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apagamento do r

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II JORNADA DE ESTUDOS DE GÊNERO E LITERATURA 
09 DE DEZEMBRO DE 2011 
UM ESTUDO VARIACIONISTA SOBRE O APAGAMENTO DO /R/ NA 
FALA RIO BRANQUENSE 
 
Darlan Machado Dorneles1 
Universidade Federal do Acre (UFAC) 
darlan.ufac@yahoo.com.br 
 
RESUMO: O estudo do /R/ tem sido objeto de trabalho de diversos pesquisadores nas 
diferentes subáreas da linguística haja vista a diversificação da realização dessa consoante, 
que é, inclusive, uma das marcas de variação dialetal no Brasil. O enfraquecimento e o 
apagamento deste fonema, de acordo com estudiosos da área, Callou, Moraes e Leite (1998, p. 
1), por exemplo, constituem-se em fenômenos antigos do português brasileiro. Desta forma, 
neste artigo temos como objetivo analisar as ocorrências do /R/ em dados coletados durante o 
primeiro semestre do ano de 2011 para o projeto “Ecossistema Linguístico do Acre”, ou seja, 
buscamos analisar os fatores que contribuem para o apagamento do rótico, verificando-se, 
ainda, de que forma este fenômeno caracteriza a fala dos cidadãos nascidos e residentes no 
município acreano de Rio Branco-Acre, Brasil. A pesquisa segue os preceitos da 
Sociolinguística Variacionista Laboviana, cujo objeto de estudo são as relações existentes 
entre língua e sociedade. 
Palavras-Chave: apagamento do /R/; variação linguística; sociolinguística. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
As variantes do /R/ têm se tornado objeto de estudo para diversos autores nas 
diferentes subáreas da ciência da linguagem, tais como: a Sociolinguística, a Fonética, a 
Dialetologia e a Geolinguística. Na obra “Estudo sobre a vibrante pós-vocálica em Porto 
Alegre”, Monaretto (2002, p. 253) afirma que a realização do /R/ é diversificada, podendo 
variar no português do Brasil, de região para região, de indivíduo para indivíduo, e, até 
mesmo, ser produzido de formas diferentes pela mesma pessoa, de acordo com o registro da 
língua que ela está utilizando. Este fonema da Língua Portuguesa (LP) parece ser aquele que 
apresenta maior quantidade de variação dos alofones no que se refere ao ponto de articulação. 
Podendo, pois, ser produzido a partir da zona anterior do conduto vocal, como o tepe [Ρ], à 
posterior, como a variante glotal [η] []. Em alguns casos há, ainda, o apagamento total deste 
fonema, ocorrência que motivou a realização desta pesquisa. 
Logo, a descrição do apagamento do fonema /R/ corresponde o objetivo geral deste 
estudo. Busca-se analisar o apagamento desse segmento consonântico, em travamento de 
sílaba na fala dos rio-branquenses, contribuindo dessa maneira para a caracterização do 
português falado em Rio Branco – Acre, Brasil. Especificamente objetiva-se identificar os 
 
1 Acadêmico do Curso de Licenciatura em Letras Português da UFAC e bolsista do CNPq. 
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fatores linguísticos e extralinguísticos que condicionam esse apagamento, comparando o 
processo de apagamento em final ou não final de sílaba, e tentando relacionar a frequência de 
apagamento com as classes de palavras na qual o fenômeno se verifica. 
Norteados pelo método comparativo analisaremos, ainda, em quais classes de palavras 
há maior frequência de tal fenômeno. Importa destacar que esta pesquisa2 segue os preceitos 
da Sociolinguística Variacionista Laboviana (Labov, 1994); cujo objeto de estudo é as 
relações existentes entre língua e sociedade. Contudo, por tratar-se de uma Pesquisa de 
Iniciação Científica temos consciência que há um longo caminho a percorrer na busca de 
maiores resultados, mas tal condição não serve como elemento medidor de superioridade ou 
inferioridade, visto que a fala assim como os indivíduos dinamizam-se constantemente. E os 
resultados aqui obtidos são indicadores de um dado momento da fala dos rio-branquenses. 
 
1. ASPECTOS TEÓRICOS 
1.1. Breve histórico do apagamento do /R/ no Português Brasileiro (PB) 
 
À 18ª página da obra “Estrutura da Língua Portuguesa”, Mattoso Câmara JR (1970) 
afirma que “[...], a língua em sentido lato se subdivide em dialetos regionais, dialetos sociais e 
registros.” [destaques do autor]. Assim sendo, “[...], a língua varia no espaço, criando no seu 
território o conceito dos dialetos regionais,” (CÂMARA, 1970, p.17); já que as diferenças 
regionais são facilmente percebidas. O “sotaque”, por exemplo, corresponde a uma das 
formas de manifestação destas diferenças no nível sonoro da língua; podendo servir como 
mecanismo indicador da região a qual os interlocutores pertencem. No Acre, por exemplo, a 
forma de falar dos acreanos é popularmente classificada como cantada, ou seja, “falar 
cantando”; alguns acrianos carregam em sua fala esta característica. No entanto, destacamos 
que outros indivíduos residentes na cidade também apresentam esta característica; uma vez 
que a fala não é convencionada ao lugar de nascimento dos sujeitos, mas ao espaço em que 
estão ou foram inseridos. Sendo o tempo (cronológico) mais um elemento importante para a 
apresentação de tal realidade. 
Logo, na frase: 
A – /Ele queria matá aquela galinha. / 
Podemos perceber que há uma subtração do fonema /R/ no final do verbo “matar”. 
Comum construção na fala dos rio-branquenses. Foi possível perceber que na associação de 
 
2 Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. 
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palavras cujo penúltimo fonema é igual ou sonoramente semelhante ao primeiro fonema da 
palavra seguinte há uma aglutinação que resulta na perda sonora do fonema /R/; nosso objeto 
de estudo. Lendo Callou, Moraes e Leite (1998) confirma-se que muitos escritores 
contribuíram para descrever o percurso histórico resultante do processo de apagamento deste 
fonema. 
 
[...], o apagamento do /R/ em posição de coda, em final de palavra, é um fenômeno 
antigo do português do Brasil. O processo, em seu início, foi considerado uma 
característica dos falares incultos e, no século XVI, nas peças de Gil Vicente, era 
usado para singularizar o linguajar dos escravos. O fenômeno expandiu-se 
paulatinamente, sendo hoje comum na fala dos vários estratos sociais. [sic] 
(CALLOU, MORAES, LEITE, 1998, p.61) 
 
Dessa maneira, do ponto de vista histórico verificamos que o apagamento da vibrante 
/R/ não é algo novo, ou seja, já é um fenômeno antigo que teve origem a partir do português 
de Portugal, vindo a expandir-se paulatinamente pelo território brasileiro a ponto de ser 
considerado comum aos falantes de algumas regiões. Sobre isso afirma Monaretto (2002), 
“[...], a queda da vibrante final no português falado no Brasil foi registrada no fim do século 
XIX, sendo censurada pelos gramáticos e nos dias atuais, a tendência à supressão da vibrante 
final ocorre em todos os dialetos do português brasileiro, sendo mais frequente nos verbos.” 
(MONARETO, 2002, p.253). 
Sobre o pressuposto, Callou (1979) destaca que o apagamento do /R/ constitui um 
processo bastante difundido, principalmente no que se refere à mudança de uma vibrante para 
um tepe; pois, a realização do /R/ é determinada dialetalmente, ou seja, pode ocorrer desde 
uma vibrante múltipla alveolar (rara em posição de coda) a um zero fonético (em posição final 
de vocábulo). Essa possibilidade de variadas realizações pode ser vista como vestígio de um 
processo de enfraquecimento, que leva até mesmo ao apagamento do segmento. Essas 
realizações podem ser encontradas em quase todos os dialetos, mas com resultados e 
discussões diferentes. Referente ao apagamento dessa consoante, os primeiros estudos 
dialetológicos no Brasil já atestavam a ocorrência do fenômeno. Assim, Amaral(1982) apud 
Castro (2006, p. 93) na obra “A resistência de traços do dialeto caipira” observa que a 
apócope do /R/ “[...], é uma das leis mais rígidas e mais facilmente verificáveis, da fonética 
dialetal caipira.” Para ilustrar esta afirmação o autor apresenta palavras como: “andá”, 
“muié”, “esquecê”, “subi”, “vapô”, “Artú”. Marroquim (1945) apud Castro (2006, p.77) 
verificou na descrição da linguagem popular de Alagoas e Pernambuco, a queda do /R/, bem 
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como a do /L/, em posição final de palavra, em vocábulos como “lugá”, “corrê”, “andá”, 
“alugé”, “animá”, “papé”, “currá”. 
Ao tecer algumas considerações sobre o enfraquecimento do /R/ no português falado 
do Brasil e o português europeu Mattos e Silva (2004), à página 140 da obra “Ensaios para 
uma Sócio-História do Português Brasileiro”, afirma que o português da Europa é mais 
consonântico enquanto o brasileiro mostra-se mais vocálico; o que mostra o fato do português 
brasileiro enfraquecer ou mesmo apagar as consoantes na posição final das palavras – posição 
que o português europeu tem uma articulação forte. Sobre isso afirma: “[...], assim, aspiramos 
o <R> final ou reduzimos a zero (ama/η/, am/a/), embora seja encontrado em áreas brasileiras 
o /R/ vibrante, próprio do português da Europa”. (MATTOS e SILVA, 2004, p. 142). Sendo 
assim, podemos perceber que vários estudos já foram realizados sobre o apagamento do /R/. 
A seguir apresentaremos algumas pesquisas já realizadas no Brasil por estudiosos que se 
dedicam ao apagamento da vibrante /R/. A partir dos resultados apresentados nestas 
bibliografias e tomando como relação os dados adquiridos no projeto “Ecossistema 
Linguístico do Acre” construiremos algumas considerações sobre a pesquisa no âmbito da 
cidade acreana: Rio Branco. 
 
1.2. PESQUISAS SOCIOLINGUÍSTICAS VARIACIONISTA: algumas contribuições 
 
1.2.1. Callou (1979): 
Em “Descrição da fala urbana culta do Rio de Janeiro”, a autora descreve a fala urbana 
culta da cidade carioca utilizando um corpus relativo a 55 (cinquenta e cinco) informantes, 
totalizando 36 (trinta e seis) horas de gravação de fala espontânea. Tal pesquisa, de acordo 
com a autora, foi realizada entre os anos de 1972 a 1978, do banco de dados do projeto Norma 
Culta Urbana (NURC) para o projeto de Estudo da Norma Linguística Culta do Rio de 
Janeiro. A pesquisadora utiliza o programa VARBRUL para fazer os cálculos das 
probabilidades. O principal objetivo de sua pesquisa é verificar o apagamento do /R/ na fala 
dos cariocas, utilizando variáveis independentes sociais: sexo, idade, incluindo ainda a zona 
geográfica onde moram os informantes, zona norte, zona sul e zona suburbana. 
Os informantes da pesquisa são filhos de pais cariocas, com 1º, 2º e 3º graus feitos no 
Rio de Janeiro, maiores de 25 (vinte e cinco) anos e residiram no mínimo ¾ partes de suas 
vidas numa das três regiões do Rio de Janeiro. Observa-se nesta pesquisa que as variáveis 
sociais não influenciaram na distribuição das variantes; mas, sua pesquisa revelou que a 
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permanência do fonema /R/ na fala dos cariocas é liderada pelas mulheres entre a faixa etária 
dos 51 (cinquenta e um) a 70 (setenta) anos. Mostrando-se mais conservadora a essa 
inovação, pois, quanto menor a dimensão do vocábulo, maior a inibição à aplicação da regra 
de apagamento. 
 
1.2.3. Mollica (1997): 
 
Na obra “Artigo de padrões fonológicos variáveis”, o artigo “Aquisição de padrões 
fonológicos variáveis” de Mollica (1997) há uma discussão sobre o apagamento do /R/ pós-
vocálico falado entre indígenas que possuíam como segunda língua o português, pertencentes 
a famílias linguísticas diferentes localizadas na região do Alto Xingu Meridional. Os dados 
demonstraram que a queda do /R/ em posição final do vocábulo não sofre grande grau de 
estigmatização, pois é constatado que esse fenômeno atinge tanto a aquisição do português 
como língua materna - ao se tratar de falantes nativos - quanto à aquisição do português como 
segunda língua, por falantes indígenas. De acordo com essa pesquisa, os índios, ao iniciarem 
seu processo aquisitivo de segunda língua, já aprendem o vocábulo sem o fonema /R/ final. 
Isto reafirma sua hipótese de que os falantes copiam os modelos a que são expostos, já que 
nos falantes nativos do português a pronúncia do /R/ é inexpressiva, se não ausente. 
 
1.2.4. Monaretto (2000): 
 
Através dos informantes do banco de dados VARSUL, esta pesquisa realizada por 
Monaretto (2000) e apresentada na obra: “O apagamento do /R/ em Curitiba, Florianópolis e 
Porto Alegre” mostra-nos que o apagamento do fonema /R/ pós-vocálico no final de sílaba 
tem maior ocorrência nos verbos. Afirma, ainda, que o fenômeno do apagamento do /R/ já 
vem sendo observado há algum tempo, os falantes não estigmatizam o apagamento do /R/, 
mas as gramáticas prescritivas estigmatizam este fenômeno não padrão do português 
brasileiro. 
Foi utilizado nesta pesquisa 36 (trinta e seis) entrevistas, distribuídas por: 
A – Localidades: Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba – 12 (doze) informantes para 
cada uma das capitais; 
B – Sexo dos informantes: 18 (dezoito) homens e 18 (dezoito) mulheres; 
C – Escolaridade: 18 (dezoito) informantes com o 1º grau e 18 (dezoito) com 2º. Grau; 
D – Idade: 36 (trinta e seis) informantes distribuídos em três faixas etárias. 
 
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Para análise desta pesquisa houve uma separação entre as classes verbais e as não 
verbais para tentar verificar a possibilidade de haver condicionamentos diferentes. Os 
resultados revelaram que a maior queda do /R/ ocorre em verbos no infinitivo (81%), 
verificando que o apagamento da vibrante /R/ é quase categórico em final do vocábulo (com 
índice próximo dos 70%). Portanto, esta pesquisa mostra que a queda do /R/ é mais frequente 
nos jovens, evidenciando um processo de mudança e que a vibrante /R/ é mais apagada em 
Florianópolis, mostrando dessa maneira o enfraquecimento do /R/ nesta região. 
 
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA REALIZADA EM RIO BRANCO 
– ACRE (2011) 
 
Seguindo a sociolinguística variacionista laboviana (Labov, 1994), buscamos dados 
através de coletas representativas da comunidade linguística rio-branquense, ou seja, 
entrevistamos, de forma aleatória, 35 (trinta e cinco) falantes naturais de Rio Branco. Sendo 
18 (dezoito) do sexo masculino e 17 (dezessete) do sexo feminino, distribuídos em três faixas 
etárias assim consideradas: 
 
A – Jovens: 14 (quatorze) a 22 (vinte e dois) anos; 
B – Meia Idade: 23 (vinte e três) a 41 (quarenta e um); 
C – Adultos: 42 (quarenta e dois) a 57 (cinquenta e sete). 
 
As entrevistas foram realizadas nos bairros Irineu Serra, Bahia, Palheiral, Sobral, 
Nova Estação, Jardim Primavera, Tucumã, bem como, na cidade universitária da 
Universidade Federal do Acre - UFAC. A seleção dos bairros se deu através de um sorteio 
aleatório. No caso dos informantes de nível superior, fizemos um sorteio dos cursos da 
própria instituição. Esta metodologia deve-se ao fato de que a sociolinguística variacionista 
parte da análise de amostras aleatórias. Somente assim poderemos oferecer a cada falante, em 
uma dada população, a oportunidade de ser incluído na pesquisa. 
Feitas as gravações, os dados foram enviados para o computador, transcritos e 
codificados para serem analisados pelo pacote de programas VARBRUL, desenvolvido por 
Sankoff (GoldVarbX 3.0bc - versão 3.0.2.3, 2005). Esse programa permite cálculos dos 
fatores codificados visto que o mesmo foi desenvolvidoespecificamente para operar os dados 
das pesquisas realizadas com base na sociolinguística variacionista laboviana. No entanto, 
para a realização deste estudo consideramos: 
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A – Fatores linguísticos; 
B – Fatores não linguísticos; 
 
Como fator linguístico, verificou-se: o apagamento ou não apagamento do /R/; posição 
do apagamento na palavra: final ou não final; contexto seguinte do apagamento: vogal, 
consoante ou nada; classes de palavras apagadas: verbos, substantivos, adjetivos ou outros; 
consoantes seguintes do apagamento: fricativas, oclusivas, nasais, laterais ou nenhuma; 
sonoridade do segmento seguinte: vozeado, desvozeado ou não tem segmento seguinte. 
Para os fatores não linguísticos consideramos dos entrevistados: o sexo; escolaridade; 
idade. Aqui direcionamos nossa análise aos fatores sociais que podem influenciar nos fatores 
linguísticos como a escolaridade, sexo e idade dos falantes. Partindo do nível de escolaridade 
de cada entrevistador como um indicador do apagamento do fonema /R/; em qual faixa etária 
de idade há maior ocorrência do apagamento do /R/, bem como em qual posição ocorre esse 
fenômeno (apagamento) dentro da palavra. Por fim, observamos em quais classes de palavras 
há maior ocorrência desse pagamento. 
 
2.1. Análise de Dados 
2.1.1. Variáveis extralinguísticas 
 
 Como nosso objeto de pesquisa é a ocorrência de apagamento do fonema /R/, 
representamos nos gráficos também o não-apagamento – somente a título de informação, para 
que possamos perceber o quão numeroso são os grupos que subtraem este fonema nas 
palavras. Seja em qualquer posição. Para a obtenção dos resultados utilizamos análise feita 
pelo programa VARBRUL, sendo seu resultado apresentado em termos de percentuais3. 
 
 
3 Os gráficos foram feitos no programa Microsoft Excel 2007. 
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2.1.1.1. Sexo: 
Gráfico 01: Apagamento do /R/ nos Homens Gráfico 02: Apagamento do /R/ nas Mulheres 
 
 
De acordo com o gráfico acima é possível perceber que dentro deste grupo que leva 
em consideração o sexo dos entrevistados, houve maior ocorrência de apagamento do /R/ para 
o sexo masculino do que para o feminino. Todos os entrevistados do sexo masculino 
apagaram o fonema /R/, enquanto no grupo feminino 99,4%. Logo, fica evidente que o sexo 
masculino apaga mais o /R/ do que o sexo feminino. 
 
2.1.1.2. Escolaridade: 
Gráfico 03: Apagamento do /R/ na 4ª Série. Gráfico 04: Apagamento do /R/ na 8ª Série 
 
 
Gráfico 05: Apagamento do /R/ no Ensino Médio (E.M.). Gráfico 06: Apagamento do /R/ no Ensino Superior. 
 
 
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 Podemos perceber que no gráfico 03 o apagamento do /R/ na 4ª série é 99,30%, já o 
não apagamento 0,70%. Por sua vez, no gráfico 05 o apagamento foi 99,10% e o não 
apagamento 0,90%. Todavia, vale ressaltar que a 8ª série e o Ensino Superior apresentaram 
apagamento total, ou seja, 100%. Dessa maneira o fator escolaridade revela que há um índice 
maior de apagamento na 8ª série e no Ensino Superior, uma que na 4ª série e nas outras séries 
do E.M. os falantes ainda realizam a produção do /R/ na oralidade. 
 
2.1.1.3. Idade: 
Gráfico 07: Apagamento do /R/ no adulto Gráfico 08: Apagamento do /R/ nos Jovens 
 
 
Gráfico 09: Apagamento do /R/ na Meia Idade 
 
 
Houve por parte dos jovens um apagamento significativo do /R/, assim como foi 
constatado na pesquisa realizada por Monaretto (2000) nas capitais do sul do Brasil. Já os 
adultos por sua vez apagaram 99,20% e os informantes de meia idade 99,30%. Portanto, os 
jovens são os que apagam mais a vibrante /R/, nas diversas formas de falar. 
 
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2.2.1. Variáveis linguísticas 
2.2.2. Posicionamento do apagamento 
Gráfico 10: apagamento do /R/ na palavra. Gráfico 11: Apagamento do /R/ em pausa 
 
 
Gráfico 12: Apagamento do /R/ na frase 
 
 
O gráfico 10 e 12 têm o objetivo de representar como ocorreu o apagamento do /R/ em 
palavras, bem como em frases respectivamente. Podemos perceber que no gráfico 10, 87,50% 
dos entrevistados produzem o apagamento do fonema na palavra; sendo que nas produções 
frásicas esta margem é ainda maior: 94,40%. Esta dinâmica, presente nestas realizações nos 
mostra a relação que há entre as palavras na frase. Há uma tendência, como já foi mencionado 
anteriormente, em aglutinar fonemas que apresentam semelhante som. Contudo, a subtração 
não pode se dá no âmbito do início das palavras, mas sim no final delas, ou seja, em pausa há 
um apagamento de 100%. 
 
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2.2.3. Apagamento seguido de consoante 
Gráfico 13: Apagamento seguido de consoante Gráfico 14: Apagamento do /R/ Seguido de Vogal 
 
Os gráficos 13 e 14 nos revelam que independentemente do fonema que procede ao 
/R/ o processo de apagamento demonstra-se significativo. Isto nos leva a crer que, de fato, 
seja uma característica dos sujeitos acrianos a subtração do /R/. Nota-se que há 99,10% de 
apagamento em palavras cujo fonema que procede representa uma consoante, e 99, 50% para 
aqueles representam vogal. 
 
2.2.4. Classes de palavras apagadas 
Gráfico 15: O apagamento do /R/ nos substantivos. Gráfico 16: O apagamento do /R/ nos verbos 
 
 
Gráfico 17: O apagamento do /R/ em outros 
 
 
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Os verbos são as classes de palavras que mais sofre o processo de apagamento do /R/; 
de acordo com o gráfico 16, pois somente 0,50% dos entrevistados permaneceram a produzir 
este fonema em suas falas. Nas palavras substantivas tivemos a permanência do /R/ em apenas 
2,50% dos entrevistados; sendo que em outras classes de palavra houve 91,30% de 
apagamento na produção deste fonema. Sabendo que os substantivos e verbos são classes de 
palavras essenciais, tem-se nesta apresentação uma margem significativa do retrato da fala 
dos rio-branquenses no que se refere ao apagamento do /R/. 
 
2.2.5. Consoante Seguinte 
 
 Gráfico 18: Consoante oclusiva Gráfico 19: Consoante nasal 
 
 
 Gráfico 20: Não tem consoante seguinte 
 
 
Os gráficos 18, 19 e 20 respectivamente têm importante valor nesta pesquisa, pois 
demonstram em quais momentos este fonema é apagado. Além disso, denunciam o ponto de 
articulação em que são produzidos esses fonemas, permitindo-nos uma visão mais ampla 
sobre em quais casos há maior frequência do apagamento. Quando a consoante seguinte for 
oclusiva, temos 99,00% de apagamento. Notem que somente 1% dos indivíduos não 
produzem esse apagamento. Mas quando a consoante que procede ao fonema /R/ for nasal, 
teremos um apagamento ainda mais significativo – como demonstra o gráfico 19. Contudo, 
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quando este fonema vem antes de uma vogal há verdadeiramente a exposição que caracteriza 
estes falantes do Acre. Somente 0,50% dos entrevistados não demonstraram o apagamento. 
 
2.2.6. Sonoridade do Segmento Seguinte 
 
 Ao analisarmos“a sonoridade do segmento seguinte”, percebemos que a exemplo do 
que nos foi revelado nos outros estudos outrora representados por gráficos; houve também 
maior ocorrência de apagamento. Contudo há uma diferença que merece atenção quando 
observamos que nos sons vozeados posicionados após o /R/ houve 99,50% de apagamento. 
Em contrapartida, 98,30% dos entrevistados produziram o apagamento quando o som do 
fonema seguinte apresentava-se desvozeado. Segue gráficos para apreciação: 
 
Gráfico 21: Seguido de som desvozeado Gráfico 22: - Seguido de som vozeado 
 
 
A partir da realização desta pesquisa, pode-se afirmar que o apagamento da vibrante 
/R/ não se constitui na fala dos rio-branquenses uma preocupação social e linguística, uma vez 
que os falantes não percebem que estão apagando o /R/, dando assim a impressão de já ser 
uma variante vitoriosa, na qual se verifica que não há preconceito linguístico. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A partir dos dados analisados percebe-se que o apagamento do /R/ nesta pesquisa, a 
exemplo dos apontamentos já realizados nos referenciais teóricos dos quais tivemos acesso; o 
/R/ tem um apagamento significativo na fala dos rio-branquenses. Contudo, destacamos que 
tal característica não pode servir como elemento depreciativo para os indivíduos desta cidade, 
uma vez que a fala é uma expressão livre, individual, desprovida de regras gramaticais. 
Também é necessário levarmos em consideração que os alunos do E.M., a exemplo dos 
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universitários, demonstram conhecer as palavras que expressam o que nos revela o quão livre 
é a língua falada. 
Verificamos durante a pesquisa que fatores como o espaço, o tempo, a emoção, como 
outros; contribuíram também para esse resultado agora apresentado. Muitos dos entrevistados 
demonstravam-se apressados para a realização de trabalhos diários ou para que concluíssemos 
a entrevista. Por fim podemos concluir que as pesquisas de cunho Variacionista são de 
extrema importância na discussão de análise de fatores fonéticos / fonológicos da língua 
devido ao seu caráter quantitativo. É nosso desejo que este projeto de Iniciação Científica 
sirva de referência para outros projetos cujos estudiosos dedicam-se a incansável área da 
linguagem humana. 
 
Referências: 
AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira: gramática, vocabulário. 4. ed. São Paulo: 
Hucitec/INL-MEC, 1982 (ed. fac. simil. da 2. ed. 1955). 
CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne; MORAES, João A. Apagamento do /R/ Final no Dialeto 
Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA vol.14, 
número especial, p. 61-72, 1998. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000300006. Acesso 
em 13 ago. 2011. 
CASTRO, Vandersí Sant’Ana. A resistência de traços do dialeto caipira: estudo com base 
em atlas linguísticos regionais brasileiros. Tese de doutoramento. Universidade Estadual de 
Campinas. São Paulo: 2006. 
CLEMENTE, F. C. Caracterização acústica do tap em coda no Português Brasileiro. 
Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Linguísticos do Sul. Disponível em: 
http://www.celsul.org.br/Encontros/06/Individuais/55.pdf. Acesso 13 ago. 2011. 
DIAS, A. T. B. B. Apagamento do fonema /R/ pós-vocálico de textos em informantes em 
aquisição da linguagem. Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003, p.176-180. 
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