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SIGILO E CONFIDENCIALIDADE PROFISSIONAL

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SIGILO E CONFIDENCIALIDADE PROFISSIONAL
ÉTICA PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA
PROFESSOR: PAULO COGO, Doutor.
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DICIONÁRIO
SIGILO – Segredo. (É um princípio)
SIGILOSO - Que deve ser mantido em sigilo; secreto.
CONFIDENCIAL - Que se diz ou se faz em confidência; secreto.
CONFIDENCIALIDADE – Estado ou condição do que é confidencial. É uma competência (C.E.)
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O QUE É CONFIDENCIALIDADE?
É a propriedade da informação pela que não estará disponível ou divulgada a indivíduos, entidades ou processos sem autorização.
Em outras palavras, confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas pessoalmente em confiança e proteção contra a sua revelação não autorizada.
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O QUE É CONFIDENCIALIDADE?
Confidencialidade foi definida pela Organização Internacional de Normalização (ISO) na norma ISO/IEC 17799 como "garantir que a informação seja acessível apenas àqueles autorizados a ter acesso" e é uma pedra angular da segurança da informação.
A confidencialidade também se refere a um princípio ético associado com várias profissões (por exemplo, medicina, direito, psicologia, jornalismo), neste caso, também falamos de confidencialidade.
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O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?
O sigilo profissional é o pilar central da relação do psicólogo com seu atendido, seja ele paciente, cliente ou instituição.
O respeito ao sigilo é um dever do profissional e um direito do atendido.
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O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?
O sigilo, segundo o disposto pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo, se configura da seguinte forma:
Art. 9º –É dever do Psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações a que tenha acesso no exercício profissional.
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O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?
Art. 10º –Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo Único –Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. 
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. 
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando o previsto neste Código.
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O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?
Art. 12º – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos objetivos do trabalho.
Art. 13º – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu benefício.
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O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?
Art. 14º – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática psicológica obedecerá às normas deste Código e a legislação profissional vigente, devendo o usuário ou beneficiário, desde o início, ser informado.
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
...
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário;
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
...
i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam feitas conforme os princípios deste Código;
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
...
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: 
... 
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo.
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DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer motivos, ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais. 
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo psicólogo substituto. 
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável informará ao Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos arquivos confidenciais.
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COMO AGIR QUANDO É IDENTIFICADO NA ATIVIDADE PROFISSIONAL SITUAÇÃO DE ABUSO, NEGLIGÊNCIA E MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA OU ADOLESCENTE?
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ABUSO, NEGLIGÊNCIA E MAUS TRATOS
O profissional psicólogo ao identificar uma situação em que possa estar ocorrendo abuso, maus-tratos ou mesmo negligência contra criança ou adolescente, deverá proceder aos trâmites legais previstos para estas situações.
O profissional informará ou fará denúncia junto ao Conselho Tutelar ou Delegacia de Polícia (especializada em criança e adolescência/Delegacia da Mulher) ou Ministério Público (Promotoria da Infância e Adolescência).
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ABUSO, NEGLIGÊNCIA E MAUS TRATOS
A denúncia deverá estar baseada no princípio do menor dano possível ao atendido e não configura quebra de sigilo profissional.
O psicólogo deverá estar atento ao Código de Ética Profissional e ao Estatuto da Criança e do Adolescente para referendar suas decisões profissionais.
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ABUSO, NEGLIGÊNCIA E MAUS TRATOS
O CRP/RS indica ao profissional que possua dúvidas quanto aos procedimentos a serem adotados diante dos fatos, poderá buscar supervisão e orientação junto à Área Técnica do CRPRS por telefone, e-mail ou pessoalmente.
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COMO AGIR AO SER CHAMADO PARA UMA AUDIÊNCIA?
O Psicólogo, enquanto profissional, quando convocado por ordem ou determinação judicial (audiência) deverá comparecer, respondendo conforme o que está estabelecido no Código de Ética Profissional, sendo este uma proteção ao profissional bem como a seu avaliando ou atendido.
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QUESTÕES ÉTICAS
O PRONTUÁRIO E A COMUNICAÇÃO DOS ATENDIMENTOS
O sigilo tem por finalidade tutelar a intimidade das pessoas, protegendo-as contra
violações e indiscrições de outrem.
O sigilo profissional é marcado por um elemento subjetivo, a pessoa do profissional a quem o indivíduo é obrigado a recorrer para obter assistência.
A confidência, neste caso, não é espontânea.
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QUESTÕES ÉTICAS
O atendido não relata aspectos íntimos ao psicólogo ou ao médico por mero capricho, mas deposita nele sua confiança para a defesa de um bem material ou pessoal.
A questão do sigilo profissional deve ser abordada tanto pelo aspecto de confidencialidade como pelo de privacidade.
Confidencialidade deve ser entendida como o resguardo das informações dadas em confiança e a proteção contra a revelação não autorizada.
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QUESTÕES ÉTICAS
Privacidade, por sua vez, é a limitação de acesso a informações de uma dada pessoa, à própria pessoa, à sua intimidade, e aos seus segredos.
É a liberdade, portanto, que a pessoa tem de não ser observada sem autorização e um princípio, presente no artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece o direito a não interferência na vida privada, pessoal ou familiar. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Uma das situações na qual o sigilo profissional se apresenta para os psicólogos é aquela referente aos prontuários.
Prontuários são definidos como arquivos, em papel ou informatizados, cuja finalidade é facilitar a manutenção e o acesso às informações que os pacientes fornecem durante o atendimento.
Isso pode ocorrer em ambiente ambulatorial ou hospitalar, assim como em clínica, e inclui os resultados de avaliações e procedimentos realizados com finalidade diagnóstica ou de tratamento.
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QUESTÕES ÉTICAS
O prontuário é de propriedade do paciente.
O Hospital, para dar um exemplo, apenas tem a guarda desses documentos, ou seja, é seu fiel depositário, com a finalidade de preservar o histórico de atendimento de cada paciente.
O registro de informações de pacientes/clientes deve também ser feito para atendimentos em consultórios particulares, sendo que as instituições e/ou psicólogos são responsáveis pela guarda. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Como se deve lidar com esse tipo de documento de forma a garantir o necessário sigilo e, ao mesmo tempo, atender outras exigências da prática profissional?
Entre essas exigências está a obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestação de serviços psicológicos, prevista pela Resolução CFP 001/2009.
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QUESTÕES ÉTICAS
Resolução que, em seu artigo 2º, aponta as informações que devem ser registradas no prontuário pelo psicólogo, como: identificação do usuário/instituição; avaliação de demanda e definição dos objetivos do trabalho; registro da evolução dos atendimentos, de modo a permitir o conhecimento do caso e seu acompanhamento, bem como os procedimentos técnico-científicos adotados; registro de encaminhamento ou encerramento; cópia de outros documentos produzidos pelo psicólogo para o usuário/instituição do serviço de psicologia prestado, que deverá ser arquivada, além do registro da data de emissão, finalidade e destinatário).
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QUESTÕES ÉTICAS
Os documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação psicológica deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do psicólogo.
No caso de aplicação de instrumentos de avaliação psicológica, esses instrumentos tais como testes, desenhos, relatos, etc. devem ficar em pasta de acesso exclusivo do psicólogo, como indica a resolução.
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QUESTÕES ÉTICAS
O que deve ir para registro e consequentemente para o prontuário é o resultado da avaliação, ou seja, a análise, a interpretação que o profissional fez como resultado da aplicação daqueles instrumentos.
Essa mesma orientação se aplica nos casos de atendimento por equipes multiprofissionais, nos quais a situação de um paciente pode ser examinada em conjunto por profissionais diversos de diferentes especialidades.
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QUESTÕES ÉTICAS
De acordo com o artigo 6º, do Código de Ética Profissional dos Psicólogos, o psicólogo “compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade de quem as recebeu de preservar o sigilo”.
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QUESTÕES ÉTICAS
Esses registros que farão parte do prontuário do usuário também devem ser identificados pelo nome completo do profissional, como dispõe a Portaria do Ministério da Saúde 1820/2009 sobre essa questão, em seu artigo 3º, que assegura à pessoa atendida no inciso “IV - registro atualizado e legível no prontuário, das seguintes informações: ....h) identificação do responsável pelas anotações”.
Quanto a esta questão, a orientação é de que os psicólogos identifiquem assinatura, nome completo, n.° de inscrição no CRP nos registros realizados. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Em caso de serviço psicológico prestado em serviços-escola e campos de estágio, o registro deve contemplar a identificação e a assinatura do responsável técnico/supervisor que responderá pelo serviço prestado, bem como do estagiário.
Outra questão é a de quem pode acessar o prontuário.
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QUESTÕES ÉTICAS
O prontuário é de propriedade do paciente, o artigo 5º da resolução do CFP destaca em seu inciso II – “fica garantido ao usuário ou representante legal o acesso integral às informações registradas, pelo psicólogo, em seu prontuário”, ou seja, o usuário poderá dispor do prontuário para verificação (conhecimento) ou obtenção de cópias.
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QUESTÕES ÉTICAS
Entende-se que o psicólogo deve entregar a cópia do prontuário ao usuário, quando solicitado, segundo referencia do Código de Ética Profissional do Psicólogo em seu artigo 1º, alínea h. Importante lembrar, ainda, que o psicólogo deve manter disponíveis materiais psicológicos produzidos para fins de fiscalização, averiguação e orientação, sempre que solicitado pelo CRP.
Por fim, a resolução, em seu art. 4°, aponta que a guarda do registro documental é de responsabilidade do psicólogo e/ou da instituição em que ocorreu o serviço.
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QUESTÕES ÉTICAS
O período de guarda deve ser de, no mínimo, 05 (cinco) anos, podendo ser ampliado nos casos previstos em lei.
Por exemplo, na área da Saúde, a guarda do prontuário é de no mínimo 20 (vinte) anos.
Deve-se garantir que o registro documental seja mantido em local que garanta sigilo e privacidade e fique à disposição dos Conselhos de Psicologia para orientação e fiscalização, de modo que sirva como meio de prova idônea para instruir processos disciplinares e à defesa legal.
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QUESTÕES ÉTICAS
O PSICÓLOGO NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: O RELACIONAMENTO MULTIPROFISSIONAL, COMUNICAÇÃO DO ATENDIMENTO E O SIGILO
Psicólogo que atuava na atenção à saúde, responsável por atendimento de pacientes, aos quais eram dispensados cuidados de outros colegas da equipe de saúde.
Em denúncia junto ao Conselho de Psicologia, familiar do atendido alega que o mesmo não realizou o trabalho de modo ético, negligenciando o atendimento. 
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QUESTÕES ÉTICAS
A partir dos dados colhidos através do devido processo ético, concluiu-se que o profissional não realizou encaminhamentos aos demais colegas da equipe multiprofissional quando necessário; não cumpriu o procedimento de anotar corretamente, em prontuário, o andamento dos atendimentos e, quando poucas vezes o fez, expôs questões do usuário, além do necessário, a terceiros alheios ao tratamento.
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QUESTÕES ÉTICAS
Ademais, o psicólogo não cuidou do aspecto ético do sigilo profissional, expondo informações que não cabiam serem repassadas, sem o devido cuidado ético de preservar o melhor interesse do usuário, sem ponderar o repasse apenas daquilo que fosse estritamente necessário à compreensão e favorecimento da atenção integral à saúde desse usuário, pela equipe de saúde.
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QUESTÕES ÉTICAS
Como resultado, houve prejuízos nos encaminhamentos do tratamento do usuário, houve imprudência por parte do profissional da Psicologia e o usuário abandonou o tratamento multidisciplinar, o que acarretou em maior comprometimento das condições de
saúde do atendido.
Pelo exposto, o profissional, no caso em questão, não cuidou de preservar os princípios éticos de sua profissão, comprometendo sua prática, como também, comprometendo os atendidos.
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QUESTÕES ÉTICAS
Ao atuar do modo como o fez, o profissional cometeu infração ética, segundo os seguintes artigos do Código de Ética Profissional:
Princípios Fundamentais  O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.  Das Responsabilidades do Psicólogo  Art. 1º - São deveres fundamentais dos psicólogos:  Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teó­rica e tecnicamente;  Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;  Art. 3º - O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste Código.  Art. 6º - O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:  Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados demandas que extrapolem seu campo de atuação;  Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo.  Art. 9º - É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional. 
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QUESTÕES ÉTICAS
É cada vez mais comum as pessoas procurar psicólogos para achar uma solução para seus problemas.
A profissão cuja clientela era elitizada está mais acessível às pessoas.
Hoje os consultórios não atendem apenas particulares.
Houve um crescimento significativo de profissionais conveniados e serviços públicos que oferecem gratuitamente tratamento psicológico.
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QUESTÕES ÉTICAS
O relacionamento tem que ser restrito ao consultório.
Isso significa que o psicólogo não vai ignorar seu paciente se o encontrar, mas uma amizade pode atrapalhar o relacionamento profissional.
Ter um vínculo com o paciente fora do consultório, como amizade, pode interferir negativamente, dependendo da transferência que se estabeleceu.
É indicado na relação um certo distanciamento para que se tenha uma neutralidade na intervenção.
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QUESTÕES ÉTICAS
O psicólogo não deve ter idéias pré-concebidas, mas deve trabalhar com o que paciente fala durante as sessões.
Em relação ao sigilo existente entre o profissional e o paciente os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) do Brasil colocam esse tema em debate: a quebra do sigilo psicólogo e paciente deve ser obrigatória ou não em casos de confissão de crime ou violência do paciente?
Para que isso aconteça, o Código de Ética deve ser mudado.
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QUESTÕES ÉTICAS
Essa quebra pode afetar, e muito, o relacionamento existente entre o psicólogo e o paciente.
Nos tratamentos em clínicas psicológicas procura-se obter um ambiente de conversa e reflexão e, por esse motivo, pode atrapalhar as consultas se for obrigatória a quebra do sigilo.
Os pacientes se sentirão inseguros em suas sessões.
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QUESTÕES ÉTICAS
Os pacientes procuram as clínicas por terem problemas psicológicos, então não tem como saber se eles estão mesmo com a intenção de fazer algo, se fizeram, ou se é apenas algo relacionado a um trauma ou coisas assim.
Assim, o sigilo deve ser mantido.
Os casos de confissão têm que ser muito bem analisados pelo psicólogo para que se possa ter certeza de que o paciente está falando a verdade, que não se trata de invenção.
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QUESTÕES ÉTICAS
Essa questão é muito complexa, pois o sigilo resguarda a integridade do paciente e possibilita o vínculo de confiança sem o qual não é possível ocorrer o trabalho na área da Psicologia.
O sigilo é parte fundamental da terapia, assim como o vínculo entre o cliente e o terapeuta.
O mesmo só pode ser quebrado em casos extremos como risco de suicídio.
O sigilo deve ser muito bem esclarecido ao cliente logo na primeira sessão.
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QUESTÕES ÉTICAS
Jornal Folha de São Paulo on line de 19/09/2004.
Para Octavio Souza, proposta em debate nos conselhos regionais inviabiliza a conquista da confiança do paciente. Psicólogo ataca quebra de sigilo profissional
MARIANA VIVEIROS CLÁUDIA COLLUCCI DA REPORTAGEM LOCAL
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QUESTÕES ÉTICAS
Para o psicólogo Octavio Souza, a defesa da quebra obrigatória do sigilo profissional dos psicólogos em caso de pacientes que cometeram ou sofreram violência mistura uma postura de Bush com Babá -referência ao conservadorismo do presidente norte-americano e ao radicalismo dos chamados xiitas do PT.
Ele avalia que a proposta -que está em debate nos conselhos regionais de psicologia- coloca em xeque as bases da psicoterapia: tempo, ambiente de confiança, construção da responsabilização do paciente e reflexão por parte do profissional.
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QUESTÕES ÉTICAS
Para Souza, a proposta de tornar a quebra de sigilo obrigatória, por meio de uma mudança no Código de Ética dos profissionais, é corporativista, de um grupo que desconhece que a relação entre o psicólogo e o paciente é um "encontro de delicadezas".
Ele diz que, se a mudança passar, será letra morta, principalmente nos consultórios particulares, e acabará afetando negativamente os mais pobres, que fazem uso do serviço público.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - O sr. é contra ou a favor da obrigatoriedade, entre os psicólogos, de quebra do sigilo profissional quando o paciente é autor ou vítima de violência? Octavio Souza
Eu me posiciono bem contra, assim como várias pessoas têm se posicionado. Profundamente contra.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Por quê? Têm muitos aspectos que a gente pode analisar. O principal deles é o quanto isso afeta a relação psicólogo-paciente. O quanto isso perturba toda a produção do ambiente de intimidade e, principalmente, de reflexão.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Como pode perturbar? Souza - Todos os tratamentos de clínica psicológica que não são prescritivos, quer seja psicanálise, quer seja psicodrama, construtivista, em todos eles, o que se procura obter? Procura-se obter um ambiente de conversa e reflexão. As pessoas chegam ao consultório como? Elas chegam muitas vezes angustiadas, ansiosas e pedindo decisões, resoluções, soluções mágicas. Em geral, elas estão assoberbadas por angústias, por conflitos e por situações que as impedem de pensar. E o consultório do psicólogo clínico é justamente isso. É a criação de um espaço de reflexão, onde o pensamento possa ocorrer. É fundamental o tempo na prática clínica, o tempo de amadurecimento. Uma das perspectivas mais importantes do tratamento clínico é a da responsabilização das pessoas pelas coisas que lhes acontecem, pelos seus desejos, tanto pelo que ela pensa como pelo que os outros impõem a ela ou fazem com ela. Então, muitas vezes, nós temos pessoas enfraquecidas diante da realidade, dos outros, diante das autoridades. A perspectiva é que essas pessoas possam se responsabilizar pelos seus destinos, pelas suas vidas.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Quer dizer, levá-las a decidir se querem denunciar ou confessar uma violência. Souza -Uma medida como essa, prescritiva, absoluta, imposta sob ameaças de penas, exclusões e multas, retira do psicólogo o encargo de trabalhar com a angústia
de situações que os seus analisados geram. Eu, diante de uma situação de violência, não preciso me perguntar o que fazer. O Código de Ética já vai me dizer: você vai se descarregar. Essa medida vai me desencarregar das situações e transferi-las para órgãos superiores.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Isso seria compactuar com a idéia de que o trabalho com as leis do inconsciente é ineficaz? Souza - A gente não precisa nem pensar em leis do inconsciente, mas na capacidade de reflexão e de mudança das pessoas. Porque a decisão coloca o paciente que vitimiza ou é vitimizado no seu lugar, o transforma ou em vítima ou em réu, não permite nenhum espaço de reflexão e isenta o psicólogo também de pensar sobre o que fazer, como encaminhar as conversas e o pensamento.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - A quebra do sigilo atinge as bases fundamentais, coloca em xeque a própria psicoterapia? Souza - Sem dúvida alguma. Não só eu acho isso, como vários psicólogos acham isso, como a presidente eleita [do Conselho Federal de Psicologia] acha isso. Se a gente for ler o que ela escreve, ela tem essa idéia de que isso contraria uma prática clínica, perturba uma prática estabelecida.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - E, na sua avaliação, por que essa idéia ganhou tanta força? Souza - Lendo as reportagens sobre o assunto, o que me impressionou muito foi a antipatia, a aversão e o repúdio dos que preconizam essas mudanças em relação às práticas clínicas.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Essa é uma tendência? Souza - Não. É uma decisão dessa direção [do conselho] que foi levada a efeito em congressos sobre ética onde as pessoas que estavam reunidas certamente não representam a maioria dos psicólogos. Duvido muito que psicólogos com práticas clínicas, nas quais a questão do tempo, da duração e da continuidade do tratamento são importantes, tenham votado nessa alteração, tenham pensado em mudar o código.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Mas se diz que dificilmente a proposta de mudança seria rejeitada. É isso o que o sr. sente? Souza - Eu não vivo próximo dos conselhos nacional e regionais. Certamente a aprovação disso não vai ser por um referendo. Eles não têm a perspectiva de fazer essas mudanças num plebiscito. Se tivessem, tenho certeza de que não mudaria. É de espantar muito os argumentos que são levantados. Um deles é que os psicólogos estão desorientados, que a baderna é geral e eles não sabem o que fazer, então precisariam do Código de Ética. Mas cada vez mais existe uma reflexão sobre a violência, existem instâncias nos hospitais públicos, na sociedade, que discutem isso. São criados locais em que essas questões são pensadas, em que casos clínicos específicos são trabalhados em termos multidisciplinares. Existe todo um trabalho de reflexão sobre a violência e de como encaminhar os casos. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - A quebra do sigilo não ajudaria a combater a violência? Souza - De modo algum. As pessoas que seriam passíveis de ser denunciadas evitariam ser denunciadas. As pessoas que se queixam da violência seriam submetidas a instâncias oficiais, perderiam o espaço que elas estavam indo procurar.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Hoje o psicólogo pode decidir se quebra ou não o sigilo. É comum decidir pela quebra? Souza- Não, nem um pouco. Justamente porque se aposta na multiplicidade dos componentes de uma sociedade civil. O que é importante é que se aprenda a lidar com essas questões da violência na interlocução interdisciplinar. Não é curioso, por exemplo, que o Conselho Federal de Medicina nunca tenha pensado nisso? Por que isso ocorre com os psicólogos? Não posso ver de outra maneira senão como uma decisão particular dessa direção. Essa é uma investida contra uma parte da clínica que existe entre os psicólogos. Essas pessoas têm aversão e repúdio à própria prática do consultório clínico individual. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - E o sr. acha que é uma visão pessoal? Souza - É uma visão. Existem conflitos dentro das profissões. Na psicologia mais ainda, pela sua diversidade. Existem dificuldades de conversa entre os vários setores da psicologia. Essas pessoas [dirigentes do Conselho Federal de Psicologia e do Conselho de Ética do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo] são representantes de uma certa psicologia social que não contempla a questão dos longos tratamentos.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Ela é dominante? Souza - Ela está dominante, me parece. Em vez de procurar um espaço de reflexão, essas pessoas buscam retirar de todos -tanto das classes menos favorecidas como das mais favorecidas- o espaço da reflexão. O que os serviços de psicologia clínica conseguiram nos últimos 20, 30 anos foi realmente, de uma maneira impressionante, estender os serviços de psicoterapia a todas as classes, quer seja em instituições com preços populares, quer seja nos hospitais públicos. A inserção dos psicólogos em todos esses lugares é enorme. Em vez de procurar valorizar essa aquisição, procura-se transformar todos os psicólogos em funcionários públicos, obrigados a se reportar a uma instância superior e a recuar do seu ofício diante de qualquer caso difícil. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Nos EUA, houve a quebra do sigilo em casos de violência. Como a decisão chegou a afetar o trabalho dos psicólogos lá? Souza - O livro "Os Novos Informantes"["The New Informants"], de Cristopher Bollas, mostra o quanto foi prejudicial, o quanto nos Estados Unidos acontece uma "desresponsabilização" do psicólogo por qualquer tensão que seja criada no consultório. Se um paciente tem uma fantasia de se suicidar, a primeira coisa que o psicólogo faz é telefonar para os pais, independentemente de qualquer pressão da situação, somente por desencargo de responsabilidade. Uma coisa é reportar para os familiares ou para as instituições médicas competentes que existe uma pessoa que está querendo fazer algo que pode colocar sua vida em perigo. Outra coisa é obrigar os profissionais a, em qualquer menção, reportar sob ameaça de receber punições severíssimas e processos rigorosíssimos. É isso o que acontece nos EUA. Mas não acontece no Canadá, na Austrália nem na Europa. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - E como dimensionar o que é real se o psicólogo lida muito com fantasia, delírio? Souza - A Ana Bock, presidente eleita do Conselho Federal de Psicologia, diz que é função do psicólogo diferenciar fantasia de realidade. Essa questão, todo mundo sabe, é muito difícil. Vários psicólogos clínicos e psicanalistas dirão que não, que ao psicanalista não cabe fazer essa diferenciação. Eu, pessoalmente, não concordo. Eu acho que cabe, sim, fazer a diferenciação, mas ela é muito longa, exige confiança e tempo.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Quebrar o sigilo no meio do processo seria catastrófico? Souza - Seria. E a questão não é só essa. Você já ouviu falar de algum item de um código de ética de uma profissão, no qual um profissional se veja obrigado a, antes de qualquer contato com o cliente, enunciar o Código de Ética da profissão? Só com a polícia ocorre isso: tudo o que você disser poderá ser usado contra você. A Dra. Ana Bock diz à Folha que o paciente deve ser avisado das regras pelo psicólogo. A uma pessoa que vem singelamente me procurar porque está com dificuldades com o namorado, vou ter de dizer que qualquer revelação que ela faça a respeito de violência sofrida eu vou ter de reportar. Uma pessoa que defende isso não tem a mínima idéia das nuances e da riqueza do contato entre paciente e terapeuta. Ela não sabe a delicadeza do encontro, no que ela implica. O encontro paciente/terapeuta é um encontro de delicadezas e o conselho está querendo botar decisões urgentes, atitudes drásticas no meio desse clima. 
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - Isso deve afastar o paciente do consultório? Souza -Ou afastar ou transformar completamente e fazer com que o clima de confiança e intimidade não seja obtido. É claro que os psicólogos clínicos não obedecerão o Código de Ética [se ele mudar]. Eu não o obedecerei. Isso
vai ser letra morta. O que vai ocorrer é que o código vai ser obedecido nos serviços públicos, onde o que está em questão é o emprego. A elite vai continuar usufruindo de um regime de exceção.
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QUESTÕES ÉTICAS
Folha - A saída é um plebiscito? Souza - Se quisessem fazer, seria interessante. Isso é a adoção de uma política norte-americana por uma facção de ultra-esquerda do PT. É uma mistura de Estados Unidos com a ala xiita do petismo. Foi um compósito de [George] Bush com Babá [deputado federal que foi expulso do PT] que elaborou essa proposta. Uma mistura de maluco.
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QUESTÕES ÉTICAS
Parecer da OAB é contra quebra de sigilo de psicólogo - O Estado de São Paulo, 23/9/2004
23/09/2004 00h00
Prevista em caso de violência, medida deixaria profissional no papel de juiz, segundo a Ordem
SIMONE IWASSO
A quebra do sigilo do psicólogo em caso de violência, prevista na minuta do novo código de ética da profissão, provocou um debate sobre o papel do tratamento terapêutico.
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QUESTÕES ÉTICAS
Grupos contrários à medida, que tentam rever a proposta, além dos argumentos técnicos, contam também com um parecer do Comitê de Ética da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) contrário à mudança.
Do ponto de vista legal, além de uma interferência, a medida modifica a relação no consultório.
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QUESTÕES ÉTICAS
"A quebra do sigilo profissional deve ser encarada como uma faculdade e não como dever legal. No momento em que se estabelece a obrigação da delação, o psicólogo passa a fazer papel de juiz, julgando o paciente culpado pelo fato revelado no confessionário de um consultório", afirma o advogado Braz Martins Neto, presidente do Comitê de Ética da OAB-SP.
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QUESTÕES ÉTICAS
"O psicólogo deve ceder ao convite de quebrar o contrato de trabalho com seu paciente? Não seria compactuar com a idéia de que o trabalho de lidar com as leis do inconsciente é ineficaz?", questiona Aída Schwab, da Oficina de Psicanálise Lacaniana, que está recolhendo análises sobre a proposta.
Para ela, a obrigação restringe e nega o tratamento. "Uma coisa é ter a permissão de quebra de sigilo em extremo risco de vida. Outra é a imposição.“
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QUESTÕES ÉTICAS
Com o mesmo ponto de vista, a Academia Paulista de Psicologia já procurou o conselho.
"É uma proposta inócua, pois o código de ética já prevê a denúncia como possibilidade", diz Salomão Rabinovich, presidente da comissão de ética da academia.
A falta de consenso também aparece entre os psicólogos que atendem crianças vítimas de violência.
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QUESTÕES ÉTICAS
"Não sou contra em todos os casos, mas fico preocupada, pois muitas vezes a denúncia é prejudicial ao tratamento e aí o trabalho clínico é plenamente satisfatório", afirma a psicóloga judiciária Leila Dutra de Paiva.
No entanto, para a Dalka Chaves Ferrari, do Instituto Sedes Sapientiae, a medida é bem-vinda.
"Fazemos muitas denúncias de crianças vítimas de abuso sexual e violência doméstica. O novo código tem uma posição mais clara para quem trabalha na área", completa.
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QUESTÕES ÉTICAS
Artigos - Toda a polêmica está em dois artigos da minuta. O primeiro afirma que a quebra do sigilo "deverá" ocorrer quando há ameaça à integridade física ou psicológica do paciente e de outras pessoas.
O segundo diz que o psicólogo deve informar suspeitas de violação dos direitos da criança, do adolescente e do idoso. Hoje, a denúncia é facultativa.
A minuta, que ainda pode ser modificada, será votada pelo Conselho Federal de Psicologia em dezembro.
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QUESTÕES ÉTICAS
O texto foi formulado após um ano de debates nos conselhos regionais.
No fim do ano passado, um fórum nacional reuniu as propostas relevantes e criou o novo código.

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