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Parte 2 – HD – texto 4
Diálogos constitucionais: direito, neoliberalismo e desenvolvimento em países periféricos
- Jacinto Coutinho; Martonio Lima
Pondo os pobres no seu lugar – igualdade constitucional e intervencionismo segregador na Primeira República
- Airton Seelaender
Parte 1
Sociedades complexas – marcadas pela desigualdade, se caracterizam por apresentar múltiplas formas de separar os indivíduos de grupos sociais distintos, identificando-os e pondo-os no lugar que lhes cabe.
Direito do Antigo Regime – legitimava uma sociedade estamental e buscava defende-la contra a corrosão do tempo e as mudanças sócio-econômicas, com inúmeras normas destinadas a resguardar diferenças estamentais e mesmo, dentro de cada estamento, a estratificação interna.
Criação da Intendência Geral da Polícia (1760) – parte de um projeto mais amplo da Coroa de expandir e centralizar o controle sobre os pobres, para torna-los disciplinados instrumentos das políticas superiores de Estado.
Processo de polícia – modalidade própria de processo para que estes fossem apressados e mais manejáveis, direcionando-os ao atendimento dos objetivos da Coroa. Se construiu a partir do período pombalino, sobre a ideia de que em alguns campos o útil devia prevalecer sobre o justo, sendo neles a celeridade e a eficácia mais importantes do que o formalismo e o apego às formas tradicionais de atuação no meio jurídico.
	Para evitar que as normas lastreadoras dos processos de polícia tivessem seu rigor atenuado como outras, tentou-se proibir a sua interpretação. Isso também se fazia em outras áreas consideradas prioritárias para a política de fortalecimento do Estado.
Parte 2 – Brasil Republicano
Constituição de 1891:
Declarou eliminada a nobreza imperial, bem como seus títulos e distinções;
Baniu os privilégios de nascimento;
Proclamou igualdade formal de todos os cidadãos; e
Laicizou o Estado, suprimindo a hierarquização dos cidadãos por credo.
	Acentuando o liberalismo já presente na Carta de 1924, a Constituição Republicana não favorecia o discriminar por proibições. E tendia até mais do que aquela a influenciar com seus princípios o campo das normas infraconstitucionais. Com a abolição, estreitava-se o abismo entre este último e a constituição, como código dos ideais políticos. A própria criação do STF contribuía para um reforço do papel da Constituição dentro da ordem jurídica.
	Permaneciam abertas, porém, algumas vias de imposição jurídica de tratamento discriminatório. Diversos mecanismos jurídicos ainda permitiam pôr os pobres no seu lugar, invocando-se o suposto interesse geral no combate a comportamentos definidos como “desviantes” (mendicância, vadiagem e formas de agitação).
Imigrantes – a Lei de Naturalização de 1890 e a Constituição de 1891 não impediram que um crescente número de novos imigrantes ficasse submetido a um regime jurídico singular, que facilitava a intimidação e o castigo de pobres não-conformistas.
Trabalhadores dos estabelecimentos comerciais e fabris – o Código Penal de 1890 já previa a prisão para grevistas e piqueteiros. 
A demanda por medidas que pusessem os pobres no seu lugar parece ter crescido durante o final do Império, em razão dos temores que o fim da escravidão acarretava. 
Sem perder de vista a “estigmação” através do conceito de vadiagem, das camadas sociais destituídas, a polícia republicana intensificou consideravelmente o controle sobre os “vadios”.
Revolta da vacina (1904) – oportunidade para coordenar prisões em massa de “vadios” e desocupados em geral, com castigos corporais supostamente disciplinadores.
Os procedimentos de polícia reforçaram as barreiras sociais, disciplinando e intimidando os pobres, mostraram-lhes mais uma vez o seu lugar na ordem social.
Parte 3
Intervenção estatal – atuou na Primeira República para separar as classes sociais.
Lei geral:
Impunha as demolições dos cortiços dos pobres;
Proibia muitas de suas atividades econômicas, em partes das cidades ou nelas inteiras;
Expulsava das áreas urbanas os animais de criação de que pobres tiravam seu alimento ou complementação de renda.
Parte 4
O intervencionismo da Primeira República respondia em grande parte a problemas direta ou indiretamente vinculados ao processo de urbanização.
São Paulo e Rio de Janeiro: embora se deva registrar o enorme dinamismo econômico dessas duas cidades e sua capacidade de atrair mão de obra, seu mercado de trabalho não correspondia, de todo, ao perfil-padrão das grandes metrópoles industriais da época.
	Em um quadro de concentração da propriedade imobiliária e de escassez pura e simples de moradias, a aglomeração de pobres se dava rapidamente nas condições habitacionais mais precárias.
	Houve uma divisão espacial das classes com o surgimento de áreas quase puramente burguesas, por loteamentos planejados, esse isolamento da burguesia se escorou não só em modas e desejos de comodidade e status, mas também em normas urbanísticas impondo padrões de construção, que criam despesas que afugentam os pobres, tornando o bairro nobre e o valorizando.
	Ao contrário das normas do Antigo Regime, a norma republicana não visaria formalmente a separar grupos sociais. Mas instituindo como norma geral um padrão mínimo igualmente vinculante ara todos, na prática ela reforçaria a muralha entre as classes, marcando e rebaixando os indivíduos que não pudessem arcar com os custos exigidos para a manutenção desse mesmo padrão mínimo.
Associação entre pobreza, sujeira e doença – tendi a provocar uma preocupação crescente com a normatização da vida dos pobres e seu deslocamento para longe das “boas áreas” das cidades. 
Cortiços – grandes vilões no debate sobre o saneamento e a saúde pública, objeto de numerosas providências nos campos legislativo e administrativo:
Decreto nº 169/1890 – comportava vários dispositivos que facilitavam sua inspeção, desocupação parcial, esvaziamento e interdição.
Código Sanitário Paulista (1894) – tentou extirpá-los, facilitando as interdições e demolições.
Legislação estadual – estimulou a segregação espacial da pobreza, prevendo a construção de vilas operárias e familistérios longe do centro.
Decreto nº 1.151 – reorganizou os órgãos de saúde pública da União, preparou terreno para futuras interdições, desocupações e demolições de cortiços.
Regulamento do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela – autorizou a remoção compulsória dos amarelentos destituídos de uma habitação adequada, na qual fosse possível o isolamento em domicílio.
Legislação do período – buscou limitar o controle judicial dos atos administrativos ou medidas de higiene e salubridade da autoridade sanitária.
Controle judicial – passou às mãos de um juizado especial sensível aos interesses da polícia sanitária.
1886 – o Conselho Superior de Saúde Pública do Rio de Janeiro já descrevia a “vida em comum” dos pobres em cortiços como fonte de muitas moléstias e múltiplos delitos.
O combate ao cortiço parecia fundamental para pôr os pobres no seu devido lugar, afastando-os de perigosas condutas desviantes, como o crime e o “socialismo”. O combate ao cortiço não era só de providência da saúde pública, mas também um meio de disciplinamento social.
Parte 5
Sob uma ordem constitucional democrática, fundada em uma igualdade vedadora de distinções, puderam existir, na Primeira República, variados mecanismos jurídicos discriminatórios, tendentes a pôr os pobres em seu lugar, social e espacialmente.
Ressalvas: também se geraram ganhos sociais, a curto ou longo prazo – redução no número de mortos por febre amarela, acesso aos espaços públicos.
Tendência usual do processo de urbanização: gerar potenciais conflitos de interesse dentro das próprias camadas populares. 
Qual igualdade deve ser levada em conta e prevalecer?
	A aplicação do princípio constitucional da igualdade tende a encontrar novos caminhos, não raro em direções distintas.

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