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Arquétipo e Inconsciente Coletivo


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ARQUÉTIPO
Inconsciente coletivo
Para entender o significado de arquétipo, é necessário conhecer o conceito de inconsciente coletivo. Inconsciente coletivo é o nível mais profundo da psique, que contem o acúmulo de experiências herdadas de espécies humanas e pré-humanas.
Arquétipo
O termo arquétipo tem origem grega (arkhétypon), que significa modelo primitivo. Sendo usado na filosofia, na crítica literária e na psicologia.
Na filosofia, Platão emprega o termo arquétipo na sua teoria do conhecimento, na qual considera que as idéias, como modelo original das realidades, são apenas cópias do reflexo desse modelo arquetípico.
 Na crítica literária, procura-se demonstrar como as produções literárias recuperam diversas imagens e símbolos através dos quais se revelam experiências, intuições e comportamentos provenientes de modelos primitivos e de arquétipos frequentes em mitos de outras culturas e épocas, considerando assim o arquétipo como sendo o modelo primitivo perdido de um texto e que se tenta recuperar através de cópias.
Na psicologia, o termo surge com Carl Gustav Jung ( psiquiatra suíço, 1875- 1961), considerando que arquétipos são imagens de experiências contidas no inconsciente coletivo. Desta forma, os arquétipos revelam-se, independentemente do tempo, do espaço e dos povos através dos sonhos, da imaginação, da infância, do primitivo, das imagens e dos símbolos e figuram nos contos, lendas e tradições populares. São aglomerados de sentimentos, pensamentos e lembranças carregados de forte potencial afetivo. O arquétipo é o núcleo do complexo. Ele atrai para si experiências significativas, a fim de formar o complexo, tornando-se suficientemente forte para constituir o centro de um complexo bem desenvolvido, para poder se expressar na consciência e no comportamento. 
Citando o exemplo da imagem pré-formada de “mãe”: assim que o bebê entrar em contato com sua mãe a imagem pré-formada será amplificada, sendo agora definida pela aparência e comportamento da mãe verdadeira e pelas experiências que terá com ela ao longo da vida. 
Alguns arquétipos desempenham papéis fundamentais na formação de nossa personalidade e de nosso comportamento. Segundo Jung todo ser humano tem quatro arquétipos principais: Persona, Anima e Animus, Sombra e Self. 
Persona 
A palavra “persona“ é derivada do verbo “personare“, ou “soar através de”. No teatro grego era o nome da máscara que os atores usavam para lhes dar a aparência que o papel exigia, assim como amplificar sua voz para que fosse ouvida pelos espectadores.
Na Psicologia Analítica, a “persona” indica um aspecto da personalidade, representante da psique coletiva, que se encontra dentro da própria personalidade. É uma estrutura da psique que gira em torno do “eu”, e cuja relação com o próprio “eu” muda continuamente ao longo da vida. 
É a imagem que o individuo mostra externamente, seu papel ou status social nas relações com o mundo e o aspecto que ele assume nas relações com a cultura e com a sociedade. Refere-se também à adaptação do individuo ao coletivo, à atitude que o individuo mostra como resposta aos outros e às situações, para adaptar-se ao ambiente e nele agir. Diz respeito ao conjunto de atitudes convencionais do individuo enquanto pertencente a uma tradição, que se evidencia nos seus prejulgamentos em relação aos outros.
A persona é o invólucro das modalidades expressivas, dos pensamentos e sentimentos do individuo na relação que mantém com os estereótipos da psique coletiva, consciente e inconsciente. É a mediação entre a individualidade e a exigência da cultura, motivo pelo qual a pessoa necessita de máscaras para representar seus diversos papeis sociais.
Anima e animus
Anima e animus são termos latinos que indicam a imagem da alma de um indivíduo, respectivamente masculina ou feminina. 
Estes termos foram introduzidos por Jung para simbolizar a característica contra-sexual de cada indivíduo, parte do princípio da complementariedade, através do qual a psique se move. São imagens psíquicas, configurações originárias de uma estrutura arquetípica básica, provenientes do inconsciente coletivo. São subliminares à consciência e funcionam a partir de dentro da psique inconsciente, influindo sobre o principio psíquico dominante de um homem ou de uma mulher. Jung afirma que a anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino, e pode ser designada pelo nome de animus. 
Mais tarde, Jung enriqueceu sua definição de anima e animus chamando-as de “não eu”, está fora de si próprio, pertencente à sua alma ou espírito.
Para o homem, tem a característica de reações, impulsos e posicionamentos baseados em conhecimento não suficientemente justificado; e para a mulher assume a forma de compromissos, crenças e inspirações; é algo que induz a tomar conhecimento do que é espontâneo e significativo na vida psíquica.
A compreensão e a integração de cada uma dessas imagens exigem uma parceria com o sexo oposto. É uma tarefa primária na análise, discriminar e examinar os aspectos deste par de opostos entre analista e paciente.
Sombra
A sombra é o outro lado da personalidade e, por esta razão, é a parte obscura da psique, enquanto tal inferior e indiferenciada que, de diversos modos, é, necessariamente, remetida à parte superior e diferenciada da própria psique durante o processo de individuação – que vem a ser o processo de transformação contínua de uma personalidade.
A sombra é uma unidade complexa dotada de vitalidade autônoma, fundamentalmente entendida como o negativo de cada indivíduo, que o próprio homem pode apenas perceber sentimental e intuitivamente e, por isso, experienciar.
Exprime o lado não aceito da personalidade assim como se constituiu, e portanto é, de um lado, o conjunto de tendências, características, atitudes e desejos inaceitáveis em relação ao complexo do “eu”; do outro, o conjunto das funções indiferenciadas ou fracamente diferenciadas em relação às funções psíquicas. Surge então a expressão “sombra do eu”, que indica especificamente o conjunto de modalidades e possibilidades de existência reconhecidas pelo sujeito como não próprias, seja enquanto negativas ou não-valores em relação a valores já codificados na consciência: considera-se que tais elementos fiquem alienados de si para defender e ao mesmo tempo constituir a própria identidade, embora com o risco de parar indefinidamente o devir da pessoa humana.
Neste sentido a experiência da sombra é experiência da definição de si e do limite que, enquanto tal, constitui a atual identidade do sujeito.
Durante o trabalho analítico (análise) identificamos diferentes acepções da sombra:
1. A projeção da sombra – alienação do sujeito em relação aos próprios conteúdos psíquicos negativos considerados penosos e incompatíveis, e a incorporação dos mesmos no “outro”. Tal dinâmica é posta como explicação das antipatias e idiossincrasias que nascem em cada sujeito, ao referir ao “outro” aquilo que existe de sombrio na própria personalidade;
2. A identificação com a sombra – o sujeito assume os próprios conteúdos negativos, razão pela qual adota todas as suas características. A energia psíquica dinamiza apenas os conteúdos negativos, por essa razão é considerada como ainda não elaborada sob forma de autocrítica;
3. A cisão da sombra – se refere a vida autônoma, que ocorre dentro da psique, dos conteúdos rejeitados, de qualquer forma, pelo complexo do “eu”, motivo pelo qual eles provocam, por um lado, bruscas mudanças de personalidade, e por outro lado a alternância de personalidades diferentes;
4. A diferenciação da sombra – nesta etapa, há a distinção e o desenvolvimento dos conteúdos psíquicos negativos, a fim de que esses possam entrar verdadeiramente em relação com os seus opostos;
5. A integração da sombra – é o reconhecimento crítico à aceitação não apenas racional dos aspectos negativos da própria personalidade. Tal reconhecimento e aceitação, sendo realizados por partedo “eu”, restituírão ao próprio “eu” a energia psíquica, de tipo cognitivo e afetivo, que antes disso residia isoladamente nos conteúdos psíquicos.
Self
O arquétipo central da psique humana é o self. É o principio ordenador e unificador da totalidade da psique consciente e inconsciente, atrai para si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência. Atua como a fonte criadora e reguladora de nossa vida psíquica. O self é a maior autoridade psíquica e subordina o “eu” ao seu domínio.
Para atingir a individuação, a pessoa precisa diferenciar e integrar todas as instâncias psíquicas: “eu”, persona, anima ou animus e a sombra, em relação ao self e ao coletivo, resultando assim em um desenvolvimento do individuo no âmbito espiritual e coletivo.
A meta final de qualquer indivíduo é chegar a um estado de auto-realização e de profundo conhecimento do próprio “eu”, essa é a tarefa de uma vida.
Alcançar a auto-realização depende da cooperação e estruturação do “eu”, pois depois de um longo processo de transformações internas impõe-se o sacrifício do “eu”, que reconhece sua posição subordinada e está preparado para servir à totalidade — o self. 
Importante ressaltar que o arquétipo, tal como é entendido na psicologia jungiana, é recuperado por alguns antropólogos, como Claude Lévis-Strauss e, por críticos literários, tais como Bachelard, Northrop Frype e Maud Bodkin.
REFERÊNCIAS.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney Ellen. Teorias da Personalidade. Cengage, 2013.