; “Será que realmente sou esse ser humano que digo para as pessoas que sou?”; “Será que realmente quero viver disso que faço?”; “Será que como eu me arrumo é uma coisa que é minha ou é por medo das críticas?”. Quando a pessoa olha para si mesma, tem contato com o seu self e descobre quem de fato é. Assim, percebe o que é dela e o que é estabelecido pela cultura, não cede às pressões culturais quando não está com vontade e vive bem dessa forma. Apenas na terapia nós conseguimos realmente olhar para dentro. MOVIMENTOS DA PERSONALIDADE PROGRESSÃO: movimento que vem do inconsciente (das coisas que estão dentro de nós) e direciona o olhar para fora (a pessoa vive sem observar o que é do interno). Desse modo, a pessoa não está conectada consigo/com seu self. Exemplo: existem pessoas que trabalham demais e assumem muitos projetos com o objetivo de não ter um tempo livre para olhar para dentro de si – “quanto mais tempo fora, menos tempo dentro”. ➔ No movimento de progressão estamos em busca de uma adaptação, isto é, a libido é utilizada para adaptação da vida ao mundo, ao meio externo, podendo levar a novas possibilidades para o desenvolvimento. A progressão, enquanto processo contínuo de adaptação às exigências do mundo ambiente, assenta na necessidade vital de adaptação. A necessidade compele o indivíduo a se orientar inteiramente para as condições do mundo ambiente e a reprimir aquelas tendências e virtualidades que servem ao processo de individuação. DO IC PARA O CS REGRESSÃO: movimento em que a pessoa pega toda a sua energia e olha para dentro de si, internaliza. Traz o que é do externo para dentro e reflete. Acontece quando o fluxo de energia inverte sua direção, desaparecendo no inconsciente, onde ativa complexos. Exemplo: uma pessoa que está trabalhando demais pode parar e pensar: “Por que estou trabalhando tanto? Por que quero passar mais tempo fora de casa?”. Diz respeito a analisar os próprios comportamentos. ➔ O movimento de regressão é ensejado por uma necessidade. A regressão, ao invés, enquanto adaptação às condições do próprio mundo interior assenta na necessidade vital de satisfazer as exigências da individuação (JUNG, 1999, p. 37-8). ➔ A arte é um veículo para um contato com si mesmo. A terapia nos leva à regressão, o que é saudável, pois nos leva à reflexão. Mas existem sujeitos que vivem na regressão o tempo todo, como os casos de algumas psicopatologias, a exemplo da depressão. O depressivo não tem progressão, não tem força/energia para olhar para fora, olha apenas para dentro (e fixa em determinado complexo). Assim, surgem os sintomas, barreiras difíceis de atravessar. • Em outras palavras, a pessoa entra em conflito interior e é paralisada. Mas também pode levar à introspecção e ao desenvolvimento. DO CS PARA O IC ➔ Nos aproximamos da saúde mental quando conseguimos um equilíbrio entre progressão e regressão, encontrado na terapia. ➔ Na perspectiva Junguiana, o inconsciente e a consciência se comunicam o tempo inteiro. Tal comunicação pode ser compreendida/descrita pela energia em trânsito entre essas duas instâncias. Esta promove comportamentos, atitudes e orientações. PRINCÍPIOS DA CONSERVAÇÃO DE ENERGIA E DA EQUIVALÊNCIA: Jung compreendia que a energia psíquica se comportaria do mesmo modo que a energia física. O princípio de equivalência indica: (..) que, para qualquer quantidade de energia utilizada em um ponto qualquer, para se produzir uma determinada condição, surge em outro ponto igual quantidade dessa mesma ou de outra foram de energia”. (Ibid, p. 17) Já o princípio da constância indica: (...) que a energia total permanece sempre igual a si mesma, sendo, por conseguinte, incapaz de aumentar ou diminuir”. (Ibid, p. 17) Os princípios de conservação de energia possibilitam compreender a dinâmica e a relação de complementaridade que existe entre o inconsciente e a consciência. Isto é, qualquer fenômeno que se manifeste na consciência irá gerar um fenômeno oposto de mesma intensidade no inconsciente. Esta compreensão do princípio de equivalência e constância é importante para entendermos a dinâmica das psicopatologias: toda manifestação do inconsciente está relacionada a uma ação da consciência. Esta dinâmica se manifesta na busca pela entropia do sistema psíquico. ENTROPIA: no sistema psíquico, a entropia é percebida como a tendência pela busca de um equilíbrio psíquico entre o inconsciente e a consciência. ENANTIODROMIA: Jung adotou o termo “enantiodromia” em referência ao princípio que foi esboçado por Heráclito, “correr para o outro oposto”. Isto é, quando há uma excessiva concentração energética em um ponto, a energia tende a buscar o ponto oposto como uma forma de manter o equilíbrio. A enatiodromia é um processo inconsciente de mudança de perspectiva, onde o oposto negado emerge se impondo a atitude da consciência. METANÓIA: significa “mudançade pensamento” ou “mudança de caminho”. É um processo característico do processo de individuação. A diferença fundamental entre a enantiodromia e a metanóia está na participação da consciência. Enquanto na enantiodromia o movimento em busca do oposto puramente inconsciente, na metanóia a busca pelo oposto ocorre com uma participação da ativa da consciência, num movimento de integração do oposto, mas sem perder os valores anteriores. COMPENSAÇÃO: ao falamos de entropia, de enantiodromia e metanóia, nós nos falamos de um processo psíquico de busca pelo equilíbrio no sistema consciente-inconsciente. De forma geral, o movimento para equilibrar o sistema psíquico parte do inconsciente buscando equilibrar ou corrigir a atitude da consciência. Esse movimento de busca por um equilíbrio Jung chamou de compensação. Toda atividade inconsciente que visa complementar atitude consciência (seja para corrigir ou para reforçar) é uma compensação. Desse modo, as formações do inconsciente como os sonhos, atos falhos, chistes são atividades compensatórias naturais. FORMAS EM QUE O INCONSCIENTE SE COMUNICA COM A CONSCIÊNCIA: 1. Na fluidez da energia psicológica; 2. Por meio dos símbolos; 3. Por meio dos sonhos; 4. Na organização da energia no psiquismo; 5. Através dos movimentos, atitudes e orientações de progressão e regressão; 6. Por meio da introversão e da extroversão; 7. Através da metanóia, da entropia etc. O Jung trabalhou com a fisiologia. Assim, ele entendia que as coisas acontecem na nossa mente e no nosso corpo de um ponto de vista psicofisiológico. Concluiu, pois, que o nosso sistema fisiológico deseja equilíbrio (homeostase) e adaptação – todos os indivíduos querem se adaptar para conseguir o equilíbrio. INCONSCIENTE PESSOAL: as experiências que não têm aceitação do Ego [ler sobre Ego na pág. 04] não desaparecem da psique, porque nada do que foi experimentado deixa de existir. Ao contrário, ficam armazenadas no que Jung denominou inconsciente pessoal, uma espécie de recipiente que contém todas as atividades psíquicas e os conteúdos que não se harmonizam com a individuação ou com a função consciente. Ou então foram experiências outrora conscientes que passaram a ser reprimidas ou desconsideradas por diversos motivos, a exemplo de pensamentos entristecedores, conflitos pessoais, um problema não resolvido etc. Ficam muitas vezes esquecidas, simplesmente porque não eram importantes ou porque assim pereceram na época em que foram experimentados. Todas as experiências fracas demais para atingir a consciência, ou para nela permanecer ficam armazenadas no inconsciente pessoal. Os conteúdos do inconsciente pessoal de modo geral, têm fácil acesso à consciência quando surge tal necessidade. Uma pessoa sabe o nome de muitos amigos e conhecidos. Naturalmente, tais nomes não permanecem o tempo todo presentes na consciência mas estão à disposição sempre que necessário. Onde ficam quando não estão na consciência? Estão no inconsciente pessoal, que atua à maneira de um complicado sistema de abastecimento, como um bando da memória, como os arquivos e programas gravados nas pastas e nos diretórios do disco rígido do computador. INCONSCIENTE COLETIVO: diz respeito ao repertório inato de padrões e respostas que temos devido a nossa ancestralidade, sendo estes padrões denominados como arquétipos. É a parte da psique que pode se distinguir do inconsciente pessoal pelo fato de sua existência não depender da experiência pessoal. O inconsciente pessoal compõe-se de conteúdos que foram em certo momento conscientes, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo jamais o foram no período de vida de um indivíduo. O inconsciente coletivo é um reservatório de imagens primordiais ou imagens latentes, e diz respeito ao desenvolvimento mais primitivo da psique. Estas imagens são predisposições ou potencialidades no experimentar e no responder ao mundo tal como os antepassados. Como por exemplo o medo que temos de serpentes ou do escuro. Jung acreditada em uma espécie de herança entre gerações, onde por exemplo, o medo do escuro ou das serpentes aprendido por uma geração ou por uma série de gerações pode ser herdado pelas gerações seguintes. Portanto, o homem nasce com muitas predisposições para sentir, pensar, perceber e agir de maneiras específicas. O desenvolvimento e a expressão de tais predisposições ou imagens latentes depende inteiramente das experiências do indivíduo. Quanto maior o número de experiências, mais numerosas as probabilidades de as imagens latentes tornarem-se manifestas. Eis por que um ambiente rico em oportunidades de educação e aprendizado faz-se necessário para a individuação de todos os aspectos do inconsciente coletivo. ATITUDES As atitudes dizem respeito a qual rumo toma a energia psíquica, ou seja, onde uma determinada pessoa foca preferencialmente sua atenção. A atenção pode estar voltada para si mesmo, o mundo interno de impressões pessoais e representações ou para fora, para o mundo concreto de pessoas, fatos e coisas. INTROVERSÃO: no introvertido o foco de atenção é deslocado para o seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos – os seus próprios processos internos. O introvertido tende a apresentar certa hesitação frente a uma decisão, uma espécie de “vamos analisar e compreender a vida antes de vive- la”. Possui maior facilidade em escrever do que em falar, aprende melhor lendo do que ouvindo e vendo. É mais especialista do que generalista, prefere conhecer muito sobre poucos assuntos do que ao contrário, aprecia poucas, mas profundas amizades e seu círculo de amigos tende a ser pequeno. Um grande problema é quando o introvertido se deixa absorver totalmente pelo seu mundo interior, negando-se a entrar em contato com o mundo exterior. EXTROVERSÃO: as pessoas que têm uma atitude extrovertida geralmente focam a sua atenção no mundo externo de fatos, coisas e pessoas. Além disso, orientam-se de acordo com o ambiente externo e são muito suscetíveis a ele. A experiência imediata tem predominância sobre os aspectos subjetivos. Geralmente os extrovertidos apresentam uma disposição para a impulsividade, uma espécie de “vamos viver a vida agora e depois pensaremos sobre ela”; preferem falar a escrever, ver e ouvir a ler; tendem a conhecer uma série de assuntos pela superfície, mas sentem dificuldade em aprofundar seu conhecimento específico (são mais generalistas do que especialistas); e acham fácil ter muitos amigos, mas suas relações não costumam ser muito profundas. Os extrovertidos correm o risco de ser envolvidos demais pelo mundo externo e suas exigências, ficando assim muito distante de suas próprias necessidades pessoais, o que lhes causa muitos transtornos e aborrecimentos. ➔ É importante ressaltar que ninguém é puramente introvertido ou extrovertido. Contudo, cada indivíduo tende a favorecer uma ou outra atitude e opera principalmente em termos desta atitude. Em determinadas situações, a introversão é mais apropriada, em outros casos é a extroversão (as duas são mutuamente exclusivas, não se pode manter ambas as atitudes, a introversão e a extroversão, ao mesmo tempo). Nenhuma das duas é melhor que a outra. O ideal é ser flexível e ter a capacidade de adotar qualquer uma dela quando for mais conveniente.
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