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Teoria Geral em PDF - AULA 3

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Direito Tributário para XXIII Exame da OAB 
Curso de Teoria e Questões 
Prof. Fábio Dutra- Aula 02 
 
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1 - IMUNIDADES 
 O tema que será tratado nesta aula é de suma importância para as 
provas do Exame de Ordem. As bancas adoram cobrar imunidades tributárias 
nas provas de Direito Tributário. 
 Desta forma, vamos abordar o assunto no grau de profundidade que ele 
merece, com o intuito de deixá-lo totalmente preparado para qualquer prova 
sobre o assunto. 
 Assim, iniciaremos explicando o conceito de imunidade, isenção e não 
incidência. Posteriormente, serão abordadas as classificações doutrinárias das 
imunidades. Por fim, vamos estudar as imunidades em espécie! Vocês verão 
que o assunto é bem tranquilo, embora tenha certa riqueza de jurisprudência. 
 Antes de estudarmos as imunidades, gostaria de deixar claro que, 
embora se trate de uma dispensa constitucional do pagamento de tributos, a 
imunidade não exime certo ente das obrigações acessórias instituídas 
pela legislação tributária. 
 NessH�VHQWLGR��SDUD�R�67)��5(�����������³exigir de entidade imune a 
manutenção de livros fiscais é consentâneo com o gozo da imunidade 
tributária �����´� A manutenção de livros fiscais é um exemplo de obrigação 
acessória. 
A grosso modo, podemos dizer que as obrigações acessórias são 
condutas impostas ao contribuinte, que não possuem caráter pecuniário, 
FULDQGR� REULJDo}HV� GH� ³ID]HU´� RX� ³GHL[DU� GH� ID]HU´� DOJR� QR� LQWHUHVVH� GD�
arrecadação e fiscalização. Não se preocupe com detalhes por ora, pois isso é 
tema de outra aula. 
 
Ainda que em gozo de imunidade tributária, a pessoa 
jurídica não está dispensada de cumprir obrigações 
acessórias e de se submeter à fiscalização tributária. 
 9DPRV��HQWmR��HVWXGDU�R�WHPD�³,PXQLGDGHV´� 
1.1 - Conceito de Imunidade, Isenção e Não Incidência 
A fim de compreendermos com exatidão a diferença entre os conceitos 
de imunidade, isenção e não incidência, é necessário que entendamos 
primeiramente o que vem a ser incidência tributária. 
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$LQGD� TXH� HVWHMD� LPXQH�� D� ³SHVVRD´� SRGH� HVWDU� VXMHLWD�
por meio de lei a fazer retenção e recolhimento dos 
tributos devidos por outrem. 
Temos aqui mais um exemplo obrigação acessória: 
o fato de a empresa estar obrigada a descontar os 
tributos devidos por terceiros e recolhê-los. Veja que não 
há encargo financeiro, mas tão somente a obrigação de 
³ID]HU�DOJR´�� 
 No que se refere às imunidades objetivas, o exemplo amplamente 
utilizado é o da imunidade cultural. De acordo com o art. 150, VI, d, da CF/88, 
é vedado a todos os entes federativos instituir impostos sobre os livros, 
jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. Desta forma, não 
importa qual pessoa esteja vendendo um jornal, por exemplo. O que é 
relevante para a aplicação da imunidade é o bem que está sendo 
objeto de comercialização. 
 Por último, as imunidades mistas podem ser ilustradas pela imunidade 
que impede a incidência do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural sobre 
as pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário 
que não possua outro imóvel. Atente para o fato de que as glebas rurais 
constituem o aspecto objetivo, e o fato de seu proprietário não poder possuir 
outro imóvel revela o aspecto subjetivo da referida imunidade. 
 Até aqui, tudo compreendido? Passemos, pois, para a segunda 
classificação. 
2. Classificação quanto à origem: ontológicas e políticas 
 As imunidades ontológicas são aquelas que decorrem do princípio da 
isonomia e do pacto federativo. Ou seja, são imunidades que, ainda que 
não houvesse sua previsão constitucional, existiriam. 
 Nesse sentido, podemos adotar como exemplo a imunidade recíproca. 
Repare que tal imunidade busca preservar a autonomia financeira dos entes 
federativos, protegendo, por isso mesmo, o pacto federativo. 
 Por outro lado, as imunidades políticas são aquelas que só existem 
por decisão expressa do legislador constituinte. Isso não quer dizer que 
elas não protegem outros princípios constitucionais. Por exemplo a imunidade 
cultural impede a cobrança de imposto sobre os livros, jornais, periódicos e o 
papel destinado à sua impressão. 
 
 
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3. Classificação quanto à forma de previsão: explícitas ou implícitas 
 Configuram-se explícitas as imunidades expressas no próprio 
texto constitucional. Trata-se das hipóteses que o legislador já previu, no 
momento da elaboração da Constituição Federal. 
 É possível também que algumas imunidades não tenham sido 
reconhecidas expressamente, mas, por decorrerem de princípios 
constitucionais, a jurisprudência passe a aceitá-las da mesma forma que as 
que estão confeccionadas na CF. A essas imunidades, a doutrina 
denominou implícitas. Até o momento, não temos exemplos de 
imunidades implícitas. 
 Perceba que podemos fazer uma interligação entre o que foi visto aqui e 
o que vimos na classificação quanto à origem das imunidades. As imunidades 
políticas são sempre explícitas, pois necessariamente devem estar 
previstas no texto da Constituição. 
 Por outro lado, vimos que as imunidades ontológicas, ainda que não 
fossem previstas na CF, existiriam. Desta maneira, podemos afirmar que 
tais imunidades podem ser tanto explícitas como implícitas. 
4. Classificação quanto à necessidade de regulamentação: 
incondicionadas e condicionadas 
 Esta classificação diz respeito à necessidade de que a imunidade, para 
surtir efeitos no mundo concreto, esteja regulamentada por norma 
infraconstitucional, ou seja, por leis. 
 Neste contexto, se as imunidades forem incondicionadas, como, por 
exemplo, a imunidade recíproca, não há necessidade de edição de lei, 
produzindo efeitos imediatamente. 
 Devemos lembrar que também há as imunidades condicionadas, que são 
aquelas que dependem de regulamentação por lei, para que possam produzir 
efeitos. Como exemplos, podemos citar a imunidade prevista no art. 150, VI, 
c, da CF/88. Trata-se da imunidade referente às instituições de educação e 
assistência social sem fins lucrativos. Estas só poderão gozar da benesse 
constitucional, caso haja regulamentação legal. 
 Recuperando os seus estudos de Direito Constitucional, podemos dizer 
que as imunidades condicionadas constituem normas de eficácia 
limitada, pois se faz necessária uma regulamentação infraconstitucional. 
 
 
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5. Classificação quanto ao alcance: gerais e específicas 
 Em alguns casos, o legislador constituinte optou por incluir vários 
tributos e todos os entes federativos dentro de certas imunidades. Por 
exemplo, a imunidade recíproca veda a instituição de diversos impostos (sobre 
patrimônio, renda ou serviços) e tal vedação é extensiva à União, aos Estados, 
ao DF e aos Municípios. Neste caso, tal imunidade é denominada geral ou 
genérica. 
 
Todas as imunidades previstas no art. 150, VI, da CF/88 
são consideradas genéricas. 
 Por outro lado, em algumas situações, as imunidades são mais restritas, 
alcançando tributos específicos e, por consequência,apenas o ente competente 
para instituí-los. Cite-se, por exemplo, o caso da imunidade concedida ao IPI 
sobre operações de exportação (art. 153, § 3°, III). Tal imunidade pode ser 
denominada específica, tópica ou especial. 
 
2 ± ESPÉCIES DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS 
 Neste tópico, abordaremos as principais imunidades de forma 
aprofundada, e mencionaremos as demais, previstas fora do Capítulo do 
Sistema Tributário Nacional, apenas para que você tenha conhecimento da 
existência delas. Ok? 
2.1 ± Imunidade Recíproca 
 Mencionamos a imunidade recíproca em vários exemplos no estudo da 
classificação doutrinária das imunidades, certo? Por esse motivo, creio que 
vocês acabaram tendo uma noção do que se trata. 
 Na verdade, tal imunidade ± também denominada imunidade 
intergovernamental ± existe para proteger a autonomia financeira dos entes 
federados e, consequentemente, o pacto federativo. Podemos afirmar, 
portanto, que ela configura uma cláusula pétrea, no entendimento da 
Suprema Corte (ADI 939). 
 Como é viabilizada esta proteção que acabamos de dizer? Ora, de acordo 
com o art. 150, VI, a, da CF/88, é vedado à União, aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, 
renda ou serviços uns dos outros. 
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 Você precisa estar atento ao fato de que a única espécie de tributo 
abrangida por esta imunidade são os impostos. Além disso, note que o 
conceito é ainda mais restrito: apenas os impostos sobre o patrimônio, renda 
ou serviços foram alcançados pela imunidade recíproca. 
 Para entender o assunto que vamos estudar, é necessário que você 
conheça o conceito de contribuinte de direito e contribuinte de fato. Esse 
tema toma relevância em situações nas quais as pessoas que arcam, de fato, 
com o ônus tributário não são as mesmas que recolhem o tributo ao erário. 
Isso ocorre nos denominados tributos indiretos. 
 Imaginemos que determinado cidadão compra uma TV de LED em uma 
loja de eletrodomésticos. Sobre a incidência do ICMS nesta operação, a loja é 
eleita pela lei como contribuinte, e é ela quem vai recolher tal imposto, 
correto? No entanto, quem sofre o ônus do tributo não é a loja, mas sim a 
pessoa física que adquiriu a TV. Isso ocorre, porque a loja simplesmente 
acrescenta o custo daquele tributo no valor da TV. 
 Dessa forma, dizemos que contribuinte de direito é aquele eleito 
pela lei para recolher o tributo, e contribuinte de fato é o que arca 
realmente com o ônus do tributo. Entendido? 
 Tudo isso será visto com maiores detalhes em outras aulas. O 
importante agora é que você saiba distinguir tais figuras, para entender com 
precisão o que será dito a seguir. 
 Vejamos, então, como é o entendimento da Suprema Corte em relação à 
aplicabilidade da imunidade recíproca sobre os tributos indiretos: 
Ementa: TRIBUTÁRIO. ICMS. SERVIÇOS DE ENERGIA ELÉTRICA. 
MUNICÍPIO. CONTRIBUINTE DE FATO. IMUNIDADE RECÍPROCA. ART. 150, 
VI, A, DA CONSTITUIÇÃO. INAPLICABILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I - A 
imunidade do art. 150, VI, a, da Constituição somente se aplica ao 
imposto incidente sobre serviço, patrimônio ou renda do próprio ente 
beneficiado, na qualidade de contribuinte de direito. II - Como o 
Município não é contribuinte de direito do ICMS relativo a serviços de energia 
elétrica, não tem o benefício da imunidade em questão, uma vez que esta 
não alcança o contribuinte de fato. Precedentes. III ± Agravo regimental 
improvido. 
(STF, ARE 663.552-AgR/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Ricardo 
Lewandowski, Julgado em 28/02/2012) 
 Para a Suprema Corte (ARE 663.552), a imunidade recíproca somente se 
aplica se o ente beneficiado estiver na condição de contribuinte de direito, não 
o alcançando como contribuinte de fato. 
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"O julgado recorrido contempla a conclusão de que a União não está 
condicionada ao ônus de comprovar vinculação do bem tributado a 
uma finalidade pública, o que somente ocorre nos casos das 
autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público no 
que se refere à tributação do patrimônio, renda e serviços vinculados 
a suas finalidades essenciais. �����´ 
(RE 635.012/RJ, Decisão Monocrática, Rel. Min. Dias Toffoli, Julgado em 
07/02/2013) 
 Destaque-se que, muito embora o texto constitucional restrinja a 
aplicação desta imunidade às autarquias e às fundações públicas, o 
entendimento predominante no STF (RE 407.099/RS e AC 1.550-2) é o de que 
a benesse é extensível também às empresas públicas (EP) e às sociedades de 
economia mista (SEM) prestadoras de serviço público de prestação 
obrigatória e exclusiva do Estado. 
 A princípio, você poderia pensar que isso seria proibido pelo art. 173, § 
�ƒ�� GD� &)����� VHJXQGR� R� TXDO� ³DV� HPSUHVDV� S~EOLFDV� H� DV� VRFLHGDGHV� GH�
economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do 
VHWRU�SULYDGR´� 
 Contudo, o que deve ser considerado é que existem dois tipos de EP e 
SEM, isto é, há aquelas exploradoras de atividade econômicas (sujeitas ao art. 
173, da CF/88) e há as prestadoras de serviços públicos (sujeitas ao art. 175, 
da CF/88). As únicas abrangidas pela imunidade recíproca são as 
prestadoras de serviço público. 
Nesse sentido, o STF já concedeu imunidade às seguintes EP e SEM: 
x Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ± (STF, RE 
407.099); 
x Infraero ± (STF, RE 524.615-AgR); 
x Companhia de Águas e Esgoto de Rondônia (CAERD) ± (STF, AC 
1.550-2/RO); 
x Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) ± (STF, RE 
253.472) 
x Casa da Moeda do Brasil (CMB) ± (STF, RE 610.517) 
 Ressalte-se que a OAB ± entidade não integrante da administração 
pública indireta ± também foi alcançada pela imunidade recíproca, no 
entendimento do STF (RE 259.976-AgR). De acordo com a Suprema Corte, a 
OAB desempenha atividade própria de Estado, motivo que faz com que 
ela também esteja imune. 
 No entanto, o fato de a OAB estar inserida no seleto rol de entidades 
abrangidas pela imunidade recíproca, não faz com que a Caixa de Assistência 
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dos Advogados, mesmo integrando a estrutura da OAB, esteja imune. Isto 
ocorre porque a atividade da Caixa de Assistência dos Advogados tem sua área 
de atuação voltada aos benefícios individuais dos associados (STF, RE 
662.816/BA- AgR). 
 
A OAB é imune, mas a Caixa de Assistência dos 
Advogados não é! 
 No que se refere à delegação de serviços públicos (prestação por 
particulares), cumpre destacar que se o patrimônio pertencer a um ente 
federado, independentemente de estar ocupado por empresa 
delegatária de serviços públicos, continua imune à tributação (STF, RE 
253.394/SP). 
 Para concluir o tema, precisamos estudar a última norma que versa 
sobre a imunidade recíproca, que é o § 3° do art. 150, que diz o seguinte: 
³$UW������������ 
§ 3º - As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se 
aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com 
exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a 
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou 
pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o 
promitente comprador da obrigação de pagar impostorelativamente ao 
EHP�LPyYHO�´ 
 Uma leitura atenta do dispositivo permite inferir que há duas hipóteses 
que escapam da abrangência da imunidade recíproca. 
 A primeira diz respeito a quando o patrimônio, a renda e os serviços são 
utilizados para exploração de atividades econômicas em concorrência com os 
empreendimentos privados. O que se deve ficar atento é ao motivo que fez o 
legislador constituinte inserir esta exceção, que é o fato de não permitir que 
haja concorrência desleal. Ou seja, seria injusto que determinadas 
entidades utilizassem da imunidade para concorrer no mercado, certo? 
 
Essa vedação é aplicável aos entes de direito público, 
pois as EP e SEM já possuem vedação própria no art. 
173, § 2°. 
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³$UW�����± (...) 
I ± não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas 
rendas, a qualquer título; 
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na 
manutenção dos seus objetivos institucionais; 
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros 
UHYHVWLGRV�GH�IRUPDOLGDGHV�FDSD]HV�GH�DVVHJXUDU�VXD�H[DWLGmR�´ 
 
Na falta de cumprimento destes requisitos, a autoridade 
competente pode suspender a aplicação do benefício da 
imunidade tributária, conforme preconiza o art. 14, § 1°. 
Perceba que, ao lermos na CF/88 que tais entidades não podem ter fins 
lucrativos, não quer dizer que elas não podem obter resultado financeiro 
positivo, pois isso é essencial para que qualquer entidade se desenvolva. No 
entanto, o que é vedado pelo CTN é que haja distribuição de seu 
patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título, inclusive aos sócios, 
gerentes etc. 
 Também não se pode confundir a repartição de lucros com a justa 
remuneração de seus colaboradores pelos trabalhos desenvolvidos na 
entidade. Isso é permitido. 
 Outro ponto a ser discutido em nosso curso, de suma importância para o 
conhecimento amplo da imunidade estudada, é a restrição de que somente o 
patrimônio, a renda e os serviços vinculados às finalidades essenciais 
da entidade estarão imunes aos impostos sobre eles incidentes. Trata-
se, pois, da mesma restrição feita à imunidade religiosa, disposta no art. 150, 
§ 4°, da CF/88. 
 
Repare que a imunidade religiosa não se submete às 
restrições do art. 14 do CTN. 
 Vale ressaltar que, da mesma forma como tem ocorrido com a imunidade 
religiosa, o STF tem sido bastante flexível na análise da vinculação 
asseverada na CF. Nesse sentido, vamos citar, a partir de agora, alguns 
julgados, da própria Corte, que já foram ou que há grandes chances de serem 
cobrados em prova. Portanto, atenção total! 
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 Trata-se da imunidade cultural ± também denominada imunidade de 
imprensa ± cujo principal objetivo é favorecer o acesso aos meios culturais, 
como livros, jornais e periódicos. 
 De imediato, percebemos uma grande diferença entre as demais 
imunidades já vistas durante a aula e a cultural: esta é objetiva, incidindo 
VREUH� ³FRLVDV´�� DR� SDVVR� TXH� DV� GHPDLV� VmR� VXEMHWLYDV�� VHQGR�
SDUkPHWUR�SDUD�FRQFHVVmR�D�³SHVVRD´� 
 Seguindo essa linha de entendimento, poderíamos dizer que a imunidade 
não alcança o Imposto de Renda, por exemplo, incidente sobre os lucros 
auferidos pelas editoras: 
EMENTA: TRIBUTÁRIO. ANISTIA DO ART. 150, VI, D, DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL. IPMF. EMPRESA DEDICADA À EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E 
COMERCIALIZAÇÃO DE LIVROS, JORNAIS, REVISTAS E PERIÓDICOS. 
Imunidade que contempla, exclusivamente, veículos de comunicação e 
informação escrita, e o papel destinado a sua impressão, sendo, portanto, 
de natureza objetiva, razão pela qual não se estende às editoras, 
autores, empresas jornalísticas ou de publicidade -- que permanecem 
sujeitas à tributação pelas receitas e pelos lucros auferidos. 
Consequentemente, não há falar em imunidade ao tributo sob enfoque, que 
incide sobre atos subjetivados (movimentação ou transmissão de valores e 
de créditos e direitos de natureza financeira). Recurso conhecido e provido. 
(STF, RE 206.774, Rel. Min. Ilmar Galvão, Julgamento em 03/08/1999) 
 No mesmo sentido, as operações financeiras realizadas pelas 
empresas que industrializam tais produtos não podem ser imunizadas 
do IOF (STF, RE 504.615-AgR). 
 Ademais, a referida imunidade acaba por defender o direito à liberdade 
de expressão, caracterizado nos incisos IV, V, IX e XIV do art. 5º da CF/88, o 
que a torna uma cláusula pétrea. 
 Vistos os conceitos iniciais da imunidade cultural, é necessário que 
conheçamos a jurisprudência a ela atinente, sendo de suma importância para 
as provas da OAB! 
Assim sendo, a jurisprudência consagrada no STF era a de que, além dos 
livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, também 
estavam imunes os outros insumos assimiláveis ao papel. Foi nessa 
linha que o STF demonstrou, por meio da Súmula 657, que a imunidade 
cultural abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de 
jornais e periódicos: 
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Súmula STF 657 - A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange 
os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e 
periódicos. 
 Seguindo esse mesmo raciocínio, porém em direção oposta, o STF 
também já considerou que não está a tinta para impressão de jornais: 
"Ementa: - Imposto de importação. Tinta especial para jornal. Não-
ocorrência de imunidade tributária. - Esta Corte já firmou o 
entendimento (a título de exemplo, nos RREE 190.761, 174.476, 203.859, 
204.234 e 178.863) de que apenas os materiais relacionados com o 
papel - assim, papel fotográfico, inclusive para fotocomposicão por laser, 
filmes fotográficos, sensibilizados, não impressionados, para imagens 
monocromáticas e papel para telefoto - estão abrangidos pela imunidade 
tributária prevista no artigo 150, VI, "d", da Constituição. �����´ 
(STF, RE 273.308/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Moreira Alves, Julgamento 
em 22/08/2000) 
Ocorre que, ao julgar o Recurso Extraordinário 202.149, a Primeira 
Turma do STF chegou a considerar que a imunidade tributária relativa a livros, 
jornais e periódicos é ampla, total, apanhando produto, maquinário e insumos. 
A referência, no preceito, a papel seria, então, meramente exemplificativa e 
não exaustiva. 
Contudo, recentemente o Min. Celso de Mello admitiu e julgou embargos 
de divergência (DJe 16/04/2015), apresentados pela União, ocasião em que 
demonstrou que a decisão tomada pela Primeira Turma divergia da 
jurisprudência consagrada do STF, conhecendo e dando provimento ao 
recurso extraordinário da União. 
Sem nos aprofundarmos neste momento no rito processual, para nossa 
prova, isso significa que, atualmente, é recomendável seguir o entendimento 
mais restritivo, qual seja o de que apenas estão imunes livros, jornais, 
periódicos e o papel destinado a sua impressão, bem como outros 
insumos, desde que assimiláveis ao papel! 
Acrescente-se que, para a Suprema Corte, não há proteção 
constitucional à prestação de serviços de composição gráfica ou de 
impressão onerosos a terceiros (RE 723.018-AgR). 
 Na linha desse mesmo entendimento, o STF (RE 630.462-AgR) também 
considerou que os serviços dedistribuição de periódicos, revistas, 
publicações, jornais e livros não estão abrangidos pela imunidade 
cultural. Portanto, nesse caso, incide o ISS (Imposto sobre Serviços) 
normalmente. 
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3 - OUTRAS ESPÉCIES DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS 
 Além das imunidades até agora estudadas, há várias outras espalhadas 
pela Constituição. 
 Em alguns casos, como no art. 195, § 7, o texto constitucional trata tais 
limitações ao poder de tributar como isenção. Não obstante tais previsões, 
de acordo com o STF, são consideradas imunidades. 
Como já vimos, a isenção seria a dispensa legal do pagamento do 
tributo, e não um preceito constitucional, condicionando o exercício da 
competência tributária. 
Feitas tais observações e revisões, seguem abaixo as demais imunidades 
mencionadas no corpo do texto constitucional: 
x São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: (a) 
o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra 
ilegalidade ou abuso de poder; (b) a obtenção de certidões em repartições 
públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse 
pessoal (art. 5°, XXXIV); 
x Ação popular, salvo comprovada má-fé, é isento (imune) de custas 
judiciais, as quais são consideradas taxas pelo STF (art. 5°, LXXIII); 
x São gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei, o registro 
civil de nascimento e a certidão de óbito (art.5°, LXXVI); 
x 6mR�JUDWXLWDV�DV�Do}HV�GH�³KDEHDV-FRUSXV´�H�³KDEHDV-GDWD´��H��QD�IRUPD�GD�
lei, os atos necessários ao exercício da cidadania (art. 5°, LXXVII); 
x As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico não 
incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação (art. 149, §2°, 
I); 
x O IPI não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao 
exterior (art. 153, §3°, III); 
x O ITR não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, 
quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel (art. 
153, §3°, II); 
x O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento 
cambial, sujeita-se exclusivamente à incidência do IOF, sendo imune 
de qualquer outro tributo (art. 153, §5°); 
x O ICMS não incidirá (art. 155, §2°, X): 
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foram inseridas dentro do capítulo que se dedica ao trato do Sistema Tributário 
Nacional. 
Portanto, à medida que formos explicando a matéria, você verá que a 
³GHFRUHED´� será quase que natural. Não se desespere, pois o objetivo deste 
tópico é que você tenha conhecimento da existência de tais imunidades. Tudo 
bem? 
 
Por hoje, é só, colega concurseiro (a). 
Um abraço e até a próxima aula! 
Prof. Fábio Dutra 
Email: fabiodutra08@gmail.com 
Facebook: http://www.facebook.com/ProfFabioDutra

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