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Elementos estruturais do Negócio Jurídico CAPÍTULO 6 Rodrigo de Amorim Mello Faculdade de Direito da UFMT 27/02/2018 O estudo dos elementos essenciais, naturais e acidentais do negócio jurídico é um dos pontos mais importantes e controvertidos da Parte Geral do Código Civil. É fundamental estudar a concepção desses elementos a partir da teoria criada pelo grande jurista Pontes de Miranda, que concebeu uma estrutura única para explicar tais elementos.132 Tratase do que se denomina Escada Ponteana ou “Escada Pontiana”. - Plano da existência; - Plano da validade; - Plano da eficácia. Sobre os três planos, ensina Pontes de Miranda que “existir, valer e ser eficaz são conceitos tão inconfundíveis que o fato jurídico pode ser, valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. As próprias normas jurídicas podem ser, valer e não ter eficácia (H. Kelsen, Hauptprobleme, 14). O que se não pode dar é valer e ser eficaz, ou valer, ou ser eficaz, sem ser; porque não há validade, ou eficácia do que não é”.133 Dessa forma, a Escada Ponteana pode ser concebida conforme o desenho a seguir: Elementos estruturais do Negócio Jurídico Página 1 Elementos estruturais do Negócio Jurídico CAPÍTULO 6 a ) Existência — um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos. Nessa linha, são elementos constitutivos do negócio jurídico: b ) Validade — o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer que ele seja considerado perfeito, ou seja, com aptidão legal para produzir efeitos. Trata-se de um plano em que se adjetivam os elementos de existência. Assim, são elementos de validade do negócio jurídico: c) Eficácia — ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja, perfeito para o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais da declaração. A premissa é que, existente e válido um negócio jurídico, deve ele produzir efeitos imediatamente. Todavia, a sua eficácia poderá ser delimitada pelos seguintes elementos acidentais: Elementos estruturais do Negócio Jurídico Página 2 Elementos Acidentais do Negócio Jurídico → Elementos acidentais do negócio jurídico são cláusulas inseridas num negócio jurídico com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais. Nada mais são do que categorias modificadoras dos efeitos normais do negócio jurídico, restringindo-os no tempo ou retardando seu nascimento ou exigibilidade. Esses elementos são o Termo, Condição e Encargo (ou Modo). → Os elementos essenciais constituem requisitos de existência e de validade do negócio jurídico, que são: A manifestação de vontade das partes, objeto e forma. Já os elementos acidentais, são desnecessários à formação do ato, as partes deles se utilizam para modificar a eficácia do ato, adaptando-a a circunstâncias futuras. ● Condição segundo o Art. 121 do CC: → Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Suas principais características são: Voluntariedade: deve nascer da vontade das partes; Futuridade: é o evento que ainda não aconteceu e nem deixou de acontecer, encontrando-se ainda pendente em expectativa. Se o evento já se verificou, ainda que as partes não saibam da ocorrência, não há que se falar em condição, podendo caracterizar erro ou ignorância; Incerteza: o evento pode ou não se verificar (incerteza real, não somente na mente da pessoa). → Os atos de natureza patrimonial, com algumas exceções, tal como aceitação e renúncia da herança (vide Art. 1808 CC) admitem condições. → Os atos de natureza patrimonial pessoal, isto é, referentes ao patrimônio da pessoa, como os Direitos de Família puros e os Direitos Personalíssimos, não admitem condição. Exemplos: Casamento, reconhecimento de filho, adoção, emancipação, legado, fixação de domicílio. Atos que não aceitam condição, são aqueles que inadmitem certeza, atos jurídicos em sentido estrito e aqueles relacionados a Direito Sucessório e de Família. Lícitas: São aquelas que não contrariam as leis, a ordem pública e os bons costumes. Ilícitas: é a condição contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes. Exemplo: a condição de matar alguém (contrária à lei); de instalar casa de prostituição (contrária à lei e aos bons costumes); a proibição de mudar de religião; a condição de não sair do país (viola o direito de ir e vir). Possíveis: São passíveis de serem cumpridas. Impossíveis: Não são passíveis de serem cumpridas. Fisicamente Impossíveis: Humanamente impossíveis. (dar-te-ei R$ 1.000.000,00 se tocares o céu com o dedo) Juridicamente Impossíveis: Existe proibição expressa no ordenamento jurídico, ou ferem a moral e os bons costumes. (condições ilícitas e imorais) → Fazendo um rápido panorama sobre “condição”, podemos ver que elas se dividem em: Elementos estruturais do Negócio Jurídico Página 3 Causais: São aquelas que dependem do fortuito, do acaso, fato alheio à vontade das partes. Exemplo: Dar-te-ei R$ 1.000,00 se chover amanhã. Potestativas: Decorrem da vontade ou poder de uma das partes. Puramente Potestativas: São ilícitas, pois dependem exclusivamente do puro arbítrio de uma das partes. Exemplo: O banco cobrar juros ao seu próprio critério, e não por tabela. Simplesmente Potestativas: Lícitas, pois dependem não só da manifestação de vontade de uma das partes, mas também de algum acontecimento ou circunstância exterior que escapa ao seu controle. Exemplo: dar-te-ei este bem se fores a Paris. Mistas: Dependem simultaneamente da vontade das partes e de um terceiro. Exemplo: dar-te-ei tal bem se casares com fulano. Suspensiva: É aquela que impede que o ato produza efeitos até a realização do evento futuro e incerto. Exemplo: dar-te- ei tal bem SE obter a nota 10. (125/126 do CC) Resolutiva: É aquela que extingue, resolve o direito, ocorrido o evento futuro e incerto. Exemplo: dar-te-ei R$ 1.000,00, ENQUANTO estudares o curso de graduação em Direito. ● Termo, trata-se de uma determinação acessória que se refere a um acontecimento futuro e certo, que subordina o início ou o fim da eficácia jurídica do negócio (Art. 131, CC). • Termo Convencional: É a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio a evento futuro e certo. • Termo de Direito: É o que decorre da Lei (prazo de prescrição ou de decadência). • Termo de Graça: É a dilação de prazo concedida ao devedor. • Termo Incerto: É o termo certo e inevitável, porém incerto quanto à data de sua realização (morte). • Termo Certo: Quando se reporta a determinada data do calendário ou a determinado lapso. • Termo Inicial e Final: dies a quo e ad quem. → O prazo é o intervalo entre o termo a quo e o termo ad quem, ou entre a manifestação de vontade e o advento do termo. (132 a 134 do CC). Os dias contam- se por inteiro, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento. Encargo ou Modo, consiste em um ônus oriundo de um negócio jurídico gratuito, ou seja, uma determinação que, imposta pelo autor de uma liberdade, a este adere, restringindo-a. Exemplo: Doações feitas ao município, em geral com a obrigação de construir um hospital, escola, creche ou algum outro melhoramento público; Testamentos,em que se deixa a herança a alguém, com a obrigação de cuidar de determinada pessoa ou de animais de estimação. → Diante do exposto acima, podemos chegar à conclusão que: Condição: Negócio dependente de evento futuro e incerto; identificada pelas conjunções “se” ou “enquanto”; A condição suspensiva suspende os efeitos do negócio jurídico; A condição resolutiva põe fim aos efeito do negócio jurídico. Termo: Negócio jurídico depende de evento futuro e certo; identificado pela conjunção “quando”; O termo inicial suspende os efeitos do negócio jurídico e termo final põe fim a eles. Encargo: É uma cláusula acessória de liberalidade impondo uma obrigação; Identificado pelas conjunções “para fim de” ou “com fim de”; O encargo não suspende e nem resolve a eficácia do negócio jurídico; Não cumprido o encargo, cabe revogação da liberalidade.
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