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O Jogo na Cultura Corporal de Movimento

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D
O Jogo como Componente 
da Cultura Corporal 
de Movimento 2
1. OBJETIVOS
•	 Definir	o	significado	de	cultura	e	jogo	na	perspectiva	da	
cultura	corporal	de	movimento.	
•	 Entender	a	transmissão	cultural	de	jogos	na	escola.	
•	 Identificar	e	exemplificar	jogos	e	brincadeiras	de	infância.	
2. CONTEÚDOS 
•	 Cultura	e	cultura	corporal	de	movimento:	breves	signifi-
cados.	
•	 Jogos	e	cultura	corporal	de	movimento.	
•	 Jogos	culturalmente	analisados.	
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:	
© Jogos e Brincadeiras I58
1)	 É	claro	que	você	já	ouviu	falar	a	respeito	de	povos	que,	
tal	como	ocorreu	no	início	da	formação	do	Brasil,	foram	
dominados,	 não	 é	mesmo?	Reparou	 que,	 quando	 isso	
acontece,	esses	povos	perdem	sua	identidade,	assumin-
do	os	costumes	e	a	 língua	do	povo	dominante?	Pense,	
por	exemplo,	nos	índios	que	viviam	(e	vivem	ainda,	mas	
em	 condições	 muitas	 vezes	 precárias)	 na	 América	 do	
Norte.	 Eles	 foram	dominados,	 tiveram	que	aprender	a	
língua	e	a	 cultura	 inglesa	e	perderam	grande	parte	de	
seus	costumes.	Se	você	ainda	não	assistiu,	procure	pelo	
filme	Dança com Lobos,	que	retrata	parte	dessa	história.
2)	 Pense	que	você,	quando	se	formar,	será	um	transmissor	
e	perpetuador	da	cultura	em	que	vive.	Você	terá	um	pa-
pel	muito	 importante	na	vida	de	seus	alunos.	Além	de	
ser	um	amigo,	confidente,	ídolo	e	exemplo,	contribuirá	
com	a	formação	cultural	de	seus	alunos!	E	isso	não	é	ta-
refa	fácil!	
3)	 Neste	 texto,	 não	 daremos	 preferência	 a	 nenhuma	 no-
menclatura	dos	 jogos	praticados	na	 infância.	Assim,	os	
termos	 "jogos	 populares",	 "de	 infância",	 "de	 rua"	 ou	
"tradicionais"	serão	aceitos	como	sinônimos.	Procure	ler	
atentamente	o	conteúdo	deste	caderno,	observando	os	
diferentes	 nomes	 dados	 aos	 jogos.	 Futuramente,	 você	
verá	outros	nomes	que	também	são	utilizados	para	des-
crever	os	jogos.	
4)	 Seja	 curioso	 e	 procure	 verificar	 a	 possibilidade	 de	 se	
aprender	um	jogo	esportivo	por	meio	de	outros	 jogos.	
Um	 artigo	 da	 Prof.ª	 Zenaide	 Galvão	 (disponível	 em:	
<www.rc.unesp.br/>.	 Acesso	 em:	 27	 jul.	 2010)	mostra	
um	trabalho	com	o	handebol.	Já	o	Prof.	Rafael	Castro	Ko-
cian	o	faz	no	livro	Educação Física na infância	(RANGEL,	
2010,	n.	p.).	
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Na	unidade	anterior,	você	entrou	em	contato	com	as	diferen-
tes	definições	de	jogo	e	de	brincadeira.	Esperamos	que	tenha	for-
mado	sua	opinião	a	respeito	desse	tema,	mas,	caso	isso	não	tenha	
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© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
ocorrido,	procure	pesquisar	mais	sobre	o	assunto,	pois	aprender	a	
pesquisar sobre o que lhe causa dúvidas	é	muito	importante	neste	
processo	de	construção	do	conhecimento.	
A	partir	desta	unidade,	você	ampliará	seu	conhecimento	so-
bre	o	significado	que	os	jogos	apresentam	para	a	compreensão	e	
a	continuidade	das	diferentes	culturas,	bem	como	aprenderá	que	
a	Educação	Física	trabalha	com	uma	parte	significativa	da	cultura,	
denominada	cultura	 corporal	de	movimento.	Você	 também	terá	
oportunidade	 de	 relembrar	 os	 jogos	 de	 sua	 infância	 e	 verificar	
como	eles	foram	importantes	em	sua	vida.	
Esperamos	 que	 a	 leitura	 e	 a	 interação	 com	 esta	 literatura	
despertem	em	você	o	desejo	de	ensinar	jogos.	Mas	isso	ocorrerá	
em	uma	nova	etapa;	por	enquanto,	vamos	conversando	e	não	se	
esqueça	de	trocar	ideias	com	seus	companheiros	de	curso.	
Bom	trabalho!	
5. CULTURA E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO: 
BREVES SIGNIFICADOS
Dependendo	da	 "lente"	e	dos	 autores	que	utilizarmos,	 te-
remos	uma	visão	de	cultura,	pois	este	termo	é	complexo	e	várias	
áreas	do	conhecimento	o	definem.	Utilizaremos,	aqui,	um	exem-
plo	simples	que	esclarecerá	um	pouco	essa	ideia.
Nasce	uma	criança!	Em	termos	biológicos,	ela	pertence	à	es-
pécie	humana,	possuindo	um	corpo	humano.	Seu	desenvolvimen-
to,	em	geral,	a	fará	crescer,	engatinhar,	ficar	em	pé,	andar.	A	seguir,	
ela	 dirá	 as	 primeiras	 palavras,	 depois	 frases.	 Por	 volta	 dos	 sete	
anos	de	 idade,	ela	aprenderá	a	 ler	e	a	escrever,	 ingressando	no	
mundo	da	escrita.	Depois,	entrará	na	adolescência,	passará	pelo	
mundo	adulto,	chegará	à	velhice	e	morrerá.	Completa-se,	assim,	o	
seu	ciclo	de	vida.	
© Jogos e Brincadeiras I60
Até	aí	nada	de	mais,	correto?	Errado!	Para	que	essa	crian-
ça	passe	pelas	fases	descritas,	ela	terá,	obrigatoriamente,	que	ter	
nascido	em	uma	cultura	ocidental.	Caso	tivesse	nascido	em	outra	
cultura,	talvez	ela	não	aprendesse	a	ler	e	a	escrever	aos	sete	anos	
ou	talvez	não	passasse	pela	adolescência	da	forma	como	a	conhe-
cemos.	E	se,	ainda,	essa	criança	 ficasse	perdida	na	selva	e	 fosse	
criada	por	lobos?	Talvez	não	andasse	e,	com	certeza,	não	falaria.
Esses	exemplos	nos	mostram	que,	ao	nascer,	não	iniciamos	
apenas	nosso	 crescimento	 fora	do	útero	materno,	mas	 também	
ingressamos	em	uma	cultura	diferenciada.	
Quando	você	era	pequeno,	talvez	tenha	ouvido	uma	cantiga	
de	ninar	como	esta:	
Nana	nenê,
Que	a	Cuca	vem	pegar,
Papai	foi	pra	roça,
Mamãe	já	vem	já.
Bicho-papão,
De	cima	do	telhado,
Deixa	esse	(a)	menino	(a)	
Dormir	sossegado	(a)	
Além	de	acalmar	as	crianças,	as	cantigas	de	ninar	têm	uma	
representação.	 É	 provável	 que	 a	 canção	 descrita	 anteriormente	
seja	de	uma	época	e	de	um	contexto	que	desconhecemos:	a	roça,	
o	que	significa?	E	o	bicho-papão?	Quem	sabe,	daqui	a	algum	tem-
po	nem	saibamos	mais	o	que	significará	"telhado".	Pode	ser	que	
apareça	outra	invenção	que	o	substitua.	
Afinal,	o	fato	de	morarmos	e	convivermos	em	uma	civiliza-
ção	significa	que	aprendemos,	absorvemos	e	modificamos	os	cos-
tumes	de	uma	cultura.	Qual	seria,	então,	uma	das	definições	de	
cultura?	A	cultura	definida	pelas	Ciências	Sociais	seria,	de	acordo	
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© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
com	Forquin	(1993,	p.	11),	"o	conjunto	dos	traços	característicos	
do	modo	de	vida	de	uma	sociedade,	de	uma	comunidade	ou	de	
um	grupo".	
Estes	traços	característicos	poderiam	ser	as	comidas	típicas,	
as	vestimentas,	a	língua,	as	crenças,	as	músicas,	as	danças,	os	jo-
gos	etc.,	ou	seja,	tudo	que	foi	produzido	/	criado	/	fabricado	por	
uma	comunidade,	retirando-se	o	que	é	da	natureza.
No	entanto,	há	outro	entendimento	para	a	palavra	cultura.	
Uma	pessoa	tida	como	"culta"	geralmente	é	vista	como	uma	pes-
soa	que	possui	disposição	e	"qualidades	características	do	espírito	
'cultivado'"	(FORQUIN,	1993,	p.	11),	ou	seja,	uma	pessoa	que	estu-
dou	muito,	é	intelectual	ou	artisticamente	reconhecida,	podendo	
ser	classificada	como	possuidora	de	muita	cultura,	enfim,	quase	
um	ser	"inatingível".	
Para	este	texto,	vamos	nos	valer	do	primeiro	conceito	de	cul-
tura.	Ela	não	é	algo	que	apenas	se	perpetua,	de	forma	que	deve	
ser	vista	como	algo	que	se	modifica	continuamente,	que	é	ressig-
nificada:	
Quando	nos	apropriamos	do	termo	ressignificar,	queremos	apre-
sentar	a	idéia	de	que	o	tradicional	produto	cultural	é	paulatinamen-
te	modificado	por	intermédio	de	novos	significados	acrescentados	
por	 aqueles	 que	 se	 apropriam	do	 antigo,	 ou	 seja,	 ressignificar	 é	
ação	criativa	de	atribuir	novos	significados	ao	tradicional	(SCAGLIA,	
RANGEL,	2004,	p.	137).
Portanto,	é	necessário	compreendermos	o	dinamismo	cul-
tural	tanto	do	passado	quanto	do	presente	e	do	futuro,	pois	uma	
sociedade	que	consegue	manter	suas	tradições	culturais,	sem	se	
esquecer	do	presente	e	do	futuro,	possui	mais	chances	de	não	ser	
atropelada,	combatida	e	dominada	por	outras	culturas.	
Com	 essas	 observações	 em	mente,	 vamos	 conhecer,	 ago-
ra,	as	considerações	feitas	por	Herrero,	Fernandes	e	Franco	Neto	
(2006,	n.	p.),	autores	de	um	livro	que	nos	mostrou	a	realização	de	
umprojeto	audacioso	de	 resgate	de	 jogos	do	povo	Kalapalo,	do	
Alto	Xingu:	
© Jogos e Brincadeiras I62
Certamente	este	projeto	contribui	para	o	resgate	das	atividades	do	
povo	Kalapalo	e	porventura	dos	alto-xinguanos	de	modo	geral,	que	
correm	o	risco	de	extinção,	provavelmente	devido	ao	enfraqueci-
mento	nos	processos	tradicionais	de	transmissão	do	conhecimen-
to.	
Você	pode	perceber,	então,	a	importância	que	este	projeto	
de	resgate	de	jogos	teve	para	o	povo	Kalapalo.	Os	pesquisadores,	
ao	resgatarem	os	jogos,	resgataram	também	uma	parte	da	cultura	
desse	povo,	auxiliando	para	que	este	não	seja	extinto.	
Cultura, escola e jogo 
Há	certo	consenso	de	que	uma	das	funções	da	escola	é	a	de	
transmitir	cultura	a	seus	alunos.	Entretanto,	qual	seria	então	essa	
cultura,	 seria	 toda	a	que	é	produzida	pela	humanidade?	É	certo	
que	não.	Mas,	é	necessário	compreendermos	que,	embora	a	esco-
la	tenha	de	fazer	determinadas	opções,	ela	não	pode	se	esquecer	
de	 transmitir	um	acervo	cultural	predeterminado	e	chamado	de	
conteúdo.	
Sobre	esse	assunto,	vejamos	o	que	nos	diz	Forquin:	
Neste	sentido,	pode-se	dizer	perfeitamente	que	a	cultura	é	o	conte-
údo	substancial	da	educação,	sua	fonte	e	sua	justificação	última:	a	
educação	não	é	nada	fora	da	cultura	e	sem	ela.	Mas,	reciprocamen-
te,	dir-se-á	que	é	pela	e	na	educação,	através	do	trabalho	paciente	
e	continuamente	recomeçado	de	uma	tradição	docente	que	a	cul-
tura	se	transmite	e	se	perpetua:	a	educação	realiza	a	cultura	como	
memória	viva,	reativação	incessante	e	sempre	ameaçada,	fio	pre-
cário	e	promessa	necessária	da	continuidade	humana	(FORQUIN,	
1993,	p.	14).	
Atualmente,	tem	havido	a	discussão	de	quais	conteúdos	cul-
turais	deveriam	fazer	parte	do	acervo	que	a	escola	transmite,	pois	
muito	desse	conteúdo	não	tem	tido	significado	para	o	aluno.	Ele	
tem	procurado	outras	formas,	como	a	televisão	e	a	internet,	para	
aumentar	 seu	 conhecimento	 cultural,	 abandonando	por	 vezes	o	
que	é	ensinado	na	escola.	Por	outro	lado,	a	forma	como	os	con-
teúdos	têm	sido	tratados	também	não	fornece	um	atrativo	para	o	
aluno,	que	fica	desmotivado	e	é	até	capaz	de	abandonar	a	escola.
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Os	últimos	estudos	a	respeito,	realizados	pelo	Ministério	da	
Educação	e	Cultura,	culminaram	na	criação	dos	Parâmetros	Curri-
culares	Nacionais,	que	forneceram	uma	diretriz	para	todas	as	dis-
ciplinas,	inclusive	para	a	Educação	Física,	sobre	o	conhecimento	a	
ser	transmitido	pelas	escolas	brasileiras.	
Dessa	 forma,	 não	 é	 qualquer	 conhecimento	 que	 deve	 ser	
passado	pelos	professores,	mas	aquele	que	implique	a	formação	
do	cidadão	dito	educado.	
Estando	entendido	o	significado	de	cultura	e	seu	entrelaça-
mento	com	a	escola	e	a	educação,	vamos	a	outra	compreensão.	
Qual	seria	a	cultura	a	ser	transmitida	pela	Educação	Física?	Você	
já	parou	para	pensar	nisso?	O	que	você	acredita	que	transmitirá	e	
ajudará	a	reelaborar	com	seus	alunos	na	escola?	
Com	certeza,	você	deve	ter	pensado	nos	esportes.	É	quase	
impossível	 não	pensarmos	neste	 conteúdo	atualmente.	Mas	ele	
não	é	a	única	possibilidade.	Há	outros	conteúdos	que	são	tão	im-
portantes	quanto	o	esporte.	
Visto	que	a	dança,	a	ginástica,	a	luta	e	o	jogo	são	conteúdos	
conhecidos	desde	que	os	seres	humanos	começaram	a	viver	em	
grupo	ou	sociedade,	em	termos	culturais,	pode-se	afirmar	que	são	
esses	os	conteúdos	que	a	Educação	Física	deve	transmitir.	O	jogo,	a	
ginástica,	a	luta	e	as	danças	são	tão	antigos	quanto	a	humanidade.	
A	exceção,	no	caso	desses	conteúdos,	vem	do	esporte,	que	é	con-
siderado	uma	transformação	do	jogo,	criado	na	década	de	1920.	
Essas	formas	de	atividades,	embora	fossem	partes	da	Educa-
ção	Física,	só	foram	chamadas	de	cultura	corporal	de	movimento	
a	partir	de	estudos	de	Soares	et	al.	(1992);	Betti	(1992)	e	Bracht	
(1992),	 entre	 outros	 autores,	 que	 culminaram	 na	 apresentação	
dos	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	(PCNs),	documento	lança-
do	pelo	Ministério	 da	 Educação	e	 que	 fez	 uma	proposta	 para	o	
ensino	da	Educação	Física	no	Brasil	(BRASIL,	1997).	
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De	 acordo	 com	Galvão,	 Rodrigues	 e	 Sanches	Neto	 (2005),	
antes	disso,	a	esse	conjunto	de	conhecimentos,	acrescido	do	co-
nhecimento	sobre	o	corpo,	foram	dadas	algumas	denominações,	
tais	como:	cultura	física,	cultura	corporal	e	cultura	de	movimento.	
Resumidamente, os conteúdos mais reconhecidos da Educação 
Física, atualmente, são: ginástica, luta, atividades rítmicas e 
expressivas, conhecimento sobre o corpo, esporte e jogo. A 
capoeira merece destaque também nesse rol, por ser considerada 
um conteúdo exclusivamente brasileiro. 
Galvão,	Rodrigues	e	Sanches	Neto	 (2005,	n.	p.)	compreen-
dem,	ainda,	que	"[...]	a	Educação	Física	é	uma	prática	pedagógica	
que	trata	da	Cultura	Corporal	de	Movimento	[...]".	
Você	ainda	ouvirá	falar	muito	sobre	esse	assunto,	o	qual	será	
aprofundado	na	História	da	Educação	Física.	
Para	este	estudo,	o	conteúdo	a	ser	transmitido	na	escola	é	
o	jogo.	
Conforme	Scaglia	e	Rangel	(2004,	p.	85-86):	
Os	jogos,	brincadeiras	e	brinquedos	fazem	parte	do	cotidiano	das	
crianças	em	todos	os	países	e,	desde	que	o	ser	humano	vive	em	
grupos	 ou	 sociedades,	 os	 indícios	 de	 que	 brincavam	 são	 nume-
rosos.	Esta	afirmação	pode	ser	conferida	graças	à	arte	rupestre	e	
outras	fontes	e	documentos	históricos,	onde	são	narradas	formas	
de	 jogar.	 Segundo	Kishimoto	 (1993),	 por	exemplo,	 a	 amarelinha,	
empinar	papagaios	ou	jogar	pedrinhas	têm	registro	na	Grécia	e	no	
Oriente,	mostrando	a	universalidade	dos	jogos	infantis.
Os	jogos	e	as	brincadeiras	são	representações	que	as	crian-
ças	 fazem	de	seu	cotidiano.	Elas	 transferem	a	 realidade	em	que	
vivem	para	a	forma	simbólica,	ou	seja,	relacionam	de	forma	infan-
til	 o	que	veem	os	adultos	 fazendo.	As	 crianças	 "incorporam"	na	
brincadeira	a	cultura	em	que	nasceram	e	em	que	vivem.	
Se,	por	acaso,	as	crianças	mudam	de	cultura	(país,	cidade),	
acabam	 também	 aprendendo	 as	 formas	 de	 brincar	 do	 local	 em	
que	estão.	Imaginemos,	por	exemplo,	uma	criança	que	nasceu	no	
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Japão	e	viveu	lá	até	os	nove	anos.	Com	certeza,	ela	aprendeu	os	
costumes	da	região	em	que	morava.	Ao	se	mudar	para	outro	país	
(digamos	que	ela	tenha	vindo	para	o	Brasil),	acabará	aprendendo	
os	costumes	daqui.	Até	mesmo	a	língua	local	será	aprendida	com	
mais	facilidade	se	essa	criança	brincar	com	crianças	brasileiras.	
Embora	 não	 possamos	 afirmar	 embasados	 em	 pesquisas,	
cremos	que	as	brincadeiras	 influenciam	muito	na	aprendizagem,	
de	 forma	que	as	crianças	aprendem	com	mais	 facilidade	os	cos-
tumes	de	outros	países	do	que	os	adultos	brincando.	Você	deve	
conhecer	alguém	cujos	avós	vieram	de	outro	país.	Geralmente,	os	
filhos	e	netos	falam	a	língua	local	e	a	língua	do	país	dos	avós,	mas	
os	avós	dificilmente	falam	o	português.	Isso	exemplifica	a	facilida-
de	que	crianças	e	jovens	possuem	em	se	adaptar.	
Atualmente,	 nas	 escolas,	 a	 cultura	 corporal	 de	 movimen-
to,	representada	pelo	jogo,	possui	maior	poder	de	transmissão	e	
transformação.	
Sobre	esse	assunto,	menciona	Rangel:	
Antigamente,	não	havia	a	preocupação	educacional	de	se	transmi-
tir	estes	jogos,	tendo	em	vista	que	eles	se	manifestavam	na	rua,	nos	
parques,	dentro	das	casas	etc.	Isto	muda	de	figura	na	medida	em	
que	em	diversos	países,	onde	o	aumento	populacional	das	zonas	
urbanas	tem	sido	constante,	tem	havido	uma	redução	dos	espaços	
antes	reservados	às	crianças	para	brincarem	(RANGEL,	2007,	p.	86).
Como	já	não	dá	para	brincar	na	rua	como	antigamente,	en-
tão	as	crianças	passaram	a	brincar	na	escola	 (Figura	1).	As	aulas	
de	 Educação	 Física,	 a	 entrada	 e	 a	 saída	 da	 escola	 e	 o	 intervalo	
(recreio)transformam-se	 em	poderosos	 agentes	 de	 transmissão	
cultural	dos	jogos.	Qualquer	bolinha	de	papel,	elástico,	pedrinha,	
papel	e	caneta	assumem	a	vez	de	um	brinquedo.	
© Jogos e Brincadeiras I66
Figura	1	Aula de Educação Física. 
6. JOGO E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO
Na	realidade,	os	 jogos	não	são	exclusividades	da	Educação	
Física,	 visto	que	muitos	 componentes	 curriculares	ou	disciplinas	
o	utilizam	como	estratégia	de	ensino.	E	aí	está	a	diferença:	para	
as	outras	disciplinas,	os	jogos	são	uma	estratégia	de	ensino;	para	
a	 Educação	 Física,	 eles	 são	 considerados	 estratégia	 e	 conteúdo,	
meio	 e	 fim	 da	 aprendizagem.	 Essa	 observação	 é	 extremamente	
importante,	já	que	diferencia	os	jogos	e	seu	aprendizado	para	nós.	
Na	Matemática,	por	exemplo,	os	educadores	utilizam	jogos	
para	 fixar	ou	até	mesmo	 fazer	que	os	alunos	compreendam	de-
terminados	 conceitos	 e	 aplicações.	 Tal	 procedimento	 também	é	
usado	por	educadores	de	outras	disciplinas,	como	a	Língua	Portu-
guesa,	a	História,	a	Geografia	etc.	
Para	Freire	(2004,	p.	102):	
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Um	 fato	notável	 quanto	ao	 jogo	 como	o	entendemos	na	Educa-
ção	 Física	 é	 que	 se	 trata	 de	 um	dos	 poucos	 conteúdos	 que	 não	
são	produzidos	especificamente	para	a	escola.	Explico	melhor:	os	
conteúdos	das	demais	disciplinas	são,	de	modo	geral,	produções	
preparadas	especialmente	para	 ser	 ferramentas	escolares,	mate-
rial	didático.	Essas	disciplinas	são	integradas	pelas	produções	cien-
tíficas	nas	mais	diversas	áreas.	Há	um	entendimento	generalizado,	
segundo	 o	 qual	 os	 conteúdos	 das	 ciências	 devem	 ser	 ensinados	
aos	alunos	didaticamente,	isto	é,	de	forma	que	possam	ser	veicu-
lados	em	linguagem	escrita,	falada	ou	em	imagens	de	diversos	ti-
pos,	acessíveis	ao	entendimento	dos	alunos	em	cada	período	de	
desenvolvimento.	Aos	poucos,	conteúdos	não	científicos,	como	os	
da	religião,	cultura	popular,	senso	comum	perdem	espaço	nas	 li-
ções	escolares.	O	que	se	ensina	em	nosso	sistema	educacional	não	
é	exclusivamente	o	resultado	da	produção	científica,	mas	este	re-
cebe	privilégio	inegável	sobre	todos	os	demais.	Quando	chegam	à	
escola,	os	conteúdos	científicos	chegam	formatados	para	o	ensino	
escolar,	isto	é,	adequados	didaticamente.	
Já	 na	 Educação	 Física,	 não	 só	 podemos	 trabalhar	 com	 os	
jogos	para	 fixar	ou	ensinar	determinado	 conhecimento	 (como	a	
ética,	a	cultura,	uma	habilidade	motora	ou	o	conceito	de	regras),	
como	podemos,	também,	ensinar	o	jogo	pelo	jogo	(aprender	a	fa-
zer	e	a	se	divertir	com	ele).	É	fácil	entendermos	isso:	se	retirarmos	
os	 jogos,	 esportes,	 danças	 e	 lutas	 que	podem	auxiliar	 as	 outras	
disciplinas,	 elas	 continuam	a	 ter	 conteúdos;	 se	os	 retirarmos	da	
Educação	Física,	ficaremos	sem	conteúdos,	pois	estes	são	os	nos-
sos	representantes.	
No	entanto,	temos	de	dizer	que,	muitas	vezes,	utilizamos	os	
jogos,	esportes	etc.	como	um	meio	quando	aproveitamos	para	tra-
balhar	a	cooperação,	a	cidadania,	a	coeducação,	entre	outros.	
Mas	voltemos	a	falar	sobre	o	jogo.	Fazendo	parte	da	cultura	
corporal	de	movimento,	o	jogo	pode	ser	um	conteúdo	riquíssimo	
e	de	fácil	aprendizado.	
Mas,	certamente,	você	deve	estar	se	perguntando:	por	que	
os	jogos	são	tão	fáceis	de	serem	ensinados?	Parte	desta	resposta	
está	no	fato	de	que,	antes	de	nos	tornarmos	adultos	e	professo-
res,	fomos	crianças.	Como	crianças,	brincamos	e	jogamos	muito.	
© Jogos e Brincadeiras I68
Fizemos	tudo	que	uma	criança	normalmente	faz:	acorda	e	brinca;	
almoça	e	brinca;	 vai	para	a	escola	e	brinca;	 toma	banho	e	brin-
ca.	Em	nossa	infância,	aprendemos	os	jogos	e	brincadeiras	de	rua,	
brincamos	 de	 casinha	 e	 de	motorista,	 jogamos	 com	brinquedos	
inventados	por	nós	e	manufaturados,	brincamos	com	o	cachorro	
e	brigamos	com	quem	vinha	nos	chamar	para	dormir,	afinal:	tínha-
mos	acabado	de	começar	a	brincar!	
Por	termos	passado	pela	experiência	de	brincar	e	jogar,	não	
é	tão	complicado	assim	aprender	outro	jogo,	bem	como	não	é	difí-
cil	ensiná-lo.	Aliás,	outra	facilidade	do	jogo	consiste	em	"jogar	para	
aprender",	 isto	é,	 vamos	aprendendo	 conforme	vamos	 jogando.	
É	claro	que,	se	o	jogo	possui	muitas	regras,	elas	não	serão	total-
mente	assimiladas	na	primeira	vez	em	que	jogarmos.	Dessa	forma,	
jogamos,	jogamos,	jogamos	...	e	aprendemos	o	jogo.
Segundo	Rangel	(2007),	há,	ainda,	outros	facilitadores	para	o	
ensino	desse	conteúdo	na	escola.	Veja-os:	
1)	 Não	 exigem,	 em	 geral,	 espaço	 ou	material	 sofisticado	
(embora	possam	existir	jogos	com	tais	exigências).	
2)	 Podem	variar	em	complexidade	de	regras,	ou	seja,	de-
pendendo	da	faixa	etária	e	aptidão	dos	jogadores,	o	jogo	
pode	 ser	 jogado	 com	poucas	 regras	 ou	 com	 regras	 de	
altíssimo	nível	de	complexidade.	
3)	 Podem	ser	praticados	em	qualquer	faixa	etária	e	por	me-
ninos	e	meninas	ao	mesmo	tempo.	
4)	 São	divertidos	e	prazerosos	para	os	seus	participantes	(a	
menos	que	sejam	levados	a	extremos	de	competição	ou	
de	função).	
5)	 São	aprendidos	pelo	método	global,	diferentemente	do	
esporte	 que,	 geralmente,	 é	 aprendido	 /	 ensinado	 por	
partes.	
Ao	contrário	do	esporte,	em	um	grande	jogo	aprendemos	jo-
gando,	não	se	explicam	nem	se	"treinam"	as	partes	para	depois	se	
jogar.	A	graça	de	se	aprender	o	jogo	está,	justamente,	em	jogá-lo.	
Não	se	aprende,	por	exemplo,	a	arremessar	para	depois	se	apren-
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
der	a	jogar	queimada;	o	arremesso	é	aprendido	durante	o	jogo	e,	
se	este	deve	ser	mais	forte	ou	mais	fraco,	em	determinada	direção,	
para	cima	ou	para	baixo,	é	o	contexto	do	jogo	que	vai	determinar.	
Isso	não	significa	que,	em	algum	momento,	não	se	possa	pa-
rar	o	jogo	e	tentar	melhorar	um	arremesso	para	depois	voltar	ao	
jogo.	No	entanto,	essa	opção	pode	partir	dos	próprios	alunos	(com	
a	ajuda	do	professor,	é	claro).	
Os	jogos	coletivos	foram	criados	desta	maneira:	as	pessoas	
aprendiam	jogando.	Somente	mais	tarde,	com	o	aprimoramento	
técnico	e	o	uso	de	recursos	científicos,	passou-se	a	ensinar	/	apren-
der	utilizando	processos	analíticos	de	decomposição	das	partes.	
Infelizmente,	ainda	existem	muitos	professores	que	utilizam	ape-
nas	o	método	analítico	para	ensinar	um	jogo	esportivo,	quando	há	
a	possibilidade	de	aprendê-lo	também	por	meio	de	jogos.	
Heinz	e	Rothenberg	(1984),	em	seu	livro	Ensino de jogos	es-
portivos,	demonstram	como	sair	de	um	pega-pega	e	atingir	os	qua-
tro	principais	 esportes	praticados	no	país:	 futebol,	 basquetebol,	
handebol	e	voleibol.	
Na	cultura	corporal	de	movimento,	os	 jogos	ocupam	 lugar	
de	destaque	na	Educação	Infantil	e	no	Ensino	Fundamental	(da	1ª	
à	4ª	série).	Por	que	será	que	isso	acontece?	Se	observarmos	nos-
so	acervo	cultural	de	jogos,	entenderemos	o	porquê.	As	crianças	
brincam	espontaneamente	na	 infância	para	apreender	 a	 cultura	
de	seu	contexto,	do	local	onde	vivem,	correto?	Assim,	os	jogos	e	
as	brincadeiras	tidos	como	"populares,	de	infância,	de	rua	ou	tra-
dicionais"	são	seus	preferidos.	
As	regras	desses	jogos	populares	não	são	difíceis	e	vão	au-
mentando	 de	 complexidade	 à	 medida	 que	 a	 compreensão	 das	
crianças	também	vai	melhorando.	Conforme	elas	crescem,	preci-
sam	de	desafios	maiores	e	passam	a	abandonar	os	jogos	de	infân-
cia,	 pois	 estes	 não	 requerem	mais	 tantas	 habilidades	 ou	pensa-
mento	complexo.	Elas	passam	a	gostar	mais	dos	esportes,	que	são	
jogos	mais	elaborados.	Observe,	no	entanto,	que	estamos	tratan-
do	de	jogos	em	si,	não	dos	outros	conteúdos	que	devem	ser	tão	
trabalhados	quanto	os	jogos.
© Jogos e Brincadeiras I70
No	caso	citado	anteriormente,	qual	seria,	então,	a	possibi-
lidade	de	se	trabalhar	com	os	jogos	em	idades	maiores?	Quais	as	
vantagens	e	desvantagens?	Queremos	quevocê	já	comece	a	pen-
sar	nesse	assunto,	o	qual	será	discutido	na	Unidade	6.	Por	ora,	bas-
ta	resumir	que	a	cultura	corporal	de	movimento	possui	um	grande	
acervo	de	jogos	infantis,	pois	são	representativos	de	uma	cultura	
da	infância	que	os	utiliza	para	apreender	seu	contexto.	
No	 início	 da	 presente	 unidade,	 dissemos	 que	 você	 iria	 se	
lembrar	dos	 jogos	de	sua	 infância.	Pois	bem,	aqui	está	um	caça-
-palavras	 (Figura	2)	 com	15	nomes	de	 jogos	 e	brincadeiras	que,	
provavelmente,	você	praticou	em	sua	infância.	Procure	por	eles	e	
divirta-se!	
Figura	2	Caça-palavras.	
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
Quando	trabalhamos	com	jogos	infantis	da	cultura	popular,	
temos	que	compreender	que	eles	são	representativos	de	determi-
nada	cultura,	em	seu	tempo	e	espaço,	e	que	são	sempre	ressigni-
ficados.	Scaglia	e	Rangel	(2004,	p.	137-138)	explicam-nos	como	se	
dá	esse	processo:	
As	brincadeiras	tradicionais	infantis,	em	especial	as	de	pega-pega,	
podem	nos	 servir	 como	bons	 exemplos	 ilustrativos	 para	 explicar	
esse	dinâmico	processo	de	ressignificação	dos	jogos	/	brincadeiras.	
Não	se	sabe,	e	nunca	se	saberá,	quem	inventou	os	jogos	/	brinca-
deiras	de	Pega-pega,	mas	pode-se,	partindo	de	estudos	especula-
tivos	de	certos	autores	como	Kishimoto	(1993)	e	Brougère	(1989),	
inferir	que	essa	brincadeira	remonta	aos	tempos	da	pré-história.	
Isto	é	passível	de	confirmação	quando,	ao	se	estudar	os	jogos	tra-
dicionais	infantis,	se	nota	que	esses	representam	simbolicamente	a	
sociedade	em	que	estão	inseridos.	
Considerado	como	parte	da	cultura	popular,	o	jogo	tradicional	guar-
da	a	produção	espiritual	de	um	povo	em	certo	período	histórico.	
Essa	 cultura	não	oficial,	desenvolvida,	 sobretudo,	pela	oralidade,	
não	fica	cristalizada.	Está	sempre	em	transformação,	incorporando	
criações	anônimas	das	gerações	que	vão	se	sucedendo	(KISHIMO-
TO,	1993,	p.	15).	
Logo,	o	pega-pega	pode,	especulativamente,	representar	um	jogo	
de	caça	e	caçador	–	as	crianças	representando	em	suas	brincadei-
ras	o	ato	de	caçar,	tanto	dos	humanos	quanto	entre	os	animais.	As	
crianças	desejando,	como	sempre,	imitar	o	mundo,	transformaram	
essa	atividade	de	caçar	em	jogo	/	brincadeira.	Simbolicamente,	re-
vivem-na	correndo	umas	atrás	das	outras,	imitando	seus	pais.	Essa	
brincadeira,	à	medida	que	o	tempo	passa,	vai	 incorporando	cria-
ções	de	outras	gerações,	que	utilizam	as	brincadeiras	para	tentar	
entender	o	mundo	à	sua	volta,	ou	brincar	com	ele,	almejando	um	
dia	vivê-lo.
Segundo	Elkonin	(1998),	atualmente,	todos	devem	reconhecer	que	
o	conteúdo	do	jogo	infantil	está	relacionado	com	a	vida,	o	trabalho	
e	a	atividade	dos	membros	adultos	de	uma	sociedade.
A	brincadeira	de	pega-pega	incorporou	variações	à	medida	que	a	
sociedade	à	sua	volta	se	modificava	e,	em	cada	variação,	novas	par-
ticularidades	surgiam.	Foi	dessa	forma	que	surgiu	o	pique-bandei-
ra,	representação	fiel	de	uma	batalha,	onde	se	tem	que	invadir	o	
campo	de	batalha	adversário,	penetrar	em	seu	reino,	para	capturar	
a	bandeira	–	que	simboliza	o	reino.	
© Jogos e Brincadeiras I72
Bruegel,	pintor	que	viveu	no	século	16,	deixou-nos	uma	obra	
inestimável:	 o	 quadro	 Jogos infantis,	 pintado	 em	 1560,	 ilustra-
do	na	Figura	3.	Nele,	 são	 retratadas	84	brincadeiras,	nem	todas	
conhecidas	atualmente.	O	 interessante	é	que,	nessa	obra,	quem	
brinca	são	adultos.	O	que	estaria	querendo	nos	dizer	o	pintor?	Não	
sabemos	exatamente.	No	entanto,	algumas	considerações	podem	
ser	feitas,	como,	por	exemplo:	independentemente	da	idade,	to-
dos	nós	podemos	brincar!	
Qual	a	sua	opinião?	
Figura	3	Jogos infantis, quadro de Brugel. 
7. JOGOS CULTURALMENTE ANALISADOS
Nem	todos	os	jogos	que	o	professor	utilizará	serão	jogos	que	
traduzem	uma	cultura.	Por	exemplo,	os	jogos	criados	para	resolver	
problemas	de	exclusão	entre	os	gêneros,	os	jogos	sem	contato	fí-
sico,	os	jogos	para	locais	de	pouco	espaço,	enfim,	são	jogos	utiliza-
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© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
dos	como	meio	para	resolução	de	algo	que	esteja	atrapalhando	o	
ensino	e,	geralmente,	são	criados	pelo	professor	ou	pelos	alunos.	
Isso,	entretanto,	não	significa	que	esses	jogos	não	possam	ter	uma	
influência	da	cultura.	
É	claro	que,	na	escola,	entram	apenas	os	conteúdos	aceitos	
pela	sociedade.	Os	conteúdos	"rejeitados",	não	escolhidos,	discri-
minados,	são	excluídos.	Assim,	utilizamos	uma	parcela	dos	conte-
údos	e	fazemos	opções	que	vão	da	preferência	do	próprio	profes-
sor	ao	objetivo	do	contexto	escolar.	Mas,	em	se	tratando	de	jogos,	
quais	seriam,	então,	os	conteúdos	culturalmente	escolhidos?	
Dentre	as	possíveis	respostas	para	a	questão	anterior,	está	o	
exemplo	dos	jogos	tradicionais,	que	já	começam	a	ser	esquecidos	
pela	atual	geração.	Outra	possibilidade	seria	a	escolha	dos	jogos	
provindos	de	outras	culturas.	
Você	deve	estar	se	perguntando:	o	que	existe	de	importante,	
a	ponto	de	analisarmos	os	jogos	de	outras	culturas?	Quais	seriam	
essas	possibilidades	dentro	da	escola?	São	elas:	
•	 Verificar	as	semelhanças	e	as	diferenças	com	a	nossa	cul-
tura.	
•	 Verificar	 como	 os	 demais	 povos,	 que	 são	 diferentes	 de	
nós,	resolvem	seus	problemas	sociais	e	como	as	crianças	
os	incorporam	ou	os	questionam	por	meio	dos	jogos.	
•	 Valorizar	o	que	há	de	bom	em	outras	culturas.	
Para	fazermos	uma	análise,	podemos	optar	por	uma	catego-
ria	de	jogos	(com	bola,	de	perseguição,	com	corda,	sem	material,	
de	tabuleiro,	entre	outros)	a	fim	de	mostrar	que	em	cada	cultura	
eles	se	modificam.	Para	tanto,	vamos,	agora,	utilizar	alguns	exem-
plos	de	jogos	de	perseguição	e,	a	seguir,	jogos	com	bola,	e	tentare-
mos	analisar	como	e	em	qual	cultura	eles	aparecem.	
Iniciaremos	 com	a	 análise	de	um	 jogo	praticado	no	Brasil.	
Trata-se	da	cabra-cega.	Conforme	a	região	do	país,	há	uma	forma	
específica	 de	 se	 cantar	 uma	 "ladainha"	 que	 inicia	 a	 brincadeira.	
© Jogos e Brincadeiras I74
De	acordo	com	observações	de	Rodrigo	Caro	(apud	FRIEDMANN,	
2004,	p.	32-34),	"cabra-cega	era	um	jogo	popular	entre	as	crianças	
da	Roma	Imperial.	Ademais,	é	encontrado,	também,	em	documen-
tos	da	Idade	Média	e	do	Renascimento,	e	veio	para	o	Brasil	com	os	
portugueses	e	os	espanhóis".	
Cabra-cega
•	 Número	de	participantes:	três	ou	mais	jogadores.	
•	 Local	adequado:	ao	ar	livre.	
•	 Regra	 do	 jogo:	 dispõem-se	 as	 crianças	 em	 círculo,	 den-
tro	do	qual	permanecerá	um	jogador	de	olhos	vendados,	
a	cabra-cega.	Dado	o	sinal	de	início,	as	crianças	da	roda	
perguntam:	
–	Cabra-cega	de	onde	vieste?	
–	Do	moinho	de	vento.
–	Que	trouxeste?	
–	Fubá	e	melado.	
–	Dá-nos	um	pouquinho?	
–	Não.
–	Então,	afasta-te.	
As	crianças	largam	as	mãos	e,	espalhadas	pelo	campo,	deve-
rão	 fugir	da	cabra-cega	desafiando-a,	 sem	tocá-la.	Esta,	ouvindo	
os	desafios,	tentará	pegá-los.	Quando	conseguir	tocar	em	um	dos	
participantes,	tirará	a	venda	e	escolherá	uma	criança	substituta.	O	
jogo	termina	com	a	substituição	da	cabra-cega.	
Há	variações	da	música,	de	acordo	com	as	regiões,	embora	
as	regras	sejam	as	mesmas:	
Em Natal 
–	Cabra-cega	de	onde	vens?	
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© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
–	Do	moinho.
–	Que	trazes?	
–	Pão	e	vinho.	
–	Me	dá	um	pouquinho?	
–	Não.	
–	Gulosa,	gulosa.	
–	Que	é	que	traz	na	cesta?	
–	Cravo	e	canela.	
–	Bumba	nela.	
Em Minas
–	Cabra-cega?	
–	Senhor?	
–	De	onde	vieste?	
–	De	trás	da	serra.	
–	Que	trouxeste?	
–	Um	saquinho	da	farinha.	
–	Dá-me	um	bocadinho?	
–	Não	chega	pra	mim	mais	minha	velha.	
Em Piauí
–	Cabra-cega	de	onde	vens?	
–	Do	quartel.	
–	Que	trazes	de	bom:	ouro	ou	prata?	
Se	responder	"prata":	
–	Come	casca	de	barata.	
Se	responder"ouro":	
© Jogos e Brincadeiras I76
–	Come	casca	de	besouro.	
Na Bahia 
–	Cabra-cega	de	onde	vens?	
–	Do	sertão.	
–	O	que	trouxe?	
–	Requeijão!	
A	versão	portuguesa	era	assim:	
–	Cabra-cega	de	onde	vens?	
–	Da	Vizela	(ou	Castela).	
–	Que	trazes	na	cesta?	
–	Pão	e	canela.	
–	Dás-me	dela?	
–	Não,	que	é	pra	mim	e	pra	minha	velha.	
–	Zigue-tenela	(fingindo	beliscar	a	cabra-cega).	
Ao	 verificarmos	 as	 ladainhas,	 podemos	 observar	 que,	 em	
cada	 região,	muda	o	que	a	 cabra-cega	está	escondendo	 (fubá	e	
melado,	pão	e	vinho,	cravo	e	canela	etc.).	É	interessante	perceber	
que	o	"escondido"	é,	geralmente,	algo	bem	original	de	cada	estado	
(Bahia	–	requeijão,	Piauí	–	ouro	e	prata,	Minas	Gerais	–	farinha).	
Não	 temos	 provas,	mas,	 talvez,	 o	 requeijão	 relacione-se	 à	
Bahia,	onde	é	bastante	utilizado,	sendo	um	tipo	de	queijo	coalho,	
já	a	farinha	de	Minas	Gerais	pode	ser	o	polvilho	utilizado	para	o	
pão	de	queijo,	enquanto,	no	Piauí,	até	hoje	se	vive	da	extração	do	
ouro.	
Em	suas	futuras	aulas,	você	poderá	escolher	alguns	jogos	e	
brincadeiras,	aplicá-los	e	solicitar	uma	pesquisa	a	seus	alunos	so-
bre	a	origem	desses	jogos.	Poderá	fazer	o	inverso	também:	solici-
tar	que	as	crianças	façam	uma	pesquisa	e	apresentem-na	em	aula,	
na	qual	poderão	fazer	a	atividade.	
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© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
Veremos,	agora,	o	texto	"Jogo	chinês",	traduzido	de	Orlick.	
Jogo Chinês – Os dragões –––––––––––––––––––––––––––––
É certo que a China, quase sempre, está associada a dragões. Neste jogo, 
portanto, um grupo de crianças forma um "dragão", passando seus braços ao 
redor da cintura da pessoa da frente. A cabeça do dragão (representada pela 
primeira pessoa da fila) tenta pegar o rabo (representado pela última pessoa da 
fila), caso consiga, o dragão canta uma canção e dança, as crianças trocam suas 
posições e começam, assim, um novo dragão. 
Normalmente, para se formar um dragão é necessário cerca de dez crianças 
e, algumas vezes, este jogo pode ocorrer dentro de uma área restrita de até 10 
metros quadrados (ORLICK, 1978, n. p.). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe	a	Figura	4,	que	representa	o	jogo	retratado.	
Figura	4	Jogo chinês.	
Embora	 não	 conheçamos	 muitos	 dos	 costumes	 chineses,	
é	fato	que	os	dragões	são	figuras	extremamente	representativas	
desta	cultura.	Não	é	de	se	estranhar,	portanto,	que	as	crianças	re-
tratem	esse	costume	em	suas	brincadeiras.	
Outro	jogo	muito	parecido	vem	de	Maputo,	capital	de	Mo-
çambique.	
© Jogos e Brincadeiras I78
Nele	jogam	meninas	de	8	a	13	anos,	em	um	espaço	aberto,	
sem	uso	de	material.	A	descrição	do	jogo,	de	acordo	com	Prista,	
Tembe	e	Edmundo	(1992,	p.	48-49),	é	a	seguinte:	
Jogo de Moçambique –––––––––––––––––––––––––––––––––
DISPOSIÇÃO INICIAL: As jogadoras formam uma coluna, agarrando-se umas às 
outras pela cintura. Uma jogadora fora da coluna (a ladra) coloca-se em frente 
da mesma. 
DESENVOLVIMENTO: A primeira jogadora da coluna representa a Mãe que 
protege os seus filhos. A jogadora que se faz de Ladra vai "roubar" as filhas, 
segundo o processo que se descreve: 
A jogadora Mãe canta: 
Mamana ntxengo ntxengo! vana vanga va hela! va hela hi chirobo! 
(as minhas filhas vão ser todas roubadas, serão todas levadas atrás de mim) 
A cada verso as filhas respondem em coro: 
Hyou Mamana Nichengo-Nchengo! 
Depois do último verso, a Mãe pergunta: 
– Hala Nike (e ali?) 
Ao que as filhas respondem: 
– Hala ni hala se ni sivile (aqui e ali eu fechei) 
Após esta canção, a Ladra começa a "roubar" uma a uma, isto é, vai tentar 
agarrar a última da fila sob a oposição da Mãe, que abre os braços e desloca-se 
juntamente com a coluna de "filhas". 
Mesmo que com alguma oposição, a desvantagem da Mãe é muito grande, pelo 
que a Ladra acaba sempre por conseguir roubar todas as filhas que vão sentar 
em fila e de pernas cruzadas. Quando todas as filhas foram apanhadas, troca-se 
de mãe e ladra. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Você	notou	a	 semelhança	entre	as	brincadeiras?	Podemos	
então	dizer	que	em	vários	países	 existem	semelhanças	entre	os	
jogos	e	brincadeiras,	 fruto	talvez	das	constantes	andanças	/	mu-
danças	de	região	habitacional	dos	seres	humanos?	Você	conhece	
outra	 brincadeira	 parecida	 com	 essa,	 que	 possa	 descrever	 para	
seus	colegas	no	Fórum?	
O	próximo	jogo	a	ser	analisado	chama-se	"Negação	de	 im-
posto",	trazido	também	de	Moçambique.	A	descrição	desse	jogo,	
conforme	Prista,	Tembe,	Edmundo	(1992,	p.	44),	é	a	seguinte:	
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Negação de Imposto ––––––––––––––––––––––––––––––––––
Local de recolha: Niassa.
Modelo de Jogo: Um x todos. 
Idade: 10 aos 13 anos. 
Sexo: Masculino e Feminino. 
Participantes: Vários. 
Material: Nenhum. 
Terreno de jogo: Área livre. 
Dois grandes círculos desenhados no chão e distanciados a aproximadamente 
7 metros. 
Disposição inicial: Um jogador é colocado dentro de um dos círculos e os 
restantes no outro. 
Desenvolvimento: O jogador que está sozinho simboliza o "sipaio" e os restantes 
a "população". Entre o sipaio e a população estabelece-se o seguinte diálogo: 
Sipaio: Meus amigos, venham cá! 
População: Temos medo. 
Sipaio: Medo de quê? 
População: Do imposto. 
Sipaio: Podem vir, não há problema. 
Após esta última frase, os jogadores saem do círculo e o "sipaio" vai agarrar 
um qualquer à sua escolha. A "população" refugia-se no círculo onde estava o 
"sipaio", e este por sua vez leva o elemento que foi agarrado para o círculo 
contrário. 
A partir daqui o processo repete-se, mas os elementos que forem agarrados 
passam a se fazer de "sipaios", aumentando, assim, o número de elementos a 
agarrar e diminuindo os que estão a fugir. 
Fim: O jogo termina quando todos os jogadores tiverem sido agarrados. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Esse	jogo,	"Negação	de	imposto",	é	um	dos	que	os	pesqui-
sadores	portugueses	Prista,	Tembe	e	Edmundo	(1992)	recolheram	
em	Moçambique.	Podemos	perceber	que	o	jogo	imita	a	realidade,	
tendo	em	vista	que	Moçambique	foi	colonizada	pelos	portugueses	
e	que,	talvez,	na	época	da	criação	do	jogo,	os	adultos	pagassem	
o	imposto	colonial	e	reclamassem	disso.	Dessa	forma,	é	possível	
inferir	que	as	crianças	lidavam	com	essa	questão,	fingindo	enganar	
o	cobrador	de	impostos.	
Existem	muitos	jogos	que	possuem	a	mesma	estrutura	que	
esta,	como,	por	exemplo,	Gavião,	no	qual	também	se	canta	uma	
ladainha	e	o	gavião	tenta	pegar	os	pintinhos	que	atravessam	um	
determinado	espaço,	segundo	Friedmann	(2004).	
© Jogos e Brincadeiras I80
Vamos,	agora,	analisar	o	jogo	"Base	quatro".	Embora	não	sai-
bamos	a	origem	do	"Base	quatro",	ele	é	um	jogo	muito	popular	em	
São	Paulo,	sendo	uma	adaptação	do	beisebol.	
Jogo Base Quatro ––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Inicialmente, o grupo é dividido em duas equipes. Uma delas (a equipe A) perma-
nece em coluna atrás de uma base. O jogo acontece em um espaço geralmente 
grande, com quatro bases demarcadas nos cantos, em forma de círculo ou de 
quadrado, e uma no centro. 
Os integrantes da outra equipe (da equipe B) espalham-se pelo local. 
A equipe em coluna recebe um taco e o professor fica em frente à coluna, de 
posse de uma bola. 
Coluna – um aluno atrás do outro. 
Fileira – um aluno ao lado do outro. 
O professor lança essa bola para o primeiro aluno que está em pé, atrás da base 
de número um. 
Este aluno deverá rebater a bola (terá apenas três tentativas para acertá-la), 
largar o taco no chão e sair correndo, percorrendo as demais bases. 
Enquanto isso, os alunos que estão espalhados tentarão pegar a bola e parar o 
aluno que está percorrendo as bases. 
Como isso poderá acontecer? Comoparar o aluno que está correndo? Há três 
formas: 
"Queimando" o aluno, isto é, jogando a bola contra o corpo do jogador que está 
correndo. 
"Queimando" a base que está diante do aluno que está percorrendo as bases. 
Por exemplo, se ele estiver na base de número dois, tentando alcançar a de nú-
mero três, deve-se queimar esta. 
Encostando a bola no centro, o que significa parar o adversário. 
Esse deve retornar para a base em que acabou de passar. Cada vez que este 
aluno consegue passar pelas quatro bases, a equipe recebe um ponto. 
Quando um aluno para de correr, o professor arremessa a bola para o segundo 
aluno da coluna (equipe A). Então, este aluno tentará, também, realizar a corrida 
pelas quatro bases. 
Se algum outro jogador estiver parado em uma das bases, também deverá sair 
correndo, tentando completar a corrida pelas quatro bases. 
Você poderá perguntar: quando a outra equipe começará a rebater? 
Há duas formas: 
a) Se alguém da equipe adversária pegar a bola no ar e não deixá-la cair.
b) Ao final de um tempo determinado para a duração da rodada. 
Deve ser estipulado um tempo, por exemplo, de dez minutos, para que haja a 
troca de lugares. A cada troca de lugares, a coluna deve se organizar de acordo 
com a última rodada. 
Você poderá fazer também associação entre uma forma e outra de jogar. Pense 
nessas possibilidades. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
No	jogo	"Base	quatro",	muito	provavelmente,	cada	criança	
rebaterá	a	bola	de	uma	forma	diferente.	Pode	até	ser	que	crianças	
de	culturas	muito	diferentes	 rebatam	a	bola	de	 forma	parecida,	
mas	não	igual.	
As	crianças	norte-americanas	e	japonesas,	que	vivem	em	pa-
íses	onde	o	beisebol	é	bem	difundido,	certamente	apresentarão	
uma	forma	de	rebater	parecida	com	a	dos	rebatedores	profissio-
nais.	Conclui-se	que	um	movimento	corporal	é	 influenciado	pela	
cultura,	até	mesmo	quando	não	há	a	exigência	da	técnica.	
Mas,	vamos	analisar,	também,	outra	adaptação	do	beisebol.	
Mais	uma	vez,	veremos	um	jogo	compilado	de	Orlick	(1978,	n.	p.),	
que	estudou	diferentes	culturas,	procurando	observar	como	a	co-
operação	se	dava	por	meio	dos	jogos.	Apresentamos,	a	seguir,	o	
beisebol	do	Alasca.	
Beisebol do Alasca –––––––––––––––––––––––––––––––––––
Pode ser praticado em qualquer espaço ao ar livre. É igual ao beisebol, mas sem 
a necessidade de correr para as bases.
O grupo deve dividir-se em duas equipes: a equipe A, denominada "campo", e a 
equipe B, "batedor". 
Os componentes da equipe "batedor" colocam-se em coluna, enquanto a equipe 
"campo" permanece espalhada, preparando-se para receber a bola. 
O primeiro batedor deve arremessar uma bola de borracha o mais longe possível 
e correr ao redor de sua própria coluna. 
A equipe A tentará pegar essa bola. O primeiro membro da equipe que conseguir 
pegá-la para no lugar e os outros jogadores do campo colocam-se rapidamente 
em coluna atrás dele. 
Passa-se a bola por debaixo das pernas de toda a coluna. 
Quando a bola chegar ao último, este então grita "ALTO!" 
Neste instante, o jogador da outra equipe que estava correndo deve parar 
imediatamente. 
As equipes trocam de função. 
Quando os jogadores aprenderem corretamente o jogo, o arremesso, ora de uma 
equipe, ora de outra, pode ser feito rapidamente, sem se perder tempo, fazendo 
o jogo ficar bem dinâmico. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© Jogos e Brincadeiras I82
Essa	última	observação	nos	fornece	a	ideia	de	que,	sendo	o	
Alasca	um	local	extremamente	frio,	quanto	mais	dinâmico	o	jogo	
for,	melhor	será.	
Procure	responder	às	questões	a	seguir.	A	facilidade	ou	não	
em	respondê-las	lhe	dará	uma	ideia	de	quanto	incorporou	do	tex-
to.	
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:	
1)	 Por	meio	da	elaboração	de	um	conceito	de	cultura,	que	deverá	ser	constru-
ído	a	partir	do	 texto	estudado,	explique:	por	que	as	crianças	não	nascem	
sabendo	jogar?	
2)	 Qual	é	a	relação	que	você	pode	estabelecer	entre	uma	determinada	cultura	
e	as	possibilidades	que	uma	pessoa	tem	para	brincar?	Você	consegue	encon-
trar	exemplos	disso	no	texto?	
3)	 O	que	é	cultura	corporal	de	movimento?	Que	relação	ela	estabelece	com	o	
ensino	da	Educação	Física	na	escola?	
4)	 O	que	se	pode	ensinar	na	escola,	tendo	o	jogo	e	a	brincadeira	como	conteú-
dos	da	cultura	corporal	de	movimento?	
5)	 Depois	do	estudo	desta	unidade,	você	é	capaz	de	apontar	os	motivos	que	
facilitam	o	ensino	deste	conteúdo	nas	escolas?	
9. CONSIDERAÇÕES 
Há	duas	possibilidades	de	se	iniciar	o	trabalho	com	os	jogos:	
•	 O	professor	poderá	observar	os	jogos	que	as	crianças	re-
alizam	espontaneamente	e,	com	base	neles,	aprimorar	o	
conhecimento	dos	alunos.	
•	 O	professor	poderá	propor	jogos	que	as	crianças	não	co-
nheçam	ou	que	conheçam	pouco	e,	com	base	neles,	apri-
morar	o	conhecimento	dos	alunos.	
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Claretiano - Centro Universitário
© U2 – O Jogo como Componente da Cultura Corporal de Movimento
Por	ora,	esperamos	que	você	tenha	compreendido	a	impor-
tância	de	se	trabalhar	o	conteúdo	jogo,	com	base	em	uma	visão	da	
cultura	e	da	cultura	corporal	de	movimento.	
Os	exemplos	aqui	citados	refletem	como	a	cultura	de	jogos	
modifica-se	a	todo	instante,	representando,	assim,	o	que	a	socie-
dade	vive.	Analisar	a	história	dos	jogos,	bem	como	a	História,	em	
geral,	faz	que	revivamos	um	passado	que,	com	certeza,	influencia-
rá	nosso	futuro.	Você	concorda	com	essa	afirmativa?	
Você	poderá	discutir	com	seus	colegas	de	curso	sobre	as	ob-
servações	realizadas	nesta	unidade,	concordando	ou	discordando	
delas.	O	importante	é	formar	sua	própria	opinião.	Você	poderá,	a	
partir	de	agora,	observar	crianças	(e	adultos)	brincando	e	tentar	
refletir	sobre	o	que	está	acontecendo.	
Compare	 as	 brincadeiras	 atuais	 e	 as	 da	 sua	 infância.	 Algo	
mudou?	Em	caso	positivo,	 tente	pensar	no	que	 foi	 alterado	e	o	
que	isso	representa.	
Enfim,	quando	estudamos	algo	com	um	pouco	mais	de	pro-
fundidade,	mudamos	 nossa	 forma	 de	 pensar	 e,	 até	mesmo,	 de	
agir.	Dessa	forma,	é	possível	que	você	veja	os	jogos	de	forma	dife-
rente	a	partir	de	agora.	Mas	isso	não	impedirá	que	eles	continuem	
lhe	proporcionando	prazer	e	representando	uma	magia	única:	a	de	
simplesmente	jogar!	
10. E-REFERÊNCIAS 
Lista de figuras 
Figura 1 Aula de Educação Física.	 Disponível	 em:	 <http://www.educacional.com.br/
upload/blogSite/4673/4673066/11665/Sabrina_1308_251.jpg>.	 Acesso	 em:	 29	 fev.	
2012.	
Figura 3 Jogos infantis, quadro de Brugel.	Disponível	em:	<http://www.english.emory.
edu/classes/paintings&poems/games.jpg>.	Acesso	em:	29	fev.	2012.	
Figura 4 Jogo chinês.	 Disponível	 em:	 <http://arquivochina.files.wordpress.
com/2007/03/07-02-10-0162-ano-novo-chines-pic-by-william-t-lee-dragao.jpg>.	 Acesso	
em:	29	fev.	2012.	
© Jogos e Brincadeiras I84
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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educação	física.	Brasília:	MEC/SEF,	1997.	
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ELKONIN,	D.	Psicologia do jogo.	São	Paulo:	Martins	Fontes,	1998.	
FORQUIN,	 J.	 C.	Escola e cultura:	 as	 bases	 sociais	 e	 epistemológicas	 do	 conhecimento 
escolar.	Porto	alegre:	Artes	Médicas,	1993.	
FREIRE,	J.	B.;	SCAGLIA,	A.	J.	Educação como prática corporal.	São	Paulo:	Scipione,	2003.	
FRIEDMANN,	A. A arte de brincar:	brincadeiras	e	 jogos	tradicionais.	Petrópolis:	Vozes,	
2004.	
GALVÃO,	Z.	A	construção	do	jogo	na	escola.	Revista	Motriz,	São	Paulo, v.	2,	n.	2,	p.	107-
110,	1996.	
GALVÃO,	 Z.;	 RODRIGUES,	 L.	 H.;	 SANCHES	 NETO,	 L.	 Cultura	 corporal	 de	 movimento.	
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pedagógica.	Rio	de	Janeiro:	Guanabara-Koogan,	2005.	
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1993.	
ORLICK,	T.	Libres para cooperar, libres para crear: nuevos	juegos	y	deportes	cooperativos.	
Barcelona:	Paidotribo,	1978.	
PRISTA,	A.;	TEMBE,	M.;	EDMUNDO,	H.	Jogos de Moçambique.	Portugal:	INEF,	1992.	
RANGEL,	 I.	C.	A.	 Jogos	e	brincadeiras	nas	aulas	de	Educação	Física.	 In:	DARIDO,	S.	C.;	
MAITINHO,	E.	M.	Pedagogia cidadã.	Caderno	de	formação:	Educação	Física,	2007.	
RANGEL,	I.	C.	A.	(Org.).	Educação Física na infância.	Rio	de	Janeiro:	Guanabara-Koogan,	
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SOARES	et	al.	Metodologia do ensino de Educação Física.	São	Paulo:	Cortez,	1992.

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