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ESTUDOS DISCIPLINARES Formação Específica I Profa. Ana Lúcia Machado Prática docente no contexto escolar Currículo: dimensão cultural e função como espaço das práticas de significação; cultura caracteriza-se como produção de sentido e de identidades sociais e, nesse sentido, o currículo tanto expressa as visões e os significados do projeto dominante, quanto ajuda a reforçá-los, a dar-lhes legitimidade e autoridade; favorece a formação de identidades sociais convenientes a determinado poder. Currículo Mecanismo por meio do qual a escola define o plano para a consecução de projeto social global de educação de uma sociedade. Relaciona-se às práticas políticas e administrativas da escola. Relaciona-se às condições estruturais, organizativas, materiais, dotação de professorado, à bagagem de ideias e de significado. Currículo Espaço de práticas socializadas, realizadas em determinada instituição, dentre as quais, a prática pedagógica, que aponta para o diálogo entre diversos interlocutores, como agentes sociais, técnicos, professores, alunos etc. Esse currículo organiza-se para além da prática e é construído em um cruzamento de influências e campos de atividade diferenciados e inter-relacionados. Prática docente Articulada às teorias educacionais, que movimenta as bases curriculares. Professor profissional: pessoa autônoma, dotada de competências específicas e especializadas que repousam sobre uma base de conhecimentos racionais, reconhecidos, oriundos da ciência, legitimados pela Universidade, ou de conhecimentos explicitados, oriundos da prática. Profissionalização do professor: inter-relação entre os conhecimentos postos em ação e as práticas eficazes em dado contexto. Professor profissional Saberes norteiam as ações e a prática do profissional professor: 1.Os saberes teóricos, da ordem do declarativo, entre os quais podemos distinguir: Os saberes a serem ensinados, compreendendo os disciplinares, os constituídos pelas ciências e os tornados didáticos a fim de permitir aos alunos a aquisição de saberes constituídos e exteriores. Saberes teóricos Os saberes para ensinar, incluindo os pedagógicos sobre a gestão interativa em sala de aula, os didáticos nas diferentes disciplinas e os saberes da cultura que os está transmitindo. Esses saberes teóricos são indissociáveis. Professor profissional 2. Os saberes práticos, oriundos das experiências cotidianas da profissão, contextualizados e adquiridos em situação de trabalho, também chamados de saberes empíricos ou da experiência. Também aqui nos parece necessário distingui- los, ao retomar as categorias da psicologia cognitiva: Os saberes sobre a prática, isto é, saberes procedimentais sobre o como fazer ou formalizados. Saberes práticos Os saberes da prática, aqueles oriundos da experiência, produto da ação que teve êxito, da práxis e, ainda, os saberes condicionais. (Saber quando e onde): saber-fazer em determinada situação e os saberes de ação muitas vezes implícitos; situa-se neste nível o saber do professor profissional que permite distinguir o novato do especialista. INTERVALO Saberes docentes Saberes do professor de língua(s) 1. O saber teórico do professor – relacionado às diferentes teorias sobre a língua, à sua organização e estrutura, às diferentes teorias sobre literatura, leitura, escrita etc. 2. O saber teórico-prático do professor – relacionado aos modos de articulação entre teorias sobre língua e linguagem e práticas de sala de aula, ou seja, modos de organizar atividades relacionadas à oralidade, leitura, escrita, literatura, gramática, análise linguística. Saberes do professor de língua(s) 3. O saber crítico do professor – relacionado aos modos de articulação entre o que é feito em sala de aula com língua/ linguagem e como esse fazer instrumentaliza o aluno para o desenvolvimento de sua autonomia e postura crítica. Exemplo 1 Na Sociologia da Educação, o currículo é considerado um mecanismo por meio do qual a escola define o plano para a consecução de projeto global de educação de uma sociedade, realizando, assim, sua função social. Considerando o currículo na perspectiva crítica da Educação, avalie as afirmações a seguir. I. O currículo é um fenômeno escolar que se desdobra em uma prática pedagógica expressa por determinações do contexto da escola. Exemplo 1 (continuação) II. O currículo reflete uma proposta educacional que inclui o estabelecimento da relação entre ensino e a pesquisa, na perspectiva do desenvolvimento profissional docente. III. O currículo é uma realidade objetiva que inviabiliza intervenções, uma vez que o conteúdo é condição lógica do ensino. IV. O currículo é a expressão da harmonia de valores dominantes inerentes ao processo educativo. Qual ou quais afirmativas estão corretas? Exemplo 1 - resposta I. O currículo é um fenômeno escolar que se desdobra em uma prática pedagógica expressa por determinações do contexto da escola. Comentário: incorreta. Se pensarmos o currículo como uma prática que expressa aquilo que o contexto da escola determina, estaremos pensando em uma prática que se esgota no próprio contexto, considerando irrelevantes as articulações sociais pautadas na diversidade cultural e na necessidade de dialogar interculturalmente. Exemplo 1 - resposta II. O currículo reflete uma proposta educacional que inclui o estabelecimento da relação entre ensino e a pesquisa, na perspectiva do desenvolvimento profissional docente. Comentário: correta. Professor deve buscar aprimoramento de suas ações a partir da investigação de sua própria ação: desenvolvimento de competências para pesquisar sobre seu modo de ensinar e estabelecer relações entre o que faz e as teorias que orientam a proposta educacional. Exemplo 1 - resposta III. O currículo é uma realidade objetiva que inviabiliza intervenções, uma vez que o conteúdo é condição lógica do ensino. IV. O currículo é a expressão da harmonia de valores dominantes inerentes ao processo educativo. Comentário: incorretas, pois desconsideram o contexto real de cada escola e contrariam a concepção de currículo crítico. INTERVALO Pedagogia de projetos e práticas pedagógicas A organização do currículo, por meio de projetos, favorece a criação de novas estratégias para os conhecimentos escolares. Possibilita um trabalho rico em levantamento de novas hipóteses para solução de problemas, de novos caminhos para a construção do conhecimento e de conexões com conhecimentos anteriormente adquiridos. Projeto pedagógico Não se limita a uma atividade segmentada, envolvendo diversas disciplinas. É preciso planejar os conteúdos e as estratégias além dos limites de cada matéria. O trabalho inicia-se por um eixo condutor e é permeado pelo envolvimento de professores de diferentes disciplinas, cuja função é orientar estudantes para que construam uma teia de conhecimentos sobre o tema escolhido. Planejamento Ao significado que o tema escolhido tem para o grupo de estudantes – a atitude favorável perante o trabalho depende do quanto o tema vai ao encontro dos interesses e das necessidades do grupo. Ao nível de compreensão que o tema exigirá do grupo – a sequência escolhida deve favorecer a compreensão e servir como ponto de partida para a construção do conhecimento e não como ponto de chegada. Planejamento À funcionalidade do que se tem a aprender – é fundamental estabelecer-se uma relação entre o objeto de estudos e os problemas abordados. À memorização – haverá aspectos informativos necessários ao processo de construção do conhecimento e de relações e conexões com o conhecimento anterior. À avaliação – por meio da qual se analisará todo o processo de aprendizagem e serão estabelecidas novas metas. Orientação do trabalho por projetos Atividade do docente durante o desenvolvimento do projeto 1. Especificar o fio condutor: relacionar o trabalho com os parâmetros curriculares. 2. Buscar materiais: especificar primeiramente objetivos e conteúdos (o que se pode aprender no projeto?). 3. Estudar e preparar o tema: selecionar a informação com critérios de novidade e de planejamento de problemas. 4. Envolver componentes do grupo: reforçar a consciência de aprender. Atividade do docente durante o desenvolvimento do projeto 5. Destacar o sentido funcional do projeto: enfatizar a atualidade do tema para o grupo. 6. Manter uma atitude de avaliação: perceber o que sabem, que dúvidas surgem, o que acredita que os alunos aprenderam. 7. Recapitular o processo seguido: ordená-lo em forma de programação, para contrastá-lo a fim de planejar novas propostas educativas. Projeto e PCN PCN de Língua Portuguesa (1998) também focalizam o trabalho por projetos. A característica básica de um projeto: objetivo compartilhado por todos os envolvidos; produto final em função do qual todos trabalham e que terá, necessariamente, destinação, divulgação e circulação social internamente na escola ou fora dela. INTERVALO Síntese das funções do professor e dos alunos durante um trabalho por projeto Por parte do professor 1. Estabelece objetivos. 2. Seleciona conceitos e procedimentos. 3. Pré-sequencializa possíveis conteúdos, em função dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema. Por parte dos alunos 1. Estabelecem a possibilidade do tema. 2. Realizam a avaliação inicial: o que sabem ou querem saber sobre o tema? 3. Realizam propostas de sequenciação e ordenação de conteúdos. Síntese das funções do professor e dos alunos durante um trabalho por projeto Por parte do professor 4. Orienta a busca de informações, seleção/ análise de materiais e fontes. 5. Preestabelece atividades. 6. Propõe discussões sobre produções parciais dos alunos e seus grupos. Por parte dos alunos 4. Buscam fontes de informação; elaboram um índice. 5. Planejam o trabalho (individual, em pequeno grupo ou turma). 6. Realizam o tratamento da informação a partir das atividades e discussões mediadas pelo professor. Síntese das funções do professor e dos alunos durante um trabalho por projeto Por parte do professor 7. Promove reflexão, confrontando pontos de vista, recursos, materiais, informações. Papel de mediador que gera conflitos para o grupo. 8. Recolhe, analisa e interpreta a contribuição dos alunos. Avaliação. Por parte dos alunos 7. Trabalho individual e em grupo: ordenação, reflexão sobre a informação. 8. Autoavaliação. Síntese das funções do professor e dos alunos durante um trabalho por projeto Por parte do professor 9. Analisa o processo individual de cada aluno e o processo grupal: o que foi aprendido? Como o trabalho foi realizado? O que permanece incompreendido? Qual a contribuição individual ao grupo? Qual a contribuição do grupo para cada participante? Por parte dos alunos 9. Conhecem o próprio processo e estabelecem relação entre o aprendizado individual e o aprendizado do grupo. Exemplo 2 Na escola em que João é professor, existe um laboratório de informática, que é utilizado para os estudantes trabalharem conteúdos em diferentes disciplinas. Considere que João quer utilizar o laboratório para favorecer o processo ensino- aprendizagem, fazendo uso da abordagem da Pedagogia de Projetos. Nesse caso, elaborando seu planejamento, o professor deve: a) estabelecer como eixo temático uma problemática significativa para os estudantes, considerando as possibilidades tecnológicas existentes no laboratório. Exemplo 2 (continuação) b) relacionar os conteúdos previamente instituídos no início do período letivo com os que estão no banco de dados disponível nos computadores do laboratório de informática. c) definir os conteúdos a serem trabalhados, utilizando a relação dos temas instituídos no projeto pedagógico da escola e o banco de dados disponível nos computadores do laboratório. Exemplo 2 (continuação) d) listar os conteúdos que deverão ser ministrados durante o semestre, considerando a sequência apresentada no livro didático e os programas disponíveis nos computadores do laboratório. e) propor o estudo dos projetos concorrentes que foram desenvolvidos pelo governo ao uso de laboratório de informática, relacionando o que consta no livro didático com as tecnologias existentes no laboratório. Exemplo 2 - resposta A – Alternativa correta. Comentário: Na perspectiva da Pedagogia de Projetos, é fundamental que um projeto seja desenvolvido a partir de uma situação problematizadora. A afirmativa, ainda que mostre certa restrição em relação ao uso de diferentes meios (pois destaca apenas tecnologias existentes no laboratório), considera a importância de o professor tomar a temática escolhida para o projeto como algo que possa ser problematizado e relacionado às necessidades dos estudantes. ATÉ A PRÓXIMA! ESTUDOS DISCIPLINARES Formação Específica II Profa. Ana Lúcia Machado Ensino da Língua Portuguesa Abordagens de leitura: concepções redutoras. Leitura como o ato de reduzir um texto escrito a um texto falado – a atenção recai nas condições de eloquência e expressividade do leitor, e não na compreensão das ideias presentes no texto. Leitura como o ato de decodificar mensagens – nesse caso, o leitor é passivo, cabendo-lhe apenas receber a mensagem. Abordagens de leitura: concepções redutoras Leitura como resposta a um estímulo: o texto – modelo behaviorista de aprendizagem, suspendendo a possibilidade de um leitor interpretar um texto ou atribuir-lhe sentidos diferentes do que foi convencionado/legitimado pelo professor ou pelo material didático. Leitura como ferramenta para extrair a ideia central de um texto – o que caracteriza a tarefa do leitor: extrair do texto o que ele tem de mais importante, segundo o que está convencionado. Abordagens de leitura: concepções redutoras Leitura como meio para seguir os passos indicados nas atividades didáticas – ler passa a ser uma atividade linear: leitura silenciosa do texto, seguida do ato de sublinhar vocábulos desconhecidos e encontrar no dicionário seu significado, da realização de um questionário de interpretação e compreensão do texto, de exercícios de gramática do texto e de produção de texto. Leitura como meio de apreciar os clássicos – ler um clássico da literatura, por exemplo, em detrimento do que circula no mundo real. Complexidade do ato de ler: concepções interacionistas Leitura como espaço para interagir – o leitor considera seus conhecimentos (linguísticos, de mundo ou enciclopédicos, interacionais) para dialogar com o texto, recriando-o ao atribuir-lhe sentido. Leitura como espaço de produção de sentidos – diferentes leitores, com diferentes repertórios, produzirão diferentes sentidos a um texto, ampliando as possibilidades dialógicas para as interações com base no texto. Leitura é a possibilidade de compreender e interpretar – no ato de ler estão presentes, sempre, uma finalidade escolhida pelo leitor e uma abordagem paradigmática ou teórica que orienta suas escolhas.Concepção interacional da leitura Interação autor-texto-leitor. No processo, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto. Solicita ler para pensar / atribuir sentidos / questionar / discutir o texto. Produção textual nos Ensinos Fundamental e Médio Composição, redação ou produção textual: diferentes concepções teóricas. Composição: o aluno deveria escrever textos imitando modelos pré-determinados, seguindo a gramática normativa. Não havia espaço para subjetividade e a escrita na escola reduzia-se ao mero exercício da reprodução de modelos, visando ao produto final, que deveria traduzir o pensamento lógico de seu autor. Texto: visto apenas como um meio de promover a escrita correta. Produção textual nos Ensinos Fundamental e Médio Redação: sob a perspectiva de linguagem como comunicação e expressão, sendo o texto produzido uma mensagem acabada a ser decodificada por um receptor. Produção textual resultante carregava visão reducionista da interação verbal, escrita ou oral, pois observava a língua de forma monológica e a-histórica. Colocava em destaque a criatividade, gerada a partir da leitura de textos diversos para “estimular” o aluno; uso da escrita para um produto final criativo. Produção textual nos Ensinos Fundamental e Médio Decreto Federal Nº 79.298 (1977) determinou que todo vestibular inserisse em seu processo avaliativo uma prova de redação. Desencadeou movimento de reflexão nas escolas sobre como inserir no currículo propostas de ensino da redação. Surgiram, então, aulas de “técnicas de redação”, de “português-redação” etc. Resultado: textos formatados, pseudocriativos, seguidores de um padrão. INTERVALO Produção textual nos Ensinos Fundamental e Médio Produção textual: base na teoria dos gêneros. Linguagem: ação interindividual situada no tempo e no espaço, com propósitos específicos, dependendo do contexto social na qual se desenvolve. Produção textual nos Ensinos Fundamental e Médio É preciso que o aluno: a) tenha o que dizer; b) tenha uma razão para dizer o que tem a dizer; c) tenha para quem dizer o que tem a dizer; d) constitua-se como locutor, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz; e) escolha estratégias para realizar “a”, “b”, “c” e “d”. Exemplo 1 “Desde o final da década de 1970, começou um forte questionamento sobre a validade do ensino da redação como um mero exercício escolar, cujos objetivos principais seriam observar e apontar, através de uma correção quase estritamente gramatical, os ‘erros’ cometidos pelos alunos. [...] Os alunos exercitariam uma forma escrita que raramente dialoga com outros textos e com vários leitores.” (BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Orgs.). “Português no ensino médio e a formação do professor”. São Paulo: Parábola, 2006, p. 147.) Exemplo 1 (continuação) Considerando o texto anterior e a prática de redação em ambiente escolar, assinale a opção correta. a) A moderna pedagogia linguística recomenda a prática da redação como estratégia de avaliação. b) A redação escolar tem mantido identidade com outros gêneros textuais divulgados na escola. c) É salutar que a produção de textos na escola abranja outras esferas da comunicação humana. Exemplo 1 (continuação) d) Nas produções de textos escolares, a função referencial da linguagem deve sempre ser priorizada como propósito comunicativo. e) A redação escolar deve ser um exercício de escrita direcionado ao professor leitor. Exemplo 1 – resposta c) É salutar que a produção de textos na escola abranja outras esferas da comunicação humana. Comentário: critica as práticas de ensino de produção textual que ocorriam na década de 1970. No próprio excerto, podemos perceber um propósito comunicativo do autor de dizer que esse modo de ensino da redação não condiz com a concepção de língua como prática social, uma vez que o texto seria produzido como mero exercício escolar, prevalecendo a questão gramatical em detrimento do desenvolvimento do aluno na articulação de seu próprio texto a outros de circulação social. Exemplo 1 – resposta A crítica do autor é fortalecida pelo uso do verbo no tempo condicional (seriam, exercitariam), indicando algo que não aconteceu, e da expressão “raramente dialoga com outros textos e com vários leitores”. Produção de textos na escola precisa abranger outras esferas da comunicação e favorecer diferentes gêneros textuais; não para o mero exercício de aprimoramento das estruturas gramaticais e ortográficas, mas para o diálogo com as diferentes esferas de comunicação social. INTERVALO Exemplo 2 Na tradição escolar brasileira, havia um evento denominado “dar lição”, em que se pedia ao aluno que se levantasse, lesse um texto indicado e, em seguida, criasse uma paráfrase do que havia lido, usando palavras próprias. Segundo as atuais teorias e metodologias de ensino da língua: a) A leitura silenciosa coletiva deve ceder lugar à leitura em voz alta. b) A leitura em voz alta por um único aluno não traz benefícios aos demais colegas. Exemplo 2 (continuação) c) O hábito de criar um texto parafrástico é nocivo porque favorece interpretações equivocadas. d) A referida tradição deve ser abandonada porque o ato de levantar-se contribui fortemente para a insegurança linguística do aluno. e) O professor poderá, na oportunidade de ouvir a paráfrase construída pelo aluno leitor, fazer mediações, para facilitar a compreensão da leitura. Exemplo 2 – resposta e) O professor poderá, na oportunidade de ouvir a paráfrase construída pelo aluno leitor, fazer mediações, para facilitar a compreensão da leitura. Comentário: A compreensão da leitura pode ser explorada pelo professor a partir de perguntas mediadoras que auxiliam os alunos não somente a reorganizarem as paráfrases do texto, mas também a aprofundarem os significados construídos coletivamente. Práticas de linguagem: textos multimodais Práticas de linguagem vêm sofrendo, nas últimas décadas, modificações substanciais. Deixamos de imprimir textos apenas em preto e branco, para apresentá-los em diferentes cores e tipos de letras, e amplamente articulados às imagens. Elementos verbais deram espaço aos não verbais. Textos multimodais: aqueles cujos significados realizam-se por mais de um código semiótico. Texto multimodal Na era da multimodalidade, os modos semióticos além da língua são vistos como completamente capazes para servir de representação e comunicação. A língua, seja falada ou escrita, pode agora com mais frequência ser vista como “apoio” aos outros modos semióticos: ao visual, por exemplo. Língua pode agora ser “extravisual”. Texto multimodal Organiza-se a partir dos seguintes domínios: discurso, design, produção e distribuição. Discurso: é constituído de conhecimentos socialmente construídos, ou seja, conhecimentos que se desenvolvem em determinado contexto social e é apropriado aos interesses dos atores sociais situados nesse contexto. Texto multimodal Design: é constituído dos recursos semióticos ou o uso desses recursos. A combinação de todos os modos semióticos utilizados que faz o design. Convenções sociais e todos os conhecimentos culturais determinam como será o design de um texto multimodal, provocando, de certa maneira, uma mudança na situação de comunicação e uma reconstrução dos conhecimentos construídos em situações de interação social. Texto multimodal Produção: refere-se ao modo/forma comoo que se pretende expressar foi organizado no texto, que, de certa maneira, interfere na interpretação do leitor, pois pode provocar diferentes sensações por meio de seus órgãos sensoriais. Distribuição: refere-se ao modo como o texto é veiculado e oferecido à sociedade; tem relação direta com o suporte escolhido para divulgar o texto. INTERVALO Leitura de texto multimodal Leitura de textos com linguagem verbal e a não verbal exige capacidades diferentes, estratégias de observação da multimodalidade: estratégias de seleção, organização e integração de materiais verbais e não verbais. Processo de compreender a significação do texto como um todo. Observação dos elementos pictográficos. Exemplo 3 QUINO. “Toda Mafalda”. SP: Martins, 1993, p. 233. Exemplo 3 (continuação) “A inserção da multimodalidade no escopo de assuntos pertinentes à Linguística Textual implica: um necessário alargamento do conceito de texto, de modo a incorporar nele elementos não verbais (imagem, cor etc.); o emprego de dispositivos analíticos oriundos do campo de estudo do texto, que permita trabalhar com tais signos.” (BENTES, A. C.; LEITE, M. Q. [orgs.]. “Linguística de texto e Análise da conversação”. São Paulo: Cortez, 2010 - com adaptações). Exemplo 3 (continuação) Considerando o texto e a tirinha de Quino, que apresenta a menina Mafalda e seu irmão Guille, assinale a opção em que a análise da tirinha, como texto multimodal, recorre a dispositivos analíticos oriundos do campo de estudo do texto verbal. a) Na tira, observa-se o desapontamento de Malfada com o mundo e como ela cria um meio para mostrar isso ao irmão pequeno, Guille, ou seja, ela recorre à comparação do mundo com o conteúdo fecal da fralda. Esse procedimento é percebido pelo desenho do último quadro em que os dois personagens olham para o conteúdo da fralda. Exemplo 3 (continuação) b) A tira possibilita uma interpretação humorística por meio do procedimento da inversão de conceitos, ou seja, não é comum que uma criança apresente intenso juízo de valor em relação ao mundo, nem seja capaz de pensar no jargão vulgar que é inferido pelo estado dos personagens no último quadro. Exemplo 3 (continuação) c) A tira traz um diálogo entre Mafalda e seu irmão Guille. Os personagens aparecem no primeiro quadrinho e tornam-se os objetos de discurso visuais desse quadro. Todos os quadros seguintes retomam coesivamente os dois personagens, mas, em cada quadro, esses objetos de discurso são reconfigurados pela alteração do desenho, que revela o estado dos personagens. Exemplo 3 (continuação) d) O juízo que Mafalda faz em relação ao mundo não é dito, mas inferido. Essa inferência é também construída pela mudança de enquadramento no último quadro, o que permite observar- se, com mais nitidez, a expressão facial dos personagens. e) O desapontamento de Mafalda apresenta uma forte carga de ironia. A forma como foram utilizados os painéis atua para exprimir esse efeito. Na tira, a posição dos painéis dá pista sobre a ênfase conferida a certos aspectos da narrativa em que recaem a ironia. Exemplo 3 – resposta Resposta correta: E Comentário: para compreender a tirinha, é preciso recorrer tanto ao texto verbal quanto ao não verbal. Verbal: a interpretação depende da carga semântica atribuída à palavra “desapontamento”, ou seja, o leitor precisa observar a fisionomia de Mafalda e relacioná-la a “desapontamento”. Não verbal: interpretação depende da analogia entre mundo e conteúdo da fralda, indicada pelo gesto de Mafalda ao puxar a fralda do irmão. ATÉ A PRÓXIMA!
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