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Nome: Larissa F. Santiago Ra: 2461365 Turma: 03208B01 Professor: Leandro Tripodi Matéria: Direito Tributário Aplicado APS - 1. Os alunos deverão construir um quadro comparativo entre as imunidades tributárias previstas no art. 150, VI da CF (imunidades gerais). 2. O quadro comparativo deve descrever de forma objetiva os seus elementos. 3. A construção do quadro comparativo deve acompanhar uma resenha da leitura do texto indicado no material de apoio. 4. O aluno deverá relacionar sua percepção sobre a tabela, em especial sobre o contexto histórico que embasou o surgimento de cada imunidade, construindo um texto argumentativo, e, expressando, ao final, sua posição crítica sobre os temas abordados. 5. O aluno deverá, também, investigar a atual interpretação do STF sobre cada uma das imunidades. 6. A tabela e o texto deverão ser postados no ambiente Blackboard. MATERIAL DE APOIO BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. Rio de Janeiro: Forense, 2010. Resenha - Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar Como se pode analisar, o exercício do poder de tributar através da cobrança de tributos por parte do Estado criado pelo povo, para a execução de atividades que visam o bem-estar, é de suma importância para o convívio em sociedade. Contudo essa expropriação não pode ocorrer de forma a prejudicar o mínimo existencial do ser humano, pois estaria tal exercício indo de encontro aos Direitos Humanos. Por este motivo a Carta Magna possui várias normas em que hora norteiam e hora impedem o exercício do poder de tributar. As normas norteadoras regulam a forma pela qual o Estado exerce a tributação, impondo limites e obrigações, essas são chamadas de princípios. Já as normas impeditivas, atuam de forma a anteparar constituição do crédito tributário, ou seja, o mesmo não chega a existir, são as chamadas imunidades. O Art. 150 da CF/88, introduz a Seção denominada "DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR", deixa claro em seu caput que existem outras normas infraconstitucionais que limitam o exercício da tributação por parte do Estado. Contexto Histórico da Imunidades Tributárias no Brasil Na histórica política brasileira, nem sempre as imunidades tributárias figuraram nas Constituições Federais. A primeira constituição brasileira, do ano de 1822 era denominada constituição luso-brasileira, e reproduzia os valores portugueses, nada dispondo sobre o tema das imunidades tributárias. A Constituição Brasileira seguinte, de 1824 do Império do Brasil se caracterizava fundamentalmente pela existência de um 4º poder, ao lado do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, chamado de Poder Moderador. Esse poder consistia em uma verdadeira anomalia e permitia uma intervenção direta e muitas vezes inadequada do monarca nos outros poderes. A Constituição de 1822 era omissa em relação ao tema das imunidades, e, diferentemente dela, a Carta Magna seguinte (1891), traça alguns aspectos importantes sobre a imunidade tributária: “Sob o aspecto das imunidades tributárias, a CF/91 previa duas hipóteses expressas, porém com terminologia inadequada para o Direito Tributário atual, uma vez que os dispositivos mencionam ‘isenção’ para casos em que hoje, tecnicamente denomina-se ‘imunidade’, quando o Estado exportar produtos produzidos em outros Estados, e, sobre tributos estaduais que incidiriam sobre produtos estrangeiros importados. Há duas outras hipóteses de imunidade tributária que, por suas palavras são ‘o embrião’ do que hoje se chama de imunidade recíproca (‘é proibido aos Estados tributar bens rendas federais ou serviços a cargo da União, e reciprocamente’) e imunidade dos templos de qualquer culto. Todavia, é de se notar que inexiste previsão expressa acerca dessas espécies de imunidades”. Os anos subsequentes seguiram a linha traçada pelo Brasil Colônia e Brasil Império, ou seja, da prevalência de uma sociedade marcada por profundas desigualdades sociais, com uma elite dominante sem preocupação com o social. A sociedade clamava por direitos sociais, como a educação e saúde emergindo nesse contexto o líder populista Getúlio Vargas. No período em que vigorou a Constituição de 1934, houve um significativo avanço e aperfeiçoamento de competências tributárias de cada ente federativo. No entanto, sobre as imunidades: “Na Constituição de 1934, novamente não havia previsão acerca das imunidades como se conhece hoje; as imunidades recíprocas e dos templos, da mesma forma que na Constituição de 1891, foi uma previsão ‘embrionária’ desse tipo de imunidade que hoje está expressamente prevista na CF. Houve, contudo, um alargamento significativo de hipóteses de imunidade na Carta Política de 1934 em relação à Constituição anterior. Dentre elas, pode-se destacar: taxas sobre produtos que sobre os quais já houvesse incidido o imposto de importação; impostos de vendas e consignações, quando da primeira operação efetuada por pequeno produtor, sobre a incidência de adicionais sobre a exportação de mercadorias e sua exportação; sobre os combustíveis produzidos no país; a vedação de tributos que obstem o livre trânsito de veículos e bens ou pessoas; sobre emolumentos e custas aos necessitados à assistência judiciária; para profissões de escritor, jornalista e professor; a gratuidade do casamento; o reconhecimento de filhos naturais; sobre as instituições de educação particulares de ensino primário ou profissional gratuito”. Em seguida, a Constituição de 1937 implementou o “Estado Novo”, rompendo com as características democráticas da Carta Política anterior e mitigando liberdades individuais sob o pretexto de proteger o Brasil da ameaça dos países de regimes comunistas. Também ficou conhecida como a constituição “Polaca”, pois foi inspirada no modelo fascista de governo polonês, com forte caráter autoritário. No campo da tributação não ocorreram mudanças significativas, permanecendo o texto legal praticamente idêntico à constituição anterior. As disposições sobre tributação e imunidades que vigoravam até então, se extinguiram com o advento da Constituição de 1946, uma nova carta política democrática. Pode-se inferir que a Constituição de 1946 é a que mais se assemelha ao texto constitucional atual, trazendo expressamente as imunidades relativas aos templos de qualquer culto, bens e serviços de partidos políticos, instituições de educação e assistência social e o papel destinado a impressão de livros, jornais e periódicos. Com o golpe de Estado ocorrido no ano de 1964, temos na história brasileira mais uma ruptura de um momento político-democrático com o início do regime militar no país. No campo tributário destaca-se a reforma tributária de 1965, e o advento do Código Tributário Nacional em 1966. A respeito das imunidades tributárias no período ditatorial, dispõe: “Desse modo, a Constituição de 1967 amplia mais as imunidades tributárias estabelecidas na Constituição anterior. As novas imunidades são: sobre o imposto de renda incidente sobre a ajuda de custo e diárias pagas pelos cofres públicos; à incidência de outros tributos sobre as mesmas operações; sobre os direitos de garantia no imposto de transmissão a qualquer título de bem imóveis ou de direitos reais sobre imóveis; sobre impostos de qualquer dos entes da federação incidentes sobre a transferência de propriedade decorrente de desapropriação de imóvel rural; do imposto de transmissão da incorporação de bens e direitos na realização de capital, ou transmissão decorrente da fusão, incorporação ou extinção de capital de pessoa jurídica; no imposto sobre a circulação de mercadoria incidente sobre produtos industrializados para o exterior; a não-inclusão do imposto sobre o produto industrializado quando configure a incidência deste e do imposto sobre circulação de mercadoria. Entrementes, não houve alteração nas opções políticasdo legislador ao fixar as imunidades nessa carta política”. Com o fim do regime ditatorial no país, as relações jurídicas, incluindo seus aspectos tributários, passam a ser reguladas pela Constituição de 1988. A Constituição Federal de 1988, também denominada “Constituição Cidadã” apresentou importantes avanços no que se refere a mecanismos e princípios para a existência de uma tributação mais justa. Nesse sentido, as imunidades tributárias na Constituição Federal de 1988, também são consideradas importantes mecanismos de efetivação de uma justiça tributária, através da proteção de determinados valores, considerados fundamentais para o desenvolvimento de um Estado Democrático de Direito. Imunidades Gerais – art. 150, VI da CF 1. Patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros (art. 150, VI, a, da CF); Trata-se da chamada imunidade recíproca, ela veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, a renda ou serviços, uns dos outros. Cabe ressaltar que, pelo exposto no texto constitucional, somente os impostos abrangem essa imunidade podendo ser cobradas as demais espécies de tributos uns dos outros. Os entes federativos encontram-se revestidos de imunidade tributária, de modo que não poderão criar impostos incidentes sobre o patrimônio, a renda ou serviços uns dos outros, assegurando o princípio da isonomia federativa. Embora o dispositivo legal se refira aos impostos relativos ao “patrimônio, renda ou serviços”, o STF já se manifestou no sentido de que esse rol deve ter uma interpretação ampla, extensiva, abrangendo quaisquer impostos, embora expressas apenas essas três espécies. Vale ressaltar que nesse caso, a imunidade refere-se apenas aos impostos, e não às demais espécies tributárias. No que se refere às empresas públicas e sociedades de economia mista, o STF, ao pacificar o tema, considerou que as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos podem, excepcionalmente, ser alcançadas pela imunidade tributária recíproca, prevista no mencionado art. 150, VI, a, da CF. Porém, o entendimento não se aplica a toda e qualquer entidade dessa natureza que presta serviço público. Alguns parâmetros devem ser observados para que seja legítima a extensão da imunidade. O primeiro deles diz respeito ao fato de que a referida imunidade “se aplica apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação dos objetivos institucionais inerentes ao ente federado, cuja tributação poderia colocar em risco a respectiva autonomia política”. O segundo se refere ao fato de que não podem ser objeto de imunidade tributária recíproca “as atividades de exploração econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares”, por se apresentarem como “manifestações de riqueza e deixarem a salvo a autonomia política. O terceiro parâmetro refere-se ao fato de que a desoneração não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre concorrência e do exercício de atividade profissional ou econômica lícita”. Isso porque, segundo o STF, “o sucesso ou a desventura empresarial devem pautar-se por virtudes e vícios próprios do mercado e da administração, sem que a intervenção do Estado seja fator preponderante”. Portanto, o STF reconhece ser possível a extensão da imunidade tributária recíproca, desde que presentes tais premissas. Destaca-se a decisão proferida pelo STF no julgamento da ação cível ordinária 1460 (Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento 7/10/2015): “(...) Imunidade tributária recíproca. Art. 150, inciso VI, a, da Constituição Federal. Sociedade de economia mista. Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN). Não preenchimento dos parâmetros traçados por esta Corte para a extensão da imunidade tributária recíproca. Precedente. Agravo não provido. 1. Não há error in procedendo ou violação da ampla defesa por alegada afronta ao Regimento Interno do STF, em seus arts. 250 (que prevê julgamento colegiado para as ações cíveis originárias) e 251 (que dispõe sobre a concessão de palavra às partes e ao PGR na sessão de julgamento), uma vez que esta Corte admite a possibilidade de o relator decidir, monocraticamente, pretensão sobre a qual a jurisprudência da Corte já tenha se posicionado, nos termos do art. 21, § 1.º, do RISTF. Precedentes. 2. A Corte já firmou o entendimento de que é possível a extensão da imunidade tributária recíproca às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, observados os seguintes parâmetros: a) a imunidade tributária recíproca se aplica apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação dos objetivos institucionais imanentes do ente federado; b) atividades de exploração econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares, devem ser submetidas à tributação, por apresentarem-se como manifestações de riqueza e deixarem a salvo a autonomia política; e c) a desoneração não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre-concorrência e do livre exercício de atividade profissional ou econômica lícita”. Precedentes: RE n.º 253.472/SP, Tribunal Pleno. Relator para o acórdão: Min. Joaquim Barbosa, DJe de 1.º/2/11 e ACO 2243/DF, decisão monocrática, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 25/10/13. Outro clássico exemplo de empresa pública que goza de imunidade tributária é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Os Correios são uma empresa prestadora de serviço público obrigatório e exclusivo do Estado que não explora atividade econômica, embora também ofereça serviços dessa natureza. Ao longo das ações impetradas junto ao STF em relação aos Correios, os julgados em relação a essa empresa pública aumentaram gradativamente, conferindo aos poucos quase uma completa equiparação dos Correios à Fazenda Pública, no que se refere às suas prerrogativas e formas de figurar em juízo. Mesmo desenvolvendo atividades típicas da iniciativa privada, a exemplo das entregas de encomendas, o STF considerou que prevalece a imunidade tributária recíproca, em razão da existência de peculiaridades no serviço postal. Vale ressaltar que o STF, ao examinar a incidência ou não de IPTU nos imóveis da ECT, já tinha deixado claro que, para fins de imunidade tributária, é irrelevante que os Correios exerçam naquele imóvel, simultaneamente, atividades em regime de exclusividade e em concorrência com a iniciativa privada. Isso porque, o serviço postal possui peculiaridades que justificam esse tratamento diferenciado (STF. Plenário. RE 601392, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/02/2013). Situação diferente daquela em que se enquadram as concessionárias de serviços públicos, que, para o STF não gozam de imunidade recíproca por serem empresas privadas com finalidades lucrativas. Assim, embora muitas vezes essas empresas possam prestar serviços públicos, não farão jus a imunidade recíproca. A concepção da imunidade tributária enquanto princípio não é novidade em nosso sistema jurídico, pois existe precedente do Supremo Tribunal Federal, que declarou a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 3/93, que excepcionou a aplicação da imunidade recíproca para o IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras), antecessor da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), para tributar a movimentação financeira de Estados e Municípios. A decisão proferida pelo plenário do Supremo Tribunal Federal na ADIn 939- 7/DF tem a seguinte ementa: “EMENTA: – Direito Constitucional e Tributário. Ação Direta de Inconstitucionalidade de Emenda Constitucional e de Lei Complementar. I.P.M.F. Imposto Provisório sobre a Movimentação ou a Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – I.P.M.F. Artigos 5º, par. 2º, 60, par. 4º, incisos I e IV, 150, incisos III, b,e VI, a, b, c e d, da Constituição Federal. 1. Uma Emenda Constitucional, emanada, portanto, de Constituinte derivada, incidindo em violação à Constituição originária, pode ser declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função precípua é de guarda da Constituição (art. 102, I, a, da CF). 2. A Emenda Constitucional nº 3, de 17.03.1993, que, no art. 2º, autorizou a União a instituir o I.P.M.F., incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor, no parágrafo 2º desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica ‘o art. 150, III, b, e VI’, da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): 1. – o princípio da anterioridade, que é garantia individual do contribuinte (art. 5º, par. 2º, art. 60, par. 4º, inciso IV, e art. 150, III, b da Constituição); 2. – o princípio da imunidade tributária recíproca, que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre o patrimônio, as rendas ou os serviços uns dos outros e que é garantia da Federação (art. 60, par. 4º, inciso I, e art. 150, VI, a, da CF); 3. – a norma que, estabelecendo outras imunidades, impede a criação de impostos (art. 150, III) sobre: b): templos de qualquer culto; c): patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; e d): livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; 3. Em consequência, é inconstitucional, também, a Lei Complementar nº 77, de 13.07.1993, sem redução de textos, nos pontos em que determinou a incidência do tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art. 150, VI, a, b, c e d, da CF (arts. 3º, 4º e 8º do mesmo diploma, LC nº 77/93). 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para tais fins, por maioria, nos termos do voto do Relator, mantida, com relação a todos os contribuintes, em caráter definitivo, a medida cautelar, que suspendera a cobrança do tributo no ano de 1993.” (ADI 939, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 15.12.1993, DJ 18.03.1994 PP-05165 EMENT VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-00151-03 PP-00755) 2. Templos de qualquer culto (art. 150, VI, b, da CF); Espécie de imunidade subjetiva ligada à entidade/pessoa jurídica religiosa. A imunidade dos templos de qualquer culto está prevista pela Constituição Federal ao vedar à União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto. O Brasil é um Estado laico, portanto, todas as religiões estão imunes. Teoricamente, esses templos não visam ao lucro ou o enriquecimento, mas a manutenção das crenças dos indivíduos e, assim, tributá-los seria fazer com que tivessem que se atentar mais ao aspecto financeiro. Cabe aqui o significado dessa abrangência onde o templo não significa apenas a edificação, mas tudo quanto seja ligado ao exercício da atividade religiosa. Não pode haver imposto sobre missas, batizados ou qualquer outro ato religioso. Nem sobre qualquer bem que esteja a serviço do culto. Trata-se de garantia instrumental à liberdade de crença e culto religioso prevista no art. 5º, VI, do texto constitucional, cuja finalidade é impedir a criação de obstáculos econômicos, por meio de impostos, à realização de cultos religiosos. Porém a imunidade só abrange o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as suas finalidades essenciais. Muito se questionava sobre valores recebidos de aluguel de imóvel pertencente a entidade religiosa. Tais questionamentos frequentes ensejaram a edição da súmula vinculante número 52, que dispõe que, caso o dinheiro seja utilizado nas atividades essenciais da entidade, fará jus o valor auferido a imunidade tributária. Dentre esses julgados, temos o Recurso Extraordinário 578.562, de relatoria do Ministro Eros Grau em 21/05/2008 no qual houve o questionamento se o cemitério utilizado nas celebrações da Igreja estaria abrangido pela imunidade tributária. O Supremo Tribunal Federal entendeu que sim, pois no caso retratado o cemitério era uma extensão da entidade religiosa, portanto, abrangido pela imunidade. Já em relação à maçonaria, o Supremo Tribunal Federal entendeu que essas organizações não estão incluídas no conceito de “templos de qualquer culto” ou “instituições de assistência social” para fins de concessão de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, b e c da Constituição Federal. Para o STF, a maçonaria seria uma ideologia de vida e não uma religião, estando sujeita, portanto ao pagamento de IPTU e demais impostos (STF, 1ª Turma. RE 562351/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4/9/2012). Pelos apontamentos e julgados acima, nota-se a preocupação dos Tribunais Superiores em preservar o princípio da liberdade religiosa, retirando possíveis encargos tributários do exercício desse direito individual. 3. Patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei (art. 150, VI, c, da CF); Espécie de imunidade subjetiva ligada à entidade/pessoa jurídica prevista. A Constituição Federal veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios a instituição de impostos sobre o “patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei.” Porém, de acordo com o art. 150, §4º, da CF tal vedação compreende somente patrimônio, renda e serviços, relacionados com as finalidades essenciais das respectivas entidades. Em relação à imunidade tributária dos partidos políticos, é preciso compreender que os candidatos que representam e aqueles que deverão assumir o governo quando eleitos, tem por função atuar como defensores dos ideais e das necessidades dos cidadãos, assim, não devendo haver empecilhos à sua atuação como defensores dos ideais e das necessidades dos cidadãos. Já em relação às entidades sindicais, essas representam os trabalhadores, de modo que a tributação poderia fazer com que suas atividades se tornassem dificultadas e deixassem de dar atenção aos fatos que de fato devem se preocupar. As instituições educacionais são aquelas que visam cumprir o direito constitucional de todos os cidadãos de ter acesso à educação. A educação é essencial para que os indivíduos se desenvolvam e possam alcançar melhores condições de vida, de modo que esse tipo de imunidade visa assegurar esse direito tão relevante para os indivíduos. A imunidade das instituições de educação e de assistência social, todavia, é condicionada. Só existe para aquelas instituições sem fins lucrativos. Não ter fins lucrativos não significa, de modo nenhum, ter receitas limitadas aos custos operacionais. Essas instituições, na verdade, podem e devem ter sobras financeiras, até para que possam progredir, modernizando e ampliando suas instalações. O que não pode haver é distribuição de lucros. Devem, assim, aplicar todas as suas disponibilidades na manutenção dos seus objetivos institucionais, à luz da inteligência do art. 14 do CTN. A alínea “c” do artigo 150, inciso VI, não é autoaplicável, ou seja, dependerá de complementação normativa através de uma lei a que se deve obedecer. Em decisão recente, STF no Recurso Extraordinário 566622, de Relatoria do Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2017 (repercussão geral), decidiu que a lei a que se refere o §7º do artigo 195 da Constituição Federal é uma lei complementar. Isso pode gerar estranheza porque sabe-se que, quando a ConstituiçãoFederal menciona apenas “lei”, sem especificar mais nada, ela está se referindo à lei ordinária. Quando a matéria precisa ser tratada por lei complementar, isso é previsto expressamente. Assim, entendeu o STF que o § 7º do art. 195, deve ser interpretado em conjunto com o art. 146, II, que dispõe que cabe à lei complementar regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Portanto, a Constituição exigiu lei complementar, não diretamente no § 7º do art. 195, mas sim decorrente da interpretação e aplicação do art. 146, inciso II. 4. Livros, jornais, periódicos e o papel destinado a impressão (art. 150, VI, d, da CF); Espécie de imunidade objetiva (ligada a certos bens, independente da pessoa a quem pertençam). Nos termos da previsão constitucional, nenhum imposto incide sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, seja qual for a natureza, formato ou conteúdo, haja vista que não há restrições na Carta Maior. A consagração desta imunidade, de acordo com a Suprema Corte, tem como finalidade a garantia e efetivação da livre manifestação do pensamento, da cultura e da produção cultural, científica e artística, sem possibilidade de criação de empecilhos econômicos, via tributação, por parte do Estado, capazes de inibir a produção material e intelectual de livros, jornais e periódicos. (STF, RE 206.169/SP, 1998) O sentido dessa imunidade tributária é “dar meios materiais para que as pessoas possam divulgar suas ideias”. Na mesma linha, “a imunidade filia-se aos dispositivos constitucionais que asseguram a liberdade de expressão e opinião e partejam o debate das ideias, em prol da cidadania, além de simpatizar com o desenvolvimento da cultura, da educação e da informação”. Por fim, de acordo com a hermenêutica teleológica constitucional, esta imunidade recai tanto sobre a industrialização (produção) quanto à comercialização dos respectivos bens, seja qual for a natureza, formato ou conteúdo, haja vista que não há restrições na Carta Maior. Ao afirmar que o dispositivo busca baratear o acesso à cultura e proteger os valores de livre manifestação do pensamento, emerge o questionamento sobre a relevância do conteúdo dos livros, jornais e periódicos para que façam jus a imunidade tributária. Assim, o STF se manifestou no Recurso Extraordinário 221.239/SP no seguinte sentido: “Álbum de figurinhas”. Admissibilidade. A imunidade tributária sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão tem por escopo evitar embaraços ao exercício da liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação, bem como facilitar o acesso da população à cultura, à informação e à educação. O Constituinte, ao instituir esta benesse, não fez ressalvas quanto ao valor artístico ou didático, à relevância das informações divulgadas ou à qualidade cultural de uma publicação. Não cabe ao aplicador da norma constitucional em tela afastar este benefício fiscal instituído para proteger direito tão importante ao exercício da democracia por força de um juizo subjetivo acerca da qualidade cultural ou do valor pedagógico de uma publicação destinada ao público infanto-juvenil" (STF, 2ª T., RE 221.239/SP, Rei. Min. Ellen Gracie, j. 25.05.2004, DJ 06.08.2004, p. 61). Vale lembrar que o papel utilizado para a impressão de livros, jornais e periódicos também é imune, não sendo relevante a sua qualidade. No entanto, a imunidade não alcança os insumos para a produção de livros, que não seja o papel, a exemplo do barbante, cola etc. Esse questionamento levou a edição da súmula 657 do STF: “a imunidade”. Nessa perspectiva, o Supremo Tribunal Federal também considerou que o sentido de livro deve ser entendido em sentido amplo, incluindo, portanto, os manuais técnicos e apostilas, que são entendidos como um “veículo de transmissão e cultura simplificado”. A tecnologia trouxe outras possibilidades de acesso à cultura, não se restringindo mais a literalidade do artigo constitucional: “Segundo afirmou o STF, a imunidade do art. 150, VI, “d”, da CF/88 não abrange apenas os livros produzidos pelo “método gutenberguiano. O livro pode ser veiculado em diversos tipos de suporte, seja ele tangível (ex: papel) ou intangível (ex: digital). Aliás, no passado, os livros já foram feitos de diferentes materiais: entrecasca de árvores, folha de palmeira, bambu reunido com fios de seda, placas de argila, placas de madeira, pergaminho (proveniente da pele de carneiro) etc.” Isso tudo nos leva à conclusão de que o papel é apenas um elemento acidental no conceito de livro. Quando se fala que algo é um elemento acidental, isso significa que ele pode existir ou não. Ao contrário, quando se diz que algo é um elemento essencial, obrigatoriamente ele tem que estar presente. O papel é um elemento acidental (e não essencial) do conceito de livro. Em outras palavras, existe livro mesmo sem papel. Nas palavras do Min. Dias Toffoli: “o suporte das publicações é apenas o continente (“corpus mechanicum”) que abrange o conteúdo (“corpus misticum”) das obras e, portanto, não é o essencial ou o condicionante para o gozo da imunidade.” O fato de os livros eletrônicos permitirem uma maior capacidade de interação com o leitor/usuário (a partir de uma máquina), em comparação com os livros contidos nos códices (livros impressos em papel), não é motivo para se negar a eles a imunidade tributária. O aumento dessa interação é natural e está ligado ao processo evolutivo da cultura escrita trazendo novas funcionalidades como a busca de palavras, o aumento ou a redução do tamanho da fonte etc. Além disso, o usuário pode carregar consigo centenas de livros armazenados no leitor digital. Isso tudo facilita a difusão da cultura. (CAVALCANTE, 2017, disponível em http://www.dizerodireito.com.br/2017/03/os- livros-eletronicos-gozamde.html). Embora houvesse evidente divergência sobre o assunto anteriormente, o Supremo Tribunal Federal em decisão recente, pacificou o entendimento de que os livros em formato digital estão abrangidos pela imunidade, colocando fim a discussão jurisprudencial: http://www.dizerodireito.com.br/2017/03/os- “A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF), aplica-se ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo”. (STF. Plenário. RE 330817/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2017, repercussão geral - Info 856). O STF afirmou que a imunidade tributária se aplica ao livro eletrônico e aos “suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo”, o que não se aplica aos “smartphones”, “tablets” ou “laptops”, pois não podem ser considerados suportes utilizados exclusivamente para fixar um livro eletrônico. Ao contrário, tais aparelhos possuem centenas de funcionalidades e a leitura de livros digitais neles é apenas uma das possibilidades, podendo até mesmo ser considerada secundária. No que se refere as listas telefônicas, o STF também as considerou imunes, aplicando a elas o disposto no texto constitucional. Para o tribunal, a imunidade prevista em prol de livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, ostenta caráter objetivo e amplo, alcançando publicações veiculadoras de informações genéricas ou específicas, ainda que desprovidas de caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou filosófico. No acórdão: “O fato de as edições das listas telefônicas veicularem anúncios e publicidade não afasta o benefício constitucional da imunidade. A inserção visa a permitir a divulgação das informações necessárias ao serviço público a custo zero para os assinantes, consubstanciando acessório que segue a sorte do principal" (STF, 2ª T., RE 199.183/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 17.04.1998, DJ 12.06.1998, p. 67). Sabe-se que os serviços de distribuição de livros, papéis, periódicos etc., tambémpossibilita a difusão dos meios de expressão de cultura. No entanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a distribuição de periódicos, revistas, publicações, jornais e livros não está abrangida pela imunidade tributária da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88. (CAVALCANTE, 2017). Mais um julgado que merece ser destacado se refere as prestadoras de serviço de composição gráfica. Segundo o STF, as prestadoras de serviços de composição gráfica, que realizam serviços por encomenda de empresas jornalísticas ou editoras de livros, não estão abrangidas pela imunidade tributária, prevista no art. 150, VI, “d” da CF. As empresas que fazem composição gráfica para editoras, jornais etc., são meras prestadoras de serviço, e por isso, a elas não se aplica a imunidade tributária. (CAVALCANTE, 2017). 5. Fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias óticas de leitura a laser (art. 150, VI, e, da CF); Espécie de imunidade objetiva ligada a certos bens, independente da pessoa a quem pertençam. A cultura é benéfica para toda a sociedade, assim como a liberdade de expressão. Nesse sentido, quando o legislador institui imunidades tributárias relacionadas a esses direitos, ele atua para que eles sejam respeitados em todas as circunstâncias. Deve ser uma busca do Estado, um fato ofertado aos indivíduos para que possam desenvolver-se de diferentes formas, pessoal, profissional, acadêmica etc. Nesse sentido, quando não ocorre tributação das atividades diretamente ligadas à aquisição de cultura, é possível torná-las mais acessíveis para os indivíduos que devem, de fato, ser os destinatários das mesmas.
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