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DIR.CIVIL V PARENTESCO

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DIREITO CIVIL DAS FAMÍLIAS PARENTESCO Acadêmico Mauro Anjos
DIREITO DAS FAMÍLIAS
DAS RELAÇÕES DEPARENTESCO (arts. 1.591 a 1.638 e 1.689 a 1.693)
 Parentesco é um vínculo que une pessoas. No Direito atual, não constitui tarefa fácil tentar completar o conceito. Tradicionalmente, definia-se parentesco como o vínculo que une pessoas de um mesmo tronco ancestral, como pais, filhos, irmãos, tios etc. Faltava na ideia a questão do parentesco por afinidade, que une pessoas de troncos diferentes em razão do casamento ou da união estável: os sogros, genros, cunhados etc. Ademais, ante as mudanças sofridas no instituto da família, surgiram as pessoas que entre si não têm relação de ancestralidade, mas sim de socioafetividade, como ocorre com os pais e filhos adotivos.
 Talvez seja possível conceituar parentesco como um vínculo que une pessoas em uma mesma estrutura familiar, seja em razão de ancestralidade, de socioafetividade ou de casamento ou união estável. Mas o melhor, afinal, seria dar novo conteúdo às ideias de “ancestralidade”, “ascendência” e “descendência”, que têm um fundo biológico, para nelas incluir a socioafetividade, de modo que, no Direito, os vocábulos ancestrais, ascendentes e descendentes se referissem tanto aos indivíduos que ocupam tais posições na estrutura familiar por consanguinidade quanto por socioafetividade.
 O parentesco se diz natural quando o vínculo tem origem biológica ou consanguínea, e civil (parentes por afinidade) quando se origina de outra causa (art. 1.593 do Código), que pode ser o casamento ou a união estável (art. 1.595) ou uma relação socioafetiva: adoção (art. 1.596, primeira parte). Ou seja, parentes naturais são os que nascem parentes, vez que compartilham elementos genéticos, enquanto parentes civis são os que se tornam parentes pelo casamento ou pela união estável – chamados de parentes por afinidade – e os que se tornam parentes por desenvolver uma relação socioafetiva, como ocorre com a adoção.
 Aqui, cabe lembrar ao leitor que a Constituição proíbe a discriminação entre os filhos (art. 227, § 6º), norma repetida pela segunda parte do art. 1.596 do Código, razão pela qual não se pode usar a classificação doutrinária quanto à origem do vínculo de parentesco como forma de distinguir axiologicamente “filhos naturais ou biológicos” de “filhos civis ou adotivos”.
 Com relação ao parentesco por afinidade (parentes civis são os que se tornam parentes pelo casamento ou pela união estável), cumpre destacar que se limita aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro (art. 1.595, § 1º) e, na linha reta, não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável (art. 1.595, § 2º). Fala-se em parentesco em linha reta com relação à posição vertical da estrutura familiar. Classicamente, usam-se as noções de ascendência e descendência para caracterizar a linha reta (art. 1.591), sendo necessário considerarem-se também a ascendência e a descendência socioafetiva. Impende ressaltar que o parentesco na linha reta é infinito, ou seja, mesmo os ancestrais muito remotos continuam sempre sendo parentes.
 O parentesco se dá em linha colateral (ou transversal) com relação às posições horizontais e transversais da estrutura familiar, em consideração a um ancestral comum. No Direito brasileiro atual, para fins jurídicos somente se considera o parentesco em linha colateral até o quarto grau.
 Os graus são contados, na linha reta, um por geração (art. 1.594, primeira parte); na linha colateral, deve-se percorrer o caminho entre os parentes que estão sendo examinados, passando sempre pelo ancestral comum, e contando um grau a cada indivíduo (art. 1.594, segunda parte). Ou seja, na linha reta, o pai é parente de primeiro grau do filho, e o avô de segundo grau do neto, o bisavô de terceiro grau do bisneto etc. Na linha colateral, entre os irmãos A e B, devem-se contar um grau de A ao pai (ou à mãe), e mais um grau do pai (ou da mãe) até B; logo, os irmãos são parentes de segundo grau. Entre os primos C e D, devem-se contar um grau até o pai (ou mãe) de C, mais um grau até o avô (ou avó) de C (ancestral comum), descer mais um grau até o pai (ou mãe) de D, e mais um até D; logo, primos são parentes de quarto grau.
 Nos esquemas a seguir, ilustramos a estrutura familiar do indivíduo A, bem como as contagens de grau, nas linhas reta e colateral.
ESTRUTURA FAMILIAR DE A
CONTAGEM DE GRAU EM LINHA RETA
CONTAGEM DE GRAU EM LINHA COLATERAL
 O parentesco não abrange somente as relações de vinculação de umas pessoas às outras por um vínculo de descendência (pais biológicos e seus filhos de sangue, avós e netos etc). Também pode abranger ligações por um tronco ancestral comum (tios e sobrinhos, primos). Diz-se o parentesco por descendência ou pelo tronco comum como consanguíneo. Também há o parentesco civil (representado pela vinculação entre adotantes e adotados) e o por afinidade, entre determinada pessoa e os parentes de seu cônjuge (ou companheiro). Essas formas de parentesco são especialmente importantes quando se trata de impedimento matrimonial (art. 1.521, I a V, do CC), inelegibilidade (art. 14, § 7º, da CF) e óbice para prestar depoimento (art. 447, § 2º, I, do CPC/2015 e 206 do CPP).
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes.
 O parentesco em linha reta vincula pessoas que descendam umas das outras. Esse parentesco não tem limitações - ou seja, apanhando-se como referência determinada pessoa, todas aquelas das quais se originou (bisavós, avós, pais) serão seus parentes. O mesmo se fala em relação àquelas pessoas originadas a partir de determinado indivíduo (filhos, netos, bisnetos). Cada geração corresponde a um grau.
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra.
 A relação de parentesco em linha colateral, ao contrário da linha reta, tem limite imposto pelo legislador: vai até o quarto grau (nesse ponto, houve mudança profunda, já que o art. 331 do CC/1916 estabelecia essa modalidade de parentesco até o sexto grau). A limitação tem explicação lógica, na medida em que, ultrapassado o quarto grau, as relações intrafamiliares são ténues de tal forma que não servem para fazer surtir qualquer efeito jurídico relevante. Atualmente, quando se fala em parentesco além do quarto grau, entende-se como meramente de ordem afetiva, não servindo de base para o estabelecimento de direitos ou deveres perante o ordenamento jurídico.
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem.
 O parentesco natural não só existe em termos de vinculação entre pessoas pela linha reta ou colateral. Pode ele ser classificado como duplo (filiação derivada de ambos os genitores) ou simples (de apenas um deles). Os irmãos podem ser germanos (nascidos dos mesmos pais) ou unilaterais (nascidos de um só deles). Nesta última categoria se inserem os irmãos uterinos (mesma mãe e pais diferentes) e consanguíneos (mesmo pai e mães diversas). Já o parentesco civil se refere à adoção, que vincula adotantes e adotados sem restrições ou diferenciações, como se uns descendessem dos outros. Nessa esfera não se inclui o filho de criação, que não guarda qualquer relação de parentesco com aquele que o teve sob sua responsabilidade. Nesse sentido:TJSP, Ap. Cível n. 990.10.238200, 9a Câm.de Dir. Priv., rei. Des.Grava Brazil, j. 24.08.2010. 
 Há entendimento jurisprudencial sobre a possibilidade de reconhecimento da paternidade socioafetiva se o filho de criação e o pai socioafetivo vivem sob o mesmo teto, como se filho e pai biológicos fossem, sendo reconhecidos direitos ao filho de criação (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 0050835-80.2009.8.26.0000, 34a Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Cristina Zucchi, j. 18.10.2011;TJRS, Ap.Cível n. 70.007.016.710, 8a Câm. Cível, rei.Des. Rui Portanova,j. 13.11.2003). Em sentido contrário: TJSP, Ap. Cível n. 990.10.238200, 9a Câm. de Dir. Priv., rei. Des.Grava Brazil,j. 24.08.2010.
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.
 Para a contagem dos graus de parentesco na linha reta, apanha-se determinado indivíduo como referência e vão sendo contados os descendentes ou ascendentes, dependendo do grau que se deseje apurar. Por exemplo: se esse indivíduo é o neto, será parente do avô em segundo grau (como cada geração corresponde a um grau, conta-se o pai no primeiro grau e o avô no segundo). Cabe destacar que serão tantos os graus quanto forem as gerações.
 Já no que tange ao parentesco na linha colateral, apanha-se determinada pessoa como referência, contam-se os parentes um a um subindo até o ascendente comum e depois descendo até o parente almejado. Exemplo: deseja-se saber o parentesco de alguém em relação ao primo (filho do tio paterno).
 Assim, conta-se o pai, depois o avô paterno (ascendente comum), depois o tio (irmão do pai) e em seguida o primo (filho do tio). Tem-se o parentesco colateral em quarto grau.
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
 A afinidade constitui vínculo entre o cônjuge (ou companheiro) e os parentes do outro. À semelhança do que ocorre no parentesco consanguíneo em linha reta, temos afinidade em primeiro grau, por exemplo, entre sogros e genro/nora e entre padrastos e enteados. Na língua inglesa, essa figura assume idênticas feições, sendo o sogro chamado father-in-law; a sogra, mother-in-law; cunhada/cunhado, sister-in-law/brother-in-law. Ou seja, para todos os efeitos existe um parentesco afim de tal forma intenso que se assemelha ao parentesco consanguíneo, inclusive para fim de contagem de linhas.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
 Embora haja aparente limitação pelo § 1º do art. 1.595, vislumbra-se ausência de limites quando se trata de ascendência e descendência. Ou seja, na linha reta, o parentesco por afinidade é tão ilimitado quanto o por consanguinidade. Já na linha colateral, encontra-se expressa restrição, não indo o parentesco além do segundo grau (limitação aos irmãos do cônjuge ou companheiro). Nesse sentido: TJSP, AI n. 990.10.410650-8, 6a Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Percival Nogueira, j. 30.09.2010; TJSP, AI n.9021872-11.2006.8.26.0000, 10a Câm.de Dir. Públ., rei. Des. Urbano Ruiz, j. 03.04.2006).
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.
 O parentesco por afinidade, mesmo sobrevindo à dissolução do casamento ou da união estável, subsiste na linha reta - até mesmo porque constitui impedimento matrimonial previsto no art. 1.521, II, do CC.
DA FILIAÇÃO
 A filiação constitui o vínculo entre pais e filhos. Analisando a filiação do ponto de vista do parentesco, pode ser classificada como um liame consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre determinado indivíduo e os pais (Antonio Chaves). Nem sempre a filiação é oriunda de relacionamento sexual entre pai e mãe. Pode decorrer de inseminação artificial ou fertilização in vitro. O direito à filiação não é nominalmente indicado pela legislação, mas há o direito ao reconhecimento da filiação (art. 26 da Lei n. 8.069/90).
 De forma mais ampla, há o direito ao respeito da criança e do adolescente (art. 17 da Lei n. 8.069/90) que abrange o direito de preservação da identidade. Este, por sua vez, agrega o direito a ter um pai e uma mãe, de ter um nome a ostentar perante a comunidade e de ser reconhecido como pertencente a este ou aquele grupo familiar. A Lei n. 11.804/2008, por seu turno, ao dispor sobre os alimentos gravídicos, prevê a "existência de indícios de paternidade" para sua concessão (art. 6º, caput), sendo que a discussão sobre o vínculo de filiação poderá ser realizada pelo suposto pai ou pelo filho posteriormente (art. 6º, parágrafo único). Segundo a Lei n. 12.004/2009, em seu art. 2º-A, parágrafo único, a recusa do suposto genitor em se submeter ao exame de código genético (DNA) gerará a presunção de paternidade, mas tal ocorrerá na apreciação do contexto probatório, não constituindo presunção ius et de jure (presunção absoluta).
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
 Com o advento da CF (mais especificamente com o art. 227, § 6º), aboliu-se toda e qualquer menção discriminatória que se fazia a respeito dos filhos. Não se fala mais na filiação ilegítima-mais especificamente nos filhos espúrios (que podiam ser adulterinos ou incestuosos). Se a filiação decorre ou não do casamento, ou se houve adoção, os direitos (e via de consequência, também os deveres) são iguais para todos os filhos -inclusive o filho adotivo atualmente concorre com os biológicos em se tratando de sucessão hereditária (opostamente ao que era previsto no art. 377 do CC/1916). Essa igualdade entre os filhos determinada pela Magna Carta também foi objeto de previsão nas Leis ns. 8.069/90 (art.41, caput) e 8.560/92 (arts. 5º e 6º).
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento o filhos:
 Não há a possibilidade de presunção direta da paternidade. O CC é fundamentado em presunções baseadas em probabilidades, daí seu caráter relativo (juris tantum) em relação ao pai. Em relação a terceiros, essa presunção é absoluta (juris et dejure), pois ninguém pode colocar judicialmente em dúvida a paternidade atribuída a outrem por falta de legitimidade para a ação. O CC adota a teoria romana segundo a qualpater is est quemjustae nuptiae demonstrant (pai é aquele que o matrimônio como tal indica). Portanto, até que se prove o contrário em eventual ação promovida pelo marido, foi este que gerou o filho da mulher com ele casada. Nesse sentido: TJSP, AI n. 631.624-4/9, 5a Câm. de Dir. Priv.,rei. Des. Oscarlino Moeller,j. 27.05.2009.
I- nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
 A presunção se refere a esse prazo tendo em vista o efetivo estabelecimento da convivência conjugal, não o dia em que se celebrou o casamento (Pontes de Miranda lembra os casos de casamento por procuração). O prazo mínimo de gestação é de cerca de seis meses, de acordo com a medicina, havendo maturidade fetal (que torna possível o nascimento com vida), conforme lições de Almeida Júnior e Reynaldo Porchat.
II- nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
 O CC aponta esse prazo de trezentos dias porque a gestação humana não vai além desse período, de acordo com estudos na área da Medicina. Tal se dá especialmente em caso no qual a mulher contrai novo matrimônio logo depois de enviuvar, em descumprimento a causa suspensiva prevista no art. 1.523, II, do CC.
III- havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
 Na fecundação artificial homóloga, o sémen é doado pelo marido. O uso desse material depende da anuência prévia do doador, já que se trata de propriedade de parte destacada de seu corpo (o procedimento está previsto na Resolução n. 1.957/2010 do Conselho Federal de Medicina). A disposição sobre a fecundação artificial homóloga está intimamente relacionada com o disposto no art. 1.799, I, do CC, já que o material genético estará separado para futura fertilização (inseminação post mortem). O marido, por ocasião de elaboração de seu testamento, poderá contemplar os filhos que serão concebidos com o material por ele doado -com a ressalva deque esses filhos estejam vivos quando da abertura da sucessão (princípio da saisine).
IV- havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
 No caso de embriões excedentários ainda não implantados, considera-se a existência de um ser já concebido que está aguardando in vitro ou na crioconservação a implantação no ventre materno (segundo Silmara Juny de Abreu Chinellato). Aplica-se aqui o disposto nos arts. 2º e 1.798, ambos do CC, pois já há uma concepção. Ainda segundo os princípios gerais das normas éticas para as técnicas de reprodução humana (Resolução n. 1.957/2010), há restrições à implantação de embriões no ventre materno (não deve ultrapassar o número de quatro) e, em caso de gravidez múltipla, proíbe-se a manobra de redução embrionária.
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
 Na inseminação artificial heteróloga, tem-se a doação de esperma por outro homem que não o marido. Este deverá consentir previamente, de forma livre e espontânea, com a fertilização -e nesse caso a anuência será irretratável. O marido somente poderá contestar a paternidade nesse caso se houver alegação com forte lastro probatório no sentido de que teria havido vício de consentimento para a fertilização. Caso a mulher se submeta a inseminação heteróloga não consentida pelo marido, poderá ocasionar o reconhecimento de conduta desonrosa (art. 1.573, VI, do CC), uma das causas para a separação do casal. Para evitar conflitos a respeito de vício no consentimento do marido para a inseminação artificial heteróloga, o ideal é que se colha a manifestação de vontade por escrito, prevalecendo o princípio da segurança das relações jurídicas (segundo Maria Helena Diniz).
Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1.597.
 Faz-se remissão à presunção juris tantum (apenas de direito), presunção relativa, válida até que se prove o contrário. Nascendo o filho antes do prazo previsto no art. 1.523, II, do CC -ou seja, antes dos dez meses contados a partir do início da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal, em descumprimento a causa suspensiva do matrimonio-, presumir-se-á o filho do primeiro marido. Da mesma forma, nascendo o filho após esse período e já tendo decorrido 180 dias do estabelecimento do novo convívio conjugal, será presumido como do segundo marido.
Art. 1.599. A prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da paternidade.
 A impotência, segundo a literatura médica, é designada por elementos que ao final indicam impossibilidade de fazer surgir uma nova vida. É dividida em impotência para o coito (impotência coeundi, que pode ser traduzida exemplificativamente no homem pela ausência de ereção peniana, e na mulher pelo estreitamento do canal vaginal, a tornar insuportável a relação sexual) e impotência para gerar (impotência generandi, que corresponde a ausência de gametas masculinos e/ou femininos para a geração de uma nova vida). Essa impotência para gerar pode se dar tanto pela forma de intervenção médica, como na vasectomia e na laqueadura (nesses casos, espermatozóides não são expelidos e o óvulo não se desloca para as trompas de Falópio), como por problemas biológicos (como na azoospermia, na qual o homem não produz espermatozóides; ou na acidez do canal vaginal, que destrói os gametas do homem). Pelo art. 1.599, deverá haver a comprovação pelo cônjuge por provas cabais no sentido de demonstrar que, à época da concepção, existia a impotência para gerar. Todavia, a impotência coeundi não serve de argumento para tanto, principalmente porque atualmente existem métodos científicos capazes de afastar a infertilidade, como na coleta de esperma no epidídimo, com posterior inseminação artificial. Também a vasectomia não serve de argumento para a contestação da paternidade, já que, conforme estudos médicos, esse procedimento cirúrgico no homem é reversível, fazendo com que o homem volte a ser fértil. O art. 1.599 traz um avanço na medida em que aborda apenas a impotência generandi ao contrário do CC/1916, que em seu art. 342 fazia menção à impotência de uma forma vaga e genérica. A impotência generandi deve estar baseada em elementos seguros para afastar a presunção da paternidade. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 587.141-4/0, 4a Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Ênio Santarelli Zuliani, j. 27.08.2009.
Art. 1.600. Não basta o adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da paternidade.
 O adultério da mulher não pode servir de argumento único para que seja ilidida a presunção da paternidade. Embora nos dias atuais haja inúmeros casos de múltiplos relacionamentos extraconjugais, mesmo que a mulher confesse ter praticado adultério, esse fator não será suficiente para afastar o marido da paternidade (V. art. 1.602 do CC). Para que tal seja excluída, necessário se faz, acima de tudo, realizar o exame pericial. A análise da estrutura do DNA das partes serve de base suficiente para espancar qualquer dúvida.
 Todavia, esse exame constitui apenas uma das provas possíveis. Paralelamente, existem argumentos que, se comprovados judicialmente por provas robustas, também servirão para afastar a paternidade (ausência de coabitação por tempo suficiente para a geração do filho, quer por rompimento da sociedade conjugal, quer por elementos alheios, como o trabalho no exterior ou o serviço militar durante campanha das Forças Armadas).
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível.
 Pelo CC/1916, havia o estabelecimento de prescrição para contestação da paternidade (pelo art. 178, § 3º, em dois meses, contados do nascimento, se o marido era presente, e pelo § 4º, I, em três meses, contados do retorno ao lar, se ausente o cônjuge, ou no caso de ocultação do nascimento, contados da data do conhecimento do fato). Hoje esse prazo foi abolido, havendo a imprescritibilidade da ação para contestar a paternidade (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 372.017-4/1, Ia Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Luiz Antonio de Go¬ doy, j. 07.06.2005). Analisando por outro prisma, foi estabelecida uma situação de igualdade para com o filho, que já tinha como imprescritível o direito do reconhecimento do estado de filiação, de acordo com o art. 27 da Lei n. 8.069/90. É interessante ressaltar que ao homem que reconheceu como sendo seu um filho que sabia ser de outrem não se confere legitimidade para a propositura da ação. Aqui, a filiação socioafetiva há de prevalecer sobre a biológica, já que, quando realizou o registro, o homem já conhecia a anterior situação do filho, não sendo válido contestá-la a seu bel-prazer, sob pena de abalo da estruturação sociofamiliar já estabelecida em torno daquele filho cujo reconhecimento foi realizado (nesse sentido: TJSP,Ap. Cível n. 137.526-4, 9a Câm. de Dir.Priv., rei. Des. Silva Rico,j. 14.03.2000;em sentido contrário,TJSP, Al n. 9037688-96.2007.8.26.0000, 7a Câm. de Dir. Priv., rei. Des.José Carlos Ferreira Alves, j. 03.10.2007).
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na ação.
 O fato de os herdeiros poderem prosseguir na ação que contesta a paternidade tem sua razão de ser pelo interesse que possuem, já que, com a exclusão do filho cujo vínculo é questionado, aumentar-se-á o quinhão devido a cada um dos demais herdeiros por ocasião da sucessão. O que não se admite é que os que sucedem se antecipem e que postulem em juízo em nome próprio e argumentando direito próprio sob o argumento de contestaçãoda paternidade. Tal se dá exclusivamente como sucedâneo de uma sequência fática na qual o pai que propõe a ação vem a falecer, dando a oportunidade a seus herdeiros para que prossigam como questionamento de determinada paternidade.
Art. 1.602. Não basta a confissão materna para excluir a paternidade.
 A mera confissão da genitora de que cometeu adultério (art. 1.600 do CC) não é suficiente para a exclusão da paternidade. A mãe pode agir impulsionada por sentimentos escusos, como ódio ou vingança. Como há em jogo a discussão sobre um direito de personalidade, mister se faz que seja o vínculo filial resguardado da maior forma possível, pois o filho tem direito a ter um nome e a ter uma identidade como resultante do corolário básico previsto no art. 17 da Lei n. 8.069/90. Se assim o é, a mera alegação de adultério pela mãe não é o bastante para desconstituir o liame paternal, devendo haver a produção de uma gama de provas suficientemente robustas para afastar a paternidade (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 578.077-4/6, Ia Câm. De Dir. Priv., rei. Des. Luiz Antonio de Godoy,j. 05.05.2009; TJSP, Ap. Cível n 9279246-30.2008.8.26.0000, 9a Câm.de Dir. Priv., rei. Des. Piva Rodrigues, j. 05.05.2009) - e, para o bem-estar do jovem, estabelecer outra, já que não será visto com bons olhos pelo ordenamento jurídico o afastamento de um pai do assento de nascimento do filho para fazer dele constar apenas a ascendência materna.
Art. 1.603. A filiação prova-se pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil.
 O procedimento de registro do nascimento se regula pelos dispositivos constantes dos arts. 50 a 66 da Lei n. 6.015/73 (LRP). Há vozes dissonantes em relação ao art. 1.603 do CC, como o IBDFam, que o considera desnecessário, argumentando que a certidão, por se revestir de fé pública, prova o que está nela atestado (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n.990.09.373289-0, Ia Câm.de Dir. Priv., rei. Des. Paulo Eduardo Razuk, j. 20.04.2010). Todavia, estatísticas do IBGE mostram que até hoje é ainda grande o número de nascimentos que não são registrados em cartório. Atualmente, para resolver esse problema, a legislação busca fazer com que todas as situações de filiação em que há clandestinidade registrária se convertam em elaboração do assento de nascimento. Prova disso é o art. 102, § 1ª, da Lei n. 8.069/90, que determina que, inexistente o assento de nascimento de determinada criança ou adolescente, seja providenciado o registro com base nos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária. Ainda segundo o disposto no art. 46 da Lei n.6.015/73 (LRP),com a redação dada pelo art. 1ª da Lei n. 11.790/2008, permite-se o registro extemporâneo da declaração de nascimento no Cartório de Registro Civil, desde que o requerimento de registro seja assinado por duas testemunhas. O oficial do registro civil, nesse caso, poderá exigir mais provas se suspeitar de falsidade da declaração ou, persistindo a dúvida, levar o caso ao conhecimento da autoridade judiciária.
Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro.
 O homem não pode contestar a paternidade em relação ao filho que assumiu no registro mesmo sabendo ser outro o verdadeiro genitor, em razão de tal irresignação significar um gesto de mutilação da paternidade socioafetiva construída após uma convivência já estabelecida entre pai e filho. Igualmente não pode questionar essa paternidade sem provas quanto ao erro substancial, sob pena de ser reconhecida a adoção por instrumento impróprio efetivado de modo unilateral pelo requerente (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 9070424-70.2007.8.26.0000, 3° Câm.de Dir.Priv., rei. Des.Adilson de Andrade, j. 17.02.2009). Da mesma forma, o marido não pode questionar a filiação decorrente de inseminação artificial heteróloga com a qual concordou (art.1.597, V, do CC), a não ser que tenha havido vício nesse consentimento. Fato interessante que costumeiramente ocorre e é levado à Justiça é o dos avós que se declaram pais de determinado jovem, em caso em que a mãe é solteira (nesse caso, alegando resguardar a honra dessa genitora e da própria criança). A mãe biológica posteriormente busca a Justiça para reverter essa situação e restabelecer a verdade. Os avós terão praticado crime consistente em registrar como seu filho o de outrem (art. 242, caput do CP). Também há os casos de "adoção à brasileira", em que casais (em sua maioria sem filhos, de classe média e com idade acima dos 40 anos, segundo estudos estatísticos feitos pela Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude da Lapa no ano de 2003 junto à Vara da Infância e da Juventude do Foro Regional da Lapa, na Comarca da Capital) registram como seu o filho o de terceira pessoa, alegando parto em domicílio. Em todas essas situações, os responsáveis pelo registro de nascimento com dados inverídicos respondem penalmente pelo gesto e há o restabelecimento da verdade, anulando-se o assento maculado e lavrando-se outro, com os dados reais a respeito da filiação. Para buscar a anulação, a parte deverá se valer de processo contencioso (art. 113 da Lei n. 6.015/73).
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo admissível em direito:
 Na prática, os juízes de direito têm determinado a lavratura (caso inexistente) ou averbação (caso incompleto) do assento de nascimento com base em: 
a) provas documentais, como a declaração de nascido vivo da criança expedida pelo hospital onde se deu o parto e a declaração por instrumento hábil redigido pelo pai assumindo seu vínculo para com o filho, e
b) provas testemunhais (muito úteis quando os documentos hospitalares foram extraviados, danificados ou destruídos ou o suposto pai faleceu antes de poder confirmar em juízo a paternidade em relação a determinada criança ou adolescente). 
 Essa elaboração ou complementação do assento de nascimento é considerada ato que acompanha as medidas de proteção aos jovens (art. 102 da Lei n. 8.069/90).
I- quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente;
 Todo e qualquer documento elaborado por um dos pais (ou ambos) no sentido de afirmar a filiação é válido. Poderá existir carta de pai ou de mãe para filho na qual é feita expressamente a menção a esse vínculo, ilustrativamente falando. Também as missivas a terceiros abordando as relações entre pais e filho são válidas para fim de prova de filiação. Esses documentos, todavia, não excluem outros, podendo haver complementação, por exemplo, com fotografias em que o pai ou a mãe aparecem na companhia do filho.
II- quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.
 Aqui se faz menção a ensinamento de Clóvis Beviláqua a respeito dos elementos de presunção decorrentes da posse do estado de filho. O indivíduo que é criado e educado por determinada(s) pessoa(s) poderá pleitear o reconhecimento da paternidade em Juízo, desde que seu pedido seja acompanhado dos seguintes elementos: 
a) nominativo, que vem a ser o uso constante de família do(s) pretendido(s) pai(s); 
b) tractatus, que é a situação na qual o indivíduo é tratado como filho pelo grupo familiar e 
c) reputado (ou fama), consistente no reconhecimento pelos alegados pais, pela família e pela comunidade como filho. Vale ressaltar que, apesar desses elementos, a ninguém é permitido buscar uma filiação que não a constante do assento de nascimento, com as ressalvas do art. 1.604 do CC. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n.643.294-4/4, 8a Câm. de Dir. Priv.,rei. Des.Caetano Lagrasta, j. 30.09.2009.
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
 Houve notável avanço em relação ao CC/1916, em especial com referência ao art. 350. Nele, fazia-se menção à ação de prova de filiação legítima, o que evidentemente foi abolidocom o advento da CF, que estabeleceu em seu art. 227, § 6º, a igualdade entre os filhos. Embora haja aparentemente a ideia de que a ação de prova de filiação seria pessoal (nesse sentido: TJSP, AI n. 9061335-86.2008.8.26.0000, 9a Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Viviani Nicolau, j. 02.12.2008), há o entendimento de que não somente o filho pode intentar a ação como também o podem o representante do MP e quem tenha legítimo interesse (art. 2º, §§ 4º e 5º, da Lei n. 8.560/92). Nesse rol pode-se incluir, por exemplo, a mãe a representar o filho nascituro (a propósito, confira-se a lição de Silmara Juny de Abreu Chinellato). Há, no momento em que se confere legitimidade a essas pessoas, a busca de um interesse supremo: o direito do filho a ter um pai, a ter um nome familiar (nesse caso compreendido o de saber sobre suas raízes) e a ter uma identidade perante o meio comunitário em que vive. Caso o filho venha a iniciar o processo e, sendo menor ou incapaz, faleça no curso dele, transmite-se o direito aos herdeiros. Contudo, estes não têm legitimidade para a propositura da ação, mas tão somente para prosseguir naquela que já tenha sido ajuizada. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n.418.299-4/0, 7a Câm. de Dir.Priv., rei. Des. Álvaro Passos, j. 23.04.2008.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.
 O art. 351 do CC/1916 permitia aos herdeiros prosseguir na ação iniciada pelo filho falecido, exceto nos casos de desistência pelo autor ou de perempção da instância. Todavia, o atual CC busca ampliar a restrição à atuação excepcional dos herdeiros quando fala genericamente em processo julgado extinto. Assim, além de não poderem prosseguir com a ação nos casos em que houve acolhimento pelo juiz de alegação de perempção, litispendência ou coisa julgada (art. 485, V, do CPC/2015) ou desistência da ação pelo autor (arts. 485, VIII, do CPC/2015), os herdeiros estarão impedidos de prosseguir na ação em que houve julgamento do meritum causae (art. 487 do CPC/2015). Ressalte-se a possibilidade de os herdeiros poderem prosseguir com o processo em casos nos quais houve extinção do processo por aparente desinteresse do autor (art. 485, II e III, do CPC/2015). O mesmo se diga em relação a feitos cujo arquivamento foi determinado pela autoridade judiciária até a superveniência de eventual provocação de interessados.
DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS
 O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação havida fora do casamento, estabelecendo juridicamente o parentesco entre o pai e a mãe e seu filho (Silvio Rodrigues). Não existe aqui nenhum ato constitutivo, mas declaratório (declara-se um ato do qual o direito tira consequências, consoante lição de Caio Mário da Silva Pereira). Esse reconhecimento pode se dar de forma voluntária (ato de particular a assumir a paternidade ou maternidade em relação ao filho por declaração verbal ou escrita) ou judicial (por meio da propositura de ação de investigação de paternidade ou maternidade). O ordenamento jurídico favorece as formas de reconhecimento de filhos a fim de que seja alcançado o princípio da proteção integral da criança e do adolescente (segundo a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança). Faz sentido essa facilitação das regras para o reconhecimento dos filhos na medida em que o jovem tem direito a ter um pai e uma mãe, formando-se uma identidade que traz ao indivíduo a noção exata de sua personalidade no seio do grupo familiar e o localiza no que tange à comunidade em que vive.
Art. 1.607. O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente.
 Houve avanço em relação ao CC/1916, o qual, em seu art. 355, abordava a possibilidade de reconhecimento do filho ilegítimo. Atualmente, não se faz qualquer distinção em relação à natureza da filiação a ser reconhecida, em respeito ao disposto no art. 227, § 6°, da Magna Carta. O reconhecimento de filho pelos pais pela via voluntária pode ser feito por apenas um deles ou por ambos, observando-se qualquer das formalidades previstas no art. 1.609 do CC. Por ser ato pessoal, não pode ser realizado por terceiros (avós ou tutores, por exemplo), mas admite a constituição de procurador pelo pai ou mãe com poderes especiais e expressos para a concretização do reconhecimento voluntário (segundo Caio Mário da Silva Pereira). O reconhecimento pelos pais, conjunta ou separadamente, não depende do estado civil deles ou de eventual liame de parentesco entre ambos.
Art. 1.608. Quando a maternidade constar do termo do nascimento do filho, a mãe só poderá contestá-la, provando a falsidade do termo, ou das declarações nele contidas.
 O sinal mais evidente da maternidade vem do próprio ato de parto. Justamente por isso Clóvis Beviláqua a aponta como notória. Contudo, podem ocorrer situações em que a mãe questiona a maternidade que já se encontrava estampada no assento de nascimento. Exemplo típico é o da "adoção à brasileira", em que terceira pessoa se apresenta como genitora da criança e posteriormente a mãe verdadeira questiona os dados constantes do assento de nascimento, fazendo com que haja a busca do restabelecimento da verdade (como no caso dos avós que registram o neto como sendo seu filho). Nessa abordagem a respeito da "adoção à brasileira" pode também haver a hipótese de troca de bebês na maternidade (como no famoso "caso Pedrinho", em que os pais verdadeiros questionaram vários anos depois a maternidade falsamente declarada por terceira pessoa por ocasião da lavratura do assento de nascimento do filho). Inversamente, não é dado o direito àquela que se apresenta como mãe da criança numa "adoção à brasileira" de negar a maternidade por ela anteriormente assumida -há a irrevogabilidade do ato, em respeito ao vínculo socioafetivo já estabelecido, além de não ser lícito a essa pessoa alegar a própria torpeza em seu benefício (nemo auditur propriam turpitudinem allegans).
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
 O legislador buscou cada vez avançar mais na procura de meios para garantir o reconhecimento da filiação da forma mais ampla possível. O CC/1916, em seu art. 357, caput, indicava fundamentalmente três meios para o reconhecimento: no próprio registro de nascimento, ou mediante escritura pública ou por testamento. Já a Lei n. 8.069/90, no art. 26, caput, ampliou o leque de opções, apontando a escritura ou outro documento público. Por sua vez, a Lei n. 8.560/92, em seu art. 1º, procurou abranger não só a escritura pública como também o escrito particular, a ser arquivado em cartório. Também previu nova forma de reconhecimento de filiação: a manifestação expressa e direta diante da autoridade judiciária, ainda que o reconhecimento não tenha sido o único e principal objeto do ato. Exemplo típico desta última forma de reconhecimento é o do procedimento inominado instaurado na Vara da Infância e da Juventude para apuração da situação de determinado jovem. No transcorrer da investigação, pode o suposto pai se dirigir ao Juízo e expressamente admitir a paternidade. Sempre é bom lembrar que todas essas formas de reconhecimento, que se revestem de caráter solene, são irretratáveis, somente admitindo desconstituição de filiação caso seja cabalmente provado que a manifestação de vontade se deu maculada por vício volitivo. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 592.910-4/1,4a Câm. de Dir.Priv., rei. Des. Ênio Santarelli Zuliani,j. 14.05.2009;STJ, REsp n. 1.022.763/RS,3a T., rei.Min.Nancy Andrighi, j. 18.02.2008.
I- no registro do nascimento;
 Havendo apenas a maternidade declarada no assento de nascimento, terá início a investigação oficiosa da paternidade, de acordo com o disposto no art. 2º da Lei n. 8.560/92. É interessante destacar que poderá haver caso em que a mãe se recusa a revelar a identidade do suposto pai, para fim de investigação, alegando motivos de foro íntimo (numa hipótese de gravidez decorrente de estuproou de incesto, por exemplo). Ter-se-á o choque de interesses - de um lado, o da criança, que tem direito indisponível a um pai e a uma identidade completa a ostentar perante a comunidade; de outro, o da mãe, que tem direito ao recato e à intimidade. Como a lei não obriga a genitora à revelação e não estabelece sanções decorrentes de eventual recusa de dados, e em respeito ao disposto no art. 5º, II e X, da CF, a mãe tem o direito a se calar, caso seja perquirida sobre a identidade do possível pai da criança. Vale ainda destacar que não se fará no assento de nascimento qualquer menção à natureza da filiação ou ao estado civil dos pais (evitando-se rotulações discriminatórias como as das filiações adulterinas e incestuosas), conforme os arts. 5º e 6º, ambos da Lei n.8. 560/92.
II- por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
 A escritura pública é a forma de reconhecimento de filiação solene por natureza, realizada diretamente perante o Estado. Todavia, poderá o pai ou mãe admitir esse vínculo pela forma particular -as únicas exigências a respeito da validade do escrito consistem no reconhecimento de firma e no arquivamento do documento em cartório (a propósito, confiram-se os arts. 3º, d, e 5º, ambos do Prov. n.494/93 do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo). Assim, a eficácia do documento abrange exemplificativamente tanto uma declaração feita em papel singelo, com firma reconhecida, como uma lavratura de escritura em cartório por parte de pessoa que tem fé pública.
III- por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
 A última declaração de vontade do autor da herança pode abranger, entre as disposições testamentárias, o reconhecimento de filiação. Aplica-se o art. 1.857, § 2º, do CC (ainda que o testamento se limite a disposições não patrimoniais, como na hipótese de o testador reconhecer filhos). Esse reconhecimento de paternidade subsiste, mesmo sendo o testamento nulo -exceção feita ao caso em que o testador à época estava acometido de doença mental.
 Aqui se exige a demonstração total dessa circunstância para que o reconhecimento de filho também perca sua validade. Frise-se também a subsistência do ato de reconhecer filiação em testamento que posteriormente é substituído por outro.
IV- por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
 O suposto pai poderá comparecer perante o juiz e assumir expressamente o vínculo para com o filho, sendo este ato registrado em termo judicial, lavrando-se mandado de averbação no assento de nascimento da criança (art. 2º, §§ 1º e 3º, da Lei n.8.560/92). Contudo, poderá haver situação em que o reconhecimento não seja o único e principal elemento do ato que o contém -ou seja, em qualquer procedimento judicial que verse sobre conteúdo civil, comercial, trabalhista ou mesmo criminal, por exemplo, a manifestação inequívoca da pessoa que assume o filho diante da autoridade judiciária surte efeitos, mesmo que colhida em procedimento não específico para essa finalidade.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.
 Este dispositivo é idêntico ao contido no art. 26, parágrafo único, da Lei n. 8.069/90. Em primeiro lugar, busca resguardar o direito do nascituro (art. 2º do CC) a ter um pai e a ter uma identidade sociofamiliar. O futuro desse ser em desenvolvimento não é fator predominante para o reconhecimento da filiação -tanto fará ele nascer com vida ou não. O reconhecimento judicial forçado da paternidade do nascituro é possível, sendo cabível inclusive a realização do exame de DNA com base em coleta de material placentário (segundo o médico João Lélio Peake de Mattos Filho). O parágrafo único do art. 1.609 do CC também aborda a possibilidade do reconhecimento de paternidade posterior ao falecimento do filho, com a ressalva de ter este deixado descendentes - caso contrário, não se vislumbra qualquer necessidade, já que o ato não servirá para surtir efeitos relevantes no âmbito jurídico.
Art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento.
 A manifestação de vontade no sentido de reconhecer um filho não é retratável (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 641.155-4/6, 9a Câm.de Dir. Priv., rei. Des. João Carlos Garcia, j. 03.11.2009).Mesmo que a pessoa venha eventualmente a alegar que o filho não foi por ela concebido, já houve o estabelecimento de uma paternidade socioafetiva, que não deve ser desintegrada (pode se fundamentar em elementos negativos como vingança ou ódio entre pai e filho, por exemplo), sob pena de violação dos direitos da criança ou do adolescente à identidade e à filiação. A única hipótese em que se cogita a revogação do reconhecimento é sua realização com a ocorrência de vício de vontade. No caso do testamento, o reconhecimento de filiação não pode ser desvinculado das últimas declarações de vontade do testador por sua natureza não patrimonial (art. 1.857,§ 2o, do CC). Apenas a existência de doença mental do testador é capaz de invalidar esse reconhecimento. Caso haja a mudança do testamento, com a redação de um novo documento (art. 1.858 do CC), tal não invalidará o ato do testador de reconhecer filho.
Art. 1.611. O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.
 O legislador aqui buscou obter uma espécie de paz conjugal em relação à presença do filho não havido no casamento. De pende do expresso consentimento do cônjuge a possibilidade desse filho residir no lar conjugal. Todavia, tal dispositivo se choca frontalmente com a disposição contida no art. 227, caput, da CF, a qual prevê o direito da criança e do adolescente à convivência familiar. Havendo discussão a respeito do tema e estando o filho desamparado, à espera do aval do(a) genitor(a) que o reconheceu para residir em sua companhia, evidentemente deverá prevalecer o superior interesse da criança ou do adolescente, corolário fundamental da Lei federal n.8.069/90, sendo o caso de exigir que o cônjuge que reconhece o filho o crie adequadamente, também em cumprimento ao disposto no art. 229 da Magna Carta.
Art. 1.612. O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor.
 A guarda do filho reconhecido deve ser relativizada para que se obedeça ao princípio basilar do ECA (Lei n. 8.069/90) do "melhor interesse da criança" (também denominado the best interest ofthe child, segundo o art. 3°, item 1, da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança). Permanecerá com a guarda do filho a pessoa que o reconheceu (se não houver filiação tanto materna quanto paterna registrada no assento de nascimento). Se essa pessoa for manifestamente inadequada para ter o filho sob seus cuidados, o juiz fixará a guarda para pessoa idónea e suficientemente capaz de cuidar dessa criança. Da mesma forma o magistrado procederá se houver o reconhecimento de filiação tanto pelo pai como pela mãe. À semelhança do que ocorre em casos de separação ou divórcio (art. 1.584 do CC, com redação dada pela Lei n. 11.698/2008), a guarda do filho será conferida àquele que se revelar mais adequado para cuidar do infante. Poderá ser o pai ou a mãe (sem ordem de preferência) ou terceiro idóneo (caso não seja possível atribuir a guarda a qualquer dos genitores). Poderá haver ainda a guarda compartilhada (atente-se especialmente para o disposto no art. 1.584,§§ 1º a 3º, do CC, com redação dada pela Lei n. 11.698/2008),ou seja, a integração dos pais -embora separados- na tomada de decisões importantes a respeito da vida do filho, enquanto detentores do poder familiar. Ressalte-se o fato de que ser capaz e idóneo não quer dizer ter melhores condições financeiras, mas sim propiciarum ambiente adequado para a regular formação do filho na condição de pessoa em situação peculiar de desenvolvimento (deverá haver a combinação de elementos de ordem material, como teto, alimentação, escola e vestuário, por exemplo, com recursos de natureza emocional, como carinho, afeição, respeito e dedicação).
Art. 1.613. São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho.
 Perante o mundo jurídico, o estabelecimento da filiação não representa apenas o surgimento de direitos e deveres daí decorrentes - significa introduzir determinado indivíduo no círculo familiar dos pais e situá-lo no plano social, dando-lhe uma identidade, uma noção sobre antepassados e uma história. Por esses argumentos, mostra-se ineficaz qualquer cláusula restritiva da filiação sob a forma de condição (art. 121 do CC) ou termo (art. 131 do CC). Não é admitida pelo ordenamento jurídico a afirmação por pai/mãe a reconhecer a filiação de que assim o faz com subordinação a determinado fator (como reconhecer o filho caso esteja desobrigado de pagar pensão alimentícia, por exemplo). É igualmente passível de banimento a estipulação de um termo para a filiação (fixação de um prazo para a duração do vínculo). Assim, o termo e a condição, por sua ineficácia, são extirpados do ato de reconhecimento, o qual permanecerá válido.
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.
 De modo semelhante ao dispositivo do ECA, que indica a necessidade de prévio consentimento da criança ou do adolescente adotando para que o ato de adoção se torne perfeito, deverá haver inequívoca manifestação de anuência do filho maior para com o ato do pai a desejar o reconhecimento filial.
 Essa concordância deverá ser colhida judicialmente, de forma solene, a fim de que seja o filho orientado pelo magistrado sobre as consequências de sua anuência (ou não) em relação ao vínculo de filiação que se busca estabelecer. Por outro lado, tratando-se de filho menor, mostra-se flagrantemente inconstitucional o dispositivo do art. 1.614 do CC, principalmente porque, ao contrário da investigação de paternidade (tida por imprescritível, consoante dispõe o art. 27 da Lei n. 8.069/90), a impugnação do reconhecimento dessa paternidade tem um prazo rígido para ser exercida - e aqui se tem a odiosa discriminação entre os filhos, de forma contrária ao estabelecido pelo art. 227, § 6º, da CF. A afastar a incidência da decadência, confira-se o entendimento do STJ: REsp n. 987.987/SP, 3a T., rei. Min.NancyAndrighi, DJe 05.09.2008.
Art. 1.615. Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, podecontestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade.
 Há uma série de pessoas que, ao lado do pai e da mãe, têm legitimidade para contestar a ação de investigação de paternidade. Todavia, deverão demonstrar de forma inequívoca o justo interesse para que sua pretensão prospere diante da Justiça. Clóvis Beviláqua aborda com precisão algumas hipóteses de legitimatio ad causam tratando-se de ofertar resistência à pretensão inicial do investigante. Existem casos, segundo o jurista, em que se buscará preservar a imagem do investigado na qualidade de pai e marido exemplar e membro respeitável da comunidade. Nessa categoria se inserem, por exemplo, os filhos biológicos e a mulher ou companheira. Também poderão ter legitimidade os parentes sucessíveis, caso o vínculo de filiação com o investigante os alije do processo sucessório (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n.9104223-70.2008.8.26.0000, rei. Des. Piva Rodrigues, j. 11.11.2008). Em outro plano, também poderão contestar a ação os credores do investigado, para que o patrimônio deste não seja reduzido pelo vínculo filial e seus créditos possam ser satisfeitos.
Art. 1.616. A sentença que julgar procedente a ação de investigação produzirá os mesmos efeitos do reconhecimento; mas poderá ordenar que o filho se crie e eduque fora da companhia dos pais ou daquele que lhe contestou essa qualidade.
 Tanto na ação de investigação de paternidade (procedimento jurisdicional, que na essência constitui o reconhecimento forçado) como no reconhecimento de filho, de natureza voluntária, os efeitos serão os mesmos. Vale lembrar que não mais podem se restringir os efeitos do reconhecimento da filiação tão somente para fins de prestação de alimentos (art.405 do CC/1916).
 O ato de reconhecimento (forçado ou voluntário) faz surtir em relação ao filho reconhecido todos os efeitos que se aplicam aos demais filhos (art. 227, § 6º, da CF). O CC faz uma ressalva em relação à sentença que julga procedente a ação de investigação de paternidade: ela poderá determinar que o filho seja criado em ambiente que não o dos pais ou do que contestou essa qualidade. Essa indicação legal tem sentido na medida em que visa a garantir ao filho o melhor ambiente de criação possível, em respeito ao melhor interesse da criança.
Art. 1.617. A filiação materna ou paterna pode resultar de casamento declarado nulo, ainda mesmo sem as condições do putativo.
 O CC/1916, no parágrafo único do seu art. 221, determinava o aproveitamento dos efeitos do casamento declarado nulo a pelo menos um dos cônjuges que houvesse contraído núpcias de boa-fé, em relação a este e aos filhos. Com o advento da Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), houve notável avanço, já que o novo texto legal impunha o mesmo aproveitamento dos efeitos do casamento declarado nulo aos filhos, ainda que nenhum dos cônjuges estivesse de boa-fé ao contrair o casamento. Essa norma da Lei do Divórcio se repete no art. 1.561,§ 2º, do CC, o qual estabelece que, se ambos os cônjuges estiverem de má-fé quando das núpcias, os efeitos somente aproveitarão aos filhos. Destaca-se que o casamento declarado nulo pode não ter as características de putatividade (nesse caso, a boa-fé supera a causa impeditiva, fazendo com que desapareça a causa da nulidade do casamento por ignorância de um ou de ambos os cônjuges).
DA ADOÇÃO
 A adoção é instituto milenar, segundo Mare Ancel. Desde seus primórdios, tinha por objetivos fundamentais assegurar a transmissão do nome, a perpetuidade da família e a continuação do culto aos deuses domésticos. Atualmente, esse instituto adquiriu outra feição - é uma das formas de colocação de infantes e adolescentes em família substituta, segundo os arts. 39 e seguintes da Lei n. 8.069/90 (ECA),comas alterações previstas pela Lei n. 12.010/2009 (Lei de Adoção). A adoção é negócio jurídico no qual, por ficção, estabelece-se um vínculo fictício de parentesco em linha reta entre adotante e adotado, fazendo com que este assuma a condição de filho para todos os efeitos, com estabelecimento de direitos e obrigações derivados dessa relação, desligando-se o filho dos vínculos para com sua família consanguínea, salvo para fim de impedimentos matrimoniais. Pelo direito anterior, havia duas formas de adoção: a simples (prevista no CC/1916 e na Lei n. 3.133/57, em que não existia o caráter da irrevogabilidade) e a plena (indicada na Lei n.6.697/79- revogada pela Lei n. 8.069/90, o ECA - para delinear a legitimação adotiva prevista na Lei n.4.655/65 -revogada pela Lei n.6.697/79, que sofreu revogação da Lei n. 8.069/90, o ECA).Na atualidade, somente há uma adoção, sem diferenciações ou categorias secundárias, em respeito ao disposto no art. 227, § 6º, da CF Para o psicólogo Fernando Freire, adotar é tornar filho, pela lei e pelo afeto, uma criança que perdeu, ou nunca teve, a proteção daqueles que a geraram. Ainda do ponto de vista da psicologia, a adoção se ampara em três elementos fundamentais: a motivação (que norteia as reais intenções que levam os adotantes a desejar um filho), a disponibilidade (significando a entrega dos futuros pais de corpo e alma numa dedicação afinada com as necessidades materiais e emocionais da criança ou do adolescente) e a revelação (a informação dos adotantes ao adotado de queeste é o "filho do coração" e não "filho da barriga", para dar maior força à relação entre eles, evitando-se uma vida permeada de mentiras e subterfúgios para esconder a adoção). Destaque-se que a matéria, atualmente, encontra-se inteiramente prevista na Lei n. 12.010/2009 (Lei de Adoção), a qual modificou profundamente dispositivos do ECA referentes à matéria (em especial os arts. 39 a 52) e revogou praticamente todas as disposições do CC relativas à adoção.
Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pela Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990-Estatuto da Criança e do Adolescente.
 Caput com redação dada pela Lei n. 12.010, de 03.08.2009. Como advento da Lei de Adoção (Lei n. 12.010/2009),solucionou-se questão tormentosa, já que havia dispositivos relativos à matéria tanto em se tratando do ECA (Lei n. 8.069/90) como do próprio CC, o qual não contemplava determinadas situações (como no caso da adoção internacional).A redação anterior deste artigo (sobre adoção permitida a maiores de dezoito anos) agora é contemplada pelo art. 42, caput, do ECA, com redação dada pela Lei de Adoção. Com relação à capacidade dos adotantes, cabe dizer que, como amadurecimento das gerações e a aquisição de responsabilidades diversas (redução da idade mínima para eleger membros dos Poderes Executivo e Legislativo, por exemplo), igualmente foi sendo reduzida paulatinamente a idade mínima para se candidatar a uma adoção. Pelo extinto Código de Menores (Lei n. 6.697/79, em seu art. 32, caput), somente podiam adotar as pessoas maiores de 30 anos e casadas por mais de cinco anos (no mesmo sentido, o art. 368 do CC/1916,com a redação dada pela Lei n. 3.133/57). O art. 42, caput, da Lei n.8.069/90 reduz para 18 anos (seguindo-se a ideia da idade inicial para a capacidade civil plena das pessoas — art. 5o, caput, do CC) o limite etário mínimo para o adotante, independentemente de seu estado civil-ou seja, podem adotar individualmente os solteiros, os viúvos, os divorciados e os separados.
 A legislação não fixou um limite máximo de idade para adotar -ou seja, nada impede que uma pessoa de faixa etária avançada possa adotar, desde que se revele adequada para propiciar ao adotado um ambiente sadio.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei. 12.010,de 03.08.2009.) 
Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Artigo com redação dada pela Lei n. 12.010, de 03.08.2009. Na vigência do CC/1916, admitia-se a existência da adoção extrajudicial para os maiores e os nascituros (arts. 372 e 375). Fazia-se por escritura pública, sendo a única solenidade a ser obedecida. Atualmente, em razão dos parâmetros estabelecidos pelo art. 227, § 5º, da Magna Carta, todo e qualquer procedimento adotivo deve passar necessariamente pelo crivo do Poder Judiciário, realizando-se todas as etapas referentes ao processo (estudos técnicos, oitiva dos interessados etc.). Diferentemente do que ocorre com o procedimento adotivo referente a crianças e adolescentes (qualquer que seja sua situação, de acordo com o art. 148, III, da Lei n. 8.069/90), que terá trâmite perante o Juízo da Infância e da Juventude, a competência para apreciação de pedidos de adoção de maiores de 18 anos (feita a ressalva do disposto no art. 40 da Lei n. 8.069/90) será do Juízo da Família. Conclui-se, portanto, que todo processo de adoção está sujeito à judicialização. Além disso, a colocação adotiva obedecerá as regras do ECA, interpretando-se conjuntamente a Lei de Adoção.
Arts. 1.620 a 1.629. (Revogados pela Lei n. 12.010,de 03.08.2009.)
DO PODER FAMILIAR
 Com o advento da CF/88, houve uma equiparação de homem e mulher tanto em deveres quanto em direitos com referência à sociedade conjugal (art. 226, § 5º, CF). Obrigação fundamental e conjunta dos pais é de garantir à prole condições para um desenvolvimento adequado em todos os níveis, criando os filhos menores, educando-os e assistindo-os no que for necessário (art. 229). Paralelamente a esses deveres, há os correspondentes direitos dos genitores, como o de ter os filhos em sua companhia e de exigir deles obediência e respeito. Além das relações no plano pessoal, também há aquelas da esfera patrimonial dos filhos, competindo aos pais em situação de igualdade gerir e administrar os bens da prole, de forma que não venham a perecer ou se depreciar. Esse conjunto de direitos e obrigações do pai e da mãe tem a denominação de poder familiar.
Disposições Gerais
Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.
 Temos a lição de Roberto João Elias no sentido de que a criança e o adolescente não são objetos, mas sim sujeitos, e como tal deverão ser tratados. Assim, enquanto menores não emancipados (de acordo com o art. 2º, caput, da Lei n. 8.069/90), os filhos não devem estar subjugados pelos pais - precisam ser assistidos, criados e educados em uma linha traçada paralelamente à trilhada pelos genitores, garantindo-se o respeito mútuo entre pais e filhos. Dessa forma, os pais têm o dever de exercer o poder familiar em relação à prole, cuidando dela e protegendo-a quando houver violação efetiva ou potencial a seus direitos fundamentais. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 638.338-4/4, Ia Câm.de Dir. Priv., rei. Des. De Santi Ribeiro,j. 20.10.2009; TJSP, Ap. Cível n. 0447562-91.2010.8.26.0000, Câm. Esp., rei. Des. Maia da Cunha,j. 14.03.2011.
Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.
 O poder familiar será exercido de forma equânime e conjunta pelos pais (arts. 226, § 5º, e 229, ambos da CF). Não mais existe a figura do exercício desse poder única e exclusivamente pelo homem, sendo a mulher mera colaboradora - essa discriminação, felizmente abolida, constava do art. 380 do CC/1916. No caso de um dos pais falecer ou ser destituído do poder familiar (ocorrência prevista no art. 1.635, 1e V, do CC) ou ainda ser suspenso do exercício desse poder (impedimento para o munus, de acordo com o art. 1.637, caput e parágrafo único, do CC),o outro cônjuge ou companheiro exercerá o poder familiar com exclusividade (nesse sentido: TJSP, AI n. 1.164.320-0/2,26a Câm. de Dir.Priv.,rei. Des. Felipe Ferreira, j. 09.06.2008); TJSP, Ap. Cível n. 0447562-91.2010.8.26.0000, Câm. Esp., rei. Des. Maia da Cunha, j. 14.03.2011.
Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.
 Tratando-se de exercício conjunto do poder familiar pelos pais, é natural que vez ou outra surja divergência entre eles no tocante a esse munus. Diante desse impasse, qualquer dos pais tem a garantia de acesso ao Poder Judiciário para a solução do conflito existente. Essa solução também é prevista no art. 21 do ECA, o qual indica a autoridade judiciária competente para resolver a pendência. A própria Lei n. 8.069/90 aponta a competência para tanto: será do Juízo da Infância e da Juventude (art. 148, parágrafo único, d), desde que no caso concreto haja falta, omissão ou abuso de qualquer dos pais (art. 98, II).
Art. 1.632. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.
 Na hipótese de ruptura do convívio entre o pai e a mãe, cabe à autoridade judiciária decidir sobre quem terá a guarda dos filhos menores. Deverá o magistrado sempre se nortear pelo princípio do melhor interesse da criança, de preferência se valendo de elementos técnicos (pareceres de psicólogos e assistentes sociais do Juízo) para averiguar qual será a melhor solução para os filhos (nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n.9060582-95.2009.8.26.0000,4a Câm. de Dir.Priv.,rei. Des. Ênio Santarelli Zuliani, j. 15.10.2009).Cada vez mais se depara com a guarda compartilhada, solução que se apresenta como ideal para os jovens, já que busca estabelecer uma situação bastante próxima do que vinha a ser a vida antes da ruptura de convívio entre os cônjuges/companheiros. Por essa modalidade de guarda, prevista na Lei n. 11.698/2008,os filhos permanecem com um dos pais e o outro os recebe em períodos mais flexíveis, sempre havendo uma tomada de decisão conjunta dos genitores a respeito do que vem a ser melhor para os jovens, com o exercício responsável do poder familiar por pai e mãe tanto em termos de direitos como de deveres.
Art. 1.633. O filho, não reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á tutor ao menor.
 É enorme a frequência de casos em que a mãe tem o filho consigo e este não é reconhecido pelo pai. Forma-se aqui a típica família monoparental > em que a genitora exerce o poder familiar sobre o jovem com exclusividade. Porém, há casos em que a mãe também abandona o filho (ou não é conhecida ou se mostra incapaz para o munus). Embora a lei preveja expressamente a nomeação de tutor para o jovem, nada obsta que seja posta a criança ou o adolescente sob guarda, que também é forma de colocação em lar substituto (art. 28, caput, da Lei n. 8.069/90) -aliás, é o que mais costuma ocorrer na prática. Caso o pai venha a morrer e a mãe esteja grávida e não tenha condições para o exercício do poder familiar, nomear-se-á curador para o nascituro (art. 1.779, caput, do CC).
Do Exercício do Poder Familiar
 O poder familiar, uma vez iniciado seu exercício, contém características próprias em relação a quem se incumbe desse munus. É por excelência um poder-dever, mesclando elementos de ordem pública a relações particulares (Silvio Rodrigues se refere a ele como um "mutius público imposto pelo Estado aos pais, a fim de que zelem pelo futuro de seus filhos").O descumprimento desse dever pelos pais, além de responsabilização consistente em suspensão ou destituição do poder familiar, constitui infração administrativa prevista no art. 249 do ECA, sujeitando o faltoso ao pagamento de multa a reverter a fundo municipal para a defesa dos direitos da infância e da juventude (art.214 da Lei n. 8.069/90).
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
 Caput com redação dada pela Lei n. 13.058, de 22. 12.2014. No tocante aos filhos menores não emancipados, há um rol de condutas determinantes que são atinentes ao exercício do poder familiar. Embora o legislador tenha se referido mais a direitos do que a deveres por parte dos pais, devemos interpretar o rolda forma mais abrangente possível para que os genitores cumpram suas obrigações da melhor forma, para concretizar uma situação de bem-estar dos filhos e de estabelecimento duradouro de harmonia familiar. A respeito, confiram-se os dispositivos dos arts. 227, caput, e 229, ambos da CF, bem como o art. 18 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.
I- dirigir-lhes a criação e a educação;
 Inciso com redação dada pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Este é dever primordial dos pais em relação aos filhos menores, os quais têm direito à convivência familiar (art. 19, primeira parte, da Lei n.8.069/90). Caso os genitores se omitam nesse mister, além da responsabilização no âmbito civil a que estão sujeitos, também poderão responder criminalmente pela situação de abandono, seja ele material (art.244 do CP) ou intelectual (art. 246 do mesmo texto legal).O ECA também é enfático a respeito dessa obrigação por parte dos pais, indicando que têm a obrigação de sustento, guarda e educação dos filhos menores (arts. 22 e 55). O referido Estatuto prevê ainda as medidas que o magistrado poderá tomar para fim de proteção da criança e do adolescente em caso de omissão, falta ou abuso dos pais, com destaque para a orientação, o apoio e o acompanhamento temporários pela Justiça da Infância e da Juventude e a inserção dos jovens de forma obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental (art. 101, II e III), seguindo, neste último caso, as diretrizes estabelecidas pelo art. 28 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.
II-exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
 Inciso com redação dada pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Ao ter os filhos menores sob guarda, unilateral e compartilhada, e em sua companhia, os pais são incumbidos de obrigação daí decorrente, que é o dever de vigilância, fazendo com que os filhos não permaneçam em más companhias, sofrendo os efeitos deletérios dessa convivência perniciosa a seu regular desenvolvimento. Caso um dos pais entregue o filho para pessoa em cuja companhia o jovem ficará moral ou materialmente em perigo, será responsabilizado penalmente (art. 245 do CP). Se deixar o filho ao léu, permanecendo com pessoas viciosas ou de má vida, também estará sujeito a responsabilização criminal (art. 247, 1,do CP),além de sofrer as consequências civis de tal conduta (suspensão ou destituição do poder familiar, dependendo das circunstâncias). O direito dos pais de ter os filhos sob guarda pode sofrer sérias restrições (assim como o de visitas), nos casos de separação conjugal e de abrigamento preventivo do filho em entidade, se houver demonstração cabal no sentido de que a companhia do pai ou da mãe é tão prejudicial ao filho que o alijamento deste da presença daqueles será a medida mais acertada para garantir o bem-estar e a paz interior do jovem.
III- conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
 Inciso com redação mantida pela Lei n. 13.058, de 22. 12.2014. Compete aos pais em conjunto consentir no casamento dos filhos menores (art. 1.517do CC). Caso recusem o consentimento de forma injusta, o magistrado poderá supri-lo (arts. 1.519 do CC e 148, parágrafo único, c, do ECA).
IV- conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
 Inciso com redação dada pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Nota da atualizadora (Aurélia Lizete B. Czapski): Trata-se de novidade no CC. Vale ressaltar, no entanto, que esse consentimento já era exigido no ECA, nos arts. 83 e 84 ("Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: 
I- estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável [...]").
V- conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudar em sua residência permanente para outro Município;
 Inciso com redação dada pela Lein. 13.058, de 22.12.2014. Nota da atualizadora (Aurélia Lizete B. Czapski):Trata-se de novidade no CC. Este dispositivo visa a impedir que um dos genitores de forma premeditada impeça a convivência da criança com o outro genitor ou com seus familiares, de forma unilateral e sem o seu consentimento, procedendo a mudança de domicílio para outro município.
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
 Antigo inciso IV renumerado pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Se o filho correr o risco de ficar desamparado por não ter um dos pais e o outro estiver prestes a falecer, este poderá proceder à indicação de tutor em suas disposições de última vontade ou em documento autêntico. Trata-se de um dispositivo que dá maior liberdade ao pai ou à mãe para a nomeação de tutor, já que não necessitará ser seguida uma ordem preestabelecida de parentes que serão passíveis de receber o encargo (v. art. 407, caputy do CC/1916), podendo ser nomeado para o múnus aquele que tiver maior sintonia com a criança ou o adolescente e na companhia de quem o jovem estará maisbem amparado material e emocionalmente. Caso o sobrevivo não possa exercer o poder familiar, a nomeação do tutor também será cabível, sendo importante lembrar que, para a efetivação da tutela, tal deverá ser necessariamente precedida de decretação judicial da perda ou suspensão do poder familiar, de acordo com o disposto no art. 36, parágrafo único, da Lei n. 8.069/90.
VII- representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
 Antigo inciso V renumerado e com redação dada pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Aos pais incumbe o dever de representar os filhos judicial e extrajudicialmente até os 16 anos de idade. A partir dessa faixa etária, deverão ser assistidos até que sobrevenha a emancipação ou a maioridade. A respeito desse assunto, também há previsão no art. 8° do CPC/73 (art. 71do CPC/2015) e no art. 142, caput, da Lei n. 8.069/90. Na falta de um dos pais, cabe ao outro exercer esse dever com exclusividade (art. 1.690,caputy do CC). Nesse sentido: TJSP, Al n.715.781-9/1, 24a Câm. de Dir. Priv., rei. Des. Walter Fonseca, j. 13.03.2008.
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
 Antigo inciso VI renumerado pela Lei n. 13.058; de 22.12.2014. Caso o filho menor esteja em poder de alguém que o detenha ilegalmente, poderá o pai ou a mãe pedir judicialmente a busca e apreensão (arts. 839 e segs. do CPC/73, sem correspondente no CPC/2015), a serem decretadas liminarmente ou após justificação prévia (art. 804 do mesmo texto legal). Todavia, o fato de haver um pedido de busca e apreensão formulado pelos pais não significa necessariamente que terão o filho devolvido automaticamente à sua companhia -pode haver uma situação de risco previamente vivenciada pelo jovem com os genitores (por exemplo, na ocorrência de maus-tratos ou molestamento sexual), quando então a pessoa que o detiver deverá se incumbir de regularizar a situação o quanto antes, pedindo judicialmente a fixação da guarda.
IX- exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
 Antigo inciso VII renumerado pela Lei n. 13.058, de 22.12.2014. Quanto a este inciso do art. 1.634 do CC, são feitas severas restrições no tocante aos "serviços próprios" da idade e condição do filho menor, considerando o dispositivo nesse ponto manifestamente inconstitucional. Embora o art. 248 do ECA preveja que o guardião pode trazer adolescente de outra comarca para lhe prestar serviços de natureza doméstica, a bem da verdade não se tem o trabalho como exigível do jovem, até mesmo porque há limitações para tanto. O adolescente somente é admissível para o trabalho após os 16 anos de idade, salvo na condição de aprendiz - e ainda assim depois dos 14 anos (art. 7º, XXXIII, da CF, com redação dada pela EC n. 20/98).
 Além disso, há limitações para o exercício do trabalho familiar por parte do adolescente indicadas no art. 67 e seus incisos da Lei n.8.069/90. Qualquer atitude dos pais no sentido de exigir trabalho por parte dos filhos -ainda mais com desrespeito aos parâmetros legais- leva ao descumprimento dos direitos dos jovens à liberdade, ao respeito e à dignidade (arts. 15 a 18 da Lei n. 8.069/90).Também há a ressalva do filho que trabalha para o pai e não atingiu os 16 anos de idade. Nesse caso, não há de se reconhecer relação de emprego com o próprio genitor e, como consequência, não pode o jovem ser considerado empregado, mas sim contribuinte individual perante a Previdência Social, nos moldes do disposto no art. 11,V,/, da Lei n.8.213/91 (nesse sentido: TRF, 3a R.,Ap. n. 2000.03.99.063376-5, rei. Juiz Rodrigo Zacharias, j. 19.04.2010).
Da Suspensão e Extinção do Poder Familiar
 Exercer o poder familiar sobre os filhos acarreta um emaranhado de direitos e obrigações. Devem os pais buscar atender os superiores interesses dos jovens, cuidando deles adequadamente, providenciando sua educação e, quando necessário, tomando medidas cabíveis perante o Estado para resguardar o patrimônio dos filhos ou lhes garantir a convivência familiar. Todavia, existem situações fáticas em que os pais extrapolam de forma inescusável os limites esboçados para o exercício responsável do poder familiar.
 Podemos genitores, por exemplo, ser omissos no que tange aos cuidados essenciais para com a prole, deixando as crianças passando frio ou fome pelas ruas, sem qualquer amparo. Podem usar de violência física, psicológica e sexual para com os jovens. Em casos assim, pode haver a suspensão preventiva do exercício do poder familiar do(a) faltoso(a). Há outras hipóteses em que a atitude dos pais se reveste de gravidade tamanha que não bastará suspender o exercício desse poder-dever, mas medida mais dura deve ser tomada: a destituição do pai e/ou da mãe do exercício do poder familiar far-se-á necessária para resguardar integralmente os direitos fundamentais dos filhos. Deve ser frisado que há hipóteses em que a extinção desse poder se dá de forma natural (como na morte dos pais ou do filho). Importante ressaltar a íntima ligação dos fatos suspensivos e extintivos com a colocação de crianças e adolescentes em família substituta: a tutela, para ser concedida, pressupõe prévia decretação da suspensão ou destituição do poder familiar (art. 36, parágrafo único, da Lei n.8.069/90).A adoção, por sua vez, exige a anterior destituição desse poder (art. 45, § 1º, do ECA). Na ação destitutória, se houver motivo grave, o magistrado poderá liminar ou incidentalmente decretar a suspensão do poder familiar até o julgamento definitivo da causa (art. 157 da Lei n. 8.069/90).
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:
 Nos três primeiros incisos deste artigo são apontadas as causas naturais de extinção do poder familiar (morte dos pais ou do filho; emancipação; advento da maioridade). O inciso IV se refere à adoção em si- na sentença que a concede, há a extinção do poder familiar dos pais de sangue e consequente estabelecimento para os novos genitores. A última hipótese trata da extinção do poder familiar por decisão judicial proferida em ação destitutória (art. 1.638 do CC).
I- pela morte dos pais ou do filho;
 O falecimento dos pais evidentemente rompe os vínculos do poder familiar em relação ao filho e vice-versa, pois não haverá mais razão para a manutenção desse poder-dever. Se apenas um dos pais falecer, o outro exercerá o munus com exclusividade (art. 1.631do CC). Se ambos morrerem, coloca-se o filho menor e não emancipado sob tutela (ou guarda, como ocorre com mais frequência, que também é aceitável como forma de colocação em lar substituto).
II- pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único;
 O art. 5º, parágrafo único, I, do CC trata da concessão de emancipação ao maior de 16 e menor de 18 anos de idade. Poderá ocorrer por ato dos pais, ou de apenas um deles (na falta ou impedimento do outro), mediante instrumento público sem que haja a necessidade de homologação judicial. A sentença do magistrado somente será necessária no caso em que ambos faltarem ou estiverem impedidos, sendo ouvido o tutor. Advindo a maioridade pela emancipação, despiciendo se falar em poder familiar.
III-pela maioridade;
 Prevê o CC neste tópico a cessação total da incapacidade do indivíduo para todos os atos da vida civil. Atingindo os 18 anos de idade, o filho estará pronto para as responsabilidades da vida e saberá se defender de eventuais investidas contra seus direitos pessoais e/ou patrimoniais. Dessa forma, não mais estará sujeito ao poder familiar dos pais. Nesse sentido: TJSP, Ap. Cível n. 994.06.019241-6, 8a Câm.de Dir. Priv., rei. Des. Ribeiro da Silva, j. 05.05.2010.
IV- pela adoção;
 A adoção faz desaparecer todos os vínculos naturais de filiação e parentesco, sendo a extinção do poder familiar dos pais de sangue uma decorrência do estabelecimento dessa nova ordem (Maria Helena Diniz indica a transferência do poder familiar

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