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Desafios para a formação em enfermagem na sociedade contemporânea

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SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, 
CONHECIMENTO EM SAÚDE E EM ENFERMAGEM: 
DESAFIOS PARA A FORMACAO PROFISSIONAL 
 
 
RAQUEL APARECIDA MARRA DA MADEIRA FREITAS * 
 
 
Resumo: abordam-se algumas características da sociedade contemporanea e as 
exigências que delas decorrem para a formacao inicial e prática da enfermagem. As 
mudancas societárias e do conhecimento ocasionam e, tambêm, impoem mudancas 
epistemológicas que sinalizam a necessidade de se construir outra profissionalidade em 
enfermegem Tais exigências e possibilidades impoem desafios para a formacao inicial nesse 
inicio de sêculo. 
 
Palavras-chave: sociedade contemporânea e enfermagem; conhecimento em 
enfermagem; epistemologia e enfermagem; educacao em enfermagem; formacao inicial em 
enfermagem. 
 
 
No tempo presente, a humanidade tem vivenciado as consequências das profundas 
transformacoes em todas as esferas da sociedade. O capitalismo rapidamente se mundializa, 
globaliza e universaliza. A chamada mundializacao se faz acompanhar de uma forte 
tendencia de desterritorializacao que repercute em todos os níveis da vida social. Nesse 
processo, o pensamento filosófico, o científico, o artístico e o cultural adquirem outras 
formas e significados. Verifica-se que outras perspectivas sociais, econo micas, políticas e 
culturais se impoem e o Estado que, durante grande parte do sêculo passado, existiu como 
aparato protetor das economias nacionais para garantir niveis adequados de emprego e bem-
estar, nas últimas dêcadas passou a adaptar suas prioridades ás exigências da economia 
mundial, tomando-se sua correia de transmissáo ás economias nacionais. Como 
consequência, tambêm as desigualdades sociais, económicas, políticas e culturais assumem 
cada vez mais uma dimensao mundial (IANNI, 1997a, 1997b, 1998). 
Outro fator importante que interfere na rapidez das mudancas contemporâneas ê a eficácia 
das telecomumcacoes, da informática e dos meios de comumcacao em geral, particularmente 
da rede mundial de computadores, que contribuem para encurtar distáncias. Como afirma 
Ianni (1998, p. 89), "aos poncos, ou de repente, o mundo se toma grande e pequeno, 
homogêneo e plural, articulado e multiplicado". 
Impóem-se de modo crescente as transformacoes paradigmáticas do conhecimento, cujos 
desdobramentos sao bastante significativos. No plano da producao de conhecimentos, a razao 
e as formas de conhecimento herdadas do Ilummismo deparam-se coma imperiosa tarefa de 
reavaliar suas possibilidades de alcance do real e reconhecer a parcialidade das categorlas 
lógicas, teóricas e metodológicas. Em todas as áreas toma-se visível a necessidade de lancar 
mao de outros saberes ou outras dimensóes do saber que, de alguma maneira, atê entao foram 
desconsiderados. Na crítica á modemidade verificam-se dois polos principais. Por um lado há 
aqueles que afirmam o esgotamento completo da razáo como forma de conhecimento, o que 
configuraria a superacao da modemidade e de seus pressupostos essenciais. Entretanto, há os 
que ainda crêem nas possibilidade da razáo, acreditando que a modemidade ainda náo 
 
* Doutoranda em Educacao. Mestre cm Educacao. Professora no curso de Enfermagem da Universidade católica de Goiás. 
 
acabou, mas apenas se expressa sob outras formas, pois 
 
ê a razao crítica que toma possivel pensar tudo isso: modemidade e pós-modemidade, passado e 
presente, continuidade e descontinuidade, realidade e simulacro, explicacao e compreensao, 
micro, macro e meta. Permite pensar que a formacao da sociedade global nao abre novas 
perspectivas para o desenvolvimento do contraponto singular, particular e universal, como abre 
novas possibilidades de realizacao da história e da razao (TANNI, 1998, p. 181-2). 
 
Em virtude dessas transformacoes, estao emergindo outras maneiras de se pensar e fazer a 
educacao e, consequentemente, a educacao profissional. O contexto contemporáneo impóe 
novas exigencias de uma outra profissionalidade 1, o que gera desafios para a educacao 
profissionalizante. A educacao em enfermagem tambêm está exposta a tais desafios. 
O processo de cuidar do homem, em estado de saúde ou nao, representa o ceme do corpo 
teórico fundamentador da práxis da enfermagem. O cuidar comporta em sua estrutura o saber 
de enfermagem corporificado no nivel têcnico (instrumentos e condutas) e em relacoes 
sociais específicas, visando o atendimento de necessidades humanas. A educacao em 
enfermagem prepara e legitima sujeitos para este trabalho, por meio do aparato êtico-
filosófico e dos saberes específicos de enfermagem (ALMEIDA; ROCHA, 1986). Saberes 
que, assim como aqueles das demais áreas de conhecimento, tambêm estao expostos ás 
criticas e rupturas provocadas pelos paradigmas contemporáneos emergentes. Verifica-se a 
presenca de temas que atê bem pouco tempo nao recebiam muita atencao por parte da 
enfermagem e que tendem agora a apontar na direcáo de uma nova profissionalidade. Ao 
mesmo tempo, ocorre tambêm a tendencia de reconstrucao das competencias e atitudes 
profissionais neces sartas á enfermagem, pela imposicao de exigências oriundas da 
reorgamzacao dos servicos e das empresas de saúde, assim como da política de saúde no 
contexto da globalizacao. 
Nesse processo de desconstrucao/reconstrucao, o conhecimento em enfermagem vem 
sofrendo alteracêes motivadas pela consideracao de outras dimensóes em sen campo de 
saber, incluindo os modos de se compreender, analisar e lidar com o cuidado do ser humano, 
com a vida, com a saúde, com a doenca e morte, e tambêm com a definicao do papel e do 
compromisso dó profissional de enfermagem diante do ser humano em sociedade. Percebe-se 
a preocupacao com a crítica do conhecimento em enfermagem a fim de apontar suas 
insuficiências para responder aos problemas relativos ao meio ambiente, a cultura, á 
existência humana, ao corpo, ao gênero e ás relacoes de poder, entre outros. Tais temas vêm 
adquirindo releváncia no saber de enfermagem, originando novas possibilidades de 
compreensáo e análise do processo de cuidar que nao podem pas sar despercebidas por parte 
daqueles que se responsabilizam pela educacao em enfermagem. Nao ê o objetivo deste texto 
discutir todos estes temas e suas particularidades, mas tomar deles aspectos que merecem 
uma reflexao, em virtude dos desafios que geram para a educacao em enfermagem, sobretudo 
no que se refere aos conhecimentos que sustentam o sen interior e sao sustentados por ele. 
 
MUDANCAS NO SETOR DA SAÚDE E NOVAS EXIGÊNCIAS PARA A 
ENFERMAGEM 
 
As mudancas societais ocortidas recentemente apresentam alguns aspectos fundamentais 
que repercutem diretamente no campo da saúde e da enfermagem. A maior diversidade 
cultural, de rehgioes e etnias, paralelamente ao aumento da intoleráncia e ao culto da 
identidade e da diferenca, impoe a necessidade de redefinir as prioridades de atencao á saúde, 
particularmente aos marginalizados, pois, neste cenário, afirma Meleis (1998), o 
conhecimento de enfermagem tem sido mais marginalizante do que inclusivo. Nessa mesma 
direcao, diz Maddox (1998) que as reformas ocorridas no setor de saúde, em virtude dos 
impactos da nova configuracao global da sociedade, apresentam desdobramentos que se 
expressam como uma tendência mundial, oriundos dos seguintes avancos têcnico-científicos: 
 
• Mapeamento do genoma humano e dos marcadores genêticos. 
• A narcotecnologia, incluindo a definicao das tarefas específicas das cêlulas. 
• A farmacologia, com a elaboracao de novos fármacos feitos sob encomenda para 
receptores previamente determinados. 
• O reconhecimento da educacao de mulheres como o mais efetivo mêtodo de elevacáo 
do nivel de saúde das populacoes. 
• A informática e todos os seus desdobramentos no conhecimento e no trabalho em 
saúde. 
• A constituicao de bancos de dados macicos sobre populacoes. 
• A reorganizacaoda saúde pública sob o enfoque da comunidade e da familia. 
• A tendencia de reducao do número de casos submetidos á hospitalizacoes e ao mesmo 
tempo a elevacao da complexidade dos casos hospitalizados. 
• A proliferacao do cuidado gerenciado (maneged care). 
• A proliferacao do cuidado domiciliar, com maior valorizacao da enfermeira e do 
mêdico generalistas, simultaneamente á reducao dos especialistas. 
• A vulnerabilidade e a reducao do setor público, com o consequente fortalecimento do 
setor privado e a caracterizacao dos pacientes como compradores de servicos de saúde. 
• A exportacao e importacao de assistencia, servicos e produtos de saúde. 
• A consolidacao da assistencia á distáncia, com equipes monitorizadas por profissionais 
altamente especializados, que guiam os procedimentos mediante modemos equipamentos 
e recursos informatizados. 
 
No Brasil, a globalizacao económica e o Estado minimo, afetam diretamente as políticas 
sociais, configurando uma situacao de descaso e abandono para com setores básicos como a 
educacao e a saúde, entre outros. Esse fenómeno político-económico tem gerado 
consequencias gravíssimas para a maior parte da populacao representada pela parcela mais 
pauperizada, submetida a condicoes subumanas de sobrevivência. No que se refere á situacao 
de saúde, estas consequências manifestam-se de modo cruel. 
As mudancas no processo produtivo, a crescente exigência de novas qualificacoes para o 
trabalho e tambêm a recessao e a extincao de milhares de postos de emprego ocasionam a 
elevacao continua do desemprego. Os que ainda conseguem permanecer empregados têm seu 
poder aquisitivo diminuido pela constante instabilidade do mercado de capitais e do valor 
cambial da moeda nacional. Como a relacao entre desemprego, poder aquisitivo e qualidade 
de vida e saúde ê inversamente proporcional, os problemas de saúde tendem a crescer e a se 
agravar, fazendo com que se eleye a procura pelos servicos de saúde. Tais modificacoes têm 
contribuido para agravar o descontrole sobre os indices e taxas de mortalidade e morbidade. 
Essa situacao se toma mais grave a medida que os modelos de assistência a saúde passam a 
nao mais buscar necessariamente a eficácia e a resolufividade dos problemas, mas apenas 
garantir a cobertura e o acesso (este tambêm muito restrito) aos servicos, abrindo grandes 
lacunas quantitativas e qualitativas na assistencia pública á saúde. 
O predominio da racionalizacao dos gastos públicos em saúde e a grande reducao e/ou 
eliminacao dos servicos oferecidos impelem a populacao a, sem outra altemativa, buscar o 
atendimento de suas necessidades nos servicos privados. Isso faculta uma grande abertura de 
espaco ao setor privado, permitindo o fortalecimento do modelo privatista e a tirania do 
capital sobre as questóes de saúde e doenca dos cidadaos. O crescimento dos seguros-saúde 
privados, dos planos de saúde, das cooperativas e de outras modalidades inclui uma 
diversificacao e estrafificacao de niveis de cobertura desde servicos básicos atê aqueles 
considerados como "sofisticados, complexos, de ponta". Nesse quadro, o Brasil representa 
um dos mais importantes mercados do mundo, e se abre cada vez mais ás empresas 
estrangeiras prestadoras de servicos de saúde, e a cada dia cresce o número de brasileiros que 
passam a comprar servicos de saúde importados. 
Os poucos servicos alnda oferecidos no ámbito govemamental pelo Sistema Único de 
Saúde (SUS) expressam na sua organizacao a nova estratêgia para o setor, denominada de 
descentralizacao. Tal estratêgia, ainda que represente um avanco do ponto de vista da 
democratizacao do uso dos recursos e da participacao da populacao nas decisóes do setor, 
tambêm apresenta aspectos deletêrios. Com a descentralizacao do sistema e das políticas 
nacionais de saúde, o que ê nacional se dilui cada vez mais, ficando a responsabilidade pela 
saúde cada vez mais deslocada para as instáncias menores, regionais e locais. A principal 
estratêgia de descentralizacáo ê a transferencia da responsabilidade pela saúde para os 
municipios (municipalizacáo). 
Sobre esta problemática, Machado (1998) diz que um dos aspectos positivos da 
descentralizacao ê que grupos da populacao organizam-se social e politicamente, objetivando 
influenciar na estruturacao de servicos de saúde para tomá-los compativeis com as 
características e necessidades da populacao local, tanto do ponto de vista das modalidades de 
servicos disponiveis como de sua compatibilizacao com a realidade loco-regional, 
reconhecendo a cultura, a religiáo, os hábitos e outros, que interferem no processo 
saúde/doenca. Isto possibilita extrapolar os parámetros apenas epidemiológicos da populacao. 
Entretanto, ê notório que os pontos negativos tendem a superar de longe os positivos, pois, 
em nosso país, as desigualdades regionais náo se restringem aos aspectos culturais, mas 
decorrem sobretudo dos fatores ligados ao desenvolvimento económico e político. Pode ser 
citado como um dos pontos negativos a incorporacáo á equipe de saúde de pessoas sem 
nenhuma formacao para o trabalho na área de saúde, que se submetem a uma remuneracao 
insignificante. Esta incorporacao ê prevista atê em alguns programas govemamentais, como ê 
o caso dos Programas Agente Comunitário de Saúde (PACS) e Saúde da Familia (PSF), 
ambos com o enfoque comunitário, da desospitalizacao da saúde, da valorizacao de 
enfermeiros e mêdicos generalistas e tambêm da participacáo de pessoas das comunidades, 
geralmente leigas, na implementacáo dos programas de saúde. Se, por um lado, busca-se 
valorizar a promocao e prevencao, por outro, há uma tendência de valorizar tambêm acóes 
desprofissionalizadas, o que pode significar perda da qualidade dos servicos, apesar do 
aumento da cobertura. 
Por outro lado, uma aparente melhoria se manifesta com a informatizacao, que tambêm 
tem modificado o trabalho na área de saúde. Segundo Coco (1997), no setor público tem 
ocortido uma tendência á informatizacao dos servicos de apoio, ampliacao do número de 
especialidades e intensificacao do trabalho para os enfermeiros. De modo geral, verifica-se a 
terceirizacáo, a expansáo da tecnologia, a tendência á especializacao e a informatizacao dos 
servicos que, lamentavelmente, têm dificultado a consolidacáo de carreiras, propiciando a 
utilizacao de mao-de-obra precária e a absorcao de pessoas insuficientemente capacitadas. Já 
no setor privado, o novo modo de vendas de cuidados de saúde impóe uma competitividade 
acirrada, que ê a chave para a sobrevivência empresarial. Antes a competitividade baseava-se 
no preco e no valor, prevalecendo o melhor produto ao menor custo. Agora toma-se muito 
mais importante para as empresas de saúde desenvolver a capacidade de melhorar 
continuamente, alêm de continuar oferecendo servicos financeiramente competitivos. 
No ceme da melhoria continua está a aprendizagem continua. Como grupo mais numeroso 
de trabalhadores de cuidados de saúde, os trabalhadores de enfermagem sao os que mais 
oneram o orcamento de uma empresa de saúde. A enfermeira toma-se a chave para a 
compecao baseada nas estratêgias de reducao de custos em cada servico de enfermagem, por 
meio do ajuste da relacao horas de trabalho/paciente. Alêm disso, as empresas de saúde vêm 
colocando para as enfermeiras o desafio de melhorar o denominado "capital intelectual 
individual e coletivo". Em outras palavras, melhorar seu poder de aprendizagem para 
melhorar o desempenho das estratêgias de organizacáo empresarial e, consequentemente, as 
possibilidades de menos gastos e mais lucros (DONALDSÓN, 1998). 
Este vem sendo considerado um recurso estratêgico vital no setor privado da saúde e 
requer enfermeiras que, em todos os papêis e funcoes, sejam capazes de explorar de modo 
proveitoso todos os recursos para a melhoria constante de seu desempenho clínico, que 
busquem continuamente a literatura, quecriem solucoes baseadas no conhecimento para os 
problemas diários, que sejam capazes de avahar as implicacóes dos novos conhecimentos 
para sua prática e que tenham um foco de interesse voltado para cada nova tecnologia e 
informacao. Este tipo de profissionalidade êrevelador dos tracos do paradigma neotecnicista. 
Numa perspectiva mais crítica, Zalon (1998) entende que as escolas de profissionais de 
saúde necessitam desenvolver em seus estudantes o raciocinio científico e as habilidades de 
aprendizagem autodirigida. A preparacao para os desafios da profissao de enfermagem 
deveria incluir, alêm dos aspectos têcnicos, o desenvolvimento de habilidades analfticas, 
como o raciocinio, para formular solucoes de problemas complexos. Segundo esta autora, o 
pensamento crítico ê um componente essencial da enfermagem, e a atuacao social e política 
pode ser utilizada para melhorar o pensamento crítico de enfermeiras. Lembrando-se que, 
desde 1973, o Conselho Intemacional de Enfermeiras estabeleceu como uma das habilidades 
essenciais ao profissional de enfermagem a capacidade de identificar as necessidades sociais 
e de saúde das pessoas com as quais trabalha, a autora diz que as mudancas no cuidado de 
saúde têm conseguido que a acáo politica seja uma habilidade necessária ás enfermeiras. Para 
ela, a socializacao política do estudante de enfermagem deveria ser introduzida precocemente 
no currículo. A acao política exige uma análise críúca dos resultados e do desenvolvimento 
de estratêgias para alcancar objetivos específicos. E um meio de propiciar aos estudantes 
tomarem ciência da realidade político-social e desenvolverem sua capacidade de negociacao 
política. 
Zalon (1998) postula que o centro deste modelo de pensamento crítico ê a premissa de que 
o desenvolvimento de um dominio isolado náo ê adequado para o funcionamento da 
sociedade comtemporánea. O enfermeiro deve estar preparado náo só para analisar os 
resultados, mas para articular posicóes e desenvolver estratêgias de alcance de objetivos 
específicos. As competências a serem desenvolvidas segundo esta perspectiva sáo: 
 
• Habilidades de pensamento critico - incluem raciocinio e avaliacao; saber ouvir, falar, 
ler e escrever de forma analítica e crítica. 
• Dimensoes afetivas do pensamento crítico - envolvem a abertura para outras visóes de 
mundo e a compreensao de suas perspectivas. Inclui o pensamento independente; o 
desenvolvimento da introspeccao e a confianca no raciocinio; a exploracao do 
pensamento; a sensibilidade; a humildade intelêctual; a coragem, a fê, a integridade e a 
perseveranca. 
• Padrao intelectual - esta ê uma competência fundamental ao alcance de resultados nas 
demais. A capacitacáo do estudante para dominar padróes intelectuais inclui a habilidade 
para reconhecer clareza, exatidao, releváncia e consistência de proposicoes, pensamentos e 
atitudes, enfim, saber calcular e distinguir o bom do mau raciocinio. 
 
O SABER EM SAÚDE E EM ENFERMAGEM 
 
Nas ciências da saúde, o avanco do conhecimento pode ser observado predominantemente 
com o dominio de novas tecnologias, com alto grau de complexidade e resolutividade antes 
nunca imaginadas, possibilitando a cura e o controle de diversas doencas. Por outro lado, 
embora náo de forma hegemónica, crescem continuamente a investigacao científica e o 
esforco de implementacao das chamadas práticas altemativas de saúde, em busca de solucoes 
simples, de baixo custo, que pretendem afastar-se do modelo biomêdico e tecnológico 
vigente e valorizar elementos como cultura, valores, saberes populares, crencas e diversas 
outras formas atê entáo desprezadas ao se lidar com as questóes de saúde e doenca. 
Ê visível a presenca, entre muitos profissionais, da tendência de nao mais negar 
completamente os saberes, as crencas populares e as visóes de mundo que cada individuo 
carrega, de acordo com sua cultura, gênero, etnia, idade, classe social e outros elementos que 
tendem a influenciar o modo pelo qual as pessoas cuidam, ou deixam de cuidar de sua saúde. 
Tradicionalmente, no campo dos conhecimentos biológicos e das ciências da saúde, mesmo 
na enfermagem, o modelo newtoniano-cartesiano sempre foi (e ainda ê) hegemónico. A base 
conceitual dominante ê mecanicista, compreendendo os organismos vivos como máquinas 
compostas de partes bem definidas e passíveis de separacao e análise. 
Sob este paradigma conformou-se um modelo predominante de assistência e investigacao 
do ser humano que concebe a vida, a saúde, a doenca e a morte, pelo mêtodo cartesiano, 
valorizando particularmente o isolamento e a cías sificacao de seus constituintes 
fundamentais, a linearidade, a causalidade, o determinismo e a neutralidade científica. Ao 
mesmo tempo, mantêm o afastamento dos aspectos sociais, culturais, afetivos, emocionais e 
todos os que forem considerados nao-objetivos e nao-racionais diante de seus fundamentos e 
mêtodos. Esse paradigma contribui para tomar a abordagem do ser humano restrita ao corpo 
como sede dos fenómenos de saúde e doenca, do ponto de vista da anatomia, da fisiologia, da 
microbiologia, da genêtica e das inúmeras subespecialidades que se desenvolveram com base 
nelas, todas fundamentadas numa abordagem fragmentada e parcial do processo 
saúde/doenca. 
Este paradigma ê conhecido como biomêdico (ou ainda biológico, biologicista, 
biologizante), em virtude da centralidade no conhecimento biológico e na figura do 
profissional mêdico, com as acóes dos demais profissionais estruturadas e organizadas em 
tomo do ato mêdico como fundamental. A enfermagem tem tanto a sua prática como suas 
teorizacoes sobre o cuidar, historicamente atreladas a este modelo. 
No entanto, diversos pensadores, pesquisadores e profissionais do campo da saúde têm se 
empenhado em criticar e desconstruir o modelo biomêdico. Sem desconsiderar os inegáveis 
avancos que este modelo propiciou, com a tecnologia, para a prevencao, a cura e o controle 
de inúmeras doencas, compreendem que ele náo tem alcancado respostas para tantos 
problemas que crescem rapidamente, impulsionados pelas transformacoes nos processos 
produtivos e das condicoes de vida do ser humano. Assim, várias sao as iniciativas que se 
identificam com a desconstrucáo deste modelo ou, no mínimo, com a quebra de sua 
hegemonia no campo da saúde. 
Atê recentemente, as expressoes mais fortes de enfrenta-mento do modelo biomêdico 
eram advindas de elaboracóes teóricas e metodológicas fundamentadas especialmente no 
materialismo dialêtico. A partir dos anos 1990, somam-se a estas outras perspectivas que, de 
um modo geral, pressupoem a retomada da unidade entre corpo, mente, meio ambiente, 
sociedade, cultura, valores etc., fundamentadas em outros referenciais e náo apenas no 
positivismo. Na enfermagem, identificam-se iniciativas que procuram subsidiar inovacoes na 
prática do processo de cuidar/ assistir, com base em perspectivas como a cultura, o holismo, a 
ecologia, a dimensao existencial, a corporeidade, o gênero e o poder, entre outras. Mas ê 
preciso analisar quais as contribuicoes efetivas que tais proposicoes sáo capazes de oferecer. 
 
 
 
CULTURA 
 
Em meados da dêcada de 1950, Leininger, enfermeira norteamericana, iniciou estudos 
acerca da importáncia da consideracao da cultura como uma perspectiva essencial aos 
cuidados de saúde. Para ela, a enfermagem antecipou-se aos demais profissionals de saúde, 
introduzindo o debate e a implementacao de cuidados específicos para pessoas de diferentes 
nacionalidades, culturas e subculturas, objetivando oferecer um cuidado capaz de respeitar as 
diferencas provenientes de cada cultura ou subcultura. Essa vertente, denominada de 
enfermagem transcultural, ê definida como uma área de estudos que visa alimentar a prática 
da enfermagem, tendo como foco o cuidado cultural e considerando crencas, valores e modos 
de vida das pessoas, a fim de ajudar a manterelou recuperar sua saúde, ou para enfrentar a 
morte em seus diversos significados. Centra-se essencialmente na com-preensao da cultura e 
em seu interior, nas necessidades específicas de cuidado, buscando priorizar um cuidado 
adaptado aos modos de vida. A perspectiva da enfermagem transcultural opóe-se ápretensáo 
dos enfermeiros e demais profissionais de saúde de considerarem que seu saber ê o que 
melhor explica as decisóes a serem tomadas acerca da saúde das pessoas, a despeito de sua 
cultura e seus valores, crencas, religioes, etnias etc. 
Leininger (1999) acredita que, sendo o contingente mais numeroso da equipe de saúde, os 
profissionais de enfermagem podem, com base em conhecimentos e competências trans-
culturais, promover uma diferenca significativa na provisáo de cuidados, tomando-os 
culturalmente congruentes e benêficos para os clientes, nas diversas $ituacñes de saúde, 
doenca, incapacidade ou morte. Considera que os seres humanos nascem, vivem, trabalham e 
morrem em contextos carregados de cultura, portanto, ela ê um fator importante a ser 
incluido no cuidado á saúde. 
A enfermagem transcultural parte da premissa de que, no processo de recomposicao do 
capitalismo, com a mundializacao, transnacionalizacao e globalizacao da economia, tem 
ocorrido um grande aumento de imigrantes, viajantes, turistas e trabalhadores estrangeiros 
em todos os lugares do mundo. Ao mesmo tempo cresce a cada dia, no campo da saúde, a 
constatacao da necessidade de abordar as questóes de saúde, doenca e morte de um ponto de 
vista mais holístico. Em razao disso, as enfermeiras devem conhecer modos de 'cuidar para' e 
'cuidar com' as diferencas culturais, ultrapassando os limites do simples tratamento dos 
sintomas emocionais e físicos das doencas de seus clientes, expandindo sua visao sobre a 
natureza e os objetivos do processo de cuidar de seres humanos. Para Leininger (1999), a 
negligência do profissional com relacao aos fatores culturais pode impedir o alcance dos 
objetivos de cuidado e recuperacao da saúde das pessoas, e atê mesmo de um apojo adequado 
ás situacoes de morte. As acoes de cuidar devem fundamentar-se nas crencas e nos valores 
dos clientes, pois estes influenciam seus modos de cuidar da própria saúde e de realizar o 
enfrentamento da doenca e da morte. 
Todavia, Maddox (1998) alerta para o fato de que náo ê a cultura que conforma as 
desigualdades e a marginalizacáo social na assistência á saúde. Embora a consideracáo da 
cultura possa enriquecer a prática de cuidar do processo saúdeldoenca, faz-se necessário 
admitir suas limitacoes para desenvolver a percepcao histórica do processo de marginalizacáo 
e exclusáo do acesso ásaúde, identificar e tomar visíveis os grupos marginalizados e refletir 
sobre os fenómenos que repercutem na nossa ciência, objetivando atender ás necessidades 
dos que permanecem excluidos. 
 
 
 
 
 
HOLISMO 
 
A partir do sêculo XX, diversas áreas do saber têm buscado formular sobre a saúde um 
conceito que permita vislumbrá-la sobretudo como uma prática cotidiana de vida. Essa 
concepcao se faz presente atê nas propostas oficiais da Organizacao Mundial de Saúde, 
considerando o estado de inter-relacionamento dinámico da saúde com os demais aspectos da 
vida humana. Esse conceito identifica-se tambêm como holismo, apontando para a 
necessidade de superar a fragmentacao e o reducionismo e buscar uma compreensao mais 
ampla do homem e da natureza (VWELA, 1996). 
As funcoes dos seres vivos e o mundo constituem-se de cuidados orgánicos e nao de 
meros compostos de cêlulas independentes ou orgáos que existem de modo desarticulado. 
Pelo contrário, compóem um sistema individualizado na totalidade de um conjunto. Segundo 
essa tese fundamental do holismo, mente e corpo resultam de uma longa evolucao da 
sabedoria da natureza, sendo um dos mecanismos dessa evolucao constituido pelo 
mecanismo de autocura. Segundo esse referencial, o conceito de saúde assenta-seno principio 
central de que o individuo tambêm ê responsável por sua própria saúde. Assim, um dos 
aspectos valorizados no processo saúde/doenca ê o uso de recursos naturais e menos 
invasivos ao corpo humano (KOLLER; MACHADO, 1992). 
O holismo tem sido objeto de debate sob o argumento de que existe uma interacao 
fundamental entre matêria, meio ambiente e pessoas. Nessa interacao ocorrem trocas 
dinámicas por meio de complexos processos estabelecidos no dominio dos átomos, cêlulas, 
seres humanos e galáxias. O paradigma holistico em saúde visa desenvolver conceitos 
integrativos e relacionais na investigacao e na abordagem do cuidado á saúde. Esses 
conceitos permitiriam a compreensao de que nao há uma única possibilidade de abordagem 
dos fenómenos ligados á vida. Pelo contrário, há uma grande diversificacao de abordagens, 
todas elas igualmente fêrteis e necessarias á apreensao das várias dimensóes dos fenómenos 
ligados á vida humana, entre eles os processos de saúde/doenca. 
O holismo como fundamento para a concepcao de homem e de cuidado á saúde tem estado 
presente nas reflexoes teóricas da enfermagem, expressando-se sobretudo por meio da 
preocupacáo com a integralidade do ser humano e do seu cuidado. No Brasil, a enfermeira 
Wanda de Aguiar Horta elaborou uma teoria de cuidados de enfermagem fundamentada no 
holismo, objetivando constituir um referencial para uma prática capaz de atender o ser 
humano em sua integralidade biopsicossocial e espiritual (HORTA; CASTELLANOS, 1979). 
Embora náo se verifique na prática da enfermagem a ocorrência efetiva de grandes 
avancos nessa direcao, nas últimas dêcadas o debate teórico em tomo do holismo tem se 
fortalecido, com os questionamentos lancados acerca da legitimidade do conhecimento 
fundamentado no modelo biomêdico (newtonianismo-cartesianismo) como o único válido 
para a análise da san de/doenca. A adocao do holismo vem sendo defendida como uma 
possibilidade de ruptura com a hegemonia do modelo biomêdico, que separou radicalmente 
as dimensóes do ser humano, compartimentando-as e centrando-se somente naquilo que era 
considerado como pertencente á dimensao biológica. Na enfermagem, o holismo nao se 
configura num único modelo, mas expressa-se em diversas iniciativas e propostas que se 
esforcam para atingir a integralidade do cuidar/assistir o ser humano. 
Nessa perspectiva, M. da G. Silva (1997) propñe a construcao de um saber configurado 
como movimento dinámico e criativo, expresso substancialmente no diálogo entre razáo e 
intuicáo, entre objetivo e subjetivo, tendo como aspecto norteador as crencas e os valores, 
advindos da expenencia pessoal-profissional, vivida no plano individual e grupal. Essa 
proposta a autora a denomina de Cuidado Transdimensional, pois, segundo ela, constitui uma 
perspectiva de integracao e de transdimensionalidade do ser humano e do meio, 
ultrapassando o processo saúde/doenca e tendo como prioridade a vida em suas mais 
diversificadas formas de expressao. Adota os conceitos de imanência e transcendência como 
principios norteadores, incluindo tambêm oposicao e complementaridade. A autora defende o 
Cuidado Transdimensional tambêm como perspectiva integradora e transformadora, como 
forma de superar a radical fragmentacao entre as disciplinas elou profissñes e entre elas e o 
senso comum, elegendo a relacao dos principios feminino e masculino, pela convergência da 
arte, ciencia e espiritualidade. 
O grande desafio que essa teorizacao assume ê reintegrar as dimensóes ontológica, 
epistemológica e êtica no saber teórico-prático em relacao ao cuidado de saúde. Caracteriza-
se como processo facilitador da expansáo das capacidades inerentes ao ser humano para ser 
seu próprio cuidador e para favorecer a harmonizacao de si mesmo, seu autoconhecimento e 
sua autotransformacao. O Cuidado Transdimensional assume diversos padroes de expressao 
tais como oracao, meditacáo, toque terapêutico,fitoterapia, musicoterapia, cromoterapia, 
florais, hidroterapia etc. 
Na mesma perspectiva, situam-se as terapias denominadas de altemativas, que procuram 
distanciar-se de tratamentos convencionais e adotar práticas que preservem a integridade 
ffsica da pessoa. A introducao das práticas altemativas tambêm foi propiciada pela revisáo e 
reformulacao da concepcao de saúde, que deixa de ser entendida como apenas a ausência de 
doenca. Como em outros paises, tambêm no Brasil essas práticas vêm sendo difundidas pela 
acupuntura, ioga, cromoterapia, energizacao, mineralogia, entre outras, e sao desenvolvidas 
por mêdicos, psicólogos, enfermeiras e outros. As terapias altemativas têm sido discutidas atê 
no ámbito govemamental de assistência á saúde 2, sendo valorizados recursos como a 
fitoterapia e a homeopatia, o que indica a tendência de sua introducao no sistema de atencao 
ásaúde (KOLLER; MACHADO, 1992). 
Tambêm na tendência holística, Patrício (1995) refere-se ásaúde como um conceito 
subjetivo, ou seja, desenvolvido pelo sujeito com base em suas representacñes. Ter saúde ê 
possuir meios para buscar, manter e recompor a vida, incluindo-se aí o modo como o ser 
humano interage com a natureza e com os seus semelhantes. O viver saudável, portanto, está 
relacionado com a interacao do ser humano consigo mesmo, com sua totalidadeunicidade, 
com a diversidade e complexidade do universo. Des sa ótica, a saúde está relacionada com a 
qualidade de vida, com as diversas possibilidades do ser humano de ser feliz e de ter prazer. 
Para a autora, essas concepcoes têm de ser consideradas pelo enfermeiro no seu processo de 
conhecer, investigar e trabalhar com o cuidado de seres humanos. 
As sim, verifica-se que o paradigma holístico pode contribuir para a análise e 
compreensao do processo saúde/doenca com base nos diversos elementos intervenientes no 
fenómeno da vida, especialmente porque procura contrapor-se ao paradigma newtoniano-
cartesiano. Entretanto, há que se levar em conta que os seres humanos vivem em sociedade e 
nela estao presentes a contradicáo, o antagonismo, as lutas de classe. Nessa sociedade, as 
diferencas e distincñes sáo predominantemente de cunho social e tendem a se tomar cada vez 
mais profundas. Nessa realidade social, parece um contrasenso a pretensao de abolir as 
contradicóes, uma vez que ê justamente sua existência que possibilita identificar e combater 
as desigualdades. 
A defesa do autoconhecimento e do autocuidado como principios do cuidado á saúde 
podem ser fertilizadores da educacao para a saúde, contribuindo para que as pessoas elevem 
sua capacidade individual e coletiva de preservacao da saúde. Entretanto, ê pertinente atentar 
para o risco de se responsabilizar o cidadáo por problemas de saude/doenca que se 
manifestam no plano individual, mas que sao de natureza fundamentalmente social. Por mais 
que um individuo detenha autoconhecimento e informacoes sobre saúde e qualidade de vida, 
se ele nao dispuser dos recursos materiais necessários, dificilmente poderá alcancar um 
padrao saudável de vida. 
 
ECOLOGIA 
 
Em face dos problemas originados pela degradacao ambiental, a constatacao da 
necessidade de modificar as relacoes entre homem e meio ambiente tem ganho forca nas 
diversas áreas de conhecimento, náo se restringindo apenas ás chamadas ciências biológicas. 
Na área da saúde, surge a proposta de desenvolvimento de uma consciencia ecológica 
integrada aos cuidados de saúde. 
Nessa proposta, Marques (1995) apresenta a descricao de um paradigma fundamentado na 
nocao de ecossistema, ecoorganizacao, e mecanismos de acao e retroacao entre o mundo 
fisico e os seres vivos. Do ponto de vista central da ecologia, a independência do ser vivo 
exige a sua dependência em relacao ao meio, ou sej a, há uma interdependência funcional e 
existencial dos seres vivos que, por sua vez, pressupñe a nocáo de abertura ao meio. Com 
base nesse argumento, o paradigma ecológico considera que todas as fronteiras, desde a 
membrana celular atê a epiderme humana e as fronteiras entre as nacñes, constituem 
simultaneamente barreira e local de troca e de comunicacao. 
Sob o paradigma ecológico, a abordagem da saúde/doenca impñe uma mutacao na 
racionalidade vigente, passando da concepcao mecanicista para a concepcáo sistêmica da 
vida, cuja implicacao para as ciências da saúde ê a defesa do deslocamento do modelo 
biomêdico para o chamado modelo "bio-eco-psicosocial". Procurando contrapor-se ao 
paradigma biomêdico, o paradigma ecológico fundamenta-se na concepcao hipocrática de 
homem e de sua relacao com o meio, com base nos seguintes pontos essenciais: 
 
• Nocáo de saúde/doenca - saúde ê uma condicao integrada que resulta da perfeita 
harmonia entre processos vitais humanos e ambientais e nao da mera ausência de doenca. 
Nessa perspectiva, a enfermagem a ser implementada ê denominada de Enfermagem 
Integral, caracterizada por distanciar-se da mera soma de patologias ou especialidades, 
para centrar-se no sentido global do estar-no-mundo da pessoa. Inclui a idêia da 
responsabilidade de cada um e de todos pelo estado de saúde/ doenca individual e tambêm 
coletivo. 
• Ecotoxicidade ou face modema do adoecer - as doencas das civlh.zacóes sáo o alto 
preco pago pela evolucao tecnológica e sua interferência na configuracao da biosfera, da 
atmosfera e da noosfera terrestres. A configuracáo dos aglomerados humanos no 
ecossistema toma necessária uma prática de enfermagem assentada no principio do estudo 
do homem em seu ambiente, de modo a possibilitar a abordagem das chamadas doencas 
ambientais. Essas novas formas de agrupamentos humanos exigem a elaboracáo de meios 
para intervir nas doencas humanas características das atuais condicñes de vida em 
sociedade, denominadas de antropopatias, como, por exemplo, a dependência química e as 
patologias psicossomáticas. 
• Cuidar - o cuidar da saúde/doenca ê entendido como autêntica ocupacao com o outro, 
nele tanto o ser que ajuda como o que êajudado dependem um do outro. Isso exige uma 
nova êtica, que Marques (1995) denomina de eco-êtica dos cuidados, em que a relacao náo 
pode ser um trato anónimo ou um mero servico objetivo. Visando superar a divisao entre 
objetividade e subjetividade, o cuidado deve ser uma resposta do profissional de saúde, 
sendo necessariamente uma síntese de objetividade e atitudes de dedicacáo co-humana. 
• Morte - a vida nao pode ser pensada sem a morte e o confronto com a morte náo pode 
ser adiado. No entanto, pode e deve ser elaborado, sendo que o profissional de saúde tem 
um papel fundamental nessa elaboracao. Portanto, ê necessário que a formacáo 
profissional inclua, desde a formacao inicial, o desenvolvimento da capacidade para lidar 
coma morte, facilitando a compreensao de que a morte obriga a deixar a vida, sem que 
isso implique uma culpabilidade. 
O principal desafio que esse paradigma aponta ê o desenvolvimento de uma análise capaz 
de integrar a lógica da diversidade na unidade, da criatividade nos automatismos, dos desvios 
no equilibrio, do individual no grupal, da pessoa no mundo. Para enfrentar esse desafio, 
defende que as escolas incluam na formacáo de mêdicos e enfermeiros a competência para 
enxergar o homem como ser submisso ás leis gerais das acomodacñes sistêmicas e 
ecossistêmicas. 
Nao resta dúvida de que a exploracao da natureza de modo nao planejado tem colocado 
em risco a sobrevivência de todas as formas de vida em nosso planeta. Hoje constata-se que ê 
inviável continuar desconsiderando os prejuizos causados aos diversos ecossistemas pela 
acáo do homem sobre o meio, sendo inques-tionável a necessidade de alterar essa relacáo 
favoravelmente ápreservacáo da natureza, hábitat imprescindível á vida humana. No entanto, 
náo se pode esquecer que a exploracao da natureza e as relacoes humanidade/ambiente 
sempre obedeceram e continuam obedecendo ás imposicóesde ordem político-económica, de 
acordo com o modelo predominante. 
Ainda que se procure explicar a relacao do ser humano com o meio ambiente, nao se pode 
esquecer que no contexto contemporáneo as questñes de saúde e doenca guardam íntima 
relacao com a exploracáo do ambiente, mas sobretudo do próprio ser humano pelo sistema 
capitalista. Nao ê necessário recorrer a dados estatisticos para constatar que a maioria das 
doencas ainda têm suas causas relacionadas com a precariedade alimentar e educacional, com 
o desemprego, com as pêssimas condicoes de moradia, com o continuo desgaste físico e 
mental provocado pelo trabalho, todos eles agravados pela insuficiência quantitativa e 
qualitativa dos servicos públicos de saúde. Enfim, grande parte das causas estao ligadas ás 
condicoes matenais necessárias áqualidade de vida, inclusive do ponto de vista educacional 
para uma relacáo diferente entre homem, natureza e inteligência artificial. 
 
SUBJETIVIDADE 
 
A preocupacao com o cotidiano e com a existência humana ê uma tendência 
acentuadamente expressa na enfermagem nas duas últimas dêcadas, com base sobretudo nas 
formulacóes de Heidegger e Marleau-Ponty. Em 1989, Magali Boemer praticamente 
inaugurou a adocao deste referencial teórico, com o trabalho intitulado "A morte e o morrer". 
Nesse trabalho, a autora investigou o significado da morte expresso por pessoas portadoras 
de cáncer e com plena consciência do confronto inevitável com a morte. A partir daí 
tomaram-se cada vez mais crescentes as investigacóes e propostas fundamentadas na 
significacao e na compreensao do cotidiano, da vivência e da experiência dos pacientes, a 
maioria delas fundamentadas na fenomenologia. 
Os temas sao os mais diversificados, envolvendo as situacóes vivenciadas na área da 
saúde e na enfermagem, geralmente tendo em comum o objetivo de apreender sentimentos e 
percepcoes como, por exemplo, sobre gestacao, amamentacáo, adolescência, senilidade, dor, 
ser portador de determinada patologia (cáncer, AIDS, diabetes, hipertensao, obesidade etc.), 
deformidades, mutilacoes e outros. Há ainda os estudos que procuram apreender a vivência 
dos profissionals e os sentimentos que expressam sobre E a vida e o trabalho na área da 
saúde. 
De um modo geral, esses estudos postulam a necessidade de uma reconstrucao do próprio 
conceito de enfermagem, da definicao de seu objeto, da sua metodologia de trabalho e 
tambêm do ensino da profissao, para uma formacao que proporcione competências para 
captar aspectos da subjetividade do ser humano. A preocupacao central ê conhecer o ser 
humano, objeto do cuidar! assistir em enfermagem. Fala tambêm que o conhecimento do ser 
permite repensar os diversos caminhos possíveis para contemplar a particularidade de seus 
problemas e necessidades de saúde, nao se restringindo a um único modelo de cuidar/assistir 
que enquadre indistintamente todos as pessoas. Ramos (1995, p. 51) destaca que o enfoque 
preferencial a ser utilizado na abordagem do ser humano homem ê compreendê-lo como 
"sendo doente, ou seja, aquele homem que, pela facticidade do mundo, contraiu determinada 
doenca e está vivenciando um momento de sua existência: o seu sendo-doente". 
Desse modo, a doenca ê compreendida como algo que afeta o individuo e todo o seu "ser-
no-mundo". Nessa compreensáo, o homem náo se define sem o mundo, nem o mundo sem o 
homem. Trata-se do mundo vivido, lugar da expenencia existencial, mundo que vai sendo 
formado e estruturado pelo individuo, de posse de sua autoconsciência. Assim, afirma a 
autora que a enfermagem deve ser pensada para um ser-no-mundo que vivencia uma situacao 
de sendo-doente, pois "á doenca seráo atribuidos significados pelo individuo que vive a 
situacao e esses significados estaráo interrelacionados ao vivenciar a doenca. Sob esta ótica 
nao teríamos problemas previamente direcionados ou previsiveis, mas teríamos que buscar o 
significado da doenca em sua existência" (RAMOS, 1995, p. 52). O paciente como ser no 
mundo, vivenciando uma situacao de doenca, portanto sendo doente, poderá, juntamente com 
a enfermeira, e combase nos significados que ele atribui á doenca, co-determinar sua 
assistência. Assim, ambos podem agir como sujeito e objeto da acao de enfermagem. 
Tambêm nessa perspectiva Boemer et al. (1992) propuseram a introducao do referencial 
filosófico existencial no curso de graduacao em enfermagem, a fim de proporcionar uma 
fundamentacao teórica para o futuro enfermeiro conhecer e compreender o homem no seu 
mundo cotidiano, ou seja no "mundo da doenca e no sendo-doente". 
A tendência de ouvir as experiências e vozes dos atores, de considerar que cada um seja 
tambêm sujeito das intervencoes no seu processo satide/doenca, inegavelmente representa 
uma grande contribnicao para a área da saúde. Isso porque tradicionalmente as pessoas que 
recorrem aos servicos de saúde têm sido tratadas como depositárias do conhecimento detido 
pelos proflssionais da área. Esse onhecimento geralmente exclui apossibilidade de 
paniapacao do cliente, ao desconsiderar suas marifestacñes verbais ou sob outras formas de 
expressao, como atitudes, sentimentos, experiências, valores etc. O conhecimento do 
profissional de saúde ê colocado em práfica como o mais verdadeiro, por isso portador de 
supremacia e autoridade. Desse modo, os clientes náo têm tido suas vozes ouvidas por náo 
portarem o conhecimento considerado cienrifico. Assim, todas as suas expressoes tomam-se 
secundarizadas no processo de sua assistência. 
A consideracao da subjetividade vem contribuir para a ruptura com essa prática autoritária 
e desumana, na maioria das vezes justificada em nome da objetividade científica e da 
competência profissional. Mas há que se ter a clareza de que, embora possa amenizar a frieza 
do profissional, a simples consideracao dos significados e sentimentos expressos pelo 
paciente pouco modifica suas condicñes de existência e as razñes que contribuíram para seu 
adoecimento. Apesar de defender que o ser humano nao se define sem o mundo, nem o 
mundo sem o ser humano, postulando a importáncia da subjetividade nesta relacao, essa 
tendência tambêm desconsidera os elementos que condicionam os modos de reproducao da 
vida, da saúde e da doenca, e mesmo da sua subjetividade, decorrentes do contexto social e 
da forma de insercao das pessoas neste contexto 
 
CORPOREIDADE 
 
Assmann (1996) afirma que o corpo tem uma dignidade inviolável, pois ê nele que se 
objetiva a vida e, por isso, nao faz sentido falar do espiritual, sem falar do corporal. Mas o 
corpo, do modo como ê entendido hoje, tem sido objeto mercadológico primordial. Por essa 
razáo justifica- se a necessidade de um novo conceito de corporeidade que seja aplicável ao 
ámbito da existencia individual, ao da sua insercáo em processos biossociais que formam 
sistemas dinámicos com auto-regulacao (parcial). 
A preocupacao êtica com o corpo do paciente sempre se fez presente na enfermagem. 
Todavia, freqtientemente restringiu-se ao disciplinamento moral, com forte tom religioso, 
expresso pela prescricao de condutas, ou ainda ao aspecto estritamente têcnico, expresso pela 
prescricao de rotinas e procedimentos científicos para lidar com o corpo biológico. 
Recentemente verifica-se a presenca de outras formas de compreender e analisar o corpo. 
A esse respeito Silva (1995) lembra que desde a antiguidade verifica-se a preocupacao do 
homem com o registro de sua concepcao de corpo, ressaltando que desde Platao estava posta 
a compreensao do corpo como instrumento da alma. Com Descartes instituiu-se a separacao 
entre corpo e alma, como substáncias diferentes. O pensamento cartesiano, que influenciou 
profundamente o conhecimento modemo, contribuiu tambêm para a investigacao científica 
sobre o corpo, com a abordagem biomêdica e da concepcáo de corpo como um sistema 
composto de partes, isoladamente vistas, compreendidase tratadas, por meio das 
especialidades e subespecialidades instituidas na área da saúde. 
Tambêm a enfermagem incorporou em sua prática esta forma de conceber e lidar com o 
corpo. Todavia, como salienta Silva (1995), o corpo nao guarda só aspectos biológicos. E 
tambêm veiculo de relacñes com o mundo, horizonte de experiencias pessoais e com o outro 
e, no caso da enfermagem, veiculo de interacóes com a pessoa do paciente. 
Polak (1996) afirma que o cenário das práticas de enfermagem ê ritualizado, mecanizado e 
sexuado e defende uma nova percepcao de enfermagem e de cuidar, na qual a corporeidade 
seja vista como o modo de ser das pessoas, a essencia expressa pelo corpo que vê e ê visto, 
que sente e ê sentido, que toca e ê tocado no processo de coexistência humana, constituindo-
se entao um cenário que compreenda as várias possibilidades de vivenciar o corpo. 
Na perspectiva da corporeidade, o corpo ê percebido como ser de desejo, de necessidade, 
de prazer, que ultrapassa, transcende e incorpora ciclos como expressao, fala, linguagem e 
percepcao, como inscricao no mundo e como ponto de partida para toda e qualquer 
abordagem do ser humano. O cliente e a enfermeira, como corporeidades, sáo percebidos na 
umao do ser e da acao, no compartuhamento do saber e na expressao de valores e 
afetividades. A enfermeira ê corporeidade em sua acao interativa, comprometida com o 
mundo e com o ontro, considerando os aspectos políticos, filosóficos e educativos na 
construcao do conhecimento sobre cuidados. 
Percebe-se que essa forma de compreender o corpo representa um alerta para o modo 
estático, restrito e frio com que se tem lidado com o corpo na área de saúde. Chama a atencao 
para a compreensao reducionista acerca do corpo, entendendo-o apenas como sitio dos 
fenómenos biológicos. Todavia, tal perspectiva toma-se insuficiente se nao incluir tambêm o 
corpo como locus onde se materializam as mais variadas formas de exploracao do ser 
humano, seja por meio do consumo de sua capacidade fisica, intelectual, emocional, artística, 
cultural, e atê mesmo de sua dimensáo estêtica, explorada como referência para estabelecer 
padroes dominantes de beleza e saúde em conformidade com padróes de consumo. 
A cada dia toma-se mais comum a compra e venda de corpos de mulheres, homens, jovens 
e criancas, por meio da prostituicao. Tambêm nao pode passar despercebida a ocorrência do 
comêrcio ilegal e clandestino de órgaos e outras partes do corpo, e atê mesmo de corpos 
inteiros! A cada dia toma-se mais comum as pessoas 'alugarem' seus corpos para testes e 
experiências científicas de diversos tipos. No mundo do trabalho, corpos de criancas, 
adolescentes e adultos sao empregados conforme a utilidade de seus atributos e suas 
especificidades no desempenho de tarefas. Assim, constata-se que o corpo nao ê apenas sede 
dos fenómenos biológicos e nem apenas veiculo de expressao de valores e de relacóes 
interpessoais, mas tambêm da reproducao social e da exploracao humana pelo capital. 
 
 
 
GÊNERO 
 
Scott (1995) relata que a preocupacao teórica com o gênero como categoria analítica só se 
manifestou no fim do sêculo XX. A respeito da utilizacao da categoria gênero como uma 
categoria analítica, diz que, em sua utlhzacao mais recente, o termo gênero apareceu 
inicialmente entre as feministas americanas, que tinham por objetivo enfatizar o caráter 
fundamentalmente social das distincóes baseadas no sexo, indicando uma rejeicao ao 
determinismo biológico implícito em termos como sexo ou diferenca sexual. Segundo a 
autora, as feministas percebiam na producao de estudos sobre mulheres uma centralidade 
demasiado estreita nas mulheres. Adotaram entáo o termo gênero para introduzir uma nocao 
relacional, definindo mulheres e homens em termos recíprocos, nao cabendo aí compreender 
os sexos mediante estudos inteiramente separados. 
Essa autora afirma que a categoria gênero faz parte do empreendimento das feministas 
contemporáneas para delimitar uni terreno de definicao, para colocar em evidência aquilo que 
consideram como incapacidade explicativa das teorias existentes acerca das desigualdades 
entre mulheres e homens. Entretanto, alerta a autora, esta categoria deve ser redefinida e 
reestruturada em conjuncao com uma visao de igualdade polftica e social que inclua nao 
somente sexo, mas tambêm classe e etnia. 
A história da enfermagem mostra um percurso marcado por sua caracterizacao como 
atividade essencialmente realizada por mulheres. Com o movimento feminista e seus 
impactos no mundo acadêmico, intensificaram-se as análises acerca da condicao feminina, 
fazendo-se presente esse debate tambêm na enfermagem, como uma profissao em que a 
maioria esmagadora êconstituida por mulheres. 
Fonseca (1996) demonstra que análises sobre a enfermagem na sociedade brasileira, como 
uma prática esencialmente feminina, têm sido realizadas desde o inicio da dêcada de 1960. 
Mas ê a partir da dêcada de 1980 que se verifica um crescimento das investigacoes voltadas 
para a questao de gênero, tanto no estudo da profissao como da clientela feminina do setor 
saúde. Tais estudos analisam a condicao feminina nas relacoes de dominacao no interior de 
uma sociedade androcêntrica. Mas a Lo utilizacao da categoria gênero só apareceu 
explicitada pela primeira vez em 1990, em estudo realizado pela própria Fonseca, que Lo 
abordou o perfil reprodutivo biológico de mulheres atendidas em unidades básicas de saúde. 
A autora lembra tambêm que a análise da profissao de enfermagem, sob a perspectiva de 
gênero, apareceu explicitamente pela primeira vez em 1992, no trabalho de Tartaglia sobre a 
relacao entre enfermeiras e sindicatos. 
Geraimente elaborados no ámbito acadêmico com a pósgraduacao nos níveis de mestrado 
e doutorado, os estudos da enfermagem sob a perspectiva de gênero, segundo análise de 
Fonseca (1996, p. 2), "nao subjazem ao positivismo, apesar de nem sempre explicitarem 
claramente o referencial adotado". A autora conclui que a producao de enfermagem e gênero 
tem assumido uma posicao ascendente, em especial no interior da academia. Apesar disso, 
necessita consolidar a utilizacao de referenciais teóricos, pois a própria categoria gênero 
abriga-se sob diferentes concepcoes teóricas, embora, de um modo geral, revele uma visao 
materialista histórica e dialêtica de mundo. Para a autora, sendo gênero uma categoria 
relacional, os estudos que a utilizam podem ser fêrteis para a compreensao dos fenómenos 
sociais do universo masculino, pois nessa ótica nao se restringem apenas á mulher, 
permitindo compreender as relacóes que se estabelecem entre homens e mulheres, mulheres e 
mulheres e homens e homens. 
Tambêm para Meyer (1998), a producao teórica e científica dos últimos anos, na área da 
enfermagem, permite reconhecer que os estudos de gênero vêm se firmando aí cada vez mais 
como uma perspectiva produtiva e necessária de análise. Esses estudos incluem tanto a 
análise das questoes de gênero na profissao e na equipe de saúde, como a análise da 
problemática de saúde da mulher sob as consideracoes das determinacoes de gênero e ainda 
as relacoes de gênero na educacao em enfermagem. 
A contribuicao de tais estudos para a área da saúde, particularmente para a enfermagem, 
reside na busca do fortalecimento de outras formas de análise, sobretudo as subsidiadas pelas 
ciencias socials, deslocando assim a centralidade do modelo biomêdico. Esses estudos têm 
modificado substancialmente a criacao e consolidacao de pesquisas e programas de estudos 
de gênero, mas ainda sao pouco absorvidos na formacao profissional inicial e nos servicos de 
saúde, concentrando-se especialmente em locais onde há grupos já consolidados de estudos 
sobre a mulher. Uma das principais contribuicoes talvez seja a de realizar a crítica da profis 
sao nestes três ámbitos, colocando em evidência as lacunas e as amarras oriundasdas 
relacoes de gênero. 
Entretanto, observa-se que a maior parte das análises ainda recai sobre a condicao 
feminina do trabalho de enfermagem no campo da saúde e da assistência á saúde das 
mulheres, na perspectiva da polarizacao masculino/feminino, o que nao ê suficiente, segundo 
o ponto de vista das próprias estudiosas das questóes de gênero. Alêm disso, a centralidade 
nas relacoes de gênero de forma isolada de outras categorias de análise parece reduzir ou 
menosprezar as discriminacoes e desigualdades que, apesar de guardarem uma relacao com o 
gênero da pessoa, se manifestam de forma diferenciada conforme as diferencas de classe, 
etnia, cultura e religiao. Atê mesmo as diferencas intergeracionais interferem nos modos de 
se lidar com os sexos. Nesse sentido, Louro (1995) afirma que ás vezes a teoria feminista tem 
relegado estes aspectos, tomando como referência de gênero somente homens e mulheres 
adultos. 
 
PODER 
 
A discussao sobre o poder no campo da saúde tem sido realizada por diversos 
profissionals, para evidenciar a dominacao de um só grupo ou profissional o mêdico - em 
virtude da subaltemidade dos demais componentes da equipe de saúde. Tambêm ê analisado 
o poder exercido sobre o paciente pelo profissional, seja ele mêdico, enfermeira ou outro. Há 
alnda análises acerca do poder de determinados conhecimentos e modelos de conhecimento 
sobre outros, configurando-se uma hierarquia na qual alguns sao considerados mais 
verdadeiros e capazes do que outros, na elaboracao de respostas para os problemas de saúde/ 
doenca, como ê o caso da hegemonia do saber mêdico sobre o dos demais profissionais e o 
das ciências biológicas sobre o das ciencias humanas. 
No ámbito da enfermagem, ê crescente o quantitativo de investigacoes e propostas que 
visam explicitar as relacoes de desigualdade e subaltemidade, tanto no interior da área de 
saúde como na própria equipe de enfermagem. Em 1987, com base na compreensao 
foucaultiana do poder, na dissertacao intitulada Os dáce(is) corpos do hospital: as 
enfermeiras e o poder institucional na estrutura hospitalar, Silva analisou as relacoes de poder 
que se institucionalizam no hospital em tomo da supremacia de mêdicos sobre enfermeiras. 
Publicada logo em seguida, tomon-se um trabalho de referência por explicar e questionar o 
poder mêdico. A partir daí vem crescendo a cada dia o contingente de trabalhos acerca das 
relacóes de poder na área da saúde, a maioria deles tomando como referencial os 
pressupostos foucaultianos. 
No que se refere á educacao em enfermagem, sao realizadas análises que geralmente se 
propoem a evidenciar a escola e a educacao como locus de recriacao e exercicio de poder, 
por meio da imposicao de saberes e práticas. De Sordi, Magalhaes e Sampaio (1996), por 
exemplo, afirmam que algumas idêias vinculadas e incorporadas como verdades ao saber de 
enfermagem nao passam de "verdades-mentiras" que povoam o discurso de educadores, 
repercutindo na formacao de enfermeiros cujas acoes políticas apresentam baixo poder de 
resolutividade, quando de sua insercao profissional. Ressaltam as autoras que as práticas 
educativas sao intensamente carregadas de poder, cujo grau de eficiência permite a sua 
manutencao e multiplicacao, com mediacoes garantidas pelos currículos dos cursos de 
enfermagem. Esse poder, alertam as autoras, necessita ser revertido e a escola pode e 
efetivamente necessita configurar-se como espaco de resistência, propiciando a formacao de 
um profissional com ontros tracos, suficientemente munido de elementos para uma acao 
profissional dignificadora e que origine contribuicoes para a categoria e a sociedade. 
Tambêm tendo como foco o poder, Lunardi (1997), fundamentando-se em Foucault, 
realiza uma cartografiadas relacoes de forca presentes na enfermagem e evidencia as 
estratêgias e lutas mediante as quais os saberes, sujeitos e práticas têm se construido. 
Identifica a ruptura com o modelo e o pensamento religioso valendo-se das bases que 
Florence Nightingale elaborou em 1859 para a profissionalizacao da enfermagem. Constata 
que, apesar disso, amda prevalecem determinadas práticas que denomina de "estratêgias de 
poder pastoral", segundo as quais a saúde das pessoas ê vista como responsabilidade da 
enfermagem, sendo destinado ao cliente apenas o lugar de objeto do cuidado. Tambêm 
identifica nas práticas de enfermagem a responsabilidade, a obediência, a confissao e a 
mortificacao do en como elementos próprios do poder pastoral. 
As análises sobre as relacoes de poder na área da saúde, especialmente envolvendo o 
ensino e a enfermagem, têm contribuido para o enfrentamento da hegemonia de algumas 
práticas e saberes, para a democratizacao das relacoes profissionais e para que tenha voz o 
principal ator neste cenário: o E cidadao que utiliza os servicos de saúde. 
Constata-se, entretanto, que, mesmo sendo importante a explicitacao das relacoes de poder 
na área da saúde, ao focalizarem apenas microespacos, nao possibilitam uma compreensao 
aprofundada do modo crescente pelo qual as transformacoes mais gerais da sociedade 
repercutem nas relacoes de poder dentro da área. Assim, o que se verifica ê a reorgamzacao e 
fortalecimento das relacoes de poder no interior da nova configuracao que vêm assumindo os 
servicos de saúde, tanto no setor público como no privado. O poder das empresas mêdicas e 
dos seguros-saúde, por exemplo, nao se restringe ao microespaco hospitalar. Pelo contrário, 
tende a invadir toda a estrutura dos servicos de saúde. Verifica-se tambêm que o poder do 
profissional mêdico sobre os demais nao se alterou muito em funcao do deslocamento de 
determinados servicos para o ámbito domiciliar. 
 
DESAFÍOS PARA A EDUCACÁO INICIAL EM ENFERMAGEM 
 
Observa-se que as propostas que procuram subsidiar inovacoes na prática do processo de 
cuidar/assistir, com base em perspectivas como a cultura, o holismo, a ecologia, a dimensao 
existencial, a corporeidade, o gênero e o poder, devem ser consideradas como perspectivas 
que vêm ampliar os horizontes analíticos sobre o processo de cuidar/assistir, uma vez que 
possibilitam uma abordagem mais próxima da integralidade do ser humano. A enfermagem 
entendida como uma prática social, portanto carregada de valores, contradicoes sociais e, 
sobretudo, de um compromisso com a emancipacao humana no que se refere á vida e á saúde, 
nao pode realizar-se senao na perspectiva da complexidade das transformacoes do contexto 
social contemporáneo. Portanto, nao pode prescindir da tarefa de sempre ter em seu horizonte 
a pluralidade e a complexidade das necessidades humanas. Nesse contexto, verifica-se a 
amphacao das possibilidades de um atendimento cada vez mais integral e mais eficaz na 
solucao dos problemas de saúde. Esse atendimento, lamentavelmente, ainda ê inacessível aos 
diversos grupos populacionais expostos á pêssima qualidade de vida e saúde. 
O que ainda sobressai como prioridade, portanto, ê a existência de profissionais 
compromissados com a transformacao das condicoes de saúde desses grupos. Para responder 
a esse desafio, nao ê suficiente introduzir novas perspectivas e novos saberes, se esses nao se 
fizerem acompanhar de uma formacao capaz de oferecer á sociedade profissionais cuja 
identidade seja tambêm carregada de sentido emancipatório e que demonstrem, mediante 
suas acoes, essa competência. O conhecimento e a prática profissional de enfermagein sao 
socialmente construidos e sofrem a interferência das transformacoes do contexto histórico 
que, por sua vez, tambêm condicionam a inovacao dos saberes. Mas ê áeducacao em 
enfermagem que cabe a responsabilidade de fazer que seja possivel a existência desse 
profissional, tendo por isso grandes desafios a desvencilliar. 
Constata-se hoje que o progresso tecnológico nem sempre tem sido utilizado para a 
solucao dos graves problemas de saúde da maior parte da popu1acao,particularmente dos 
excluidos sociais. Pelo contrário, freqúentemente critêrios políticos favorecem determinadas 
formas de utilizacao do avanco tecnológico que só tende a aumentar a desumamzacao da 
assistência á saúde. Essa situacao reforca as críticas quanto ao poder da ciência para produzir 
respostas para os problemas humanos, alêm de gerar uma situacao desconfortável na qual 
muitos profissionais de saúde sentem-se impotentes diante do poder politico. Alêm disso, o 
desenvolvimento de novas tecnologias coloca para os profissionais novos desafios de ordem 
moral e êtica. 
Os acontecimentos da sociedade contemporánea revelam que vivemos em um novo 
contexto, mas grande parte dos problemas que prevalecem sao bastante velhos. Os padróes de 
doenca mudaram, mas muitas doencas do sêculo anterior ainda persistem, ocasionadas 
sobretudo pela exclusao e pelas injustas sociais. Portanto, os principios que devem 
fundamentar a educacao em enfermagem continuam sendo aqueles voltados para uma 
perspectiva de justica e superacao das desigualdades sociais. O modelo biomêdico, de longa 
data hegemómco no setor de saúde, sofre os impactos da globalizacao e da chamada crítica 
pósmodema, ao mesmo tempo que busca reconfigurar-se para continuar hegemomco. 
As mudancas que se fazem necessárias dependem, em grande parte da capacidade 
transformadora dos profissionais. RessaltaE se aq'ui a necessidade do desenvolvimento de 
saberes, competências, hábitos e atitudes que fundamentem uma compreensao crítica acerca 
das inovacoes do conhecimento e de sua incorporacao á prática, mas sobretudo que tomem a 
prática como principal ponto de referência da producao e tambêm da apropriacao de novos 
conhecimentos. A educacao em enfermagem deve configurar-se como uma contribuicao á 
luta pela inclusao social dos grupos marginalizados, sejam eles as mulheres, as minorias 
culturais, as minorias êtnicas, os grupos com diferentes opcoes de prática sexual, ou qualquer 
grupo social submetido á marginalidade. 
O processo de cuidar/as sistir realizado pela enfermagem deve representar uma diferenca 
para aqueles que constituem o ceme de seus objetivos de trabalho. Mas para tal nao ê 
suficiente considerar, de forma isolada, a sensibilidade, a cultura, as questoes de gênero, a 
ecologia, o poder ou outras. Embora seja necessário reconhecer a importáncia dessas 
dimensñes, visto que podem enriquecer o desenvolvimento do cuidado integral ao ser 
humano, o enfrentamento da complexidade que envolve a exclusao social no mundo 
contemporáneo exige muito mais. Nesse sentido, concordamos com Villalobos (1996) ao 
afirmar que compete áeducacao em enfermagem o ensino de tarefas políticas, que expressem 
um compromisso de luta contra as discriminacoes e as desigualdades sociais. A educacao em 
enfermagem tradicionalmente tem se preocupado em preparar enfermeiros para elaborarem 
respostas, no entanto a realidade contemporánea exige, mais que elaborar respostas, a 
capacidade de formular perguntas e de pensar criticamente. Tal exigência impóe 
necessariamente o desenvolvimento de outra identidade profissional e ontra 
profissionalidade. 
Fabro (1996) salienta que a enfermagem vivencia uma perda de referência de modelos de 
cuidado e de enfermeira, que por longos anos fundamentaram a construcao de uma figura 
profissional submissa e despolitizada. Ainda que nao tenha conseguido desvencuhar-se dessa 
identidade, a profissao como um todo vem percebendo que nao basta a competência têcnica e 
que a competência política ê tao on mais importante para exercer seu offcio. 
Se ê grande o desafio de transformar a educacao em enfermagem, ele toma-se ainda maior 
diante dos obstáculos impostos pela profissionalidade do corpo docente da área. Como já foi 
demonstrado por M. da G. Silva (1997), vigora uma pluralidade de comportamentos 
docentes, predominando entre eles professores preocupados com conteúdos, mêtodos e 
têcnicas característicos das concepcoes tradicional, comportamental e cognitivista. Menos 
expressivos sao os comportamentos críticos relacionados á tendência sociocultural e os 
comportamentos afetivos relacionados á tendência humanista. 
Tambêm Waldow (1992) salienta que os modelos comportamentais predominantes nos 
cursos de enfermagem enfatizam o desempenho têcnico e o "treinamento" em vez de uma 
verdadeira educacao. A autora demonstra que os currículos de enfermagem, mesmo aqueles 
que se afirmam com enfoque humanístico, têm legitimado uma condicao de opressao, a qual 
impede ou limitao completo desenvolvimento da profissao de forma autónoma e coerente. A 
autora defende que o ensino de enfermagem seja tambêm o exercício de uma práxis 
conscientizadora. 
Para Ángelo (1994), as institucoes de ensino superior de enfermagem têm procurado 
desvendar caminhos que orientem suas acoes para a formacao do chamado profissional da 
nova era, do novo milênio. Nessa direcao, toma-se importante o conceito de aprendizagem 
ativa, necessária ao desenvolvimento do pensamento crítico e de uma educacao integral, em 
contraposicao ao simples treinamento têcnico. A educacao em enfermagem deve possibilitar 
pensar, agir, saber, desejar e buscar continuamente o conliecimento, duvidar da verdade, 
apreciaros valores que a tomam uma atividade moral e humana. Requer, portanto, um 
currículo na perspectiva da reconstrucao social, com base numa abordagem crítica, que 
possibilite formar enfermeiros cidadaos para compreender e atuar no contexto politico-social 
em que vivem. 
Por sua vez, um currículo dessa natureza só pode ser viabilizado onde existirem tambêm 
docentes com uma prática pedagógica fundamentada na abordagem crítica, pois, como 
afrrma Libáneo (1998), a qualidade da formacao dos alunos depende da qualidade da 
formacao dos professores. O que se verifica, no entanto, ê que na realidade da educacao em 
enfermagem ainda há um longo caminho a ser percorrido nessa direcao. Estudo E realizado 
por Saupe em 1993 já evidenciava que a prática pedagógica predominante entre os docentes 
de enfermagem, embora considere alguns valores do discurso progressista, aproxima-se mais 
de um modelo eclêtico, que conserva fundamentos da pedagogia tradicional, incorpora 
aspectos do ideário humanista da escola renovada, orienta-se por acoes preconizadas pelo 
modelo tecnicista. 
Concordamos com Zanotti (1996) quando diz que a educacao terá um papel essencial na 
construcao do futuro da enfermagem, sendo primordial na preparacao de profissionais 
(clínicos, educadores, pesquisadores etc.) e tambêm no aperfeicoamento da qualidade da 
prática de enfermagem. Portanto, o investimento na educacao profissional constitui o 
principal caminho para alterar favoravelmente a qualidade dos servicos de enfermagem e 
para ampliar sua contribuicao para a saúde da sociedade. Nesse sentido, tomam-se relevantes 
investigacoes científicas relativas ao desenvolvimento e ao impacto dos atos didáticos em 
enfermagem, como salienta Zanotti, mas tambêm investigacoes que procurem contribuir para 
a definicao do tipo de profissional que esses atos didáticos terao que dar conta de forjar, em 
resposta ás exigências e desafios do contexto contemporáneo. 
Finalizando, podemos afirmar que na contemporaneidade sao vultosos os desafios postos 
para a educacao em enfermagem. No que se refere á vida e á saúde, constata-se a existência 
de uma producao teórica com preocupacao voltada para a sua defesa como bens supremos do 
ser humano, enfatizando a cidadania, a integralidade do ser, o respeito á cultura, ao gênero, á 
etnia, ácondicao etária, ao ambiente etc. Todavia, o que se toma mais evidente a cada dia ê o 
fracasso dos servicos e profissionais de saúde no atendimento ás mínimas necessidades da 
populacao; o aparecimento de novas epidemias e a incapacidade de controle das já existentes; 
a elevacao das taxas de morbidade e mortalidade por doencas crónicas e incapacitantes, 
doencaspreveniveis e violência. Acrescentem-se a estes cenários de precariedade as novas 
situacñes que envolvem decisóes êticas para as quais alnda nao há estudos ou referências que 
amparem as decisoes profissionais, como, por exemplo, as questoes relativas á utilizacao do 
genoma humano. Outro aspecto desafiador ê o sentimento de impotência dos profissionais de 
um modo geral, diante da desregulacao do setor de saúde e da invasao da iniciativa privada, 
estabelecendo-se novas relacoes de trabalho. Nessas novas relacoes, profissionais que já nao 
possuíam quase nenhuma autonomia, como ê o caso das enfermeiras, vêem-se ainda com 
menos possibilidades de conquistá-la. Por outro lado, profissionais que desfrutavam de certo 
grau de autonomia estao perdendo-a para o capital das empresas de saúde, pois, atê do ponto 
de vista têcnico, suas acoes sao cada dia mais definidas por essas empresas. 
Ê verdade que o processo de desconstrucao/construcao do saber em enfermagem, o 
redimensionamento das concepcoes de homem, ambiente, cultura, existência, corpo, gênero, 
saúde e doenca, que estao fundamentando o conhecimento e a prática de cuidar e de cuidado 
de seres humanos, têm contribuido para revolver os velhos fundamentos, submetendo-os á 
crítica e ao reconhecimento de suas limitacoes. Mas o que a realidade está mostrando ê que 
ainda nao sao suficientes para a efetiva transformacao das condicoes de vida e saúde das 
pessoas, das condicóes de trabalho das enfermeiras e enfermeiros, da ressignificacao da sua 
competência profissional para que facam valer sua voz e seus atos como sujeitos de 
translormacao social. Parece que o saber de enfermagem tem caminhado muito mais no 
atendimento da nova profissionalidade exigida pela recomposicao do capitalismo do que na 
direcao do fortalecimento da profissao como prática social. Desse modo, para despensar/ 
pensar a formacao profissional em enfermagem, ê útil a reflexao de Libáneo (1998), que 
destaca a insuficiência de propostas pedagógicas que se limitam á crítica da educacao 
existente, sem oferecer possibilidades de modificar a prática educativa concreta. Meu 
entendimento ê que uma condicao essencial, para o alcance des sa modificacao na prática 
pedagógica em enfermagem, impoe o continuo investimento na construcao da 
profissionalidade docente, articulada com um projeto pedagógico curricular orientado para a 
construcao da enfermagem como prática social. Outro fator a ser considerado ê que a 
educacao em enfermagem seja guiada por um sólido compromisso com a formacao de 
enfermeiros capazes de analisar, compreender e, sobretudo, de alterar concretamente a prática 
da enfermagem, á luz dos saberes científicos e da realidade social e, tambêm, de uma 
rigorosa 1(auto)crítica científica esocial. 
 
 
 
 
 
Notas 
 
1. O termo profissionalidade ê utilizado aqui segundo a definicao apresentada por Sarmento in: 
ALVES (1998, p. 73), baseada em R. Bourdoncle. Segundo Sarmento, profissionalidade tem sido 
correntemente definida como "natureza mais ou menos elevada e racionalizada dos saberes e das 
capacidades utilizadas no exercício profissional". 
 
2 Em Goiás, o Hospital de Medicina Altemafiva, mantido pelo govemo estadual, representa um 
exemplo dessa mudanca de concepcao de saúde e de atencao á saúde. 
 
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