Buscar

Evicção: Perda da coisa por decisão judicial

Prévia do material em texto

EVICÇÃO
1)CONCEITO: é a perda da coisa em virtude de decisão judicial, que atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato. 
A palavra evicção vem do latim evincere que significa ser vencido. O fundamento jurídico da evicção, semelhante ao que ocorre com os vícios redibitórios, é o princípio da garantia, segundo o qual, o alienante é obrigado não só a entregar ao adquirente a coisa alienada, mas também garantir-lhe o uso e o gozo. A garantia não é somente em relação aos defeitos ocultos, como também no que diz respeito aos defeitos de direito transmitido com a alienação da coisa. 
2) PERSONAGENS ENVOLVIDOS NA EVICÇÃO
a) o alienante, pessoa que alienou ou vendeu a coisa e que responde pelos vícios da evicção. 
b) o evicto, que é a pessoa que adquiriu a coisa, tendo perdido esta coisa para um terceiro que a reivindicou judicialmente.
c) o evictor, o terceiro e verdadeiro titular da coisa reclamada judicialmente e vencedor da ação contra o evicto. 
*A responsabilidade existe independe de estar ou não prevista em contrato. Decorre de Lei sendo, portanto, do alienante a responsabilidade pela evicção em todo e qualquer contrato oneroso, pelo qual se transfira o domínio, posse ou uso. 
Exemplo: admitamos que uma pessoa A vendeu e entregou uma coisa para uma pessoa B. Posteriormente uma pessoa C reivindica judicialmente a coisa vendida alegando e provando que lhe pertencia, obtendo sentença favorável. Neste caso a pessoa B que sofreu a evicção é obrigada a entregar a coisa para a pessoa C, seu verdadeiro dono. 
3) FUNDAMENTO: princípio da garantia (o mesmo em que se assenta a teoria dos vícios redibitórios). O ALIENANTE está obrigado a resguardar.
4) CLASSIFICAÇÃO 
a) Evicção total (perda total da coisa)
b) Evicção parcial (perda de parte da coisa) 
Código Civil Art. 455. 
*Evicção nas aquisições judiciais ocorre nas arrematações judiciais (hasta pública). O arrematante ou o adjudicante pode pedir que seja restituído o preço da coisa perdida, integralmente ou por valor do desfalque, porque possível no caso, a evicção total ou parcial. 
Obs: Adjudicação é o ato de transferir ao exequente bens penhorados, ou os respectivos rendimentos, em pagamento do seu crédito contra o executado. Adjudicante ou adjudicatário é o credor que adjudica os bens do devedor.
5) RESPONSABILIDADE PELA EVICÇÃO 
Quem transfere uma coisa por título oneroso (vendedor, cedente, arrendante, etc) está obrigado a garantir a legitimidade do direito que transfere. Deve ser assegurado ao adquirente que seu título é bom e suficiente e que ninguém mais tem direito sobre o objeto do contrato, vindo a turbá-lo, alegando melhor direito. 
Código Civil 
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. 
Ampliando o exemplo anterior, admitamos que uma pessoa A vendeu e entregou uma coisa para uma pessoa B. Posteriormente uma pessoa C reivindica judicialmente a coisa vendida alegando e provando que lhe pertencia, obtendo sentença favorável. 
Neste caso, a pessoa B que sofreu a evicção, é obrigada a entregar a coisa para a pessoa C, seu verdadeiro dono.
Nesta hipótese, a pessoa A será responsabilizada pelos prejuízos causados a pessoa B. Assim, a pessoa A responde pela evicção (perda judicial da coisa) sofrida pela pessoa B nesta operação. 
*A responsabilidade pela evicção garante contra os defeitos de direito, da mesma forma que a responsabilidade pelos vícios redibitórios garante contra os defeitos materiais. 
6) REQUISITOS DA EVICÇÃO 
a) perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada; 
b) onerosidade da aquisição, não havendo, em regra, evicção em contratos gratuitos, salvo doação onerosa; 
c) ignorância, pelo adquirente, da litigiosidade da cosia. Se a conhecia, presume-se ter assumido o risco de a decisão ser desfavorável ao alienante. (art. 457, CC – Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.) 
d) anterioridade do direito do evictor. O alienante só responde pela perda decorrente de causa já ao tempo da alienação. 
e) Denunciação da lide ao alienante para que este venha coadjuvar o réu-denunciante na defesa do direito. Instaura-se por meio dela, a lide secundária entre o alienante e o adquirente, no mesmo processo da lide principal, travada entre o reivindicante e o adquirente. Somente após a ação do terceiro contra o adquirente é que este pode agir contra aquele. 
CC - Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.
 Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.
 
7) OUTRAS MANIFESTAÇÕES DA EVICÇÃO 
- Na dação em pagamento 
Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. 
- Na transação 
Art. 845. Dada a evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida à outra parte, não revive a obrigação extinta pela transação; mas ao evicto cabe o direito de reclamar perdas e danos. 
Parágrafo único. Se um dos transigentes adquirir, depois da transação, novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, a transação feita não o inibirá de exercê-lo. 
- Na troca 
Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: 
I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; 
II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. 
- Na partilha do acervo hereditário 
Art. 2.024. Os co-herdeiros são reciprocamente obrigados a indenizar-se no caso de evicção dos bens aquinhoados. 
8) EXTENSÃO E PACTO DE NÃO PRESTAR GARANTIA 
Não existe a responsabilidade por evicção nos contratos gratuitos, exceto se ocorrer à doação modal (onerosa ou gravada de encargo.) 
CC - Art. 552. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às consequências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário. 
- A garantia é direito disponível das partes, sendo assim admitida a possibilidade de ampliação, dedução ou mesmo extinção, desde que não haja a má-fé por parte do alienante (princípio da boa fé dos contratos). O adquirente deve ser alertado e informado sobre os riscos da evicção no ato da aquisição. 
CC – artigos:
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. (Grifo nosso)
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. 
9) O PRÓPRIO CÓDIGO CIVIL ESTABELECE OS DIREITOS DO EVICTO 
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
 
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; 
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; 
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. 
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial. 
Pelo parágrafo único do artigo 450, não importa se hoje a coisa esteja deteriorada ou já não tenha mais valor, deverá o evictoser ressarcido dos prejuízos com base em valores da época, tudo devidamente corrigido à moeda da data do acerto final. 
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
 Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. (como exemplo de vantagem de deterioração citada no artigo 452 pode ser dado o caso de venda de material de demolição.)
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante. 
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

Continue navegando