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Psicogênese da Língua Escrita 1 Psicogênese da língua escrita Emília Ferreiro Paula Tavares da Cunha Melo Emilia Ferreiro • Psicolinguista argentina radicada no México • Aluna de doutorado de Piaget • Continuou estudando um campo não abordado por Piaget: a escrita – Desvendou os mecanismos pelos quais as crianças aprendem a ler e escrever – Descreve como o aprendiz se apropria dos conceitos e habilidades de ler e escrever “Ler não é decifrar, escrever não é copiar.” Psicogênese da Língua Escrita 2 Questões da psicogênese da escrita � Quais as formas iniciais do conhecimento da língua? � Quais os processos de conceitualização do sujeito? � Como a criança chega a ser um leitor, no sentido das formas terminais de domínio da base alfabética da língua escrita? Psicogênese da língua escrita • As crianças têm papel ativo no aprendizado � Existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia. • Antes de entrar na escola, as crianças já têm ideias e fazem hipóteses sobre o código escrito . � o professor deve descobrir quais são elas, para poder determinar as estratégias para sua alfabetização � antigamente acreditava-se que as crianças chegavam à escola sem nenhum conhecimento sobre a leitura e a escrita • É um processo construtivo � O desenvolvimento ocorre por reconstruções de conhecimentos anteriores, dando lugar a novas construções Psicogênese da Língua Escrita 3 Períodos e Níveis (hipóteses) • A partir de 3 grandes períodos: – Saber o que é uma figura e o que não é uma figura – Quantidade mínima de caracteres e variação deles – Fonetização da escrita • O aprendiz formula hipóteses sobre o código percorrendo 4 níveis, ou hipóteses: – Pré-silábica – Silábica – Silábica-alfabética – Alfabética Hipótese pré-silábica: 1º momento • Características (aquilo que já sabe): - Escrever e desenhar têm o mesmo significado; - Não relaciona a escrita com a fala; - Acredita que coisas grandes têm um nome grande e coisas pequenas têm um nome pequeno (realismo nominal); Psicogênese da Língua Escrita 4 Hipóteses pré-silábica: 1º momento (cont.) • supõe que para algo poder ser lido precisa ter no mínimo de duas a quatro grafias, geralmente três ( hipóteses da quantidade mínima de caracteres) • supõe que para algo poder ser lido precisa ter grafias variadas (hipótese da variedade de caracteres) • Conflitos vividos pela criança nesta etapa: – Que sinais eu uso para escrever palavras? – Conhecer o significado dos sinais escritos. • O que precisa saber: – Diferenciar o desenho da escrita – Reconhecer que usamos letras para escrever – Identificar e escrever o próprio nome – Perceber que usamos letras diferentes em diferentes posições. Hipótese pré-silábica: 2º momento • Características: (aquilo que já sabe): – Para escrever, a criança utiliza letras aleatórias (geralmente presentes em seu próprio nome) e sem quantidade definida Cavalo é um animal grande e formiga é pequena – Não atribui valor sonoro à letra – Pode usar muitas letras para escrever e ao ler, aponta uma letra para cada fonema, ainda que sobrem letras. Psicogênese da Língua Escrita 5 Hipóteses pré-silábica: 2º momento (cont.) • Conflitos vividos pela criança nesta etapa: – A escrita está vinculada à pronúncia das partes da palavra? – Como ajustar a escrita à fala? – Qual a quantidade mínima de letras necessárias para escrever? • O que precisa saber: – Atribuir valor sonoro às letras – Aceitar que não é preciso muitas letras para se escrever, apenas o necessário para representar a fala. – Perceber que palavras diferentes são escritas com letras em ordens diferentes, que costumam não se repetir. Hipótese pré-silábica: 2º momento Psicogênese da Língua Escrita 6 Hipótese silábica: sem valor sonoro • A criança já supõe que a escrita representa a fala • representa cada sílaba por uma única letra qualquer, sem relação com os sons que ela representa. • Uma letra para cada sílaba (para cada vez que abre a boca - sílaba). Em frases, uma letra para cada palavra Ex.: GATO poderia ser escrito como EF Hipóteses silábica: com valor sonoro • cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante que expressa o seu som correspondente. • Exemplo: PATO poderia ser escrito como AO (vogais) Psicogênese da Língua Escrita 7 Hipóteses silábica: com valor sonoro • Conflitos vividos pela criança nesta etapa: - A escrita está vincula à pronúncia das partes da palavra? - Como ajustar a escrita à fala? - Qual a quantidade mínima de letras necessárias para se escrever? • O que precisa saber: - Atribuir valor sonoro a todas as letras. - Aceitar que não é preciso muitas letras para se escrever, apenas o necessário para representar a fala. - Perceber que palavras diferentes são escritas com letras em ordens diferentes, que costumam não se repetir. Hipóteses silábica-alfabética • Características: – Inicia a superação da hipótese silábica (a sílaba não é a unidade) – Compreende que a escrita representa o som da fala – Passa a fazer uma leitura termo a termo (não global) – Consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons. – Percebe a necessidade de mais de uma letra para a maioria das sílabas; – Reconhece o som das letras; – Atribui o valor do fonema em algumas letras: cabelo = KBLO Psicogênese da Língua Escrita 8 Hipótese silábica-alfabética • período de transição no qual a criança trabalha simultaneamente com duas hipóteses: a silábica e a alfabética. • ora ela escreve atribuindo a cada sílaba uma letra, ora representando as unidades sonoras menores, os fonemas. – SAPTO Hipótese silábica-alfabética (cont.) • Conflitos vividos pela criança nesta etapa: – Como fazer a escrita dela ser lida por outras pessoas? – Como separar as palavras na escrita, se isto não acontece na fala? – Como adequar a escrita à quantidade mínima de caracteres? • O que precisa saber: – Usar mais de uma letra para representar o fonema, quando necessário – Atribuir valor sonoro às letras Psicogênese da Língua Escrita 9 Hipótese silábica-alfabética (cont.) Eu comi carne assada Hipótese alfabética • Características: – Compreende a função social da escrita: comunicação – Conhece o valor sonoro de todas, ou quase todas, as letras – Apresenta estabilidade na escrita das palavras – Compreende que cada letra corresponde aos menores valores sonoros da sílaba – Procura adequar a escrita à fala – Separa as palavras quando escreve frases – Produz textos de forma convencional Psicogênese da Língua Escrita 10 Hipótese alfabética (cont.) • Conflitos vividos pela criança nesta etapa: – Por que escrevemos de uma forma e falamos de outra? – Como distinguir letras, sílabas e frases? – Como aprender as convenções da língua escrita? • O que precisa saber? – Questões ortográficas e textuais • Parágrafo e pontuação – Usa letra cursiva Hipótese Alfabética • a criança já consegue reproduzir adequadamente todos os fonemas de uma palavra, caracterizando a escrita convencional que todos nós empregamos. • Novos problemas: – Lado quantitativo: uma sílaba pode ter várias letras • a – pa – pre – plan – ta – Lado qualitativo: problemas ortográticos • A identidade do som não garante a identidade das letras: xadrez - chá • A identidade das letras não corresponde à identidade do som:casa - sapo • Com a prática, estes problemas vão sendo superados. Psicogênese da Língua Escrita 11 Características dos 4 níveis Pré-silábica Silábica Silábica-Alfabética Alfabética Escrever e desenhar têm o mesmo significado Já supõe que a escrita representa a fala Inicia a superação da hipótese silábica Compreende o uso social da escrita: comunicação Não relaciona a escrita com a fala Para cada fonema usa uma letra para representá-lo Compreende que a escrita representa os sons da fala Conhece o valor sonoro de todas, ou quase todas, as letras Caracteriza uma palavra com a letra inicial Não diferencia letras de números Pode, ou não, atribuir valor sonoro à letra Percebe a necessidade de mais de uma letra para a maioria das sílabas Apresenta estabilidade na escrita das palavras Supõe que a palavra representa o objeto e não seu nome Ao escrever frases, pode usar uma letra para cada palavra. Procura adequar a escrita à fala Acredita que coisas grandes tem um nome grande e coisas pequenas tem um nome pequeno Atribui os valores do fonema em algumas letras (KVALO) Compreende que cada letra corresponde aos menores valores sonoras da sílaba Usa letras do próprio nome para escrever tudo Preocupação com as questões ortográficas Não aceita que seja possível ler e escrever com menos de 3 letras Separa palavras quando escreve frases
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