Prévia do material em texto
Psicologia Jurídica Prof. Caroline Marafiga É a área da Psicologia que está correlacionada ao Direito, tanto nas questões teóricas como praticas. A priori o psicólogo jurídico deveria servir apenas para formular laudos baseados em diagnóstico e testes psicológicos para ajudar a instituição judiciária a tomar uma decisão. Porém, no decorrer do tempo surgiu a necessidade de mudar este modelo de atuação e, desta forma, buscou-se novas formas de intervenção, visando o bem estar do indivíduo, como o maior foco na preservação da sua cidadania. Psicologia —> entendimento humano. Direito —> determinado por normas. Por exemplo, em caso de dúvida quanto à presença de transtornos de personalidade ou mesmo para determinar a capacidade de um indivíduo. O psicólogo, no direito de família, tem espaço obrigatório por lidar com uma instituição social importante, que é a base para o exercício da cidadania. Favorece e fortalece a família social- afetiva, ressaltando a valorização da afetividade nas relações familiares. Coopera na justa e pacífica aplicação do Direito, buscando sempre visão jurídica humanizada e construtiva, pesquisa a fundo os processos psíquicos do homem delinquente e quais os motivos que o levaram a delinquir, aborda os processos psicopatológicos da conduta delituosa, apresenta-se ainda como psicologia social ao investigar os aspectos interpessoais do delito, traça os vários tipos de delinquentes e auxilia no ampara a menores infratores. Corrobora ainda, a Psicologia Jurídica, com a possibilidade de descobrir falso testemunho e autoridade dos delitos; colabora na formação da convicção do juiz sobre a veracidade ou falsidade do depoimento do delinquente; analisa documentos e fatos em função da personalidade de seus autores e da idade, do sexo e do estado de saúde dos mesmos; indaga as motivações psicológicas das decisões judiciais. Mas, afinal. O que é Psicologia Jurídica? De acordo com o Wikipédia: A psicologia jurídica, é uma vertente de estudo da psicologia, consistente na aplicação dos conhecimentos psicológicos aos assuntos relacionados ao Direito, principalmente quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio- jurídicos dos crimes e quanto a personalidade da Pessoa Natural e seus embates subjectivos. Por esta razão, a Psicologia Forense tem se dividido em outros ramos de estudo, de acordo com as matérias a que se referirem. —> Popolo (1996, p. 21) entende ser Psicologia Jurídica: "El estudio desde la perspectiva psicológica de conductas complejas y significativas en forma actual o potencial para o jurídico, a los efectos de su descripción, análisis, comprensión, crítica y eventual actuación sobre ellas, en función de lo jurídico”. http:/pepsic.bvsalud.orgscielo.phpscript=sci_arttext&pid=S1516-36872004000100006 Página !1 Psicologia Jurídica e seu panorama no Brasil Não seria plausível limitar o inicio da Psicologia Jurídica no Brasil, em razão de não existir um único marco histórico que o defina. Entretanto, no decorrer da história diferente foram os cuidados prestados aos “loucos” criminosos, pelas mais variadas categorias profissionais. No Brasil, apesar do reconhecimento do psicólogo se dá na década de 60 do século passado, antes já atuavam no campo do Direito. Sobre tal tema: O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe, ainda que não oficialmente, em alguns estados brasileiros já pelo menos 40 anos. Contudo, foi a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal n° 7.210/84), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária. Entretanto, a história revela que essa preocupação com a avaliação do criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental, é bem anterior à década de 1960 do século XX. Durante a Antiguidade e a Idade Média a loucura era um fenômeno bastante privado. Ao “louco” era permitido circular com certa liberdade, e os atendimentos médicos restringiam-se a uns poucos abastados. A partir de meados do século XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma necessidade de exclusão dos doentes mentais. Criaram- se estabelecimentos para internação em toda a Europa, nos quais eram encerrados indivíduos que ameaçassem a ordem da razão e da moral da sociedade (LAGO, 2009, p. 2). Mas foi com Pinel, a partir do século XVII, na França, que um novo tratamento passa a ser auferido aos sujeitos portadores de transtornos mentais. Liberando os doentes de suas cadeias e dando assistência médica a esses seres segregados da vida em sociedade. Popolo (1996) ressalta a importância de os profissionais, que são peritos, reconhecerem o limite de sua perícia, pois se trata de conhecimento produzido a partir de um recorte da realidade. Assim, deve- se reconhecer a limitação do conhecimento da conduta por meio da perícia. Neste contexto, torna-se necessário verificar a confiabilidade e a validez dos instrumentos e do modelo teórico utilizados, a fim de verificar se os mesmos respondem ao objetivo do procedimento. Em virtude dessa limitação do conhecimento produzido, torna-se imperativa a compreensão interdisciplinar do fenômeno estudado para melhor abordá-lo em sua complexidade. Quanto a Perícia: — Peritos reconhecem os limites da perícia; — Verificar a confiabilidade e a validez dos instrumentos e do modelo teórico utilizados; — Verificar se os mesmos respondem ao objetivo do procedimento; — Imperativa a compreensão interdisciplinar do fenômeno estudado; — O conhecimento resultante da perícia não representa a compreensão do indivíduo como um todo. Por esse motivo, esse conhecimento refere-se a um recorte parcial da realidade (do indivíduo). Segundo Foucault (1974), tanto as práticas jurídicas quanto as judiciarias são as mais importantes na determinação de subjetividade, pois por meio delas é possível estabelecer formas de relações entre os indivíduos. Página !2 Professor Dori Luiz [doriluiz@gmail.com] “Como ensinar aos peixes que existem nuvens no céu?” NORMALIDADE: Algo que é socialmente aceito em determinado grupo social com características em comum. Grande controvérsia. —> O que é saúde e doença mental? Sociedade onde há apropriação de conceitos, onde “tudo” soa normal; individualismo exacerbado. A epidemiologia pode contribuir para a discussão e aprofundamento do conceito de normalidade em saúde. Etnopsiqquiatria, impõe uma analise no conceito sociocultural. planejamento e politicas nesta área é necessário estabelecerem-se critérios de normalidade, principalmente no sentido de verificarem as demandas assistenciais de determinado grupo populacional, as necessidades de serviço. —> sinais de normalidade: —> ausência de doença ou transtornos mentais; —> algo ideal, certa utopia “sadio ou mais evoluído” —> normalidade como utopia Utopia é nome que se dá a qualquer coisa tão perfeita que se torna inalcançável. Nesse aspecto a normalidade seria o funcionamento harmonioso da mente, sem a presença de qualquer tipo de conflitos e com uma atividade perfeita de todos os aspectos da subjetividade. Quanto a isso Freud declara: “um ego normal é como a normalidade geral, uma ficção ideal”. Normalidade como média: Essa é a perspectiva mais usada em Psicologia. É realizada uma pesquisa em grupos de indivíduos com as mesmas características (sexo, idade, raça, classe social, etc.) e se estabelece uma faixa que engloba a resposta ou característica mais frequentes (curva senoidal) e tudo o que estiver acima ou abaixo dessa faixa é considerado desvio. Desse modo a normalidade é entendida como algo dentro de um grupo e não com relação a umúnico individuo. Normalidade como processo: Nesse padrão considera-se que existem mudanças e características (estágios) típicas de um período ou faixa etária de um individuo. Esses estágios são interdependentes e interagem entre si. Um modelo perfeito dessa forma de normalidade é escala de Erick Ericson de desenvolvimento. Estatística, identifica norma e frequência; fenômenos quantitativos com determinadas distribuição estatísticas na população geral; o normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Normalidade sobre um panorama funcional, o convívio dela com os outros para determinar alguma patologia a partir do momento em que e disfuncional, provoca sofrimento para o próprio sujeito ou para seu grupos sociais; e evidentemente e uma relação Subjetiva, a percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de saude, e suas vivências subjetivas. Página !3 Michel Foucault Jacques Lacan Sigmund Freud PERÍCIA: Perícia vem do latim (peritia), que significa destreza, habilidade. Se refere a um “exame de situações ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por especialista na matéria que lhe é submetida, com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos”, de acordo com Brandimiller. Na área judicial, a perícia é considerada um meio de prova, que permite incluir nos autos informações técnicas, que muitas vezes, o juiz desconhece. Entretanto a perícia como meio de prova não se constitui como uma verdade soberana. O resultado da perícia deve ser apresentado por meio de um laudo técnico sucinto, mas com seus achados descritos com precisão. Perícias Criminais: • A perícia oficial deverá ser realizada por 2 peritos psiquiatras. • As partes não intervirão na nomeação do perito, mas poderão imputar motivo de impedimento. • Perícia de avaliação da saúde mental, como nos casos de avaliação de responsabilidade ou imputabilidade penal, se faz necessário o “exame médico-legal”. O mesmo exame, também, é determinado nos casos de avaliação da cessação da periculosidade, para os sujeitos considerados inimputáveis. Prova pericial: A perícia judicial difere das outras em 3 características: - a perícia é realizada sob a ordem do juiz, que tem o poder de - tem a participação das partes (autor e réu) em sua produção, as quais podem impugnar a nomeação de perito, orientar a prova através de quesitos, questionar o laudo do perito e formular quesitos complementares para elucidá-lo. - esse tipo de perícia tem por objetivo o convencimento do juiz, que pode solicitar o comparecimento do perito em juízo para novos esclarecimentos ou determinar a realização de nova perícia. Página !4 No Código de Processo Civil: ! Qualquer psicólogo devidamente regulamentado no CRP possui capacidade para assumir o papel de perito, sem a necessidade de formação na área forense. ! Sempre que o perito for indicado pelo juiz terá, a princípio, a obrigatoriedade de aceitar o compromisso, salvo nas situações de: - Impedimento: que tem a função de evitar situações que possam comprometer a imparcialidade do perito. Fica vedada a participação do perito em processos nos quais: for parte na ação; já houver prestado depoimento como testemunha, quando o advogado for seu cônjuge ou com ele ter algum relacionamento de consangüinidade; e, se for membro de algum órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, que tiver parte na causa. - Suspeita em relação a imparcialidade do perito. Este não poderá exercer a atividade se: for amigo de ambas as partes; alguma das partes for credora ou devedora em relação a sua pessoa, ao seu cônjuge ou a algum parente seu; for herdeiro, donatário ou empregador de qualquer uma das partes; houver recebido presentes das partes, aconselhado quanto à causa ou auxiliado financeiramente nas despesas do processo; estiver interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. • Atualmente existe o laudo pericial único, elaborado pelo perito, cabendo aos assistentes técnicos o trabalho de comentá-lo, através de um parecer crítico. A IDENTIFICAÇAO DA MENTIRA E DO ENGANO EM PERÍCIAS PSICOLÓGICAS: Fatores relacionados ao observador: - Acreditar que a simulação não ocorre com freqüência; - Associar a simulação com doença mental; - Acreditar que o avaliador não consegue ser enganado; - Valorizar excessivamente os traços de caráter em detrimento de uma avaliação contextual (inclusive reforçado por critérios estabelecidos pelo DSM IV); - Acreditar em determinadas condições clínicas, como amnésia e alucinações, podem ser facilmente simuladas e dificilmente provadas quanto a falta de veracidade; - Acreditar que a habilidade em detectar a simulação é uma arte e que não pode ser ensinada. Vrij (2000) propõe uma classificação referente as diferenças de comportamento de mentira e engano: • MANIPULADORES: mentiroso, egoísta, astuto e manipulador; mentem para seu benefício, são cínicos, não sentem desconforto em mentir, não respeitam normas morais. • ATORES: maior controle na conduta verbal e não- verbal. • SOCIÁVEIS: tendem a mentir com mais freqüência do que as introvertidas, sentem-se mais confortáveis quando mentem e persistem mais tempo na mentira. • ADAPTÁVEIS: ansiosas e inseguras socialmente, fortemente motivadas a causar boa impressão; também apresentam menor número de movimentos corporais. • INTELIGENTES: apresentam maior habilidade com tarefas complexas. Vrij (2000) comenta que um aspecto determinante na conduta da pessoa que está mentindo é sua percepção e manipulação do contexto que está inserida. O autor divide esta percepção em três áreas que produzem comportamentos diferentes, por vezes contraditórios durante a ação de enganar: - Emocional: culpa (tende a fazer com que o mentiroso não olhe nos olhos do avaliador), medo e excitação (resultam em sinais de estresse, como erros hesitação na fala ou voz em falsete. - Complexidade do conteúdo: a pessoa que engana precisa estar atenta para não se contradizer. A complexidade resulta em: maior número de hesitações e de erros na fala, fala mais lenta, pausas, redução de toda a movimentação corporal e a evitação em olhar para o entrevistador. - Tentativa de controle do comportamento: resulta em excessivo planejamento e rigidez com discurso demasiadamente formal. Página !5 SIMULAÇAO E DISSIMULAÇAO ! SIMULAÇÃO: caracterizada no DSM-IV como a produção ou o exagero intencional de sintomas gerados por incentivos externos. ! Vargas (1990): - Pré- simulação ou simulação anterior: praticada de forma premeditada. O simulador planeja e executa seus sintomas com antecedência, de forma a criar um reconhecimento social de sua doença, para depois buscar o que deseja. - Paras simulação, super simulação ou simulação aumentada: ocorre quando a pessoa copia e imita sintomas e condutas de outras pessoas doentes mentais com objetivo de obter vantagens; - Metas simulação ou simulação residual: o sujeito após recuperar-se de uma doença mental, continua a fingir os sintomas com objetivo de auferir vantagens. ! DISSIMULAÇÃO: uma pessoa com sintomas mentais pode ter interesse em esconder sua patologia para atingir determinados objetivos. Página !6 SIGMUND FREUD E CARL G. JUNG A teoria psicanalítica é o estudo da vida psíquica e mostra que não temos consciência de tudo aquilo que acontece em nossa mente, pois existe uma parte inconsciente que determina a nossa vida. Muitas de nossasangustias são provocadas pelo nosso inconsciente por isso é tão difícil superá-las. Portanto, a psicanálise procura favorecer nos pacientes a compreensão sobre seus conflitos emocionais inconscientes, fazendo-lhes perguntas destinadas a evocar lembranças há muito esquecidas. A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise, mas não tem um sentido restrito, ou seja, apenas genital. Ela apresenta um sentido mais amplo que engloba toda e qualquer forma de gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido amplo existe em nós desde o nosso nascimento. A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os princípios antagônicos que fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego clássico, vida) X THANATOS (do grego clássico, morte); B) Princípio do Prazer X Princípio da Realidade. Desenvolvimento Psicossexual: Os recém-nascidos são governados pelo id, que opera sob o principio do prazer – o impulso que busca satisfação imediata de suas necessidades e desejos. Quando a gratificação é adiada, como acontece quando os bebês precisam esperar para serem alimentados, eles começam a ver a si próprios, como separados dos mundo externo. • O ego, que representa a razão, desenvolve-se gradualmente durante o primeiro ano de vida e opera sob o principio da realidade. O objetivo do ego é encontrar maneiras realistas de gratificar o id. • O superego se desenvolve por volta dos 5 ou 6 anos, este inclui a consciência e incorpora “deveres” e “proibições” socialmente aprovados ao próprio sistema de valores da criança. O superego é altamente exigente e se os seus padrões não forem satisfeitos, a criança pode se sentir culpada ou ansiosa. Página !7 Freud acreditava que as pessoas nascem com impulsos biológicos que devem ser redirecionados para tornar possível a vida em sociedade. Ele dividiu a personalidade em três componentes hipotéticos: ID, EGO e SUPEREGO. O ego é intermediário entre os impulsos do id e as demandas do superego. Para Freud a personalidade forma-se através dos conflitos inconscientes da infância entre os impulsos inatos do id e as exigências da sociedade. • Esses conflitos ocorrem em uma seqüência invariável de 5 fases baseadas na maturação, em que o prazer se desloca de uma zona corporal para outra – da boca ao ânus e depois para os genitais. • Freud considera as três primeiras fases, as relacionadas aos primeiros 5 anos de vida cruciais para o desenvolvimento da personalidade. Os Modelos de Estágio Normativo: Freud não viu razão na psicoterapia para pessoas acima de cinqüenta anos, porque ele acreditava que a personalidade já estava permanentemente formada nessa idade. Carl G. Jung e Erik Erikson, dois teóricos do estágio normativo, possuem trabalhos que fornecem uma estrutura de referência para a maior parte da pesquisa e da teoria do desenvolvimento da meia-idade. Jung sustentava que o desenvolvimento saudável da meia- idade busca a individualização, onde ocorre a emersão de seu eu verdadeiro por meio do equilíbrio ou integração das partes conflitantes da personalidade, incluindo as que foram anteriormente negligenciadas. De acordo com Jung, até os 40 anos os adultos estão concentrados nas obrigações com a família e a sociedade e desenvolvem aqueles aspectos da personalidade que os ajudarão a alcançar objetivos externos. As mulheres enfatizam a expressividade e a educação; os homens são especialmente impulsionados à realização. Duas tarefas difíceis, porem necessárias na meia-idade, são abrir mão da imagem jovem e reconhecer a mortalidade. Erik Erikson: Generatividade vs Estagnação Ao contrario de Jung que via a meia-idade como um momento de interiorização, Erikson descreveu-a como um movimento para fora. Erikson via a idade em torno dos 40 anos como a época em que as pessoas entram em seu sétimo estágio normativo, da generatividade vs estagnação, onde ocorre a preocupação dos indivíduos maduros em estabelecer e orientar a próxima geração. Teoria Analítica Jung apresentava idéias contrárias à Psicanálise, ele acreditava na importância da sexualidade na vida humana, porém, não a considerava como o único e principal motivo propulsor da vida e das causas das doenças psíquicas; Ele acreditava na importância da busca da espiritualidade e do papel das religiões para uma vida saudável Há duas esferas psíquicas na teoria de Jung: a consciência e o inconsciente, onde o ego representa o centro da consciência, tendo assim, ação pela vontade, ou seja, livre arbítrio. O inconsciente tem dois lados: o pessoal e o coletivo. O inconsciente pessoal é formado pelas camadas mais superficiais do inconsciente, onde ficam os conteúdos decorrentes da história de vida do individuo e experiência pessoal. O inconsciente coletivo é formado pelas camadas mais profundas do inconsciente; formado pelos instintos e arquétipos, elementos psíquicos coletivos ou transpessoais, comuns a todos os seres humanos. A persona ( do grego = máscaras). É um arquétipo de adaptação ao meio social, necessário à vida em sociedade. Página !8 PSICOPATOLOGIAS Página !9 A psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta para diagnostico sindrômico e nosológico é a Fenomenologia, afirmando a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos. O seu objeto é o doente e o seu objetivo é observar e descrever os sintomas, que é o ponto de partida para a elaboração de um futuro diagnóstico e tratamento (ajudar o doente). A terapia já é trabalho dos psicólogos clínicos e dos psiquiatras. Ao observar e descrever os sinais psicopatológicos é importante compreender o comportamento do doente dentro do seu contexto social e não isoladamente. Algumas noções: -Semiologia – pesquisa, classificação e ordenação dos sintomas e sinais das doenças; -Sintoma – unidade observável/concreta em Psicopatologia; -Síndrome – conjunto de sintomas específicos e relacionados entre si; -Crise – decorre de uma situação de mudança, com a qual os sujeitos não conseguem lidar e que gera uma preocupação aguda e tensa, a qual ode desencadear a crise e por seu lado culminar numa psicopatologia. Dificuldade na definição de comportamento anormal! -depende da cultura -fenómenos de fronteira • Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. • É um conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmitificante. • Científico • Formas do sintomas – a estrutura básica relativamente semelhantes nos diversos pacientes (alucinação, delírio, idéia obsessiva, inabilidade afetiva e etc) SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS • Conteúdo – aquilo que preenche a alteração estrutural (culpa, religioso, perseguição.) • Mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo cultural e personalidade prévia • Os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas como a sobrevivência, segurança, sexualidade e também, os temores básicos (morte, doença, miséria, religiosidade) Página !10 ESQUIZOFRENIA Trata-se de um transtorno mental crônico e grave que afeta o modo como uma pessoa pensa, sente e se comporta. Provoca alterações no comportamento, indiferença afetiva, pensamentos confusos e dificuldades para se relacionar com as pessoas. Pessoas com esquizofrenia podem parecer que perderam o contato com a realidade. Embora a esquizofrenia nao seja tão comum comoos outros transtornos mentais, os sintomas podem ser muito incapacitantes. • A esquizofrenia simples tem como sintomas principais o isolamento social do paciente, ausência de relações afetivas e mudança de personalidade. • A esquizofrenia paranoide causa ansiedade, maior propensão a ataques de fúria e sensação constante de perseguição por parte do paciente, incluídos familiares e amigos próximos. • A esquizofrenia desorganizada provoca apatia, tendência a comportamento infantil, dificuldade de organização do pensamento e ausência de emoções diante de situações importantes. • A esquizofrenia catatônica tem como sintoma principal a catatonia, que deixa o paciente com postura e musculatura tensa e rígida e expressão facial fora do normal. Além disso, há quadro de apatia. • A esquizofrenia indiferenciada é a forma de esquizofrenia que não apresenta características particulares e pode desenvolver sintomas dos demais tipos. • Por fim, a esquizofrenia residual é aquela em que o paciente apresenta apenas sintomas isolados após tratamento de quadros completos da esquizofrenia. [diagnóstico difícil] O espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos incluem… Hão 6 tipos de esquizofrenia. Delírios: São crenças fixas, nao passiveis de mudanças à luz de evidencias conflitantes Delírios persecutórios: Crença de que o individuo irá ser prejudicado, por outra pessoa, organização do grupo Delírios de referência: Crença de que alguns gestos, comentários, estímulos ambientais, são direcionados à própria pessoa. Delírios de grandeza: Quando a pessoa crê que tem habilidades excepcionais, riqueza ou fama. Delírios erotomaníacos: Quando a pessoa crê falsamente que outra pessoa esta apaixonado por ele. Delírios niilistas: Envolvem a convicção de que ocorrerá uma grande catástrofe. Delírios somáticos: Concentram-se em preocupações referentes à saúde. Delírios bizarros: Se claramente implausíveis e incompreensíveis por outros indivíduos da mesma cultura Página !11 Alucinação: São experiências semelhantes `a percepção que ocorrem sem um estímulo externo. Alucinação auditiva: Costumam ser vividas como vozes, familiares ou não, percebidas como diferentes dos próprios pensamentos do indivíduo. Alucinação visual: Envolvendo a visão, que pode consistir de imagens, com forma, pessoas objetos, sem forma com lampejos de luz. Ilusão: São percepções errôneas de estímulos externos reias. Alucinação gustativa: Envolvendo a percepção do paladar. Alucinação olfativa: Envolvendo a percepção de odor. Alucinação tátil: Percepção envolvendo de toque ou da presença de algo sobre a pele. Alucinação somática: Percepção de uma experiência física localizada dentro do corpo. Desorganização do pensamento: Costuma ser inferida a partir do discurso do indivíduo. Comportamento motor anormal: Pode se manifestar de várias formas, desde o comportamento “tolo ou pueril” até agitação imprevisível. Comportamento motor anormal: É uma redução acentuada na reatividade ao ambiente. Comportamento catatônico: Resistência a instrução. Postura rígida Falta total de respostas verbais e motoras. Atividade motora sem propósito e excessiva sem causa obvia. Sintomas negativos: Expressão emocional diminuída. Avolia. Expressão emocional diminuída: Reduções na expressão de emoções pelo rosto, no contato visual, na entonação da voz, movimentos. Avolia: Reduções na expressão de emoções pelo rosto, no contato visual, na entonação da voz, movimentos. Anedonia É a capacidade reduzida de ter prazer resultante de estímulos positivos Transtorno psicótico breve: Presença de um dos sintomas: - Delírios - Alucinações - Discurso desorganizado - Duração de um episódio é de pelo menos, um dia, mas inferior a um mês. - Início súbito - Turbulência emocional ou grande confusão. - Mudanças rápidas de um afeto intenso a outro Esquizofrenia - Delírios - Alucinações Página !12 - Discursos desorganizado - Comportamento desorganizado ou catatônico. - Sintomas negativos. - Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos 6 meses. - Quando o inicio seda na infância ou na adolescência , incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional. —> diferenciar ilusão de alucinação e delírio. O Delírio Um sintoma pode pertencer ao campo da consciência, da atenção, do raciocínio, do afeto, da percepção, da memória, por exemplo, entre outros. No caso do delírio, este diz respeito à uma alteração do juízo (que é uma função do pensamento, assim como o raciocínio). Isto é, a capacidade de discernir a verdade do erro, distinguir qualidades, e utilizar a lógica para validar ou refutar sentenças. De acordo com Paim (1980) “o juízo consiste, do ponto de vista da lógica formal, na afirmação ou negação de uma relação entre dois conceitos” (p. 77). Sendo assim, alterações nesta função mental podem levar a ideias delirantes em diversas temáticas, como, por exemplo, grandeza, perseguição, relação, ciúme, influência, referência, entre outros. “por meio dos juízos o ser humano afirma a sua relação com o mundo, discerne a verdade do erro, assegura-se da existência ou não de um objeto perceptível (juízo de existência), assim como distingue uma qualidade de outra (juízo de valor). Ajuizar quer dizer julgar.” (Dalgalarrondo, 2008 p. 206) Vale citar também a explanação de Cunha (2007), autora do livro Psicodiagnóstico-V: “Os delírios (do latim de, fora, e liros, sulco; sair da trilha arada, desviar o arado do sulco) podem ser classificados de diversas maneiras: a) conforme a sua temática (de desconfiança, de perseguição, de influência, de prejuízo, de referência, de autopreferência, de ciúme, de grandeza, de descendência ou de linhagem ilustre [genealógico], de invenção, de transformação cósmica, de prestígio, de missão divina, de reforma social, de possessão diabólica ou divina, de natureza hipocondríaca, de negação e transformação, de culpa, de auto-acusação, de ruína e vários outros, de acordo com a plasticidade da trama delirante); b) conforme o grau de elaboração (sistematizados e não-sistematizados); c) conforme o curso evolutivo (agudos e crônicos)”. (Cunha, 2007, p. 68) Neste momento, você já deve ter percebido que estamos falando “daquela pessoa” que começa a acreditar que o ancora da televisão está enviando mensagens codificadas que só ele é capaz de decodificar; ou que os marcianos (ainda que nunca tenha visto um) o estão espionando e perseguindo; ou que está convencido de que a esposa o está traindo e enganado; ou que acredita ser Jesus Cristo, Napoleão Bonaparte ou John Lennon; etc… A Alucinação Por outro lado, a par das alterações do juízo, encontramos uma categoria que diz respeito às alterações da sensopercepção e é nela que se localizam a ilusão e a alucinação, e é por ela que a realidade interna e externa nos chega de forma entendível e comum à espécie. “Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência do indivíduo, chegam até o organismo por meio das sensações. Os diferentes Página !13 estímulos físicos (luz, som, calor, pressão, etc.) ou químicos (substâncias com sabor ou odor, estímulos sobre as mucosas, a pele, etc.) agem sobre os órgãos dos sentidos, estimulando os diversos receptores e, assim, produzindo as sensações. […] Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então, se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeitoà dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.” (Dalgalarrondo, 2008 p. 119) É com esta função cerebral/mental que sentimos e reconhecemos o belo ou o feio, o cheiro de uma flor ou enxofre, o toque de uma pena ou de um tijolo, o som de uma melodia ou de um ruído, bem como o gosto doce ou salgado… Se isso está no ambiente em que estamos inseridos e nos chega por uma via sensorial (tato, audição, visão…), é transduzido em energia sensitiva, levado aos centros de percepção do cérebro e reconhecido de forma normal/ comum, a situação é funcional (Lent, 2010). Caso haja sensação ou percepção de algo que não está no ambiente, trata-se de uma alucinação. Em psicologia, chamamos o que está no ambiente e se manifesta a nível da consciência de “estímulo”. Sendo assim, perceber um estímulo real é o normal e esperado. Ver, ouvir, sentir sem a presença de um estímulo, como se estivesse na presença dele constitui uma alucinação e implica numa ruptura com a realidade. “Define-se alucinação como a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo” (Dalgalarrondo, 2008 p. 124). Vale dizer, que em uma situação dessas, podemos alucinar com qualquer um dos nossos sentidos e as alucinações auditivas são o tipo mais frequente encontrado nos transtornos mentais. A Ilusão Dentro das alterações referentes à sensopercepção, também encontramos a Ilusão, mas esta difere da alucinação, principalmente, por contar com um estímulo que está presente no ambiente. Na ilusão há o estímulo, mas este é percebido de forma distorcida. “O fenômeno descrito como ilusão se caracteriza pela percepção deformada, alterada, de um objeto real e presente. Na ilusão, há sempre um objeto externo real, gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada, adulterada, por fatores patológicos diversos”. (Dalgalarrondo, 2008 p. 119) As ilusões geralmente ocorrem por estados de rebaixamento do nível de consciência; estados de fadiga grave; alguns estados afetivos de acentuada intensidade. “As ilusões mais comuns são as visuais, nas quais o paciente geralmente vê pessoas, monstros, animais, entre outras coisas, a partir de estímulos visuais como móveis, roupas, objetos ou figuras penduradas nas paredes. Também não são raras as ilusões auditivas, nas quais, a partir de estímulos sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome, palavras significativas ou chamamentos”. (Dalgalarrondo, 2008 p. 124) Em resumo, no delírio não se enxerga ou ouve nada de anormal, mas se tem ideias enganosas a respeito de algo, por tratar-se de uma alteração do juízo e estar atrelado aos processos de pensamento. Já a alucinação e a ilusão são sintomas referentes à sensopercepção, onde, respectivamente, a Página !14 primeira percebe um estímulo que não está no ambiente e a segunda deforma – pela percepção – um estímulo que está no ambiente. —> Transtorno psicótico breve Página !15