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trombose com anticoncepcional

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Paula Resende
Do G1 GO
24/09/2014 06h40 - Atualizado em 24/09/2014 09h41
Professora diz que teve trombose após usar pílula
anticoncepcional
Ela postou vídeo sobre o problema e caso ganhou repercussão na internet.
Médico diz que já atendeu mais pacientes com o mesmo diagnóstico em GO.
A professora universitária Carla Simone Castro, 41
anos, sofreu uma trombose venosa cerebral que,
segundo diagnóstico médico, foi causada pelo uso
de uma pílula anticoncepcional. Após 20 dias sem
poder levantar da cama, ela resolveu postar, no dia
9 deste mês, um vídeo nas redes sociais para
contar aos amigos sobre seu estado de saúde e o
que havia acontecido. A gravação repercutiu e já foi
compartilhada mais de 125 mil vezes (assista
acima).
“Nunca imaginei essa repercussão. Pensei que
tinha acontecido isso comigo só, mas vi que esses
eventos não são raros. Já recebi mais de 300
depoimentos de pessoas que tiveram o mesmo
problema e que tomavam as mais diversas marcas
de anticoncepcional. Acredito que repercutiu porque
meu alerta é que anticoncepcional não é água, não
pode ser tomado indiscriminadamente”, disse Carla em entrevista ao G1.
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Vídeo da professora já foi compartilhado por mais
de 125 mil pessoas (Foto: Reprodução/ Facebook)
Moradora de Goiânia, a professora começou a tomar o anticoncepcional Yasmin em janeiro deste ano
para combater cólicas provocadas pelos miomas uterinos. Carla garante que, antes de usar as pílulas,
fez todos os exames clínicos para verificar se não havia nenhum problema.
A professora se mudou em agosto para Brasília, após ser aprovada em um concurso para lecionar no
Instituto Federal de Brasília (IFB). Com dores de cabeça e congestão nasal, ela procurou um
otorrinolaringologista em 8 de agosto, que acreditou ser uma crise alérgica. No outro dia, Carla acordou
com a visão duplicada e procurou outros médicos. Ela relata que foi avaliada por três neurologistas, fez
duas tomografias e foi diagnosticada com crise de ansiedade. “Eu disse a um dos médicos: ‘Eu faço
doutorado em psicologia, eu saberia diagnosticar uma crise’”, conta a professora.
A mãe de Carla a buscou em Brasília e a trouxe para Goiânia, onde a professora fez uma ressonância
magnética e se consultou com o neurologista Gustavo Campos. O exame apontou que a paciente tinha
trombose nas três principais veias do cérebro. A professora, que já havia perdido o movimento da perna
direita e estava com a visão comprometida, sofreu uma convulsão no consultório médico e foi
internada.
A Bayer HealthCare, laboratório responsável pelo Yasmin, informou, em nota, que a Comissão
Européia concluiu, em janeiro deste ano, que a “possibilidade de tromboembolismo venoso, associada
ao uso de contraceptivos hormonais combinados é baixa”. A companhia afirma que o contraceptivo é
“aprovado por todos os grandes órgãos regulatórios mundiais, incluindo a Anvisa [Agência Nacional de
Vigilância Sanitária]” e que “mantém seu posicionamento de transparência na investigação minuciosa
de relatos de efeitos adversos possivelmente relacionados a este produto”.
Carla já recebeu alta médica, mas continua com o tratamento. Para ela, tudo indica que o uso de
anticoncepcional motivou a trombose. “Eu não apresentava nenhum fator de risco: não bebo, não fumo,
não sou hipertensa, não tenho histórico familiar. Então, foi a primeira pergunta que os médicos fizeram foi se eu usava anticoncepcional”, relata.
Fator de risco
O neurologista responsável pelo tratamento de Carla explicou ao G1 que estudos científicos apontam o uso de anticoncepcional aliado ao cigarro como
Outras mulheres denunciaram ter tido doenças
após o uso de contraceptivos (Foto: Rede Globo)
uma das principais causas de trombose. “O medicamento pode alterar a coagulação sanguínea, predispondo a pré-formação de trombos, tanto cerebral,
quanto em membros inferiores. Quando um trombo desloca, pode ir, por exemplo, para o pulmão e causar embolia pulmonar”, explica o médico.
De acordo com Gustavo Campos, ele já atendeu pelo menos dez pacientes com trombose cerebral causada pelo uso de anticoncepcional. Ele afirma que
a doença é grave e a demora no diagnóstico pode levar o paciente à morte. “Não é um diagnóstico raro, mas é pouco frequente. Infelizmente, não há
nenhum exame que comprove que o anticoncepcional causou a doença. Todo mundo tem esse risco, é inerente. Existem algumas pessoas que têm
predisposição maior. É importante investigar antes de fazer uso”, alerta o neurologista.
Novos casos
Devido à repercussão do caso de Carla, a professora recebeu centenas de depoimentos de mulheres
que também tiveram alguma doença que estaria relacionada ao uso de anticoncepcionais. Para a
paciente, os laboratórios consideram “raros” os casos porque eles não são contabilizados.
“Não há um cadastro nacional de pacientes, quantas mulheres tiveram trombose, tomavam
anticoncepcional e não tinham fatores de risco. Quantas mulheres devem ter morrido na fila do SUS
[Sistema Único de Sáúde] com trombose e embolia pulmonar causadas pelo uso de
anticoncepcionais”, afirma a professora.
Uma das mulheres que procurou Carla é Simone Vasconcelos Fator, diagnosticada com embolia
pulmonar pelo uso de anticoncepcionais. Juntas, elas criaram a comunidade “Vítimas de
anticoncepcionais. Unidas a favor da vida” no Facebook. Criada há quase uma semana, a página já
possui quase de 2,5 mil seguidores e conta com os depoimentos de diversas mulheres.
O objetivo do projeto, conforme a professora, é ajudar as pessoas que tiveram alguma enfermidade pelo uso de contraceptivo e alertar a população.
“Pensamos em, depois de nos recuperarmos, chamarmos a atenção da Anvisa. Estamos questionando a segurança desses medicamentos. Queremos
que eles sejam pedidos por receita médica, que tenham mais estudos sobre os riscos. O risco deveria vir estampado na embalagem, assim como nas
campanhas de cigarro. Quantas pessoas vão ter que morrer para que isso ocorra?”, questiona a professora.
Procurada pelo G1 na manhã de terça-feira (23), a Anvisa não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

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