Buscar

Direito Penal IV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Faculdade Mineira de Direito – Pontifícia
20
Neuler Junior – Resumo de Direito Penal IV
11
DIREITO PENAL IV
Resumo elaborado por Neuler Junior para estudo da disciplina de Direito Penal IV da Faculdade Mineira de Direito. O conteúdo deste resumo foi retirado principalmente da obra de Cézar Roberto Bitencourt e não tem como destinação a exploração econômica, tendo sido elaborado para fins de estudo. Não serão abordados todos os tipos penais, mas aqueles mais comuns na prática e em provas. É importante destacar que o resumo é apenas um guia para orientar os estudos, não sendo suficiente por si só para a plena formação e entendimento.
CAPÍTULO PRIMEIRO – JUSTIÇA OU SEGURANÇA JURÍDICA?
	Um dos maiores entraves jurídicos – se não o maior – da atualidade é a dicotomia existente entre segurança jurídica e o ideal de justiça. Tal entrave surge diante da não rara ocasião em que a aplicação do texto literal da lei poderia, na concepção de alguns, ocasionar uma injustiça. 
Diante de tal circunstância, o que deve fazer o julgador: aplicar a sanção cominada pela lei a uma determinada conduta, afastando qualquer senso subjetivo inerente à ideia de “justiça”, ou não afastar tal ideia, por entender que o fim último do Direito é a realização da justiça, ainda que seja um ideal permanente e inalcançável, eximindo o sujeito agente da conduta tipificada da sanção a ela cominada? Os teóricos do Direito têm tentado responder essa pergunta há décadas, e deste entrave se destacam dois entendimentos.
O primeiro entendimento ou, se preferirem, a primeira corrente, é a dos positivistas. Os positivistas argumentam que ao profissional do Direito não cabe a avaliação do que é justo e injusto, pelo simples fato de que tal avaliação tem caráter extremamente subjetivo, ao tempo que o que um determinado indivíduo considera ser justo pode não ser também considerado por outro indivíduo. Dessa forma, dar ao Magistrado o poder de decidir subjetivamente o que é justo e o que não é significa dar ao mesmo um poder muito grande e perigoso. Ao julgador cabe analisar se a conduta é a descrita na lei – se sim, aplica-se a sanção, se não é, não se aplica.
Argumentam em sentido contrário os não positivistas, pontuando que a função do profissional do Direito transcende a simples análise da adequação da conduta à letra da lei. Quem tem esse entendimento comumente argumenta que o julgador deve levar em consideração o caso concreto e as consequências sociais da aplicação da norma a este caso. O julgador deve sim fazer um juízo –subjetivo, admitem –, mas que se não for feito, transforma o Direito em uma ciência exata despreocupada com o meio social, que contradiz a si mesmo quando elege a justiça como fim mas sua própria aplicação gera o contrário: injustiça. Não argumentam, no entanto, que a letra da lei deve ser desconsiderada, apenas propõem uma análise mais profunda da adequação do caso concreto ao que propõe a lei – análise essa que passamos a estudar.
Teoria da tipicidade conglobante 
	 No início do estudo de Direito Penal, um dos tópicos introdutórios é a teoria do crime, onde se aprende o conceito analítico de crime, que é composto por três elementos. Em retrospecto sintético, afirma-se que crime é uma conduta típica, antijurídica e culpável – os três elementos a que me referi: tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.
	A tipicidade é o primeiro elemento a ser observado ao buscar entender se determinada conduta constitui crime. Nas palavras de Cláudio Brandão: “a tipicidade é definida como uma relação de adequação entre a conduta e a lei penal”. Ou seja, classicamente, a tipicidade é o juízo feito para determinar se a conduta praticada por determinado agente é aquela que a lei proíbe. Este é o conceito clássico de tipicidade.
	Diante do entrave que se estuda neste capítulo, os não positivistas propuseram uma complementação no conceito de tipicidade para tornar a análise realizada pelo profissional do direito mais completa e profunda e a aplicação do Direito mais justa.
	Propõem, então, a divisão do juízo de tipicidade duas etapas: formal, inicialmente, e material, em seguida. A tipicidade formal é esta que acabamos de abordar, o juízo sobre a adequação entre determinada conduta e a lei penal. A material, por outro lado, diz respeito aos efeitos da conduta – se não causou lesão significativa ao bem jurídico tutelado, considerar-se-á materialmente atípica, ou seja, será considerada ausente a tipicidade material, excluindo a aplicação de pena por não ter havido crime.
	A fim de objetivar a análise da tipicidade material os não positivistas preveem três possibilidades de considerá-la inexistente: (a) insignificante lesão, (b) adequação social e (c) possibilidade de se resolver o problema de outra forma (ultima ratio).
	A primeira possibilidade, no caso de (a) lesão insignificante, argumentam os não positivistas que a condenação do agente não pode acontecer pelo fato de sua conduta ter baixíssimo grau de lesividade. “Ora, vejam bem, é a própria Constituição Federal, lei máxima deste país, que concede à liberdade a alcunha de bem jurídico inviolável, elevando-a ao patamar de importantíssimo bem jurídico; destarte, seria uma contradição – inconstitucionalidade, portanto – cercear tal importantíssimo direito por tão pequena lesão jurídica”, é o que argumentam os não positivistas ao defenderem a tese de atipicidade material neste caso.
	A segunda possibilidade de se reconhecer a atipicidade material da conduta, é no caso desta ter (b) reduzido grau de reprovabilidade social, é o que pontuam os não positivistas. Assim, se a sociedade já se adequou a determinada conduta que antes era vista com maus olhos e por isso é penalmente proibida, dizem os não positivistas que sua tipicidade formal (lei proibindo aquela conduta) é apenas reflexo da dificuldade do Direito acompanhar o entendimento social sobre o que é errado e o que não é, cabendo ao julgador conceder mais dinamicidade à ordem jurídica, tornando mais prática a adequação das normas ao anseio da sociedade através do reconhecimento da atipicidade material nestes casos.
	Em nosso Direito há o chamado princípio da mínima intervenção penal, que determina que o Direito Penal, sendo a expressão do poder punitivo estatal, deve se afastar das questões que podem ser resolvidas de outra forma, especialmente por outros ramos do Direito. Este princípio determina que o Direito Penal é o último recurso, a ultima ratio, que só deve se fazer presente quando todas as outras opções falharem. Com base neste princípio, os não positivistas argumentam que, se a questão pode ser resolvida de outra forma que não a intervenção penal, assim deve ser feito, ainda que a conduta seja formalmente típica, devendo ser considerada materialmente atípica e, portanto, inexistente o crime.
	De forma breve, é esta teoria da tipicidade conglobante e o que é proposto no ordenamento jurídico pátrio. Cabe a nós, estudantes de Direito e futuros operadores do Direito, mediante estudo e compreensão das possibilidades, nos posicionar de forma a fazer a análise meramente formal da tipicidade nos dar por satisfeitos ou fazer a análise inicial e complementá-la com a análise mais profunda da tipicidade material.
	Compreendido o entrave jurídico que nos acompanhará durante o semestre no estudo de boa parte do conteúdo da disciplina, prossigamos com o estudo do conteúdo dogmático.
CAPÍTULO SEGUNDO – DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL
	Sobre a denominação do capítulo, “CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL”, faz-se necessário salientar o cuidado para não fazer confusão com crimes materiais. Crimes materiais são aqueles que deixam vestígios, provas. Os crimes contra a propriedade imaterial são crimes que deixam vestígios (CDs copiados ilegalmente etc.), sendo, portanto, crimes materiais.
	Em definição, a propriedade imaterial consiste na relação jurídica entre o autor e sua obra, em função da criação (direitos morais) ou da respectiva inserção em circulação (direitos patrimoniais).
	Feito esclarecimento,prossigamos. 
Artigo 184. Violação de direitos autorais
“Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:              
        Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.             
        § 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:             
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.            
        § 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.           
        § 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente:           
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.           
        § 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto”.
	O bem jurídico tutelado é o direito autoral, que, na verdade, constitui um complexo de direitos – morais ou patrimoniais – nascidos com a criação da obra. Em outros termos, o objeto jurídico da proteção penal é a propriedade intelectual. Os direitos autorais abrangem os direitos de autor e os direitos que lhe são conexos.
	Direitos conexos aos do autor são os relativos à interpretação e à execução da obra por seu criador, considerando-se como tais a gravação, a reprodução, transmissão, retransmissão, representação ou qualquer outra modalidade de comunicação ao público. O direito de arena também constitui um direito conexo ao do autor.
	No que concerne à adequação típica, tem-se que a violação dos direitos de autor pode concretizar-se de formas variadas, tais como a reprodução gráfica da obra original, ou comercialização de obras originais, sem autorização do autor ou seu representante legal. 
	A ação delituosa consiste em violar direito de autor ou os que lhe são conexos. Violar significa transgredir, falsificar ou ofender o direito do autor. A lei penal não define o que é direito de autor ou direito autoral. Essa definição deve ser buscada na lei civil (9.610/98), caracterizando-se, pois, como norma penal em branco. O direito autoral surge com a criação de obra original, independentemente de qualquer formalidade ou registro.
	Direito autoral consiste nos benefícios, vantagens, prerrogativas e direitos patrimoniais, morais e econômicos provenientes de criação artística, científica, literária e profissional de seu criador, inventor ou autor.
	Direitos conexos são, pode-se dizer, direitos análogos aos de autor, direitos afins, próximos ou vizinhos aos de autor. De um modo geral, a doutrina procura situar os denominados direitos conexos em três aspectos distintos: artistas, gravadoras de discos (incluímos aí as editoras de livros) e emissoras de rádio e de televisão.
	Os §§ 1º e 2º do art. 183 disciplinam as figuras qualificadas da violação de direitos autorais, com sensível majoração da resposta penal. São tipificadas como qualificadas as seguintes condutas:
	1) Reproduzir, por qualquer meio ou processo, obra intelectual, total ou parcialmente, para fins comerciais, isto é, com intuito de lucro (direto ou indireto), sem autorização expressa do detentor do direito.
	2) Distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduzir no país, adquirir, ocultar, emprestar, trocar ou ter em depósito, com o fim de lucro, original ou cópia de obra intelectual, fonograma ou videofonograma, produzidos ou reproduzidos com violação de direito autoral (§ 2º).
	A finalidade lucrativa da mesma conduta violadora de direitos autorais e dos que lhe são conexos qualifica o crime, cuja pena cominada é de dois a quatro anos de reclusão e multa.
	O elemento subjetivo do tipo é constituído pelo dolo, que é representado pela vontade livre e consciente de violar direito autoral alheio, além do elemento subjetivo especial do tipo, o intuito de lucro.
	A prova da materialidade nos crimes contra a propriedade imaterial é feita através de laudo pericial a ser realizado no corpo do delito.
CAPÍTULO TERCEIRO – DOS CRIMES CONTRA 
A DIGNIDADE SEXUAL
	O Título VI da Parte Especial do Código Penal brasileiro tinha como rubrica “Dos crimes contra os costumes”. A impropriedade deste título já era reconhecida nos idos de 1940, pois não correspondia aos bens jurídicos que pretendia tutelar, violando o princípio de que as rubricas devem expressar e identificar os bens jurídicos protegidos em seus diferentes preceitos. Dentre outras alterações feitas, a lei 12.015/09 tratou de consertar tal impropriedade, trazendo nova denominação ao Título que passou a tratar “Dos crimes contra a dignidade sexual”.
	A alteração parece ser simples, mas trata-se apenas de aparência. É, na verdade, profunda, pelos motivos que passamos a explicar. Como exposto, a rubrica deve corresponder aos bens jurídicos a que se pretende tutelar, fazendo com que, antes da alteração trazida pela lei 12.015/09, os crimes inclusos no referido capítulo (estupro, estupro de vulnerável etc.) fossem considerados crimes contra os costumes. Destarte, um indivíduo ao violar sexualmente outro indivíduo, atentava primariamente não contra este, mas sim contra os costumes, da perspectiva penal. A alteração, então, muda não só as palavras que compõem o Título, mas o bem jurídico tutelado, que passou a ser a dignidade sexual.
	Qual a diferença entre costumes e dignidade sexual? Os costumes referem-se a moral sexual coletiva, o que é sexualmente aceito moralmente pela maior parcela da sociedade. Ou seja, tem uma conotação coletiva.
	A dignidade sexual, diferentemente, tem conotação individual. Diz respeito às escolhas sexuais feitas por si para si. Assim, a vítima primária dos crimes contra a dignidade sexual passou a ser, sem sombras de dúvidas, o indivíduo violado.
Artigo 213. Estupro
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:         
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.     
§ 1o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:       
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.              
§ 2o  Se da conduta resulta morte:              
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
	O bem jurídico protegido, a partir da redação determinada pela Lei n. 12.015/09, é a liberdade sexual da mulher e do homem, ou seja, a faculdade que ambos têm de escolher livremente seus parceiros sexuais, podendo recusar inclusive o próprio cônjuge, se assim o desejarem.
	Liberdade sexual significa o reconhecimento do direito de dispor livremente de suas necessidades sexuais ou voluptuárias, ou seja, a faculdade de comportar-se, no plano sexual, segundo suas aspirações carnais, sexuais lascivas e eróticas, governado somente por sua vontadeconsciente, tanto sobre a relação em si como a escolha de parceiros.
	O sujeito ativo, individualmente considerado, sob a ótica da redação anterior, somente podia ser o homem. A partir da Lei 12.015 o crime de estupro passou a ser um crime comum, podendo ser praticado ou sofrido, indistintamente, por homem ou mulher.
	Coautoria e participação em sentido estrito são perfeitamente possíveis, inclusive entre homens e mulheres em qualquer dos polos (ativo ou passivo).
	Sujeito passivo, antes do advento da Lei n. 12.015, era somente a mulher. Com a alteração trazida pela lei, como exposto, pode ser vítima do crime tanto homem quanto mulher. 
	Temos que a ação tipificada é constranger (forçar, compelir, obrigar) alguém, mediante violência (vis corporalis) ou grave ameaça (vis compulsiva), à conjunção carnal (introdução do pênis na vagina) ou a praticar (a vítima pratica o ato) ou permitir que com ele se pratique (a vítima é submetida à violência) ato libidinoso diverso.
	Libidinoso é ato lascivo, voluptuoso, que objetiva prazer sexual.
	O constrangimento ilegal objetiva a prática dos atos de libidinagem (conjunção carnal ou ato libidinoso diverso). A violência aliada ao dissenso da vítima – duas elementares típicas – devem ser longamente demonstradas.
	Há na doutrina e jurisprudência entendimentos diversos sobre a pluralidade de atos no momento do estupro. Há aqueles que entendem que a prática de diferentes atos (sexo vaginal, anal, oral) constitui concurso de crimes (art. 69/CP), há quem entenda que constituem um só crime ou e há o entendimento que constituem crime continuado (art. 71/CP). O entendimento do STF anteriormente à Lei 12.015 era de que constituía concurso material, mas após o advento da lei passou a entender que trata-se de crime continuado.
	Em relação ao resultado, temos que o estupro pode ser qualificado se resulta em lesão grave ou morte da vítima. Os parágrafos do art. 213 dispõem: se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave (...), a pena é de reclusão, de 08 (oito) a 12 (doze) anos (§ 1º); se da conduta resulta morte, a reclusão é de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (§ 2º).
	Para que o crime seja qualificado o resultado, em princípio, deve decorrer de culpa. Com efeito, normalmente, o resultado mais grave – lesão ou morte – é produto de culpa, que complementaria a figura do crime preterdoloso – dolo do antecedente e culpa no consequente.
	Com efeito, se o agente houver querido (dolo direto) ou assumido o risco (dolo eventual) do resultado mais grave, as previsões destes parágrafos não deveriam, teoricamente, ser aplicados. Haveria, nessa hipótese, concurso material de crimes (ou formal impróprio, dependendo das circunstâncias): o de natureza sexual (caput) e o resultante da violência (lesão grave ou morte).
	É também qualificado o crime se a vítima é menor de 18 anos e maior de 14, sendo aplicável a pena de 08 (oito) a 12 (doze) anos. Traduz a preocupação do legislador em proteger de forma mais enérgica a dignidade sexual daqueles com menor idade. Aqueles menores de 14 anos são tutelados por tipo penal autônomo, a ser estudado posteriormente.
	O elemento subjetivo do crime de estupro é o dolo constituído pela vontade consciente de constranger a vítima, contra a sua vontade, à conjunção carnal ou à prática de ato libidinoso diverso, ou de permitir que com ela se pratique.
	Sobre a consumação e tentativa, temos que o crime de estupro se consuma na introdução completa ou incompleta do órgão genital na vagina (conjunção carnal) ou com a efetiva realização ou execução de ato libidinoso diverso de conjunção carnal; o momento consumativo desta possibilidade coincide com a prática do ato libidinoso.
Artigo 217-A. Estupro de vulnerável
Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:         
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos
§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2º (VETADO)
§ 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.     
§ 4o  Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
	O bem jurídico protegido, no crime de estupro de vulnerável, é a dignidade sexual do menor de quatorze anos e do enfermo ou deficiente mental, que tenha dificuldade em discernir a prática do ato sexual, a exemplo do que ocorre com a previsão contida nos arts. 218 e 218-A e B.
	Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, indistintamente, homem ou mulher, contra, inclusive, pessoa do mesmo sexo.
	Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que apresente a qualidade ou condição especial de vulnerabilidade exigida pelo tipo penal, seja pela menoridade de quatorze anos, seja em razão de tratar-se de alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
	No que se refere à vulnerabilidade da vítima menor de 14 anos, há diferentes posicionamentos na doutrina e jurisprudência sobre sua presunção. As teorias, basicamente, se dividem em três: absoluta, relativa e mista. A teoria absoluta consiste no entendimento de que a criança menor de 14 anos é necessariamente vulnerável não importando nada mais além de sua idade para determinar sua vulnerabilidade – não comportando, portanto, provas da não-vulnerabilidade; a teoria relativa entende que as crianças menores de 14 anos são presumidamente vulneráveis, mas dependendo de determinadas circunstâncias pode ter alcançado a maturidade sexual precocemente, tendo discernimento sobre o ato sexual com ela praticado e, neste caso, não haveria lesão a bem jurídico – admitindo, portanto, provas de que a criança tinha discernimento sobre o ato sexual; e, por fim, a teoria mista, que entende que para crianças que têm entre 12 e 14 anos, são admissíveis provas de não-vulnerabilidade, enquanto que para crianças com menos de 12 anos, é inadmissível. [2: ][3: ]
	Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, a pena é aumentada de metade (art. 226, II).
	Em relação à adequação típica, a conduta proibida é a de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com pessoa sexualmente vulnerável. O fundamento da incriminação pelo tipo reside na presumida incapacidade do ofendido de autodeterminar-se (e, consequentemente, de consentir) relativamente ao exercício da sexualidade. Entendendo o julgador que a suposta vítima tinha condições de autodeterminação e conhecia o caráter do ato bem como suas consequências, pode entender que não houve lesão a bem jurídico, aplicando o princípio da lesividade para declarar atípico o fato.[4: ]
	O elemento subjetivo do crime é o dolo constituído pela vontade consciente de ter conjunção carnal ou outro ato libidinoso com a vítima sexualmente vulnerável. No particular, o sujeito ativo deve ter conhecimento (ou consciência) de se trata de menor de quatorze anos ou de alguém que, em razão de sua deficiência mental, não tem o necessário entendimento para a prática do ato, ou que se trata de alguém que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
	É um crime que, tal qual o estudado anteriormente, se qualifica pela lesão grave ou morte da vítima. Sua consumação também se dá tal como naquele.
	Insta estudar duas das alterações trazidas pela Lei 12.015 a este tipo. 
A primeira alteração diz respeito à idade da vítima, antes a redação dispunha “se a vítima não é maior de catorze anos”, considerando sexualmente vulneráveis as crianças com 14 anos; com a alteração, a redação ficou “com menor de catorze anos”, ou seja, excluindo aqueles que têm 14, constituindocrime apenas se a vítima tem 13, 12, 11... assim por diante – constituindo, destarte, reformatio legis in mellius, caso em que a lei penal deve retroagir.
A segunda alteração concerne à pena aplicada ao crime, que antes era de 6 a 12 anos [?] e, com a Lei 12.015, passou a ser de 8 a 15 anos – o que constitui reformatio legis in pejus, cuja retroação é expressamente vedada pela Constituição Federal e pelo Código Penal.
Artigo 61 da Lei de Contravenções Penais. Importunação ofensiva ao pudor
Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
	Podemos definir o pudor como respeitabilidade sexual.
Importunar, a grosso modo, é ocasionar desconforto, causar incômodo. Como estamos tratando de uma infração penal relacionada à dignidade sexual, o desconforto e o incômodo estão a ela ligados.
	A consumação da contravenção se dá no momento da importunação propriamente dita. Não é punível a tentativa, por se tratar de contravenção penal, por força do artigo 4º da Lei de Contravenções Penais, que assim dispõe:
 Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.
	O elemento subjetivo é o dolo constituído de causar incomodo a outrem, atingindo-lhe seu pudor.
Artigo 215. Violação sexual mediante fraude
Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:        
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. 
	O bem jurídico protegido é a liberdade sexual de homem e mulher, que têm sua vontade viciada em decorrência do emprego de fraude pelo sujeito ativo, ou seja, é a inviolabilidade carnal da pessoa humana, homem ou mulher, protegendo-a dos atos fraudulentos com os quais se vicia o consentimento, para praticar ato de libidinagem, em qualquer de suas modalidades.
	O tipo penal prevê dois meios distintos para o cometimento da conduta infracional que descreve: (i) mediante fraude ou (ii) outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima.
	Para que ocorra através do meio (i) mediante fraude, é claro que a fraude deve constituir meio idôneo para enganar o ofendido sobre a identidade pessoal do agente ou sobre a legitimidade da conjunção carnal ou ato libidinoso diverso. Fraude é o engodo, o ardil, o artifício que leva ao engano. Contudo, a fraude não pode anular a capacidade de entendimento ou mesmo de resistência da vítima, hipótese em que estaria configurado o delito de estupro de vulnerável (art. 217-A).
	Necessita, para que este crime se caracterize, que a vítima seja levada a situação de erro, ou nela seja mantida, quanto à identidade do sujeito ativo ou mesmo quanto à legitimidade do ato sexual. É preciso o emprego de artifícios e estratagemas, criando uma situação de fato ou uma disposição de circunstâncias que torne insuperável o erro do ofendido.
	O elemento subjetivo do crime é o dolo constituído pela vontade consciente de ter conjunção carnal com a vítima, ou praticar outro ato libidinoso, ou de permitir que com ela se pratique, fraudulentamente, ou seja, com o emprego de fraude ou outro meio que impeça ou dificulte sua livre manifestação de vontade.
	Consuma-se a violação sexual mediante fraude, na sua primeira figura, ter conjunção carnal, com a introdução do pênis na vagina da vítima, ainda que parcialmente, independente de ejaculação. Consuma-se, por sua vez, a segunda figura, com a prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal. O momento consumativo coincide com a prática do ato libidinoso.
	Admite-se a tentativa, quando, por qualquer razão estranha à vontade do agente, não consegue consumar seu intento, como, por exemplo, consegue induzir a vítima a erro, em razão da fraude, mas não consegue ou é impedido de consumar o crime, ou seja, de praticar propriamente o ato de libidinagem. 
Artigo 216-A. Assédio Sexual
 Assédio sexual
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. 
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
	O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher. Deve ser verificada a elementar relativa à hierarquia funcional ou ascendência. O subordinado ou subalterno não pode ser sujeito ativo do crime de assédio sexual; também não pode aquele em mesmo patamar hierárquico do que o sujeito passivo. A ausência do vínculo laboral ou funcional entre assediante e assediado exclui a aplicação deste tipo.
	Enfatize-se, a inexistência de “vínculo de subordinação” entre vítima e sujeito ativo afasta a tipicidade da conduta, sendo a ascendência laboral, portanto, elementar do tipo. Ascendência laboral é a condição especial necessária ao sujeito ativo deste crime, que se resume na superioridade hierárquica na relação laboral existente entre este sujeito ativo e o sujeito passivo.
	A existência desta ascendência laboral, no entanto, não é suficiente para caracterização do crime. Mister se faz que o sujeito ativo utilize de tal ascendência no constrangimento causado à vítima, deve o sujeito ativo prevalecer-se dessa condição para subjugar a vontade da vítima.
	Assediar sexualmente, sob o aspecto criminal, significa constranger alguém, com o fim especial de obter concessões sexuais, abusando de sua condição de superioridade ou ascendência decorrentes de emprego, cargo ou função.
	Aperfeiçoa-se independentemente de a vítima – assediada, constrangida e assustada – praticar qualquer conduta exigida, querida ou esperada pelo sujeito ativo. 
	O elemento subjetivo geral é o dolo, constituído pela vontade livre e consciente de constranger a vítima com o fim inequívoco de obter-lhe favores sexuais.
	Das majorantes constantes do art. 226, apenas duas não podem ser aplicadas no crime de assédio sexual, ante a proibição do bis in idem, uma vez que se confundem com elementares típicas contidas no art. 216-A: se o agente é (i) preceptor ou (ii) empregador da vítima.
Artigo 218. Corrupção de menores
Corrupção de menores 
Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
	Lenocínio é a atividade de prestar assistência à libidinagem de outrem, ou dela tirar proveito. O lenocínio, em sentido lato, pode abranger não apenas a atividade criminosa dos mediadores como também daqueles que se aproveitam, de um modo geral, da prostituição ou degradação moral. No lenocínio, por certo, estão compreendidos o tráfico de mulheres (recrutamento e transporte de mulheres destinadas à prostituição), o proxenetismo (mediação para servir à lascívia de outrem, favorecimento à prostituição, manutenção de casa de prostituição) e o rufianismo (aproveitamento parasitário do ganho das prostitutas). O lenocínio caracteriza-se, comparando-se com os demais crimes sexuais, por não servir à própria concupiscência do agente, mas objetiva satisfazer a lascívia de outrem, isto é, de terceiro.
	O bem jurídico protegido no crime de uso de menor para satisfazer a lascívia de outrem é, genericamente, a dignidade sexual desse menor.
	O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, sem nenhuma condição especial. Eventual qualidade especial do agente em relação à vítima (ascendente, descendente, tutor etc.) qualifica o crime, vide art. 226, II. O outrem, aquele que se serve da ação criminosa, isto é, que se aproveita da vítima para satisfazer sua lascívia, não é coautor deste crime; poderá, dependendo das circunstâncias, responder pelo crime de estupro de vulnerável (art. 217-A) se praticar algum ato sexual que constitua conjunção carnal ou outro ato libidinoso diverso.
	Sujeito passivo, igualmente, pode ser qualquer pessoa, desde que menor de quatorze anos. Tratando-se de vítima adulta,o crime será o capitulado no art. 227; na hipótese de menor de dezoito e maior de quatorze, será a figura qualificada prevista no § 1º desse mesmo dispositivo. Trata-se de crime que, necessariamente, exige a participação efetiva de outrem. Pode ser tanto do sexo masculino quanto do feminino, pois a lei não os distingue; em outros termos, pessoas de ambos os sexos podem ser induzidas a satisfazer a lascívia alheia.
	A ação tipificada consiste em induzir alguém (menor de quatorze anos), isto é, persuadir, aliciar, levar alguém a satisfazer a lascívia de outrem. Em outros termos, induzir significa suscitar a ideia, tomar a iniciativa intelectual, fazer surgir no pensamento daquele que pratica a conduta uma ideia até então inexistente, que não deixa de ser uma forma ou espécie de instigação.
	A finalidade do induzimento é satisfazer a lascívia de outrem, por meio da prática de conduta lasciva.
	O tipo subjetivo é composto pelo dolo, que consiste na vontade consciente de praticar a conduta incriminada (induzir) no dispositivo, ou seja, o dolo é constituído pela vontade consciente de levar a vítima a praticar a ação que objetive satisfazer a lascívia de outrem. Se o agente for movido pelo fim de lucro, a pena de prisão será acrescida da pena de multa. A existência de qualquer outra finalidade será irrelevante.
	O elemento subjetivo do agente também tem de abranger a situação de vulnerabilidade da vítima, no caso, menor de quatorze anos. Assim, por exemplo, se o agente desconhece que o menor tem menos de quatorze anos, há erro de tipo que descaracteriza o delito em apreço.
	Consuma-se o crime do art. 218 do Código Penal com o efetivo induzimento, ou seja, quando a vítima é convencida pelo agente a satisfazer a lascívia de terceiro. Isso não quer dizer, contudo, que para consumar-se este crime seja necessária a satisfação da lascívia de outrem. Consuma-se, enfim, com o convencimento da vítima menor em satisfazer a luxúria alheia, independentemente de a outra pessoa atingir o “gozo genésico”.
Artigo 218-A. Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente
Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
	A denominação do crime satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente não é das mais felizes, na medida em que não corresponde à realidade de seu conteúdo. Teria sido mais adequado, se, por exemplo, lhe tivesse atribuído o nomen juris de “satisfação de lascívia na presença de menor vulnerável”, por se identificar com o conteúdo proibitivo do tipo penal. Com efeito, a locução “mediante presença” dá a ideia de que a presença de criança ou adolescente” seria meio pelo qual se executaria o crime, quando, na realidade, “na presença de criança ou adolescente”, como consta do preceito primário, constitui uma elementar normativa do tipo, que define a ilicitude do comportamento incriminado.
 	O bem jurídico tutelado é a dignidade sexual do menor.
	Sujeito ativo, tratando-se de crime comum, pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, independentemente de a vítima ser do mesmo sexo.
	Sujeito passivo somente pode ser o menor de quatorze anos, tanto do sexo masculino como do feminino. Haverá, certamente, sérias divergências relativas aos menores já sexualmente corrompidos.
	O tipo prevê duas modalidades alternativas de condutas: i) praticar, na presença da vítima, conjunção carnal ou outro ato libidinoso; ii) induzir a vítima a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Na primeira hipótese, o agente desrespeita a presença do menor vulnerável e pratica ato libidinoso (conjunção carnal ou ato diverso), para satisfazer lascívia própria ou de terceiro. Na verdade, o agente aproveita-se da presença do menor para satisfazer sua própria lascívia ou a de terceiro, sem, contudo, interferir na vontade ou na manifestação desta e sem qualquer contato físico.
	Na segunda hipótese, o agente interfere na liberdade de vontade da vítima (ainda carente das condições necessárias para se autodeterminar livremente), fazendo-lhe nascer a ideia de presenciar ato de libidinagem. Nesta modalidade, o agente vicia a vontade da vítima – ainda a criança ou pré-adolescente – persuadindo-a a assistir a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, corrompendo-a sexualmente. 
	O meio executivo do crime pode ser tanto praticar ato libidinoso (conjunção carnal ou ato libidinoso diverso) na presença da vítima (menor de quatorze anos, de qualquer sexo) como induzi-la a presenciá-los, a fim de satisfazer a lascívia de outrem.
	Desnecessário destacar, por fim, que, em nenhuma das hipóteses tipificadas, a vítima participa diretamente do ato de libidinagem, limitando-se a presenciá-los, como diz o texto legal. A eventual participação de menor vulnerável, em qualquer ato libidinoso, altera a tipificação da conduta, passando a caracterizar estupro de vulnerável (art. 217-A).
	O elemento subjetivo do crime – satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente – é o dolo constituído pela vontade consciente de praticar as ações descritas no tipo, qual seja, praticar ato de libidinagem (conjunção carnal ou outro ato libidinoso) na presença de menor vulnerável ou induzi-lo a presenciá-lo.
	Na modalidade “praticar” consuma-se com a efetiva prática de ato libidinoso, na presença de menor de quatorze anos. Na modalidade “induzir” a presenciá-lo, consuma-se com o efetivo induzimento, ou seja, quando a vítima é convencida pelo agente a presenciar a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
	Admite-se a tentativa, embora, teoricamente, difícil seja sua constatação. Exige-se muita cautela para não incriminar qualquer palavra ou gesto como tipificadora desse crime em sua forma tentada.
Artigo 218-B. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável
Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.  
§ 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.           
§ 2o  Incorre nas mesmas penas
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; 
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento
	O bem jurídico protegido no crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável é, genericamente, a dignidade sexual da pessoa definida como vulnerável. Aliás, vulnerável, para este dispositivo legal, diferentemente dos três artigos anteriores, é o menor de dezoito anos (nos outros dispositivos é menor de quatorze), além de quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato. Em outros termos, a criminalização da conduta descrita no art. 218-B visa proteger o desenvolvimento e a formação saudável da personalidade do menor, para que, na sua fase adulta, possa decidir livremente, e sem traumas psicológicos, seu comportamento sexual.
	Sujeito ativo, como se trata de crime comum, pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, independentemente de a vítima ser do mesmo sexo. Não há exigência de qualquer outra qualidade ou condição especial do sujeito ativo.
	Sujeito passivo somente pode ser o menor de dezoito anos, tanto do sexomasculino como do feminino. Embora o texto legal não o diga, faz-se necessário que o menor não tenha menos de quatorze anos, pois, nesse caso, o crime poderá ser o estupro de vulnerável (art. 217-A). Ainda poderá figurar como sujeito passivo quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato.
	No que diz respeito à adequação típica, temos que prostituição é o exercício habitual do comércio carnal (do próprio corpo), para satisfação sexual de indeterminado número de pessoas. O que caracteriza efetivamente a prostituição é a indeterminação de pessoas e a habitualidade da promiscuidade. É indiferente que se trate de vítima já desencaminhada para que se caracterize o crime de favorecimento da prostituição, pois a lei tanto pune o induzimento ou aliciamento quanto a facilitação da prostituição.
	As primeiras três condutas incriminadas no caput são submeter (sujeitar, subjugar), induzir (suscitar a ideia, tomar a iniciativa intelectual, convencer) ou atrair (incentivar, estimular, seduzir) à prostituição ou outra forma de exploração sexual. Também pode ser realizada a conduta através da facilitação, que é chamada de lenocínio acessório. Facilitar é tornar fácil, favorecer, afastar dificuldades e empecilhos; caracteriza-se quando o agente auxilia a vítima na prostituição, ajuda-a nesse mister, arranjando-lhe “clientes”, colocando-a em pontos ou locais adequados, enfim, propicia-lhe os meios, condições ou oportunidades para prostituir-se. 
	Criminalizam-se, ainda, as condutas de impedir e dificultar o abandono da prostituição ou exploração sexual. Impedir (opor-se, não deixar que desista) que alguém a abandone, isto é, impedir que alguém com sério propósito de abandonar a prostituição a deixe, sendo insuficientes meras declarações da prostituta. Dificultar, por sua vez, é criar embaraços, atrapalhar, fazer exigências difíceis de serem cumpridas, com a finalidade de inviabilizar o abandono da prostituição pela vítima.
	Ao contrário do que ocorre com o crime de favorecimento da prostituição (art. 228, § 2º), não há previsão de qualificadora pelo emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Contudo, se a violência ou grave ameaça constituírem crimes em si mesmos, haverá concurso de crimes. Trata-se, na verdade, de uma omissão do legislador, que não pode ser suprida por analogia ou mesmo por interpretação analógica.
	A conduta do agente pode ser praticada também mediante omissão, se não na forma de induzir alguém a essa atividade, pelo menos para facilitá-la, deixando, por exemplo, realizar atividade a que estivesse obrigado para impedir (garantidor) o exercício da prostituição.
	Em um primeiro momento, tem-se a impressão de que o legislador atribuiu a condição de vulnerável somente ao menor de quatorze anos ou a quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência (art. 217-A). No entanto, agora, já no art. 218-B deparamo-nos, novamente, com a adjetivação de vulnerável para outra faixa etária, qual seja, menor de dezoito anos.
	Devemos partir do entendimento segundo o qual, na ótica do legislador, devem existir duas espécies ou modalidades de vulnerabilidade, ou seja, uma vulnerabilidade absoluta e outra relativa; aquela refere-se ao menor de quatorze anos, configuradora da hipótese de estupro de vulnerável (art. 217-A); esta, refere-se ao menor de dezoito anos, contemplando a figura do favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável (art. 218-B).
	Não apenas os que favorecem a prostituição ou exploram sexualmente as pessoas em estado de vulnerabilidade são criminalmente responsabilizadas por crimes cometidos contra esses vulneráveis, mas também quem com eles praticar conjunção carnal ou ato libidinoso diverso. Nesse sentido, a proibição constante do § 2º em seu inciso I: “quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo.
	O elemento subjetivo é o dolo constituído pela vontade consciente de praticar qualquer das ações descritas no tipo penal. O elemento subjetivo do agente também tem que abranger a situação de vulnerabilidade da vítima, assim, por exemplo, se o agente desconhece que a pessoa explorada sexualmente tem menos de dezoito, há erro de tipo que descaracteriza o delito em apreço.
	Para a tipificação do delito é desnecessário que a vítima se entregue à prostituição com a multiplicidade de relações carnais. Consuma-se com o início de uma vida de prostituição ou com seu prosseguimento, sendo desnecessário o efetivo comércio carnal como prostituta. Na realidade, consuma-se o crime de favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração sexual, quando a ação do sujeito ativo produz na vítima o efeito por ele pretendido, ou seja, quando é levada por ele à prostituição ou é impedida de abandoná-la.
	Admite-se a tentativa, embora, em regra, difícil seja sua constatação.
Artigo 225. Ação penal nos crimes contra a liberdade sexual e nos crimes sexuais contra vulnerável
Ação penal
Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. 
Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. 
	A Lei nº 12.015/09 alterou a redação do art. 225 para determinar que a ação penal, para os crimes constantes dos Capítulos I e II do Título IV (‘dos crimes contra a liberdade sexual’ e ‘dos crimes sexuais contra vulnerável’, respectivamente), passe a ser pública condicionada à representação. Inverte, dessa forma, sua natureza, que era de exclusiva iniciativa privada. Contudo, paradoxalmente, o parágrafo único do mesmo dispositivo legal determina que a ação penal é pública incondicionada se a vítima for menor de dezoito anos ou pessoa vulnerável, ou seja, na hipótese dos crimes previstos no Capítulo II do mesmo Título do Código Penal, o exercício da ação penal não depende de qualquer condição, contrariando a previsão do caput.
	Há, portanto, duas previsões legais para ação penal dos crimes previstos no Capítulo II (“Crimes contra vulnerável”): seriam de ação pública condicionada, segundo o caput, e seriam de pública incondicionada, segundo o parágrafo único. Como solucionar esse erro crasso do legislador, sem um grande esforço hermenêutico?
	Argumenta Bitencourt que, diante da impossibilidade de compatibilização entre os dois dispositivos em questão, torna-se necessário que se opte por uma das duas opções. Considera que há uma norma mais liberal (caput), que define a ação penal como pública condicionada à representação; e b) outra norma, mais gravosa (parágrafo único), determinando a obrigatoriedade da ação penal, definida como pública incondicionada. Diz que em termos de direito penal material, conflito como esse não pode ser solucionado com a opção pela norma mais gravosa. Sustenta, ainda, que a norma constante no caput é mais vantajosa tanto para a vítima quanto para o infrator. Neste sentido, conclui afirmando que a interpretação mais consentânea com um Estado Democrático de Direito é aquela que adota a ação penal pública condicionada à representação para os crimes sexuais contra vulneráveis.
	Sobre a controvérsia já houve manifestação do Supremo Tribunal Federal, que estabeleceu o entendimento que para determinar o condicionamento ou não da ação penal à representação, usar-se-á como critério a vulnerabilidade da vítima: se momentânea, condicionada à representação será a ação, se definitiva, será ação penal incondicionada.
	Relativamente aos crimes previstos no capítulo v deste Título, qual seja, do lenocínio, a ação penal é pública incondicionada à representação.
Artigo 227. Mediação para servir a lascívia de outrem
CAPÍTULO V
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE 
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE 
EXPLORAÇÃOSEXUAL
Mediação para servir a lascívia de outrem
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: 
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
	O bem jurídico protegido é a moralidade pública sexual, objetivando, particularmente, evitar o incremento e o desenvolvimento da prostituição. Lenocínio significa prestar assistência ou auxiliar à vida de libertinagem de outrem, ou dela tirar proveito. Em sentido mais abrangente, lenocínio abarca o proxenetismo (mediação para satisfazer a lascívia de outrem), o favorecimento à prostituição e o rufianismo e, inclusive, o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. O lenocínio, enfim, é um dos crimes mais degradantes que acompanha a civilização ao longo de toda a sua história com o passar dos séculos.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, sem nenhuma condição especial. Eventual qualidade especial do agente em relação a vítima (ascendente, descendente, tutor etc.) qualifica o crime.
	Sujeito passivo pode ser tanto do sexo masculino quanto do feminino, pois a lei não os distingue; pessoas de ambos os sexos podem ser induzidas a satisfazer a lascívia alheia.
	No que diz respeito à adequação típica, temos que a ação tipificada consiste em induzir, isto é, persuadir, aliciar, levar alguém a satisfazer a lascívia de outrem. Outrem deve ser pessoa determinada, de qualquer sexo, caso contrário constituiria o crime do art. 228, que estudaremos no tópico seguinte. A finalidade do induzimento é satisfazer a lascívia de outrem, através de qualquer prática libidinosa. A lascívia a ser satisfeita deve ser a de outrem, e não a própria. No entanto, nada impede que o ato seja praticado pelo próprio agente, limitando-se o agente a presenciá-lo.
	Não se exige para a tipificação do crime nem habitualidade nem venalidade.
	O elemento subjetivo é o dolo, constituído pela vontade consciente de levar a vítima a praticar ação que objetive a satisfazer a lascívia de outrem. Se o agente for movido pelo fim de lucro, a pena de prisão será acrescida da pena de multa.
	Consuma-se com a efetiva satisfação da luxúria alheia, independentemente de a outra pessoa atingir o “gozo genésico”. O crime se consuma, afirmava Fragoso, “com a efetiva prática de qualquer ato que importe na satisfação da lascívia de terceiro, a quem a mediação favoreça. Não se exclui, portanto, que se trate de ato praticado pelo próprio agente, limitando-se o terceiro a presenciá-lo” – Cézar Roberto Bitencourt.
Artigo 228. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual
	O bem jurídico protegido é a moralidade pública sexual, objetivando, particularmente, evitar o incremento e o desenvolvimento da prostituição.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, sem nenhuma condição especial, tratando-se, por conseguinte, de crime comum. Sujeito passivo, igualmente, pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher. A jurisprudência tem se consolidado no sentido de afastar como sujeito passivo, especialmente das modalidades induzir ou atrair, a pessoa já prostituída. Não há sentido algum em induzir ou atrair alguém à prostituição, tratando-se de pessoa já prostituída. Bitencourt argumenta que nas modalidades impedir ou dificultar o seu abandono não há maiores dificuldades em admitir tais pessoas como sujeitos passivos.
	Quando à adequação típica, temos que o tipo penal contempla cinco condutas nucleares. As primeiras condutas incriminadas no caput são a) induzir, que significa suscitar a ideia, tomar a iniciativa intelectual; e b) atrair, que é incentivar, estimular, seduzir à prostituição ou outra forma de exploração sexual.
	Complementam o conteúdo deste dispositivo três outras modalidades de condutas, c) facilitar, que significa favorecer, tornar fácil, eliminar dificuldades e obstáculos à prostituição; d) impedir o abandono, constituída por oposição do sujeito ativo à “sério propósito de abandonar a prostituição”. e) Dificultar, por sua vez, é criar embaraços, atrapalhar, fazer exigências difíceis de serem cumpridas, com a finalidade de inviabilizar o abandono da prostituição pela vítima.
	O elemento subjetivo do crime é o dolo constituído pela vontade consciente de praticar qualquer das condutas descritas no tipo (induzir, facilitar, impedir ou dificultar) conducentes à prática da prostituição ou outra forma de exploração sexual.
Artigo 229. Casa de prostituição
Casa de prostituição
Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
	Distingue-se este crime daquele descrito no art. 228. Neste art. 229, objetiva-se impedir outra forma de favorecimento à prostituição, como diz Rogério Sanches, uma forma especial, talvez a mais importante, qual seja, a manutenção de local para o exercício da prostituição, mas, nesta hipótese, de maneira geral e indeterminada.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que mantenha, na condição de proprietário ou gerente, “casa do ramo”, com ou sem finalidade lucrativa, embora esta esteja implícita nesta modalidade de conduta. Na verdade, exclui-se a prostituta que mantém o local, para ela, sozinha, explorar o comércio carnal, visto que o tipo penal exige que o sujeito ativo mantenha a casa para prostituição alheia.
	Sujeito passivo será sempre a pessoa prostituída, homem ou mulher, que permanece no local (bordel, casa de prostituição ou estabelecimento de exploração sexual).
	Casa de prostituição é o local onde as prostitutas permanecem para o exercício do comércio carnal, à espera de seus potenciais “clientes”. A conduta incriminada é representada pelo verbo nuclear manter, que significa sustentar, conservar ou custear a antiga casa de prostituição. Em outros termos, o crime consiste em manter esses locais, explorá-los ou dirigi-los, exatamente para o fim mencionado no tipo penal, qual seja para que “ocorra exploração sexual”.
	Argumenta Bitencourt, e é este o entendimento do STJ, que a finalidade do local, isto é, a exploração sexual, deve ser finalidade única e exclusiva daquele estabelecimento. Ou seja, deve tratar-se de local de encontros para a prática de libidinagem ou comércio da satisfação carnal, para o exercício da prostituição, pura e simplesmente.
	O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, representado pela vontade consciente de manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual. É indispensável que o agente tenha conhecimento desta destinação específica do estabelecimento para que se configure o dolo.
Artigo 230. Rufianismo
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
§ 2o  Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
	O bemjurídico protegido é a moralidade sexual, na medida em que o rufianismo é modalidade do lenocínio consistente em viver à custa da prostituição alheia. A proibição constante do art. 230 objetiva, particularmente, evitar ou restringir a exploração da prostituição.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, embora, em regra, este crime seja praticado por homem, popularmente conhecido como rufião ou cafetão; nada impede, contudo, que mulher também o pratique.
	Sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa, homem ou mulher, que exerça a prostituição e seja explorada pela figura do rufião.
	Configura o crime de rufianismo fazer-se alguém sustentar, no todo em parte, por prostituta, participando, habitualmente, do lucro auferido da prostituição, independente do emprego de violência ou grave ameaça. A ação tipificada é tirar proveito da prostituição alheia, isto é, auferir vantagem, aproveitar-se economicamente de pessoa que a exerça. Há duas modalidades: a) participando diretamente dos lucros; b) fazendo-se sustentar por quem exerça a prostituição.
	Nas duas modalidades de condutas é indispensável a característica da habitualidade. Pressupõe-se habitual e direta participação nos ganhos o habitual sustento, total ou parcial, do agente pela prostituta (ou prostituto). A simples vantagem ocasional ou recebimento eventual de um presente ou outro, ou alguma ajuda esporádica, não tipificam esse delito. 
	O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, que consiste na vontade consciente de tirar proveito da prostituição ou de sustentar-se dela.
	A qualificadora prevê as seguintes hipóteses: “se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”.
	Qualifica, igualmente, o crime o eventual emprego de violência, física ou moral, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima.
Artigo 233. Ato obsceno
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independente do sexo. Esse crime, como a regra geral, admite naturalmente o concurso de pessoas.
	Sujeito passivo é a coletividade, além de qualquer pessoa que eventualmente presencie o ato, que, nesse caso, também assume a condição de sujeito passivo.
	A ação tipificada é praticar ato obsceno, isto é, ato que ofenda o pudor público objetivamente, considerando-se o sentimento comum vigente no meio social. Obsceno é o que ofende o pudor ou a vergonha, ou seja, um sentimento de repulsa ou humilhação criado por um comportamento indecoroso.
	É necessário que o ato obsceno seja praticado em lugar público, aberto ou exposto ao público. É necessário que o ato obsceno possa ser visto por indeterminado número de pessoas. A publicidade inerente à pratica do ato obsceno se refere apenas ao local em que é praticado, e é indispensável a consciência da publicidade do lugar.
	O tipo subjetivo é o dolo, consistente na vontade consciente de praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público. Não há necessidade do propósito de ofender o pudor público ou de especial fim erótico. É necessário que o agente tenha consciência de que se encontra em lugar público; a dúvida poderá originar o dolo eventual.
Artigo 234-A. Disposições gerais sobre os crimes contra a dignidade sexual
CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES GERAIS 
Aumento de pena    
Art. 234-A.  Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: 
I – (VETADO); 
II – (VETADO); 
III - de metade, se do crime resultar gravidez; e
IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. 
Art. 234-B.  Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
CAPÍTULO QUARTO – DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
Artigo 286. Incitação ao crime
Incitação ao crime
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
	O bem jurídico tutelado pelo tipo penal “incitação ao crime”, como espécie dos crimes contra a paz pública, não é o bem jurídico que pode, eventualmente, vir a ser atingido pelo crime incitado, mas a própria ordem social, ou, na terminologia de nosso diploma legal, a paz publica sob o seu aspecto subjetivo, qual seja, a sensação coletiva de segurança e tranquilidade, garantida pela ordem jurídica.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independentemente de qualidade ou condição especial, enfim, quem pratica a conduta descrita no tipo penal, sendo admissível, por todas as razões, o concurso eventual de pessoas, nas modalidades de coautoria e participação em sentido estrito.
	Sujeito passivo, nesta infração penal, mais do que nunca, é a coletividade em geral e, secundariamente, o próprio Estado, que tem a obrigação de garantir a segurança e o bem-estar de todos.
	A essência desta figura delitiva consiste em incitar, publicamente, a prática de um crime, sem que este seja efetivamente executado. O que o art. 286 incrimina é pura e simplesmente a incitação à pratica de crime em si mesma, desde que, deve-se registrar, esta tenha idoneidade para o fim proposto, independentemente de o incitado deixar-se persuadir pela incitação; com efeito, para a configuração da incitação à prática de crime é irrelevante que o incitado execute o crime a que fora estimulado, desde que a conduta incriminada realmente tenha a eficácia necessária para instiga-lo.
	Contudo, se o fato incitado ou instigado não constituir crime, mesmo que se revista de imoralidade ou configure alguma contravenção, não tipifica o delito do art. 286, ou seja, está excluída dessa tipificação a incitação à prática de contravenção penal ou de fatos imorais.
	Se o incitado vier a efetivamente executar o crime objeto da incitação, nesse casso, haverá concurso material de crimes: o sujeito incitado responderá pelo crime que cometer, e o sujeito ativo deste (art. 286) responderá por ambos, ou seja, pelo crime de incitação e pelo crime efetivamente praticado por aquele – sendo partícipe.
	O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, representado pela vontade consciente de incitar, ou seja, de estimular a prática de crime, tendo o agente ciência de que se dirige a um número indeterminado de pessoas. A consciência da incitação reside na seriedade com que é executada, tratando-se de elemento fundamental para que o crime possa ser reconhecido. O sujeito ativo deve agir com vontade de excitar a prática criminosa e com consciência de que sua ação é ou poderá ser percebida ou ouvida por indeterminado número de pessoas.
	Consuma-se o crime com a simples incitação pública, desde que perceptível por um número indeterminado de pessoas, independentemente de qualquer outro resultado decorrente da incitação.
Artigo 287. Apologia de crime ou criminoso
Apologia de crime ou criminoso
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
	A apologia de crime é uma espécie secundária da incitação ao crime (instigação ínsita ou implícita, segundo Magalhães Noronha).
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independentemente de qualidade ou condição especial; enfim, aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal, sendo perfeitamente admissível a figura do concurso eventual de pessoas.
	Sujeito passivo, nesta infração penal, é, também, a coletividade em geral, ou seja, um número indeterminado e indeterminável de pessoas, e, secundariamente, o próprio Estado, que tem a obrigação de garantir a segurança e o bem-estar de todos os cidadãos.
	A conduta típica, nos termos do nosso diploma legal, é fazer apologia, que tem o significado de elogiar, exaltar, enaltecer, destacar qualidade, virtude ou aptidão do autor enquantocriminoso, ou vantagens, benefícios ou consequências favoráveis do fato delituoso.
	O elogio deve referir-se a fato definido como crime ou a seu autor, de forma a constituir incentivo indireto ou implícito à repetição da ação delituosa, por quem quer que seja.
	A apologia de contravenção penal não satisfaz o elemento constitutivo desse crime, visto exigir que se refira a crime, isto é, a fato definido como crime.
	É ainda requisito do tipo penal, a exemplo da figura examinada no tópico anterior, a publicidade, isto é, requer-se que a apologia seja feita publicamente, ou seja, em condições que permitam a percepção de um número indefinido de pessoas; somente assim poderá resultar perigo à “paz pública”.
	O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, representado pela vontade de fazer, publicamente, apologia de crime ou de autor de crime, ou seja, de estimular a sua prática, consciente da instigação indireta contida em sua conduta e de que atinge um número indeterminado de pessoas.
Artigo 288. Associação criminosa
Associação Criminosa
Art. 288.  Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Parágrafo único.  A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.
	O crime de associação criminosa integra o Título IX do Código Penal, sob a epígrafe “Dos crimes contra a paz pública”.
	Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, em número mínimo de três pessoas, tratando-se, por conseguinte, de crime de concurso necessário; em outros termos, o concurso de pessoas também é elementar típica dessa modalidade de crime, cuja inexistência desnatura a sua essência.
	A doutrina, de um modo geral, tem incluído também no número legal – três ou mais pessoas – os inimputáveis, como, por exemplo, os doentes mentais ou menores de dezoito anos, ou seja, os penalmente irresponsáveis.
	Sujeito passivo, nessa infração penal, é a coletividade em geral, um número indeterminado de indivíduos e o próprio Estado, que tem a obrigação de garantir a segurança e o bem-estar de todos.
	No que tange à adequação típica, temos que o núcleo do tipo é associar-se, que significa unir-se, juntar-se, reunir-se, agrupar-se. É necessária a reunião de pelo menos três pessoas para que se caracterize a associação criminosa, ou seja exigem-se no mínimo três pessoas reunidas com o propósito específico de cometer crimes.
	São características essenciais da associação criminosa a estabilidade, o desejo de permanência (que não significa perpetuidade) e o fim de perpetrar indeterminada série de crimes – a lei diz “crimes”, no plural, sendo atípica, relativamente a este tipo penal, a conduta de associarem-se três ou mais pessoas objetivando praticar um único crime. 
	Se a prática for de crime determinado único determinado ou crimes da mesma espécie, a figura será a do instituto do concurso eventual de pessoas e não a formação de quadrilha ou bando.
	Enfim, a configuração típica do crime de associação criminosa compõe-se dos seguintes elementos: a) concurso necessário de, pelo menos, três pessoas; b) finalidade específica dos agentes de cometer crimes indeterminados (ainda que acabem não cometendo nenhum); c) estabilidade e permanência da associação criminosa. Em outros termos, a associação criminosa exige, para sua configuração, união estável e permanente de criminosos voltada para prática indeterminada de vários crimes.
	O elemento subjetivo é o dolo, representado pela vontade consciente de associar-se a outras pessoas com a finalidade de praticar crimes indeterminados, criando um vínculo associativo entre os participantes. É a vontade e a consciência dos diversos componentes de organizarem-se em associação, de forma permanente e duradoura, para a prática indiscriminada de crimes.
	Exige-se o elemento subjetivo especial do tipo, caracterizado pelo especial fim de organizar-se em associação para cometer crimes indiscriminadamente, sob pena de não se implementar o tipo subjetivo.
	Diz o parágrafo único que a pena é aumentada até a metade se há a participação de criança ou adolescente.
Artigo 288-A. Constituição de milícia privada
Constituição de milícia privada
Art. 288-A.  Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
	A lei não conceituou o que vem a ser “grupo de extermínio, esquadrão, milícia privada, organização paramilitar”, abrindo margem interpretativa para a doutrina e jurisprudência.
	Pode-se conceituar paramilitar como aquela que “caminha ao lado” da militar, em situação ilegal. Possui estrutura da organização militar, sem ser militar. Assemelha-se à estrutura militar, podendo haver hierarquia, armamento, planejamento de ataque, etc. São associações civis, armadas e com estrutura semelhante a militar.
	Milícia significa batalhão, polícia. A milícia particular se refere a um grupo menor de agentes que se reúnem inicialmente para fornecer “segurança” e depois passa a extorquir uma determinada população. Em alguns casos pode, por exemplo, ser formada por policiais, como no caso do Estado do Rio de Janeiro.
	Grupo é o conceito mais genérico do art. 288-A, referindo apenas à união ou conjunto de pessoas. O art. 121, § 6º, fornece o exemplo, falando em grupo de extermínio, ou seja, aquele destinado a ceifar a vida de pessoas.
	Esquadrão, no conceito militar, refere-se a uma unidade da cavalaria, do exército blindado etc. O termo se vincula a uma reunião de pessoas quantitativamente maior que o grupo. O esquadrão pode ser exemplificado na organização criminosa formada no interior dos estabelecimentos penitenciários.
 	Porra que merda de artigo quem foi que escreveu essa bosta?
CAPÍTULO QUINTO – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Artigo 327. Conceito de funcionário público
Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
	Antes de adentrarmos o Título dos crimes contra a administração pública, é necessário que dominemos o conceito de funcionário público, uma vez que este título é inaugurado pelo capítulo que disciplina os crimes cometidos contra a administração pública por funcionário público.
	Diversamente da conceituação conferida pelo direito administrativo, o direito penal considera funcionário público quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
	Nosso Código Penal, no art. 327, adotou a noção extensiva de funcionário público. Isto é, não exige, para caracterização deste, o exercício profissional ou permanente da função pública.
	Então, ao verificar se o sujeito ativo do crime é funcionário público, deve-se observar se exerce:
Função pública; ou
emprego público; ou
cargo eletivo; ou
cargo comissionado;
ainda que temporários; inclusive
em entidades paraestatais (Sistema S – SENAI, SENAC);
em empresa pública;
em sociedade de economia mista; ou
fundações; incluem-se os
terceirizados;
 mesários;
 jurados;
 estagiários.
Destaque-se que este conceito extensivo de funcionário público é aplicado nos crimes em que o funcionário público é sujeito ativo. Nos crimes em que é sujeito passivo, como no desacato ou injúria contra funcionário público, aplica-se o conceito restritivode funcionário público, aquele do direito administrativo.
Artigo 312. Peculato
CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
	O bem jurídico penalmente protegido, segundo a doutrina tradicional, é a Administração Pública, particularmente em relação a seu próprio interesse patrimonial e moral.
	O sujeito ativo somente pode ser o funcionário público ou aquele expressamente equiparado a este para fins penais, definição tratada no capítulo anterior deste resumo, tratando-se de crime próprio, tal como todos os outros crimes deste capítulo do Código Penal – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMETIDOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO.
	Sujeitos passivos são o Estado e as demais entidades de direito público relacionadas no art. 327, § 1º do CP. Se o bem móvel for particular o proprietário ou possuidor desse bem também será sujeito passivo.
	Existem diferentes modalidades do crime de peculato, as quais passamos a estudar.
Peculato apropriação ou desvio (art. 312, caput)
	Pressuposto desta modalidade de peculato é a anterior posse lícita, isto é, legítima da coisa móvel, da qual o funcionário público apropria-se indevidamente. A posse deve preexistir ao crime, deve ser exercida pelo agente em nome alheio, ou seja, em nome do Poder Público.
	A posse mencionada no dispositivo em exame deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo, inclusive, a simples detenção e até o poder de disposição direta sobre a coisa.
	É necessário que a posse prévia advenha de cargo exercido pelo funcionário público, afinal, o texto legal refere-se à “posse em razão de cargo”.
	O peculato, nesta modalidade, consiste no apossamento ou desvio (destinação diversa), por parte do funcionário público, de coisa móvel, pública ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou alheio.
Peculato furto (art. 312, § 1º)
	O § 1º prevê o chamado peculato-furto, no qual o funcionário público não tem a posse do objeto e o subtrai, ou concorre para que outro o subtraia, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público.
Peculato culposo (art. 312, § 2º)
	Ocorre o peculato culposo quando o funcionário público concorre para que outrem se aproprie, desvie ou subtraia o objeto material da proteção penal, em razão de sua inobservância ao dever objetivo de cuidado necessário (§ 2º). No caso, o funcionário negligente não concorre diretamente no fato praticado por outrem, mas, com sua desatenção ou descuido, propicia ou oportuniza, involuntariamente, a que outrem pratique um crime doloso, que pode ser de outra natureza.
	O elemento subjetivo do crime de peculato é o dolo, constituído pela vontade de transformar a posse em domínio, ou seja, é a vontade livre e consciente de apropriar-se de coisa móvel pertencente ao Estado, de que tem a posse em nome do próprio Estado. É a vontade definitiva de não restituir a coisa móvel pertencente ao Poder Público ou desviá-la de sua finalidade.
	O peculato de uso – subtrair a coisa para usá-la, dela desfrutar, sem o intuito de definitivamente ficar com ela – não é crime, salvo se o agente é prefeito municipal (Dec.-lei n. 201/67, art. 1º, II).
	Devemos conhecer ainda a modalidade peculato-erro:
Peculato mediante erro de outrem
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	E a modalidade de peculato-cibernético:
Inserção de dados falsos em sistema de informações 
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.  
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. 
Artigo 314. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
        Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente a probidade administrativa. A finalidade da tutela penal é a preservação do regular funcionamento da Administração Pública, particularmente garantir a integridade e idoneidade de livros oficiais e documentos confiados a funcionário público em razão de seu cargo.
Sujeito ativo somente pode ser o funcionário público, ou aquele expressamente a este equiparado para fins penais, que tenha a guarda de livro oficial ou de documento em razão do cargo. Somente esse pode ser sujeito ativo deste crime. É admissível a participação de terceiro, via concurso eventual de pessoas.
Se o sujeito for um particular, estranho à Administração Pública, o crime cometido será aquele do art. 337 (subtração ou inutilização de livro ou documento) e não este descrito no art. 314, a menos que tenha concorrido com o funcionário público responsável, sendo alcançado pelo disposto no art. 29 do CP.
Sujeitos passivos são o Estado e as entidades de direito público, como regra geral. Se o particular, de alguma forma, também for lesado com o extravio, a inutilização ou a sonegação de livro oficial ou de qualquer documento, será incluído como sujeito passivo direto, o que pode ocorrer, por exemplo, quando o objeto material lhe pertença.
Extraviar — na concepção de Cézar Roberto Bitencourt — significa desconhecer seu paradeiro, ignorar a sua localização, não saber onde se encontra o objeto material, perdê-lo, enfim, é não ter como localizá-lo.
Estamos diante de um verbo nuclear — extraviar — que encerra uma conduta omissiva, descuidada, e, por que não dizer, que só pode resultar da desatenção do sujeito ativo, representadora de uma conduta negligente, que caracteriza, em regra, culpa stricto sensu.
Sonegar é omitir, deixar de mencionar ou de apresentar quando lhe é exigido por quem de direito, e desde que o funcionário esteja obrigado a fazê-lo. “Sonegação — na dicção de Magalhães Noronha — é não apresentar, relacionar ou mencionar quando isso é devido”. Inutilizar é retirar a aptidão, é tornar inidônea, desnaturar a coisa — total ou parcialmente — suprimindo suas propriedades essenciais, tornando-a inapta para atingir suas finalidades. “Inutilizar é tornar uma coisa imprestável para o fim a que se destina” (NELSON HUNGRIA).
O elemento subjetivo é o dolo, constituído pela vontade livre e consciente de praticar qualquer das condutas elencadas na descrição típica, qual seja de sonegar ou destruir livro oficial

Continue navegando