Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA FACULDADE DE NUTRIÇÃO FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A TÉCNICA DIETÉTICA APLICADA ÀS DIETAS MODIFICADAS: MODIFICAÇÕES FÍSICAS Manual teórico para o curso de Graduação em Nutrição Claudete Corrêa de Jesus Chiappini Shizuko Kajishima Wanise Maria de Souza Cruz Março - 2006 2 MODIFICAÇÕES FÍSICAS DA DIETA A dieta normal pode ser modificada, tornando-se assim uma dieta terapêutica específica. As modificações são feitas com os objetivos de favorecer a compensação das alterações orgânicas e suprir as necessidades específicas induzidas pelo momento biológico. As dietas devem ser individualizadas, flexíveis, práticas e viáveis, permitindo ao nutricionista satisfazer ao paciente sem causar transtornos à Unidade de Alimentação e Nutrição. Em relação à consistência das preparações, ela varia de preparações em suas consistências usuais a consistências modificadas fisicamente. Estas modificações devem levar em conta as considerações a seguir. 1. A dieta com consistência normal A dieta com consistência normal, apresenta a consistência usual para cada preparação e não contém qualquer restrição alimentar. O papel do nutricionista é planejar um cardápio diário com alimentos representantes de todos os grupos da pirâmide alimentar, com refeições equilibradas e calculadas para fornecer a energia diária recomendada para o grupo a ser atendido. Para a manutenção da saúde, os guias alimentares têm recomendado que, na dieta normal, seja aumentada a quantidade de ácidos Ômega3 e diminuída as gorduras trans e saturadas, seja aumentado o aporte de carboidratos complexos e fibras e diminuída a quantidade de açúcares simples, e que sejam incluídos alimentos ricos em elementos antioxidantes. 2. A dieta com consistência branda A consistência branda tem por objetivo facilitar a digestão, reduzindo o trabalho mecânico do sistema digestório. Para que isto seja atingido o tecido conjuntivo presente nas carnes deve ser abrandado por cocção úmida ou mista, as fibras das hortaliças abrandadas por cocção e as fibras das frutas abrandadas por subdivisão. Frutas as quais a subdivisão promove escurecimento devem ser coccionadas para manter uma boa aparência sensorial. 3. A dieta com consistência pastosa A consistência pastosa tem por objetivo favorecer a mastigação e a deglutição. Para isto, o tecido conjuntivo deve ser abrandado por cocção úmida ou mista e subdivisão e as fibras das hortaliças abrandadas por cocção e subdivisão. As frutas devem ser servidas em 3 forma de papa crua ou coccionada. 4. A dieta com consistência semilíquida A consistência semilíquida tem por objetivo permitir a ingestão da dieta por sucção. A cocção úmida é realizada de modo prolongado para abrandar o tecido conjuntivo e as fibras e, após a cocção, todas as preparações são liquidificadas e peneiradas (tamisadas), de modo a apresentar uma boa homogeneização, sem pedaços ou grumos de alimentos que dificultem a deglutição. 5. A dieta com consistência líquida completa A consistência líquida completa tem por objetivo permitir a ingestão da dieta por sucção, veicular nutrientes e contribuir com a hidratação. De um modo geral os alimentos são preparados em forma de sopas que, após a cocção, são liquidificadas e peneiradas (tamisadas) para adquirir uma forma líquida homogênea. 6. A dieta com consistência líquida restrita A consistência líquida restrita tem por objetivo estimular as funções digestivas e contribuir com a hidratação. As preparações líquidas devem apresentar transparência. Os alimentos são preparados em forma de caldo e, após a cocção, a preparação é coada para a retirada do resíduo, restando para o consumo o meio líquido de cocção. As frutas são espremidas e o suco é coado para apresentar transparência. É permitido o consumo de chás e geléias. 7. Sopas e caldos As sopas podem ser conceituadas como preparações culinárias de consistência líquida ou semilíquida, compostas por caldo (de carne bovina, aves, pescado ou hortaliças) acrescido de cereais, hortaliças, leguminosas ou macarrão. Desta forma, possuem sabor e valor nutritivo variáveis, de acordo com os ingredientes adicionados. As sopas podem espessas ou ralas, cremosas ou não, salgadas ou doces e servidas quentes ou frias. Os caldos são preparações líquidas, resultantes da cocção de alimentos (carne bovina, aves, pescado ou hortaliças) com temperos, até que as substâncias hidrossolúveis tenham sido extraídas. O valor nutritivo de um caldo é resultante do somatório de seus ingredientes. Considerando que o caldo é coado e os alimentos nele imersos não são consumidos, os caldos, em geral, são constituídos de substâncias extrativas (purinas) e minerais. 4 8. Tecido conjuntivo Embora o comportamento post-mortem das estruturas miofibrilares seja um fator importante na textura da carne de mamíferos e aves, o consumidor está muito mais informado sobre as diferenças na textura que derivam do estado de maturidade do animal e da região da carcaça de onde foi retirada a carne. Estas variações surgem no tecido conectivo do músculo e não dos tecidos contráteis. O tecido conectivo do músculo é composto quase que inteiramente de fibras da proteína colágeno. O colágeno é um material extracelular fabricado pelos fibroblastos e é uma proteína fibrosa relativamente insolúvel em água. A base molecular do colágeno é constituída por cadeias de polipeptídios. A unidade essencial do colágeno é constituída por três cadeias de polipeptídios muito semelhantes (em forma de hélice distendida) entrelaçadas formando uma tripla hélice denominada tropocolágeno. A estrutura é mantida por pontes de hidrogênio entre as três cadeias. As moléculas de tropocolágeno se agrupam formando fibrilas de colágeno (fibrilas = milhares de moléculas de tropocolágeno). Centenas de fibrilas se unem lado a lado formando fibras de colágeno. Embora uma molécula individual de tropocolágeno seja forte, a resistência da fibra de colágeno como um todo dependerá de ligações cruzadas entre as moléculas de tropocolágeno que possam assegurar que as moléculas vizinhas não deslizem umas sobre as outras (Figura 1). Fonte: www.cueronet.com/tecnica/colageno.htm Figura 1. Unidade essencial do colágeno, constituída por três cadeias de polipeptídios entrelaçadas formando uma tripla hélice denominada tropocolágeno. O colágeno é especialmente concentrado nos tecidos que suportam peso, como as cartilagens e os ossos, naqueles que transmitem força, como os tendões, em tecidos de proteção, como as fáscias que recobrem os músculos, e na sustentação de todos as vísceras e vasos sanguíneos. Sabe-se que a carne de animais jovens é mais macia do que a de animais mais velhos. Isto acontece devido ao aumento, à medida que o animal envelhece, no número de ligações cruzadas entre as moléculas de tropocolágeno (em vez de aumento do tecido conectivo total). Evidentemente, existem variações na quantidade de colágeno entre músculos diferentes do mesmo animal, fato importante para a textura da carne. Os cortes 5 mais macios são àqueles com a menor proporção de tecido conectivo como, por exemplo, o músculo Psoas major (filé mignon). Quando a carne é aquecida, as pontes de hidrogênio que mantêm a estrutura do colágeno são enfraquecidas. Com frequência, as fibras encurtam-se à medida que as cadeias polipeptídicas adotam umaestrutura helicoidal mais compacta. Se o aquecimento é prolongado, como no assado de panela, não só as pontes de hidrogênio, mas também algumas das ligações cruzadas serão rompidas. O resultado será a solubilização do colágeno, parte do qual será carreada pelo líquido, podendo causar a gelatinização do molho quando este resfriar e forem restabelecidas as pontes de hidrogênio. 8.1. Cocção para abrandamento Alguns agentes amaciadores podem ser utilizados durante o pré-preparo da carne para o abrandamento do tecido conectivo. A ação mecânica de batedores manuais ou equipamentos com lâminas que seccionam as fibras da carne e ação química de vinha d’alhos contendo um tempero ácido (vinagre ou vinho) são os agentes mais utilizados. O pH ácido da vinha d’alhos hidrolisa as proteínas, continuando a maturação natural conferida pelo ácido láctico. Durante o preparo, o tecido conectivo do tipo colágeno necessita de uma cocção lenta e prolongada para abrandar-se, ou seja, por efeito da energia térmica, as grandes cadeias protéicas helicoidais se estiram e são convertidas em gel (gelatina). Para os cortes de carne como a paleta, o acém, a fraldinha, o peito e a capa de filé, deve-se utilizar calor úmido no preparo. O calor seco é preferencial para o preparo de cortes mais macios, como por exemplo, a alcatra, o lagarto, o peito de frango e os peixes. Para os bifes devem ser preferidos o filé-mignon, o contrafilé e o patinho. A dieta branda pode aproveitar as preparações de carne em calor úmido planejadas para a dieta normal, especialmente quando o pré-preparo já incluiu a subdivisão da carne, como por exemplo, no picadinho, no estrogonofe, no cozido e no molho a bolonhesa. Na dieta pastosa todas as preparações de carne, tendo sido subdivididas ou não no pré-preparo, após coccionadas, são desfiadas para serem servidas aos pacientes. A carne de pescado possui uma musculatura distinta dos mamíferos e das aves, que se dispõe em miótomos separados por tecido conectivo muito frágil (miocomata). Isto faz com que na cocção usual do pescado já se obtenha uma preparação adequada para a aplicação na dieta branda e pastosa. 6 9. Amido O amido ocorre na forma de grânulos de formato geralmente arredondado e irregular. Consiste de dois tipos de polímero de glicose (a amilose, que é essencialmente linear, e a amilopectina, que é bastante ramificada) que estão presentes nos grânulos na forma associada. Grânulos de amido não danificados são insolúveis em água fria devido à força coletiva das interações do tipo pontes de hidrogênio que mantém juntas as cadeias, porém, à medida que a temperatura é elevada ao ponto conhecido como temperatura inicial de gelatinização, a água começa a ser assimilada. As temperaturas iniciais de gelatinização são características de cada amido, entretanto, residem geralmente na faixa de 55 a 70ºC. Enquanto a água está sendo absorvida, os grânulos incham e ocorre perda da estrutura birrefringente, ou seja, do alto grau de orientação molecular. A completa conversão ao estado amorfo é atingida em temperaturas ao redor de 100ºC. Enquanto prossegue o processo de inchamento e os grânulos distendidos se chocam uns contra os outros, a viscosidade da solução (suspensão) aumenta drasticamente. As moléculas de amilose são extraídas dos grânulos inchados e também contribuem para a viscosidade da solução. Se o aquecimento é mantido juntamente com agitação, a viscosidade começa a decair tão logo a integridade dos grânulos é perdida. Se a goma resultante é resfriada, as interações do tipo ponte de hidrogênio entre a amilopectina e a amilose são restabelecidas, elevando a viscosidade e produzindo uma consistência do tipo gel. O amido é encontrado com abundância nos tecidos de plantas como em tubérculos e no endosperma das sementes. É extraído dos grânulos e utilizado como ingrediente de massas, pães e no espessamento de diversas preparações. As alterações descritas acima são familiares àqueles que costumam usar o amido para espessar molhos ou preparar sobremesas, como por exemplo manjar branco. Quando as soluções de amido ou géis são mantidas em repouso por algumas horas, perdem a viscosidade ou exsudam água (sinerese). Ambos os tipos de alteração são devidos a um fenômeno que envolve somente moléculas de amilose, que se associam e cristalizam, denominado retrogradação. O fenômeno de retrogradação é uma sugestão de que nem todo o amido em um alimento está obrigatoriamente disponível, quer dizer, pronto para digestão e absorção no intestino delgado. Em produtos contendo cereais parcialmente moídos que são ingeridos sem cozimento, como por exemplo a granola, uma fração do amido permanece não digerida porque as amilases não conseguem ter acesso completo. Quando o amido é aquecido na ausência de grande quantidade de água, como na confecção de cereais matinais, parte do amido permanece não disponível para a digestão e absorção e é chamado amido resistente. Outro exemplo é a cocção de feijões de baixa qualidade, onde a preparação resulta em muita água no recipiente de cocção e pouca penetração da água nos grãos. Estes tratamentos prolongados a altas temperaturas danificam a estrutura dos grânulos e os tornam imunes aos efeitos das enzimas digestivas e resistentes a gelatinização. Este material, então, pode ser considerado como um componente fibroso insolúvel, cuja 7 fermentação pelas bactérias intestinais produz gases (metano, hidrogênio e dióxido de carbono). 9.1. Cocção para aumento da digestibilidade Quanto às leguminosas, a quantidade de água necessária para intumescer o grão difere de acordo com a variedade do grão. Um bom cozimento pode ser alcançado com a proporção 3:1, ou seja, 3 xícaras de chá de água para cada xícara de chá rasa de grão. As lentilhas e ervilhas são mais tenras e o grão de bico é mais resistente, sendo necessário o remolho para remoção da capa. Entre os cereais, o milho oferece maior resistência à cocção em calor úmido, sendo necessário o remolho no pré-preparo da canjica. A digestão dos cereais e leguminosas é afetada tanto pelo grau de fracionamento do grão como pelo método de cocção. As farinhas possuem um quociente de digestibilidade mais alto do que os grãos integrais, por interferência da celulose contida nos grãos. Os grãos bem cozidos favorecem a digestão e absorção. Mais de 10% do amido total de feijões e 2% do amido presente no pão pertencem à categoria de amido resistente, fator que deve ser considerado nas preparações planejadas para a dieta de consistência branda e pastosa. É importante ressaltar que, quando produtos de panificação são tostados, como por exemplo torradas e biscoitos salgados, o calor hidroliza, parcialmente, o amido (resistente, gelatinizado) a dextrinas, que são compostos mais solúveis em água. Conseqüentemente, a degradação que se inicia na boca, pela ação da ptialina e da amilase salivar, é mais eficiente e torna a digestibilidade maior. 10. Fibras Utilizamos o conceito fibra alimentar ou fibra da dieta para denominar a soma de polissacarídios (celulose, beta-glicanos, hemicelulose, gomas e pectinas), lignina e outros resíduos não digeríveis pelas secreções endógenas do trato gastrintestinal de humanos (Quadro 1). A maior parte da fibra de uma dieta é derivada da parede celular dos vegetais. Apesar disto, estes polissacarídios podem estar associados a outras substâncias como proteínas, cutinas, suberinas, compostos inorgânicos, oxalatos, fitatos, lignina e substâncias fenólicas de baixo peso molecular. Em alguns casos estas associações são físicas, em outros, estas substânciasestão covalentemente ligadas aos polissacarídios, interferindo na estrutura química da fibra e por sua vez nos seus efeitos fisiológicos. Outros compostos podem estar incluídos na fração fibra da dieta e, consequentemente, podem provocar efeitos no organismo. São carboidratos (lactulose, lactose, rafinose), proteínas, produtos de reação formados durante o processamento (produtos da reação de Maillard, amido retrogradado, amido resistente e compostos de caramelização) e aditivos alimentares (gomas e amidos modificados). 8 As fibras podem ser classificadas de acordo com a sua solubilidade em água. A celulose, a lignina, a hemicelulose e algumas pectinas são consideradas insolúveis, ao passo que a maior parte das pectinas, gomas e hemiceluloses é solúvel. Estas características são responsáveis por alguns dos efeitos fisiológicos da fibra da dieta. Compostos Componentes químicos Descrição Cadeia principal Cadeia lateral Polissacarídios Celulose glicose ausente Principal componente estrutural das células das plantas Beta-glicanos glicose ausente Amplamente distribuídos, especialmente nos cereais Hemicelulose xilose manose glicose fucose arabinose galactose ácido galacturônico xilose glicose Polissacarídios da parede celular Pectinas ácido galacturônico- ramnose galactose arabinose arabinose Fazem parte da parede celular primária e lamela média. Encontradas em todos os tecidos da planta. Importante componente da parede de células imaturas Gomas Polissacarídio de algas manose xilose ácido galacturônico glicose galactose Derivados de algas e plantas marinhas Exsudatos galactose ácido glicurônico- manose ácido galacturônico- ramnose xilose fucose galactose Secretados no local da lesão por células secretoras especializadas Gomas de sementes galactose-manose glicose-manose arabinose-xilose ácido galacturônico- ramnose galactose Produzidas pelas células secretoras das plantas, associadas a polissacarídios armazenados nas sementes das plantas Não polissacarídios Lignina álcool sinapílico álcool coniferílico álcool p-cumarílico estrutura tridimensional Polímero de moléculas de fenilpropano Quadro 1. Componentes da fração fibra da dieta ou fibra alimentar 9 Os efeitos da fibra alimentar ocorrem tanto no sistema digestório superior (boca, estômago e intestino delgado) onde acontecem a digestão e a absorção de nutrientes, como na porção inferior (instestino grosso), na qual os resíduos dos alimentos são em parte fermentados pelas bactérias intestinais antes de serem eliminados pelas fezes (Quadro 2). Local Atividade Boca Prolonga a mastigação, retarda a ingestão*, estimula a salivação Estômago Dilui o conteúdo estomacal, prolonga a retenção do alimento, aumenta a saciedade** Instestino delgado Dilui o conteúdo instestinal, substrato de bactérias intestinais, adsorve a água, se liga a cátions Fezes Amolece, aumenta o volume, previne a constipação *Provoca uma redução na quantidade de calorias consumidas **A ingestão de frutas em pedaços levam a um aumento significativo deste efeito quando comparados com a ingestão de quantidade caloricamente equivalente consumida na forma de purês Quadro 2. Efeitos da fibra alimentar no sistema digestório As propriedades físicas das diferentes fontes de fibra (Quadro 3) interferem, também, na velocidade de absorção dos nutrientes pelo intestino delgado. Para que a digestão se complete e os nutrientes sejam absorvidos pelas células da mucosa, os componentes dos alimentos devem estar dispersos na fase aquosa do conteúdo intestinal, facilitando o ataque das enzimas digestivas. Deste modo, mudanças nas propriedades físicas da fase aquosa do conteúdo intestinal, provocadas pela ação da fibra, como aumento de massa, volume e viscosidade, são fatores responsáveis pela diminuição da velocidade de digestão e absorção. Por exemplo, as pectinas e as gomas provocam o aumento da viscosidade do conteúdo gástrico, retardando o tempo de esvaziamento e retendo nutrientes dissolvidos neste meio tornando-os menos disponíveis para absorção. Por outro lado, a celulose adsorve pouca água e não altera a viscosidade do meio, tendo efeito desprezível no processo de absorção. Outro exemplo é a lignina, que pode ligar-se aos ácidos biliares diminuindo a disponibilidade destes compostos e interferindo no mecanismo de absorção dos lipídios. A fibra do alimento pode representar, também, uma barreira física à hidrólise de nutrientes, como por exemplo, a aleurona presente na semente de arroz integral, que diminui a penetração das enzimas e, conseqüentemente, diminui a hidrólise do amido. Durante a fermentação deste amido resistente são produzidos gases (metano, hidrogênio e dióxido de carbono) pela microbiota do intestino grosso. No intestino grosso, a fibra de frutas e vegetais, bem como as pectinas e gomas utilizadas como aditivos, são degradadas pela microbiota presente no colo, formando uma massa fecal rica em bactérias e com uma pequena quantidade de fibra não degradada. Por outro lado, a fibra de cereais praticamente não é degradada, sendo excretada intacta nas fezes. Só uma quantidade pequena desta fibra é fermentada gerando fezes ricas em fibras mas pobres em bactérias. 10 Os produtos resultantes da fermentação da fibra alteram o metabolismo da microbiota intestinal e os ácidos produzidos podem afetar alguns processos metabólicos do intestino grosso, incluindo a absorção de sais, pH e mesmo a função das células epiteliais e o peristaltismo. Componentes da fibra Propriedades físicas Respostas fisiológicas Polissacarídios Degradação por bactérias Produção de ácidos graxos de cadeia curta, flatulência, acidez Polissacarídios com grupos polares Capacidade de se ligar à água Efeito na adsorção de nutrientes, no peso fecal e na velocidade de trânsito no estômago e intestino delgado Lignina, pectina Adsorção de compostos orgânicos Ligação e excreção de ácidos biliares Polissacarídios ácidos Troca iônica Aumento da excreção de minerais Quadro 3. Respostas fisiológicas decorrentes das propriedades físicas dos componentes da fibra alimentar 10.1. Abrandamento das fibras A dieta branda pode aproveitar as preparações de hortaliças coccionadas planejadas para a dieta normal, como por exemplo, as preparações com hortaliças folhosas refogadas e hortaliças frutos coccionadas em calor úmido ou assadas. As frutas devem ser abrandadas por subdivisão. Frutas que apresentam modificações sensoriais quando subdivididas devem ser coccionadas. Na dieta pastosa todas as preparações de hortaliças devem ser abrandadas por cocção e subdivisão. Quando possível, as hortaliças devem ser coccionadas com casca, inteiras e em pedaços grandes, e com volume de água reduzido para minimizar a perda de vitaminas. Após a coccão, as hortaliças devem sofrer subdivisão. Na dieta pastosa são usuais as preparações de hortaliças em forma de papa (purê de batata, purê de cenoura, creme de espinafre). As frutas devem ser servidas em forma de papa, crua para as frutas que permanecem sem alterações sensoriais ou coccionada, para as frutas que escurecem ao perderem a casca. Bibliografia consultada Carrazza, F e Marcondes, E.. Nutrição Clínica em Pediatria. São Paulo: Sarvier, 1996. Coenders, A. Química culinaria. Zaragosa: Acríbia, 1996. Coultate. T.P.. Alimentos: a química de seus componentes. Porto Alegre: Artmed, 2004. Cueronet.com. Estructuradel oolágeno. www.cueronet.com/tecnica/colageno.htm. Consulta realizada em 09/08/2005. Philippi, S.T.. Nutrição e Técnica Dietética. Barueri: Manole, 2003. 11 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta branda Preparação: Hortaliças ao molho branco Nº de clientes: ........ Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça 100g Farinha de trigo ou amido de milho 5g/3g Margarina 5g Sal 1g Leite 40mL Técnica de Preparo 1. Higienizar a hortaliça. 2. Cozinhar abafando em fogo brando. 3. Subdividir a hortaliça (em pedaços grandes para a dieta branda e triturada para a pastosa). 4. Torrar a farinha de trigo. 5. Ferver o leite. Acrescentar a margarina e a farinha dissolvida em um pouco de leite frio. 6. Esperar engrossar (molho branco). 7. Acrescentar a hortaliça. 12 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta branda Preparação: Suflê de hortaliças Nº de clientes: ........ Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça 100g Farinha de trigo ou amido de milho 5g/3g Margarina 5g Sal 1g Leite 40mL Ovo 10g Técnica de Preparo 1. Higienizar a hortaliça. 2. Cozinhar abafando em fogo brando. 3. Subdividir a hortaliça (em pedaços grandes para a dieta branda e triturada para a pastosa). 4. Torrar a farinha de trigo. 5. Ferver o leite. Acrescentar a margarina e farinha dissolvida em um pouco de leite frio. 6. Esperar engrossar e acrescentar a hortaliça. 7. Acrescentar gema e clara batida em neve. 8. Assar em tabuleiro untado. 13 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta branda Preparação: Fruta assada Nº de clientes: ........ Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Fruta 100g Açúcar 5 a 10g Margarina 2 a 5g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a fruta. 2. Em um tabuleiro acrescentar os demais ingredientes e cobrir com papel laminado. 3. Assar em forno moderado. Obs: Para a dieta pastosa amassar para formar papa. 14 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Peito de frango desfiado Nº de clientes: ..05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Peito de Frango 100 g Tomate 10 g Pimentão 10 g Alho 2 g Cebola 5 g Sal 2 g Extrato de Tomate 5 g Vinagre 1,5 mL Óleo 5 mL Água q.s Técnica de Preparo 1. Retirar a pele e gordura do peito de frango, 2. Cortar os peitos em filés, 3. Retirar a casca do tomate, 4. Fazer um vinha d’alho, com sal, alho e vinagre. Deixar no tempero por 20 min, 5. Dourar a cebola em óleo quente, refogar os filés, 6. Acrescentar o tomate, pimentão e o extrato de tomate, 7. Adicionar água fervente aos poucos, mantendo a panela tampada em fogo brando até amaciar, 8. Desfiar o frango. 15 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Espinafre refogado-liquidificado Nº de clientes: ...05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Espinafre 40 g Alho 1 g Cebola 2 g Sal 0,5 g Óleo 1 mL Técnica de Preparo 1. Higienizar o espinafre, 2. Amassar o alho ralar a cebola, 3. Adiconar esses temperos em panela com óleo aquecido, deixar dourar, 4. Adicionar o espinafre e o sal, 5. Refogar até o amolecimento das folhas, 6. Esfriar um pouco e liquidificar. 16 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Purê de hortaliça C Nº de clientes: ........ Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça C 100g Margarina ou manteiga 5g Leite 20mL Sal 1g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a hortaliça. 2. Cozinhar com água suficiente para cobrir. 3. Triturar a hortaliça. 4. Acrescentar os demais ingredientes a hortaliça e cozinhar mexendo até homogeneizar. FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Purê de hortaliça B Nº de clientes: ........ Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça B 100g Margarina ou manteiga 5g Leite 20mL Sal 1g Farinha de trigo ou amido de milho 3g /1,5g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a hortaliça. 2. Cozinhar com água suficiente para cobrir. 3. Triturar a hortaliça. 4. Ferver o leite. Acrescentar a margarina e afarinha dissolvida em um pouco de leite frio. 17 5. Esperar engrossar e acrescentar a hortaliça triturada. FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Arroz papa Nº de clientes: ...05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Arroz 50 g Óleo 3 mL Cebola 3 g Água 250 mL Sal 1,5 g Técnica de Preparo 1. Catar e lavar o arroz, 2. Refogar a cebola picada no óleo, 3. Juntar o arroz e deixar fritar bem, 4. Acrescentar a água fervente e o sal, 5. Deixar coccionar em fogo brando, 6. Servir quente (min. 60ºc). 18 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOSLABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Feijão liquidificado Nº de clientes: ...05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Feijão preto 40 g Água 200 mL Louro 0,5 g Sal 1,5 g Óleo 5 mL Cebola 3 g Alho 0,5 g Técnica de Preparo 1. Catar o feijão, 2. Lavar o feijão, 3. Misturar a água, o feijão, o louro e o sal, cozinhar sob pressão em fogo brando aproximadamente por 30 minutos e reservar, 4. Aquecer o óleo e dourar a cebola picada e o alho socado, 5. Misturar o refogado ao feijão e ferver por 10 minutos em fogo brando com a panela tampada, 6. Adicionar água para aumentar o caldo se necessário, 7. Liquidificar o feijão e servir quente (min. 600c). 19 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Arroz doce Nº de clientes: ...05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Arroz 50 g Água 200 mL Leite 60 mL Açúcar 36 g Leite de coco 30 mL Canela em pau 0,5 g Técnica de Preparo 1. Catar e lavar o arroz, 2. Misturar o leite, açúcar e o leite de coco, e reservar, 3. Cozinhar o arroz em água com canela, 4. Adicionar a mistura, quando o arroz estiver quase seco, 5. Deixar cozinhar em fogo brando até secar o líquido. 20 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta pastosa Preparação: Refresco de uva Nº de clientes: ...05.... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Suco de uva 50 mL Água 150 mL Açúcar 10 % Técnica de Preparo 1. Misturar ao suco, a água e o açúcar, 2. Servir gelado (máx. 10ºC). 21 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta semi-líquida Preparação: Sopa de hortaliças Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça A 30g Hortaliça B 50g Hortaliça C 40g Carne (bovina, ave, víscera) 30g Cebola 2g Alho 0,5g Sal 2g Óleo 3mL Técnica de Preparo 1. Limpar a carne retirando as aparas. 2. Cozinhar a carne sob pressão com pouca água. 3. Acrescentar as hortaliças e cozinhar em fogo brando, acrescentar água quente, se necessário. 4. Refogar a cebola e o alho e acrescentar na sopa. 5. Liquidificar e tamisar. A consistência deve ser de sopa espessa adequada para ingestão por sucção. Obs: Porção deve ser 300 a 350mL Substituir hortaliça C por: 15g de cereais e 20 g de leguminosa 22 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta líquida completa Preparação: Sopa de hortaliças Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Hortaliça A 30g Hortaliça B 40g Hortaliça C 30g Carne (bovina, aves, víscera, etc) 20g Cebola 2g Alho 0,5g Sal 2g Óleo 3mL Técnica de Preparo 1. Limpar a carne retirando as aparas. 2. Cozinhar a carne sob pressão com água suficiente para cobrir. 3. Acrescentar as hortaliças e cozinhar em fogo brando, acrescentar água quente, se necessário. 4. Refogar a cebola e o alho e acrescentar a sopa. 5. Liquidificar e tamisar. A consistência deve ser de sopa líquida adequada para ingestão por sucção. Obs. Porção deve ser 300 a 350mL Substituir a hortaliça C por: 10g de cereais e 15g de leguminosa 23 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta semi-líquida Preparação: Leite enriquecido (batido) com frutas Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Fruta 60g Leite 140mL Açúcar 10 a 20g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a fruta. 2. Processar a fruta e o leite no liqüidificador. A consistência deve ser de bebida espessa adequada para ingestão por sucção. 3. Servir em seguida. FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta líquida completa Preparação: Leite enriquecido (batido) com frutas Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Fruta 30g Leite 170mL Açúcar 10 a 20g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a fruta. 2. Processar a fruta e o leite no liqüidificador. A consistência deve ser de bebida líquida adequada para ingestão por sucção. 3. Servir em seguida. 24 FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta semi-líquida Preparação: Leite enriquecido (batido) com frutas e farinha Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Fruta 40g Leite 140mL Açúcar 10 a 20g Farinha de cereais (Neston, farinha láctea ou Mucilon) 5g Técnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a fruta. 2. Processar a fruta, a farinha e o leite no liquidificador. A consistência deve ser de bebida espessa adequada para ingestão por sucção. 3. Servir em seguida. FACULDADE DE NUTRIÇÃO SETOR DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E DIETÉTICA FICHA TÉCNICA DE PREPARAÇÃO Unidade: Dietas com Modificações Físicas – dieta líquida completa Preparação: Leite enriquecido (batido) com frutas e farinha Nº de clientes: ......... Ingredientes PC FC PB Quantidade Total Peso/Volume Unidade Fruta 20g Leite 170mL Açúcar 10 a 20g Farinha de cereais (Neston, farinha láctea ou Mucilon) 3gTécnica de Preparo 1. Higienizar, descascar e subdividir a fruta. 2. Processar a fruta, a farinha e o leite no liquidificador. A consistência deve ser de bebida líquida adequada para ingestão por sucção. 3. Servir em seguida.
Compartilhar