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P Secretaria da Educação doSecretaria da Educação do Estado do ParanáEstado do Paraná Programa de DesenvolvimentoPrograma de Desenvolvimento EducacionalEducacional 20072007 Material Didático A pluralidade cultural brasileira e o conto paranaense no século XX Silviane Cabral da Cunha 2 SUMÁRIO Apresentação........................................................................04 Anexos pluralidade cultural brasileira e o conto paranaense no século XX..............................................................................05 Anexos..................................................................................39 3 APRESENTAÇÃO O tema A pluralidade cultural brasileira e o conto paranaense no século XX sugere o trabalho com textos paranaenses a fim de analisar não só a estrutura narrativa do gênero conto, mas a possibilidade de estudos comparativos temáticos com a utilização de várias linguagens e de diversos autores paranaenses e nacionais. Analisa- se, em suma, a inserção da literatura de nosso estado no contexto literário nacional durante o século XX e sua aproximação ou distanciamento quanto à veiculação de símbolos e imagens que a caracterizam parte da cultura brasileira. Diante da possibilidade de que a leitura do texto literário seja motivadora da formação de um leitor pleno – autônomo, proficiente, crítico, reflexivo, participativo em suas ações, um verdadeiro agente de transformação – propõe-se a organização dessas atividades de leitura através de oficinas temáticas que busquem sempre valorizar o educando e sua realidade local, nacional e global. 4 A pluralidade cultural brasileira e o conto paranaense no século XX. Silviane Cabral da Cunha 1. Considerações Metodológicas Este trabalho será desenvolvido com alunos da 3ª Série do Ensino Médio de uma escola pública estadual da região metropolitana de Curitiba, em um total de, pelo menos, 40 alunos. Tendo em vista o nível educacional dos envolvidos (final do ensino obrigatório) é possível esperar que os alunos sejam proficientes na leitura do gênero narrativo, especificamente do conto. Espera-se, portanto, certo domínio quanto a estratégias de leitura que garantam a compreensão do texto e maturidade ao refletir sobre os temas a serem estudados. Embora destaque-se o estudo dos textos por eixos temáticos buscando-se analisar como o conto paranaense reflete traços da pluralidade cultural nacional e de pressupor-se domínio básico de leitura, torna-se necessário que as atividades sugeridas desenvolvam e solidifiquem as mais variadas estratégias de leitura a fim de contornar qualquer dificuldade de compreensão. Para tanto, prevê-se não unicamente a contemplação das mesmas habilidades como: compreensão global, localização de informação, produção de inferência e manifestação de opinião. Deseja-se também ativar ou fomentar atividades cognitivas tentando precisar questões que deveriam ser formuladas ao e pelo leitor e cuja resposta é necessária para poder compreender o que se lê com o objetivo de: • compreender os propósitos implícitos e explícitos da leitura; • ativar e aportar à leitura os conhecimentos prévios relevantes para o conteúdo em questão; • dirigir a atenção ao fundamental, em detrimento do que pode parecer mais trivial; • avaliar a consistência interna do conteúdo expressado pelo texto e sua compatibilidade com o conhecimento prévio e com o “sentido comum”; • comprovar continuamente se a compreensão ocorre mediante a revisão e a recapitulação periódica e a auto-interrogação; • elaborar e provar inferências de diverso tipo, como interpretações, hipóteses e previsões e conclusões; • analisar criticamente o tema apresentado; • extrapolar as idéias colocadas pelo texto relacionando-o ao meio em que vive. Objetiva-se, ainda, que as atividades de leitura de literatura trabalhem a apreciação estética, com o intuito de fruir com o texto, 5 construindo sentidos e relacionando-os com a realidade do leitor, entrelaçando o cognitivo com o emotivo e procurando uma percepção ampliada do tema, o que pode assegurar maior êxito às propostas de leitura. Nesse sentido, propõe-se o ‘contato’ primeiro com a estrutura do texto literário narrativo através do estudo de um conto paranaense1. Nesse momento, apesar do estudo priorizar a análise da estrutura narrativa, o ensino de leitura pode e deve seguir suas etapas (antes, durante e depois) – essa divisão poderia parecer artificial, já que as estratégias integram-se no decorrer de todo o processo, mas inicialmente isso contribui para a organização do trabalho e auxilia a formação de um leitor ativo construtor de seus próprios significados. Sendo assim, desde o primeiro contato com os contos destinados às oficinas de leitura, é importante despertar no aluno interesse pelo texto em atividades de pré-leitura, dotando-o de objetivos e atualizando seus conhecimentos prévios relevantes (estratégias prévias à leitura / durante ela). Com isso, além de fazer inferências sobre o texto, as possibilidades de que ele estabeleça um envolvimento emotivo com o mesmo serão muito maiores. Na segunda fase (com o mesmo texto), ocorre a leitura efetiva do texto, que com o tempo se transforma em uma atividade solitária: a leitura-descoberta – à medida que lê, o leitor elabora seleções semânticas que ativam seu conhecimento até considerar adequada sua interpretação. Recomenda-se, entretanto, dinamizar essa etapa nesse ponto com a leitura compartilhada: professor e alunos utilizam estratégias que permitem estabelecer inferências de diferente tipo, realizando previsões sobre o texto a ser lido e, depois, sobre o que foi lido, como também revendo e comprovando a própria compreensão enquanto lêem, esclarecendo dúvidas e tomando decisões adequadas ante erros ou falhas na compreensão, resumindo idéias. Tudo isso, através do diálogo e da discussão sobre o significado do texto. Por fim, passa-se às atividades de pós-leitura, em que o texto é retomado, resumido, e relacionado à realidade dos alunos – principalmente com a utilização do texto local –, para que ele reflita sobre si mesmo e o meio em que vive, ampliando assim o conhecimento que se obteve mediante a leitura. Nesse sentido, sugere-se que seja possibilitado ao aluno discutir o texto com os colegas e com o professor, para que haja a troca de idéias e o esclarecimento de dúvidas. Essas atividades podem ser bastante lúdicas e dinâmicas, levando à reflexão e à discussão tanto do conteúdo quanto do discurso literário, aproveitando os talentos dos alunos em dramatizações, leituras dramáticas, saraus literários, debates, painéis, paródias, filmagens etc., que podem suscitar no educando o prazer e o gosto pela leitura do texto literário. Nesse aspecto, pode-se priorizar o enfoque à questão cultural em questão – a da pluralidade de identidades culturais no Brasil e a de como o Paraná se insere nesse contexto suscitadas pelos textos trabalhados. Essa fase, contudo, fica mais clara no segundo momento da aplicação do projeto, quando ocorre o estudo por eixos temáticos2, nos quais os textos escolhidos procuram trazer idéias que valorizem o respeito à 1 Trata-se do conto “Maria”, de Enói Renée Navarro Swain (In: MURICY, Andrade. Panorama do Conto Paranaense. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1979) e com o qual se propõe seguir as orientações de SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 6ª ed., 2007. 6 diversidade de identidades culturais no Brasil,seus tipos, linguagens, traços culturais etc. permitindo amplo debate (antes, durante e depois da leitura), podendo conscientizar o aluno para que ele evite estereótipos e preconceitos. Para isso, é interessante mostrar ao aluno o leque de opções a sua disposição de diferentes gêneros existente e que podem complementar, contrapor, mas, sobretudo, enriquecer a visão do aluno sobre determinado tema em estudo. Desse modo, além da compreensão dos textos, é possível realizar novas leituras a partir das relações intertextuais formais e de conteúdo estabelecidas entre eles. Isso amplia o conhecimento do leitor sobre o sistema literário – e outros que freqüentemente se valem elementos da literatura – como a música, as artes plásticas, a publicidade, a televisão e, sobretudo, o cinema – e mostra ao aluno que os textos dialogam e podem ser lidos uns pelos outros pelo processo de recepção. Essa atividade visa ajudar o leitor a construir sentidos outros muito além do texto lido primeiro ou texto-base e despertar nele a sensibilidade para a apreciação estética com base em relações intertextuais. Assim, pode-se relacionar o texto literário a inúmeras e variadas expressões humanas. Durante o processo de leitura e debate sobre a produção literária paranaense e sua inserção no contexto nacional, é fundamental que o professor se conscientize de alguns pontos muito importantes para garantir a o desenvolvimento da compreensão leitora e, conseqüentemente, o estímulo ao debate comparativo entre texto – realidade local – realidade nacional. São eles: • O que se almeja não são alunos que possuem amplos repertórios de estratégias, mas que saibam utilizar as estratégias adequadas para a compreensão do texto. • As estratégias trazem subjacente a idéia de revisão e mudança da própria atuação quando necessário para ajudar o leitor a escolher outros caminhos ao se deparar com problemas na leitura. • As situações de ensino / aprendizagem se articulam em torno das estratégias de leitura como processos de construção conjunta, nos quais se estabelece uma prática guiada através da qual o professor proporciona aos alunos ‘andaimes’ necessários para que possam dominar progressivamente essas estratégias e utilizá-las depois da retirada das ajudas iniciais. • O professor serve de modelo para seus alunos mediante sua própria leitura: lê em voz alta, pára sistematicamente para verbalizar e comentar os processos que lhe permitem compreender o texto (as hipóteses que realiza, os indicadores em que se baseia para verificá- las...; também comenta as dúvidas que encontra, as falhas de compreensão e os mecanismos que utiliza para resolvê-las... etc.). Essa é uma condição necessária, embora não suficiente. • Há uma progressiva transferência da responsabilidade e do controle do professor para o aluno no domínio das estratégias de compreensão 2 O exemplo de estudo temático dado é o As faces da brasilidade – O negro, em que se busca seguir as orientações do Método Recepcional (In: BORDINI, Maria da Glória & AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor - Alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993). 7 leitora. A tarefa, que a princípio era mais dirigida, torna-se cada vez mais independente. Mas o professor está sempre presente para conduzir o processo: supervisiona, corrige, explica, demonstra; não vale tudo... 2. Orientações Pedagógicas para a leitura e análise do conto com ênfase na Análise da Narrativa Sabe-se que o gênero textual predispõe, por assim dizer, o leitor para o processamento adequado do que o texto comunica. No caso da narração, especificamente do conto, o conhecimento da superestrutura narrativa (os fatos que sucedem em uma história e os elementos que a compõem: cenário, personagens, problema, ação, resolução) permite ao leitor prever o que vai acontecer. O trabalho com diferentes estratégias de leitura e o contato com os elementos constitutivos de um gênero são indispensáveis à compreensão do mesmo. Os dois devem fazer parte do processo e precisam ser ensinados e aprendidos. Sugere-se primeiro, por razões óbvias, o trabalho de leitura do texto e depois o da análise de seus elementos narrativos. Não se pretende esgotar a questão dos elementos da narrativa uma vez que, há aspectos bastante complexos (e dos quais tratam os manuais de Teoria Literária). Objetiva-se apenas a ilustração de algumas possibilidades de estudo que buscam preparar o aluno para um trabalho diferenciado de leitura e assegurar-lhe base teórica necessária à caracterização da narração – gênero priorizado através do conto. O professor deverá avaliar o que é possível ou não pedir aos seus alunos (e de que forma), assim como o tipo de ajuda de que vão precisar. Para isso, é imprescindível que planeje adequadamente a tarefa de leitura e que tenha a oportunidade de observá-los durante a sua realização para poder oferecer-lhes constantemente os desafios e apoios que vão permitir que continuem avançando. 1. Formular previsões sobre o texto a ser lido: Maria, de Enói Renée Navarro Swain Antes de proceder à análise da narrativa recomenda-se que o professor ajude os alunos a formular hipóteses ajustadas e razoáveis sobre o que será encontrado no texto, antecipando uma interpretação (antes da leitura). Pode-se: a) O professor pode estabelecer uma expectativa sobre o texto motivando a produção de um texto sobre Maria – o nome e o tipo de personagem que os alunos imaginam que encontrarão no conto. b) Escrever no quadro o título do texto e expor aos alunos a explicação do nome próprio. (Preparar um cartaz ou transparência torna o processo mais ágil, principalmente se for utilizar o texto em mais de uma turma.) MARIA: De origem hebraica. Significa senhora, soberana, excelsa, sublime; tem ainda relação com amargura, mágoa.. Geralmente é usado como uma homenagem à Virgem Maria – mãe do filho de Deus e que 8 indica serenidade, força vital e vontade de viver. Acredita-se que a pessoa com esse nome por vezes é forçada a pedir auxílio para resolução dos muitos problemas que tem de enfrentar na vida e para agüentar a dor. Ela também considera o dinheiro necessário, mas não essencial. Pode ter outros dois sentidos: Maria tanto “matéria” como “ilusão”. A verdadeira Maria é aquela que materializa a vontade do Pai e da Mãe no céu, fazendo na Terra, assim como no céu. A falsa Maria é considerada Maya, que significa ilusão. A realidade é que a Mãe é aquela que materializa. Aquela que traz para a forma na matéria. Esta forma é que pode ser a ilusão maya ou a perfeição da realidade divina. c) Estimular os alunos a expressar opiniões sobre o texto a partir do título que recebeu: • Que sei sobre conteúdos afins que possam ser úteis para mim? • Conheço alguma curiosidade, personagem, acontecimento típico da região em que vivo que se relaciona com o texto e que pode ser interessante colocar para o professor e os colegas? d) Pedir aos alunos que leiam o texto, ou um trecho do texto, em silêncio (embora também possa haver leitura em voz alta). e) Pedir aos alunos que façam anotações sobre dúvidas ou pontos de interesse (pode-se inclusive sublinhar as passagens importantes); 2. Comprovar / rever hipóteses levantadas e formular novas previsões sobre o texto lido Durante a leitura, o professor auxilia os alunos a comprovar as hipóteses levantadas antes da leitura (após um trecho ou do texto todo, confrontando o texto produzido por ele e o texto lido) e a reelaborar suas previsões (principalmente após um trecho para que haja nova perspectiva de compreensão).A interpretação é construída pela bagagem de conhecimentos e experiências do leitor. • Quais das minhas primeiras impressões a respeito do texto e se confirmaram ou não? • Que outras coisas sei que possam me ajudar: sobre o autor (li a biografia do autor e refleti se sua vida e obra podem informar mais alguma coisa sobre o texto?), o gênero, o tipo do texto...? • Que sugeriria para resolver o problema exposto aqui? • Por que isso aconteceu com este personagem? 3. Formular perguntas sobre o texto durante a leitura Fazer uma ou algumas perguntas aos alunos para verificar a compreensão e ajudá-los a desenvolver gradativamente a habilidade de fazer o autoquestionamento sobre o texto lido. Deve-se elaborar também questões cuja resposta torna a leitura necessária. 9 • Quem pode explicar o que é ... ? • Qual poderia ser – por hipótese – o significado desta palavra que me é desconhecida? • Que se pretendia explicar neste parágrafo / subtítulo / capítulo? 4. Esclarecer possíveis dúvidas sobre o texto Depois pode pedir explicações ou esclarecimentos sobre determinadas dúvidas do texto para comprovar se o texto foi compreendido. • Qual é a idéia fundamental que extraio daqui? • Tenho uma compreensão adequada das idéias contidas nos principais pontos? • As idéias expressas são discrepantes com o que eu penso? • Não compreendi alguma coisa? 5. Resumir as idéias do texto Fazer uma recapitulação do que foi lido para o grupo e solicitar sua concordância. • Qual é a idéia fundamental que extraio daqui? • Posso reconstruir o fio dos argumentos expostos? A partir desta última etapa, reinicia-se o ciclo (ler, resumir, solicitar esclarecimentos, prever). Essa seqüência pode e deve ter diversas variantes (perguntar, esclarecer, recapitular, prever). Não é recomendável, portanto, seguir uma ordem fixa e estática, mas adaptá-la às diferentes situações de leitura, aos alunos e aos seus objetivos. Uma forma de aumentar o envolvimento dos participantes pode consistir em que eles formulem perguntas que serão respondidas por todos depois da leitura; ou que elaborem um pequeno resumo, individualmente ou em duplas, para contrastar e enriquecer o realizado pelo professor, por exemplo. É imprescindível, no entanto, que o processo se mantenha guiado pelas estratégias prévias e que não se transformem em ‘participantes passivos’ (que respondem às perguntas, mas não interiorizam nem se responsabilizam pela leitura – o que seria próprio da leitura dirigida, centralizada na coordenação do professor [não que esse tipo de leitura não possa ser utilizada, principalmente no início]). A opção por colocar pergunta e resposta destina-se à possível análise sobre o que se esperava ao fazer determinado questionamento e para que o professor verifique se tanto a forma da questão quanto a análise são adequadas. Análise propriamente dita. I. Narração e Conto 10 A narração consiste no relato de acontecimentos ou fatos, reais ou imaginários, envolvendo ação e movimento, no transcorrer do tempo. O conto é uma narrativa curta, geralmente de episódio único e com poucos personagens, que se passa num único ambiente. O tempo é extremamente econômico, concentrado. • Baseado na definição acima e no quadro ao lado, explique por que o texto pode ser considerado um conto – uma forma narrativa. Aponte pelo menos três justificativas. O texto apresenta vários dos elementos característicos da narração de forma condensada: lugar (a casa, principalmente), o número de personagens reduzido, o tempo limitado (apesar de se passarem dez anos, isso se dá de forma bem sucinta), ações rápidas (principalmente as que marcam a rotina doméstica) etc. II. Elementos da narrativa PERSONAGENS: pessoas, animais ou seres personificados que participam dos acontecimentos. São seres inventados, mas que podem ter sido inspirados na realidade. • Cite os personagens da narrativa e destaque em torno de que personagem a história gira. As personagens são Maria (em torno de quem gira a história) e o velho. • Maria é a protagonista da história. Ela pode ser considerada uma heroína ou não? Justifique. Ela tem características iguais ou inferiores às de seu grupo (é uma empregada branca - polaca e bonita, mas inculta). Sua posição de personagem principal assume a crítica à posição da mulher numa estrutura patriarcal e à ascensão social pelo casamento além de conferir traços cômicos por estar num papel social, só que sem ‘competência’ para tanto. • Entre as personagens que participam do relato existe alguma hierarquia (há personagens mais importantes que outras)? Maria é a personagem principal: é em torno de suas ações e emoções que a história se desenrola, porém, economicamente, o velho exerce o poder. Outro fator de importância é o de que Maria, mesmo após o casamento com o patrão, não deixa de se sentir empregada devido aos inúmeros afazeres que tem. Ela não tem voz ativa e não exige seus direitos como esposa, mãe e dona da casa em conseqüência de se sentir inferiorizada por seu passado na casa. • Observe se há menção de idade, altura, cor de cabelos, olhos; atributos físicos; atributos psicológicos; atitudes marcantes; crenças e opções religiosas ou ideológicas; profissão; classe social; valores morais e éticos. Faça uma lista de características físicas, psicológicas, sociais, ideológicas e morais. MARIA: características físicas – jovem (“mais de vinte anos”), polaca alta e vistosa, corpão (quadris bem feitos, arremedo de barriguinha), usava penteado alto, uniforme azul engomado ou vestidos colados ao corpo que não escondiam o corpo bem feito; características psicológicas – ambiciosa, um tanto simplória, NARRAÇÃO • relato de fatos; • presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo; • apresentação de um conflito; • uso de verbos de ação; • geralmente, é mesclada de descrições; • o diálogo direto e o indireto são freqüentes. 11 aparentemente de pouca escolaridade / cultura; características sociais – empregada, pobre, gostava de ir aos bailes e dançar com os moços, beber com eles, contar enedotas, dar gargalhadas, palitar os dentes, tomar batida de limão e cachaça, tomar coca-cola e dar arrotinho depois; características ideológicas – quer casar- se no cartório e na igreja, o primeiro porque quer a segurança da formalidade do casamento e, o segundo, não porque seja religiosa mas porque ‘preocupa-se’ com as más línguas; e características morais – demonstra bondade e paciência, mas também, apesar da insatisfação, muito conformismo com a vida que leva. O VELHO: características físicas – não tem nome, velho (“mais de sessenta anos”), elegante, pinta o bigode, anda bem vestido, todo teso, tem um ar distinto, não gosta muito de banho, quase careca, tem um cheiro de velho; características psicológicas – demonstra ser sovina e talvez ciumento, um tanto patrão demais para com a nova esposa; características sociais – pelo menos depois do 1º casamento (há uma citação de que a 1ª mulher não gostava de receber os parentes do marido porque não gostava de gente pobre) de classe média alta ou de classe alta (não há menção de profissão ou de estar aposentado, mas há menção de bens e de não ter problema com dinheiro), gosta de comer bem, quase não sai (comer fora, bailes, viagens) para economizar, recebe os amigos em casa (coisa que nunca fazia com a antiga mulher); características ideológicas – não há menção de religião ou opção política, é um tanto recluso, provavelmente para não gastar muito; características morais – intransigente, exigente e controlador. • O 2º parágrafo apresentaa descrição de Maria, a personagem principal. O elemento descrito sofreu um enfoque subjetivo (reflete, sobretudo, o estado de espírito, o sentimento do observador diante da coisa observada transmitindo ao receptor a imagem do ser e a emoção que essa visão lhe evoca) ou objetivo / direto (limita-se à enumeração dos elementos que compõem o ser representado, sem expressar nenhum juízo de calor)? A descrição vilipendia ou dignifica a personagem? Os personagens aparecem animalizados ou humanizados? Justifique. Trata-se de uma descrição subjetiva. Há informações que apontam características psicológicas: o desejo de ascensão social através do casamento com alguém mais rico. No entanto, sua ambição (como se verificará mais adiante) não se revela desmedida, ela não traiu a confiança da patroa, mostra certa afeição pelo velho e parece ter esperado até depois do casamento para consumá-lo. Seus sonhos, desvendados nesse parágrafo, são simples – de certo modo os de uma vida mais cômoda e com algumas regalias ocasionais, direitos de qualquer ser humano, se assim pensarmos. • Reflita um pouco sobre os nomes que como o autor se refere às personagens: uma se chama Maria e a outra somente é caracterizada por um traço físico, o da velhice. A que pode remeter o nome Maria? Qual a importância da referência ao personagem secundário pela idade? (Faça associações de idéias e tire conclusões sobre as intenções do autor.) Interessante observar que a Maria do texto se debate entre a matéria (dinheiro) e a felicidade que este lhe proporcionaria (ilusão). Apesar de desiludida, desgostosa e frustrada com a vida pós-casamento, não faz mal ao marido, mantém-se serena e conformada. Talvez seja uma das tantas Marias no Brasil, à procura de uma vida melhor com um casamento por conveniência. A idade do viúvo é muito relevante para o traço humorístico do texto: Maria acreditava que o patrão de “sessenta e uns quebradinhos” não viveria tanto tempo assim e ela logo poderia usufruir o resto de sua vida com um homem mais jovem. Essa expectativa, no entanto, não se confirma ao longo do texto, pois o velho se revela bem disposto a controlar-lhe não só o dinheiro, mas a vida como patroa e como mãe, já que o casal tem 8 filhos. • Saber construir a personagem é uma das tarefas que mostra a competência do escritor, porque é nas personagens que o leitor haverá de identificar as pessoas que povoam o mundo real. Como, neste texto, você descreveria Maria – como símbolo da mulher paranaense, criada pela autora? (Resposta pessoal). • Se colocássemos a personagem deste texto, em uma situação diferente: digamos que ela conhecesse um homem de sua idade e se apaixonasse, mas ele fosse pobre; ou que ela decidisse assumir o controle das coisas na casa, que ela descobrisse de repente que dona 12 Lourdinha é que era rica e havia lhe deixado a herança... Que atitudes imagina que ela teria? O que aconteceria então? (Resposta pessoal). TIPOS DE DISCURSO: Nas histórias, geralmente, é possível diferenciar pelo menos dois níveis de linguagem: o do narrador e o da(s) personagem(ns). As personagens falam e essa fala – chamada de discurso – pode ser reproduzida pelo narrador. Não se deve esquecer que a linguagem das personagens varia de acordo com as condições socioeconômicas de seu meio, a idade, o grau de instrução e ainda a região em que vivem. O registro dessa fala ocorre de três maneiras diferentes: • Em Maria, o autor utiliza o discurso indireto livre exteriorizado: a fala da personagem (discurso direto) funde-se com a fala do narrador (discurso indireto) – ela expressa seu pensamento em voz alta, falando sozinha – trata-se de um monólogo. Entretanto, o texto utiliza os marcadores característicos de discurso direto (dois pontos, parágrafo e travessão) para caracterizar sua fala com seus próprios botões (ou colchetes). Por que o autor escolheu esse tipo de discurso e como esse discurso define a personagem? Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba os dilemas vividos pela personagem: seu desejo de melhorar de vida e a visão da sociedade sobre seu casamento; seus sonhos e a realidade de sua rotina apesar de patroa... • Agora reflita sobre a linguagem utilizada pelas personagens. A linguagem é formal e culta, regional ou popular? Apesar de Maria utilizar uma linguagem informal, não ocorre um retrato fiel do modo de falar da personagem. Provavelmente a fala de Maria seria muito mais descuidada, como dá a entender a própria maneira como encara o cuidado da patroa entre o que é certo e errado, exemplo bom é o da forma soube do verbo saber que aparece no texto. • Transforme os dois primeiros parágrafos do conto em discurso indireto – monólogo interior. Deitada na cama, em seu quarto pequeno, Maria acordou e se pôs a pensar que se o velho a pedisse pra casar ela se casava. Pra se juntar, não, que não era boba. Depois, se a peste morresse, a família me tomava tudo, como acontecera com a Angelina, e ela ficava pobre outra vez. Coisa triste, neste mundo, era ser pobre. Mas ela ainda haveria de ser rica. Ah se ela se casasse com ele! Não ter mais patroa pra mandar nela. Que beleza! Levantar à hora que quisesse. Passear. Comprar as coisas. Comer o que desse na cabeça. Torta de morango com nata, no Schaffer, na Rua 15. Doces, na Confeitaria das Famílias. Sentar na Praça Osório, olhar as crianças brincando na areia e os meninos grandes jogando futebol. Ver televisão, até o canal fechar. Ouvir novela, no rádio, o dia inteiro. Visitar as amigas. Ir à matinê. Viajar. De manhã, nos hotéis de luxo: café, laranjada, torradinhas, geléia, manteiga, frutas, coalhada. Não, café, não. Melhor chá. Era mais chique. • Analise as mudanças ocorridas no exercício anterior. Na passagem do discurso indireto (monólogo exterior) para indireto (monólogo interior) houve retomada quanto ao fluxo de consciência com a expressão do pensamento da personagem. O que essa retomada acarretaria no conto? Entretanto, aparentemente ela ganha uma carga, uma capacidade intelectual que a descaracterizaria enquanto figura caricata em torno da qual gira o tom humorístico do conto. Com as marcas do discurso direto (mesmo expressando o próprio pensamento em voz alta) o texto fica mais carregado, quase que maquiavélico. • Releia os seguintes trechos do texto: 13 “(...) E o velho: “Você precisa cuidar melhor desta casa, fiscalizar as empregadas. Este mês a conta de luz foi uma barbaridade. Não sei pra que tanto chuveiro! E a manteiga que se gasta aqui é um despropósito! E a cabeleireira então! Uma vez por semana é suficiente. Mulher casada não precisa sair todo dia. Sair de casa é gastar dinheiro”. Maria se calava. Mas por dentro, ficava ruminando: “Dona Lourdinha arrumava o cabelo um dia sim e outro não, e o senhor não achava ruim”. É que dona Lourdinha trabalhava, recebia seu ordenado, não precisava todo o dia pedir dinheiro ao velho e ter que agüentar aquela cara-de-marido-que-tem-que-abrir-a- carteira.” “Um dia pediu: — A gente bem que podia comer fora, hoje, que é domingo... E ele: — É uma boa idéia. Mande a empregada pôr a mesa debaixo da parreira, que lá está fresco. Ela não insistia em nada. Onde as viagens ao Rio e a São Paulo? As jóias, os passeios? Viagens de carro ela fazia, todo ano, de casa para a Maternidade.” Continue o diálogo entre as duas personagens. Utilize o discurso direto no primeiro trecho e o indireto no segundo. (Resposta pessoal). NARRADOR: aquele que conta a história, participando dela ou não. • Quanto à narração, há alguém que está contando os fatos para o leitor. Quem é o “eu” que está contando o que lemos?Como podemos configurar esse narrador? Quem conta é um narrador, um “eu” que está de fora, que se limita a narrar, sem emitir opinião. Não há indícios de sua presença – nós nem a percebemos. É, portanto, um narrador em terceira pessoa, observador dos fatos – um narrador objetivo. FOCO NARRATIVO • Examine o foco narrativo do conto: a história é contada por meio de qual ponto de vista (1ª ou 3ª pessoa)? O narrador é onisciente (sabe de tudo) e onipresente (está em todos os lugares) e ele narra a história em 3ª pessoa: “... Maria acordou e se pôs a falar sozinha...”, “...sua vida não mudou tanto...”. • Tomando por base o fato do casamento descrito no conto, reconte-o: a) do ponto de vista do velho; b) do ponto de vista de um dos filhos do primeiro casamento; c) do ponto de vista de um dos amigos do velho; d) do ponto de vista de uma das pessoas da vizinhança. (Resposta pessoal). FATOS: são as ações que se sucedem numa seqüência lógica. Geralmente, há um fato central, que desencadeia outros. • Os fatos do conto constituem a ação, que é externa, pois o leitor poderia vê-la, se fosse um fato real. Extraia do texto exemplos da ação dos personagens. Enumerar as ações em que a(s) personagens estão envolvidas (verificar os verbos de ação). 14 Maria ganha a vida como empregada doméstica; Dona Lourdinha (a patroa) morre, o velho se interessa por Maria, Maria sonha com uma vida melhor, Maria não aceita amigar-se, casam-se, Maria tem decepções cada vez maiores, nascem os filhos do casal, Maria se v~e mergulhada na rotina estafante de patroa-dona de casa, Maria se vinga da má sorte engordando cada vez mais, o velho continua vivo e bem. CONFLITO: é a oposição, a luta entre duas forças ou dois personagens. • As narrativas se constroem a partir de um conflito. Identifique o conflito dessa narrativa: há elementos no texto que se opõem ao personagem principal?; há conflitos entre classes sociais, gêneros, gerações...? Por quê?; o problema abordado é de cunho moral, político, sentimental...? O único conflito resulta do fato de o velho revelar-se ‘sovina’ e não cumprir suas promessas de viagens, jóias, passeios... “Tinha de tudo, é verdade. Mas dinheiro na mão, quase nada. E se saía fazer compras, era com o velho do lado...” Apesar do humor, o conto revela um aspecto moral: o ‘golpe do baú’ não foi tão bem sucedido assim. É claro que, sendo de classe social inferior (pobre, ex-empregada), Maria não demonstra traquejo social para lidar com o aspecto controlador da personalidade do marido (que de certa forma, age como se ainda fosse o patrão, e não o marido – motivado pelo poder econômico e pela posição social); quanto ao lazer, Maria sofre também com a diferença de gerações, já que não pode mais nem ir aos bailes para dançar e sua etiqueta também não condizem com sua nova posição. TEMPO: os fatos do enredo estão ligados ao tempo em vários níveis. • Como você analisa o tempo, nesse conto? A ação obedece ao relógio, tudo marcha, temporalmente, para frente? Tem começo, meio e fim, nessa ordem? Como se denomina esse tipo de tempo em que passa o enredo? Por quê? É essencial para a compreensão da narrativa? Há a clara noção de passagem do tempo em ordem crescente e linear (“depois de uma curta lua-de-mel”; “antes comia de tudo” - “agora, café com pão dava azia”; “arrastaram-se nove meses...”; “no ano seguinte” - “E outro” - “E outro”; “antes podia ser chamada de ‘Garota de Ipanema’” - “agora só se fosse ‘Garota que dá pena’”). O tempo, portanto, é histórico ou cronológico, porque, dentro da realidade ficcional, realmente acontece num crescendo até fechar um ciclo de dez anos. A narrativa demonstra causas e efeitos, apesar de fazer uso de alguns flashbacks e de a personagem expressar pensamentos em voz alta - ela, entretanto, não se perde neles, criando um mundo à parte. • O texto apresenta marcações temporais para os acontecimentos? Se sim, numa ordem crescente, faça uma relação delas, de forma bem esquemática. “.Depois de uma curta lua-de-mel”; “antes comia de tudo” - “agora, café com pão dava azia”; “arrastaram- se nove meses...”; “no ano seguinte” - “E outro” - “E outro”; “antes podia ser chamada de ‘Garota de Ipanema’” - “agora só se fosse ‘Garota que dá pena’”; “dentro de dez anos e oito filhos...”. • Há imagens revisitadas no texto? Sim, a personagem relembra fatos do passado para contextualizar momentos presentes (flashback), como o das reprimendas de dona Lourdinha, de como ela morreu; de como era a rotina dela para comparar a sua. • O conto pode ser um belo retrato dos costumes, da história da sua época: como era a escola, como as pessoas namoravam, como era a família, a política etc... No caso do conto Maria, o texto descreve o quê? Dá para perceber sobre que época está escrevendo? Quais os trechos do conto que, na sua opinião, retratam os costumes dessa época? A existência da Confeitaria Schaffer e da loja de tecidos casa Louvre, o hábito de ouvir novela de rádio e de ir à matinê, o curso de datilografia, o conhecimento das músicas de Vinícius de Moraes (Receita de mulher e Garota de Ipanema) – não muito comuns a não ser que estivessem fazendo sucesso no rádio ou na televisão e a ocorrência do termo amigação comprovam que o texto foi escrito em uma época diferente da atual, num passado não muito distante mas ainda assim que precisa ser relembrado para ser compreendido – 1968. ESPAÇO: ou ambiente / cenário é o lugar(es) onde se desenvolve a história. 15 • O local em que se passa a história é especificado? Há um espaço exterior – visível, um meio onde ocorrem os acontecimentos? Ou é um lugar fantástico, onde acontecem os sonhos / pensamentos / devaneios de algum personagem? Justifique. O espaço determina a ação? Como? Sim, a história se passa na cidade de Curitiba. É um lugar concreto, possível de ser descrito objetivamente pela citação da famosa Rua XV e de alguns estabelecimentos localizados ali e que eram bem conhecidos da época (Confeitaria Schaffer, Confeitaria das Famílias, Praça Osório, Casa Louvre). E pela citação do bairro italiano de Santa Felicidade. A casa – símbolo de poder aquisitivo –, seus elementos de decoração e os aparelhos domésticos acabam se tornando um elementos de escravização, mantendo-a constantemente atarefada a fim de preservar a aparência ou o bom funcionamento e evitar mais despesas e reprimendas do marido. • É possível caracterizar o local em que se passa a narrativa? Se sim, faça uma lista dos elementos que caracterizam o lugar. Tanto os lugares citados no texto quanto a casa e os elementos que a constituem (utilidades domésticas e de decoração) também revelam pessoas com hábitos requintados e de poder aquisitivo além da maioria da população. ENREDO ou TRAMA: são os acontecimentos organizados numa seqüência lógica, de modo que um fato provoque outro. É importante que os acontecimentos estejam organizados de uma forma atraente, para prender a atenção do leitor. • Qual é a trama central do conto? Uma moça pobre e empregada doméstica vê no casamento com o patrão sua chance e melhorar de vida. • O conto caracteriza-se, geralmente, por apresentar um enredo cuja estrutura contém as seguintes partes: apresentação (exposição ou introdução) complicação (desenvolvimento) clímax e desfecho (desenlace ou conclusão). a) A narrativa, nesse conto, confirma esse esquema de enredo? Justifique. A narrativa não apresenta clímax, talvez para expressar a continuidade e a rotina da vida de Maria. b) Identifique, se possível, cada parte do enredo. apresentação – do início até “...O perfume é que disfarça.” complicação – de “Lá de fora, veio uma onda de frio...” até “... onde a bela Maria?”. desfecho – de“Vive em casa...” até “O velho vai bem, obrigada”. Aparentemente o conto, assim como a vida de Maria, não apresenta clímax. Gera-se expectativa quanto ao casamento (vai se casar ou não?) e se casando, como será sua vida de madame (o que imediatamente se percebe imutável). CLÍMAX: momento de maior intensidade dramática da narrativa. • O conto apresenta clímax? Qual é a expectativa do texto? Acontece uma ruptura dessa expectativa? Em que momento? Ver a resposta à questões anteriores. DESFECHO: é como os fatos se arranjam no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito. • Como termina essa narrativa? Como podemos avaliar isso? 16 De certa forma a narrativa termina exatamente como começa: Maria presa às tarefas de casa. Nesse caso, podemos considerá-la uma narrativa circular, ou seja, sem um fecho, tal como a rotina da dona de casa – todo dia tendo de fazer tudo sempre igual. Mesmo o fato de ser a patroa não lhe dá sossego. • Na sua opinião o final cria expectativa no leitor? Por quê? Não, pois a personagem demonstra aceitar o triste destino a que se impôs e decide simplesmente vingar- se, só que em si mesma: engordando e se enfeiando. • Escreva outro final para esse conto. (Resposta pessoal). MENSAGEM: • O assunto deste conto é uma empregada doméstica vê o casamento com o patrão como uma forma de melhorar de vida. • O tema deste conto é o casamento. • A mensagem deste conto poderia ser esta as aparências enganam. • O título de um texto pressupõe uma síntese semântica da narrativa. No caso do conto Maria, o título corresponde semanticamente ao texto? Trata-se do nome da personagem principal, Maria, em torno de quem gira a história. Uma empregada doméstica, simples e pouco instruída, uma moça comum, representado possivelmente muitas Marias do Brasil. • O conto narra fatos fictícios, não tem necessariamente compromisso com a realidade. Pode ser totalmente inventado ou até baseado em fatos reais, porém enriquecidos pela imaginação de quem relata. Você acha que há limites entre a reprodução fiel da realidade e a simulação do real? (Resposta pessoal). Espera-se que a resposta seja “sim”, pois se a pessoa ‘simula’, ela já está fingindo, não está sendo fiel à realidade. • O personagem ratifica os valores fundamentados social e temporalmente ou se contrapõe a eles? Há uma visão crítica ou reafirmadora da tradição? Apesar do humor, é uma crítica a subserviência feminina e ao papel relegado à mulher numa família patriarcal. Sob esse ponto de vista, opõe-se à ordem da época da autora e levanta questões presentes ainda hoje na sociedade moderna brasileira, independente de qualquer classe social. • Existe mudança na atitude da personagem? Não. Maria somente se impõe no momento de exigir o casamento formal. A partir daí, assim como antes “não tinha de pensar” para ser uma boa empregada e se subordinava às ordens de dona Lourdinha, agora ela “deve” se adequar ao papel de patroa sem os regalos de madame, já que o marido-patrão exige seus cuidados para consigo, com os filhos e com a casa, mas não lhe permite usufruir os benefícios do dinheiro (viagens, jóias, roupas bonitas, passeios...). Ela continua conformada, submissa, obediente. • Que mensagem você acha que essa narrativa quer transmitir? O conto humaniza ou desumaniza o leitor? Em que aspecto(s)? (Resposta pessoal). Espera-se que o aluno expresse uma visão crítica acerca de relações por interesse ou conveniência e as causas frustrantes que elas podem acarretar. Ela era jovem, com sonhos ma sem motivação para lutar por eles e / ou exigir seus direitos no papel de esposa e mãe que talvez numa relação de amor verdadeiro os colocasse em posições iguais. • O autor se apropria de elementos da tradição ou do folclore nacional para contar o seu conto? Não. 17 3. Orientações pedagógicas para a exploração de leitura por eixo temático: AS FACES DA BRASILIDADE – O NEGRO Nesse estudo temático, as atividades seguem o esquema sugerido pelo Método Recepcional, cujo aspecto principal requer a seleção de textos referentes à realidade do aluno e, ao mesmo tempo, capazes de romper com ela através do aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguda e com a visão crítica sobre as atuação e a de seu grupo. Objetiva-se oferecer apenas alguns caminhos possíveis para a análise dos textos. As atividades são numerosas e abrangem um grande leque de assuntos. Não se pretende esgotar as possibilidades de leitura e interpretação, pois entende-se que cada pessoa dependendo de sua vivência e experiência, pode atribuir diferentes sentidos às obras. Cabe ao professor, analisando a maturidade de cada turma, escolher quais delas serão realizadas e como (oralmente ou por escrito, por exemplo). Nem todas as sugestões são indispensáveis. A. RECEPTIVIDADE: Músicas de diferentes épocas e estilos sobre o tema – “O navio negreiro” – versão em rap de Caetano Veloso e com Maria Bethânia; A mão da limpeza – Gilberto Gil; A mulata – Xisto Bahia e Mello Moraes Filho; Mulata iê iê iê – João Roberto Kelly; Mulata no sapateado – Mart'nália; Mulata fuzarqueira – Noel Rosa; Aquarela do Brasil – Ary Barroso; Isto aqui, o que é? – Ary Barroso; O teu cabelo não nega – Lamartine Babo; Mulata assanhada – Ataulfo Alves; Gabriela – Dorival Caymmi; Xica da Silva – Jorge Bem e outras... Trata-se de uma atividade de abertura do estudo temático que buscará preparar a receptividade ao tema através da utilização de músicas que atraiam a atenção do aluno e o motivem para a leitura subseqüente. Essa ‘motivação’ tem também por objetivo acionar conhecimentos prévios do aluno, preparando-o ao mesmo tempo para a aceitação do novo, do diferente, do inusitado. É uma atividade de escuta e possível discussão. B. CONCRETIZAÇÃO: De olho na imagem – A mulher negra na pintura brasileira do início do século XX: Tropical, de Anita Malfatti; A negra, de Tarsila do Amaral e Mulatas, de Di Cavalcanti. Após sensibilizar o aluno para o tema, apresenta-se um texto com tema similar para o mesmo, a fim de atualizar as potencialidades do texto em termos de vivência imaginativa. Roteiro para análise das obras As ilustrações reproduzem três obras criadas por pintores inovadores no início do século XX. São pinturas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti, importantes artistas modernistas 18 brasileiros que, por algum tempo, viveram e estudaram no exterior e tiveram contato com as mais diversas tendências de vanguarda de sua época. Seus trabalhos rompiam com o academicismo tradicionalista que imperava na pintura brasileira ao mesmo tempo em que tentavam incorporar temas nacionais. Observe atentamente as pessoas, as roupas, a paisagem, a ação, as cores, etc. nessas obras de arte e responda às questões propostas a seguir. 1. Consulte as referências das obras e complete a tabela abaixo: A B C a) Qual o título de cada obra? Tropical A negra Mulatas b) Quem é o autor da pintura? Anita Malfatti (1889 – 1964) Tarsila do Amaral (1886 – 1973) Di Cavalcanti (1897 – 1976) c) Em que ano foi produzida cada uma? 1917 1923 1927 d) Quais as dimensões de cada quadro? 77 X 102 cm 100 x 81,3 cm 50 x 39 cm. e) Que técnica o pintor usou em cada pintura? Óleo sobre tela Óleo sobre tela Óleo sobre cartão f) A quem pertence cada obra hoje? Pinacoteca do Estado de São Paulo Museu de Arte Contemporânea / USP g) Em que cidade cada uma delas se encontra? São Paulo (capital) São Paulo (capital) 2. Você sabe quem foram Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti? Conhece alguma outra obradesses artistas? Quais? Comente-as. (Resposta pessoal.) Pedir aos alunos que pesquisem sobre esses artistas em livros, enciclopédias ou na Internet. Indique, entre outros, os sites: http://www.anitamalfatti.com.br; http://www.tarsiladoamaral.com.br e http://www.dicavalcanti.com.br. 3. A obra Tropical de Anita Malfatti originalmente foi intitulada Negra Baiana. Apesar de apresentar um tema bem brasileiro – o do clima e dos benefícios que dele advém, é a pintora que menos ousa, pois sua técnica nessa obra é a que menos revela inovações. Como isso se percebe? O tema é brasileiro, porém o tratamento formal ainda é arrojado. Das três telas, a dela é a mais cuidada quanto aos detalhes de representação. 4. A negra foi pintada por Tarsila em Paris, enquanto tomava aulas com o mestre cubista francês Fernand Léger. A tela o impressionou tanto que ele a mostrou para todos os seus alunos, dizendo que se tratava de um trabalho excepcional. Pertencente à fase da pintora conhecida como Pau Brasil, a obra é um hibridismo entre os valores da terra e a atualização da linguagem plástica, proclamados pelos modernistas da Semana de 22. Como ela consegue fazer isso? Ela consegue unir a pintura de inspiração cubista com as formas geométricas ao fundo à pintura figurativa com a imagem da negra à frente. Une o moderno (construtivismo cubista) ao nacional (a negra como representante da raça brasileira). 19 5. Emiliano Di Cavalcanti participou do processo de reformulação das artes e da cultura brasileira – projeto inaugurado oficialmente com a Semana de Arte Moderna em 1922. Engajado na busca pela independência cultural e pela identidade nacional, o artista carioca elegeu a representação da mulata como metáfora da mestiçagem racial e cultural. Em seus quadros, retratou-as sob a influência das mais variadas tendências modernistas: fez mulatas expressionistas, mulatas surrealistas, mulatas cubistas. • Quanto ao tema e ao tratamento dado a ele, as figuras retratadas na ilustração C confirmam esse modo de pensar do pintor? Justifique. (Resposta pessoal.) Espera-se que os alunos respondam que sim. Na arte da época modernista que buscava símbolos para a brasilidade e procuravam retratá-los de forma inovadora. Na música popular podem-se encontrar inúmeros exemplos da mulata como representante da sensualidade da mulher brasileira. Um exemplar da beleza que a mistura de raças encontrada no país mostra digno de admiração. Um modelo da força e da garra, apesar das agruras sofridas desde a escravidão, até a exploração atual como símbolo sexual. 6. Quando essas pinturas foram produzidas, já existia a máquina fotográfica? Justifique. Consulte o quadro ao lado antes de responder. Sim. Ela já era utilizada desde a segunda metade do século XIX. Desde o início do século XX, vários artistas brasileiros foram estudar na Europa e entraram em contato com artistas inovadoras e suas técnicas revolucionárias. Muitos deles pensavam que, como a fotografia dava conta da imagem real, agora eles poderiam retratar o mundo real com mais liberdade. Mesmo assim, na época, em geral, pensava-se que a arte – em particular a pintura – ainda deveria imitar a realidade, isto é, um pintor não poderia representar alguém com formas e cores muito diferentes da realidade. Essa foi justamente uma das novidades trazidas pela arte moderna: a idéia de que o artista deve ter total liberdade de imaginação e não se deixar limitar pela realidade. 7. Que figuras estão representada em cada obra (ser humano, objeto, paisagem...)? É possível reconhecer essas figuras claramente? Você diria que, de alguma forma, o pintor modificou a realidade quando a retratou? Essas formas de representá-las revelam traços de semelhança tal como a fotografia? Explique. A figura B é a mais complicada, mesmo assim é possível reconhecer a figura feminina em cada tela. A caracterização mais realista é a de Anita Malfatti, seguida pelas feições de Di Cavalcanti e a negra (quase perceptível somente pelo seio) de Tarsila do Amaral. As cores e as formas não são realistas; são escolhas dos artistas. Isso significa que eles aproximam as obras da realidade, mas não apresentam uma imagem fiel das figuras tal como a fotografia apresentaria. São recursos diferentes. 8. Faça um levantamento das semelhanças e diferenças entre as obras. Para isso, é preciso considerar vários elementos de cada pintura. 20 A origem da FOTOGRAFIA A fotografia não tem um único inventor. Várias observações e inventos ligados ao estudo da luz e dos fenômenos óticos feitos por alquimistas, físicos e químicos e que aconteceram em momentos distintos foram de extrema relevância no contexto da fixação de imagens. A primeira pessoa no mundo a tirar uma verdadeira ‘fotografia’ foi Joseph Nicéphore Niepce, em 1826. No entanto, o daguerreótipo, criado por Louis Daguerre em 1939, é considerado o ponto de partida da fotografia. Acredita-se que esse invento tenha chegado por aqui em 1840. Mas já em 1833, no Brasil, o francês Hercules Florence (que viveu até sua morte na Vila de São Carlos [atual Campinas]), totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus contemporâneos europeus, fotografou através da câmara escura com uma chapa de vidro e usou um papel sensibilizado para a impressão por contato. A fotografia brasileira desenvolveu-se muito na passagem para o século XX e esteve presente em exposições internacionais. Inicialmente, a produção de imagens por meio de uma máquina era muito cara: apenas os muito ricos encomendavam seus retratos. Mas nas duas a) o tema (Como foram representadas as figuras humanas? O que a expressão do rosto de cada personagem está sugerindo?): As três pinturas apresentam figuras femininas: negras ou mulatas. A mulher do quadro A inspira um certo desalento, cansaço e enfado ou conformismo. Seu olhar não tem vida e parece até refletir uma dose de desespero. O quadro B retrata uma mulher nua, de grossos lábios, tendo a frente um seio pesado e pendente, sentada, de braços e pernas grossos e toscos, tem a aparência imóvel, como uma imagem evocada ou de uma aparição, um ser à espreita. As mulatas do quadro C parecem à espera de algo ou alguém (figura à esquerda), numa atmosfera de sonho, devaneio e um certo desalento (figura da direita). A figura da direita parece também se mostrar (o seio descoberto) quase como se o oferecesse ao observador. A figura ao fundo está em movimento, indo para o interior da casa fazer algo. b) as linhas e formas (São arredondadas, retas, macias, alongadas...?): A. M. demonstra um desenho seguro, e uma riqueza maior de detalhes para retratar a cena de uma mulher carregando o produto da feira ou vendendo seu produto nas ruas (?). T. A. altera a forma da figura feminina exagerando nas curvas e nos volumes e intensificando a percepção do corpo da negra quase como uma figura mítica – a exemplo de uma vênus da fertilidade. As formas de fundo, no entanto, são totalmente geométricas, secas, rápidas. Em D. C., as linhas utilizadas nas figuras humanas são curvas, denotando formas arredondadas, volumosas, macias e sensuais. c) as cores (São suaves ou não? Qual a cor em cada quadro que mais chama a atenção? Que sentimentos as cores utilizadas transmitem a você? Em que parte de cada quadro parece haver maior incidência de luz? Você consegue identificar um contraste entre fundo e figura?): As cores do quadro A são um tanto apagadas. O amarelo, em vez de iluminar a paisagem tropical (como luz solar), parece associar-seà expressão da figura e denota um aspecto doentio ao todo. A festa de cores – elementos e figura (mulata) – que se espera pela associação também com o título (tropical) e que resultaria em calor, vida e alegria acaba esmaecida. Fica claro no quadro B, a presença de dois tipos de pintura: uma ‘abstrata’ – a do plano de fundo de inspiração cubista; e outra figurativa – a da negra. O plano de fundo revela cores mais escuras, destacando a imagem que vem á frente. No quadro C, a suavidade e colorido das cores de fundo e dos vestidos apresenta um contraste com a pele achocolatada e brilhante das mulatas. Sugerem leveza e alegria, frescor e acentuam a sensualidade da cor da ele e das poses das mulheres (seriam prostitutas?). A luz vem do fundo e destaca os contornos dos corpos, como se toda a iluminação partisse da casa na qual elas vivem. 9. Há elementos simbólicos nos quadros? Se sim, o que eles sugerem (vida, força, morte, tristeza...)? No quadro A, a pintora buscou nas frutas tropicais (banana, mamão, abacaxi...) e na vegetação de fundo (bananeiras, palmeira) a representação da natureza brasileira e de suas dádivas. A mulata poderia estar simbolizando uma integração com essa natureza, é parte dela, também representa o país. No quadro B, atrás da figura a artista dispõe uma folha de bananeira, em diagonal semi-curvada. Esse aspecto da vegetação brasileira e a figura amorenada da negra ama-seca com seus enormes peitos e lábios carnudos pode representar a vida, a figura materna, a fertilidade... As cores dos vestidos no quadro C buscam representam a alegria e a leveza; os olhares compridos podem representar a sensualidade, o desejo, a conquista. 10.O que você está vendo é apenas um desenho e algumas cores. Apesar disso, ele consegue tocá-lo(a)? Explique. Resposta pessoal. 11.Qual das obras lhe agradou mais? Por quê? Resposta pessoal. C. RUPTURA: Texto I – “O monstro do tembé”, de Hellê Vellozo Fernandes (conto) e Texto II – “Figueira do corpo seco”, recontada por Francisca Kaminski (lenda) 21 Nessa etapa, ocorre a introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos seja em termos de literatura ou de vivência cultural. Os textos se assemelhem quanto ao tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem, mas com recursos compositivos radicalmente diferentes. Busca-se um distanciamento crítico de seu próprio horizonte cultural, diante das propostas novas que a obra suscita e apresenta maiores exigências aos alunos ao mesmo tempo em que mantém vínculos com as atividades da etapa anterior. A. Ficha técnica do conto“O monstro do tembé”, de Hellê Vellozo Fernandes “E Sinhazinha entendeu uma das estórias proibidas da Fazenda do Butiá, comentada à meia-voz entre as pretas velhas, quando ela fingia que dormia entre seus braços. Compreendeu uma estória terrível, que terminava assim, na voz sussurrada da negra Brasília...” Sinopse Há na fazenda a crença de que à beira de um despenhadeiro vive um monstro. Quando Sinhazinha volta do colégio, vai passear com seu avô por aquelas bandas e descobre que o monstro é mais humano do que parece. Temas abordados suspense superstição estereótipo - mulata: sensualidade violência; abuso de poder preconceito, discriminação Estrutura narrativa Personagen s • Principais: Sinhazinha, Avô e a negra Castorina (o monstro do tembé). • Secundária: a negra Brasília (ama-de-leite da Sinhazinha). Discurso Predomínio do discurso direto com clara caracterização das falas das personagens. Narrador narrador-observador Foco narrativo 3ª pessoa Fatos Sinhazinha chega do colégio; vai passear com o avô até o despenhadeiro; desviam-se pela trilha; um vulto ataca o velho senhor; Sinhazinha defende o avô; descobrem que o monstro é uma mulata por quem o avô haverá se interessado e que foi castigada pela mulher dele. Conflito Possibilidades: entre cultura popular e saber científico; 22 entre medo e curiosidade; entre brancos (senhores) e negros (escravos); entre a senhora e a mulata. Tempo • Numa tarde bonita, quando Sinhazinha voltou do colégio. • Tempo cronológico: percebe-se a linearidade (causa- conseqüência) dos fatos. Há, inclusive a retomada de imagens (flashback - com a negra Brasília). Espaço Numa trilha do mato, perto do precipício na Fazenda do Butiá. Enredo / Trama Uma moça quer aventurar-se para provar sua maturidade e acaba descobrindo um segredo do passado de seu avô. Clímax A gradação do suspense até o ‘encontro’ com o monstro quando este ataca o avô. Desfecho Apesar do flashback que elucida a razão de ser do monstro, o término fica em suspenso, gerando uma expectativa sobre o que teria acontecido depois. Mensagem Enfoque sobre o abuso cometido por senhores contra escravos. B. Roteiro de leitura 1. Colocar o título no quadro e perguntar: Que tipo de história vocês imaginam que vão ler? De terror, ficção científica, mistério e suspense...? Monstro? Que tipo de monstro? Tembé? Trata-se de pessoa (é de alguém que o criou), lugar (é o nome do lugar em que o monstro vive), coisa (o material de que o monstro foi criado)...? 2. Deixe que eles leiam os três primeiros parágrafos e perguntar novamente: Sobre o que parece ser a história agora? Uma lenda, uma crendice? De quem? Descobriram o que é tembé? Comente que muitas vezes é possível descobrir o significado de uma palavra pelo contexto. 3. Pedir para eu eles continuem a leitura até o 16º parágrafo (de Saiu a cavalo... 4º§ a Cuidado, Vô... 16º§). Perguntar-lhes como se sentiram ao ler esse trecho? Se fosse um filme provavelmente o que inspiraria neles esse momento? O que eles acham que vai acontecer agora? 4. Pedir-lhes que leiam os três parágrafos seguintes e digam: Quem era o monstro? Por que eles acham que alguém iria ficar ali para atacar as pessoas? Roubar, pregar peças...? 5. Dizer aos alunos que leiam o final do texto. Após a leitura, indagar-lhes: Por que a negra era um monstro? Há algum elemento sobrenatural nela? Quem era a negra? Por que ela acabou indo morar no mato? C. Atividades específicas para esse texto 1. Criar um final para o texto. Pense: O que o avô da Sinhazinha fez com a negra?, Será que a avó ainda estava viva? 2. Pesquisar o papel da mulher negra da sociedade escravocrata até os dias atuais. 3. Discutir as formas de abuso de poder da época da escravidão e nas relações modernas de trabalho. 23 4. Analisar aspectos positivos e negativos que o estereótipo que sofria (e ainda é atual) da mulata como símbolo de sensualidade e beleza no e do país. Roteiro para Estudo do Texto “Figueira do corpo seco”, recontada por Francisca Kaminski (lenda) 1. Lenda é uma narrativa transmitida pela tradição oral. De caráter fantástico e/ou fictício, ela combina fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação aventuresca humana e se modifica de acordo com o lugar e época que se passa.Cada pessoa que conta uma lenda imprime nela, às vezes, sem querer algumas alterações: aumenta ou diminui um pouco, substitui uma palavra por outra. Com isso as lendas vão se modificando com o passar do tempo e de uma região para outra. a) Identifique os aspectos reais e os fantasiosos da lenda lida. Reais: fator histórico (escravidão, castigos corporais, senhor, feitor, morte violenta) e fantasiosos: a incorporação do corpo do negro pela casca da árvore por ele ter morrido sem extrema unção. b) Cite outra(s) lenda(s) de origem negra que você conhece e que retratam crueldades da escravidão. (Resposta pessoal) Espera-se que o alunocite pelo menos a Lenda do Negrinho do pastoreio (conhecida em todo o Brasil). Há, no mesmo livro de onde esta foi retirada, a Lenda da caveirinha. 2. Essa lenda foi contada através em forma de poema-narrativo. Resuma a história do poema. (Resposta pessoal). Há muitos anos, na época da escravidão, em Guaraguaçu, litoral do Paraná, um negro fujão foi amarrado ao tronco de uma figueira e castigado até à morte. Seu patrão o deixou o corpo lá, secando ao léu. E, conforme a árvore crescendo, casca do caule ia assimilando o corpo do escravo. Ainda hoje qualquer um pode ver a figueira do corpo seco. 3. Verso é o nome que recebe cada linha do poema. Quantos versos aparecem no texto? O texto tem 36 versos. 4. Ritmo é a música do verso. Para que um verso tenha ritmo, usam-se sílabas fortes e sílabas fracas, com intervalos regulares. A seqüência dessas sílabas é que dá ao verso música, harmonia e beleza. Como é o ritmo do poema: ofegante, rápido, lento, solene, cadenciado? 5. O verso de sete sílabas é chamado de redondilha maior. Este é o mais popular dos versos, o mais empregado, talvez por ser aquele cujas regras de acentuação sejam as mais fáceis de seguir. Desde que a última sílaba seja acentuada (tônica), os demais acentos são livres, podem cair em qualquer posição. Daí sua presença em canções populares. A grande variação rítmica torna a redondilha maior um verso musical, flexível a adaptação e que varia em função do tipo de composição em que ele é empregado. O que isso representa nesse texto? Como se trata de uma história passada através de gerações, pode ser que o primeiro narrador dela tenha elaborado o texto dessa maneira para facilitar sua memorização e recitação em público. Quem sabe não tenha sido até mesmo cantada pelos negros em volta das fogueiras ainda na época da escravidão? 24 6. Estrofe é um conjunto de versos. Antes e depois de cada estrofe, aparece uma linha em branco, marcando a sua unidade. Conforme o tamanho da estrofe, ela recebe um nome diferente. a) Determine quantas estrofes aparecem no texto e descubra que denominação esse tipo de estrofe recebe. O texto apresenta nove estrofes de quatro versos cada uma. Esse tipo de estrofe (com 4 versos) é denominado quadra. O quarteto é uma forma erudita de quatro versos de 8 a 10 sílabas. b) Esse tipo de estrofe tem sentido complete e é freqüente no folclore popular. Cite pelo menos uma quadra. Pesquise, se necessário. “Batatinha quando nasce / esparrama pelo chão / nenezinho quando dorme / põe a mão no coração”. 7. Rima é a coincidência sonora no final de palavras diferentes. a) Na literatura popular, onde vale por um verdadeiro poema de forma fixa, a quadra é, por via de regra, constituída de heptassílabos com uma só rima, do 2º com o 4º verso. Isso se confirma nesse poema? Justifique. Em todas as estrofes somente rimam o segundo e o quarto verso, ou seja, eles rimam entre si mas se intercalando com versos brancos (que não apresentam rimas). Portanto, poderiam ser classificadas quanto `a disposição das rimas na estrofe como rimas alternadas ou intercaladas: A - B - C - B. b) Classifique as rimas como pobres (palavras da mesma classe) ou ricas (palavras de classes diferentes), de acordo com o critério gramatical. POBRES: 2ª estrofe: escravidão (subst.) – pão (subst.); 3ª estrofe: Guaraguaçu (subst.) – sul (subst.); 6ª estrofe: fechado (adj.) – amarrado (adj.); 7ª estrofe: agressão (subst.) – unção (subst.); 8ª estrofe: fechando (verbo) – secando (verbo); 9ª e última estrofe: conhecer (verbo) – ver (verbo). RICAS: 1ª estrofe: contar (verbo) – Paraná (subst.); 4ª estrofe: cruel (adj.) – léu (subst.); 5ª estrofe: capataz (subst.) – demais (adv.). c) Classifique como perfeitas (são idênticas no timbre) ou imperfeitas (um ou outro fonema diferente), pelo critério de sonoridade, as rimas do texto. PERFEITAS: 7ª estrofe: agressão (subst.) – unção (subst.); 2ª estrofe: escravidão (subst.) – pão (subst.); cruel (adj.) – léu (subst.); 6ª estrofe: fechado (adj.) – amarrado (adj.); 8ª estrofe: fechando (verbo) – secando (verbo); 9ª e última estrofe: conhecer (verbo) – ver (verbo). IMPERFEITAS: 1ª estrofe: contar (verbo) – Paraná (subst.); 3ª estrofe: Guaraguaçu (subst.) – sul (subst.); 4ª estrofe: 5ª estrofe: capataz (subst.) – demais (adv.). 8. Como são caracterizados o negro e o patrão? - negro: trabalhador, forte, mas não o suficiente para suportar o castigo; fujão (rebelde), religioso. - patrão: temido, cruel, impiedoso. 25 O Negro escravo O negro escravo vivia como um animal. Não tinha nenhum direito, e podia ser vendido, trocado, castigado, mutilado ou mesmo morto sem que ninguém ou nenhuma instituição pudesse intervir em seu favor. Alguns senhores mal davam de comer aos seus cativos. A comida era jogada ao chão, e os escravos dela se apoderavam num salto de gato, engolindo tudo sem mastigar porque não havia tempo a esperar diante dos mais espertos e vorazes. A jornada de trabalho era de 14 a 16 horas sob a fiscalização do feitor, que não admitia pausa ou distração. Quando um escravo era considerado preguiçoso ou insubordinado, aí vinham os castigos. O próprio senhor, o feitor, ou um escravo por ele designado, era o executor da sentença. Conforme a falta, havia um tipo de punição e de tortura. Os instrumentos de suplício mais usados eram o tronco e o pelourinho, onde eram aplicadas as penas de açoite. O primeiro simbolizava a justiça privada, e o segundo, a justiça pública. Ao escravo fugido encontrado em quilombo mandava-se ferrar com 9. Aparecem verbos? De estado ou de ação? Em que tempo e modo estão? O que indicam? Sim. Aparecem verbos principalmente de ação. Eles estão no modo indicativo, o que ressalta uma ação considerada na sua realidade, na certeza de sua existência no passado devido principalmente por tratar-se de um acontecimento histórico. 10.Quando se deu o ocorrido? Caracterize também a época em que o fato aconteceu. “Há muitos anos passados”, “na época da escravidão”. São evidências históricas: a especificação do negro como escravo (trabalhava duro, não tinha direitos e recebia pouca alimentação e era vítima de constantes castigos), a figura do patrão (provavelmente branco, o senhor), o capataz (braço direito do patrão, o feitor) e um dos instrumentos de tortura mais comuns daquela época (o tronco). 11.O texto representa uma cena deprimente. Dê os versos que compreendem as seguintes partes: a) a invocação(chama a atenção do ouvinte / leitor para o texto): verso 1 b) a proposição (explica o que vai fazer): verso 2 c) a narração propriamente dita (o fato): do verso 3 ao verso 32 d) o epílogo (arremate da história): última estrofe 12.O texto apresenta marcas de oralidade? A linguagem é formal, coloquial, regional...? Não. Apresenta tom coloquial, apesar do narrador parecer uma figura popular a linguagem usada não é um retrato fiel daquela que provavelmente utilizaria. 13.O termo ‘tronco’ aparece pela primeira vez no verso 15. Essa palavra tem o mesmo significado que a do verso 32? Explique. No verso 15, tronco representa a estaca à qual eram presos os escravos nos pátios das fazendas ou nas praças das cidades para que fossem castigados. No verso 32, o narrador refere-se literalmente ao caule da figueira à qual o negro havia sido amarrado. 14.Como são as frases que compõem o texto: curtas ou longas? Observe os sinais de pontuação. São muitos ou poucos? Que sinais são esses? Qual o efeito da falta de sinais de pontuação?Cada quadra representa uma frase: elas têm sentido completo. Só há um sinal de pontuação – o ponto final no último verso da última estrofe. Ele marca a pausa máxima, encerrando o texto e evidenciando o final da história. D. QUESTIONAMENTO: “Uma negrinha acenando”, de Dalton Trevisan Faz-se agora a análise comparativa entre todos os textos, através de seus temas e construção; reflexão provocada pela descoberta de seus sentidos possíveis. Há a necessidade de revisar usos, necessidades, interesses, idéias, comportamentos. Verifica-se também que conhecimentos escolares ou vivências pessoais em qualquer nível, do religioso ao político, proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto e / ou abriram-lhes caminhos para atacar os problemas encontrados. Roteiro de Análise O professor pode fazer as seguintes pontuações sobre o texto levantando questionamentos através de comparações com os textos lidos anteriormente. 26 • O texto, sempre enxuto, apanha um flagrante da vida real do mundo moderno e o ‘fotografa’ em branco e preto, já que trata de uma realidade que não admite qualquer sentimentalismo ou idealização. A voluntária pobreza de meios narrativo-descritivos possibilita a esse flash do cotidiano um neo-realismo que combina frieza, desespero existencial e dinamismo. Uma perspectiva ácida de que a realidade continua... • Usando discurso direto, o narrador reproduz a fala de um moço (motorista de caminhão) e uma prostituta (a jovem negrinha) que lhe acena da estrada pedindo carona. A negrinha não tem seu nome mencionado. Simboliza o indivíduo qualquer (no caso, milhares de jovens que procuram na prostituição um meio de garantir a sobrevivência tentando salvar um pouco de sua dignidade através de mentiras). Elas provêm majoritariamente das classes sociais que vivem à margem do consumo e da participação política. • O autor deixa entender que o homem não é tão jovem e que é motorista de caminhão. Também dá detalhes descritivos da protagonista: as roupas que usa; o fato de ser jovem, pobre, mãe- solteira; a profissão – trabalha como prostituta há um ano, mora com os pais e não tem alguns dentes na frente. Apesar da vida que leva, o narrador mostra simpatia por ela e a retrata como pura e ingênua. • É interessante observar que, apesar de informal, a linguagem utilizada pela personagem não é um retrato fiel de seu modo de falar. • Mesmo morando com os pais, a protagonista, precisa ganhar dinheiro de alguma maneira – observe que o filho tem ano e faz o mesmo tempo que ela começou a se prostituir. É o seu motivo para estar nessa vida. • Assim, seduzida e usada como objeto, sente a vida transcorrer através de mentiras. • Repare que ele nada fala quando a garota descreve sua vida como garota de programa. Isso se dá porque o objetivo do autor é a descrição da vida miserável da garota. A vida do motorista não tem importância já que prolongaria a história e distanciaria o leitor do objetivo principal. • O narrador mesmo distanciado deixa entrever um tom crítico e emotivo sobre a realidade nua e crua apresentada. • Dalton Trevisan, em geral, dá às suas histórias um desfecho aparentemente “no ar”, mas que permite ao leitor vivenciar e compreender o drama da personagem. E. ASSIMILAÇÃO: Textos variados – “A canção do africano” – Castro Alves (poema romântico); “Essa negra Fulô” – Jorge de Lima (poema modernista); “Negrinha”– Monteiro Lobato (conto pré-modernista); “Lenda da caveirinha” – (lenda paranaense); “O negrinho do pastoreio” – (lenda brasileira); “Pai contra mãe” – Machado de Assis; “EU, sentar ao lado de um negro?????” – Mensagem veiculada pela Internet em 2007 e outros... 27 Nesse momento acontece a tomada de consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura. O professor deve provocar os alunos e criar condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer. É essencial que o aluno perceba os novos sentidos proporcionados pelos textos e reflita sobre eles, adotando-os ao seu universo vivencial, se o desejar. O último texto deve extrapolar o tema, e levantar a possibilidade de novas leituras e novos trabalhos reiniciando o ciclo de leituras. F. CONEXÕES SOBRE O TEMA Para navegar Devido à natureza dinâmica da Internet, com milhares de sites sendo criados ou desativados diariamente, é possível que alguns não estejam mais disponíveis. Alerte seus alunos sobre isso. • Textos e imagens sobre a África existentes no acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – http://www.mae.usp.br/index2.htm • Zumbi e o movimento negro no Brasil. – http://www.ongba.org.br/afro/zumbi.html • Apartheid – http://www-cs- students.Stanford.edu\~cale\cs201\apartheid.hist.htm • África do Sul – http://www.africadosul-consp.org.br/historia.htm • O negro no Brasil hoje – http://www.geocities.com/CollegePark/Lab/9844 • Etnia, raça, nação – http://orion.ufrgs.br/faced/geerge/iguais.htm • Biografias, textos e imagens de vários escritores nacionais – http://www.secrel.com.br/jpoesia.html; http://pt.wikipedia.org; http://www.academiaprletras.kit.net/academicos; http://www.releituras.com Para ler e pesquisar • Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado. A amoral heroína morena e perfumada deita-se com quem lhe apraz, veste-se como quer, é alegre, e usa os dotes culinários e sexuais como armas de combate. Contra a convencionalidade dos costumes, oferece a naturalidade dos instintos; contra os grilhões do contrato social, brinda-nos com sua bondade intrínseca. Por isso, às vezes, suas atitudes parecem demasiado infantis. É um retrato da mulher por libertar-se das coerções sociais de uma moralidade semifeudal. Apesar de se enquadrar em alguns pontos do estereótipo literário da mulata: beleza, sorriso fácil, corpo bem torneado, alegria, musicalidade, dotes domésticos, sensualidade, infidelidade, a interpretação desse personagem fornece uma alegoria feminina da nação brasileira. • O cortiço, de Aluísio Azevedo. O trecho em que a mestiça Rita Baiana dança e lança sobre os homens seus meneios cheios de uma graça irresistível, primitiva, feita toda de pecado, toda paraíso, com muito de serpente e muito de mulher. É marcante como o escritor coloca o domínio da mulher ‘sub-raça’ sobre o senhor branco, capaz de torná-lo mais escravo do que o mais humilde dos escravos. O português que dela se enleva acaba por deixar a família e o emprego. Mostra também, no outro 28 extremo o português (João Romão) que quando se afasta de sua amásia (a negra Bertoleza), consegue subir ainda mais na vida. • O mulato, de Aluísio Azevedo. Narra, por outro lado, um caso de inevitável e bem sucedido processo de miscigenação com o branco – o mestiço ocupando lugares de destaque, auto-afirmando-se, triunfando pela sua inteligência e ambição. Torna-se ‘branco’, bacharel e prestigiado a ponto de se ‘esquecer sua ascendência’. • Clara dos anjos, de Lima Barreto. • A cor da Ternura, de Geni Guimarães. São Paulo: FTD, 1989. 10ª edição 1997. No seu livro infanto-juvenil, a autora (narradora-personagem) busca em si a menina que cresceu em fazendas e exterioriza suas lembranças numa prosa poética notável. Os dez capítulos do livro mostram as fases de sua vida e pode-se partilhar de suas lembranças e dos conflitos cotidianos de ser pobre e negra. Acompanhando sua trajetória até sua fase adulta, testemunhamos as suas dificuldades na construção da própria identidade étnico-racial, a descoberta
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