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UNIP INTERATIVA 
FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS 
ALIADAS PARA O ESTÍMULO DA LEITURA
SANTO ANDRÉ-SP
 2015
FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS 
ALIADAS PARA O ESTÍMULO DA LEITURA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a UNIP Interativa ao Curso de Letras-Português, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Língua Portuguesa.
Orientadora: Professora orientadora Simone de Almeida
SANTO ANDRÉ- SP
2015
FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS 
ALIADAS PARA O ESTÍMUNO DA LEITURA
Trabalho de Conclusão de Curso
 apresentado ao Curso de Letras UNIP,
 do como requisito parcial para obtenção
 do grau de Licenciado em Língua Portuguesa.
 Aprovado em de 2015.
COMISSÃO EXAMINADORA
 ________________________________________
 Profª. Drª. Simone De Almeida
 UNIP INTERATIVA
 
 
 
“A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.” 
 C. S. Lewis
AGRADECIMENTO
 Quero primeiramente agradecer a Deus, fonte de toda vida, razão de toda existência. A quem sempre recorri nos momentos mais difíceis e mais felizes da minha vida. Quem sempre me inspirou e iluminou para fazer as escolhas que sempre fiz. A quem rogo, por minha vida, minha família e meus amigos.
 Agradecer aos velhos e novos amigos que sempre compreenderam e ajudaram da melhor maneira possível para que eu concluísse o curso.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................07
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................10
2.1 TEXTO E LEITURA.......................................................................................10
2.2 AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS ..................................................... 11
2.3 O ESTÍMULO À LEITURA E AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS......13 
3-CONTEÚDO PROGRAMÁTICO .........................................................................15
4 AULAS PROPOSTAS .......................................................................................16
ANEXOS 
4.1 AULA 1: Texto e hipertexto .......................................................................... 16
4.2 AULAS 2 e 3: Pesquisa e leitura de textos e hipertextos ............................. 23
4.3 AULAS 4, 5 e 6: Leitura e adaptação teatral ............................................. ...25
4.4 AULAS 7 e 8: Comparação entre a leitura e o filme .................................... 26
4.5 AULAS 9 e 10: Tecnologias: recursos que favorecem novas leituras e oportunidades de expressão aos alunos ....................................................... .....33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 34
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................35
1 INTRODUÇÃO
 A escolha do tema se deu pelo fato de as ferramentas tecnológicas constituírem elos indispensáveis para o estímulo da leitura e se caracterizarem como instrumento capaz de oferecer inovação, criatividade e novas formas de ação metodológica no espaço escolar.
 Com as ferramentas tecnológicas estão às novas linguagens que se espalham rapidamente e chegam aos veículos tecnológicos com assessoradas por imagens, sons e movimentos a fim de despertar o gosto pela leitura bem como proporcionar vivências significativas para os alunos. Dessa maneira, os estímulos são intensificados e a escola possibilita aos educandos, leituras dinâmicas e motivação de modo que o ato de ler seja mais prazeroso.
 A leitura para Koch (2006) é o acesso ao social e, a estrutura do conhecimento é uma forma de organização. Segundo ela, a leitura é possibilidade e modelo de sentido; permite às pessoas organizar o mundo, além de ser uma forma “de produção, preservação e transmissão do saber”. (KOCH, 2006).
 Também é ressaltada a importância da leitura e sua prática nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que trazem: “A unidade básica do ensino só pode ser o texto, [...] o professor deve se preocupar [...] com a seleção de procedimentos de leitura em função dos objetivos e interesses dos sujeitos [...]’’. (PCN, 1999). E, como afirma Moran, os educadores devem adaptar suas práticas e didáticas às “novas tecnologias já que estas se mostram tão eficiente como recurso pedagógico, [...] o educador, que dita conteúdo, transforma-se em orientador de aprendizagem [...] e comunicação [...]’’. (MORAN, 2004).
 O objetivo do trabalho é constituir um corpo sistematizado de conhecimentos que integre a leitura, a tecnologia de leitura e ferramentas tecnológicas de estímulo à leitura como elementos importantes a serem considerados no processo de ensino-aprendizagem. Aqueles que são capazes de ler construindo significados terão mais facilidade para a aquisição de novas informações e conhecimentos.
 [...] desenvolver o letramento pleno porque [os projetos disciplinares expõem o aluno a vários tipos de texto em vários tipos de eventos, ou a várias formas de ler um mesmo texto, dando oportunidade para se vivenciarem as várias práticas de forma colaborativa e com a ajuda de alguém familiarizado com elas. (KLEIMAN, 2002).
 Pesquisas apontam que se lê pouco e muitas vezes, por desinteresse. Um estudo publicado na revista Isto É diz que: 23% dos jovens entre 15 e 24 anos nunca leram um livro; “é a abstinência cultural dos jovens brasileiros”. Com a leitura há oportunidade de pensar e reavaliar a realidade, é ler o mundo que cerca a sociedade.
 Conforme dados extraídos do INEP� apenas um em cada quatro jovens consegue compreender e ler um texto.
 O editorial do Diário do Grande ABC� traz outros dados sobre a leitura: a média nacional de compreensão e raciocínio do que se lê é de 1,5. “Uma sociedade se constrói com um povo capaz de decifrar e interpretar o sentido das coisas que o cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas [...] essa média coloca o Brasil na condição de uma nação ainda sem opinião formada”. (Diário do Grande ABC, 2009).
 Outra pesquisa realizada pelo Ibope� constata que 45% da população brasileira não têm o costume de ler. Essa mesma pesquisa mostra que boa parte prefere assistir a filmes e ouvir músicas. “Quando questionados por que não leem, os entrevistados responderam: não gostar de ler (27%), preferir outras atividades (16%)”. Se houvesse maior estímulo à leitura, tais dados poderiam ser diferentes. Esse estudo também diz que muitos têm dificuldade para ler e mostraram respondendo: leem muito devagar (16%), não têm paciência (11%). O estudo revela ainda que a escola influencie com 33% a formação dos leitores.
 Deste modo, o presente sequência didática visa mostrar que se não há motivação para desfrutar o prazer da leitura, é necessário transformar a relação que os alunos têm com os textos, por isso, incentivá-los com a utilização das ferramentas tecnológicas. 
 Lévy traz uma descoberta e um alento para a certeza de que não se devem dar aulas da mesma maneira sempre. “Navegar não é mais preciso, é incontestável”. (LÉVY, 2000). De acordo com Lévy (2000) a cultura digital coloca outros desafios para a reconfiguração como seres sociais e individuais. As tecnologias não são obstáculos, mas um dispositivo para a invenção de uma novaprática.
 Esta seqüência didática fará uso de dez aulas e terá como público alvo os alunos do 3º ano do ensino médio. As aulas serão utilizadas para que conectadas às ferramentas tecnológicas, possa haver possibilidades de aprendizado da leitura. O cotidiano deverá fazer sentido. “Muito do que os alunos estudam está solto, desligado da realidade deles, de suas expectativas e necessidades”. (MORAN, 2007). As ferramentas tecnológicas são um facilitador do processo de educação e da leitura.
 De acordo com Moran, o espaço escolar não é atraente. ‘’A sociedade evolui mais do que a escola e, sem mudanças profundas, consistentes e constantes não avançaremos’’. (MORAN, 2007). 
“[...] quanto à metodologia o professor deve se preocupar não só com a diversidade tipológica, mas também com a seleção de procedimentos de leitura em função dos objetivos e interesses dos sujeitos’’. (PCN, 1999).
 Para estimular a prática e o ato de ler, as ferramentas tecnológicas serão importantes instrumentos. Os alunos contarão com uma leitura que instiga e motiva. As aulas deverão surpreendê-los e propor novidades uma vez que sairá da rotina com o suporte de vídeos, CDs, DVDs, hipertextos, pesquisas na Internet. O foco é a tecnologia como estratégia adicional e criativa à leitura com propósito de criar oportunidade para essa iniciativa que irá além do texto e levará o aluno ao uso social da leitura.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
 Será abordado o processo de incentivo à leitura utilizando as ferramentas tecnológicas a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais e de teóricos das áreas de leitura e tecnologias.
2.1 TEXTO E LEITURA
 Segundo Koch (2006), cabe ao leitor encontrar e valorizar o que o texto pode oferecer. A autora traz reflexões sobre a construção textual relativa aos sentidos do texto e a compreensão dele. Ela também aponta a importância que o leitor assume diante de um texto quando, de forma prazerosa, constrói um sentido para a leitura. 
 Koch traz os textos e o ato de ler como uma forma de cognição social que permite ao homem organizar o mundo, produzir, preservar e transmitir o saber. Considera a linguagem como uma atividade interativa que conduz a um processo de produção de sentido. Diz também que todo texto é constituído por múltiplos sentidos e que todo texto é um hipertexto. O sentido não se dá de maneira linear e sequencial, o hipertexto permite ao leitor, ser um co-autor e oferece a possibilidade de opção entre caminhos diferentes. A autora também conduz o leitor à reflexão sobre as questões que envolvem o contato com os diversos textos da vida cotidiana.
 Lajolo (2006) traz uma premissa ampla sobre a leitura na escola; trata dos livros didáticos, de literatura, das práticas pedagógicas e do preparo dos professores. Ela mostra que se faz necessário ler para entender o mundo e viver melhor. Quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê. A fruição e a leitura dependem tanto do conhecimento de mundo do leitor quanto da capacidade de seduzi-lo. A autora coloca e questiona a prática pedagógica dos professores que não têm sucesso no desenvolvimento do hábito de ler com os alunos. Essa prática “rotineira” parece constranger os discentes a ler e transformam o ato da leitura num fardo quando deveriam despertar o gosto e o prazer a ela relacionados.
2.2 AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS
 De acordo com Lévy (2000), o potencial revolucionário das novas tecnologias em termos de construção de conhecimento e de subjetividades percorre o saber e a construção de um novo cotidiano na sala de aula. O autor demonstra que o computador, a informática e os recursos tecnológicos devem ser apropriados por educadores a fim de incentivar novas formas de conhecimento.
 Já Moran (2007) traça um paralelo entre o que se tem e se deseja dos alunos, mostrando as mudanças que as tecnologias trazem e as tendências para um novo modelo de ensino. O autor afirma que a educação deve surpreender conquistar os estudantes a todo o momento, incentivar a criatividade e a curiosidade. Promover o desenvolvimento do jovem unindo o conteúdo escolar com a vivência e outras formas de aprendizagem. Educar é um processo complexo que exige mudanças significativas sempre. 
 Deve-se inovar testar e experimentar por que o avanço tecnológico é muito rápido. A sociedade está em mudança constante e acelerada, assim cabe encontrar na educação novos caminhos de integração do humano e do tecnológico, da escola e da vida. 
2.3 O ESTÍMULO À LEITURA E AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS
 Segundo Figueiredo (2006) a escola deve considerar os meios de comunicação como integrante do processo educativo do aluno que possui a informática e os meios tecnológicos integrados ao seu cotidiano. As ferramentas tecnológicas devem possibilitar a construção do conhecimento conforme o seu estilo e de acordo com a sociedade.
 A maneira de trabalhar o ato de ler no dia a dia escolar parece sempre igual. Como menciona Citelli, “as atividades de leitura na maioria das vezes leva alunos e professores a leituras [...] limitadas, pouco críticas e criativas [...] limitando também o conhecimento da realidade [...]”. (CITELLI, 2004). Em virtude da aceleração tecnológica é preciso que as formas de aprender se modifiquem.
 Para Kleiman (2002) a leitura deve ser “experienciada como um ato social em que autor e leitor participem de um processo interativo’’, dessa maneira, a leitura aliada às ferramentas tecnológicas passa a uma atividade de procura do aluno e passível de interação. 
 Koch aponta o texto como um “lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais’’. (KOCH, 2009). Corrobora que é o próprio lugar da interação e constrói-se na busca de um sentido, para tanto, à leitura passa a ter significação se for criativa e interativa.
 
 Conforme Moran (2000), o livro é uma opção inicial menos atraente, pois, compete com outras formas, trazidas pelas ferramentas tecnológicas, mais próximas da sensibilidade dos alunos e de suas formas mais imediatas de compreensão. “É importante diversificar as formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar”. (MORAN, 2000).
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais:
O processo de ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa deve basear-se em propostas interativas [...] os conteúdos tradicionais são deslocados para um segundo plano [...]. Em geral, as ações escolares são arquitetadas sob a forma de textos que não comunicam [...]. O texto é único como enunciado, mas múltiplo, enquanto possibilidade aberta. (PCN, 1999).
 Não significa dizer que o conteúdo perdeu a sua importância. No entanto, é necessário mudar a maneira de trabalhar e procurar aquilo que é significativo para o aluno. Trabalhando com o hipertexto, alunos e professores têm a oportunidade de ampliar suas experiências e em muitos momentos há mudanças nas relações de ensino-aprendizagem dentro da sala de aula. “[...] haverá uma revolução no que concerne aos papéis de aluno e de professor’’. (MCLUHAN, 1977). O aluno poderá criar e descobrir sua maneira de ler o hipertexto e transformar sua leitura, assim o professor irá se preparar para essa nova forma de atuação.
 Para Koch (2006) “o hipertexto é, por natureza e essência, intertextual”. E de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) nos textos, os alunos geram intertextos e encontram no social o alimento de referência.
 Lévy mostra que essa interação proposta pelo hipertexto, 
É a emergência de uma inteligência coletiva [...] e recupera a possibilidade de ligação com os suportes estáticos de formação [...]. Reencontra uma comunicação viva [...]; o hipertexto comunica de uma forma viva mais ampliada e complexa. O importante é que a informação esteja sob a forma de rede e não tanto a mensagem porque esta jáexistia numa enciclopédia ou dicionário [...] não é mais o leitor que vai se deslocar diante do texto, mas é o texto que, como um caleidoscópio vai se dobrar e se desdobrar diferentemente diante de cada leitor’. (LÉVY, 2000).
 O hipertexto rompe com as sequências lineares e com o início, meio e fim fixados previamente. O hipertexto permite ao aluno/leitor interligar as informações segundo seus interesses e construindo suas próprias sequências.
 A renovação no campo da leitura propiciada também pelos hipertextos faz parte do dia a dia dos alunos.
O hipertexto base da navegação como nova forma de leitura [...] é regido pelo princípio da não linearidade, podendo ser comparável a um grande mapa nunca passível de ser totalmente desdobrado [...]. O hipertexto permite, tal como a subjetividade, todas as dobras imagináveis, fazendo suceder um movimento perpétuo do dobramento e desdobramento de um texto [...]. (LÉVY, 2000).
 Lévy (2000) afirma que o texto foi à primeira tecnologia intelectual a interligar o mundo e, atualmente, a dinâmica do conhecimento está na rede, no hipertexto. As mensagens contidas não possuem o objetivo de se perpetuarem e estão expostas sempre a metamorfoses.
 Lévy indica também a imaginação como a área da inteligência mais potencializada pela comunicação hipertextual e pelas imagens. Outra linguagem, como forma de incentivar à leitura, é trabalhar com filmes durante as aulas. De acordo com Citelli (2004) o mundo hoje exige pessoas preparadas para enfrentar e absorver as novas formas de mensagens que chegam. Essas mensagens podem vir de um filme ou imagens associadas a sons que trazem novas formas de leitura.
A leitura de vários tipos de texto é essencial na sociedade em que vivemos. Saber ver uma imagem, um filme, é tão necessário quanto aprender a ler e escrever nos moldes convencionais, pois os códigos e os processos de produção da comunicação se alteram e, nessas mudanças, buscam receptores aptos para entendê-los. Se o modo de produção se altera, fazendo surgir novos códigos, ele irá exigir uma nova posição receptiva; o mesmo valendo para alteração da percepção e da recepção, que exigirá novos códigos no processo de produção.
A partir do momento em que estamos expostos a um mundo cheio de linguagens diversas, temos de nos preparar [...]. Cabe à escola explorar e trabalhar o cruzamento dessas linguagens, a fim de preparar melhor o aluno para enfrentar as novas realidades [...]. (CITELLI, 2004).
Lajolo defende que o professor parece seguir um roteiro para a prática de leitura: 
Testes de múltipla escolha, perguntas abertas ou semi-abertas, reescritura de textos, resumos comentados são alguns dos números mais atuais do espetáculo que, [...] estrelam para platéias às vezes desatentas, às vezes rebeldes, quase sempre desinteressadas. [...] Ou o texto dá um sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer de nossas aulas. (LAJOLO, 2006).
 Introduzir os recursos tecnológicos na sala de aula permite romper com as paredes da escola e integrá-la à sociedade que a cerca. Ao usar esses recursos aproxima-se a vida escolar da vida cotidiana e assim, desperta no aluno o prazer pela leitura como uma forma de sua representação e interpretação do mundo que o cerca.
Na seção IV onde a Lei dispõe sobre o Ensino Médio, destaca-se o aprofundamento dos conhecimentos como meta para continuá-lo aprendendo; o aprimoramento do aluno como pessoa humana [...] em um mundo novo que se apresenta, no qual o caráter da Língua Portuguesa deve ser basicamente comunicativo. (PCN, 1999).
 Utilizar e inserir os recursos tecnológicos como materiais didáticos pedagógicos é essencial para essa realidade em que a escola deve preparar o jovem possibilitando a posse da cultura letrada e para a vida em sociedade.
 De acordo com Moran (2000) o conhecimento não é fragmentado e significa compreender a realidade, expressá-la e entendê-la de forma cada vez mais ampla. Conhecer mais e melhor, relacionando a vários pontos de vista e integrando-os da forma mais rica possível.
 Koch (2009) preconiza que o texto e a leitura permitem ao homem organizar o mundo e se comunicar. Utilizar os recursos tecnológicos na educação caminha para o incentivo da leitura que permite estabelecer e selecionar informações, conhecimentos e compartilhá-los.
 Conforme Lévy (2000) por meio da internet há um autor coletivo em transformação permanente e que inventa a realidade a cada momento de interação. “(...) a interação está profundamente presente na construção da realidade em que o aprendizado coletivo abre sempre caminhos originais propiciando a invenção de si”. (LEVY, 2000).
A partir dessas considerações serão apresentadas as aulas propostas.
3 	CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
3º ano ensino médio
	AULAS
	Hora-aula
	Conteúdo
	1
	50 minutos
	Texto e hipertexto
	
2 e 3
	
50 minutos
	Pesquisa e leitura de textos e hipertextos.
	
4, 5 e 6
	
50 minutos
	Leitura e adaptação teatral a partir de um filme.
	
7 e 8
	
50 minutos
	
Comparação entre a leitura e o filme.
	
9 e 10
	
50 minutos
	Tecnologias: Recursos que favorecem novas leituras e oportunidades de expressão aos alunos.
4	 AULAS PROPOSTAS
4.1 	AULA 1: Texto e hipertexto
Objetivo Geral
Conhecer o texto e o hipertexto.
Objetivos Específicos
Reconhecer as diferenças entre o texto e o hipertexto
Metodologia
Leitura do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, impresso e depois em forma de hipertexto em que haverá links com informações sobre o autor, costumes, etc.
Recursos didáticos
- Texto impresso.
- Computadores com acesso à Internet.
 Selecionamos o conto “A Cartomante” e, a partir dele propiciar a leitura de duas maneiras diferentes, esta proposta atenderá ao objetivo da primeira aula que é incentivar os alunos a conhecer o texto e o hipertexto para utilizar depois. Os alunos irão perceber a alternativa que terão de leitura. Nos hipertextos: não-linearidade e um leitor que participa selecionando o que irá ler e em que momento.
 Citelli (2004) traz que o texto na escola deve incluir linguagens de comunicação e a presença de tecnologias, dessa forma contribui para a aprendizagem cruzando o discurso escolarizado e sua linguagem, essa integração valoriza e enriquece o processo educacional.
 A grande disseminação de novas tecnologias está alterando os modos de produção e transmissão do conhecimento. Trabalharemos o texto e o hipertexto, este é um percurso que abre caminho para outras maneiras de fazer o uso social do ato de ler.
Avaliação 
 Propor um debate/conversa para que os alunos relatem sobre as duas opções de leitura que tiveram e as diferenças entre o texto e o hipertexto.
ANEXO 1
Atividades
(1) Leitura do texto A Cartomante impresso.
A Cartomante
 Machado de Assis
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido à véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, nãoria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? 
Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? Exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, eram graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. 
Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegou ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de fazê-lo ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele ano recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este e notou as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura à aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi à opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar a casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu 
logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta daorelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, o pensou; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si 
mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiu ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpuseram os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curiosos e ansiosos.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta se levantou, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. 
Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crençasdo rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Este conto foi publicado originalmente na Gazeta de Notícias - Rio de Janeiro, em 1884. Posteriormente foi incluído no livro "Várias Histórias" e em "Contos: Uma Antologia", Companhia das Letras - São Paulo, 1998, de onde foi extraído. Com esta publicação homenageamos Machado de Assis que, no dia 21 deste, estaria completando seu 172° aniversário.olhou para o mar, 
(2) Leitura do hipertexto com o conto e investigação de links com informações sobre o autor, costumes, etc.
4.2 	AULAS 2 e 3: Pesquisa e leitura de textos e hipertextos
Objetivo Geral
Pesquisar e utilizar textos e hipertextos disponíveis na internet.
Objetivos Específicos
Escolher os textos e hipertextos com conteúdo desejável 
Utilizar sites de busca e pesquisa 
Metodologia
Os alunos irão pesquisar em textos e hipertextos pontos relevantes a serem lidos e selecionados sobre o conto “A Cartomante”, seu autor e costumes da época.
Recursos didáticos
computadores com acesso à internet.
 Escolhemos o conto “A Cartomante” por termos trabalhado na aula anterior. A pesquisa irá instigar nos alunos a investigação e análise do conteúdo disponível e do que é desejável. Terão a oportunidade de conhecer como funciona o site de busca e também como selecionar as informações que são pertinentes ao tema. Deve haver conhecimento prévio do tema para que as escolhas sejam mais eficientes, por isso, irão pesquisar sobre esse conto que já conhecem e tiveram informações dadas em aula.
 Para Koch (2009) todo texto constitui uma proposta de sentidos múltiplos e é um hipertexto que oferece ao leitor possibilidades de opção de caminhos diversificados permitindo diferentes níveis de desenvolvimento e aprofundamento de um tema.
 O hipertexto afeta a maneira como lemos nos mostrando múltiplas entradas e formas para prosseguir e diminui a fronteira entre o leitor e o escritor, eles se tornam parte do mesmo processo e facilita a construção social do conhecimento.
Avaliação
Propor que os alunos selecionem dois ou três sites sobre o mesmo assunto e escolham o que consideram adequados. Depois, retomar as informações pesquisadas, avaliar as escolhas e separar tudo que é coerente à proposta de trabalho. 
Atividades
(1) Pesquisar em sites de busca os textos e os hipertextos com pontos relevantes sobre o conto A Cartomante; seu autor e costumes da época.
(2) Separar as informações pertinentes ao que foi solicitado.
4.3 	AULAS 4, 5 e 6: Leitura e adaptação teatral
Objetivo Geral 
Despertar a prática e o prazer da leitura.
Objetivos Específicos
Selecionar as informações pertinentes à adaptação teatral
Produzir um texto para leitura dramatizada.
Metodologia 
Os alunos irão assistir ao filme do conto “A Cartomante” e verificar as informações que já possuem sobre ele.
Recursos didáticos
Filme (DVD)
Texto 
 Iremos assistir ao filme do conto “A Cartomante”. Após, retomaremos as informações que foram pesquisadas nas aulas anteriores e pensar os aspectos mais relevantes já discutidos. Dessa forma, os alunos terão a oportunidade de ampliar significados, informações e construir um texto para sua leitura.
 Conforme Moran (2000) a informação é processada de forma hipertextual, contando histórias e relatando situações que se interconectam e ampliam-se nos levando a significados importantes. A leitura hipertextual é feita como em “ondas” em que uma leva à outra acrescentando novas significações. A construção é lógica, corrente e não segue uma única trilha previsível e seqüencial, mas, se ramifica em trilhas possíveis.
 A maioria dos estudantes e jovens assiste a filmes, este é uma das vias de acesso a eles e está no cotidiano.
Avaliação
Em grupos de até cinco alunos: produzirão um texto (adaptação teatral) juntando as informações que têm sobre o conto, o autor, costumes da época e o filme que viram. Após produzir o texto todos os grupos lerão de forma criativa/dramatizada.
Atividades
Assistir ao filme “a cartomante”.
ANEXO
(2) Verificar as informações que já possuem sobre o conto.
(3) Produzir um texto, juntando as informações que possuem, para leitura dramatizada.
4.4 	AULAS 7 e 8: Comparação entre a leitura e o filme
Objetivo Geral
Comparar o que foi lido com o filme e confrontar interpretações.
Objetivos específicos
Instigar e aprimorar a análise por meio da leitura e do conteúdo do filme
Ler e compartilhar pontos de vista.
Metodologia
 A leitura de trechos do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa será feita por nós, professores, depois o mesmo texto será lido pelos alunos. A versão cinematográfica será acompanhada em seguida.
Recursos didáticos
Livro
Filme (DVD)
 Escolhemos o livro Grande Sertão: Veredas e o filme sobre a mesma obra a fim de provocar nos alunos do 3º ano do ensino médio a participação como leitor que interage e relaciona o conteúdo de um texto ou livro com uma outra linguagem que é o DVD. Também proporcionar aos alunos o diálogo entre a leitura e a ferramenta tecnológica. “[...] colocar os alunos em situações de comunicação que tenham para eles um sentido, uma variação dinâmica do ensino/aprendizagem, para funcionar numa instituição que o tem por objetivo primeiro”. (KOCK, 2009).
Avaliação
Registro e debate em sala de aula para mencionar semelhanças ou diferenças entre o filme e trechos da obra que foram lidos.
Atividades
(1) Leitura feita por nós, professoras, e posteriormente alunos, dos trechos do livro Grande Sertão: Veredas.
[...] Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertá-lo consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro mais sério – foi Medeiro Vaz. Que um homem antigo... Seu Joãozinho Bem-Bem, o mais bravo de todos, ninguém nunca pôde decifrar como ele por dentro consistia. Joça Ramiro – grande homem príncipe! – era político. Zé-Bebelo quis ser político, mas teve e não teve sorte: raposa que demorou. Só Candelário se endiabrou, por pensar que estava com doença má. Titão Passos era o pelo preço de amigos: só por via deles, de suas mesmas amizades, foi que tão alto se ajagunçou. Antônio Dó – severo bandido. Mas por metade; grande maior metade que seja. Andalécio, no fundo, um bom homem-
de-bem, estouvado raivoso em sua toda justiça. Ricardão, mesmo, queria era ser rico em paz: para isso guerreava. Só o Hermógenes foi que nasceu formado tigre, e assim. E o “Urutu-Branco”? Ah, não me fale.Ah, esse... tristonho levado, que foi – que era um pobre menino do destino... Tão bem, conforme. O senhor ouvia, eu lhe dizia: o ruim com o ruim termina por as espinheiras se quebrar – Deus espera essa gastança. Moço: Deus é paciência. O contrário é o diabo. Se gasteja. O senhor rela faca em faca – e afia – que se raspam. Até as pedras do fundo, uma dá na outra se vai arredondinhando lisas, que o riachinho rola. Por enquanto, que eu penso tudo quanto há, neste mundo, é porque se merece e carece. Antes mente preciso. Deus não se comparece com refe, não arrocha o regulamento. Pra quê? 
Deixa: bobo com bobo – um dia, algum estala e aprende: esperta. Só que, às vezes, por mais auxiliar, Deus espalha no meio, um pingado de pimenta... Haja? Pois, por um exemplo: faz tempo, fui de trem, lá em Sete-Lagoas, para partes de consultar um médico, de nome me indicado. Fui vestido bem, e em carro de primeira, por via das dúvidas, não me sombrearem por jagunço antigo. Vai e acontece, que, perto mesmo de mim, defronte, tomou assento, voltando deste brabo Norte, um moço Jazevedão, delegado profissional. Vinha com um capanga dele, um secreta, e eu bem sabia os dois, de que tanto um era ruim, como o outro ruim era. A verdade que diga primeiro teve o estrito de me desbancar para um longe dali, mudar de meu lugar. Juízo me disse, melhor ficasse. Pois, ficando, olhei. E – lhe falo: nunca vi cara de homem fornecida de bruteza e maldade mais, do que nesse. Como que era urco, trouxo de atarracado reluzia um cru nos olhos pequenos, e armava um queixo de pedra, sobrancelhonas; não demedia nem testa. Não ria não se riu nem uma vez; mas, falando ou calado, a gente via sempre dele algum dente, presa pontuda de guará. Arre, e bufava um poucadinho. Só rosneava curto, baixo, as meias-palavras encrespadas. Vinha reolhando, historiando a papelada – uma a uma as folhas com retratos e com os pretos dos dedos de jagunços, ladrões de cavalos e criminosos de morte. Aquela aplicação de trabalho, numa coisa dessas, gerava a ira na gente. O secreta, xereta, todo perto, sentado junto, atendendo, caprichando de ser cão. Fez-me um receio, mas só no bobo do corpo, não no interno das coragens. Uma hora, uma daquelas laudas caiu – e eu me abaixei depressa, sei lá mesmo por que, não quis, não pensei – até hoje crio vergonha disso – apanhei o papel do chão, e entreguei a ele. Daí, digo: eu tive mais raiva, porque fiz aquilo; mas aí já estava feito. O homem nem me olhou, nem disse nenhum agradecimento. Até as solas dos sapatos dele – só vendo – que solas duras grossas, dobradas de enormes, parecendo ferro bronze. Porque eu sabia: esse Jazevedão, quando prendia alguém, a primeira quieta coisa que procedia era que vinha entrando, sem ter que dizer, fingia umas pressas, e ia pisava em cima dos pés descalços dos coitados. E que nessas ocasiões dava gargalhadas, dava... Pois, osga! Entreguei a ele a folha de papel, e fui saindo de lá, por ter mão em mim de não destruir a tiros aquele sujeito. Carnes que muito pesavam... E ele umbigava um princípio de barriga barriguda, que me criou desejos... Com minha brandura, alegre que eu matava. Mas, as barbaridades que esse delegado fez e aconteceu, o senhor nem tem calo em coração para poder me escutar. Conseguiu de muito homem e mulher chorar sangue, por este simples universozinho nosso aqui. Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal... [...]
(p. 5-6)
[...] Lhe mostrar os altos claros das Almas: rio despenha de lá, num afã, espuma próspero, gruge; cada cachoeira, só tombos. O cio da tigre preta na Serra do Tatu – já ouviu o senhor gargaragem de onça? A garoa rebrilhante da dos-Confins, madrugada quando o céu embranquece – neblim que chamam de xererém. Quem me ensinou a apreciar essas as belezas sem dono foi Diadorim... A da-Raizama, onde até os pássaros calculam o giro da lua – se diz – e canguçu monstra pisa em volta. Lua de com ela se cunhar dinheiro. Quando o senhor sonhar, sonhe com aquilo. Cheiro de campos com flores, forte, em abril: a ciganinha, roxa, e a nhiíca e a escova, amarelinhas... Isto – no Saririnhém. Cigarras dão bando. Debaixo de um tamarindo sombroso... Eh, frio! Lá geia até em costas de boi, até nos telhados das casas. Ou no Meãomeão – depois dali tem uma terra quase azul. Que não que o 
céu: esse é céu-azul vivoso, igual um ovo de macuco. Ventos de não deixar se formar orvalho... Um punhado quente de vento, passante entre duas palmas de palmeira... Lembro, deslembro. Ou – o senhor vai – no soposo: de chuva-chuva. Vê um córrego com má passagem, ou um rio em turvação. No Buriti-Mirim, Angical, Extrema-de-Santa-Maria... Senhor caça? Tem lá mais perdiz do que no Chapadão das Vertentes... Caçar anta no Cabeça-de-Negro ou no Buriti-Comprido – aquelas que comem um capim diferente e roem cascas de muitas outras árvores: a carne, de gostosa, diverseia. Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração... Ah. Diz-se que o Governo está mandando abrir boa estrada rodageira, de Pirapora a Paracatu, por aí... Na Serra do Cafundó – ouvir trovão de lá, e retrovão, o senhor tapa os ouvidos, pode ser até que chore, de medo mau em ilusão, como quando foi menino. O senhor vê vaca parindo na tempestade... De em de, sempre, Urucuia acima, o Urucuia – tão a brabas vai... Tanta serra esconde a lua. A serra ali corre torta. A serra faz ponta. Em um lugar, na encosta, brota do chão um vapor de enxofre, com estúrdio barulhão, o gado foge de lá, por pavor. Semelha com as serras do Estrondo e do Roncador – donde dão retumbos, vez em quando. Hem? O senhor? Olhe: o rio Carinhanha é preto, o Paracatu moreno; meu, em belo, é o Urucuia – paz das águas... É vida!... Passado o Porto das Onças, tem um fazendol. Ficamos lá umas semanas, se descansou. Carecia. Porque a gente vinha no caminhar a pé, para não acabar os cavalos, mazelados. Medeiro Vaz, em lugares assim, fora de guerra, prazer dele era dormir com camisolão e barrete; antes de se deita ajoelhava e rezava o terço. Aqueles foram meus dias. Se caçava, cada um esquecia o que queria de de-comer não faltava pescar peixe nas veredas... O senhor vá lá, verá. Os lugares sempre estão aí em si, para confirmar. Muito deleitável. Claráguas, fontes, sombreado e sol. Fazenda Boi-Preto, dum Eleutério Lopes – mais antes do Campo-Azulado, rumo a rumo com o Queimadão. Aí foi em fevereiro ou janeiro, no tempo do pendão do milho. Tresmente: que com o capitão-do-campo de prateadas pontas, viçoso no cerrado; o anis enfeitando suas moitas; e com florzinhas as dejaniras. Aquele capim-marmelada é muito restível, redobra logo na brotação, tão verde-mar, filho do menor chuvisco. De qualquer pano de mato, de-entre quase cada encostar de duas folhas, saíam em giro às todas as cores de borboletas. Como não se viu aqui se vê. Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais brilho, se sabe; acho que é do seco do ar, do limpo, desta luz enorme. Beiras nascentes do Urucuia, ali o povi canta altinho. E tinha o xenxém, que tintipiava de manhã no revoredo, o saci-do-brejo, a doidinha, a gangorrinha, o tempo-quente, a rola-vaqueira... e o bem-te-vi que dizia, e araras enrouquecidas. Bom era ouvir o mom 
das vacas devendo seu leite. Mas, passarinho de bilo no desvéu da madrugada, para toda tristeza que o pensamento da gente quer, ele repergunta e finge resposta. Tal, de tarde, o bento-vieira tresvoava, em vai sobre vem sob, rebicando de vôo todo bichinhozinho de finas asas; pássaro esperto. Ia dechover mais em mais. Tardinha que enche as árvores de cigarras – então, não chove. [...]
(p.11)
[...] Curtamente: dali da Sempre-Verde, com um dia mais, desapartamos. O bando muito grande de jagunços não tem composição de proveito em ocasião normal, só serve para chamarsoldados e dar atrásamento e desrazoada despesa. Constava que João Goanhá torasse para a Bahia, e que o Antenor seguindo rumo em beira do 
Ramalhada, com um punhado dos Hermógenes. Novas ordens, muitas ordens. Alaripe ia vir com Titão Passos. Titão Passos chamou a gente: Diadorim e eu. Se tinha um roteiro, sendo para ser: o mais encostado possível no São Francisco, até para lá do Jequitaí, e mais. Aquilo, por quê? A gente não ia junto com Joca Ramiro, em caso de lhe a ele podermos valer, em caso, com maior ajuda, mão a mão? Ah, mas nossa tarefa era de muito encoberto empenho e valor: pelo que tínhamos de estanciar em certos lugares, com o fito de receber remessas; e em acontecer de vigiar algum rompimento de soldados, que para o Norte entrassem. Arreamos, montamos, saímos. Naquela mesma da hora, Joca Ramiro dava partida também, de volta para o São João do Paraíso. Lá ia ele, deveras, em seu cavalão branco, ginete – ladeado por Sô Candelário e o Ricardão, igual iguais galopavam. Saíam os chefes todos – assim o desenrolar dos bandos, em caracol, aos gritos de vozear. Ao que reluzia o bem belo. Diadorim olhou, e fez o sinal-da-cruz, cordial. – “Assim, ele me botou a benção...” – foi o que disse. Dá sempre tristezas algumas, um destravo de grande povo se desmanchar. Mas, nesse dia mesmo, em nossos cavalos tão bons, dobramos nove léguas. As nove. Com mais dez, até a Lagoa do Amargoso. E sete, para chegar numa cachoeira no Gorutuba. E dez, arranchando entre Quem-Quem e Solidão; e muitas idas marchas: sertão sempre. Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera; digo. Mas saímos, saímos. Subimos. Ao quando um belo dia, a gente parava em macias terras, agradáveis. As muitas águas. Os verdes já estavam se gastando. Eu tornei a me lembrar daqueles pássaros. O marrequim, a garrixa-do-brejo, frangos-d’água, gaivotas. O manuelzinho-da-crôa! Diadorim, comigo. As garças, elas em asas. O rio desmazelado, livre rolador. E aí esbarramos parada, para demora, num campo solteiro, em varjaria descoberta, pasto de muito gado. Lugar perto da Guararavacã do Guaicuí: Tapera Nhã, nome que chamava-se. Ali era bom? Sossegava. Mas, tem horas em que me pergunto: se melhor não seja a gente tivesse de sair nunca do sertão. Ali era bonito, sim senhor. Não se tinha perigos em vista, não se carecia de fazer nada. Nós estávamos em vinte e três homens. Titão Passos determinou uma esquadrazinha deles – com Alaripe em testa: fossem para a outra banda do morro, baixada própria da Guararavacã, esperar o que não acontecesse. Nós ficamos. [...]
(p.130)
[...] O que, por começo, corria destino para a gente, ali, era: bondosos dias. Madrugar vagaroso, vadiado, se escutando o grito a mil do pássaro rexenxão – que vinham voando, aquelas chusmas pretas, até brilhantes, amanheciam duma restinga de mato, e passavam, sem necessidade nenhuma, a sobre. E as malocas de bois e vacas que se levantavam das malhadas, de acabar de dormir, suspendendo corpo 
Sem rumor nenhum, no meio-escuro, como um açúcar se derretendo no campo. Quando não ventava, o sol vinha todo forte. Todo dia se comia bom peixe novo, pescado fácil: curimatã ou dourado; cozinheiro era o Paspe – fazia pirão com fartura, e dividia a cachaça alta. Também razoável se caçava. A vigiação era revezada, de irmãos e irmãos, nunca faltava tempo para à-toa se permanecer. Dormi sestas inteiras, por minha vida. Gavião dava gritos, até o dia muito se esquentar. Aí então aquelas fileiras de reses caminhavam para a beira do rio, enchiam a praia, parados, ou refrescavam dentro d’água. Às vezes chegavam a nado até em cima duma ilha comprida, onde o capim era lindo verdejo. O que é de paz cresce por si: de ouvir boi berrando à forra, me vinha idéia de tudo só ser o passado no futuro. Imaginei esses sonhos. Me lembrei do não-saber. E eu não tinha notícia de ninguém, de coisa 
nenhuma deste mundo – o senhor pode raciocinar. Eu queria uma mulher, qualquer. Tem trechos em que a vida amolece a gente, tanto, que até um referver de mau desejo, no meio da quebreira, serve como beneficio. Um dia, sem dizer o que a quem, montei a cavalo e saí, a vão, escapado. Arte que eu caçava outra gente, diferente. E marchei duas léguas. O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. Eu tocava seguindo por trilhos de vacas. Atravessei um ribeirão verde, com os umbuzeiros e ingazeiros debruçados – e ali era vau de gado. “Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago...” – foi o que pensei, na ocasião. De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo; que, quando notei que estava com dor-de-cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha era daquilo, isso até me serviu de bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia. O tanto assim, que até um corguinho que defrontei – um riachim à-toa de branquinho – olhou para mim e me disse: – Não... – e eu tive que obedecer a ele. Era para eu não ir mais para diante. O riachinho me tomava à benção. Apeei. O bom da vida é para o cavalo, que vê capim e come. Então, deitei, baixei o chapéu de tapa-cara. Eu vinha tão afogado. Dormi deitado num pelego. Quando a gente dorme, vira de tudo: vira pedras, vira flor. O que sinto, e esforço em dizer ao senhor, repondo minhas lembranças, não consigo; por tanto é que refiro tudo nestas fantasias. Mas eu estava dormindo era para reconfirmar minha sorte. Hoje, sei. E sei que em cada virada de campo, e debaixo de sombra de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta. Um que é o romãozinho é um diabo menino, que corre adiante da gente, alumiando com lanterninha, em o meio certo do sono. Dormi, nos ventos. Quando acordei, não cri: tudo o que é bonito é absurdo – Deus estável. Ouro e prata que Diadorim aparecia ali, a uns dois passos de mim, me vigiavam. [...]
(p.131)
(2) Assistir ao filme baseado na obra.
��
(3) Registro das semelhanças e diferenças entre o filme e os trechos da obra.
5.5 	AULAS 9 e 10: Tecnologias: recursos que favorecem novas leituras e oportunidades de expressão aos alunos.
Objetivo Geral
Favorecer a representação de ideias.
Objetivos específicos
Trocar informações e experiências
Promover a expressão e a troca de conhecimentos
Metodologia
Apresentação de um “filme” com cenas do filme assistido na aula anterior, figuras que retratem os trechos lidos da obra Grande Sertão: Veredas e cenas do cenário nordestino.
Recursos didáticos
DVD
 Os alunos irão assistir a um filme produzido por nós, que traz cenas do filme visto na aula anterior, trechos lidos em sala e o cenário atual nordestino. Assim, poderão se expressar, disser o que pensam e refletir sobre esse assunto; irão praticar o uso social da leitura apresentando suas ideias e o que acharam em comum ou diferente entre as cenas.
 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) é importante liberar a expressão da opinião de cada aluno mesmo que seja diferente da nossa, e assim, permitir que ele crie um sentido para comunicar o seu pensamento.
Avaliação 
Apresentação de suas ideias e opiniões sobre o filme que assistiram.
Atividades
(1) Assistir ao filme produzido com cenas do cenário nordestino, figuras e cenas do filme assistido na aula anterior.
2) Reflexão e expressão a partir do filme.
5-CONSIDERAÇÕES FINAIS
 O processo de elaboração dessa seqüência didática foi muito importante e também prazeroso. O trabalho levou à reflexão de quanto é complexo decidir e definir o conteúdo a ser trabalhado com os alunos. O tema escolhido ajudou e motivou por se tratar de uma concepção que compreende uma nova metodologia. Geralmente o ato de ler, nas escolas, está associado a ler para responder questionário, ler para interpretar, etc. Poucasvezes, ler por satisfação. Esta seqüência aponta a possibilidade de interagir com o que se passa no mundo e, na sociedade com as inovações e as ferramentas tecnológicas presentes em sala de aula. 
Nosso tema surgiu com a necessidade de integrar as ferramentas tecnológicas e a escola. Como professoras querem que a leitura tenha significado para nossos alunos que vivem nessa sociedade em transformação. Não aplicamos essa seqüência didática; no entanto, atendemos ao nosso objetivo principal que é integrar as ferramentas tecnológicas às aulas de prática de leitura conforme as atividades que propomos. E assim, vimos que como professores podemos e devemos buscar e descobrir novas formas de encantamento e incentivo para os nossos alunos.
 REFERÊNCIAS
CITELLI, Adilson. Outras linguagens na escola. São Paulo: Cortez, 2004.
FIGUEIREDO, Rose. Comunicação, tecnologia e educação: interfaces das novas tecnologias na relação ensino-aprendizagem. São Paulo: Independente, 2006.
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 2002.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez. 2006.
______.______. São Paulo: Cortez. 2009.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 2006.
LÉVY, Pierre. Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000.
MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007.
______. Ensino e aprendizagem inovadora com tecnologias áudio visuais e telemáticas. Campinas: Papirus, 2004.
MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRINS, M.A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
NICOLÁS, L. Estante Empoeirada: Diário do Grande ABC. Santo André, São Paulo, p. 2, 21 dez. 2009.
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Pesquisa Ibope. Disponível em < http://www.cenpec.org.br >. Acesso em: 18 de dez. 2009.
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Pesquisa Educacional. Disponível em < http://www.inep.gov.br >. Acesso em: 18 de dez. 2009. 
 
http://www.adorocinema.com/filmes/cartomante/. Acesso em: 04 abril 2010.
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=56323. Acesso em: 04 de abril 2010.
http://entrefilmes.blogspot.com/2007/11/grande-serto-veredas-joo-guimares-rosa.html. Acesso em: 04 de abril 2010.
http://www.scribd.com/doc/6680342/Grande-Sertao-Veredas-Joao-Guimaraes-Rosa. Acesso em: 04 de abril 2010.
� Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.
� Diário do Grande ABC – Editorial – 21 de dez. 2009.
� Pesquisa Ibope solicitada pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e ação comunitária.
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