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Revisão da Literatura MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 Carlos Artur Lopes LEITE* LEITE, C.A.L. A avaliação radiográfica no diagnóstico da otite média em caninos e felinos. Rev Bras Med Vet – Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, jan./mar. 2003. As doenças do ouvido em pequenos animais são problemas comuns e frustrantes na rotina veterinária. A otite média é freqüente em caninos, na maioria das vezes produzindo os mesmos sinais clínicos de otite externa. A radiologia é indispensável para o diagnóstico das enfermidades do ouvido médio. Se deixada por longo tempo sem tratamento, a otite média pode causar alterações estruturais visíveis radiograficamente. Desta forma, a avaliação radiográfica do crânio, particularmente da bula timpânica e da região petrosa do osso temporal, fornece informação valiosa no diagnóstico da otite média. O objetivo deste artigo é descrever os aspectos radiográficos da enfermidade do ouvido médio, fornecendo também informações técnicas sobre posicionamentos e estratégias para a avaliação radiográfica. PALAVRAS-CHAVES: Radiografia; Otite média/veterinária; Otolaringologia; Ouvido; Diagnóstico. * Professor-assistente, MV, DV, Setor de Semiologia e Clínica de Pequenos Animais – Departamento de Medicina Veterinária/Universidade Federal de Lavras; Rua Sebastião Pinto da Conceiçao, 28, Vila Guimarães – CEP 18602-250, Botucatu, SP; e-mail: caca@ufla.br A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos Radiographic Evaluation on the Diagnosis of Otitis Media in Dogs and Cats 36 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos INTRODUÇÃO As otites são afecções do sistema vestibulococlear comuns na rotina Médica Veterinária, alcançando uma freqüência variável entre 5-20% dos casos atendidos em um serviço ambulatorial (MULLER et al., 1989). Trata-se de uma enfermidade que desafia o clínico, já que o tratamento visando a cura do animal torna-se, por vezes, ineficiente em função de inúmeros fatores associados à tríade paciente/proprietário/clínico. De acordo com a localização anatômica do processo patológico, as otites podem ser divididas em externa, média e interna. Em ordem de prevalência, a otite externa mantém-se em primeiro lugar, atingindo principalmente raças como pastor alemão, poodle e cocker spaniel inglês (WHITE, 1992; LEITE, 1995). As otites média e interna aparecem em menor freqüência, mas também assumem importância clínica, principal- mente devido à dificuldade no diagnóstico e à relutância na reversão do quadro clínico. A otite média caracteriza-se por uma afecção da porção do sistema vestibulococlear, compreendida entre os ouvidos externo e interno, abrangendo as estruturas da bula timpânica e recesso epitimpânico (cadeia ossicular), além da face interna das membra- nas timpânica e das janelas coclear e vestibular. Esta enfermidade possui características peculiares que a transformam em uma doença de diagnóstico complexo e tratamento difícil. Muitos animais são conduzidos precocemente a um tratamento cirúrgico, devido ao insucesso no tratamento convencional da otite média (CARLOTTI, 1991; VERSTRAETE, 1993). O exame otoscópico nem sempre fornece dados confiáveis sobre a integridade do tímpano e/ou da bula timpânica (LITTLE & LANE, 1989), principalmente naqueles casos em que a estenose do conduto auditivo impede a análise do arcabouço da bula timpânica. A avaliação radiográfica é um procedimento ideal para a identificação das lesões ósseas crônicas e da presença de líquido intracavitário que ocorrem na otite média (ROSE, 1977; MURPHY, 2001). Logo, a avaliação ra- diográfica torna-se imprescindível para o diagnóstico de uma possível otite média (ROSE, 1977; MARIGNAC, 2000). ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA OTITE MÉDIA A otite média ocorre com uma freqüência variável entre caninos e felinos, sendo mais diagnosticada na primeira espécie animal. KRISTENSEN et al. (1996) reportaram que cerca de 10% dos caninos otopatas possuíam otite média. SHELL (1993) apontou uma inci- dência em torno de 16-50% de otite média secundária à otite externa em caninos. A ruptura timpânica conduz invariavelmente à otite média (AUGUST, 1986, 1993; GOTTHELF, 1995). Conseqüentemente, a perda da integridade timpânica verificada ao exame otoscópico é um indicador seguro e confiável de otite média. LARSSON (1987), ao trabalhar com 198 caninos e 44 felinos com otites, descreveu ruptura do tímpano em 3% dos caninos, sendo que os felinos não apresentaram tal alteração. LEITE (1995) citou que 10% dos 50 caninos otopatas estudados apresentaram ruptura timpânica. De acordo com KRISTENSEN et al. (1996), a otite média pode ocorrer por um ou mais fatores, como: • Via descendente - invasão da bula timpânica por microrganismos presentes na porção horizontal do conduto auditivo externo. Esta invasão só ocorrerá se houver a perda da integridade da membrana timpânica, seja parcial (perfuração ou fissura) ou total (ruptura). • Via ascendente - ocorre por invasão da bula tim- pânica por microrganismos que habitam a nasofaringe, através da migração pela tuba auditiva. É mais freqüente em felinos com faringite do que em caninos. • Via hematogênica - colonização da bula tim- pânica membranosa por microrganismos advindos da circulação corpórea (nos casos de septicemias). • Corpos estranhos - só ocorre otite média após estes transporem a barreira da membrana timpânica. Os pêlos e restos celulares são os corpos estranhos mais comumente encontrados na bula timpânica. • Pólipos inflamatórios - alteração descrita em algumas nasofaringites de felinos, provocando irregu- laridades na superfície da bula timpânica membranosa, com conseqüente alteração na pressão aerostática da cavidade e aumento no volume secretório das células cuboidais da região. • Traumatismos - os atropelamentos e as agres- sões por animais de maior porte são as duas causas de otite média traumática. Geralmente ocorre ruptura da bula timpânica óssea, podendo também advir lu- xação da articulação temporomandibular. A presença de hemorragia e coágulos na cavidade timpânica não é rara. • Neoplasias - apesar de relativamente pouco comuns, as neoplasias malignas podem invadir a parte petrosa do osso temporal, acometendo o ouvido mé- dio. O carcinoma de células escamosas é uma neoplasia freqüente dentre os diversos quadros tumorais que perpassam a integridade do ouvido médio. • Colesteatoma - de difícil diagnóstico na rotina veterinária, o colesteatoma aural é uma espécie de cisto epidermóide advindo das células escamosas ceratinizadas do epitélio do conduto auditivo, que por sua vez forçam a porção flácida da membrana timpânica, ocasionando uma saculação papilar. Este processo é incrementado pela inflamação. A presença de colesteatoma aural reduz a pressão intracavitária na bula timpânica. Na maioria das vezes, a otite média decorre de uma otite externa crônica (OWENS & BIERY, 1982; MYER, 1986), cursando com ruptura timpânica e distribuição 37 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 bilateral. Ao mesmo tempo em que a otite média pode ser oriunda de uma afecção do ouvido externo, ela torna-se um fator perpetuante de grande importância na epidemio- logia da própria otite externa (AUGUST, 1993). SHELL (1993) descreveu a importância dos mi- crorganismos na gênese da otite média, sendo que a grandemaioria dos quadros desta enfermidade apre- sentou um caráter infeccioso. AUGUST (1986, 1993) e MARIGNAC (2000) apontaram que as bactérias pre- valentes no ouvido médio afetado são Staphylococcus spp., Streptococcus spp., Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e Proteus mirabilis. Este autor tam- bém descreveu a ocorrência dos fungos Malassezia pachydermatis, Candida spp. e Aspergillus spp. Estes microrganismos são oriundos do conduto auditivo externo (na sua grande maioria) ou da tuba auditiva. Raramente ocorrem infecções do ouvido médio por quadros septicêmicos (SHELL, 1993). LEITE & FRANCO (2001) descreveram, pela primeira vez em caninos com otite média bilateral, o isolamento de Peptostreptococcus indolicus, um coco Gram-positivo com metabolismo anaeróbico estrito. Este microrganismo, responsável por quadros infeccio- sos diversos em seres humanos (incluindo otopatias), abre um novo campo para a importância da flora ana- eróbica na gênese da otite média em caninos. AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA O exame radiológico constitui-se em um dos métodos subsidiários de diagnóstico mais confiáveis para a otite média, embora resultados negativos não descartem a possibilidade da mesma estar presente (ROSE, 1977; HOLT & WALKER, 1997). Conduzido de forma adequada, o exame radio- lógico do sistema vestibulococlear revela-se extrema- mente útil no diagnóstico de otite média crônica. Já nos casos agudos e subagudos (do ponto de vista clínico), não há sinais radiográficos detectáveis para a instaura- ção de um diagnóstico final de otite média (OWENS & BIERY, 1982; MARIGNAC, 2000). As alterações radiográficas que podem ser prontamente identificadas estão relacionadas com a presença de corpos estranhos radiopacos, alterações ósseas senis, anomalias congênitas e determinados tipos de fraturas regionais (ROSE, 1977). Outras alterações, apesar de ocasionalmente serem detectadas ao exame radiográfico, podem fornecer resultados negativos falsos, como é o caso do carcinoma de células esca- mosas intracavitário, durante a avaliação radiográfica convencional (OWENS & BIERY, 1982). Outras funções muito importantes da avaliação radiográfica do ouvido médio estão relacionadas com o acompanhamento pós-cirúrgico de pacientes submetidos a osteotomia e posterior curetagem das bulas timpânicas (SCHEBITZ & BRASS, 1985; HOLT & WALKER, 1997), e diagnóstico de doenças da região petrosa do osso temporal (HOSINSON, 1993). Como alternativa à radiografia convencional, a utilização de meios de contraste positivos instilados dentro do conduto auditivo fornece subsídios mais pal- páveis para o diagnóstico da otite média (ROSE, 1977; TROWER et al., 1998; EOM et al., 2000). Essa técnica, conhecida como canalografia, permite o diagnóstico da otite média com maior exatidão quando há ruptura timpânica, pois o contraste impregna o espaço intra- cavitário da bula timpânica, alteração esta facilmente detectável ao exame radiológico. ANATOMIA RADIOLÓGICA NORMAL A anatomia radiográfica do crânio de caninos e felinos é complexa devido à sobreposição dos inúmeros ossos (mais de 50), à extensiva compartimentalização e às diferenças existentes entre as diversas raças (KEALY, 1979; OWENS & BIERY, 1982; DOUGLAS & WILLIAMSON, 1983). O crânio é uma das estruturas mais complexas e especializadas do organismo (MYER, 1986), abrigando o cérebro e os órgãos da audição, equilíbrio, visão, olfação e gustação. A análise da radiografia do crânio deve ser realiza- da com vistas a um diagnóstico provável já instaurado, não se devendo buscar alterações virtuais ou aleatórias que tentem explicar o quadro clínico. Segundo MYER (1986), as variações raciais quanto ao tipo de crânio em caninos variam mais que em qual- quer outra espécie de animal doméstico. A classificação adotada por MILLER et al. (1964) para os tipos de crânios em caninos determina um grau de dificuldade conside- rável na interpretação comparativa dos mesmos. Desta maneira, os caninos podem ser divididos em: • Tipo dolicocéfalo - possui crânio longo e estrei- to, com componentes faciais ósseos maiores do que aqueles encontrados na abóbada craniana. • Tipo braquicéfalo - possui crânio curto e ovala- do, com componentes faciais ósseos menores do que aqueles encontrados na abóbada craniana. • Tipo mesaticéfalo - padrão de crânio interme- diário entre os dois citados anteriormente. Os felinos só possuem crânios comparáveis aos do tipo braquicéfalo canino. Logo, a interpretação radiológica das imagens do crânio dessa espécie tor- na-se mais rapidamente familiar ao clínico que a de um canino. Apesar da interpretação radiográfica ser basicamente a mesma entre caninos e felinos, estes últimos apresentam uma diferença significativa na es- trutura anatômica do ouvido interno. A bula timpânica dos felinos é dividida em duas cavidades por um septo ósseo. Essas cavidades, que recebem a denominação de compartimentos dorsolateral (menor) e ventromedial (maior), comunicam-se através de um pequeno óstio situado dorsalmente, próximo à janela coclear (KUMAR & ROMAN-AUERHAHN, 2000). Esta particularidade anatômica pode confundir muitos clínicos, fornecendo 38 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos falsas indicações de otite média ao exame radiológico de felinos. Portanto, torna-se de fundamental importância que o clínico saiba reconhecer os principais acidentes anatômicos do crânio de caninos e felinos, facilitando, desta maneira, a interpretação radiológica final. POSICIONAMENTOS O tipo de posicionamento é ponto-chave no diagnóstico definitivo da otite média. LARREA & HERNÁNDEZ (1992) recomendaram ao profissional veterinário que estabelecesse prontamente qual re- gião específica se deseja examinar, para que o clínico não se perca nas infinidades de acidentes anatômicos existentes no crânio. Também devido à variação racial, HOSKINSON (1993) recomendou que os posicionamentos permitam a comparação bilateral, principalmente no tocante à simetria e radiopacidade. A análise radiográfica do sistema vestibulococlear e adjacências deve ser feita em pelo menos dois po- sicionamentos (SHELL, 1993), pois estes fornecerão melhores imagens comparativas. Os posicionamentos mais adotados para tal fim são látero-lateral (LL), dorso- ventral (DV), rostro-caudal com boca aberta (RCd/ba) e oblíquas dorso-ventrais (ODV). Para facilitar o entendimento de como cen- tralizar o feixe primário de raios X, DOUGLAS & WILLIAMSON (1983) propuseram a divisão do crânio do canino em um plano e duas linhas (Figura 1). O plano sagital divide o crânio em duas metades simé- tricas; a linha interpupilar é traçada entre as pupilas dos olhos, ficando em ângulo reto ao plano sagital; e a linha órbito-meatal estende-se do meato auditivo externo à borda inferior da órbita. POSICIONAMENTO LÁTERO-LATERAL (RX LL) O paciente deve ser preferencialmente sedado, porém alguns animais se deixam sujeitar à simples contenção física. Para este posicionamento, o animal deve ser colocado em decúbito dorsal, mantido por um colchão ou padiola de lona. Deve-se permitir que o tronco gire ligeiramente para o lado afetado para que o pescoço seja flexionado até atingir um posicionamento lateral adequado. A posição pode ser mantida através de almofadas abaixo do pescoço e focinho (Figura 2). O plano sagital deve estar paralelo ao filme, sendo que a linha interpupilar deve estar vertical e alinhada com o feixe principal de raios X. Para radiografias da região auditiva, deve-se focar o ponto de irradiação no meio da linha órbito-meatal (DOUGLAS & WILLIAM- SON, 1983). Uma variação neste método proposta por MAT-THEWS & BARNHARD (1968) consiste em colocar o cassete verticalmente à cabeça do paciente, utilizando- se um raio horizontal; neste caso, o animal permanece em decúbito esternal enquanto a radiografia é feita. A desvantagem deste método consiste principalmente na maior liberdade de movimentação do paciente, já que o mesmo não está sob efeitos de drogas sedativas ou anestésicas. POSICIONAMENTO DORSO-VENTRAL (RX DV) Segundo DOUGLAS & WILLIAMSON (1983), este posicionamento é o mais adequado para o animal consciente. O paciente deve permanecer em uma po- sição agachada confortável. A cabeça é posicionada no cassete com o filme radiográfico, que por sua vez irá repousar sobre um bloco de madeira. A cabeça é então pressionada gentilmente contra a mesa, estabelecendo- se o posicionamento DV (Figura 2). O plano sagital deve ser vertical, alinhado ao feixe central de raios X e em ângulo reto com o cassete. A linha interpupilar deve, então, estar paralela ao filme. A seguir, o feixe principal deve ser focado na linha média entre os olhos. Em alguns casos é aconselhável que a sínfise repouse sobre uma almofada macia. POSICIONAMENTO ROSTRO-CAUDAL E BOCA ABERTA (RX RCD/BA) Também chamado de ântero-posterior (MAT- THEWS & BARNHARD, 1968; DOUGLAS & WILLIA- MSON, 1983) ou frontal (OWENS & BIERY, 1982; LAR- REA & HERNÁNDEZ, 1992), este posicionamento é extremamente útil para se visualizar as bulas timpânicas. Para este fim, o animal deve ser anestesiado e colocado em decúbito dorsal sobre a mesa radiográfica. Deve-se posicionar a cabeça de modo que o palato duro e o pla- no sagital formem um ângulo reto em relação ao filme. A boca é então aberta e posicionada com fitas adesivas, e o feixe principal de raios X direcionado verticalmente através da boca aberta do animal (Figura 3). HOFER et al. (1995) sugeriram um posicionamen- to RCd/ba modificado para felinos, visando à avaliação das bulas timpânicas. O paciente é posicionado em decúbito esternal, auxiliado por uma calha. A cabeça do animal é estendida 10° a partir de uma posição vertical da mandíbula (Figura 4). O feixe de raios X é centraliza- do 1cm ventralmente às narinas. Esta manobra impede a sobreposição do osso occipital da mandíbula. Existem outras variações do posicionamento RCd/ba, porém todas utilizam a mesma técnica, alteran- do apenas a angulação entre o feixe principal de raios X e a mandíbula do paciente (HOSKINSON, 1993). 39 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 POSICIONAMENTO OBLÍQUO DORSO-VENTRAL (RX ODV) As radiografias oblíquas são de difícil interpre- tação, pois não assumem um padrão característico e fixo. Segundo a técnica proposta por DOUGLAS & WILLIAMSON (1983), deve-se posicionar o animal sobre uma calha, de modo que a cabeça e o pescoço fiquem ligeiramente torcidos, forçando a linha in- terpupilar em um ângulo de 45° em relação ao filme (Figura 2). Em alguns animais é necessário o uso de sedação e anestesia. TICER (1987) propôs um tipo de posicionamento oblíquo, denominado vista oblíqua rostro-ventral/caudo- dorsal de boca aberta (R30°V-CdDo/ba). Com o animal em decúbito dorsal, a articulação atlanto-occipital é fleti- da a aproximadamente 60° em relação à coluna vertebral. A boca é aberta, de modo que o feixe central de raios X (o qual se encontra a 90° em relação ao filme) divida em dois o ângulo da articulação temporomandibular aberta. O palato duro e a mandíbula são, então, angulados a aproximadamente 30° em relação ao feixe principal de raios X, em direções opostas. MATTHEWS & BARNHARD (1968) sugeriram que o ângulo correto para se padronizar as radiografias oblíquas deve ser estabelecido pelo próprio clínico, através do método de tentativas e erros. FIGURA 1: Planos e linhas de referência para posicionamento radiográfico do crânio em caninos. A. plano sagital; B. linha interpupilar; C. linha órbito-meatal (modificado de DOUGLAS & WILLIAMSON, 1983). FIGURA 2: Posicionamentos radiográficos comuns utilizados no diagnóstico das alterações do ouvido médio. DV, dorso-ventral; VD, ventro-dorsal; ODV-D, oblíquo dorso-ventral direito; ODV-E, oblíquo dorso-ventral esquerdo; LL-D, látero-lateral direito; LL-E, látero-lateral esquerdo; CR, cassete radiográfico. FIGURA 3: Posicionamento rostro-caudal de boca aberta (RCd/ba) para caninos. FRX, feixe principal de raios X; BT, bula timpânica; CR, cassete radiográfico. 40 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos RADIOGRAFIA CONTRASTADA DO OUVIDO (CANALOGRAFIA) Devido à dificuldade de se dar um diagnóstico confiável da integridade da bula timpânica apenas pelo exame otoscópico, a radiografia contrastada tornou-se um método útil, barato e eficiente de acusar a otite média (EOM et al., 2000). A base deste teste consiste na presença do contraste na cavidade timpânica, o que nunca poderia ocorrer caso o tímpano se apresentasse íntegro. Essa técnica, mais conhecida como canalografia, utiliza contrastes positivos instilados dentro do conduto auditivo. Os contrastes mais utilizados são o iohexol (300mg/ml) e a urografina (375mg/ml) (TROWER et al., 1998; EOM et al., 2000). Entretanto, outros meios são preconizados, a despeito do maior risco de into- xicação (ROSE, 1977), como o diatrizoato de bário ou sódio (10 a 76%). Após a anestesia do paciente, a região é subme- tida à tricotomia e limpeza com soluções anti-sépticas não-iodadas (como a clorexidina, por exemplo). Em seguida, o animal é posicionado em decúbito esternal e o contraste escolhido depositado o mais profundamen- te possível no conduto auditivo, através de uma sonda de Spruell ou cateter flexível. O volume de contraste necessário dificilmente excede 3ml. Deve-se evitar que o meio escorra pela pina. Para isso, a colocação de um tampão de algodão hidrófobo pode auxiliar na reten- ção do líquido dentro do conduto. Seqüencialmente, deve-se realizar massagens na região periauricular, aguardando alguns segundos para que as exposições radiográficas tenham início. O posicionamento DV é mais eficiente que os demais na avaliação radiográfica do canalograma, já que não há possibilidade de sobreposição lateral do contras- te com as estruturas ósseas subjacentes (Figura 5). Independentemente do contraste utilizado, os pacientes devem ser obrigatoriamente submetidos à lavagem do conduto auditivo e bula timpânica, pois a presença do contraste no ouvido médio é um fator de risco importante em quadros de intoxicação (TROWER et al., 1998). Mesmo com um resultado negativo na leitura dos canalogramas (ou seja, ausência de contraste na bula timpânica), a lavagem torna-se obrigatória. A canalografia também é útil no diagnóstico de alterações do ouvido externo (Figura 6), razão pela qual não está apenas indicada no exame subsidiário do ouvido médio (EOM et al., 2000). FIGURA 4: Posicionamento rostro-caudal de boca aberta (RCd/ba) para felinos. FRX, feixe principal de raios X; AM, ângulo mandibular; BT, bula timpânica; CR, cassete radiográfico. FIGURA 5: Radiografia contrastada (canalografia) de canino com otite média, posicionamento oblíquo. Devido à ruptura timpânica, o contraste ocupa todo o espaço intracavitário da bula timpânica. CT, contraste. 41 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 SINAIS RADIOGRÁFICOS NA OTITE MÉDIA Os achados que aparecemna imagem radiográfica podem fechar o diagnóstico de otite média (CARLSON, 1967; MARIGNAC, 2000). Entretanto, a ausência de sinais radiográficos compatíveis com otite média não exclui a possibilidade da mesma estar presente. Os achados radiográficos mais freqüentes na otite média em caninos e felinos são: • Espessamento e esclerose da bula timpânica: o espessamento se dá principalmente pelo processo inflamatório. GOTTHELF (1995) citou que a inflama- ção causa uma mudança no epitélio da parte interna da bula timpânica, passando de cuboidal para pseudo- estratificado. Isto faz com que haja um aumento no nú- mero de células secretórias, com conseqüente aumento no volume de secreções. A lâmina óssea intimamente em contato com este epitélio reage, espessando-se e emitindo espículas ósseas para o espaço intracavitário (Figura 7). • Preenchimento do espaço intracavitário da bula timpânica: não só líquidos oriundos da mudança celular ocorrida no epitélio da bula timpânica, mas também a presença de lisozimas e proteinases advindas de microrganismos presentes no ouvido externo (ou mesmo no médio) podem aumentar o processo infla- matório, levando a complicações vasculares (edema, por exemplo). Tecidos hiperplásicos também podem ocupar este espaço (Figura 8). • Proliferação óssea envolvendo a parte petrosa do osso temporal e/ou articulação temporomandibular: a densificação óssea destas regiões pode ser originária tanto de processos inerentes ao sistema vestibuloco- clear, como periaurais. • Calcificação/ossificação do conduto auditivo externo: geralmente decorre de seqüela de otite ex- terna (LARREA & HERNÁNDEZ, 1992), podendo até mesmo estar ocluído por exsudatos e restos celulares, demonstrando áreas de radiopacidade dentro do lú- men (OWENS & BIERY, 1982), como demonstrado na Figura 7. FIGURA 6: Radiografia contrastada (canalografia) de canino com otite externa. Em posicionamento dorso-ventral, o contraste não penetra na bula timpânica, excluindo o diagnóstico de otite média. CT, contraste; MAE, meato auditivo externo. FIGURA 7: Radiografia convencional de canino com otite média, posicionamento RCd/ba, com alterações estruturais avançadas do arcabouço timpânico. BT, bula timpânica; CF, calcificação da cartilagem anular. • Alterações na densidade óssea das regiões circunjacentes ao sistema vestibulococlear: apesar de raras, estas alterações são um forte indicativo de neo- 42 MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos plasias (carcinoma de células escamosas, mais freqüente nos felinos) ou de osteopatia craniomandibular (só re- portada em caninos). Estas duas entidades nosológicas já foram relatadas no Brasil (ALVES FILHOS et al., 2002; DINIZ et al., 2002), com alterações radiográficas que possibilitaram o diagnóstico final. FIGURA 8: Radiografia convencional de canino com otite média, posicionamento LL-D. BT, bula timpânica completamente preenchida por líquido intracavitário. HOSKINSON (1993) sugeriu um guia para o diagnóstico diferencial das alterações radiográficas encontradas em pacientes otopatas (Quadro 1), porém o diagnóstico final só poderá ser dado após a reunião e análise conjunta dos diversos resultados dos demais exames subsidiários e clínicos. Radiopacidade aumentada de tecidos moles na bula e/ou no conduto auditivo externo Otite crônica (externa ou média) Otite aguda (externa ou média) Neoplasia Hemorragia Esclerose e espessamento da parede da bula timpânica Alteração unilateral Otite média crônica Pólipo nasofaríngeo Alteração bilateral Normal; animal senil (felinos) Otite média crônica bilateral Osteopatia craniomandibular Esclerose e proliferação óssea da porção petrosa do osso temporal Neoplasia maligna Mais comum = CCE, carcinoma de células escamosas Otite média crônica Osteomielite Linha radiopaca, com ou sem desvio Fratura Calcificação do conduto auditivo externo Otite externa crônica QUADRO 1: Guia para o diagnóstico diferencial das alterações radiográficas crânio em caninos e felinos (modificado de HOSKINSON, 1993). 43 A Avaliação Radiográfica no Diagnóstico da Otite Média em Caninos e Felinos MedveP - Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, 2003 CONSIDERAÇÕES FINAIS A otite média é, e ainda continuará sendo, a vilã no processo de resolução dos casos de otite externa crônica recidivante. Trata-se uma situação ímpar, pois é uma afecção difícil de se diagnosticar na rotina am- bulatorial, com tratamento não-responsivo, na maioria das vezes. Resta aos clínicos se aperfeiçoarem no diagnósti- co desta enfermidade, associando métodos subsidiários como a radiologia, no intuito de aumentar a margem de acerto nas múltiplas afecções que acometem o sistema vestibulococlear dos pequenos animais. LEITE, C.A.L. Radiographic evaluation on the diagnosis of otitis media in dogs and cats. Rev Bras Med Vet – Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.1, p.35-43, jan./mar. 2003. Aural diseases in small animals have been a common and frustrating problem in veterinary routine. Middle ear diseases are frequent in dogs, often leading to the same clinical signs of otitis externa. Radiology is indispensable for the diagnosis of the middle ear diseases. Otitis media left untreated for any length of time can cause structural changes which are radiographically visible. By this way, radiographic evaluation of the skull, particularly of the tympanic bullae and petrous temporal regions, frequently provides useful informations in the diagnosis of otitis media. The purpose of this study is to describe the radiographic appearance of the middle ear disease, providing technical information about radiographic views and evaluation strategies. KEYWORDS: Radiography; Otitis medial/veterinary; Otolaryngology; Ear; Diagnosis. REFERÊNCIAS ALVES FILHO, R.N.; ANDRADE JR., A.; MIRANDA, C.A.; MARIZ, M.A.S.; FERNAN- DES, A.G. Osteopatia craniomandibular na raça Rottweiler – Relato de caso. In: CON- GRESSO BRASILEIRO DE CLÍNICOS VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS, 23, 2002, Brasília. Anais... Brasília: ANCLIVEPA/CFMV, 2002. Trabalho 49. AUGUST, J.R. Diseases of the ear channel. In: Solway animal health. The complete manual of ear care. Davis: SAH, 1986. AUGUST, J.R. Otitis externa: una enfermedad de etiología multifactorial. 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